UNIDADEoito A EXPANSÃO DOS ESTADOS UNIDOS NO SÉCULO dezenove

Fotografia. Vista de uma rua com uma multidão ocupando toda a extensão da via, vista frontalmente, com construções à direita e à esquerda.  ]Em primeiro plano,  uma grande faixa na horizontal, de fundo preto com texto em branco e o texto originalmente em inglês: 'Black Lives Matter (Vidas negras importam)'. Ao fundo, centenas de pessoas segurando cartazes em tons de marrom, branco, vermelho e outras cores. A maioria usa máscara cirúrgica.  Em segundo plano, à esquerda e à direita árvores com folhas  verdes e prédios vistos parcialmente. No alto, o céu em tons de cinza.
Manifestantes participam de protesto do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), em Washington, nos Estados Unidos, após o assassinato de George Flóid por policiais estadunidenses. Fotografia de 2020.

Você estudará nesta unidade:

Formação dos Estados Unidos

Territórios indígenas nos Estados Unidos

Guerra de Secessão

Racismo e segregação racial

A relação dos Estados Unidos e os demais países do continente americano

Respostas e comentários

Apresentação

Esta Unidade, intitulada “A expansão dos Estados Unidos no século dezenove”, relaciona-se às seguintes Unidades Temáticas da Bê êne cê cê do 8º ano: Configurações do mundo no século dezenove e Os processos de independência nas Américas.

Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 7, a Unidade estimula o estudante a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, conti­nuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva e argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

Os conteúdos trabalhados na Unidade também buscam levar o estudante a desenvolver as seguintes Competências Específicas do Componente Curricular História: Compreender acontecimentos históricos, relações de poder e processos e mecanismos de transformação e manutenção das estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo do tempo e em diferentes espaços para analisar, posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo (1) e Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4).

Fotografia. Vista parcial de um helicóptero militar visto de lado, pousado, de cor verde musgo, do qual saem soldados armados usando roupas camufladas e capacetes. Dentro da aeronave, Há outros soldados e um deles está com a metade do corpo para fora de uma janela do helicóptero.
Invasão do exército estadunidense no Panamá, em dezembro de 1989.
Fotografia. Vista de uma estrada com um carro amarelo com teto preto, em primeiro plano. Em segundo plano, na beira da estrada coberta de grama verde, um outdoor grande na horizontal suspenso por vigas de madeira na vertical.  No outdoor, à esquerda, sobre um fundo vermelho, uma foto de uma menina de cabelos escuros presos em uma trança lateral, com capacete azul e máscara de proteção azul com bolinhas brancas. Em uma das mãos, ela segura uma bandeira de Cuba, com cinco listras horizontais nas cores branco e azul, e um triângulo vermelho à esquerda, com uma estrela branca no centro. Ao lado dela, à direita, sobre um fundo branco, o texto, escrito com caracteres pretos e algumas palavras em vermelho, originalmente em castelhano: 'Assim como o vírus, o bloqueio dos Estados Unidos isola'. Os termos 'Bloqueio' e 'Isola' são escritos em caracteres vermelhos. Ao fundo, local com árvores de folhas verdes.
Outdoor com os dizeres Como o vírus, o bloqueio dos Estados Unidos isola, em Havana, Cuba. A mensagem faz referência ao embargo comercial do Estados Unidos contra Cuba, comparando-o ao coronavírus, no contexto da pandemia da covíd-19. Fotografia de 2021.

Após a independência das treze colônias da América inglesa, em 1776, iniciou-se o processo de formação e de organização do novo país que viria a se chamar Estados Unidos. No século dezenove, o Estado recém-constituído começou a definir suas políticas de atuação interna e no continente americano. A delimitação e a expansão do território dos Estados Unidos contaram com compras e anexações de diversas áreas que não estavam integradas às antigas colônias. Foram incorporadas ao território nacional áreas tradicionalmente habitadas por povos indígenas, que foram expulsos de suas terras.

Além disso, no século dezenove, foi iniciada uma guerra civil entre as regiões sul e norte dos Estados Unidos. Essa guerra expôs o choque de interesses entre os grupos que se organizaram em tôrno das atividades realizadas nas antigas treze colônias: a região norte, que se industrializava e tinha interesse na ampliação dos mercados consumidores, e a região sul, que tinha como base uma economia agrária, estruturada no trabalho escravo.

Foi também ao longo do século dezenove que o govêrno dos Estados Unidos promoveu uma política intervencionista nos demais países do continente americano.

De que fórmas as decisões tomadas pelos governantes estadunidenses influenciam, até hoje, os rumos e as decisões de diversos países?

Respostas e comentários

Nesta Unidade

O estudo da história dos Estados Unidos é fundamental para a análise do mundo contemporâneo. Os conteú­dos abordados nesta Unidade possibilitam aos estudantes compreender como as treze colônias inglesas distinguiram-se de outras colônias europeias na América por construir uma experiência de autogovêrno e assumir o pioneirismo na adesão aos princípios do liberalismo e no rompimento dos laços com a metrópole.

Aos poucos, o país que se constituiu a partir da independência das Treze Colônias abandonou sua posição de isolamento no contexto internacional e passou a atuar de maneira decisiva na região do Pacífico e na América Central. Ainda no século dezenove, a primeira república das Américas havia expandido seu território, criando condições para o crescimento populacional e um extraordinário desenvolvimento industrial. A influência econômica dos Estados Unidos foi se consolidando no mundo capitalista ao longo do tempo e assegurou ao país uma posição hegemônica que perdura até a atualidade.

Objetos de conhecimento trabalhados na Unidade

Os Estados Unidos da América e a América Latina no século dezenove.

O discurso civilizatório nas Américas, o silenciamento dos saberes indígenas e as fórmas de integração e destruição de comunidades e povos indígenas.

A resistência dos povos e comunidades indígenas diante da ofensiva civilizatória.

Independência dos Estados Unidos da América.

CAPÍTULO 18 A EXPANSÃO PARA O OESTE E A GUERRA DE SECESSÃO

Após a independência dos Estados Unidos, as treze colônias originais se tornaram estados e novos territórios foram incorporados ao país que se formava.

A Louisiana e a Flórida foram compradas da França e da Espanha em 1803 e 1819, respectivamente. A anexação da Flórida facilitou o acesso ao oceano Atlântico e ao Mar do Caribe, proporcionando melhor circulação de mercadorias até os portos. O estado de Óregon foi cedido pela Grã-Bretanha em 1845.

No mesmo ano, a intenção de incorporar o Texas levou os Estados Unidos a uma guerra contra o México. Vitoriosos, os estadunidenses anexaram a região e os atuais estados da Califórnia, Arizona, Novo México, Oklahoma, Colorado, Idaho e parte de Utah.

A expansão dos Estados Unidos foi tão rápida quanto violenta. De um lado, representou o nascimento da nação que se tornaria a maior potência econômica mundial. De outro, provocou a dizimação da maioria dos indígenas que viviam naqueles territórios.

Gravura. Vista de um local aberto, com destaque para uma cena de batalha com dezenas de homens, uns em pé e outros desfalecidos.  No centro, um grupo de homens brancos vestidos com traje militar azul, chapéus pretos, portando pistolas e espingardas, das quais sai fumaça resultante dos disparos.  Alguns cavalos e homens estão caídos no chão. Em volta desse grupo, vestidos com calças amarelas com detalhes em vermelho e azul, e longos cocares de penas brancas e vermelhas, homens indígenas armados com lanças, arcos e flechas. Alguns dos homens indígenas estão montados à cavalo. Em segundo plano, montanhas rochosas, das quais saem mais homens indígenas armados, que avançam na direção dos homens brancos de azul. No alto, muita neblina e nuvens.
Representação da Batalha de Little Bighorn, em 25 de junho de 1876. 1889. Litogravura. Coleção particular. A obra representa os conflitos entre os indígenas sioux e cheyennes e as tropas do exército dos Estados Unidos em Montana pela disputa de territórios tradicionalmente ocupados por grupos indígenas.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Este Capítulo pretende fornecer subsídios aos estudantes para que eles conheçam a história da formação dos Estados Unidos no contexto que se seguiu à independência das Treze Colônias entre os séculos dezoito e dezenove, e como o país se constituiu em uma potência atuante no mundo contemporâneo. Nesse processo, são abordadas as disputas internas entre o norte e o sul dos Estados Unidos e a Guerra de Secessão, além dos conflitos com os povos indígenas, africanos e afrodescendentes. É fundamental destacar a importância dos projetos de expansão e ocupação territorial para a definição dos rumos de formação do país.

Orientações

Para iniciar o estudo, retome com os estudantes algumas informações sobre as guerras napoleônicas, as disputas entre as nações europeias e as consequências geopolíticas após os conflitos. Comente com eles que as perdas econômicas e territoriais enfraqueceram diversas dessas nações após as guerras, mas houve nesse período um efeito vantajoso para os Estados Unidos, que ascendiam como nação economicamente forte na América. No século dezenove, o avanço territorial dos Estados Unidos foi bastante significativo.

Alguns exemplos podem ser dados para destacar as relações entre os conflitos na Europa e a expansão territorial dos Estados Unidos. Com o exército enfraquecido e necessitando de dinheiro, devido aos gastos com as guerras napoleônicas, a França vendeu a Louisiana para os Estados Unidos por 15 milhões de dólares. As guerras napoleônicas também tiveram efeito no domínio da Flórida pelos espanhóis. Enfraquecidos e pressionados pelos Estados Unidos, eles acabaram vendendo a região aos estadunidenses por 5 milhões de dólares.

Observação

O conteúdo desta página oferece subsídios para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

Habilidade trabalhada ao longo deste Capítulo

ê éfe zero oito agá ih dois sete: Identificar as tensões e os significados dos discursos civilizatórios, avaliando seus impactos negativos para os povos indígenas originários e as populações negras nas Américas.

A formação de um país

A formação dos Estados Unidos (século dezenove)

Mapa. A formação dos Estados Unidos. Século 19. Mapa representando parte da América do Norte com foco no território que hoje corresponde aos Estados Unidos. O território está dividido em áreas que estão destacadas com cores diferentes. Linhas horizontais de cor cinza correspondem às fronteiras atuais dos Estados Unidos, com a divisão dos estados. Na legenda:  Primeira fase. A cor amarela clara corresponde a: 'Treze colônias (1775)'. Destacando um território na costa leste, que se estende da região ao sul da Nova Escócia ao norte da Península da Flórida.  Compreendendo territórios que hoje correspondem aos estados de Maine, Vermont, New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Pensilvânia, Nova Jersey, Delaware. Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia.  A cor amarela escura corresponde a: 'Cedido pela Grã-Bretanha (1783)'. Incluindo territórios a oeste das Treze Colônias, desde o sul dos lagos Michigan, Superior, Huron e Eriê, até a região ao norte do Delta do Mississípi. Compreendendo territórios que hoje correspondem ao leste de Minnesota, Wisconsin, Michigan, Illinois, Indiana, Ohio, Kentucky, Tennessee, Mississípi e Alabama.   Segunda fase.  A cor marrom corresponde a 'Comprado da França (1803)'. Destacando a vasta região da Louisiana, no centro da América do Norte, compreendendo territórios que hoje correspondem aos estados de Montana, parte da Dakota do Norte, parte de Minnesota, parte de Wyoming, a Dakota do Sul, Nebraska, Iowa, Missouri, Kansas, parte do Colorado, Oklahoma, Arkansas e o norte e o leste da Louisiana. A cor rosa corresponde a: 'Comprado da Espanha (1812-1819)'. Compreendendo os territórios que hoje correspondem à Flórida, o litoral do Alabama, o litoral do Mississípi, e o sudoeste da Louisiana.  A cor vermelha corresponde a 'Cedido pela Grã-Bretanha (1818)'. Compreendendo territórios que hoje correspondem ao norte e nordeste da Dakota do Norte, o oeste de Minnesota e o extremo nordeste da Dakota do Sul.  Terceira fase.  A cor verde clara corresponde a:  'Anexado do México (1845)'. Compreendendo territórios que hoje correspondem aos estados do Texas, parte do Novo México, parte de Oklahoma, parte do Colorado e parte do centro-sul de Wyoming.  Um tom de verde vivo corresponde a: 'Acordo com a Grã-Bretanha (1845)'. Compreendendo a região do Oregon, com territórios que hoje correspondem aos estados Washington, Oregon, Idaho e o oeste de Montana.  Um tom de verde médio corresponde a: 'Anexado do México (1848)'. Compreendendo territórios que hoje correspondem aos estados da Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, o oeste do Novo México,  o leste do Colorado, e o sudoeste de Wyoming. E um tom de verde escuro corresponde a:  'Comprado do México (1853)'. Compreendendo territórios que hoje correspondem ao sul do Arizona e o sul do Novo México.  Quarta fase A cor lilás corresponde a: 'Comprado da Rússia (1867)'. Compreendendo o território do Alasca. (Destacado na lateral do mapa). A cor roxa corresponde a: 'Anexação (1889)'. Compreendendo o território do Havaí. (Destacado na lateral do mapa). A cor roxa escura corresponde a: 'Cessão de Porto Rico pela Espanha (1898)'. Compreendendo o território de Porto Rico. (Destacado na lateral do mapa). Áreas circuladas em roxo correspondem a: 'Reservas indígenas em 1875'. Com reservas nos territórios que hoje corresponde aos estados de Washington, Oregon, Idaho, Califórnia, Nevada, Arizona, Utah, Colorado, Novo México, Oklahoma, Kansas, Nebraska, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Montana, Minnesota e Wisconsin.  No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 410 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: THE NATIONAL atlas of the United States of America. Territorial acquisitions. U.S. Department of the Interior/U.S. Geological Survey. Disponível em: https://oeds.link/TvYdZP. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

As ações da Restauração conservadora que tomou conta da Europa após 1815 ameaçavam a autonomia e os interesses econômicos dos Estados Unidos, que haviam conquistado sua independência sob os lemas liberal e republicano.

Com o objetivo de impedir a intervenção europeia no continente americano, em 1823 o então presidente estadunidense James Monrow elaborou a Doutrina Monroe, com o lema “A América para os americanos”. Por meio dessa doutrina, os Estados Unidos se comprometiam a não interferir nas questões europeias, desde que a Europa não interferisse na América.

Mais tarde, porém, a Doutrina Monroe foi desvirtuada e passou a ser usada para justificar a expansão estadunidense. Surgia, assim, a doutrina do Destino Manifesto, segundo a qual os estadunidenses tinham a missão divina de levar a “civilização” aos povos considerados “bárbaros e inferiores”.

Segundo o Destino Manifesto, os estadunidenses eram o povo eleito por Deus para expandir seu poder em direção às terras do oeste e a outras regiões da América. Essa ideia foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação dos Estados Unidos no século dezenove e até hoje está presente no imaginário de muitos estadunidenses.

Lei de Terras

A ocupação do oeste tomou fôrça em 1862 com a Homestead Act ou Lei de Terras. Por meio dela, o govêrno concedia um lote de terra para qualquer família ou cidadão maior de 21 anos que estivesse dispôsto a migrar para o oeste e que se comprometesse a cultivar as terras recebidas no prazo de cinco anos. Com a chegada constante de imigrantes, essa lei favoreceu o desenvolvimento de um amplo mercado interno na região.

Respostas e comentários

Orientações

Oriente os estudantes na leitura atenta do mapa “A formação dos Estados Unidos (século dezenove)”, distinguindo as regiões que foram anexadas por meio de compra ou de acôrdos daquelas que foram incorporadas ao território estadunidense por meio de guerras (contra o México, em meados do século dezenove, e contra a Espanha, que resultou na cessão de Pôrto Rico, em 1898). Discuta com eles as diferentes interpretações a respeito da Doutrina Monroe (1823) e a construção da ideologia do Destino Manifesto como justificativas para a expansão estadunidense; a importância do Homestead para garantir a ocupação do oeste e as consequências do avanço da fronteira para as populações indígenas.

Sugerimos também chamar a atenção dos estudantes para as semelhanças e diferenças entre as políticas implementadas em relação aos indígenas pelo govêrno dos Estados Unidos e pelo govêrno do Brasil durante o século dezenove. É interessante que os estudantes observem que, nos dois países, os nativos não eram considerados cidadãos e foram submetidos à tutela do Estado; em ambos, a população indígena decresceu consideravelmente, e o modo de vida tradicional de muitos povos se transformou profundamente, apesar da resistência ao avanço das frentes pioneiras. O rápido movimento de ocupação das terras do oeste e meio-oeste dos Estados Unidos promoveu o massacre generalizado dos povos originários. No Brasil, o extermínio de povos indígenas teve início nas áreas litorâneas e avançou em direção ao interior. Na atualidade, a população indígena é mais numerosa em áreas do Centro-Oeste e na Amazônia.

Observação

O conteúdo desta página possibilita iniciar a análise dos conflitos relacionados aos discursos civilizatórios nos Estados Unidos e dos impactos negativos que tiveram para as populações indígenas, podendo contribuir para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

Território e identidade

Devido às características econômicas e sociais, três regiões diferenciadas se formaram nos Estados Unidos, reafirmando alguns aspectos que já existiam desde o período colonial. O norte definiu-se como um grande centro urbano e industrial, enquanto o sul se caracterizava pela economia agroexportadora e escravista. O oeste emergia como uma área de pequenos agricultores e criadores independentes.

O processo de expansão territorial e econômica contribuiu para a construção da identidade do povo estadunidense. Em um país jovem, composto de imigrantes de várias origens e religiões, a ideia de que a conquista do oeste era uma epopeia nacional colaborou para a unificação dos habitantes do território e a construção do sentimento de pertencimento aos Estados Unidos.

Expulsão dos antigos donos

Na expansão para o oeste, muitas terras foram tomadas dos povos indígenas para abrigar os novos imigrantes.

Os sioux (que viviam nas planícies do norte dos Estados Unidos) e os apaches (que viviam no sudoeste), entre outros grupos indígenas, resistiram à expansão estadunidense. Porém, no final do século dezenove, eles já tinham sido dizimados. Uma das táticas adotadas pelas fôrças do govêrno estadunidense para derrotar os nativos foi acabar com os búfalos da região, principal fonte de alimentos para a dieta desses povos.

Charge. Sobre um fundo branco, um homem, dois homens diante de tabas indígenas.  Um à direita, é um homem branco de cabelo e barbicha brancos, usando cartola preta e fumando charuto, carregando muitos sacos de dinheiro, com uma muleta levada debaixo do braço. Em uma das sacolas é possível ver muitos papéis. À esquerda, um homem indígena, com cocar de penas sobre a cabeça, cabelos até os ombros lisos e pretos, roupa longa em tons de marrom-claro com estampas, calça cinza e sapatos escuros, com uma espingarda na mão esquerda e na mão direita um pacote pequeno branco, representando uma marmita. Nela há um papel escrito em inglês: ração de fome. O indígena observa o outro homem com ar de espanto.
A razão da insurreição indígena. cêrca de 1890. Litogravura. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos. A charge critica os lucros obtidos pelos estadunidenses com a ocupação das terras do oeste dos Estados Unidos.

Ler a charge

• Que relação pode ser estabelecida entre esta charge e a expansão dos Estados Unidos para o oeste no século dezenove?

Ícone. Sugestão de livro.

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: a formação da nação. São Paulo: Contexto, 2001. Livro sobre a história dos Estados Unidos abordando temas como a colonização, a independência e a presença de indígenas e afrodescendentes na formação do país.

Respostas e comentários

Texto complementar

No trecho a seguir, o historiador Antonio Pedro Tóta expõe o significado cultural da expansão para o oeste nos Estados Unidos:

Enquanto o país se industrializava, a conquista do oeste continuava numa velocidade cada vez maior e a frontier ia desaparecendo. A palavra frontier não pode simplesmente ser traduzida por fronteira. Ela tem um profundo significado na cultura americana. reticências Em outras palavras, a conquista de territórios virgens significava, quase sempre, a voraz procura de riquezas. Os americanos deram o nome de frontier a essa terra selvagem a ser conquistada. Méri A. Junqueira, em Estados Unidos, a consolidação da nação, resume muito bem o significado de frontier para os americanos: “Os norte-americanos usam a palavra border para a linha de demarcação entre dois países e frontier para a linha divisória entre a civilização e wilderness (região erma, ‘despovoada’, que provoca sensações de temor ou reverência no homem civilizado)”. Pois no fim do século dezenove e comêço do século vinte não havia mais territórios novos a ser desbravados e conquistados. Acabara-se o frontier, o wilderness. Entre 1860 e 1910, as fazendas dos Estados Unidos passaram de dois milhões para seis milhões de unidades. Como a lenda do rei Midas, os americanos esperavam que tudo que fosse tocado por eles se transformasse em riqueza, em ouro. O país estava acumulando condições para transformar-se na potência mundial.

Tóta, Antonio Pedro. Os americanos. São Paulo: Contexto, 2013. página. 98-101.

Observação

O conteúdo desta página fornece subsídios para trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

Respostas

Ler a charge: A charge mostra um indígena bem magro segurando uma marmita em que se lê “ração de fome” e um homem robusto e bem-vestido, que representa os estadunidenses, carregando sacos de dinheiro. Ela critica o processo de expansão dos Estados Unidos para o oeste, que resultou na ocupação violenta dos territórios indígenas e no extermínio de milhares de nativos. Além disso, o título da charge expressa a ideia de que as populações indígenas resistiram à ocupação de suas terras. Os estadunidenses, porém, combateram essa resistência, utilizando, entre outros métodos, a tática de eliminar uma das principais fontes de alimentação dos indígenas: os búfalos.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

A retração dos territórios indígenas

Entre 1600 e 1900, milhões de europeus imigraram para a América do Norte. O avanço desses imigrantes rumo ao interior do território que hoje corresponde aos Estados Unidos repeliu os habitantes nativos, confinando-os em áreas cada vez menores.

Em certas regiões, alguns grupos indígenas conseguiram se inserir economicamente na sociedade que se estabeleceu em suas terras, mas na maioria dos casos só restou dos diversos povos e culturas o nome dado aos territórios conquistados: Dakota, Ilinois, Iowa etcétera.

Ocupação das terras indígenas

Mapa. Ocupação das terras indígenas. Mapa representando parte da América do Norte com foco no território que hoje corresponde aos Estados Unidos, destacado em amarelo. Há territórios contornados em diferentes cores e pequenas áreas destacadas em outras cores.
Na legenda:
Territórios contornados em verde correspondem a: 'Terras indígenas em 1789. Após a independência dos Estados Unidos, em 1776, o governo de George Washington autorizou campanhas contra os indígenas que lutaram ao lado dos ingleses, num processo que destruiu centenas de aldeias.'
Em 1789, as terras indígenas representavam quase todo o território atual dos Estados Unidos. Apenas a costa leste e uma parte do sul, banhada pelo Golfo do México, que hoje compreende parte do Texas, não possuíam terras indígenas, que estavam concentrados na região central e oeste dos Estados Unidos.
Territórios contornados em cor de rosa correspondem a: 'Terras indígenas em 1849. Em 1830, foi aprovada uma lei de remoção dos nativos para uma reserva situada a oeste do rio Mississípi. Poucos povos foram removidos de forma pacífica'.
Em 1849, as terras indígenas estavam limitadas à porção central e oeste do atual território dos Estados Unidos.

Territórios destacados em laranja correspondem a: 'Terras indígenas em 1894. Após a descoberta de ouro na Califórnia, em 1848, as investidas armadas pela posse de terras indígenas continuaram impunemente. Com o Homestead Act e a expansão das ferrovias, o fluxo de colonos para o oeste aumentou, acirrando a pressão sobre as terras indígenas'.
Em 1894, as terras indígenas  se resumiam a pequenas regiões no norte, na zona central e no oeste dos Estados Unidos.
Territórios destacados em cinza correspondem a: 'Terras indígenas em 2010. A partir da década de 1930, o governo estadunidense passou a adotar políticas de ampliação das reservas indígenas. Em 2010, a população indígena nos Estados Unidos correspondia a mais de 2,9 milhões de pessoas, o equivalente a 1% da população total do país'.
Em 2010, as terras indígenas correspondiam a pequenos territórios dispersos nas regiões oeste e noroeste dos Estados Unidos. 

No canto inferior direito do mapa, rosa dos ventos e escala de 0 a 440 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: U.S. Department of the Interior. Bureau of Indian Affairs. Disponível em: https://oeds.link/RnAGNE; Were American Indians the Victims of Genocide? History News Network, setembro 2004. Disponível em: https://oeds.link/I8APCY. Acessos em: 26 fevereiro 2022.

  1. Em que região dos Estados Unidos os indígenas estavam concentrados no final do século dezoito?
  2. Que fatores contribuíram para a retração dos territórios indígenas a partir de meados do século dezenove?
  3. Em 2010, houve uma pequena ampliação dos territórios indígenas do país. O que explicaria esse crescimento?
  4. Que marcas os indígenas deixaram no atual território estadunidense?
Respostas e comentários

Orientações

O mapa apresenta uma visão geral da redução dos territórios indígenas nos Estados Unidos do final do século dezoito até 2010. Sugerimos uma leitura comparativa com o mapa “A formação dos Estados Unidos (século dezenove)”, apresentado anteriormente neste Capítulo, que representa a contínua expansão da fronteira em direção ao oeste.

Respostas

1. Em toda a região central e no oeste dos Estados Unidos.

2. Os colonizadores dos territórios que hoje correspondem aos Estados Unidos ocuparam gradativamente o oeste, repelindo os habitantes originários que ofereciam algum tipo de resistência a eles. As políticas adotadas pelo govêrno dos Estados Unidos, ao longo do século dezenove, como o Homestead Act, estimularam o avanço colonizador, logo o processo de retração dos territórios indígenas.

3. O aumento da área das terras indígenas nos Estados Unidos é resultado de lutas pelo direito aos territórios ocupados tradicionalmente e de iniciativas políticas do govêrno para ampliar e preservar as reservas estabelecidas. Na década de 1970, foi aprovada a lei que garantiu aos indígenas maior autonomia no uso dos recursos governamentais. A população indígena nos Estados Unidos, em 2010, correspondia a mais de 2,9 milhões de pessoas, o que equivalia a aproximadamente 1% da população total do país. Essa população está distribuída em trezentas e quatro reservas, que ocupam um território aproximado de 22,6 milhões de hectares.

4. Diversos territórios receberam o nome de grupos indígenas. Além disso, atividades econômicas ligadas ao entretenimento, como hotéis e cassinos, têm sido a opção de algumas populações para explorar economicamente suas terras.

Observação

O conteúdo desta seção possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

A Guerra de Secessão

Até meados do século dezoito, o arroz e o tabaco dominavam a agricultura do sul dos Estados Unidos. Depois, com o surgimento de fábricas têxteis na Inglaterra, a produção de algodão foi estimulada, e os estadunidenses passaram a exportar essa matéria-prima em larga escala. No início do século dezenove, as plantações de algodão já eram hegemônicas na paisagem sulista e eram cultivadas, basicamente, com a mão de obra de africanos escravizados.

Embora o tráfico negreiro tenha sido proibido nos Estados Unidos desde 1808, as fazendas sulistas continuaram a ser abastecidas pelo comércio ilegal de escravizados. Em 1860, havia 4 milhões de cativos nos Estados Unidos, o que representava um terço da população do sul.

Na segunda metade do século dezenove, a questão da manutenção da escravidão nos Estados Unidos gerava grande polêmica e dividia o país. Os estados do sul eram a favor de mantê-la. Porém, os estados do norte, com a atividade industrial em franca expansão e a produção rural organizada em pequenas propriedades, defendiam o trabalho livre e assalariado. Apesar dessas diferenças, tanto no sul quanto no norte prevalecia a ideia de superioridade do homem branco.

The Liberator

Em 1830, o estudante Uílham Guérisan fundou, em Nova York, o jornal The Liberator, que pregava o fim imediato da escravidão nos Estados Unidos. A maioria dos leitores, a princípio, era formada por negros alfabetizados pelas igrejas protestantes. Os próprios negros foram responsáveis pela sobrevivência do jornal. Aos poucos, outros pregadores abolicionistas, incluindo brancos, passaram a se dedicar ao periódico.

O jornal The Liberator funcionou até dezembro de 1865.

Fotografia em preto e branco. Em um local aberto, dezenas de homens e mulheres negros, agachados, com roupas claras e lenços sobre a cabeça. Eles trabalham em meio ao algodão recém-colhido espalhado no chão.  Ao fundo, quatro homens em pé de terno e chapéu sobre a cabeça em tons escuros, observam as pessoas trabalhando. No entorno, árvores e, à direita, construções de paredes claras.
Ex-escravizados selecionam algodão em uma fazenda no sul dos Estados Unidos. cêrca de 1863-1870. Fotografia. Sociedade Histórica de Nova York, Nova York, Estados Unidos.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Respostas e comentários

Orientações

É importante que os estudantes percebam que a ocupação das terras do oeste e a criação de novos estados aprofundaram as divergências entre o norte e o sul dos Estados Unidos no que dizia respeito à permanência, ou não, do escravismo e à cobrança de taxas alfandegárias sobre os produtos importados.

Apesar de a independência ter sido conquistada em 1776, os Estados Unidos, que se constituíam como uma nação moderna, ainda mantiveram a escravidão por várias décadas. É interessante destacar também que os lemas de igualdade e liberdade dos cidadãos perante a lei, pregados durante o movimento independentista, foram deixados de lado em relação aos afro-americanos, aos indígenas e na expansão colonizadora para o oeste. A tensão entre uma sociedade profundamente enraizada no escravismo e no colonialismo, como a sulista, e, por outro lado, uma sociedade como a nortista, que apresentava uma rápida modernização, urbanização e industrialização, ficou latente nesse período.

Observação

O conteúdo desta página oferece subsídios para analisar com os estudantes as contradições entre os discursos civilizatórios nos Estados Unidos e seus impactos negativos para as populações negras, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

A caminho da guerra civil

A questão escravista e o modêlo de ocupação das novas terras do oeste foram os principais motivos para a eclosão da guerra civil nos Estados Unidos.

Os fazendeiros do sul pretendiam expandir suas grandes propriedades em direção ao oeste, com o emprêgo de mão de obra escrava. Os estados do norte, ao contrário, queriam impedir o avanço da escravidão e defendiam o estabelecimento de pequenas propriedades familiares nessas novas terras. Para os nortistas, os escravizados deveriam ser libertos porque representavam potenciais consumidores de seus produtos. No entanto, decretar o fim do trabalho cativo interferiria no direito de os estados do sul governarem a si próprios.

Como os sulistas, representados pelo Partido Democrata, dominavam o govêrno e o Poder Legislativo federal, em 1854 aprovaram no Congresso a Lei Kansas-Nebraska. Essa lei definia que a legalidade da escravidão nos territórios federais deveria ser decidida pelos colonos de cada região, por meio do voto. Os setores abolicionistas reagiram à lei, considerada escravagista, fundando o Partido Republicano.

Para agravar a discussão, o norte, interessado em estimular sua crescente indústria, defendia o aumento das tarifas alfandegárias para se proteger da concorrência dos produtos importados e criar um poderoso mercado interno. O sul, por sua vez, queria manter as tarifas de importação baixas para adquirir produtos estrangeiros mais baratos.

Em 1860, Êibrarram Linkón, que era antiescravista, apesar de não ser abolicionista declarado, foi eleito presidente do país, o que deixou o sul ainda mais insatisfeito. Diante dessa situação, o estado da Carolina do Sul decidiu separar-se dos Estados Unidos. Dez estados seguiram o exemplo e formaram os Estados Confederados da América. O presidente escolhido foi jéfêrson dêivis. Os demais estados formaram o grupo conhecido como União.

Gravura. Vista de ambiente fechado, com destaque para dois personagens armados com espadas (um também com um machado), prontos para atacarem um ao outro. Eles são vistos de lado e estão frente e frente, separados por um grande fardo bege, no chão, onde se lê,  em inglês: 'o algodão é rei?'. O homem à direita é branco, tem cabelos castanhos penteados para trás, rosto sem barba e bochechas rosadas. Está de camisa branca, calça azul e sapatos pretos, com uma espada comprida para o alto. Atrás dele, um homem negro de camisa amarela listrada  e calças marrons pisa sobre a bandeira da União e parece dizer alguma coisa para ele, que também tem um dos pés sobre a bandeira.  À esquerda, um homem branco, de cabelos castanhos, curtos, penteados para o lado, e barba espessa. Vestido com um terno azul, camisa branca, gravata borboleta preta e sapatos marrons.  Segura uma espada e uma mão e um machado em outra. Ao lado dele, um homem branco de cartola também parece lhe dizer algo. Atrás dele, há uma águia, que  segura a bandeira dos Estados Unidos e está pousada sobre um barril, que simboliza o desenvolvimento industrial do Norte dos Estados Unidos.  Em segundo plano, à direita, uma lareira, à frente dela, diante de um barril usado como mesa de apoio para um copo e uma garrafa, um homem branco de blusa azul e casaco vermelho  com as mãos para cima. No centro, ao fundo, uma janela revela um local com solo verde e a Casa Branca com a bandeira dos Estados Unidos hasteada.
Sátira à guerra civil nos Estados Unidos, a Guerra de Secessão, simbolizada pelo embate entre Êibrarram Linkón e jéfêrson dêivis. 1861-1862. Litogravura, 26 por 36 centímetros. Sociedade Americana de Antiquários, Worcester, Estados Unidos.

Ler a charge

• Nesta charge, em litogravura, qual dos personagens representa Êibrarram Linkón? E jéfêrson dêivis? Como você chegou a essa conclusão?

Respostas e comentários

Atividade complementar

Em 1852, o abolicionista afro­‑estadunidense Douglass se pronunciou sobre a questão escravista. Apresente o trecho a seguir aos estudantes e peça-lhes que identifiquem os principais argumentos levantados contra a escravidão. Depois, solicite a eles que pesquisem informações sobre Fréderic Douglass, um dos mais atuantes abolicionistas dos Estados Unidos. Esta proposta de atividade complementar pode constituir uma boa oportunidade para o trabalho com a análise documental e a análise de mídias sociais como práticas de pesquisa.

Vocês gostariam que eu argumentasse que o homem tem direito à liberdade? Que ele é o legítimo dono de seu próprio corpo? Vocês já o declararam. Devo argumentar a injustiça da escravidão? reticências Como eu devo me apresentar hoje, na presença dos americanos, dividindo e subdividindo um discurso, para mostrar que os homens têm um direito natural à liberdade? reticências Não há um homem sequer sob a abóbada celeste que não saiba que a escravidão é errada para ele.

Discurso proferido no salão Corinthian, em Rochester, êne ípsilon, Estados Unidos da América, por Fréderic Douglass, em 5 de julho de 1852. In: FANTON, Marcos; MAIA, Tatiana Vargas. O significado do 4 de julho para o negro, de Fréderic Douglass.tchívitas, Pôrto Alegre, volume 17, número 2, e27-e59, página. 44, maio/agosto. 2017. Disponível em: https://oeds.link/JWjvAg. Acesso em: 24 março. 2022.

Observação

O conteúdo desta página possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

Resposta

Ler a charge: O homem à esquerda representa Êibrarram Linkón. Ele está ao lado de uma águia, símbolo estadunidense, e da bandeira da União. A águia está pousada sobre um barril, símbolo da produção industrial do norte. jéferson dêivis é o homem à direita. Ele pisa na bandeira da União e tem, atrás de si, um escravo, que o ridiculariza. Note que entre Lincon e dêivis há um fardo de algodão, no qual se lê: “O algodão é o rei?”. Como a iniciativa da separação partiu dos estados do sul, supõe-se que eles apostassem na vitória da agricultura algodoeira do sul sobre a produção industrial do norte.

A “casa” dividida

A formação dos Estados Confederados da América foi o estopim para a eclosão da guerra civil nos Estados Unidos, também chamada de Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão (1861-1865). O conflito colocou em lados opostos o exército da União, representado pelos estados do norte e por vários estados do oeste, e o exército confederado. O sul contava com militares experientes, enquanto o norte tinha outras vantagens: número superior de soldados, recursos de comunicação mais sofisticados e indústrias que garantiam o armamento e abasteciam as tropas.

A liderança política do presidente Lincon foi muito importante para o desfecho do conflito. Ele proibiu a entrada de mercadorias de primeira necessidade nos estados do sul e decretou a Lei do Confisco, que autorizava a apreensão dos bens dos confederados, incluindo os escravizados, que caíssem nas mãos da União.

Aos olhos dos escravizados, essas medidas tornaram-se uma grande oportunidade para conquistar a liberdade. Dessa fórma, quando o exército da União invadia uma área sulista, muitos cativos promoviam fugas coletivas.

Lincon decretou o fim da escravidão em todos os estados em janeiro de 1863. Enfraquecido e sem recursos, o sul se rendeu dois anos depois. Leia um trecho do depoimento da ex-escravizada Mídie Fríman, aos 86 anos, que vivia no Arkansas na década de 1930.

“O dia em que a liberdade chegou, eu estava pescando com papai. reticências Papai pulou pra cima, reticências segurou a minha mão e saiu correndo para casa. ‘É a vitória’, ele não parava de repetir. ‘É a liberdade. Agora nós seremos livres!’ Eu não entendia o que tudo aquilo significava.”

YETMAN, Norman R. editor. Voices from slavery: 100 authentic slave narratives. Nova YorkDover Publications, 2000.página 131. (Tradução nossa).

Fotografia em preto e branco. Local aberto com dezenas de homens em pé, próximos um aos outros, vestidos com uniforme militar.  Em primeiro plano, no centro, um canhão suspenso por carro de madeira com duas rodas. Dois homens seguram o canhão.  À esquerda, em segundo plano, outro canhão e algumas árvores.  No alto, o céu claro.
Artilharia do 3º Regimento de Massachussets no Forte Totten, em Washington, durante a Guerra de Secessão. 1864. Fotografia. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos.
Ícone. Sugestão de vídeo.

Réuriét. Direção: Estados Unidos, 2020. Duração: 125 minutos O filme conta a história de uma mulher negra, Réuriét Tôbmen, que lutou pela sua liberdade e de dezenas de escravizados durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos.

Respostas e comentários

Orientações

A Guerra Civil Americana é considerada a primeira guerra moderna por duas razões: nela foram utilizados pela primeira vez navios encouraçados e armas de técnica avançada, como fuzis e revólveres, que substituíram os antigos mosquetões; a luta teve caráter geral, dirigida não apenas para aniquilar o exército contrário, mas também para destruir todos os recursos e comunicações do inimigo. Esses aspectos fizeram com que a Guerra Civil fosse mais lenta, mortífera e destruidora que as anteriores.

O conflito, vencido pelo norte, custou cêrca de seiscentas mil vidas. Após a guerra, o govêrno tinha uma tarefa primordial: incorporar os antigos estados rebelados à União por meio da conciliação ou da ocupação desses territórios. Depois de inúmeros debates políticos, o primeiro estado readmitido foi o Tennessee e, aos poucos, a unidade do país foi consolidada.

Sugerimos destacar o significado da Guerra Civil para os escravizados (oportunidade de fuga ou de liberdade), as condições socioeconômicas enfrentadas pela população afrodescendente após o fim da escravidão e a política de segregação racial, praticada principalmente pelos estados do sul. Essa é uma boa oportunidade para discutir, com os estudantes, questões relacionadas ao preconceito racial nos Estados Unidos e no Brasil nos dias de hoje. É importante, sempre que possível, estabelecer um paralelo entre passado e presente e discutir de que fórma o preconceito racial se mostra nos dias de hoje e que atitudes poderiam ser tomadas para reverter esse problema histórico.

Observação

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Ícone. Sugestão de vídeo.

Sugestão para o estudante:

A Diêneról. Direção: bãster quíton. Estados Unidos, 1927. Duração: 75 minutos.

O filme do comediante bãster quíton, considerado um dos grandes mestres do cinema mudo e da comédia estadunidense, foi produzido em 1927 e mostra as peripécias de um maquinista de trem durante a Guerra de Secessão. O estudante irá se divertir e conhecer mais sobre esse período da história dos Estados Unidos.

Segregação racial

A abolição da escravidão e a vitória dos antiescravistas na Guerra de Secessão não garantiram aos negros dos Estados Unidos a conquista da cidadania, pois eles continuaram marginalizados e sem acesso à educação e à propriedade de terras, além de não terem direito ao voto. Prevalecia em todo o país a ideia de que os negros eram inferiores.

Nesse cenário, os habitantes do sul tornaram-se cada vez mais segregacionistas. As leis djim , aprovadas em 1870, por alguns estados da federação, consideravam negros e brancos iguais, mas definiam que eles deviam ser separados, principalmente em espaços públicos, reservando a convivência apenas em ambientes de trabalho. Dessa fórma, os negros estavam impedidos de frequentar restaurantes, estações de trem, escolas, barbearias e banheiros públicos destinados aos brancos. Essas leis só viriam a ser revogadas na década de 1960.

Ainda em 1870, foi promulgada a 15ª emenda à Constituição estadunidense, que determinou o voto universal, ou seja, estendido a todos os cidadãos o direito de votar. Contudo, diversas restrições foram acrescentadas para impedir o voto da população negra, como as exigências de saber ler e escrever e de possuir propriedades.

O sul em chamas: a Cu Clús Clã

A Cu Clús Clã (ká ká ká), associação secreta criada em 1865 por veteranos do exército confederado, insatisfeitos com os rumos do país e com o fim da escravidão, é um dos exemplos máximos da intolerância racial nos Estados Unidos.

Racista e terrorista, a ká ká ká pregava a supremacia branca e colocava-se como a defensora dos bons costumes, da moral cristã e da ordem social e “natural”. Seus membros promoviam uma série de atentados contra a população negra, além de atacar judeus, chineses, brancos que apoiavam os direitos dos negros e outros grupos considerados inferiores pela organização. As principais fórmas de violência utilizadas pela ká ká ká eram os linchamentos, as invasões de propriedades e os assassinatos.

Mesmo colocada na ilegalidade em 1871, a ká ká ká continua atuando no país até os dias de hoje.

Fotografia em preto e branco. Em um local aberto, com árvores ao fundo, duas pessoas cobertas com mantas compridas brancas e capuz branco em forma de cone sobre as cabeças. O capuz tem dois buracos nos olhos, permitindo a visão. Uma das pessoas, à esquerda, segura uma cruz escura em chamas. A pessoa à direita segura uma bandeira dos Estados Unidos.
Membros da Cu Clús Clã carregam a bandeira dos Estados Unidos e uma cruz em chamas. O uso de capuzes e de mantos brancos esconde a identidade da pessoa e representa o espírito dos confederados mortos durante a Guerra de Secessão. Fotografia de 1920.
Respostas e comentários

Orientações

O nome Cu Clús Clã deriva da palavra grega kuklos, que significa “círculo”, e do termo escocês klan, que significa “clã”, uma ancestralidade comum. O grupo racistaCu Clús Clã ainda atua nos Estados Unidos.

Observação

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Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

bróun, di. Enterrem meu coração na curva do rio: a dramática história dos índios norte-americanos. Pôrto Alegre: Lima e Pinheiro Machado, 2021.

Publicado originalmente em 1970, esse livro apresenta um panorama da exploração sistemática dos povos indígenas da América do Norte. Registros oficiais, depoimentos, autobiografias e declarações de época servem como fontes documentais e dão sustentação à obra.

izéquisson, Vitor. Estados Unidos: uma história. São Paulo: Contexto, 2021.

A obra procura analisar a formação territorial dos Estados Unidos, o desenvolvimento de suas estruturas de govêrno e os impactos culturais que a nação apresenta no mundo de hoje.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

A fotografia de guerra

A fotografia teve um papel muito importante durante a Guerra de Secessão. Inicialmente, ela era utilizada apenas para registrar o conflito e fazer propaganda de guerra. Depois, também foi empregada como arma de espionagem pelos estadunidenses.

As imagens registradas pelos fotógrafos eram diretas e chegavam a mostrar o rosto de soldados mortos nos campos de batalha. Por esse motivo, elas foram vistas pelo público como fidedignas e realistas, recebendo maior credibilidade que as notícias divulgadas pela imprensa sobre a guerra. O fotógrafo e jornalista Mátiu Brêidi chegou a declarar que a câmara fotográfica era “o ôlho da história”.

Fotografia em preto e branco. Vista de uma trincheira formada com pedras grandes à esquerda, à direita e no centro.  No chão, um homem deitado, desfalecido. Ele está com os olhos fechados, a boca aberta, veste blusa escura.  Ao fundo, apoiada nas pedras centrais da trincheira, uma espingarda encostada nas pedras. No alto, o céu claro.
A casa do atirador de elite. 1863. Fotografia. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos.
  1. Descreva essa fotografia. Que sensações ela provoca em você?
  2. Qual pode ter sido o objetivo de registrar a Guerra de Secessão em fotografias?
  3. Para tirar essa fotografia, deslocou o cadáver de um soldado confederado para um local mais visível ao observador e, ainda, inseriu no cenário um rifle. Diante desse exemplo, é possível dizer que a fotografia é um retrato fidedigno da realidade? Justifique.
  4. Na sua opinião, qual é a importância da fotografia para o estudo da História? Como o historiador deve examinar um documento fotográfico?
Respostas e comentários

Orientações

A seção possibilita uma discussão rica com os estudantes sobre os usos da linguagem fotográfica ao longo do tempo. Além disso, estimula a reflexão sobre o uso da fotografia como documento histórico. É importante levar os estudantes a pensar sobre as técnicas e linguagens fotográficas, como as utilizadas de acôrdo com as diferentes intenções, opções de córte, ângulos, entre outros recursos empregados pelos fotógrafos. Dessa fórma, eles poderão analisar de maneira crítica as produções fotográficas e desconstruir a visão tão difundida em nossa sociedade de que a fotografia seria um registro neutro e fiel da realidade.

Se os estudantes tiverem câmeras ou celulares, é possível ampliar o estudo sobre a fotografia como documen­to histórico utilizando esse recurso para que eles façam o registro de algum tema relacionado à atualidade e ao cotidiano. Uma atividade de registro fotográfico poderá aguçar a percepção deles para o que o documento visual revela e omite, além de propiciar autonomia na construção de seu conhecimento.

A seção e as atividades propostas possibilitam desenvolver com os estudantes o estudo de recepção como prática de pesquisa.

Observação

O conteúdo desta seção possibilita trabalhar aspectos da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois sete.

Respostas

1. Resposta pessoal. Nessa fotografia, é possível identificar o cadáver de um soldado caído em meio a barreiras de pedras. Na barreira frontal, há um rifle.

2. As fotografias da Guerra de Secessão foram utilizadas para informar a população dos acontecimentos, chocar o público com as imagens, que mostravam os horrores do conflito, e fazer propaganda de guerra.

3. Não. A fotografia pode ser manipulada, pois o fotógrafo pode escolher diversos elementos para compor a cena: ele muda as pessoas de lugar, define a iluminação e a paisagem, elimina elementos da cena que não o agradam etcétera., tudo para construir a mensagem que deseja transmitir ao público. Um exemplo é essa fotografia. Além de escolher o local onde o corpo deveria ficar, o fotógrafo colocou um rifle perto do soldado para dar mais dramaticidade à cena e deixar a fotografia mais artística.

4. Resposta pessoal. É esperado que o estudante reconheça que o historiador deve analisar o documento fotográfico com o mesmo olhar crítico que dirige a outros tipos de documento. Logo, deve avaliar as intenções do fotógrafo, as condições em que a fotografia foi tirada, se as pessoas foram retratadas fazendo pôses ou espontaneamente, se a situação fotografada foi produzida ou não, por que o fotógrafo escolheu aquela cena, entre outras questões.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Leia o texto a seguir, referente à ocupação das terras indígenas do oeste dos Estados Unidos ao longo do século dezenove. Trata-se de um trecho da resposta do cacique Ciátou, em 1855, ao pedido de compra das terras de sua tribo feito pelo govêrno estadunidense.

“O presidente declarou em Washington que deseja comprar a nossa terra. Mas como se há de comprar ou vender o céu, a terra? Tal ideia é estranha para nós. Se não possuímos a presença do ar, e o brilho da água, como se há de comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. reticências

FIGUEIREDO, Carlos organização. 100 discursos históricos. 5. edição Belo Horizonte: Leitura, 2002. página 275.

  1. Monte uma ficha contendo os seguintes dados do texto: ano da resposta, quem a pronunciou, a quem era destinada e qual era seu objetivo.
  2. Por que o govêrno estadunidense queria comprar as terras indígenas?
  3. Segundo o cacique, a prática de comprar terras era estranha para os indígenas. Explique.
  4. Qual foi a consequência dessa política estadunidense para os indígenas do território? E para os Estados Unidos?

2 . Elabore um quadro em seu caderno e sistematize as informações sobre a Guerra de Secessão. Siga o modêlo:

GUERRA DE SECESSÃO

Quando ocorreu

Principais motivos

Estopim para a guerra

Final do conflito

  1. Neste Capítulo você estudou algumas das origens históricas do racismo nos Estados Unidos. A segregação racial, iniciada na década de 1870 e que durou até a década de 1960, aproximadamente, marginalizou os negros nos Estados Unidos, alimentando todos os tipos de preconceito contra essa população. Considerando essas informações e com base em seus conhecimentos, responda: O que você pensa sobre o racismo? Debata com os colegas e crie uma campanha de combate ao racismo.
  2. Observe a imagem a seguir e responda às questões propostas.
Fotografia em preto e branco. Em uma calçada de uma rua movimentada, um homem negro segura um cartaz de fundo branco e caracteres pretos com o texto em inglês: 'A presença da segregação significa a ausência da democracia. Jim Crow deve ir embora!'.  O homem usa um chapéu redondo escuro, adornado com uma fita, óculos, casaco bege comprido, camisa branca e gravata escura.  À direita dele, duas mulheres jovens e brancas usando jaquetas escolares e saias até os joelhos caminham na mesma calçada.  Ao fundo, há outro homem segurando um cartaz nas mãos. No entorno, vista parcial de lojas.
Durante uma manifestação pelo fim da segregação racial nos Estados Unidos, em 1º de novembro de 1960, um homem carregava uma placa que dizia: “A presença da segregação significa a ausência da democracia. djim deve ir embora!”.
  1. Em que consistiam as chamadas leis djim ? Em sua opinião, em que medida essas leis impediam o pleno funcionamento da democracia nos Estados Unidos?
  2. Em que período as leis djim foram revogadas?
  3. O fim da escravidão nos Estados Unidos, em 1863, não representou a completa inserção dos negros na sociedade estadunidense. Explique essa situação com base nessa fotografia e nas informações deste Capítulo. Justifique sua resposta.
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

O discurso civilizatório nas Américas, o silenciamento dos saberes indígenas e as fórmas de integração e destruição de comunidades e povos indígenas.

A resistência dos povos e comunidades indígenas diante da ofensiva civilizatória.

Habilidade

São trabalhados aspectos relacionados à habilidade:

ê éfe zero oito agá ih dois sete (atividades 1, 2, 3, 4)

Respostas

1. a) Ano da resposta: 1855.

Quem a pronunciou: o cacique Ciátou. A quem era destinada: ao govêrno estadunidense. Qual era seu objetivo: responder ao pedido do govêrno estadunidense de compra de terras indígenas.

b) A compra de terras indígenas fazia parte da política de expansão do território estadunidense rumo ao oeste.

c) Porque os indígenas não conheciam o dinheiro nem a propriedade privada. Além disso, para eles, a terra tinha um valor simbólico, e não financeiro.

d) A remoção dos indígenas de suas terras acarretou para os nativos a perda de sua fonte de sobrevivência e de um patrimônio simbólico de seu passado. Para os Estados Unidos, a apropriação das terras indígenas significou o domínio de um vasto território a oeste.

2. Quando ocorreu: Entre 1861 e 1865.

Principais motivos: As divergências entre os estados do norte e os do sul.

Estopim para a guerra: A eleição de Êibrarram Linkónpara a presidência dos Estados Unidos, em 1860, e a formação dos Estados Confederados da América.

Final do conflito: Vitória da União (estados do norte) em 1865.

3. Resposta pessoal. O objetivo da questão é provocar uma discussão em sala de aula sobre o racismo, bem como desenvolver nos estudantes uma atitude de respeito à diversidade e de combate aos diversos tipos de preconceito.

4. a) Eram leis segregacionistas. Essas medidas impediam o pleno funcionamento da democracia porque estabeleciam a segregação espacial dos negros.

b) Na década de 1960.

c) O fim da escravidão não significou a inserção dos negros na sociedade estadunidense. Em alguns estados, leis de segregação racial foram promulgadas. ­

CAPÍTULO 19 CRESCIMENTO ECONÔMICO E IMPERIALISMO

Após a independência, no século dezoito, os Estados Unidos se tornaram exemplo e inspiração para os outros países do continente americano.

Contudo, no século seguinte, o espírito imperialista se sobrepôs. Se liberdade e emancipação foram princípios que nortearam a história estadunidense, nem sempre esses valôres foram observados em sua relação com as nações latino-americanas.

No início do século dezenove, o expansionismo era uma política de Estado, inspirada na Doutrina Monroe, cujo lema era “a América para os americanos” (ou melhor, “a América para os estadunidenses”).

Em 1846, diversos territórios que pertenciam ao México foram anexados. E, após vencer a guerra Hispano-Americana, em 1898, os estadunidenses intervieram em diversos países da região. Granada, Haiti, Honduras, Nicarágua, Cuba, Pôrto Rico, Panamá e o próprio México fazem parte da longa lista.

Gravura. Vista de um local aberto, em ambiente urbano. Em primeiro plano, no centro, vista de uma rua cercada por prédios de cores diferentes, de quatro a oito andares, alguns com torres finas na ponta, e três deles, um no centro e dois à direita, com bandeiras dos Estados Unidos no topo do telhado.  Na rua, em diferentes sentidos, dezenas de carros puxados por cavalos, além de homens e mulheres a pé à esquerda e à direita.  Ao fundo, há mais prédios, dois deles, à esquerda com bandeiras dos Estados Unidos no topo. Mais à esquerda, duas chaminés altas, expelindo fumaça preta.  No alto, o céu azul claro e nuvens brancas.
Broadway, Nova York. cêrca de 1875. Litogravura, 41,3 por 60,6 centímetros. Biblioteca do Congresso, Washington, Estados Unidos.
Respostas e comentários

Sobre o Capítulo

Se no final do século dezoito o processo de independência dos Estados Unidos impactou na formação dos Estados modernos e nas sociedades americanas, gerando a esperança de construção de um mundo igualitário e livre, essa perspectiva revolucionária foi mostrando cada vez mais seus limites por meio dos pressupostos e das práticas criadas pelo liberalismo. A Doutrina Monroe, no início do século dezenove, expressou-se no lema “a América para os americanos”, o que na prática resultou no genocídio dos povos indígenas, na ocupação de suas terras, na devastação ambiental e na continuidade do regime de exploração escravista e racista. A política interna e externa dos Estados Unidos foi rapidamente progredindo no início do século vinte para o imperialismo, manifestando-se primeiramente no continente americano. O Capítulo aborda ainda o crescimento econômico, industrial e urbano dos Estados Unidos a partir da segunda metade do século dezenove.

Orientações

Neste momento, é importante orientar os estudantes a refletir sobre o expansionismo americano no século dezenove, que ultrapassou os limites das chamadas “terras desocupadas” do oeste e das terras indígenas. Nesse período, partes do México foram anexadas aos Estados Unidos. Além de ampliar seu território, os estadunidenses passaram a intervir em diversos países do continente. Como será possível conhecer ao longo do Capítulo, os Estados Unidos auxiliaram no processo de independência de algumas regiões de domínio espanhol para, em seguida, iniciar sua política intervencionista.

Habilidades trabalhadas ao longo deste Capítulo

ê éfe zero oito agá ih zero nove: Conhecer as características e os principais pensadores do Pan-americanismo.

ê éfe zero oito agá ih dois cinco: Caracterizar e contextualizar aspectos das relações entre os Estados Unidos da América e a América Latina no século dezenove.

Observação

O conteúdo desta página possibilita iniciar o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

O crescimento econômico estadunidense

A vitória da União na Guerra Civil Americana permitiu consolidar nos Estados Unidos o modêlo econômico liberal, defendido pela burguesia industrial, financeira e comercial do norte do país. Várias pequenas fábricas de carvão e aço passaram a ocupar cada vez mais o espaço da antiga economia agrícola e artesanal.

No campo, a mecanização da agricultura aumentou enormemente as áreas de cultivo e a produtividade. O desenvolvimento da pecuária nas planícies do oeste teve como consequência o extermínio dos povos nativos e transformou a região em um imenso curral. A construção de extensas ferrovias, que ligavam diversas regiões portuárias ao interior do país e facilitavam o transporte de matérias-primas, pessoas e mercadorias, foi essencial para a expansão econômica estadunidense.

A construção de ferrovias transcontinentais foi uma marca do otimismo tecnológico e modernizador do período. Revelava a mentalidade e o orgulho dos estadunidenses em ocupar o vasto território do país e em criar meios para explorar os seus recursos naturais. A modernização também se estendeu aos meios de comunicação, com o aperfeiçoamento do telefone e a criação da máquina de escrever, por exemplo. Em 1900, a fôrça da economia dos Estados Unidos despontava em vários setores. Além de possuir a maior malha ferroviária, o país já ocupava o primeiro lugar na produção mundial de aço.

Gravura. Vista do alto de local com solo coberto por grama verde em uma paisagem rural. Uma linha férrea corta a imagem longitudinalmente, atravessando a imagem do canto inferior direito ao canto superior esquerdo.  Sobre a linha férrea, um trem com cinco vagões vermelhos puxados por uma locomotiva que expele fumaça preta. À esquerda, um pequeno vilarejo com homens cortando lenha e pessoas andando por entre algumas casas simples, feitas de madeira com telhado triangular também de madeira.  À direita, um grande lago azul, atrás do qual se estende uma cadeia de montanhas.   Ao longo da ferrovia e por todo o canto superior direito da imagem, paisagem campestre, sem construções ao fundo, salvo por uma estrada de terra à esquerda.  No alto, o céu azul.
Palmer, Frances Flora Bond. Em todo o continente: oeste, o curso do império toma o seu rumo. 1868. Litogravura, 44,8 por 69,2 centímetros. Museu de Arte da Filadélfia, Estados Unidos. As extensas ferrovias tornavam possível ocupar o vasto território do país e explorar seus recursos naturais.
Respostas e comentários

Orientações

O estudo da industrialização e da urbanização aceleradas dos Estados Unidos pode ser feito com a colaboração do professor de Geografia em um trabalho interdisciplinar.

Texto complementar

O texto a seguir trata do entusiasmo que se espalhou nos Estados Unidos com os progressos tecnológicos em meados do século dezenove:

Talvez motivados pelas dimensões continentais, os norte-americanos excederam a todos no campo das comunicações. Aperfeiçoaram uma invenção italiana, o telefone (creditando-o como invenção norte-americana). Criaram a máquina de escrever, a máquina registradora, a máquina de somar e o linotipo. Vincularam o receptor telegráfico contínuo em fita às bolsas de valôres. Se já na década de 1870 a eletricidade era usada como fonte de luz e energia, dez anos depois ela movia bondes elétricos, lâmpadas incandescentes e vitrolas nas crescentes cidades.

Essa era da industrialização forjou o mito dos grandes inventores, gerado pelo confuso sistema de patentes estadunidense. Como se a nação fosse berço dos maiores talentos inventivos do mundo, a figura do inventor solitário, criativo, genial e laborioso, que no fundo de sua casa transformava ideias em aparatos tecnológicos revolucionários para a vida cotidiana e industrial, tornou-se mais um sonho norte­‑americano. reticências Hoje sabemos que, a despeito das notáveis engenhocas de pessoas como Édisson, a industrialização foi sustentada por incrementos continuados e melhorias tecnológicas paulatinas, criadas em laboratórios das próprias indústrias ou universidades, fruto de esforços de cientistas e engenheiros anônimos. reticências

KARNAL, Leandro êti áli. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2007. página 151-152.

Observação

O conteúdo desta página contribui para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

A “terra da liberdade e das oportunidades”

O desenvolvimento econômico e a política do govêrno dos Estados Unidos de conceder terras para a ocupação do oeste atraíram muitos imigrantes para o país a partir da segunda metade do século dezenove. Divulgava-se a ideia de que o país era a “terra da liberdade e das oportunidades”.

A maioria dos imigrantes eram ingleses, irlandeses, alemães, canadenses, chineses e mexicanos. Foram para os Estados Unidos por diversos fatores; no caso dos europeus, que constituíram a maioria dos imigrantes, a razão principal foi o processo de modernização capitalista nos campos, que criou uma massa de camponeses sem terra e sem trabalho nas cidades industriais europeias.

Em geral, os imigrantes assumiram os trabalhos mais árduos, como pequenos agricultores, trabalhadores braçais nas ferrovias, na construção civil e nas indústrias, onde recebiam baixos salários. Isso contribuiu para aumentar as desigualdades sociais no país. Outro obstáculo à integração socioeconômica de muitos imigrantes era o preconceito, principalmente contra os católicos e os não europeus. Esse preconceito resultou, até mesmo, em medidas anti-imigratórias.

A pressão social contra os asiáticos ou europeus, católicos em sua maioria, resultou em medidas governamentais para conter a imigração. Em 1882, o Congresso proibiu a entrada de chineses, presidiários, indigentes e criminosos (lista posteriormente acrescida de anarquistas e outros “elementos indesejáveis”). Em 1885, proibiu-se a importação de mão de obra contratada. Em 1907, proibiu-se a entrada de japoneses. Nos tempos de Primeira Guerra Mundial, contrariando o veto do presidente Uílson, o Congresso criou o requisito de alfabetização para a entrada de imigrantes. Finalmente, nos anos 1920, foram aprovadas leis que atribuíam quotas a nacionalidades, restringindo o ingresso de latino-americanos e eslavos.

KARNAL, Leandro êti áli. História dos Estados Unidos: das origens ao século vinte e um. São Paulo: Contexto, 2007. página 132.

Fotografia em preto e branco. Sob uma área coberta com telhas sustentadas por vigas verticais e horizontais, uma fila de pessoas uma atrás da outra, homens, mulheres e crianças. Eles estão de perfil, voltados para o lado direito da imagem, formando uma linha horizontal no centro da fotografia.  Os homens usam chapéu sobre cabeça, casacos e calças escuros e seguram malas grandes, retangulares nas mãos.  As mulheres usam lenços sobre as cabeças, casacos, blusas de mangas compridas e saias longas. Também carregam malas ou sacos brancos, cheios, apoiados na lateral do corpo.  A maior parte das pessoas retratadas tem expressões de cansaço. Outros, tem expressões atentas ao redor. Há um jovem de boina no centro da fila, com uma expressão de surpresa, como se estivesse surpreendido por ter sido fotografado. Uma menina de cabelos presos em um rabo de cavalo tem uma expressão serena e olha para a câmera. Ao fundo, vista parcial de construções com paredes claras e janelas pequenas.
Imigrantes fazem fila em Ellis Island (principal local de entrada de imigrantes nos Estados Unidos no século dezenove) à espera do ferryboat que os levaria à cidade de Nova York. cêrca de 1900. Fotografia.

Ler a fotografia

• Como é a expressão dos imigrantes retratados na fotografia? Que expectativas eles podem ter trazido para a América? Que sonhos poderiam ter em relação à nova terra?

Respostas e comentários

Orientações

O conteúdo desta página propicia a reflexão sobre o tema da imigração. Os Estados Unidos se tornaram o lugar de maior recepção de imigrantes, em fins do século dezoito e início do dezenove. A política migratória esteve relacionada com a expansão para o oeste e a ocupação das terras conquistadas. Inicialmente, essa massa de imigrantes, principalmente de origem europeia, cumpre seu papel na história dos Estados Unidos como fôrça de trabalho e como mercado consumidor. Sugerimos que os estudantes sejam incentivados a debater a contradição entre a formação de uma sociedade multicultural e as atitudes de xenofobia e políticas de restrições à imigração praticadas na atualidade.

Observação

O conteúdo desta página pode contribuir para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

Resposta

Ler a fotografia: O objetivo é estimular a sensibilidade e a imaginação dos estudantes na leitura de imagens. Eles devem se colocar no lugar das pessoas retratadas e imaginar que tipos de sentimento e de sonho elas levavam na “bagagem” para a América.

Ícone. Sugestão de vídeo.

Sugestão para o estudante:

UM CONTO americano: Fívol vai para o oeste. Direção: çáimon uéls e Fil Níbelinc. Estados Unidos, 1991. Duração: 72 minutos.

Essa animação conta a história do ratinho Fívol, que embarca com sua família em um navio na Europa em direção aos Estados Unidos em busca do sonho americano de construção de uma vida repleta de liberdade e justiça, mas na travessia acaba se perdendo de seus pais.

Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Multiculturalismo

Imigrantes nos Estados Unidos

Os imigrantes estão presentes na história estadunidense desde o surgimento e a formação do país.

Nova York, a cidade que durante séculos recebeu milhões de estrangeiros que moldaram a demografia dos Estados Unidos, tornou-se reticências pioneira no que diz respeito aos direitos dos imigrantes no país. A Câmara Municipal aprovou, por 33 a 14, o direito de voto para os residentes da cidade que não têm cidadania americana. A medida permitirá que votem mais de 800 mil imigrantes com vistos permanentes ou autorizações de trabalho, além dos que não tiverem documentos mas estejam protegidos por auxílio imigratório aprovado pelo govêrno federal.

ARROYO, Lorena. Nova York permite que mais de 800 mil imigrantes sem cidadania votem nas eleições locais. O Globo, 11 dezembro 2021. Disponível em: https://oeds.link/U6P8Xt. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

Dos cêrca de 8 milhões de habitantes de Nova York, 37% são imigrantes (dados de 2021). No mundo, Nova York é a cidade que mais abriga chineses, porto-riquenhos, dominicanos e mexicanos fóra de seus países de origem. Mais de 200 idiomas são falados na cidade e cêrca de metade dos nova-iorquinos fala um outro idioma em casa, com seus familiares.

Em 2018, o grafiteiro brasileiro Eduardo Kobra produziu um mural em uma escola pública no bairro de Manhattan, na cidade de Nova York, em homenagem aos imigrantes que chegaram à região entre o final do século dezenove e início do vinte. O mural tem 800 metros quadrados e representa os rostos de cinco imigrantes reais que chegaram à cidade de Nova York.

Fotografia. Vista parcial da fachada de um prédio de tijolos, com um grande grafite colorido.  O fundo da pintura é formado por losangos coloridos em vermelho, verde, laranja e azul e variações de tons dessas cores. Na parte superior do desenho, está escrito: 'ELLIS', com letras coloridas em roxo, rosa e verde-água. Cada uma das letras está separada por uma linha vertical preta, que corta o grafite, desde o topo até a base, formando cinco setores verticais. Na parte inferior, em cada um desses setores, a vista parcial de rostos de pessoas pintadas em tons coloridos (amarelo, rosa, azul, laranja, vermelho, verde, roso e outros). Da esquerda para à direita:  Uma mulher de rosto largo, com um pano listrado sobre a cabeça, olhos amendoados e escuros, rugas horizontais na testa, sobrancelhas curtas e escuras, lábio superior fino. À direita dela, um homem de cabelos lisos, curtos e escuros, penteados para o lado,  bigodes escuros cobrindo o lábio superior, com um chapéu sem abas alto e branco, um furo no queixo, vestido com uma roupa de tecido vermelho com texturas. À direita dele, no centro, uma mulher de olhos claros, verdes, nariz arredondado, lábios finos, usando um tecido branco sobre a cabeça e vários colares com contas metálicas e pérolas. À direita, um homem com gorro branco e felpudo sobre a cabeça, olhos escuros, fundos e pequenos, bigode e cavanhaque escuro, usando um lenço verde no pescoço. No último setor, à direita, uma mulher de olhos pequenos e castanhos, cabelos escuros e lisos até a altura dos ombros, sobrancelhas cheias e arqueadas, brinco de pérola na orelha, gargantilha marrom e preta ao redor do pescoço, usa camiseta branca e um casaco aberto escuro. No entorno, há outros prédios vistos parcialmente.
KOBRA, Eduardo. Ellis Island 2018. Painel, 28, 2 por 28, 2 métros A obra do artista brasileiro encontra-se na fachada de uma escola pública localizada em Manhattan, Nova York (Estados Unidos). Esse painel faz parte de uma série chamada “côres pela liberdade" e tem a intenção de trazer reflexões sobre as questões dos imigrantes na atualidade.
  1. Em 2021, Nova York era uma das cidades-santuário nos Estados Unidos. Procure o significado de “cidade-santuário” e pesquise exemplos de outras cidades e de estados do país que se declaram “santuários”.
  2. Reúna-se com um colega para fazer uma pesquisa e elaborar um texto sobre a questão: Os imigrantes contribuem positivamente para a cultura do local em que vivem? Por quê?
Respostas e comentários

Orientações

Converse com os estudantes sobre as mudanças recentes nas políticas estadunidenses em relação à imigração. Durante o govêrno de dônald tramp (2017 a 2021), foi posta em prática o que o então presidente chamou de política de “tolerância zero” em relação aos imigrantes ilegais. Milhares de imigrantes foram presos e julgados e muitas crianças foram separadas dos seus pais – uma parte delas foi deportada e outra foi mantida em abrigos do govêrno. Essa política provocou a reação de diversos organismos de defesa dos direitos dos imigrantes e dos direitos humanos. Por essa razão, o presidente teve de voltar atrás em algumas de suas decisões, como a de julgar criminalmente os imigrantes e de separar as crianças de seus pais. A eleição de jou baiden, que assumiu a presidência em 2021, trouxe a expectativa de mudanças humanistas nas políticas de imigração, mas a aprovação de seus projetos depende do Senado, no qual é forte a presença das ideias de trãmp, e Báiden enfrenta também a oposição de vários governos estaduais. Para o acompanhamento desse embate, procure incentivar os estudantes a selecionar e trazer para discutir em sala de aula notícias e artigos extraídos de jornais e revistas.

Além de discutir essas importantes questões, esta seção, ao abordar a temática dos imigrantes e a das possíveis trocas culturais entre diferentes povos, constitui um momento propício para o trabalho com o tema contemporâneo Diversidade cultural.

Observação

O conteúdo desta seção possibilita o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

Respostas

1. As chamadas cidades-santuário protegem os imigrantes contra a deportação; seus governantes e suas autoridades procuram não compartilhar com as autoridades federais informações sobre a situação legal dos imigrantes que nelas residem. Os imigrantes podem até ser deportados, mas o processo é um pouco mais difícil. Em 2021, além de Nova York, havia dezenas de cidades-santuário no país, entre elas Boston, São Francisco, Los Angeles e Santa Fé. Havia também vários estados que se declaravam “santuários”, como Califórnia, Novo México e Nova York. Esta proposta de atividade possibilita o trabalho com a análise de mídias sociais como prática de pesquisa.

2. Oriente os estudantes a tomar como exemplo a cidade de Nova York, tema desta seção por ser conhecida como destino de imigrantes. Pessoas de diversos países que se estabeleceram na cidade contribuem para a cultura local. Pesquisar as contribuições culturais de estrangeiros na cidade propicia a reflexão sobre a imigração nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo na atualidade.

Urbanização acelerada

Com a acelerada industrialização e a chegada maciça de imigrantes, algumas regiões dos Estados Unidos tiveram grande desenvolvimento urbano, que se concentrou na área dos Grandes Lagos, na costa do oceano Pacífico e no nordeste do país. Um exemplo desse crescimento foi a cidade de Nova York.

Enquanto o seu navio [do imigrante] entrava no Pôrto de Nova York reticências, o que se apresentava diante dele era uma grande e uniforme cidade, “cheia de vida, com o burburinho do comércio, o murmurinho do impacto da chegada”: ancoradouros de ferro, um imenso tráfego de navios indo e vindo, reticências uma enorme e plana cidade no horizonte tão vasta como se sugerisse um mundo sem fim reticências.

Lúcacs, Dión . Uma nova república: história dos Estados Unidos no século vinte. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2006. página 20-21.

A população urbana dos Estados Unidos saltou de 15%, em 1850, para 40%, em 1900. A expansão urbana no país, somada à consolidação de um sistema ferroviário ligando as costas leste e oeste, foi fundamental para a formação do mercado interno e para o surgimento de uma classe média numerosa, ávida por adquirir bens e orgulhosa das conquistas materiais garantidas pela prosperidade estadunidense.

Ao mesmo tempo que os Estados Unidos despontavam como uma das maiores economias capitalistas do mundo, uma mentalidade que valorizava o individualismo competitivo se consolidava no país. A crença nos Estados Unidos como a “terra da liberdade e das oportunidades” se associava à ideologia do Destino Manifesto.

Cartão-postal. Vista de um local aberto, em ambiente urbano, com destaque para uma rua larga no centro, com prédios de quatro a oito pavimentos nas laterais.  Nas calçadas, amplas e de cor cinza,  passam pessoas a pé, Na rua, no centro, algumas carruagens puxadas por cavalos e um bonde elétrico.   Ao fundo, outros prédios e o céu azul claro.
Cartão-postal de 1901 que mostra uma rua movimentada em Cleveland, Ohio, Estados Unidos. Biblioteca Pública de Nova York, Nova York, Estados Unidos.
Respostas e comentários

Texto complementar

O texto a seguir traz mais detalhes sobre o processo de modernização e urbanização nos Estados Unidos:

reticências Na história da Europa e da América do Norte, o século dezenove foi o mais importante e próspero dos séculos. Foi o século da ascensão das classes médias, que passaram a usufruir da presença de padrões ascendentes de confôrto, segurança e poder, visível e palpável, como parte de suas vidas.

reticências O mais expressivo avanço no padrão material da vida norte-americana se deu entre 1895 e 1955, o que correspondeu ao zênite do poderio e prestígio dos Estados Unidos no mundo. Durante o último terço do século dezenove, começou a mais importante onda de progresso material. Desde a Guerra Civil até a Primeira Guerra Mundial, a mortalidade infantil foi reduzida em mais de dois terços. A expectativa de vida aumentou quase um terço. O progresso da medicina, sozinho, foi tão significativo que no início do século vinte era possível a um norte­‑americano viver sua vida inteira e se submeter a operações sérias no corpo sem nunca experimentar dor prolongada ou insuportável. Aquecimento central, encanamento interno, água corrente quente e fria, o elevador, a luz elétrica, o telégrafo, o telefone, a locomotiva, o navio a vapor, a aeronave, o automóvel, o avião, o rádio, as ferrovias e canais transcontinentais – todas foram realizações do século que precedeu a Primeira Guerra Mundial. Dali em diante, o ritmo das invenções diminuiu. reticências

Lúcacs, Dión . Uma nova república: história dos Estados Unidos no século vinte. Rio de Janeiro: Jorge zarrár, 2006. página. 162-163.

Observação

O conteúdo desta página contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

A relação dos Estados Unidos com os países da América Latina

Já estudamos que a ideologia do Destino Manifesto foi um dos argumentos dos estadunidenses para policiar a América Latina e garantir os seus interesses econômicos e políticos. Um dos seus ideólogos, Diosáia Istróng, afirmava:

Se prevejo corretamente, essa poderosa raça avançará sobre o México, a América Central e a do Sul reticências. Essa raça está predestinada a suplantar raças fracas, assimilar outras e transformar as restantes até toda a Humanidade ser anglo-saxonizada.

. Citado em: MARQUES, Ademar; LOPEZ, Luiz Roberto. Imperialismo: a expansão do capitalismo. Belo Horizonte: Lê, 2000. página 13.

A primeira fase da expansão dos Estados Unidos ocorreu com a ampliação das fronteiras, da costa atlântica à costa do oceano Pacífico. Nessa fase, o país obteve diversos territórios por meio da compra ou da conquista.

O imperialismo estadunidense

Mapa. O imperialismo estadunidense. Mapa representando parte da América do Norte, a América Central e o norte da América do Sul. Na América do Norte há territórios destacados em cores diferentes. Na parte inferior esquerda, há um pequeno mapa com ampliação maior representando o Canal do Panamá.  Alguns ícones estão espalhados pelo território. Na legenda: Uma linha cor de rosa corresponde a: 'Limites do México até 1836'. Estendendo-se pelo centro da América do Norte, correspondendo aos territórios do Texas, Novo México, Arizona e Utah, além do território que hoje corresponde ao México. Ao sul, a fronteira do México atravessava o sul da Guatemala, El Salvador, parte de Honduras e o oeste da Nicarágua.  Uma linha cinza corresponde a: 'Fronteiras atuais'. As fronteiras atuais do México estão localizadas ao sul da Califórnia, do Novo México e do Texas. Ao sul,o México faz fronteira com a Nicarágua.  Territórios na cor verde correspondem a: 'Possessões estadunidenses'. Incluindo a região central e leste do atual território dos Estados Unidos, com círculos verdes na Nicarágua, na fronteira do Panamá com a Costa Rica, na Jamaica, em Key West, em Guantanamo na Ilha de Cuba, ao sul do Haiti e em Porto Rico.   Territórios na cor rosa clara correspondem a: 'Territórios ocupados pelos Estados Unidos em 1845'. Estendendo-se pelos territórios no centro da América do Norte, que corresponde hoje a  Utah, Arizona, Novo México e Texas, que pertenciam ao México até 1836.  Territórios na cor marrom correspondem a: 'Territórios cedidos aos Estados Unidos com o Tratado de Guadalupe-Hidalgo (1848)'. Incluindo os territórios que hoje corresponde a Califórnia e Nevada.   Territórios na cor amarela correspondem a: 'Territórios cedidos aos Estados Unidos (1853)'. Incluindo territórios que hoje correspondem ao sul do Arizona e ao sul do Novo México. Ícones de um navio encouraçado na cor preta correspondem a: 'Bases navais'. Indicando bases na região da Flórida, em Key West, nas Bahamas, na Jamaica, em San Juan, Saint Thomas, Antígua, Trinidad e Tobago, Guiana Inglesa e no litoral caribenho da Costa Rica. O mapa traz uma ampliação da região onde foi construído o canal do Panamá, mostrando as bases navais instaladas ali para garantir os interesses dos Estados Unidos. Há uma base na costa do Atlântico e uma base na costa do Oceano Pacífico. No centro do mapa, rosa dos ventos e escala de 0 a 640 quilômetros.

Fonte: Bruít Éctór H. O imperialismo. São Paulo: Atual, 1994. página 52.

Na segunda metade do século dezenove, com o avanço da industrialização no país, os Estados Unidos estenderam sua política imperialista para a América Central e a América do Sul por meio de empresas mineradoras (Chile e Bolívia), petrolíferas (México e Venezuela), açucareiras (Cuba) e fruticultoras (América Central).

Os Estados Unidos não construíram um império colonial, administrado diretamente por autoridades da metrópole. Optaram por um imperialismo “informal”, com o qual lucraram milhões de dólares ao longo do século dezenove e início do vinte.

Respostas e comentários

Orientações

Peça aos estudantes que observem com atenção o mapa reproduzido na página. Eles devem identificar, entre outros aspectos, os limites do México até 1836, a invasão de seu território e anexação em 1845. Esse é um exemplo da política expansionista e intervencionista que os Estados Unidos foram consolidando nas relações com as outras diversas regiões do continente. É fundamental que eles observem também as bases navais estadunidenses instaladas em ilhas do Caribe, no canal do Panamá, na fronteira entre a América Central e a América do Sul e ao sul do continente, na Guiana Francesa e regiões próximas à Venezuela. Estimule-os a refletir sobre a política dos Estados Unidos, as estratégias e os interesses geopolíticos e econômicos envolvidos nessas práticas imperialistas no continente.

Observação

O conteúdo desta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco e pode contribuir para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero nove.

Texto complementar

O texto a seguir aborda o contexto das nações latino-americanas após a independência, em uma análise que auxilia na compreensão do imperialismo estadunidense na região.

Assumindo postura defensiva, várias nações latino-americanas pediram proteção a nações mais poderosas, depois da independência, por se sentirem vulneráveis. Preocupavam-se com a ameaça do país vizinho e tentavam desesperadamente proteger suas fronteiras, quase sempre sem sucesso. Na maior parte, os repetidos fracassos resultavam da falta de fôrça do Estado e da incapacidade para alcançar um consenso interno. Nesse contexto, o sonho bolivariano de comunidade e unidade continuava sendo uma ambição fóra do alcance.

. América Latina × Estados Unidos: uma relação turbulenta. São Paulo: Contexto, 2016. E-book.

A política do Big Stick

A partir da segunda metade do século dezenove, o imperialismo estadunidense na América Latina assumiu uma política de “portas fechadas” para qualquer outra potência, visando diminuir a influência da Europa no continente.

Essa política era derivada da Doutrina Monroe e passou, ao mesmo tempo, a ter um viés imperialista. A interpretação da doutrina pelo presidente teodór rúsvelt ficou conhecida como Corolário Rusevélt e concebia a intervenção estadunidense como um direito e um dever para manter a ordem e, principalmente, os interesses dos Estados Unidos no continente. Rusevélt afirmou:

“Tudo que este país deseja é ver que nos países vizinhos reina a estabilidade, a ordem e a prosperidade. Todo Estado cujo povo se conduza bem pode contar com nossa cordial amizade [e] não deverá temer intervenções dos Estados Unidos. No entanto, uma desordem crônica ou uma impotência resultante do relaxamento geral dos laços da sociedade poderiam exigir na América, como em qualquer outra parte, a intervenção de uma nação civilizada. No hemisfério ocidental, a Doutrina Monroe pode obrigar os Estados Unidos, embora contra a vontade, a exercer, em casos de flagrante desordem ou de impotência, um poder de polícia internacional.”

Bruít ÉctórH. O imperialismo. São Paulo: Atual, 1994. página 54.

Rusevélt inaugurava, assim, a política do Big Stick, sintetizada com base na ideia de “falar macio e carregar um grande porrete”. De acôrdo com essa política, os governos latino-americanos deveriam cumprir suas obrigações financeiras com os Estados Unidos e adotar políticas de proteção aos interesses econômicos das empresas estadunidenses. Caso não cumprissem essas determinações, poderiam sofrer intervenções armadas, que teriam supostamente a intenção de manter a estabilidade nas relações entre as diversas regiões do continente.

Charge. Desenho de um homem gigante caminhando sobre territórios banhados pelo mar do Caribe. Ele possui um grande porrete amarelo apoiado sobre o ombro direito e um lenço estampado com a bandeira dos Estados Unidos enrolado no pescoço. Ele usa uma calça bege abaixo dos joelhos e está sem sapatos. Os calçados estão marrados um ao outro e presos na cintura dele. Nos territórios ao redor do mar do Caribe, lê-se: 'São Domingo, Cuba, México e Panamá'. O homem puxa por uma cordinha uma frota de embarcações de guerra, à vapor, com chaminés soltando fumaça para cima, que trazem nas laterais escrito em inglês: 'coletor de impostos'. No alto, céu o azul claro, nuvens brancas e pássaros sobrevoando.  Na parte inferior, o título da charge, em inglês: 'O Big Stick no Mar do Caribe'.
rógers, William Álan. O Big Stick no Mar do Caribe. 1904. Charge. A charge ironiza a política intervencionista do presidente Rusevélt sobre as regiões do continente americano, como o Caribe.
Respostas e comentários

Orientações

No estudo da política do Big Stick, é interessante incentivar comparações entre ele e a política atual dos Estados Unidos no continente. Para isso, pergunte, por exemplo, se é possível observar semelhanças ou diferenças entre as práticas atuais e as do século dezenove; se as intervenções foram se tornando menos baseadas em conquistas territoriais e mais direcionadas para as políticas de manipulação dos governos dos diversos países e suas diretrizes econômicas etcétera.

Observação

O conteúdo desta página possibilita aos estudantes conhecer e avaliar algumas características do Pan-americanismo, que surgiu no século dezenove nos Estados Unidos. É importante salientar as diferenças entre as propostas elaboradas anteriormente pelos pensadores da América Latina e as que foram formuladas nos Estados Unidos. Esse estudo possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih zero nove.

Atividade complementar

Para ampliar a discussão, proponha aos estudantes uma reflexão sobre o significado do imperialismo nos dias de hoje no continente americano. Peça a eles que pesquisem artigos e reportagens que tratem de práticas intervencionistas dos Estados Unidos em diversos países da América Latina. Depois, eles devem se reunir em grupos, selecionar e analisar as reportagens e/ou artigos e produzir um texto registrando as interpretações e hipóteses do grupo. Por fim, poderão expor para o restante da turma os textos que produziram.

Esta proposta de atividade complementar constitui um momento propício para o trabalho com a análise de mídias sociais e com a revisão bibliográfica como práticas de pesquisa.

O caso cubano

Por sua posição geográfica estratégica e sua proximidade com o sul dos Estados Unidos, Cuba despertou os interesses estadunidenses.

O volume do comércio entre Cuba e Estados Unidos era significativo e os investimentos estadunidenses na produção de açúcar e mineral (ferro, manganês e níquel) alcançaram níveis extraordinários no final do século dezenove.

Na guerra de independência de Cuba, que ocorreu entre 1895 e 1898, os cubanos, liderados por rossê Martí e com a ajuda dos Estados Unidos, derrotaram as tropas espanholas. Porém, essa ajuda teve um custo alto para Cuba. Após a morte de Martí, os estadunidenses submeteram a ilha a uma vergonhosa tutela. O novo país independente foi obrigado a incluir em sua Constituição a Emenda Platt, que vigorou de 1901 a 1934. Essa emenda cedia aos Estados Unidos a base militar de Guantánamo, onde permanecem até hoje, e autorizava a intervenção na ilha para defender interesses do país. Com base na emenda, as tropas estadunidenses invadiram a ilha algumas vezes, como em 1902, a fim de derrotar um movimento revolucionário.

A Emenda Plát representou o domínio militar, político e econômico dos Estados Unidos sobre Cuba. Além disso, resultou em uma série de governos corruptos e incompetentes, como o do sargento Fulgêncio Batista, que subiu ao poder em 1933 e foi deposto em 1959 com a Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro.

Charge em preto e branco. Vista de local aberto. No centro, um homem sentado sobre um banco baixo. Ele tem cabelos brancos, longos, cobrindo a nuca, barba longa branca,  usa uma cartola grande sobre a cabeça, paletó de mangas compridas escuro, calça com listras verticais e sapatos nos pés. É uma representação do Tio Sam, que segura em uma das mãos, atrás de suas costas, uma faixa branca onde está escrito em inglês: 'liberdade'. Com a outra mão, esticada para frente, acaricia com o dedo o queixo de uma menina negra, à frente dele, em cujo vestido está escrito: Cuba. Ao fundo, à esquerda, um casebre de telhado triangular e árvores. À direita, uma embarcação sobre o mar, com a bandeira dos Estados Unidos hasteada.
1907. Charge. Publicada no Detroit Journal, ironiza o domínio estadunidense sobre os cubanos: “A liberdade de Cuba não está longe”. Coleção particular.
Respostas e comentários

Orientações

O intelectual cubano rossê Martí participou, em 1889, da Primeira Conferência das Nações Americanas em Washington, na qual se deu a construção do discurso Pan-americanista. Defensor da unidade da América hispânica baseada na identidade latino-americana, Martí tornou-se um grande crítico da ideia de Pan-americanismo surgida entre os políticos e intelectuais estadunidenses, cujo objetivo era incentivar as relações comerciais dos Estados Unidos com o restante do continente americano.

rossê Martí teceu muitas críticas a essa conferência, dizendo que as nações latino-americanas deveriam tratar com “cuidado” as ideias pan-americanas; para Martí, os Estados Unidos, ao propor a ideia de uma “união americana” com o pan-americanismo, pretendiam, na verdade, defender somente os interesses de sua indústria e de seu comércio. Segundo estudiosos, as ideias do Pan-americanismo se transformaram ao longo do século vinte, perdendo fôrça num contexto em que os Estados Unidos se estabeleceram como uma importante potência mundial. Comente com os estudantes as posições de rossê Martí, estimulando a reflexão deles sobre as características das diferentes concepções pan-americanistas.

Observação

O conteúdo desta página possibilita o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco e podem contribuir para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih zero nove.

Texto complementar

O texto a seguir aborda o pensamento de rossê Martí:

[Martí] Propôs uma estratégia completa para a libertação nacional de Cuba e do continente, realizando, nesse mesmo movimento, uma crítica veemente ao liberalismo, ao republicanismo

Martí também compreendeu o vertiginoso desenvolvimento industrial dos Estados Unidos e os riscos da formação de monopólios que atuassem no continente, o que poderia minar, ainda mais, os fundamentos democráticos da América Latina.

VELOSO, Mariza. rossê Martí: modernidade e utopia. Sociedade e Estado, volume 26, número 2, Brasília, Distrito Federal, página. 135, maio/agosto. 2011.

O canal do Panamá

A criação da república do Panamá é um exemplo do domínio imperialista dos Estados Unidos na América Latina.

Por volta de 1888, uma empresa francesa começou a construção do canal do Panamá, que pertencia à Colômbia. O canal interligaria o oceano Atlântico ao Pacífico. A companhia enfrentou uma série de dificuldades e, por falta de recursos, propôs a venda do projeto ao govêrno dos Estados Unidos por 40 milhões de dólares em 1902. Porém, a Colômbia não aceitou o tratado proposto pelo govêrno estadunidense, pois feria a soberania colombiana, uma vez que o contrôle do canal ficaria nas mãos dos Estados Unidos.

A companhia francesa, interessada em concretizar o negócio com os Estados Unidos, começou a incentivar uma revólta interna dos panamenhos contra o domínio colombiano. Os Estados Unidos enviaram navios de guerra para a região. A luta pela independência do Panamá começou em novembro de 1903. A esquadra estadunidense impediu a entrada das tropas colombianas, colaborando para a vitória da rebelião, que organizou rapidamente um govêrno provisório no novo país.

No mesmo ano, os Estados Unidos e o novo país independente assinaram um tratado pelo qual os estadunidenses concordavam em pagar certa quantia em troca de obter o contrôle perpétuo do canal. Apenas em 1977, depois de décadas de protestos panamenhos, os presidentes dos Estados Unidos, Dimi Carter, e do Panamá, general Omar Torrírros, assinaram dois novos tratados que substituíram aquele acôrdo, transferindo o contrôle do canal para o Panamá a partir de 1999, o que de fato ocorreu.

Fotografia em preto e branco. Vista de local aberto com destaque para um grande canteiro de obras. Em primeiro plano,  uma esteira com trilho de ferro e, sobre ela, um carrinho com alguns objetos.  Em segundo plano, várias pessoas em pé trabalhando próximas de carrinhos e montes de pedras. À direita, uma linha férrea. Nas laterais e ao fundo, morros rochosos.
Construção do canal do Panamá, concluído em 1914. Fotografia de 1907.
Respostas e comentários

Orientações

Comente com os estudantes que o processo de independência do Panamá em relação à Colômbia foi incentivado pelos Estados Unidos, assim como a independência de Cuba alguns anos antes. Nos dois casos, os Estados Unidos tiraram proveito das lutas independentistas, movidos por seus interesses geopolíticos e econômicos nas regiões. Contudo, cabe ressaltar que, no caso do Panamá, a independência não se voltava para o rompimento da dominação colonial com a Europa, mas sim para o desmembramento de uma região da Colômbia, cujo processo foi incentivado pela política estadunidense. Manter o contrôle sob uma pequena república como a do Panamá, com um território circunscrito entre os oceanos Atlântico e Pacífico – posição estratégica para a intervenção imperialista estadunidense –, seria uma tarefa mais fácil de ser posta em prática com a fragmentação e o isolamento da região.

Observação

O conteúdo desta página contribui para o trabalho com a habilidade ê éfe zero oito agá ih dois cinco.

Ícone. Sugestão de livro.

Sugestões complementares referentes ao Capítulo:

Tóta, Antonio Pedro. Os americanos. São Paulo: Contexto, 2013.

Nessa obra, o historiador Antonio Pedro Tota investiga as origens, os costumes e a história dos estadunidenses, abordando temas como expansionismo, guerras e conflitos, cultura e cinema.

Tuéin, Marc. Patriotas e traidores: anti-imperialismo, política e crítica social. São Paulo: Perseu Abramo, 2003.

A obra apresenta textos escritos por Marc Tuéin (autor clássico da ficção estadunidense) sobre o fenômeno do imperialismo e sobre o expansionismo imperialista do govêrno dos Estados Unidos no século dezenove.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Explique por que os Estados Unidos receberam tantos imigrantes na segunda metade do século dezenove.
  2. Explique por que podemos afirmar que os Estados Unidos optaram por um “imperialismo informal” durante o século dezenove e o início do século vinte.
  3. Utilize seus conhecimentos sobre o processo que levou à construção do canal do Panamá e relacione-o com a política do Big Stick.
  4. Explique a política do Big Stick. Dê pelo menos um exemplo de episódio relacionado a essa política.
  5. Sob orientação do professor, reúnam-se em grupos. Observem a charge a seguir e façam as atividades propostas.
Charge em preto e branco. Vista de um local com o mar ao fundo, com destaque para uma embarcação militar com um grande canhão. No costado da embarcação, as iniciais do nome dos Estados Unidos em inglês: 'U' e 'S'. No convés da embarcação, há um homem de chapéu de caubói, óculos redondos sobre o rosto, traje branco composto de casaco e calça, luvas compridas até os cotovelos, com os braços cruzados apoiados em um grande canhão apontado na direção de um homem sentado no canto esquerdo da imagem. Esse homem, de cabelos longos brancos, e expressão enfurecida, está vestido como um rei, com uma coroa sobre a cabeça, um manto de arminho sobre as costas, meias longas brancas e sapatos pretos com fivelas. Essa figura está sentada sobre um terreno onde está escrito: 'Europa'. Nas mãos, segura um papel onde se lê: 'reivindicações'. Na ponta do canhão, próxima ao rosto dele,  está escrito em inglês: 'Doutrina Monroe'.  À direita do rei,  no centro da imagem, em outro terreno, uma ilha em que está escrito 'República se Santo Domingo', está sentado um homem com chapéu redondo, alto, com uma fita preta, vestido com roupa branca (camisa e calça) e descalço. Ele olha desconfiado para o homem com roupa de rei. Na legenda da charge está escrito: 'Tire as mãos!' Como se o homem de chapéu e óculos desse uma ordem ao rei. Ao fundo, no mar, embarcações à vapor vistas parcialmente. No alto, o céu com muitas nuvens.
Charge publicada na revista Puck. 1905. Na ponta do canhão, o papel diz: “Doutrina Monroe”. O papel nas mãos do rei diz: “Reivindicações”.
  1. O que o homem vestido de rei está representando? Por que ele usa roupas de rei? Respondam com base em seus conhecimentos de História.
  2. Quem é o homem de chapéu e óculos dentro do navio? Há uma imagem neste Capítulo que pode auxiliar nessa identificação.
  3. A Doutrina Monroe, em sua origem, podia ser considerada uma estratégia de defesa dos estadunidenses contra a ameaça de recolonização do continente americano. Contudo, essa doutrina passou a ser usada “para outros fins”. Como ela passou a ser usada? Que elementos da charge nos mostram isso?
Respostas e comentários

Seção Atividades

Objetos de conhecimento

Independência dos Estados Unidos da América.

Os Estados Unidos da América e a América Latina no século dezenove.

Habilidades

São trabalhados aspectos relacionados às habilidades:

ê éfe zero oito agá ih dois cinco (atividades 1, 2, 3, 4, 5)

ê éfe zero oito agá ih zero nove (atividades 3, 4, 5)

Respostas

1. Os imigrantes, em sua maioria europeus e asiáticos, foram atraídos pelo desenvolvimento econômico dos Estados Unidos e pela política do govêrno estadunidense de concessão de terras para a ocupação do oeste.

2. Diferentemente da prática imperialista das nações europeias em regiões da África e da Ásia, que impunham uma administração da metrópole em seus domínios coloniais, os Estados Unidos optaram por não construir um império colonial administrado diretamente por autoridades da metrópole.

3. A criação da república do Panamá é um dos exemplos da política do Big Stick aplicada na América Latina. O govêrno de teodór rúsvelt defendeu com todas as fôrças a construção do canal do Panamá em nome dos interesses militares e econômicos dos Estados Unidos. O presidente chegou a declarar, em 10 de outubro de 1903, que “ficaria encantado de ver o Panamá converter-se em um Estado independente”. Assim, os Estados Unidos apoiaram militarmente a separação do Panamá da Colômbia, assegurando a construção e o contrôle do canal do Panamá até 1999.

4. De acôrdo a política do Big Stick, os governos latino-americanos não apenas deveriam cumprir suas obrigações financeiras, mas também adotar uma política de proteção aos interesses econômicos das empresas estadunidenses. Se não o fizessem, poderiam sofrer intervenções armadas. Como exemplos da politica do Big Stick os estudantes podem citar situações vistas no capítulo, como a atuação dos Estados Unidos no processo de independência do Panamá e a tutela estabelecida sobre Cuba por meio da Emenda Platt.

5. a) O homem vestido de rei está representando as monarquias europeias (mais especificamente, a monarquia inglesa, antiga metrópole das colônias inglesas da América). Ele usa roupas de rei como referência ao Antigo Regime, que representaria o “Velho Mundo” diante do “Novo Mundo” constituído na América, principalmente pela nova correlação de fôrças imposta pelo poderio dos Estados Unidos na contemporaneidade.

b) O personagem faz referência ao presidente Rusevélt.

c) A Doutrina Monroe foi se tornando aos poucos uma justificativa para o intervencionismo e o imperialismo estadunidense em relação aos outros países da América, garantindo assim os seus interesses econômicos e políticos no continente.

Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Por que o problema da imigração é tão sério e complexo no mundo contemporâneo?

A política migratória nos Estados Unidos já passou por diferentes diretrizes ao longo do tempo, mas sempre foi uma questão muito discutida no país. Em 2016, dônald tramp, que venceu a disputa presidencial dos Estados Unidos, fazia declarações anti-imigratórias em seus discursos de campanha, tanto é que uma de suas propostas como candidato era a de construir um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México. O muro seria construído para evitar a entrada de mexicanos no território estadunidense.

Em 2021, jou baiden foi eleito presidente dos Estados Unidos e passou a adotar um discurso favorável à tolerância em relação aos imigrantes. Em 2022, o govêrno retomou um programa criado anteriormente por Barack Obama, que presidiu o país entre 2009 e 2017, e que permite aos filhos de imigrantes menores de 21 anos serem aceitos no país para reunificarem os laços familiares. A condição é que os imigrantes estejam em condições legais de serem reconhecidos no país. Este programa baseou-se na Lei de Menores da América Central. No entanto, alguns estados republicanos, que defendem restrições às políticas migratórias, entraram com um processo contra as medidas tomadas pelo govêrno.

Fotografia. Vista de local aberto, com destaque para um grande muro em cujo topo formato por barras metálicas verticais. À direita, no topo, há arame farpado.  A muralha está em uma praia, dividindo-a  ao meio, à esquerda e à direita, estendendo-se mar adentro.  À esquerda, algumas pessoas são vistas de costas, mulheres, homens e uma criança, caminhando e observando um grande desenho pintado na muralha.  O desenho representa rostos de pessoas, uma ao lado da outra, pintados em preto e branco sobre um fundo azul.  Ao fundo, a água do mar em tons de verde e azul. No alto, o céu azul claro.
Barreira anti-imigrantes entre Tijuana, no México, e San Diego, nos Estados Unidos. Fotografia de 2019.
Respostas e comentários

Seção Para refletir

Em consonância com as Competências Gerais da Educação Básica número 1 e número 7, esta seção estimula o estudante a valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva e argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

Os conteúdos trabalhados na seção também buscam levar o estudante a desenvolver a seguinte Competência Específica do Componente Curricular História: Identificar interpretações que expressem visões de diferentes sujeitos, culturas e povos com relação a um mesmo contexto histórico, e posicionar-se criticamente com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (4).

Habilidade

ê éfe zero oito agá ih dois cinco: Caracterizar e contextualizar aspectos das relações entre os Estados Unidos da América e a Amé­rica Latina no século dezenove.

Orientações

Essa seção procura ampliar o estudo que foi feito no Capítulo sobre a relação dos Estados Unidos com outros países da América Latina e as ondas migratórias na atualidade. Os Estados Unidos investiram na imigração como mecanismo de ocupação dos territórios e disponibilização de mão de obra no processo de urbanização e industrialização. Contudo, ao mesmo tempo, a xenofobia foi se desenvolvendo no país. O ideal da terra para os americanos criou a promessa de construção de uma sociedade forte, que realizaria o progresso em seu potencial máximo. Para que esse ideal fosse cumprido, os Estados Unidos tiveram de criar uma política isolacionista em relação aos países da Europa e intervencionista no continente americano.

Leia a seguir um artigo sobre essa questão:

O status de proteção temporária que a Administração de jou baiden concedeu aos cidadãos venezuelanos que se encontram nos Estados Unidos devido à crise de seu país constitui o primeiro grande sinal factual de uma mudança de rumo de Washington em relação à América Latina. A guinada parece lenta e complicada diante dos dois conflitos mais imediatos na região, Venezuela e Cuba. A Casa Branca destaca que a modificação da estratégia em relação ao regime castrista [de Cuba] “não figura entre as principais prioridades de Báiden” e que, embora não compartilhe da estratégia de sanções reticências em relação a Caracas e vá recuperar a cooperação internacional, tampouco tem pressa para amenizar as punições. A mensagem serve para manter a pressão em qualquer negociação futura, mas também constata as dificuldades. As últimas decisões tomadas por dônald tramp, aliás, aumentaram a tensão internacional.

reticências

“Temos muitas opções para a Venezuela, incluindo a militar, se for necessário”, disse trãmp em agosto de 2017, no meio de suas férias, de seu clube de golfe em Bedminster (Nova Jersey). “Não vou descartar a opção militar, é nosso vizinho e temos tropas em todo o mundo. A Venezuela não está muito longe e as pessoas ali estão sofrendo e morrendo”, continuou, com seu estilo tão particular, capaz de vincular uma ação armada pela conveniência da localização.

MARS, Amanda. Báiden promove um complicado giro na política dos Estados Unidos em relação à América Latina. EL País, 10 março 2021. Disponível em: https://oeds.link/02lAAi. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

  1. É possível relacionar o discurso do ex-presidente dônald tramp com a Doutrina Monroe?
  2. Procure na internet o significado do conceito de Estado. Com base em sua descoberta e nas informações do texto anterior, explique qual deveria ser o papel do Estado na garantia dos direitos humanos e da cidadania dos imigrantes que vivem em seu território.

Para compreender e discutir os conflitos e as tensões no mundo contemporâneo, como as ondas de imigração, é necessário utilizar corretamente conceitos como os de Estado, país e govêrno. Considere as afirmações a seguir:

  • O govêrno é uma das instituições que fazem parte do Estado; o govêrno tem, de modo geral, a função de administrar o Estado;
  • O conceito de país refere-se a uma designação geográfica; relaciona-se, de modo geral, ao território físico em que um Estado age. Obs.: Esses conceitos são genéricos, considerados de acôrdo com os objetivos desta seção.

3. Vamos tentar exercitar o uso desses conceitos? Em seu caderno, escreva um parágrafo sobre a questão da imigração latino-americana para os Estados Unidos utilizando os conceitos de Estado, govêrno e país. Se necessário, faça uma pesquisa sobre o tema da imigração e aprofunde o significado desses conceitos. Em seu texto, procure responder: Por que a imigração é uma questão tão complexa no mundo contemporâneo?

Respostas e comentários

Respostas

1. Sim. A Doutrina Monroe fundamentava o intervencionismo dos Estados Unidos na América Latina.

2. Ao pesquisar o significado do conceito de Estado, é esperado que os estudantes compreendam que Estado é um conjunto de instituições que administram um território. Essas instituições deveriam assegurar aos imigrantes que vivem no território do país os direitos humanos e de cidadania, como o acesso à educação e ao emprêgo qualificado. Essa atividade constitui, novamente, um momento propício para o trabalho com a análise de mídias sociais e com a revisão bibliográfica como práticas de pesquisa.

3. O objetivo é incentivar os estudantes a refletir sobre uma questão complexa do mundo contemporâneo, a imigração, com base em pesquisas e utilizando conceitos importantes para a História e para a Geopolítica. O texto deve contemplar os conceitos de Estado, govêrno e país. Sugestão de resposta: A questão da imigração é, hoje, muito discutida, tanto na mídia como em campanhas eleitorais em diversos países. Nos Estados Unidos, sucessivos governos vêm tomando medidas para diminuir ao máximo a entrada de imigrantes latino-americanos no país. Em 2021, o govêrno sinalizou uma possível mudança ao conceder o status de proteção temporária aos imigrantes venezuelanos. Pode-se observar que proibir a entrada de imigrantes não é uma solução. Os governos devem considerar que o problema da entrada de latino-americanos nos Estados Unidos em busca de melhores condições de vida e de trabalho se resolveria com a garantia de acesso a saúde, educação e emprêgo em seu país.

Questões para autoavaliação

Nesta Unidade do livro, as questões sugeridas para autoavaliação – e que podem ser utilizadas, a seu critério, para o diagnóstico do grau de aprendizagem dos estudantes – são:

1. Como os Estados Unidos promoveram a sua expansão territorial?

2. Por que os estados do norte e os do sul se enfrentaram na Guerra de Secessão?

3. Como os Estados Unidos se relacionaram com os vizinhos da América Latina?

4. Como os Estados Unidos se tornaram uma das maiores potências mundiais no final do século dezenove?