UNIDADE dois  A GRANDE GUERRA E A REVOLUÇÃO RUSSA

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de rua, tendo alguns prédios ao fundo. Em primeiro plano, uma multidão ocupa toda a extensão da rua. Dos lados direito e esquerdo da rua, população civil observa o centro da rua, por onde desfilam soldados armados. Ao centro, vê-se dois cartazes erguidos com texto escrito em língua russa, com letras brancas.
Bolcheviques marcham pelas ruas de Petrogrado, na Rússia, durante a Revolução Russa. Fotografia de 1917.
Fotografia em preto e branco. Há muitos soldados agachados e outros sentados atrás de uma estrutura feita com sacos de tamanho médio, empilhados até a altura dos ombros de uma pessoa adulta de estatura mediana. Eles usam casaco, calça, botas e um capacete sobre a cabeça. À esquerda, dois deles têm papel na mão. Ao fundo e à direita, um dos soldados está de pé e parece conversar com o grupo. O solo é arenoso, escuro e irregular.
Soldados italianos em trincheira durante a Primeira Guerra. Fotografia de cêrca de 1916-1918. Museu Central do Ressurgimento, Roma, Itália.

Você estudará nesta Unidade:

As rivalidades e as disputas territoriais na Europa que provocaram a Primeira Guerra Mundial

O fim da guerra e o Tratado de Versalhes

As dificuldades enfrentadas pela população russa nos primeiros anos do século vinte

A Revolução Bolchevique e as mudanças no país após a instalação do sistema socialista

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de local fechado. Em primeiro plano, duas mulheres trabalham manipulando projéteis bélicos, com estrutura lisa e cilíndrica, com cerca de 60 centímetros. Uma dessas mulheres está à esquerda da fotografia, sobre um tablado de madeira. À direita, ao lado de uma pilha de projéteis, uma mulher segura um desses projéteis. Em segundo plano, uma terceira mulher trabalha com os mesmos objetos. Ao fundo, uma parede clara e algumas janelas.
Mulheres trabalham em indústria de munições e demais equipamentos usados nas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial, em Paris. Fotografia decêrca de 1915.
Pôster. Ocupando a maior parte do pôster, há um desenho de uma mulher que caminha sobre rochas cinzas, onde estão escritos palavras em língua russa. Ela tem cabelos curtos castanhos, um vestido de mangas compridas vermelho e um avental laranja. Ela segura na mão esquerda um martelo. A mão esquerda está estendida na direção de uma cidade, desenhada ao fundo da imagem, em tamanho menor, com diversos prédios com inscrições em russo. Na parte inferior do pôster, letras garrafais escritas em língua russa. No alto, céu com nuvens brancas, sol com raios em amarelo e partes em laranja.
neicolí kupreianóv. O que a Revolução de Outubro deu à mulher trabalhadora e camponesa. 1920. Pôster. Propaganda soviética em que se lê nos prédios ao fundo: biblioteca, jardim de infância, escola de adultos etcétera Coleção particular.

A virada do século dezenove para o século vinte, em muitos países da Europa, foi um período de prosperidade econômica e otimismo em relação ao futuro e à capacidade humana de progresso social. No entanto, esse clima se transformou de fórma brusca quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, que surpreendeu e chocou a todos por seu alto poder de destruição.

Ao mesmo tempo que a Primeira Guerra Mundial se desenrolava, um processo revolucionário com grande participação popular foi iniciado na Rússia em 1917, impactando as relações entre os diversos países do mundo. Era a primeira vez na história que um movimento social organizado arregimentava as massas de trabalhadores para derrubar o sistema capitalista e substituí-lo por outro. O movimento saiu vitorioso e consolidou a Revolução Russa como a primeira experiência de implantação do socialismo na história. O modelo de organização socialista atenderia aos interesses e anseios dos trabalhadores. Contudo, a fórma como sua estruturação se efetivou na prática mostrou-se bastante controversa.

O que você sabe sobre esses dois eventos tão importantes que ocorreram no início do século vinte e que tiveram repercussões mundiais?

CAPÍTULO 3  A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

O período entre o final do século dezenove e o início do vinte ficou marcado, na Europa, pelas fortes tensões entre as potências econômicas do continente. Várias situações provocaram essas tensões. Uma delas era a intensa disputa imperialista entre Alemanha, França e Grã-Bretanha.

O crescimento industrial da Alemanha após a formação de seu Estado nacional fez com que ela disputasse mercados consumidores na Europa, o que ameaçava a supremacia econômica da Grã-Bretanha. Os franceses nutriam um sentimento de revanche por terem perdido para a Alemanha as regiões da Alsácia-Lorena, ricas em ferro e carvão, na Guerra Franco-Prussiana, em 1870. Além disso, a competição pelo contróle dos territórios coloniais na África gerava fortes tensões. As rivalidades motivaram a elaboração de acordos econômicos, políticos e militares entre os países.

Mapa satírico. Mapa da Europa e de parte da Ásia, com caricaturas de seres humanos e de animais que representam países. Sobre o território de Portugal, há um desenho de um soldado imperial; sobre o território da Espanha, há um toureiro. A Península Ibérica está pintada de amarelo. Sobre o território da França, pintado de vermelho, um cachorro da raça poodle veste a bandeira francesa e um gorro vermelho. Sobre o território da Grã-Bretanha, também pintado de vermelho, há um buldogue. Sobre o território da Alemanha, há um cachorro da raça bassê. Sobre o território da Áustria-Hungria, há um cão perdigueiro. O bassê e o perdigueiro estão atrelados um ao outro por uma corda, e o território da Alemanha e da Áustria-Hungria está em verde. O território da Itália é formado pelo desenho de um soldado. Sobre o território do Império Turco-Otomano, também pintado de verde, há um dervixe com um cachorro. Sobre o território da Rússia, pintado de amarelo, há um rolo compressor; a porção norte da parte europeia da Rússia é formada por um urso, cuja garra avança sobre o território verde da Alemanha ou do Leste Europeu. A península escandinava é formada por um animal de duas cabeças alaranjado, de pescoço longo, semelhante a dois cachorros. Nos mares Mediterrâneo e Negro há pequenas embarcações, com bandeiras dos países beligerantes. No canto superior esquerdo, há um texto escrito em língua inglesa, que diz: Ouçam Ouçam! Os cachorros latem! Ao lado do texto, um homem fardado manuseando cordas ligadas a embarcações de guerra.
Mapa satírico da Europa no início da Primeira Guerra Mundial, feito por Walter Emanuel, em 1914. A legenda do mapa dizia: “Os cães de guerra estão à solta na Europa!”. Biblioteca da Universidade Cornél, Ítaca, Estados Unidos.

Guerra à vista

Por meio dos acordos econômicos, políticos e militares firmados entre os países europeus, dois blocos opostos foram criados: a Tríplice Aliança, formada pelo Império Alemão, pelo Império Austro-Húngaro e pelo Reino da Itália; e a Tríplice Entente, que reunia Rússia, França e Grã-Bretanha.

À medida que as rivalidades entre as potências econômicas da Europa se intensificaram, houve um aumento significativo da produção de armamentos. Além disso, quase todas as nações do continente europeu adotaram o serviço militar obrigatório, o que fez seus contingentes militares crescerem expressivamente. Os países europeus passaram a viver o que se convencionou chamar de Paz Armada.

O acirramento das tensões também foi estimulado pela difusão de movimentos nacionalistas, como o pangermanismo e o pan-eslavismo. O pangermanismo defendia a reunião dos povos de origem germânica em um único Estado, liderado pela Alemanha. O pan-eslavismo pregava a união dos eslavosglossário da Europa oriental sob a proteção da Rússia.

Um importante foco dos conflitos nacionalistas estava na península Balcânica. Até o início do século dezenove, o Império Otomano dominava a maior parte da região. No entanto, os diversos povos reunidos no império passaram a lutar por sua independência, estimulados principalmente pela Rússia e pelo Império Austro-Húngaro, que tinham interesses na região.

Gravura. Ao centro, um globo terrestre com oceanos e continentes. Em destaque os nomes África, Europa e Ásia. Em torno do globo, três homens seguram grandes sacos brancos e retiram com as mãos partes dos continentes. O homem à esquerda veste roupas típicas de um soldado do Império alemão. Ao centro, de costas, um homem com trajes civis britânicos. À direita, um homem com roupa de soldado russo. No alto, céu azul-claro com nuvens.
Nást, Tômas. Os saqueadores do mundo. 1885. Gravura. Coleção particular. Publicada na imprensa estadunidense no final do século dezenove, esta charge apresenta os interesses imperialistas das potências europeias: Alemanha, Grã-Bretanha e Rússia foram representadas com sacolas (nas quais se lê “sacola alemã”, “sacola britânica”, “sacola russa”), “pegando” para si pedaços da Ásia e da África.
Ícone. Sugestão de vídeo.

CAVALO de guerra. Direção: Istiven Spilbérr. Estados Unidos, 2011. Duração: 167 minutos Este filme se passa durante a Primeira Guerra Mundial. Conta a história de um camponês que, após ter treinado seu cavalo, vê o animal ser levado pelo exército britânico para ser utilizado nas fôrças de combate.

Eclode a guerra

A tensão nos Bálcãs chegou ao auge em 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, foi assassinado em saraiêvo, capital da Bósnia, por um militante que lutava pela causa sérvia.

O governo do Império Austro-Húngaro enviou um ultimato à Sérvia com uma lista de exigências que não foram acatadas integralmente e, em 28 de julho, declarou guerra à Sérvia, o que marcou o início da Primeira Guerra Mundial.

O governo da Alemanha, líder da Tríplice Aliança, declarou seu apoio ao Império Austro-Húngaro, enquanto a Rússia, que integrava a Tríplice Entente, declarou seu apoio à Sérvia. Aos poucos, vários outros países entraram na guerra, aderindo a um dos blocos. Dessa maneira, o sistema de alianças transformou um conflito regional em uma guerra de efeito global.

Tratava-se, então, de uma “guerra total”, industrial e globalizada. “É uma guerra que vai perdurar e vai se industrializar, em que todos os progressos técnicos, todos os recursos dos Estados-Nação potentes serão mobilizados”, diz djôuzef zimê, historiador reticências. “É uma guerra de sociedade, toda mobilizada a seu serviço. reticências toda a economia vai alimentar o conflito. A guerra não se ganha só nas trincheiras, ou por combates de artilharia, mas pela mobilização econômica, social e mental na retaguarda.”

Nesse conflito global, frentes de batalha se espalharam pela Europa, mas também pelos Bálcãs, pela África, por Oriente Médio, Ásia, Oceania e Atlântico Norte. Seriam ao todo 19 grandes fronts e dez batalhas em mares e oceanos até o fim da guerra. reticências

NETTO, Andrei. 1914: quando o horror se alastrou. Estadão, São Paulo, 2014. Especial 100 anos da Primeira Guerra Mundial. 2014. Disponível em: https://oeds.link/qiot8y. Acesso em: 2 março 2022.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial da parte superior de um carro com a capota aberta. Ao centro, ocupando toda a imagem, um casal está dentro do carro. O homem está vestido em trajes oficiais, de chapéu, sorri e cumprimenta com um aperto de mãos um outro homem, que está em pé do lado de fora do carro. A mulher, ao seu lado dentro do veículo, está com chapéu de gala, buquê de flores nas mãos e lenço branco entorno do pescoço. Ela também sorri para o homem que está fora do carro. Ao fundo, em segundo plano, há árvores com folhas escuras.
Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e sua esposa deixando a prefeitura da Bósnia-Herzegovina, em saraiêvo, momentos antes de ser assassinado. Fotografia de 1914.
Ícone. Sugestão de livro.

DINIZ, André. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Escala Educacional, 2008. Em formato de história em quadrinhos, este livro apresenta um panorama completo do conflito.

O conflito

Bem antes da guerra, as autoridades alemãs tinham consciência de que a existência de fronteiras com os inimigos tanto do lado ocidental como do lado oriental de seu território exigiria uma estratégia específica.

Assim, começaram a guerra pondo em prática o Plano Chilifem, que consistia em dominar rapidamente Bélgica e Luxemburgo para atacar a França a partir desses países, impedindo que os franceses reorganizassem suas defesas. Os alemães acreditavam que assim liquidariam a guerra na chamada Frente Ocidental e poderiam se concentrar na Frente Oriental, enfrentando a Rússia. No entanto, as tropas belgas resistiram firmemente à invasão de seu território, o que retardou o avanço alemão e possibilitou à defesa francesa que se reorganizasse.

A partir desse momento, o modo como os combates se desenvolveram ficou conhecido como guerra de trincheiras. As trincheiras eram redes de valas cavadas no solo onde os soldados se escondiam aguardando o melhor momento para o ataque. Chegada a hora, eles se escoravam nos parapeitos das barricadas de sacos de areia para atacar a trincheira inimiga. De ambos os lados, muitos eram atingidos fatalmente. Quando parecia que o inimigo tinha sido derrotado, novas levas de homens saíam da trincheira atirando por cima do parapeito, e tudo recomeçava. Os poucos avanços ou recuos das partes envolvidas deram um caráter estático a essa primeira fase do conflito.

Na impossibilidade de vencer o inimigo por terra, foi no mar que a tecnologia bélica decidiu os rumos da guerra. Enquanto os alemães mobilizavam seus submarinos para afundar as embarcações inimigas, ingleses impunham à Alemanha um pesado bloqueio naval, impedindo a entrada no país de suprimentos e de matérias-primas para a indústria de guerra alemã.

ALIANÇAS E FRENTES DE COMBATE NA PRIMEIRA GUERRA (1914-1918)

Mapa. Alianças e frentes de combate na Primeira Guerra (1914 a 1918). 
Legenda: 
Linha grossa vermelha horizontal: Frentes em 1914.
Linha grossa azul horizontal: Frentes em 1915.
Lilás: Tríplice Aliança 
Verde: Tríplice Entente e aliados 
Amarelo: Países neutros 
Tríplice Aliança em lilás: Império Alemão, Império Austro-húngaro, Bulgária e  Império Otomano. 
Tríplice Entente e aliados, em verde:  Portugal, Grã-Bretanha, França, Bélgica, Itália, Montenegro, Sérvia, Grécia, Romênia e Império Russo. 
Países neutros, em amarelo: Espanha, Suíça, Países Baixos, Noruega, Suécia, Dinamarca, Albânia e Islândia.
Frentes em 1914: região nordeste da França, a nordeste da Alemanha, a leste do Império Austro-Húngaro e ao norte da Sérvia. 
Frentes em 1915: na fronteira da Itália com o Império Austro-Húngaro, na fronteira da Sérvia com a Grécia, a nordeste do Império Austro-Húngaro, na fronteira entre os Impérios Russo e Alemão e na porção oeste do território russo. 
No canto inferior à esquerda, rosa dos ventos e escala de 0 a 430 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: CHALIAND, Gérard. Atlas strategique. Paris: Complexe, 1988. página 34; ATLAS histórico. Barcelona: Marin, 1997. página 178.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

Cidadania e Civismo.

A vida no campo de batalha

Os depoimentos a seguir, escritos por soldados que lutaram na Primeira Guerra, nos permitem imaginar como eram as condições de vida nas frentes de batalha.

    Depoimento 1

O campo de batalha é terrível. Há um cheiro azedo, pesado e penetrante de cadáveres. Homens que foram mortos no último outubro estão meio afundados no pântano e nos campos de nabo em crescimento. As pernas de um soldado inglês, ainda envoltas em polainas, irrompem de uma trincheira, o corpo está empilhado com outros; um soldado apoia seu rifle sobre eles. Um pequeno veio de água corre através da trincheira, e todo mundo usa a água para beber e se lavar; é a única água disponível. Ninguém se importa com o inglês pálido que apodrece alguns passos adiante. No cemitério de languermak, os restos de uma matança foram empilhados e os mortos ficaram acima do nível do chão.

BINDING, Rudolf. Um fatalista na guerra. In: MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flavio; FARIA, Ricardo. História contemporânea através de textos. décima primeira edição São Paulo: Contexto, 2008. página 119.

    Depoimento 2

Os ratos me interrompiam. Eles eram gordos, cinzentos e atrevidos. Um deles apareceu às 3 horas da manhã, ficou olhando para mim e guinchando. Quando já não antevia nenhuma possibilidade de ir me deitar, fiquei tão enfurecido que o ataquei com uma vara, com o que espirrei tanta lama na minha cara que, depois, tive de passar uma hora a tirar uma enorme quantidade que me atingira o olho. Errei a pontaria e fiquei a imaginar o rato com uma das patas sobre o nariz a gozar com a minha cara.

DEPOIMENTO do capitão T. P. C. Wilson, 1916. In: HISTÓRIA do século vinte: 1914-1919. São Paulo: Abril Cultural, 1968. página 796.

Fotografia. Vista de um corredor descoberto, formado por uma estrutura de madeira e feno, com hastes verticais de ferro e madeira para sustentação e chão de toras de madeira. Ao fundo estão soldados enfileirados, um atrás do outro, por toda a extensão do corredor, posando para o fotógrafo. O primeiro homem da fila está agachado; os demais estão em pé. Estão armados. No alto, céu nublado.
Soldados alemães em trincheira durante a Primeira Guerra Mundial. Fotografia de outubro de 1916, colorizada posteriormente.
  1. Compare os dois relatos: que impressões cada um deles provocou em você? Eles apresentam pontos em comum? Se sim, quais?
  2. Durante o confronto, qual era o valor da vida humana? Aponte trechos dos depoimentos que justifiquem sua resposta.
  3. O que a experiência da guerra pode ter provocado nos soldados sobreviventes?
  4. Imagine que você é um alemão que decide, em 1915, denunciar a guerra e os interesses imperialistas que estão por trás do conflito. Escreva um manifesto em defesa da paz e apresente aos colegas.

A guerra a caminho do fim

Enquanto a guerra estagnava na Frente Ocidental, na Frente Oriental as tropas alemãs impunham pesadas derrotas às tropas russas. Estas, apesar de numerosas, eram compostas em sua maioria de camponeses mal treinados e mal equipados.

Em novembro de 1917, uma revolução na Rússia levou ao poder um governo socialista, que, atendendo ao apelo popular, retirou o país da guerra e, em março do ano seguinte, assinou um acordo de paz com a Alemanha. A saída da Rússia possibilitou ao governo alemão concentrar todas as suas tropas na Frente Ocidental.

A entrada dos Estados Unidos

No início do conflito, o governo dos Estados Unidos adotou uma posição de neutralidade, embora fornecesse dinheiro, armas e artigos manufaturados aos membros da Entente. Os estadunidenses temiam o acelerado crescimento industrial alemão, sendo mais interessante para eles a vitória da Grã--Bretanha.

Em abril de 1917, submarinos alemães atacaram navios estadunidenses que transportavam suprimentos aos países da Entente, episódio que levou o governo dos Estados Unidos a declarar guerra à Alemanha. Com cêrca de 1,5 milhão de soldados, o exército estadunidense contribuiu para o desequilíbrio de fôrças a favor da Entente.

Após uma série de vitórias, os exércitos da Entente obrigaram o exército alemão a recuar. Em 9 de novembro de 1918, o imperador Guilherme segundo abdicou do trono alemão e dois dias depois uma delegação enviada a Paris pelo novo governo assinou a rendição da Alemanha.

Cartaz. Ao centro da imagem, um homem visto de frente, da cintura para cima, de pele clara, cabelos e barbicha brancos. Porta um chapéu branco com faixa azul com estrelas brancas desenhadas. Usa camisa branca, casaca azul e lenço vermelho no pescoço. Ele está apontando o dedo indicador da mão direita para frente. Na parte inferior, um texto escrito em inglês, em letras garrafais.
flégui djêimes. Cartaz estadunidense. 1917. Biblioteca do Congresso, uóshinton, Estados Unidos. Nesse cartaz, vemos Tio Sam, personificação dos Estados Unidos, com a frase: “Eu quero você para o exército dos Estados Unidos”.
Cartaz. Vista parcial de ambiente fechado. Uma mulher de cabelos castanhos presos em penteado, de vestido amarelo com mangas três quartos. Ela está sentada em uma poltrona almofadada e tem no colo um menino de cabelos castanhos. Ela ajuda a criança a escrever em um papel, segurando sua mão com um lápis. Sobre a mesma mesa há um retrato ovalado de um homem em traje militar. Ao fundo, à esquerda, uma janela aberta por onde vê-se algumas árvores. No topo, há uma pequena bandeira retangular, na vertical, de borda vermelha e estrela pequena verde, pendurada na janela. Na parte inferior, alguns brinquedos ao chão, como soldados de guerra e canhão. Ao pé do cartaz um pequeno texto escrito em inglês.
Propaganda estadunidense celebrando a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra, em 1917. Coleção Jean-Pierre Verney, Meaux, França. Nela, é possível ler: “A primeira carta dele ao papai”.

Ler os cartazes

• Qual teria sido a função de cada um destes cartazes?

A paz dos vencedores

Em janeiro de 1919, iniciou-se a Conferência de Paris com o objetivo de negociar as bases dos acordos de paz. Apesar de contar com a participação de representantes de vários países, as principais decisões foram centralizadas pelos estadistas da Grã-Bretanha, da França e dos Estados Unidos, os três grandes líderes da Entente.

Com o intuito de evitar novos conflitos, o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, procurou estabelecer princípios para equilibrar as relações entre os países. Uma de suas propostas era a formação da Sociedade ou Liga das Nações, organismo que seria encarregado de zelar pela paz mundial. Ele também defendia uma paz que preservasse os territórios dos países derrotados e os desobrigasse a pagar indenizações de guerra. “Uma paz sem anexações nem indenizações”, esse era o lema dos 14 princípios propostos pelo presidente Wilson.

Após a criação da Liga das Nações, foi estabelecido na Conferência de Paris que os tratados seriam negociados com cada um dos países vencidos. No entanto, França e Grã-Bretanha não aceitaram a proposta dos Estados Unidos de preservar os países perdedores.

Com o desmantelamento dos impérios Otomano e Austro-Húngaro, todo o ônus da guerra recaiu sobre a Alemanha. O governo alemão não teve escolha senão aceitar as determinações do Tratado de Versalhes, assinado em junho de 1919. O tratado o obrigava a devolver as ricas regiões mineradoras da Alsácia-Lorena para a França, a pagar uma indenização aos vencedores e a ceder seus territórios coloniais. A Alemanha também foi obrigada a entregar à Polônia uma faixa de terra que garantia a esse país o acesso ao mar. Era o chamado Corredor Polonês.

Fotografia em preto e branco. Ao centro, há uma rua por onde passam soldados caminhando para frente. Um deles segura nas mãos um buquê de flores e uma bandeira branca. À esquerda, na calçada, crianças e mulheres acenam para os soldados com as mãos para cima. À direita, há outros soldados, alguns montados a cavalo. Ao fundo, construções altas e céu nublado.
População de Lille, na França, festeja a libertação da cidade pelos soldados britânicos. Fotografia de 1918.
Ciência e Tecnologia.

Tecnologia da destruição

Durante a Primeira Guerra Mundial, inovações científicas e tecnológicas que marcaram a Segunda Revolução Industrial, como a invenção do motor a combustão e do avião, os novos métodos de fabricação do aço e os avanços na indústria química, foram utilizadas sistematicamente para fins bélicos.

Um dos exemplos mais terríveis da utilização da tecnologia a serviço da morte foi o uso de armas químicas contra tropas inimigas e até mesmo contra civis. As primeiras experiências com essas armas aconteceram em 1915, quando os alemães lançaram gás cloro contra um regimento franco-argelino. Em 1916, uma substância altamente letal, o gás mostarda, passou a ser utilizada na guerra. Esse gás, que atinge as vias respiratórias e provoca queimaduras e erupções na pele, causou muitas baixas durante a Primeira Guerra Mundial.

Os aviões, mais rápidos e eficientes que os dirigíveis, passaram a ser utilizados tanto no combate aéreo quanto no lançamento de bombas.

Uma nova geração de armas de artilharia – canhões, morteiros, metralhadoras e outros lançadores de projéteis – foi desenvolvida para ser usada na guerra de trincheiras.

O submarino também foi utilizado pela primeira vez durante a Primeira Guerra. Navegando sem ser notado, era usado para atacar navios inimigos, principalmente os que transportavam suprimentos para os soldados no front.

Fotografia 1. Uma máscara marrom, com duas formas arredondadas transparentes na parte superior, destinadas a proteger os olhos, e um filtro de ar na parte inferior.
Fotografia 2 em preto e branco. Um avião pequeno, com uma  cruz preta na cauda e outra na lateral. Trem de pouso fixo e hélice na parte frontal
Fotografia 3. Um tanque de guerra  em tons de verde-escuro. Na lateral, está escrito o número 102 em vermelho.
Fotografia 4 em preto e branco. Em local aberto, um submarino emerso sobre a água. Ao fundo, área portuária.
Artefato e armas utilizados na Primeira Guerra Mundial: máscara antigás (fotografia 1); avião Fokker (fotografia 2); tanque de guerra (fotografia 3); e submarino (fotografia 4).

O mundo após a guerra

Além das terríveis perdas humanas e dos danos ambientais e materiais, a Primeira Guerra Mundial causou grandes mudanças em todo o mundo.

  • Os países europeus passaram de credores a devedores, assumindo uma dívida de cêrca de 10 bilhões de dólares com os Estados Unidos, que se tornaram, assim, a principal potência mundial.
  • Uma verdadeira onda de greves operárias motivadas por um grande descontentamento social varreu a Europa.
  • A escassez de mão de obra masculina, massivamente recrutada para a guerra, possibilitou que um grande número de mulheres ingressasse no mercado de trabalho.
  • A atuação feminina no esforço de guerra ajudou a fortalecer movimentos pela emancipação feminina, como o que ocorreu na Grã-Bretanha, em 1918, que regulamentou o direito de voto para as mulheres maiores de 30 anos.
  • Formaram-se governos autoritários na Europa, fortemente militarizados e caracterizados por um nacionalismo extremo.
  • Com o fim dos impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco Otomano, surgiram novos países na Europa: Áustria, Hungria, Tchecoslováquia e Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (posteriormente chamado de Iugoslávia). Com o fim do Império Russo, formaram-se, além da Rússia soviética, Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia (observe o mapa A Europa após a Primeira Guerra).
  • A economia estadunidense conheceu uma fase de prosperidade e esperança. No entanto, o entusiasmo não duraria muito: uma crise econômica arrasadora abalaria o país no final da década de 1920 e repercutiria em quase todo o mundo.

A EUROPA APÓS A PRIMEIRA GUERRA

Mapa. A Europa após a Primeira Guerra.  
Legenda: 
Rosa-claro: Rússia soviética  
Lilás: Perdas do Império Russo 
Laranja: Alemanha 
Amarelo: Perdas do Império Alemão 
Verde: Áustria  
Laranja-escuro: Perdas do Império Austro-húngaro 
 O Império Russo perdeu os territórios da Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e uma pequena porção a leste da Romênia. O que restou do território do Império Russo deu lugar à Rússia soviética. 
O Império alemão deu lugar à República da Alemanha, que foi desmembrada em um território não contíguo, dividido pelo corredor polonês, em amarelo no mapa.
A Áustria surgiu do desmembramento do Império Austro-Húngaro. Este, por sua vez, foi desmembrado entre a Tchecoslováquia, a Hungria, a Romênia e a Iugoslávia.
Na parte inferior à esquerda, rosa dos ventos e escala de 0 a 450 quilômetros.

Elaborado com base em dados obtidos em: CHALIAND, Gérard; RAGEAU, Jean-Pierre. Atlas politique du XXe siècle. Paris: Seuil, 1988. página 52.

Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

Cidadania e Civismo.

As mulheres e a guerra

O fato de em alguns países europeus os movimentos de emancipação feminina terem saído fortalecidos após a guerra fez com que se consolidasse por algum tempo, na historiografia, a ideia de que a Primeira Guerra teria gerado ganhos definitivos para as mulheres.

Há, contudo, pesquisadores que se opõem a essa ideia, argumentando que a guerra não provocou mudanças significativas nas relações entre homens e mulheres. Leia o texto da historiadora Anne Cova e, com um colega, responda à questão a seguir.

Uma ideia muito difundida é que as mulheres, graças ao seu ativismo durante a Grande Guerra, conseguiram obter vários direitos. Assim, a guerra teria produzido um efeito benéfico para os direitos das mulheres. Por exemplo, no que diz respeito à cidadania política, com a obtenção do direito de voto feminino em muitos países reticências. No entanto, outros países, incluindo Portugal, concederam o voto para todas as mulheres muito mais tarde reticências.

reticências

Durante todo o período da guerra, uma ideia que dominou os movimentos feministas nos países beligerantes foi a de que as mulheres adquiriram hábitos de iniciativa e responsabilidade tais que seria desperdício não os aproveitar findo o conflito. Acreditaram que, devido ao seu empenho, viriam a ser recompensadas no mercado do trabalho, teriam acesso a novas profissões e a uma maior igualdade profissional, conseguiriam alguns direitos, nomeadamente o do voto.

reticências

Nos anos vinte, em vários países, a palavra de ordem passou a ser a reposição de cada sexo no seu devido lugar. Era valorizada a presença da mulher no lar e, findo o conflito, a desmobilização aconteceu muito rapidamente. Se, até pela sua longa duração, a Grande Guerra exigiu a mobilização das mulheres e lhe permitiu acesso à esfera pública, as mudanças duraram tão somente o tempo do conflito.

COVA, Anne. As mulheres foram ativistas na guerra, depois voltaram ao lar. In: JERÓNIMO, Miguel Bandeira (edição). Portugal e a Grande Guerra: contextos e protagonistas. Lisboa: Edições 70, 2015. página 95-102.

Que posição a historiadora Anne Cova defende acerca do papel da guerra nas questões relativas aos direitos das mulheres? Justifique sua resposta indicando trechos do texto que demonstram a posição dela.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de um local fechado. Duas mulheres vistas da cintura para cima usam uma touca clara com uma faixa cinza e blusas de manga comprida, com camisa de gola branca. A mulher em primeiro plano está de perfil e opera uma máquina. A mulher em segundo plano está de frente e segura uma peça de tamanho pequeno. Em terceiro plano, à esquerda da foto, há outras máquinas.
Operárias da indústria naval britânica em élsuíqui, durante a Primeira Guerra Mundial. Fotografia de 1916. Museu Imperial da Guerra, Londres, Inglaterra. Além de atuar nos conflitos como cozinheiras, escriturárias e enfermeiras, muitas mulheres trabalharam nas indústrias bélica e metalúrgica e em atividades agrícolas.

Os homenageados e os esquecidos

Terminada a Primeira Guerra, a maioria dos combatentes retornou à vida civil e procurou retomar seus planos e projetos. Na maior parte dos países, o auxílio governamental aos que perderam pais ou maridos ou aos que ficaram inválidos foi modesto, o que fez surgir vários movimentos de veteranos. Muitos membros desses movimentos se tornaram militantes políticos.

Os governos fizeram esforços para criar e manter uma memória favorável de seus combatentes. Monumentos foram construídos em praticamente todos os países envolvidos no conflito, para valorizar a memória dos que se sacrificaram por eles.

Mas nem todos os mortos na guerra receberam a mesma homenagem. É o caso, por exemplo, de indianos, árabes, africanos e outros povos que viviam em colônias europeias, convocados a lutar nos campos de batalha na Ásia, no Oriente Médio, na África e na Europa. Esses soldados foram extremamente importantes para os exércitos que defenderam, mas recordar esse fato podia ser embaraçoso e até mesmo perigoso, por mostrar o valor bélico dos povos colonizados.

Fotografia em preto e branco. Vista de um local aberto. Em primeiro plano, à esquerda da imagem, dezenas de soldados perfilados, com turbante na cabeça. Ao centro, de frente para os soldados, um militar com chapéu, tendo uma das mãos na cintura e a outra atrás de seu corpo segura um sabre, apontado para o chão. Ao seu lado, um outro soldado com turbante lê um papel que está em suas mãos. Ao fundo, outros soldados e algumas construções.
Soldados indianos que integravam o exército britânico. Fotografia de cêrca de 1916.
Ícone. Sugestão de site.

100 ANOS da Primeira Guerra Mundial. Disponível em: https://oeds.link/8yOCh8. Acesso em: 2 março 2022. Produzido em 2014, no contexto dos 100 anos de início da Primeira Guerra Mundial, este infográfico traz textos, fotografias e muitas curiosidades sobre o conflito.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Sobre a Primeira Guerra Mundial, faça o que se pede nos itens a seguir.
    1. Estabeleça relações entre o imperialismo e a eclosão da Primeira Guerra Mundial.
    2. Explique qual foi o papel dos Estados Unidos na Primeira Guerra e os resultados, para o país, de sua participação no conflito.
    3. O que o Tratado de Versalhes estabeleceu? Quais foram as consequências desse tratado para a Alemanha?
    4. Comente as mudanças ocorridas no mapa da Europa após a Primeira Guerra Mundial.
  2. O texto a seguir traz à tona o debate em torno de Gavrilo Princip, responsável pelo assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando. Leia-o para responder às questões.

Na Sérvia, Princip é reverenciado como um herói, a ponto de haver ruas com o nome dele. Em outros países ele é tido como um terrorista, um assassino, como aquele que deu início à Primeira Guerra Mundial. reticências

“O terrorista de uns é o mártir pela liberdade de outros”, concorda o historiador CHRISTOFER clárqui, da Universidade de Kênbridi reticências. Hoje o termo terrorista é usado para se referir àqueles que atacam cidadãos inocentes. “Princip e seus cúmplices não queriam matar civis inocentes nem espalhar o terror.” reticências

Já o escritor sérvio Vladimir Kecmsnovic´ não tem dúvidas. Para ele, os tiros de saraiêvo foram dados em nome da liberdade, o que faz de Princip um herói. “De que outro modo posso chamar um homem que se sacrificou dessa maneira?”, argumenta. reticências

A dramaturga Biljana Srbljanovic´ prefere não usar termos como herói ou assassino para se referir a Princip. “Princip era, acima de tudo, um revolucionário que defendia a libertação de seu país” reticências.

RUJEVIC´, Nemanja. Sérvios reverenciam autor do atentado que deu origem à Primeira Guerra. Deutsche Welle, abre colchetesem localfecha colchete, 16 novembro 2013. Disponível em: https://oeds.link/Y79yk5. Acesso em: 06 junho 2022.

  1. Quem foi Gavrilo Princip? Por que ele se tornou tão conhecido? Que razões o levaram a esse ato?
  2. Como as pessoas citadas no texto se posicionam em relação ao ato de Princip? Que argumento apresentam?
  3. Na sua opinião, Gavrilo Princip foi um herói ou um terrorista? Discuta com os colegas.

3. O pôster britânico a seguir foi produzido durante a Primeira Guerra Mundial. Observe-o para responder às questões.

Pôster. Ilustração composta de sete personagens exercendo atividades diferentes. Em primeiro plano, na parte inferior da imagem, um homem trabalha com uma marreta e uma bigorna de aço. Atrás da bigorna, uma mulher de avental branco e vestido azul claro opera uma mesa de marcenaria. À direita do plano inferior, um homem de terno marrom claro e chapéu observa a cena com as mãos no bolso. No centro do pôster, em segundo plano, uma mulher vestida de enfermeira traz um pano branco às mãos. Na porção superior do pôster, subindo um morro, de costas, um rapaz carrega um objeto sob o braço. Ele usa bermuda azul, chapéu e um lenço vermelho no pescoço. No topo do morro, um homem de joelhos com uniforme da marinha opera uma canhoneira, tendo a seu lado um soldado com uma espingarda em mãos. No topo, uma bandeira da Grã-Bretanha. Na parte inferior do cartaz há inscrições em língua inglesa.
Você está nessa? 1917. Pôster, 76 por 50 centímetros. Biblioteca do Congresso, uóshinton, dê cê, Estados Unidos.
  1. Que aspectos do cotidiano da Primeira Guerra Mundial a imagem revela?
  2. Que sentimentos o cartaz procura despertar no observador?
  3. Observe as mulheres representadas na imagem pelo artista. Que mensagem ele pretendia passar acerca da participação das mulheres na guerra?

4. Discuta com seus colegas: é correto aplicar inovações científicas e tecnológicas, muitas vezes produzidas com recursos públicos, no desenvolvimento de armas?

CAPÍTULO 4  A REVOLUÇÃO RUSSA

O que você sabe sobre a Rússia? Várias informações podem nos vir à mente ao falar sobre o país que possui a área mais extensa do planeta. Com mais de 17 milhões de quilômetros quadrados e habitado por pouco mais de 146 milhões de pessoas (dado de 2022), a Rússia faz fronteira com 16 países e tem nove fusos horários diferentes.

Um dos aspectos mais importantes da Rússia atual é, sem dúvida, a sua importância econômica e geopolítica. Membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o país é o maior produtor de petróleo do mundo, além de possuir um dos maiores orçamentos militares do planeta.

O quadro atual da Rússia nem de perto lembra o seu passado. Até o início do século vinte, o país tinha a maioria de sua população vivendo no campo, em condições análogas às do feudalismo, ao mesmo tempo que passava por um acelerado processo de industrialização e urbanização. Nesse cenário contraditório, eclodiu uma das revoluções mais importantes da História.

RÚSSIA E PAÍSES VIZINHOS

Mapa. Rússia e países vizinhos.
Sem legenda.
O território da Rússia, com capital em Moscou, é representado em toda sua extensão, na cor laranja. Os países vizinhos da Rússia são representados em cores diferentes. À oeste da Rússia, do norte para o sul, os países são: Estônia, Letônia, uma porção não contígua do território russo onde se localiza a cidade de Kaliningrado, Lituânia, Belarus, com capital em Minsk, Ucrânia, com capital em Kiev, Moldávia, com capital em Chisinau, Na região do Cáucaso, entre os mares Negro e Cáspio, estão a Geórgia, com capital em Tibilisi, a Armênia com capital em Ierevan, e o Azerbaijão, com capital em Baku. Ao sul da Rússia, os países são: o Cazaquistão, com capital em Astana, o Uzbequistão, com capital em Tachkent, o Turcomenistão, com capital em Achkhabad, o Tadjiquistão, com capital em Duchambe, e o Quirguistão, com capital em Bishkek. As principais cidades russas são Murmansk, Arkhangelsk, São Petersburgo, Ninki-Novgorod, Perm, Ektareinburgo, Chelyabinsk, Omsk, Novosibirsk, Krasnoiarsk, Irkutsk, Bratsk, Norilsk, Verkoiansk, Iakutsk, Khabarovsk, Valdvostok e Petropvlovski-Kamtchatski.
Na parte inferior esquerda, rosa dos ventos e escala de 0 a 760 quilômetros.

Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 98.

Um país de contrastes e conflitos

Do século dezesseis ao século vinte, mais especificamente até 1917, a Rússia foi uma monarquia absolutista governada por um quizár. O monarca russo tinha em suas mãos todos os poderes e o apoio da Igreja Ortodoxa Russa e da nobreza proprietária de terras.

Entre 1855 e 1881, a Rússia foi governada por Alexandre segundo, que iniciou um programa de reformas liberais com o intuito de transformá-la em uma nação moderna e industrializada. O quizár aboliu a servidão, distribuiu terras aos camponeses, incentivou as atividades industriais e a fundação de bancos, melhorou o ensino e reorganizou o exército.

As reformas iniciadas por Alexandre segundo tornaram a Rússia um país de grandes contrastes. De um lado, a sociedade russa apresentava características que se assemelhavam ao feudalismo, com cêrca de 80% da sua população vivendo no campo em condições miseráveis. De outro, reformas modernizantes, impulsionadas pelo Estado quizarista, permitiram que o processo de industrialização avançasse no país, com a construção de ferrovias, a instalação de indústrias siderúrgicas e têxteis e o incremento da produção de carvão e petróleo.

Nas fábricas, os operários eram submetidos a jornadas de trabalho de 12 a 16 horas por dia, com baixos salários e riscos de acidente. Além disso, não havia legislação trabalhista, direito de greve ou de organização sindical.

A exploração do operariado impulsionou a organização de greves e sindicatos e a difusão das ideias socialistas no país.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial em local aberto. À esquerda, um homem sentado, com cabelos e barba grisalhos, roupão comprido de mangas longas, com um cajado fino na diagonal e com a mão esquerda em forma de concha com a palma virada para cima. À direita e em pé, uma mulher vista de costas, de cabelos escuros penteados em coque, com um chapéu arredondado sobre a cabeça, de vestido de mangas compridas. Ela segura uma moeda na mão esquerda e estica o braço na direção da mão do homem sentado.
Pessoas pedindo esmolas em Moscou, na Rússia. Fotografia de cêrca de1870. Museu Histórico do Estado, Moscou, Rússia. A condição social na Rússia czarista era contrastante.
Ícone. Sugestão de livro.

Codióla, Osvaldo; CLEMESHA, Arlene. 25 de outubro de 1917: a Revolução Russa. São Paulo: Ibep Nacional, 2005. O livro narra os antecedentes e o desenrolar da Revolução Russa.

REIS FILHO, Daniel Aarão. A aventura socialista no século vinte. São Paulo: Atual, 2005. O livro analisa as experiências socialistas no mundo ao longo do século vinte.

O Domingo Sangrento e a Revolução de 1905

Em 1904, chegou ao fim uma guerra entre a Rússia e o Japão, causada pelas pretensões expansionistas dos dois países. O exército russo saiu derrotado, o país mergulhou em uma crise financeira e as tensões sociais aumentaram.

Em janeiro de 1905, operários em greve dirigiram-se ao palácio do quizár Nicolau segundo, em São Petersburgo. Levavam um abaixo-assinado reivindicando direito de greve, melhores condições de vida e a convocação de uma Assembleia Constituinte. A manifestação foi reprimida pela guarda imperial, resultando na morte de centenas de manifestantes. Esse dia ficou conhecido como Domingo Sangrento.

O acontecimento gerou uma onda de protestos e greves por toda a Rússia, que ficou conhecida como Revolução de 1905. Para pôr fim ao movimento, o quizár fez algumas concessões: permitiu a instalação de um parlamento (Duma) e a legalidade de partidos que faziam oposição ao regime, como o Partido Operário Social-Democrata Russo, que funcionava até então na clandestinidade.

A Revolução de 1905 impulsionou a formação de organizações com representantes eleitos por operários, camponeses e soldados, conhecidas como sovietes, que tiveram papel fundamental na história da Rússia.

Bolcheviques e mencheviques

O Partido Operário Social-Democrata Russo reunia os socialistas do país, mas seus integrantes se dividiam em dois grupos que tinham divergências entre si.

Inspirados nas ideias de cál marcs, os bolcheviques acreditavam na aliança entre os camponeses e o operariado para derrubar o czarismo e implantar o socialismo. Os mencheviques, também marquicístas, buscavam uma passagem gradual para o socialismo por meio de uma aliança dos operários e dos camponeses com a burguesia.

O rompimento entre os dois grupos ocorreu em 1912. Os bolcheviques formaram um novo partido e passaram a defender abertamente a queda do quizarismo por meio de uma revolução proletária.

Pintura. Vista de um local aberto, com uma rua coberta de neve, em cujos lados direito e esquerdo existem prédios de tamanhos diversos. Em primeiro plano, dezenas de pessoas em pé, ajoelhadas ou caídas ao solo, com sangue nas mãos, na roupa, no peito. Todos estão vestidos com grossos trajes de invernos. Em segundo plano, há algumas bandeiras vermelhas, pessoas correndo e rastejando pelo chão. Ao fundo, uma multidão ocupa toda a extensão horizontal da rua. No alto, céu claro com tom azul-claro e partes levemente avermelhadas.
mákoviski, Vladimir igorovív. Morte na neve. 1905. Óleo sobre tela. Museu da Revolução, Moscou, Rússia. A pintura representa o momento em que os manifestantes são reprimidos, a mando do quizár, em frente ao Palácio Imperial, episódio que ficou conhecido como Domingo Sangrento.
A Rússia na Primeira Guerra Mundial

Nicolau segundo lançou a Rússia na Primeira Guerra Mundial com o objetivo, principalmente, de dominar o acesso do mar Negro ao mar Mediterrâneo e afastar a influência do Império Austro-Húngaro na península Balcânica.

No entanto, o país estava despreparado para enfrentar o exército alemão: muitos soldados russos eram camponeses e combatiam o inimigo com armas tecnologicamente inferiores, além de a produção industrial e o sistema de transportes do país não atenderem às necessidades postas pela guerra.

Para a Rússia, a guerra trouxe consequências sérias: crescimento das rebeliões populares e das greves operárias, inflação desenfreada e redução da produção agrícola, situação que gerou revoltas de soldados que combatiam nas frentes de batalha e fome em todo o país. Em fevereiro de 1917, o país encontrava-se em uma situação revolucionária.

A grande liderança surgida nesse processo foi o soviete da cidade de Petrogrado (atual São Petersburgo), controlado pelos mencheviques e pelo Partido Socialista Revolucionário. O soviete pressionou a Duma (parlamento russo) para nomear um novo governo em torno de um programa liberal. Diante dos acontecimentos, o quizár foi obrigado a abdicar.

Após a queda do quizár, a Rússia passou a ser dirigida por um Governo Provisório de orientação liberal. Inicialmente ministro da guerra, o socialista-revolucionário alêquissânder Kerensky, conquistou cada vez mais poder e, em julho, assumiu o cargo de primeiro-ministro. Porém, a decisão do novo governo de manter a Rússia na Primeira Guerra gerou violenta oposição, liderada pelos bolcheviques.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de uma estrada de terra vista em toda a extensão da fotografia. Longas fileiras de soldados armados marcham sobre ela. Nas laterais da estrada há vegetação arbustiva e poucas árvores. No alto, céu claro.
Tropas russas com suas baionetas marcham para a guerra, na Frente Oriental. Fotografia de abril de 1917.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: Discurso de Lênin, em 1917

 

[LOCUTORA]:

A Revolução Russa provocou a formação do primeiro Estado socialista do mundo e influenciou levantes contra o capitalismo em diversas regiões durante o século XX. O início desse movimento está diretamente relacionado às consequências da Primeira Guerra Mundial, cujos desdobramentos negativos estimularam a revolta da população russa contra o governo, dando início a uma revolução por mudanças. Entre as diversas lideranças que se sobressaíram nesse momento, uma das mais importantes foi a figura de Vladimir Lênin.

Desde a sua juventude, ele teve contato com a literatura marxista e se envolveu com grupos políticos que lutavam por mudanças na sociedade russa. Lênin foi um dos principais responsáveis pela criação do grupo político bolchevique no início do século XX. Ele também participou do movimento revolucionário de 1905, que tentou derrubar o czar e fracassou. Por conta disso, Lênin foi obrigado a buscar exílio em outros países, já que poderia até mesmo ser morto pelas forças de repressão do governo, caso permanecesse na Rússia.

Em 1917, quando a crise provocada pela guerra resultou na derrubada do governo russo e no início de uma revolução, Lênin passou a articular seu retorno à pátria, para liderar novamente os bolcheviques e tentar tomar o poder. A princípio, outros grupos políticos impediram a sua volta, mas, em 15 de abril de 1917, ele conseguiu regressar ao território russo e fez um importante discurso na cidade de Petrogrado (a atual São Petersburgo). Com ele, Lênin conquistou o apoio de amplos setores da população russa, dando uma vantagem política aos bolcheviques.

Nos meses seguintes, ele e seus aliados derrotaram outros grupos que tentavam controlar a Revolução Russa e chegaram ao poder. Esse momento marcou o início da formação do Estado socialista na Rússia e possibilitou a saída do país da Primeira Guerra Mundial.

A seguir, o discurso de Lênin em São Petersburgo, em 15 de abril de 1917, evidencia suas teses centrais, a defesa dos direitos do povo e a necessidade de uma revolução que assegurasse a paz, o acesso à terra e o fim da miséria e da fome da população russa.

[LOCUTOR 2]:

Caros camaradas, soldados, marinheiros e trabalhadores! Estou feliz em poder saudar em suas pessoas a vitoriosa Revolução Russa e saudá-los como a vanguarda da revolução proletária internacional. A guerra pirata do imperialismo é o início da guerra civil por toda a Europa... Não está longe a hora em que os povos irão virar as suas armas contra seus exploradores capitalistas... Esta é a aurora da revolução socialista. A Alemanha ferve... A qualquer dia, agora, toda a Europa capitalista irá tombar. A Revolução Russa, por vocês realizada, preparou o caminho e deu início a uma nova época. Longa vida à revolução proletária internacional. Não sei ainda se vocês estão de acordo com o Governo Provisório. Mas sei muito bem que, enquanto eles ficam fazendo doces discursos e fazendo tantas promessas, eles estão é a enganar vocês e a todo o povo da Rússia. O povo precisa de paz. O povo precisa de pão e de terra. E eles dão a vocês guerra, fome e nada de comida, e a terra continua com os seus donos. Marinheiros, camaradas, vocês têm de lutar pela revolução, lutar até o fim.

A Revolução

A direção política da chamada Revolução de Fevereiro coube aos socialistas-revolucionários e aos mencheviques, em aliança com setores liberais da Rússia. Na ocasião, a maior parte da liderança bolchevique estava exilada ou presa na Sibéria, como Vladimir Lênin e Leon trótisqui.

Ao retornar do exílio, em abril de 1917, Lênin escreveu as Teses de abril, chamando os bolcheviques a derrubar o Governo Provisório e a entregar o poder aos sovietes. As teses de Lênin foram aprovadas pelo Partido Bolchevique. Em outubro de 1917 (novembro no calendário ocidental), os bolcheviques tomaram o Palácio de Inverno e depuseram o governo liberal de Kerensky. Na Revolução de Outubro, sob a liderança de Vladimir Lênin, os sovietes assumiram o poder.

Atendendo ao apelo popular, o novo governo retirou a Rússia da guerra ainda em 1917. Em março do ano seguinte, os bolcheviques assinaram com as potências centrais o Tratado de Brêst Litôvisqui, que retirava o país oficialmente da guerra. O custo foi alto: a Rússia perdeu a Polônia, a Finlândia, a Bessarábia (território dividido entre as atuais Moldávia e Ucrânia) e os territórios bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia).

Além dessa medida, o novo governo estatizou bancos, estradas de ferro e indústrias e confiscou as terras da nobreza e da Igreja, que foram distribuídas entre os camponeses. As medidas revolucionárias do novo governo expropriaram a burguesia, a nobreza e os membros da Igreja, atingindo também empresas estrangeiras com investimentos no país. A reação desses setores levou o país à guerra civil.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de um local aberto, onde centenas de mulheres caminham por toda a extensão de uma rua. Vestem roupas pretas e seguram uma grande faixa com dizeres em russo. Elas portam lenço sobre a cabeça. Nas laterias da rua, muitos homens observam as mulheres. Ao fundo, há uma fileira de bondes estacionados e algumas construções.
Manifestação de mulheres durante os acontecimentos que marcaram a Revolução Russa em São Petersburgo. Fotografia de 1917. No cartaz, está escrito: “Exigimos o aumento da ração para as famílias dos soldados”.
A guerra civil e o comunismo de guerra

A guerra civil entre os bolcheviques e seus inimigos internos e externos começou em 1918. Do lado dos contrarrevolucionários formou-se o Exército Branco, reunindo oficiais czaristas, aristocratas e burgueses, apoiado por uma aliança de catorze potências estrangeiras, entre elas Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Japão. Do lado bolchevique estava o Exército Vermelho, comandado por Leon trótisqui.

Diante da guerra civil e das dificuldades que ela gerava, Lênin estabeleceu um rígido programa: o confisco das colheitas no campo para abastecer os soldados e a população urbana; a suspensão da liberdade de imprensa, de greve e de associação; a proibição dos partidos opositores; e a execução do quizár e sua família, que estavam presos.

A guerra terminou em 1921 com a vitória do Exército Vermelho e a sobrevivência do Estado socialista. A Rússia soviética, porém, estava em colapso. As produções agrícola e industrial diminuíram, as principais cidades tinham se esvaziado, as minas estavam abandonadas e os transportes, desmantelados.

Estima-se que a fome que devastou o país no inverno de 1921-1922 tenha causado a morte de aproximadamente 5 milhões de pessoas.

Fotografia em preto e branco. Vista parcial de uma rua, onde vê-se duas mulheres e três crianças sentadas. Ao centro, uma mulher de lenço branco sobre a cabeça, casaco escuro, olha para frente, com a mão esquerda sobre as pernas. Próxima à sua mão esquerda, há uma vasilha redonda aparentemente vazia. Ao lado dela, há uma menina de lenço sobre a cabeça, vestido claro de manga longa clara e um casaco escuro e grosso. Atrás delas, vê-se apenas o rosto de um menino com boné. À direita e atrás delas, há uma criança de olhar triste, rosto sujo, com um tecido sobre a cabeça e um cobertor sobre as pernas. À direita e atrás dele, há uma mulher sentada com lenço claro sobre a cabeça, de casaco comprido e de mangas longas. As mulheres e a menina olham em direção à lente do fotógrafo.
Família em situação de miséria na região do rio Volga, na Rússia, área afetada pela crise de abastecimento no contexto da guerra civil (1918-1921). Fotografia de cêrca de 1921.

A educação na Rússia socialista

Mesmo durante a guerra civil, o governo bolchevique tomou medidas para melhorar a vida da população, como o estabelecimento de uma política para combater o analfabetismo no país. Por essa razão, a jornada de trabalho dos operários foi reduzida em nota de rodapé 2 horas, sem redução de salário, para os que estudavam; clubes, fábricas e repartições públicas foram usados para o ensino. Para Lênin, a construção do socialismo não se separava da educação, do trabalho e do desenvolvimento da ciência. Foi com essa visão que sua companheira, a militante e pedagoga nadiêjda Krupskaia, elaborou o primeiro programa de educação do Partido Comunista da Rússia, aprovado pelo congresso do partido em 1919.

A Nova Política Econômica

Terminada a guerra civil, em 1921, era preciso adotar medidas urgentes para reconstruir a economia russa. Para isso, o décimo Congresso do Partido Comunista da Rússia aprovou, no mesmo ano, a Nova Política Econômica (népi). As medidas fundamentais da népi foram a formação de cooperativas nacionais, a autorização para pequenas e médias empresas privadas funcionarem e a permissão para os camponeses venderem livremente seus produtos. A intenção era estimular uma produção excedente no campo para abastecer as cidades e possibilitar o crescimento industrial da Rússia.

Procurou-se com a népi desenvolver aspectos capitalistas que evitassem a falência total da economia russa e salvassem o regime socialista recém-estabelecido. Lênin justificou esse momento de incentivo a práticas capitalistas dizendo que era preciso dar “um passo atrás para, depois, dar dois à frente”. Contudo, as grandes indústrias, as comunicações, o sistema financeiro e os transportes continuaram controlados pelo Estado.

As medidas estabelecidas não foram suficientes para aquecer a economia russa, que apenas em 1926 atingiu os níveis de produção do período anterior à guerra. O crescimento da economia do país se deu a partir da década de 1930, impulsionado pelos chamados planos quinquenais. Naquela década, enquanto os países capitalistas sofriam os efeitos devastadores da crise de 1929 (assunto que você vai estudar na próxima Unidade deste volume), a Rússia, que passou a integrar a União Soviéticaglossário em 1922, apresentava taxas de crescimento até então nunca alcançadas pelas economias ocidentais.

Pôster. Sobre papel amarelecido, dez ilustrações diversas em tons de preto, vermelho e branco. As imagens mostram homens trabalhando na indústria siderúrgica, carregando mercadorias, no comércio, no policiamento, desenhando projetos. Há também imagens de fábricas, poços de extração de petróleo e transporte ferroviário. Há inscrições em língua russa.
tcheremnik, Mikhail. Pôster divulgando as conquistas obtidas com a Nova Política Econômica. 1921. 68,6 por 106,7 centímetros. Biblioteca e Arquivo do Instituto Hoover, Stanford, Estados Unidos. Os pôsteres foram uma fórma de comunicação, divulgação e propaganda muito usada pelo governo socialista na Rússia.
Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

A construção do conhecimento histórico sobre a Revolução Russa

Você já sabe que o conhecimento histórico está em constante construção e que às vezes correntes de historiadores discordam umas das outras. Em relação à Revolução Russa de 1917, isso também acontece. Para refletir sobre como o conhecimento histórico a respeito da Revolução Russa foi construído ao longo do tempo, leia o trecho a seguir.

Os primeiros textos sobre a Revolução Russa foram, como se poderia imaginar, de cunho jornalístico ou (auto)biográfico de participantes/observadores in loco dos acontecimentos. reticências

O fato das histórias mais famosas e profundas da Revolução Russa até os anos 1930 reticências não terem sido escritas por historiadores profissionais é sintomática das dificuldades (desconfiança e cuidados) que estes têm com os acontecimentos muito recentes. Isto abre espaço para as contribuições (de diversos graus de profundidade) de autores provindos de outras áreas. reticências

Um forte anticomunismo marcou a geração dos grandes historiadores ocidentais mainstream dos anos 1950 e 1960. reticências Algumas das características prevalentes nessa literatura eram as seguintes: uma ênfase na história política e das elites; ênfase na análise do papel de indivíduos e líderes no processo revolucionário (uma “história de cima”); apesar de vários dos autores enfatizarem fatores estruturais na história da Rússia (atraso econômico, peso do autoritarismo e absolutismo, etcétera), a tomada do poder pelos bolcheviques era frequentemente vista como um acidente histórico ou um golpe por um pequeno bando de políticos marquicístas sem enraizamento real na sociedade do país. Ou seja, cristalizava-se uma visão não apenas anticomunista em termos ideológicos gerais, mas também formando o reverso da análise marquicísta ortodoxa soviética que via a revolução bolchevique como uma resposta à luta de classes na Rússia e uma solução para os dilemas estruturais daquela sociedade.

SEGRILLO, Angelo. Historiografia da Revolução Russa: antigas e novas abordagens. Projeto História, São Paulo, número 41, dezembro 2010. página 65, 72-91.

Capa de livro. Fundo em bege, com representação de prédios altos cinzas com dezenas de janelas. À esquerda, texto em preto, vermelho e uma estrela de cinco pontas em vermelho. Na parte inferior, sombra em cinza. Na capa, é possível ler o nome de John Rid e o título do livro, em vermelho e em preto, escrito em alemão.
Edição alemã da obra 10 dias que abalaram o mundo, publicada em 1922.
  1. Segundo o trecho lido, quem escreveu os primeiros textos sobre a Revolução Russa, no calor dos acontecimentos? Para o autor do texto, por que isso aconteceu?
  2. Esse texto nos fornece o exemplo de uma corrente específica de historiadores: a dos anos 1950 e 1960. Como eles encaravam a Revolução Russa? Explique.

A ditadura istalinista

Com a morte de Lênin, em 1924, iniciou-se uma disputa pelo poder entre Leon trótisqui e djôuzef istálin. trótisqui propunha que a União Soviética promovesse a revolução socialista mundial. istálin, então secretário-geral do Partido Comunista, defendia que era necessário primeiro consolidar a revolução no país. istálin venceu a disputa e passou a governar a União Soviética como um ditador.

A ditadura istalinista começou de fato em 1927, com a aprovação da proposta de istálin de coletivização forçada da agricultura. O objetivo era obrigar os camponeses prósperos, conhecidos como kulaks, a aderir às fazendas coletivas. Como resistiram a entregar sua produção ao governo, os kulaks foram vítimas de violenta repressão. Presos, executados ou deportados para regiões distantes, foram eliminados da União Soviética.

A repressão também se voltou contra os que denunciavam o autoritarismo istalinista. Entre 1936 e 1939, o governo montou processos judiciais para punir os supostos traidores da revolução, e o terror implantou-se no país. Pessoas acusadas ou suspeitas de traição eram levadas para campos de trabalho forçado criados pelo regime. Acredita-se que cêrca de 5 milhões de pessoas foram presas e quinhentas mil foram executadas pelo regime istalinista.

Cartaz. Um homem vestido em trajes militares, com quepe e cabelo grisalho e bigode farto, visto da cintura para cima, com o braço direito estendido na direção de uma caixa de madeira vermelha, onde ele deposita com a mão direita um papel claro. À esquerda, ao lado da urna, no canto inferior direito do cartaz, estão dispostas flores vermelhas com detalhes em branco e rosa, com folhagem verde. Na parte inferior do cartaz, há palavras escritas em língua russa.
Pela felicidade nacional! 1950. Cartaz, 85 por 68 centímetros. Biblioteca Estatal Russa, Moscou, Rússia. Um exemplar da arte de agitação e propaganda soviética.
Fotografia. Vista de um local aberto. No primeiro plano, um homem grisalho coloca uma vela acesa sobre um monumento em pedra, em cuja superfície  lisa estão escritos textos em língua russa. Sobre essa superfície há, ao fundo, uma pedra cinza e bege. Em segundo plano, um grupo de pessoas em pé, desfocadas. Ao fundo, à esquerda, um prédio, e à direita, alguns pinheiros. No alto, céu em azul-claro diurno.
Cidadãos russos se reúnem para acender velas na pedra Solovetsky em memória dos milhares de presos políticos executados durante o regime de istálin. Essa pedra (monumento) foi retirada de um campo de concentração istalinista localizado nas ilhas Solovetsky, na Rússia. Fotografia de 2019.

A arte na União Soviética

Para muitos socialistas, a arte era parte do processo de transformação da sociedade e da criação de uma nova cultura revolucionária. Esse projeto animou vários artistas de vanguarda na Rússia pré-revolucionária, e continuou estimulando a produção artística depois da Revolução Socialista de 1917.

Nos primeiros anos que se seguiram à tomada do poder pelos bolcheviques, muitos artistas que defendiam a revolução socialista, como o cineasta serguei áisenstáin e o poeta Vladimir Maiakovski, passaram a fazer obras que buscavam retratar a vida e as lutas dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, criar novas formas de expressão, diferentes e mais radicais do que as tradicionais.

A preocupação do governo revolucionário com o combate ao analfabetismo também se manifestou no campo da cultura e das artes. Assim, foi criado o Narkompros, um departamento responsável pela educação e cultura da Rússia soviética. Em torno do Narkompros, reuniram-se nomes importantes da arte de vanguarda russa, como Maiakovski, os pintores Vladimir Tatlin, Pavel Filonov, Varvara Stepanova e Ivan Kliun, entre outros. Dirigido pelo dramaturgo Anatoli Lunatcharski, em 1919, o Narkompros organizou a Primeira Mostra Livre de Artistas de Todas as Tendências, realizada no Museu rârmiteidje, em Petrogrado (São Petersburgo). A proposta era estimular a livre expressão artística e despertar nos trabalhadores o interesse pela arte.

Pintura. Fundo em tons de azul-claro e azul-escuro, quadrados de contorno vermelho. Desenhos de rostos de fórmas variadas, cabeças de pequeno e médio tamanhos, arredondadas e ovaladas. No canto superior direito, o rosto de um homem parece estar de cabeça para baixo. Entre os rostos representados, há formas geométricas diversas de contornos vermelhos, círculos, quadrados, retângulos. As formas se sobrepõem em algumas partes da tela, remetendo a uma paisagem imaginária, subjetiva, e pouco realista.
FILONOV, Pavel nicolaiêvitch. O homem no mundo. 1925. Óleo sobre papel, 107 por 71,5 centímetros. Museu Russo, São Petersburgo, Rússia.
Ícone. Sugestão de vídeo.

1917: Construindo a Revolução Russa. Direção: Stan Neumann. França, 2017. Duração: 52 minutos O documentário narra a Revolução Russa por meio de arquivos produzidos pelo líder comunista Vladimir Lênin e pelo escritor russo mákisím górki.

O realismo socialista

Com a chegada de istálin ao poder, as manifestações das vanguardas soviéticas foram reprimidas e consideradas “burguesas” ou “decadentes”. Sob o regime istalinista surgiu o realismo socialista, que deveria enaltecer a “pátria” soviética e representar apenas o mundo dos trabalhadores: soldados em guerra, operários e camponeses fortes e felizes etcétera

Com um conjunto de normas e procedimentos de produção artística previamente delimitados pelo Estado, o realismo socialista tornou-se a arte oficial da União Soviética, cumprindo um papel fundamental na preservação do regime istalinista.

De seu exílio, no México, Leon trótisqui acompanhava as notícias sobre a União Soviética. Interessado em discutir os caminhos da arte soviética e dos partidos comunistas dirigidos por Moscou, trótisqui se reuniu com André Breton, poeta francês e dirigente do movimento surrealista, e o muralista mexicano Diego Rivera. O resultado foi a publicação, na Cidade do México, do Manifesto por uma arte revolucionária independente, assinado pelos dois artistas com a colaboração de trótisqui. O documento defendia a liberdade absoluta na produção de todos os cientistas e artistas, sem nenhuma pressão de partidos ou governos.

Pintura. Vista parcial de local aberto. Em primeiro plano, um vasto gramado verde. À direita, há uma fileira dupla de moças e rapazes, em pé, com armas nos ombros. Ao centro e à esquerda, há mulheres em pé e outras ao chão. As que estão no chão, deitadas de bruços, apontam suas armas em posição de treino. Em segundo plano, grupos de homens e mulheres praticam exercício ao ar livre, correndo. Ao fundo, há uma grande montanha em cor marrom. No alto, céu azul e nuvens brancas. As pessoas na imagem são bem definidas, com linhas simétricas, remetendo à ordem e disciplina.
SAMOKHVALOV, alecsander nicolaevítch. O komsomol mobilizado. 1932-1933. Óleo e têmpera sobre tela, 1,98 por 2,76 métros Museu Russo, São Petersburgo, Rússia.

Ler a pintura

  1. Que elementos desta obra a caracterizam como uma pintura do realismo socialista?
  2. Quais são as principais diferenças entre ela e a obra O homem no mundo, do vanguardista russo Pavel Filonov, apresentada anteriormente?

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. As manifestações sociais de 1905 são consideradas o embrião da Revolução Russa de 1917.
    1. O que provocou a marcha dos operários em São Petersburgo? Quais eram as suas reivindicações?
    2. Por que esse dia ficou conhecido como Domingo Sangrento? Quais foram suas consequências?
  2. Em seu caderno, copie e complete o quadro comparativo da Revolução de Fevereiro e da Revolução de Outubro, ocorridas em 1917 na Rússia.

Revolução de Fevereiro

Revolução de Outubro

Liderança

Principais fatores

Regime político que implantou

3. Organize-se em grupo para a realização desta atividade. Leia com seus colegas alguns pontos do primeiro programa de educação do Partido Comunista da Rússia (1919), depois discutam a questão a seguir.

1. Instituir a instrução gratuita e obrigatória, geral e politécnica (ensino da teoria e da prática dos principais ramos da produção), para as crianças de ambos os sexos até os 16 anos.

2. Criar uma rede de instituições pré-escolares: creches, jardins de infância, abrigos para crianças que aperfeiçoem a educação social e facilitem a emancipação da mulher reticências

6. Garantir a todos os alunos a alimentação, os uniformes e os materiais escolares às custas do Estado reticências

ll. Desenvolver ampla propaganda das ideias comunistas e utilizar o aparelho e os meios do Estado para este fim.

DIETRICH, Theo, apud OYAMA, Edison Riuitiro. A perspectiva da educação socialista em Lênin e Krupskaia. márks e o marquicísmo, Rio de Janeiro, volume 2, número 2, abril2014. página 57-58.

• Como vocês avaliam esses itens do programa educacional do governo bolchevique na Rússia? Quais aspectos vocês consideram positivos? Quais vocês consideram negativos?

4. A arte na Rússia pós-revolucionária apresentou dois momentos claramente distintos, um caracterizado por experimentações e tendências artísticas de vanguarda e outro pela adoção de um modelo oficial de expressão do regime istalinista e do Estado da União Soviética. Considerando esses dois momentos, como você analisaria o cartaz russo reproduzido a seguir? Com base em seus conhecimentos de História, você diria que esse cartaz representa qual momento da arte russa? Aponte elementos do cartaz para justificar sua resposta.

Cartaz. Ao centro, uma fábrica em tons de preto e vermelho, com muitas janelas. Na parte superior, várias chaminés por onde sai grande quantidade de fumaça preta para o céu. No alto e à esquerda, há um sol em tons de vermelho, amarelo e contorno em preto. No entorno da fábrica, um monstro em fórma de uma gigantesca serpente em verde-claro. Na parte inferior, a cabeça da serpente, de olhos bem arredondados e boca aberta com língua em vermelho, ameaçadora. Na parte inferior do cartaz, há homens vistos de costas, muito musculosos, com lanças finas apontadas para o alto, lutando contra a serpente. Um deles usa blusa de mangas compridas e gorro branco, e um outro usa roupa vermelha.  Na parte inferior direita, um outro homem veste camiseta de mangas curtas branca. Na parte inferior, texto escrito em língua russa.
dmítri muór. Morte ao monstro imperialista mundial. 1919. Cartaz, 106 por 70,1 centímetros. Biblioteca Estatal da Rússia, Moscou, Rússia.
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Economia.

A Primeira Guerra Mundial foi decorrência do desenvolvimento do capitalismo?

Identificar os motivos que levaram à Primeira Guerra Mundial não é algo simples. Competição econômica entre potências, nacionalismo e patriotismo, antigas rivalidades internacionaisreticências Todos esses motivos e situações, juntos, deram origem a um grande conflito que abalou profundamente as estruturas do mundo de então.

A Primeira Guerra Mundial e os motivos que levaram a ela estavam, de alguma maneira, ligados ao desenvolvimento do capitalismo? As dinâmicas do capitalismo tiveram alguma relação com o surgimento e o desenrolar daquele conflito? Para pensar sobre isso, você vai ler uma série de textos escritos por estudiosos e vai estabelecer relações entre eles.

Trecho 1

A [Segunda] Revolução Industrial desenvolveu setores como a eletricidade (aplicada à energia, motores e transporte), a química (responsável pelas novas matérias-primas) e os motores à explosão, que revolucionaram os transportes e tornaram o petróleo economicamente estratégico reticências. A metalurgia constituiu outra marca da nova industrialização, com o aço e novos metais (níquel, alumínio, etcétera) sendo intensamente utilizados em navios, trens, pontes, construções, armas (inventou-se a metralhadora, o submarino e o torpedo) e veículos automotores.

VISENTINI, Paulo Fagundes. A Primeira Guerra Mundial e o declínio da Europa. Rio de Janeiro: Alta Books, 2014. página 10-11.

Fotografia. Vista geral de um local aberto. Em primeiro plano, uma rua, delimitada à direita por um conjunto de árvores e à esquerda por um extenso jardim. Em segundo plano, em destaque, ao centro, uma torre alta em formato triangular, de ferro, larga na parte inferior e pontiaguda na parte superior. Ao fundo, vista parcial de prédios e no alto, céu azul-claro e poucas nuvens brancas.
Inaugurada ao final do século dezenove em Paris, a Torre Eiffell era um símbolo de modernidade. Sua imensa estrutura em ferro representava os novos materiais e formas de construção desenvolvidos durante a Segunda Revolução Industrial. Fotografia de 2021.

Trecho 2

A questão fundamental em relação ao sistema internacional é que a segundo Revolução Industrial estava criando novas realidades econômicas internacionais, as quais começavam a subverter a relação existente entre as várias potências reticências. A partir de então, a existência de um mercado interno de porte e com uma capacidade potencial de crescimento passou a ser uma condição fundamental para o desenvolvimento econômico num mundo onde crescia a concorrência e o protecionismo.

VISENTINI, Paulo Fagundes. A Primeira Guerra Mundial e o declínio da Europa. Rio de Janeiro: Alta Books, 2014. página 12.

Trecho 3

reticências se a [Primeira Guerra] tem entre suas origens a competição entre as grandes potências por mercados e colônias, ela só é aceita pelos povos por razões de uma outra ordem, nacionais ou mesmo nacionalistas, extraídas de um fundo mais antigo. Em toda a parte, a ideia dominante entre os que partem para a guerra é a de servir à comunidade nacional.

SOARES, Geraldo Antonio. A guerra que era para ser breve. Dimensões, Vitória, volume 33, 2014. página 317.

Trecho 4

Se um dos grandes ministros ou diplomatas do passado reticências se levantasse da cova para observar a Primeira Guerra Mundial, certamente se perguntaria por que estadistas sensatos não tinham decidido resolver a guerra por meio de algum acordo, antes que ela destruísse o mundo de 1914. É o que também nós devemos perguntar-nos. reticências

O motivo era que essa guerra reticências travava-se por metas ilimitadas. Na Era dos Impérios a política e a economia se haviam fundido. A rivalidade política internacional se modelava no crescimento e competição econômicos, mas o traço característico disso era precisamente não ter limites. reticências na prática só um objetivo contava naquela guerra: a vitória total reticências.

róbisbáum, Eric J. Era dos extremos: o breve século vinte, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. página 37.

  1. Os trechos 1 e 2 foram escritos pelo mesmo autor. Identifique o fenômeno citado pelo autor nesses trechos e de que modo ele modificou as relações entre as potências europeias entre o fim do século dezenove e o começo do vinte.
  2. O autor do trecho 3 apresenta alguns motivos que deram origem à Primeira Guerra Mundial. Quando ele diz que as grandes potências competiram por mercados e colônias, a que processo ele está se referindo?
  3. Com base em seus conhecimentos e nas informações desta seção, explique o significado da seguinte frase, extraída do trecho 4: “A rivalidade política internacional se modelava no crescimento e competição econômicos”.
  4. Agora, para finalizar, considere todas as respostas que você elaborou até aqui e reflita: A Primeira Guerra Mundial e os motivos que levaram a ela estavam ligados ao desenvolvimento do capitalismo? Apresente argumentos para sustentar a sua interpretação.

Glossário

Eslavo
Grupo linguístico e étnico de que fazem parte diversos povos da península Balcânica e da Europa oriental, entre eles os russos, os polacos, os tchecos, os sérvios, os croatas e os ucranianos.
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União Soviética
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (u érre ésse ésse), fundada em 1922 reunindo Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásia. Posteriormente, outras repúblicas foram incorporadas e a Transcaucásia foi desmembrada em três.
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