UNIDADE quatro A ERA VARGAS

Fotografia em preto e branco. Em um local aberto, dezenas de homens e algumas mulheres caminham para frente. A maioria dos homens usa terno de tons diferentes, com camisa branca por dentro, gravata e sapatos escuros. Ao centro, um homem de chapéu e óculos de grau está de braços dados com uma mulher à direita dele. Ela tem cabelos escuros e usa óculos de sol, vestido e sapatos claros. Eles estão ladeados por dois homens em trajes militares.
Em 30 de outubro de 1945, no Rio de Janeiro, Getúlio Vargas dirige-se ao avião que o levaria para o Rio Grande do Sul, em sua despedida da presidência da República. Na fotografia, vê-se Getúlio Vargas (o terceiro da esquerda para a direita), de braços dados com sua filha, Alzira Vargas do Amaral Peixoto.
Pintura. Retrato de um homem visto da cintura para cima. Com sobrancelhas e cabelos escuros, nariz e lábios finos, ele veste uma camisa de gola e gravata borboleta brancas sob uma casaca preta. Usa uma faixa diagonal verde com listras douradas, decorada com o brasão da República brasileira em dourado.
PORTINARI, Candido. Retrato de Getúlio Vargas. 1938. Óleo sobre tela, 77 por 61 centímetros. Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro.

Você estudará nesta Unidade:

O fim da Primeira República e o movimento de 1930

A instauração do Estado Novo e as características desse regime

As mudanças na sociedade e na cultura brasileiras na década de 1930

A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial e o desgaste do Estado Novo

As disputas políticas que marcaram o segundo governo de Getúlio

Fotografia em preto e branco. Ao centro da foto, um homem de terno e chapéu cinzas com as mãos nos bolsos sorri para dezenas de meninas. À sua frente encontra-se o grupo mais numeroso de garotas. Entre elas, há uma mulher com uma touca rígida que emoldura seu rosto, semelhante ao hábito de freiras; ela também sorri para o homem. Atrás dele, à direita da fotografia, quatro garotas atrás de grades acinzentadas sorriem e olham para ele.
Getúlio Vargas em visita a um orfanato em fevereiro de 1941.
Fotografia em preto e branco. Em um estádio de futebol, vê-se partes do teto, da arquibancada e uma pequena área em torno do campo. As arquibancadas estão tomadas por uma multidão. Em torno do campo, há um desfile de mulheres enfileiradas com vestidos claros; todas empunham bandeiras do Brasil. À frente delas, três homens seguram um grande retrato de Getúlio Vargas: trata-se da reprodução da pintura de Benedito Calixto, descrita anteriormente.
Comemoração do dia 1º de maio, em 1942, no Campo do Vasco da Gama, na cidade do Rio de Janeiro, durante o governo de Vargas.

Getúlio Vargas foi presidente do Brasil de 1930 a 1945 e, posteriormente, de 1950 a 1954. Seu último período de governo acabou de fórma trágica: em 1954, suicidou-se na residência oficial da presidência, que naquela época se localizava na cidade do Rio de Janeiro.

O período que vai de 1930 a 1954 é chamado por muitos historiadores de Era Vargas, não só porque esse governante foi presidente do país por 19 anos, ao todo, mas também porque algumas das políticas implantadas durante seu governo vigoram até os dias de hoje em nossa sociedade.

Você sabia, por exemplo, que direitos trabalhistas como férias remuneradas e décimo terceiro salário foram instituídos durante o governo de Vargas? Será que os brasileiros veem esse político de maneira positiva ou negativa? Que características do contexto nacional e internacional da década de 1930 ajudam a explicar a instauração do Estado Novo, com seu projeto conservador e autoritário?

CAPÍTULO 7  O FIM DA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

Durante a Primeira República (ou seja, o período da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930), as oligarquias dos estados de São Paulo e de Minas Gerais, e em menor grau a do estado do Rio Grande do Sul, eram os grupos predominantes na presidência da república. Esse arranjo político, marcado pelo predomínio dessas oligarquias no poder, recebeu o nome de política do café com leite.

Na década de 1920, contudo, o descontentamento das oligarquias dos demais estados, relegadas a um papel secundário na política nacional, passou a ameaçar esse arranjo. As disputas à sucessão presidencial de 1922 mostraram que setores descontentes das elites, como os dos estados do Rio de Janeiro e da Bahia, estavam dispostos a conquistar o protagonismo nas instâncias do poder federativo.

À crise política, somou-se o colapso econômico desencadeado pela quebra da Bolsa de Valores de Nova iórque, em 1929. Em crise, o governo dos Estados Unidos reduziu as importações de café do Brasil, provocando a queda dos preços internacionais do produto.

O impacto da crise no setor cafeeiro gerou desentendimentos entre os produtores e o governo federal. A política do café com leite se aproximava do final.

Fotografia em preto e branco. Vista a partir do alto de uma área do porto de Santos. No plano inferior da fotografia, em uma via, diversas carroças puxadas por animais trazem sacas de grãos. As sacas são levadas para dentro de um portão por homens enfileirados, que atravessam a área interna ao porto, carregando-as sobre os ombros até um grande navio. Esse navio conta com mastros e cordas, além de duas chaminés, torres cilíndricas e altas em cinza escuro.
Grande parte do café produzido no Brasil era transportada até o porto de Santos, em São Paulo, de onde era exportada para outros países. Com a crise de 1929, a demanda pelo produto caiu muito, e os fazendeiros se viram obrigados a estocar toneladas de sacas de café. Fotografia de 1922.

O movimento de 1930

A crise que ameaçou romper o arranjo conhecido como política do café com leite nas eleições de 1922 reapareceu nas eleições de 1930. A cisão ocorreu quando o então presidente do Brasil, uóshinton Luís, que representava São Paulo, resolveu lançar a candidatura do paulista Júlio Prestes no momento em que caberia a Minas Gerais indicar o sucessor à presidência da república.

Descontentes com a atitude de uóshinton Luís, políticos mineiros e gaúchos se aproximaram, reuniram opositores de outros estados à política federal e formaram a Aliança Liberal. Essa composição de fôrças lançou as candidaturas de Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul, e de João Pessoa, da Paraíba, respectivamente aos cargos de presidente e vice-presidente do Brasil.

O programa da Aliança Liberal defendia o incentivo ao conjunto da produção agrícola nacional, e não apenas à produção cafeeira. Além disso, apresentava leis de proteção aos trabalhadores e de incentivo à indústria e insistia na necessidade de uma reforma política, com a instituição do voto secreto, pois fraudes nas eleições eram comuns na Primeira República.

Mesmo com a intensa campanha oposicionista, o candidato indicado pelo governo, Júlio Prestes, venceu as eleições. Porém um acontecimento imprevisto mudou o quadro político. Pouco depois das eleições, por motivos relacionados às disputas políticas locais na Paraíba, João Pessoa foi assassinado.

Mesmo sem relação com a política nacional, o assassinato de João Pessoa serviu de estopim para o início de uma ação armada contra o então presidente uóshinton Luís. A revolta foi apoiada pelos tenentes (observe boxe O tenentismo), e comandada por Getúlio Vargas.


O tenentismo

O movimento tenentista representou a reação dos oficiais de média e baixa patente do Exército contra o regime oligárquico e as práticas políticas tradicionais. Difundidas pelos quartéis do Brasil na década de 1920, suas propostas pregavam os votos secreto e feminino, a moralização política e a reforma do ensino público. Os tenentes promoveram levantes no Rio de Janeiro, em Manaus e em São Paulo, e seu apoio foi fundamental para a chegada de Getúlio Vargas ao poder.

Cartaz. A imagem vertical conta com a ilustração de uma mulher esguia, ocupando o centro do cartaz. Ela usa vestido longo de cor escura e cabelos em coque. Seus braços estão afastados para os lados, e os cotovelos flexionados. Ao fundo, há nuvens brancas e estrelas escuras, além de uma curva preta em forma de arco-íris. No alto, lê-se o texto: PARA PRESIDENTE GETULIO VARGAS. Na parte inferior do cartaz, há o texto: VICE PRESIDENTE JOÃO PESSOA, ALIANÇA LIBERAL. O GOVERNO QUE VIRÁ RESTABELECER A PAZ COM A ANISTIA E GARANTIR A OPINÃO DO POVO COM A LIBERDADE DAS URNAS.
Campanha presidencial de Getúlio Vargas. Cartaz das eleições de 1930, publicado na Revista da Semana em 16 de novembro de 1929. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Os caminhos da revolução

O movimento de 1930 teve início nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, em outubro daquele ano. Rapidamente ganhou adeptos também nos estados do Nordeste, tornando insustentável a situação de uóshinton Luís e obrigando-o a renunciar do cargo de presidente do Brasil. Em 3 de novembro, apoiado por setores populares, pelas classes médias urbanas e pela maioria dos líderes do movimento, Getúlio Vargas assumiu o poder e tornou-se presidente da república. Esse acontecimento pôs fim à Primeira República (também chamada de República Oligárquica) e ficou tradicionalmente conhecido como Revolução de 1930.

Após o movimento de 1930, instituiu-se um Governo Provisório. Ele era composto de representantes das elites estaduais vitoriosas e de militares que apoiaram a queda de Washington Luís, em particular as lideranças do tenentismo. Getúlio Vargas procurou governar mantendo certo equilíbrio entre esses dois setores. Para isso, um dos instrumentos utilizados foi a nomeação de interventores nos estados, vários deles militares. O interventor de cada estado, por sua vez, nomeava os prefeitos dos municípios.

Revolução Constitucionalista de 1932

A política federal de intervenção despertou resistência, principalmente no estado de São Paulo. A elite paulista, colocada à margem do poder central, lutava por novas eleições para a presidência da república, pela autonomia estadual e contra o interventor nomeado por Vargas para São Paulo, que não era paulista. A mais importante exigência do movimento era a elaboração de uma nova Constituição para o país.

Assim, em 9 de julho de 1932, começou em São Paulo uma reação militar contra o governo federal, que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932. Apesar da enorme superioridade militar do governo federal, apenas em outubro, após três meses de guerra, a fôrça Pública Paulista assinou a rendição. Mesmo com a derrota militar, as principais reivindicações das lideranças paulistas foram contempladas ainda naquele ano, quando foram convocadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte e o paulista Armando de Salles Oliveira foi nomeado interventor do estado de São Paulo.

Fotografia em preto e branco. Há soldados em pé. Um deles, ao centro, maneja uma metralhadora apontada para cima. Um outro soldado segura uma longa faixa de munição, com dezenas de balas.
Combatentes da Revolução Constitucionalista com metralhadora antiaérea na estação ferroviária de Cruzeiro, em São Paulo, 1932.
Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

Revolução de 1930?

Os eventos de 1930 receberam, praticamente desde seu início, a designação de “revolução”. Contudo, ao longo do tempo, com base em revisões historiográficas e em muitos debates, os historiadores brasileiros passaram ora a questionar o uso do termo “revolução”, ora a aceitá-lo. Leia, agora, dois exemplos que mostram diferentes interpretações dos acontecimentos de 1930.

Trecho 1

O declínio das oligarquias denunciava a presença de novas fôrças no cenário brasileiro. A estrutura econômica já não encontrava correspondência na estrutura política, inadequada, obsoleta, vivendo por inércia, rotinada em seus processos e tendo de valer-se agora de recursos diversos para assegurar a sua continuação. reticências

reticências A Revolução de 1930 assinala, na história brasileira, o primeiro exemplo de movimento revolucionário que parte da periferia sobre o centro.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. décima Editora Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. página 314, 320.

Fotografia em preto e branco. Em um local aberto, militares estão sobre a parte de trás de um vagão de trem, voltados para o fotógrafo. Na rua, em posição mais baixa e voltadas para os militares, há dezenas de pessoas acenando, muitas delas agitando bandeiras. Ao centro da parte de trás do vagão, um homem fardado, com um lenço no pescoço, sorri para elas.
Getúlio Vargas em Ponta Grossa, no Paraná, na marcha a caminho da cidade do Rio de Janeiro, na tentativa de tomar o poder, em novembro de 1930.

Trecho 2

O país conservou íntegra a sua estrutura econômica, a terra continuou em mãos de seus antigos proprietários, o café continuou a ser o elemento dominante da nossa exportação e a fonte máxima de divisas, as classes sociais continuaram onde estavam, as relações de produção no campo permaneceram as mesmas. Só que as classes pobres ficaram ainda mais pobres. Desse modo a Revolução de 30 não foi na realidade uma revolução, como não foi igualmente um movimento puramente militar e menos ainda uma guerra civil. Talvez se pudesse classificá-la como uma insurreição político-militar com apoio parcial do povo, embora possa continuar chamando-se Revolução de 30, nome que, com as devidas ressalvas, não prejudica ninguém.

BASBAUM, Leôncio. História sincera da República: de 1889 a 1930. quarta Editora São Paulo: Alfa Omega, 1981. página 293-294.

  1. Qual é a visão que o historiador do trecho 1 tem dos eventos de 1930?
  2. Como o historiador do trecho 2 interpreta os eventos ocorridos em 1930?
  3. Ao estudar História, você já se deparou, em diversos momentos, com o conceito de “revolução”. Reflita e escreva sobre o seu significado. Para dar subsídios à sua explicação, faça uma pesquisa na internet sobre o tema. Lembre-se de considerar diferentes fontes e pontos de vista que podem complementar a sua definição.

A Constituição de 1934

Ainda em 1932, cedendo às pressões que levaram ao movimento dos paulistas, Vargas iniciou o processo que levaria às eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. Na ocasião, vários partidos políticos se formaram, e as eleições ocorreram sem problemas, em maio de 1933. Em novembro daquele mesmo ano, iniciaram-se os trabalhos. Em 1934, uma nova Constituição foi finalmente promulgada.

Novos direitos políticos

A nova lei apresentou muitos avanços democráticos em relação à Constituição anterior. Alguns grupos conquistaram direitos políticos exigidos havia algum tempo. Desse modo, no sistema eleitoral, a Constituição de 1934 instituiu o voto secreto e o voto feminino e tornou obrigatório o voto a todos os brasileiros maiores de dezoito anos e alfabetizados.

Conquista de direitos sociais

Na área dos direitos sociais, as inovações foram ainda maiores. A nova carta constitucional proibiu a diferença salarial para o exercício da mesma função, estabeleceu regras para o trabalho dos menores e das mulheres e instituiu as férias e o descanso semanal remunerados. Essas leis consolidavam uma política de Vargas em relação aos trabalhadores estabelecida desde o início do governo provisório: para diminuir a pressão do movimento operário, buscava atender a algumas de suas reivindicações. Contudo, apesar de importantes, as leis tinham alcance limitado:

Entre 1930 e 1934, o Ministério do Trabalho reticências editou uma série de medidas e de leis trabalhistas. reticências

Ademais, é importante salientar que a legislação trabalhista, previdenciária e sindical estava voltada para uma população de trabalhadores urbanos, enquanto os trabalhadores rurais, autônomos e domésticos (constituindo a maioria da população trabalhadora do país) ficaram de fóra da estrutura de proteção que, então, se inaugurava.

BATISTELLA, Alessandro. A Era Vargas e o movimento operário e sindical brasileiro (1930-1945). unoésc e Ciência, Joaçaba, volume 6, número 1, janeiro até junho 2015. página 24.

Por voto indireto, a Constituinte elegeu Getúlio Vargas presidente da república, com mandato até maio de 1938. A partir dessa data, as eleições para a presidência seriam realizadas por via direta.

Fotografia em preto e branco. Cerca de dez fileiras de cadeiras escuras com diversos homens sentados. Quase todos eles usam terno preto e camisa branca. Entre eles, na segunda fileira, à esquerda, destaca-se uma única mulher, que usa chapéu e roupas claras.
Sessão da Assembleia Nacional Constituinte, no Rio de Janeiro, em 1934. À esquerda, a primeira mulher eleita deputada, Carlota Pereira de Queirós.
Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Cidadania e Civismo.

A conquista do voto feminino

Com o código eleitoral de 1932, elaborado para organizar a eleição para a Assembleia Constituinte de 1933, as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto. Assim, na década de 1930, as funções sociais tradicionalmente atribuídas às mulheres, referentes ao lar e à educação e criação dos filhos, estavam se modificando: os direitos políticos adquiridos e uma maior participação no mercado de trabalho passaram a fazer parte da vida cotidiana das mulheres brasileiras. Leia, a seguir, os caminhos das mulheres na conquista de seus direitos políticos.

O momento político [em 1930] era de indefinições. Getúlio Vargas buscava manter o contrôle sobre o processo de constitucionalização em curso no país. Segmentos e grupos sociais mobilizavam-se, procuravam organizar-se política e partidariamente, em função de interesses mais gerais ou específicos de classes, frações de classes, grupos ou categorias. reticências

As ações das feministas, voltadas para conquistas de direitos políticos para a mulher, intensificaram-se em torno de 1918, quando Berta Lutz e um grupo de colaboradoras criaram, no Rio de Janeiro, uma organização chamada Liga para Emancipação Intelectual da Mulher, que, posteriormente, passou a denominar-se Liga pelo Progresso Feminino. reticências Em 1922, devido a novas estratégias de luta, a Federação das Ligas pelo Progresso Feminino converteu-se na Federação Brasileira para o Progresso Feminino, que, neste mesmo ano, organizou o primeiro Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro. Coube às mulheres do Rio Grande do Norte, o pioneirismo na conquista do direito de voto, ainda em 1927 reticências. Apenas em 1932, com o Decreto norteº 21.076, as mulheres tornaram-se eleitoras efetivas no Brasil.

reticências

[Nos anos seguintes,] As mulheres permaneceram em luta, organizadas em suas associações, buscando avançar em suas conquistas por direitos civis, políticos, trabalhistas.

ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política. Estudos Avançados, São Paulo, volume 17, número 49, setembro a dezembro 2003. página 136-137; 145.

  1. Ao ler o texto, é possível dizer que a luta pelos direitos políticos, por parte das mulheres, havia começado antes mesmo de 1930? Justifique.
  2. A principal reivindicação dos movimentos feministas, na década de 1930, era a participação na vida pública do país. Portanto, o movimento das mulheres, naquele período, estava mais ligado aos direitos políticos. Faça uma pesquisa na internet, buscando páginas de entidades e organizações feministas e que lutam pelos direitos das mulheres. Não se esqueça de anotar os nomes das entidades e organizações que serviram como fonte para sua pesquisa. Em seguida, reúna os resultados de sua pesquisa com os de seus colegas e montem um texto coletivo, em que vocês devem responder à questão: quais são as principais reivindicações do movimento feminista no Brasil atual? Compartihem o texto coletivo com a comunidade escolar e com os familiares de vocês utilizando meios digitais, como um blógui ou o próprio site da escola.

Integralistas e comunistas

As repercussões da crise de 1929 afetaram a vida da população brasileira, em particular a dos trabalhadores. Em protesto contra o desemprego e os baixos salários, greves importantes eclodiram em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Em 1934, a crise econômica ainda não tinha sido superada e setores da sociedade se mobilizavam defendendo propostas para superar a crise. Duas organizações políticas importantes formaram-se nesse período: a Ação Integralista Brasileira (á í bê ) e a Aliança Nacional Libertadora (á êne éle).

Os integrantes da á í bê eram nacionalistas e avaliavam que a democracia era um regime incapaz de tirar o Brasil da crise. Inspirados nos regimes totalitários, como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha, os integralistas eram, sobretudo, contra o comunismo.

A á êne éle, fundada oficialmente em 1935, reunia diversos setores descontentes da sociedade brasileira. Opunha-se ao integralismo e ao nazifascismo. Também nacionalista, propunha a nacionalização de empresas estrangeiras, a reforma agrária e um governo popular para o Brasil. Embora dirigida pelo Partido Comunista, a á êne éle contava com a participação de anarquistas, liberais e socialistas.

As propostas de transformação social radical da á êne éle e a capacidade de mobilização que ela demonstrava incomodaram as elites brasileiras. Assim, em meados de 1935, o governo federal fechou a organização. Mesmo assim, parte do grupo manteve as suas atividades ilegalmente. Em novembro do mesmo ano, a á êne éle organizou uma revolta com o objetivo de instaurar um novo governo e pôr em ação seu programa nacionalista e popular. A revolta foi denominada pelo governo e pela grande imprensa de Intentona Comunista. Restrito às cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, o movimento foi rapidamente controlado pelas fôrças oficiais. A rebelião serviu de pretexto para o governo decretar estado de sítioglossário , censurar os meios de comunicação e prender centenas de envolvidos na revolta.

Fotografia em preto e branco. Em uma sala cheia de homens, cinco deles estão sentados, enquanto os demais (cerca de dez homens) estão de pé. Todos estão voltados para a esquerda. Ao centro, há um homem com a barba por fazer, com os cabelos escuros desarranjados, que veste um paletó. Ele é ladeado por dois militares.
Luís Carlos Prestes, líder do Partido Comunista e da á êne éle, é interrogado pela Polícia Especial, no Rio de Janeiro. Fotografia de 1936.

A história de Olga Benário

Olga Benário, nascida em 1908, foi uma militante comunista alemã, com grande destaque no Partido Comunista da Alemanha. Veio ao Brasil em 1934. Companheira de Luís Carlos Prestes, atuou na Intentona Comunista de 1935.

Após o fracasso do movimento, todos os seus organizadores, incluindo Olga Benário e Luís Carlos Prestes, foram presos. Olga, na ocasião, estava grávida. Ela foi deportada para a Alemanha, então sob regime nazista, e entregue à Gestapo. Sua filha, Anita Leocádia Prestes, nasceu em um campo de concentração e foi entregue aos cuidados da avó.

Pouco depois, em 1942, Olga foi enviada para outro campo de concentração, em Bernburg, na Alemanha, onde foi executada na câmara de gás.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Exponha as razões que contribuíram para a eclosão da Revolução de 1930.
  2. Leia os trechos a seguir. Depois, responda às questões propostas.

   Trecho 1

Venho dar contas à nação da situação do país. Foi com a mais dolorosa surpresa e o mais vivo sentimento de indignação e repulsa que todo o Brasil viu irromper nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba sanguinário movimento subversivo que ali se desenrola. reticências Tranquilize-se pois a nação: o governo cumprirá seu dever. Forte pelo direito e pelos meios de ação de que dispõe, levará de vencida inflexivelmente na defesa da constituição os inimigos da pátria. Eles não venceram com opinião manifestada nas urnas; não vencerão agora pelas armas reticências.

MANIFESTO de uóshinton Luís, 9 de outubro de 1930. In: KOIFMAN, Fábio (organizador). Presidentes do Brasil. São Paulo: Cultura, 2002. página 276-277.

   Trecho 2

Tenho a honra de comunicar a Vossa Excelência que, com a cooperação da massa popular, as classes armadas realizaram hoje, sem efusão de sangue, a mudança da alta administração do país, no patriótico intuito de pôr um paradeiro à chacina que ameaçava degradar a família brasileira. reticências A Junta Provisória apela para que todos os brasileiros suspendam imediatamente quaisquer hostilidades.

Telegrama do general Tasso Fragoso a Getúlio Vargas, 24 de outubro de 1930. In: KOIFMAN, Fábio (organizador). Presidentes do Brasil. São Paulo: Cultura, 2002. página 300.

  1. Os dois documentos apresentam a mesma visão sobre a Revolução de 1930? Justifique.
  2. Com qual intenção cada documento teria sido redigido?
  3. “Eles não venceram com opinião manifestada nas urnas; não vencerão agora pelas armas.” Os acontecimentos confirmaram a previsão de uóshinton Luís? Por quê?

3. Na década de 1930, um jornal pernambucano entrevistou algumas mulheres para conhecer a opinião delas a respeito do papel social feminino. Leia o trecho de um artigo que comenta as opiniões dessas mulheres.

Para muitos, inclusive mulheres, as recentes conquistas femininas na política [em 1933], no direito, no trabalho, representavam uma ameaça. Mais que uma possível e indesejada concorrência com o elemento masculino nos domínios agora compartilhados, temiam que as novas ocupações as fizessem desinteressar-se pelos assuntos domésticos. Temiam a desestruturação da família, célula mater da sociedade, a desintegração do lar, a desmoralização dos costumes, o abandono dos princípios éticos e religiosos católicos. [Contudo, outras mulheres] afirmavam que as mudanças não significavam uma ruptura brusca e completa com o passado, com a fórma de organização da vida social e com os valores tradicionais que nortearam suas existências até então. Não viam incompatibilidade entre ter uma casa, marido e filhos e exercer a cidadania política, materializada pelo exercício do voto livre, ou atuar profissionalmente fóra do lar. Contestavam o modo de pensar dos que se assustavam com as perspectivas de mudanças reticências.

ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política. Estudos Avançados, São Paulo, volume 17, número 49, setembro a dezembro 2003. página 141.

  1. O texto fala sobre as transformações ocorridas no debate nacional sobre a questão da mulher e da diversidade, ao longo do século vinte. Quais são as duas opiniões relacionadas a esse debate, expostas no texto anterior?
  2. Segundo o texto, ao conquistar o direito de voto, as mulheres brasileiras pretendiam romper com todas as tradições da sociedade? Justifique.

CAPÍTULO 8  O ESTADO NOVO

As eleições para escolher o sucessor de Vargas ocorreriam em 3 de janeiro de 1938. Apesar de apoiar as eleições, Getúlio Vargas preparava nos bastidores um golpe para permanecer no poder com o aval dos militares.

Desde a Intentona Comunista de 1935, a Aliança Nacional Libertadora estava desarticulada no Brasil. Mesmo assim, a ameaça do “perigo vermelho” continuava sendo útil para justificar as medidas repressivas.

Em setembro de 1937, os jornais publicaram a descoberta do Plano Couén, um suposto plano comunista para a tomada do poder no país. Na realidade, o plano foi redigido pelo capitão Olímpio Mourão Filho, integralista e chefe do serviço secreto do Exército, como pretexto para o golpe que manteria Vargas no poder.

No dia 10 de novembro de 1937, tropas federais fecharam o Congresso Nacional e a população foi informada pelo rádio de que um novo regime político estava sendo instaurado: o Estado Novo.

Esse período de ditadura estendeu-se de 1937 até 1945. Neste Capítulo, vamos conhecer melhor as características políticas e econômicas do Brasil durante o Estado Novo e a formação da identidade nacional construída durante esse período.

Fotografia em preto e branco. Edifício imponente com vista parcial de um largo com algumas árvores, à frente, em um dia de sol. Há quatro colunas ladeando a porta de entrada do edifício, encimada por uma estrutura em arco. Sobre ela, lê-se em letras maiúsculas: Senado Federal.  Uma escada conduz até a porta, que está fechada. O edifício está cercado por homens montados a cavalo, com armas em mãos, protegidos pela sombra das árvores.
Tropas federais cercam a séde do Senado, no Rio de Janeiro, durante o golpe de Estado de 1937, garantindo que não houvesse ali atividade parlamentar.
Economia.

Tem início o Estado Novo

O Estado Novo apresentava duas faces distintas: de um lado, o regime suspendeu as liberdades civis, extinguiu os partidos políticos, promoveu a repressão policial e a censura; de outro, estabeleceu garantias trabalhistas e incentivou a industrialização, a cultura e a expansão do ensino público.

O crescimento da economia

Na política externa, o governo de Vargas adotou uma posição pragmática, procurando ampliar as relações comerciais com as grandes potências e tirar proveito das rivalidades entre elas. Assinou acordos de comércio com a Alemanha, que se tornou, na década de 1930, o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos.

Mesmo antes do início da Segunda Guerra, o governo dos Estados Unidos, interessado em ter um aliado estratégico na América do Sul caso estourasse um conflito mundial, iniciou uma política de aproximação com o Brasil. O governo brasileiro, percebendo isso, obteve mais crédito com os Estados Unidos e assinou acordos comerciais que favoreciam o país.

Intervenção estatal

Durante o Estado Novo, a economia brasileira caracterizou-se pela forte intervenção estatal. Em 1938, foi criado o Conselho Nacional do Petróleo (cê êne pê), que originalmente respondia pela administração das jazidas de petróleo encontradas na Bahia e pelo abastecimento de combustíveis no país.

Nos primeiros anos da década de 1940, foram criadas importantes companhias estatais, como a mineradora Companhia Vale do Rio Doce, encarregada de extrair e exportar minério de ferro de Minas Gerais, e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Em 1941, foi instalada, com apoio dos Estados Unidos, a produtora de aço Companhia Siderúrgica Nacional (cê ésse êne), em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.

Essas empresas são indústrias de base, ou seja, aquelas que produzem os insumos para as outras indústrias, e foram fundamentais para o processo de desenvolvimento industrial pelo qual o Brasil passava.

Fotografia. Vista aérea das instalações de uma fábrica, quase todas elas térreas. Há diversos galpões com telhado cinza, uma chaminé ao centro, da qual sai uma fumaça branca; uma outra, mais fina e à direita da foto, libera fogo. Destacam-se duas construções cilíndricas verticais, com grande diâmetro, na parte superior esquerda da foto. Ao centro, há tanques com água; dois deles de cor azul escura, e um terceiro de cor verde. Ao fundo e à direita, uma grande área aberta armazena um produto escuro acinzentado e, atrás dela, há uma outra área semelhante, com areia. Ao fundo, em toda a parte superior da fotografia, morros verdes, com algumas árvores e grama, são ocupados por construções térreas e claras, que aparentam ser residências.
Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. Fotografia de 2019. A empresa, ao fundo na imagem, pertenceu ao Estado até 1993, quando foi privatizada pelo governo do então presidente Itamar Franco.
Economia.

O Estado Novo e o trabalhismo

Com a aceleração do desenvolvimento industrial, os trabalhadores urbanos e suas lideranças sindicais passaram a ser uma das preocupações centrais do Estado Novo. Foram criadas novas leis para aproximar os sindicatos do aparato do Estado e desarticular a organização independente dos trabalhadores.

A primeira medida nessa direção foi formalizada, expressamente, em 1939, com o decreto-lei norteº 1.402, que proibia a existência de mais de um sindicato por categoria profissional. Menos de três anos depois, em 1942, entrou em vigor o chamado imposto sindical, um percentual recolhido compulsoriamente do salário do trabalhador, uma vez no ano, e repassado aos sindicatos, a outras entidades de classe e ao Ministério do Trabalho.

Se, por um lado, o governo agia para disciplinar os sindicatos, por outro criava leis para regulamentar o trabalho, atendendo, em parte, a antigas reivindicações do movimento operário. Assim, em 1943, Getúlio Vargas aproveitou as comemorações do Dia do Trabalhador para anunciar a Consolidação das Leis do Trabalho (cê éle tê), um conjunto de normas que reunia leis já existentes e unificava as regras do mercado de trabalho em todo o país (observe o esquema Direitos trabalhistas previstos na cê éle tê – 1943").

Vargas construiu um discurso voltado para a classe trabalhadora e investiu na imagem de governante que entendia as necessidades dos trabalhadores. Buscava, assim, legitimar seu poder entre a população mais pobre por meio de uma política que ficou conhecida como trabalhismo.

Esquema. No topo, em um retângulo de fundo laranja, o texto: "Diretos trabalhistas previstos na C L T - 1943".  Setas ligam o retângulo de fundo laranja a retângulos de fundo branco, nos quais lê-se os seguintes textos: Jornada diária de 8 horas de trabalho; Proibição do trabalho para menores de 14 anos e do trabalho noturno para menores de 18 anos; Igualdade salarial entre homens e mulheres; Salário mínimo nacional; Proibição do trabalho da mulher 6 semanas antes e 6 semanas depois do parto; Adicional salarial para o exercício de atividades insalubres; Férias remuneradas.
Fotografia em preto e branco. Em uma via larga, dezenas de homens caminham para a esquerda. A maior parte deles veste terno, camisa de gola branca e gravata e tem um papel branco em mãos. Eles olham para diferentes direções. Ao menos três deles seguram uma estrutura em madeira horizontal, em cujo topo há um cartaz, onde se lê o seguinte texto escrito com letras pretas: VITÓRIA PELO TRABALHO. Ao fundo e à esquerda, há edifícios altos, com muitas janelas.
Desfile de trabalhadores na Avenida Rio Branco, em 2 de setembro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro. O desfile fez parte das comemorações do Sete de Setembro.
Ícone. Sugestão de site.

GOVERNO de Getúlio Vargas. Disponível em: https://oeds.link/siLSNN. Acesso em: 22 março 2022. Exposição virtual sobre o governo de Getúlio Vargas no Brasil, com fotografias e textos.

Trabalhismo, nacionalismo e cultura do trabalho

É possível considerar que no governo de Getúlio Vargas foram estabelecidos os fundamentos do trabalhismo no Brasil. O trabalhismo, na verdade, é um conceito bastante amplo. No caso específico do Brasil, como estamos vendo, suas origens se relacionam diretamente com o governo de Getúlio Vargas.

Durante o Estado Novo, a busca por apoio e adesão da classe trabalhadora tornou-se mais evidente. Esse período foi marcado, por exemplo, pela defesa da Consolidação das Leis do Trabalho (cê éle tê), pela construção de um Estado forte e pela aproximação do governo com os trabalhadores. Essa aproximação ocorria por meio de festividades, discursos, programas de rádio e propagandas. Desse modo, o trabalhismo no Estado Novo estava associado à valorização do trabalhador, bem como ao nacionalismo e ao desenvolvimento econômico amparado pelo Estado.

O trecho a seguir amplia a temática sobre o trabalhismo, identificando o papel do Ministério do Trabalho na manutenção da ideologia trabalhista.

A ideologia política centrada na figura do presidente, em sua obra social e em sua relação direta e pessoal com os trabalhadores foi sendo construída dentro do Ministério do Trabalho principalmente depois de 1942. Foi fundamental nesse processo o papel do ministro do Trabalho Alexandre Marcondes Filho, que dirigiu a montagem do sindicalismo corporativista, articulou a invenção da ideologia trabalhista e se envolveu na criação do Partido Trabalhista Brasileiro.

Após a queda de Vargas e o fim do Estado Novo, o pê tê bê iria atuar dentro das regras do jogo político liberal-democrático como herdeiro do legado varguista.

IDEOLOGIA do trabalhismo. éfe gê vêcê pê dóc. Rio de Janeiro, [2020]. Disponível em: https://oeds.link/NtUcXR. Acesso em: 4 março 2022.

Repressão, violência e tortura

O governo Vargas tratou de organizar instituições encarregadas de reprimir a oposição e de enaltecer o Estado. Por exemplo, a Delegacia de Ordem Política e Social (dópis), criada em 1924 com o intuito de conter as constantes tensões sociais do período, teve, a partir da Intentona Comunista de 1935, sua ação redirecionada para a repressão política aos opositores do governo.

A partir de 1937, com a instauração do Estado Novo, comunistas, adversários do regime e participantes de entidades que fossem vistas pelo governo como subversivas viraram alvos da repressão política, e muitos foram enquadrados na Lei de Segurança Nacionalglossário (éle ésse êne).

A ação policial buscava mostrar para a população que o governo estava investindo todos os seus esforços para garantir a estabilidade social e a segurança do país. Entretanto, são diversos os relatos de tortura e de outras arbitrariedades cometidas pela polícia política do regime. Em razão da censura imposta à imprensa no Brasil, raros foram os crimes que ficaram conhecidos pela população.

Ícone. Sugestão de vídeo.

MEMÓRIAS do cárcere. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Brasil, 1984. Duração: 197 minutos Baseado no livro de mesmo título escrito por Graciliano Ramos. O filme narra a fase em que Graciliano esteve preso, por ordem das autoridades policiais do Estado Novo.

Cidadania e Civismo.

A construção da identidade nacional

Os discursos oficiais do regime pregavam a formação de um “novo homem” para o novo regime político do país, identificado com a ideia de fortalecimento da nação e com o sentimento de brasilidade. A ideia de uma identidade nacional não era nova no Brasil. Desde o século dezenove e o início do século vinte, já era uma preocupação de setores da intelectualidade brasileira identificar e valorizar os traços fundamentais da nossa sociedade, da nossa cultura e do povo brasileiro, inspirando, por exemplo, os artistas românticos e, depois, a Semana de Arte Moderna de 1922.

Contudo, com o Estado Novo, a construção de uma identidade nacional brasileira transformou-se em política de governo, na qual a educação e a cultura, impulsionadas pela ideologia do trabalhismo, desempenharam papel estratégico. A exaltação de um ideal nacionalista era muito útil à política centralizadora do governo de Vargas, interessado em criar uma associação entre um líder forte, um brasileiro orgulhoso de sua identidade e um país integrado à modernidade. Esse propósito, muitas vezes, contrariava os interesses das elites regionais.

Fotografia em preto e branco. Em uma via larga, meninos e jovens enfileirados caminham da esquerda para a direita. Eles usam boinas, blusas de mangas compridas, um manto grosso sobre o ombro direito e calças largas, sendo que alguns estão de bermuda. A mão direita carrega pás ou enxadas apoiadas sobre os ombros. Em segundo plano, vista parcial de prédios com janelas.
Estudantes da Juventude Brasileira desfilam em Curitiba, no Paraná, em 1943. Datas como o Dia da Juventude (19 de abril) e o Dia da Pátria (7 de setembro) tinham a função de enaltecer a imagem do Brasil e do governo de Getúlio Vargas.

A educação: reformas e avanços

Até 1930, as principais iniciativas e ações na área da educação eram responsabilidade dos estados. O governo de Vargas, seguindo sua orientação centralizadora e nacionalista e buscando fomar uma nova elite intelectual, tratou de organizar também a educação em nível nacional.

Nos níveis de ensino hoje conhecidos por Ensino Fundamental e Ensino Médio, foram implantadas reformas que estabeleceram um currículo seriado, a frequência obrigatória e a educação escolar laica e pública para todos os cidadãos brasileiros. Além disso, instituiu a exigência do diploma de nível Médio, chamado na época de secundário, para o ingresso no Ensino Superior. O governo também incentivou o ensino profissionalizante e a educação de adultos por meio de cursos supletivos.

O resultado das reformas foi o aumento significativo das matrículas nas escolas primárias, secundárias e superiores e uma queda importante nos índices de analfabetismo, ainda que comparativamente a outros países esse índice permanecesse alto.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Arte

Arte nacionalista

O movimento modernista, que despontou no Brasil nos anos 1920, esforçou-se por recuperar as raízes da cultura brasileira e expressar, na arte, os traços fundamentais da identidade nacional. O fato de o ideal nacionalista aproximar o Estado Novo da estética modernista levou o governo de Vargas a patrocinar e divulgar muitos artistas, como o paulista Candido Portinari.

Esse artista aproximou-se dos modernistas e desenvolveu uma pintura marcada por temáticas sociais e até mesmo trabalhistas, como a tela Café, produzida em 1935, dois anos antes da instauração do Estado Novo. Observe a obra e realize as atividades a seguir em dupla.

Pintura. Local com solo de terra marrom, onde há pessoas trabalhando. Em primeiro plano, no centro, dois homens fortes, com mãos grandes, vestidos de camiseta e calça até os joelhos de cor branca, carregam sacas de café na cor bege sobre a cabeça. À direita, outro homem, de frente para o espectador, com lábios grossos, musculoso, de lenço vermelho no pescoço, blusa e calça clara, com balde na mão direita com alça fina. Perto dele, balde redondo marrom com grãos pretos dentro. À esquerda, uma mulher sentada com o corpo para à direita. Ela usa pano sobre a cabeça, blusa de mangas curtas em tom claro e saia longa, com pés grandes.  No rosto da mulher, a aplicação de uma linha pontilhada verde ligada ao seguinte texto: 'O rosto dos trabalhadores, exceto o que está de frente para o espectador, não tem expressão ou está escondido.' No pé de um dos homens ao centro e na mão do homem à direita, a aplicação de linha pontilhada verde ligada ao texto: 'As mãos e os pés dos trabalhadores são avantajados, de maneira desproporcional ao restante do corpo.' No topo da cabeça do homem à direita, a aplicação de linha pontilhada verde ligada ao texto 'O traço do rosto revela que o trabalhador é negro ou pardo.' Em segundo plano, outros homens e mulheres com os mesmos tipos de roupas de frente para plantação, colhendo, ensacando e transportando sacas de café. No corpo de uma dessas pessoas, a aplicação de um linha pontilhada verde ligada ao texto: 'Homens e mulheres trabalham na lavoura: uns colhem café e outros carregam as sacas.' Perto dessas pessoas, um homem visto de costas, com o braço direito apontando para frente, de roupa branca, botas de cano alto preto e chapéu escuro sobre a cabeça. Em seu corpo, a aplicação de uma linha pontilhada verde ligada ao texto: 'Um homem ordena e fiscaliza o trabalho na lavoura.'. Em terceiro plano, ocupando um pequeno espaço da tela, uma lavoura de café.
PORTINARI, Candido. Café. 1935. Óleo sobre tela, 1,3 por 1,95 métros Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
  1. Note que a pintura de Portinari está dividida em três planos distintos. O que está representado em cada um desses planos?
  2. Qual desses três planos é o mais importante para compreendermos a temática da obra? Por quê?
  3. Portinari representa a produção cafeeira por meio dos trabalhadores envolvidos no processo e da ação que eles realizam. Indique quais são os principais elementos representados na tela e levante uma hipótese: por que o artista decidiu representar a lavoura de café dessa maneira?
  4. Quais temas e valores defendidos pelo governo de Getúlio Vargas podem ser identificados nessa pintura de Portinari?
Multiculturalismo

Os indígenas: raízes da brasilidade

Para propagar o ideário nacionalista de seu governo, Getúlio Vargas também utilizou como estratégia viagens ao interior do Brasil, principalmente para regiões habitadas por povos indígenas. O objetivo era ocupar e favorecer as atividades econômicas em terras mais distantes do Centro-Oeste e do Norte por meio da construção de rodovias e de incentivos à imigração.

Com o discurso de “levar a civilização para enormes vazios demográficos” e unificar a nação, Vargas lançou, em 1938, a campanha batizada de “Marcha para o oeste”. No ano seguinte, criou o Conselho Nacional de Proteção aos Índios (cê êne pê i) e o entregou à direção do marechal Cândido Rondon.

A política indigenista de Vargas enaltecia os indígenas como símbolos da “brasilidade”, e tinha o objetivo de “integrá-los” ao conjunto da sociedade brasileira, fazendo com que vivessem de acordo com os direcionamentos do Estado e a cultura dos não indígenas. Contudo, os diversos grupos indígenas não foram consultados quanto à sua opinião ou vontade em relação a essa política. Dessa fórma, o Estado desrespeitava os interesses desses povos e os tratava como incapazes de decidir sobre seu próprio destino, como se necessitassem de tutela.

Alguns grupos colaboraram com o governo, mas muitos rejeitaram a sua política. Os Xavante, por exemplo, que habitavam o norte do Mato Grosso e viviam da caça e da coleta de frutos da região, reagiram à política integradora do governo assassinando os seis integrantes da expedição enviada à aldeia.

A Marcha para o Oeste encontrara um obstáculo e o governo correu para mascarar a rejeição dos Xavante reticências. A estratégia Xavante de ataques surpresa manteve invasores à distância durante décadas. A defesa de extenso território foi essencial para manter sua economia mista baseada na caça e coleta e, em menor escala, na agricultura. Embora o governo Vargas retratasse o Oeste como uma utopia, os Xavante conheciam a variabilidade do clima e a pobreza do solo da região, que faziam da agricultura um empreendimento arriscado. Por requisitar um extenso território para a caça de animais e coleta de frutas, babaçu e raízes, a comunidade Xavante combatia qualquer invasor que ameaçasse acesso ao precioso recurso natural.

reticências

Devido às suas diretrizes sociais, orientação cultural e memória histórica, o amor dos Xavante pelo Brasil apenas podia ser “uma simples extensão” do amor que sentiam pelo seu território. A aldeia Xavante no Rio das Mortes não seria “pacificada” até cinco anos mais tarde – quando um grupo do ésse pê ih [Serviço de Proteção ao Índio] mais equipado, abençoado pelo suporte aéreo, retornou à região.

gárfil séfi. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-nação na Era Vargas. Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 20, número 39, 2000. página 27.

Fotografia em preto e branco. Um homem grisalho de paletó branco e camisa xadrez ao lado de homens, mulheres e crianças indígenas. As mulheres usam vestidos; os homens usam camisa e calça; as crianças usam roupas semelhantes às dos adultos. Ao fundo, uma placa com diversas palavras, como a sigla S P I, a palavra Borôros e a palavra São Lourenço, sob a qual há uma seta que aparenta indicar como chegar até lá.
Marechal Cândido Rondon em visita a uma aldeia indígena no Mato Grosso, em 1944.

A propaganda política

Com o objetivo de difundir a ideologia do Estado Novo entre as camadas populares, foi criado, em 1939, o Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp). Ele tinha a tarefa de coordenar, orientar e centralizar as propagandas produzidas pelo governo ou por empresas privadas, controlar as produções artísticas, implantar e dirigir o programa de radiodifusão oficial do Estado e organizar manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições e concertos. Submetido diretamente ao presidente, o Díp tornou-se um dos órgãos mais poderosos do período.

A propaganda governamental e a censura eram realizadas pelo Díp mediante o contrôle dos meios de comunicação e da produção cultural, como a imprensa, a indústria fonográfica e os programas radiofônicos. Além disso, eram distribuídas cartilhas voltadas para a educação de crianças e jovens com a intenção de promover a ideologia de apoio ao regime e ao governo.

Na Rádio Nacional, verbas oficiais permitiam que um elenco de grandes estrelas reproduzisse nos programas os valores e os comportamentos considerados adequados naquela época. O dê í pê interferia também na produção musical, incentivando canções que exaltavam o trabalho e combatiam a boemia.

O cinema e o rádio

O cinema nacional teve impulso durante a Era Vargas. Por meio do Instituto Nacional de Cinema Educativo (Ince) e do Díp, o Estado Novo financiou, regulou e promoveu o cinema como instrumento educativo para auxiliar na difusão da imagem de um Brasil moderno e do sentimento de brasilidade na população.

Filmes como Descobrimento do Brasil (1937) e Os bandeirantes (1940), do cineasta Humberto Mauro, encomendados e financiados pelo Estado Novo, são exemplos de produções cinematográficas que exaltavam o Brasil, determinados personagens, grandes feitos e momentos de sua história.

Além do cinema, o rádio revelou-se um recurso estratégico para difundir a ideia de uma identidade e cultura nacionais e de um regime forte. Consciente disso, em 1938 o governo de Vargas lançou o programa de rádio A Hora do Brasil, que transmitia diariamente os principais atos do governo, música brasileira e notícias de diversas regiões do país. Em 1962, A Hora do Brasil passou a se chamar Voz do Brasil, programa que é transmitido até os dias de hoje.

Fotografia em preto e branco. Em um ambiente doméstico, oito pessoas estão sentadas ao redor de um aparelho de rádio, que está sobre uma mesa. No canto superior esquerdo, um menino está de pé, atrás do rádio, e apoia seus braços sobre o aparelho, com o olhar voltado para baixo. Do lado direito dele, vemos o busto de uma mulher, de perfil para o fotógrafo e voltada para a direita, ao lado do rádio; do lado direito dela, vê-se a cabeça de uma pessoa que está de costas, sentada. Atrás delas, uma folhagem. Do lado esquerdo do garoto de pé, há dois adolescentes, ladeados por um homem sentado sobre uma cadeira clara, voltados para o lado esquerdo da foto. Uma menina está sentada do lado esquerdo dele, e um garoto, sentado no chão e de braços cruzados, está do lado esquerdo dela. Entre eles e a parede, há folhagens.
Família ouve, pelo rádio, o discurso de Ano-Novo do presidente Vargas, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1942.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. O governo de Vargas durante o Estado Novo teve um caráter contraditório. Politicamente, caracterizou-se como uma ditadura, mas tinha grande aprovação popular. Explique essa contradição utilizando o conceito de “trabalhismo”.
  2. A figura de Getúlio Vargas inspirou a criação de charges repletas de humor. Observe uma delas a seguir e responda.
Charge. Em uma folha amarelada, a charge em preto e branco tem o seguinte título indicado na parte superior: A VONTADE DO FREGUÊS. 
Em três quadros, o mesmo homem é representado na mesma posição: de frente, com o braço esquerdo levantado e com o dedo indicador apontando para cima. As vestimentas e os balões de fala contudo, são diferentes.
No primeiro quadro, datado de 1931, ele está em trajes militares e diz: E MARCHAREMOS RESOLUTAMENTE PARA A ESQUERDA! 
No segundo quadro, datado de 1935, ele veste casaca preta, colete, camisa branca, gravata preta, calça branca, sapato branco e preto, uma cartola, e diz: LUTAREMOS ENERGICAMENTE CONTRA OS EXTREMISMOS DA ESQUERDA E DA DIREITA. 
No terceiro quadro, datado de 1937, ele está sem chapéu, usa camisa clara, gravata com a letra grega Sigma, símbolo do integralismo brasileiro, calças e par de botas escuras, e diz: OS POLITICOS SÃO UNS PIRATAS! PRECISAMOS ACABAR COM ELES!
BELMONTE. À vontade do freguezreticências, maio 1937. Charge. Esta charge foi publicada no jornal Folha da Noite, São Paulo.
  1. Belmonte representa Getúlio Vargas em três períodos distintos de sua carreira política. Identifique-os.
  2. Relacione cada momento político do governo de Vargas com as vestimentas e os discursos representados na charge.

3. O ésse pê ih era o órgão do Estado brasileiro que cuidava das políticas indigenistas durante a Era Vargas. Leia o texto a seguir, que fala sobre ele.

Algumas contradições básicas existiram no âmbito do ésse pê ih: enquanto se propunha a respeitar as terras e a cultura indígena, agia transferindo índios e liberando territórios indígenas para colonização, ao mesmo tempo em que reprimia práticas tradicionais e impunha uma pedagogia que alterava o sistema produtivo indígena. reticências É no entrecruzamento dessas causas e motivações que deve ser buscada a chave para a compreensão do indigenismo brasileiro, um regime tutelar estabelecido para as populações autóctones que foi hegemônico de 1910 até a Constituição de 1988, perdurando em certa medida até os dias atuais em decorrência da fôrça de inércia dos aparelhos de poder e de estruturas governativas.

OLIVEIRA, João Pacheco; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília, DF: MEC:SEAD: LACED/Museu Nacional, 2006. página 114-115.

  1. Levando em consideração os argumentos do texto, o que havia de positivo e o que havia de negativo para os indígenas na política praticada pelo ésse pê ih?
  2. Não havia representantes dos indígenas no ésse pê ih. Em duplas, discutam e registrem suas conclusões: Quais foram as consequências disso para a formulação das políticas indigenistas?

4. Observe o gráfico a seguir.

crescimento da agricultura e da indústria no brasil

Gráfico de barras. Crescimento da agricultura e da indústria no Brasil. Legenda: a cor verde representa a agricultura, e a cor laranja representa a indústria. O eixo horizontal conta com a marcação dos anos de 1920 e 1940.  O eixo vertical conta com as marcações de 0 até 100 por cento. O gráfico mostra que, em 1920, a agricultura representava 79 por cento da economia brasileira, enquanto a indústria representava 21 por cento. Em 1940, a agricultura representava 57 por cento da economia brasileira, enquanto a indústria passou a representar 43 por cento.

Elaborado com base em dados obtidos em: D’ARAUJO, Maria Celina. A Era Vargas. segunda Editora São Paulo: Moderna, 2004. página 52.

Com base em seus conhecimentos de História e nas informações sobre a economia brasileira durante o Estado Novo, explique o fenômeno representado no gráfico.

CAPÍTULO 9  O RETORNO À DEMOCRACIA

Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo. Dois anos depois, foram enviadas tropas para combater os nazistas na Itália, conhecidas como fôrça Expedicionária Brasileira (féb).

Esse desfecho pareceu surpreendente para os observadores do governo de Getúlio Vargas, pois muitos consideravam que ele, chefe de um governo ditatorial e ao mesmo tempo um líder que mobilizava as massas, parecia se aproximar mais de Mussolini e Rítler do que dos governos liberais. No entanto, a influência econômica e política de países como Inglaterra e Estados Unidos pesou bastante na decisão.

Internamente, criava-se uma contradição: como um país que lutava ao lado de países democráticos contra os governos totalitários nazifascistas mantinha, em seu próprio país, uma férrea ditadura?

Fotografia em preto e branco. Em um local aberto, dezenas de soldados, de capacete sobre a cabeça e armas em mãos, olham para a frente. Alguns, à frente, estão sentados; os que estão ao fundo, estão de pé. Eles parecem posar para a foto. Do lado direito da fotografia há um morro e, atrás dos soldados, em segundo plano, há uma construção de quatro andares com janelas pequenas, ladeadas por outras construções que estão borradas na foto.
Soldados brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial, na Itália. Fotografia de setembro de 1944.

O fim do Estado Novo

Por quase três anos desde o início da Segunda Guerra Mundial, o Brasil manteve-se neutro. Contudo, em 1942, em troca de financiamentos para construir a Companhia Siderúrgica Nacional e para modernizar as fôrças Armadas, o governo brasileiro permitiu que tropas dos Estados Unidos instalassem bases militares no Nordeste. Em troca, o Brasil passou a fornecer borracha e minérios para a indústria bélica dos países Aliados.

A Alemanha, contrariada, atacou, com os seus submarinos, navios mercantes brasileiros nas águas do Mediterrâneo e do Atlântico, matando cêrca de seiscentas pessoas.

Diante dos acontecimentos, Getúlio não teve outra alternativa senão declarar guerra à Alemanha. Ao final da guerra, quando várias ditaduras, como o regime fascista na Itália e o nazista na Alemanha, foram derrotadas, a situação política de Vargas tornou-se insustentável, mesmo com os avanços econômicos e trabalhistas ocorridos no país no período.

No campo interno, apesar da censura e da repressão policial, a oposição pressionava o desgastado governo ditatorial por mudanças. Manifestações estudantis lideradas pela União Nacional dos Estudantes (Úni) contra o nazifascismo passaram a agitar o país. Até mesmo apoiadores do governo argumentavam que um país que havia lutado contra o totalitarismo não poderia viver sob uma ditadura.

Vargas ainda tentou permanecer no poder, buscando liderar a abertura política: marcou eleições presidenciais e parlamentares para dezembro de 1945 e eleições para governador e Assembleias estaduais para maio de 1946. Contudo, uma conspiração nos bastidores do governo, que envolvia militares de alta patente, opositores políticos e antigos aliados, depôs Vargas em 29 de outubro de 1945.

Capa de jornal. Folha clara, com texto em preto e uma fotografia de tanque de guerra ao centro. Na parte superior está o nome do periódico e a manchete do dia: VARGAS RENUNCIOU. Acima da manchete, o texto: 'Tomou posse às duas e quarenta e cinco da manhã, no Palácio da guerra, o ministro José Linhares, novo presidente da república. Abaixo da manchete, o texto: 'Eleições de 2 de dezembro para presidente e Parlamento'. No meio da página, após a fotografia do tanque de guerra, o título 'O ultimatum ao senhor Getúlio Vargas'.
A edição de 30 de outubro de 1945 do periódico carioca O Jornal anuncia a renúncia de Vargas.

Ler a fotografia

• Além da renúncia de Vargas, que outras informações importantes estão presentes na primeira página do jornal?

As eleições e o governo de Dutra

Ainda em abril de 1945, pressionado pelos países Aliados a reestabelecer garantias democráticas no país, Vargas instituiu a liberdade partidária, e assim novos partidos políticos foram criados.

Após a deposição de Vargas, o cargo de presidente da república foi provisoriamente ocupado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares. No final de 1945, os brasileiros voltaram a escolher o presidente do país. Essas eleições também definiram os parlamentares encarregados de elaborar uma nova Constituição federal.

Candidato até então inexpressivo, o general Eurico Gaspar Dutra foi eleito com 55,35% dos votos e tomou posse no dia 31 de janeiro de 1946.

Assim que tomou posse, Dutra alinhou-se aos Estados Unidos e rompeu relações diplomáticas com a União Soviética, fechou o pê cê bê e cassou os mandatos de seus parlamentares.

Em relação à economia, o governo de Dutra teve duas fases distintas. Na primeira, ele liberou as importações. A medida foi um desastre, pois a importação desenfreada acabou com as reservas de moedas estrangeiras acumuladas durante a Segunda Guerra.

Na segunda fase, entre 1947 e 1950, o governo favoreceu a importação de itens considerados essenciais para a produção industrial, como máquinas e equipamentos, e restringiu a importação de outros artigos.

O combate à inflação foi o centro da política econômica interna do governo e foi feito por meio da redução drástica da emissão de moedas e dos gastos públicos. Os dois últimos anos do governo de Dutra registraram crescimento econômico, resultado de um maior intervencionismo do Estado na economia.

Fotografia em preto e branco. De dentro de uma sala de aula, aglomeradas, dezenas de pessoas, negras e brancas, na imensa maioria homens, fazem fila. Dois desses homens carregam nas mãos os seus chapéus e, dois outros portam um documento. É possível identificar apenas uma mulher branca nesse aglomerado de pessoas.
Eleitores aguardam para votar em São Paulo, em dezembro de 1945.

Partidos políticos em 1945

O Partido Social Democrático (pê ésse dê) tinha perfil conservador e identificado com as velhas elites agrárias estaduais. A União Democrática Nacional (u dê êne), antigetulista, combatia a intervenção do Estado na economia e nas relações entre patrões e empregados e defendia a abertura da economia ao capital estrangeiro. O Partido Trabalhista Brasileiro (pê tê bê) identificava-se com o nacionalismo e com o sindicalismo, respaldando-se na figura de Getúlio Vargas. O Partido Comunista do Brasil (pê cê bê), liderado por Luiz Carlos Prestes, apoiava-se nos trabalhadores e defendia a democracia, a nacionalização da economia e a reforma agrária.

Vargas volta ao poder

“Bota o retrato do velho outra vezreticências bota no mesmo lugar.” Assim começava a marchinha que saudava o retorno de Getúlio Vargas à presidência da república em 1950, dessa vez eleito pelo voto direto.

Nas eleições de 1950, Vargas derrotou o candidato apoiado por Dutra e, assim, retornou à presidência da república, mostrando que seu prestígio político ainda era muito forte.

Vargas recebeu de Dutra um país com desequilíbrio nas contas públicas e elevada inflação, mas logo essas dificuldades foram contornadas. Em 1951, a inflação caiu, as exportações superaram as importações, a indústria de base foi ampliada e o crescimento econômico do país atingiu 7%. Porém, nos anos seguintes, esses avanços econômicos foram em parte reduzidos, principalmente porque os Estados Unidos diminuíram os recursos para investimentos no Brasil. Além disso, a inflação voltou a crescer, encarecendo o custo de vida, sobretudo do trabalhador.

O cenário político do segundo governo de Vargas foi marcado pela instabilidade e por uma intensa polarização. De um lado, estava o nacional-estatismo, representado por Vargas, que defendia o fortalecimento do capitalismo nacional, a criação de empresas estatais em setores estratégicos e a ampliação de leis sociais e de políticas públicas intervencionistas. Do outro, o liberal-conservadorismo, que pregava a liberalização (desregulamentação) da economia e do mercado de trabalho, a abertura do mercado nacional a investimentos estrangeiros e o alinhamento incondicional do país aos Estados Unidos.

Com auxílio da grande imprensa, a oposição a Vargas se empenhou em desqualificar seu governo e mobilizar a população contra o presidente. Seus opositores criticavam não apenas a administração e a política econômica estatal, como também acusavam Vargas de ser corrupto e violento.

Fotografia em preto e branco. Vista do alto de uma rua com carros escuros, um atrás do outro, ladeados por centenas de pessoas, além de papéis picados no chão e sobre os carros. O carro da frente está com a capota baixa, e há um homem em pé à esquerda, de camisa branca e terno escuro. Ele acena para a multidão com a mão direita, sorrindo. Em segundo plano, vê-se parte de construções.
Getúlio Vargas desfilando em carro aberto pelas ruas de Vitória, no estado do Espírito Santo, em 1951.

A figura de Vargas

O trecho a seguir fala sobre como é complexo, nos dias de hoje, analisar a figura de Vargas e as ações de seu governo.

Vargas governou como ditador e democrata; foi reformador social e enquadrou sindicatos; censurou a Imprensa e patrocionou o cinema, o teatro, as artes plásticas e a literatura; perseguiu comunistas e fundou a Petrobrás. Só é possível analisar e compreender o mito pelo todo, pois foi o seu grupo político que, ao assumir o poder em 1930, criou o moderno Estado brasileiro, com uma burocracia técnica, impessoal, baseada no mérito. O Estado passa a ser interventor, regulador e planejador. O nacional-estatismo teve como fórma particular no Brasil o trabalhismo.

SAVIANI FILHO, Hermógenes. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e sociedade. Economia e Sociedade, Campinas, volume 22, número 3, dezembro 2013. Disponível em: https://oeds.link/tIGeMi. Acesso em: 4 março 2022.

A nacionalização do petróleo

Um dos mais representativos exemplos das disputas entre nacionais-estatistas e liberais-conservadores no governo de Vargas foi a fundação da Petrobras.

O tema da exploração e da comercialização do petróleo, uma fonte de energia e matéria-prima estratégica para o crescimento econômico, polarizava as opiniões na sociedade. De um lado, os nacionalistas defendiam o direito exclusivo das companhias brasileiras na exploração do produto; de outro, os liberais pregavam a abertura da exploração para as empresas estrangeiras.

A partir de 1947, a campanha “O petróleo é nosso”, inicialmente apoiada por pequenos grupos de militares nacionalistas, jornalistas e estudantes, tomou corpo e deu sustentação para a criação, em 1953, da Petrobras. Essa empresa estatal, então, passou a ter o monopólio sobre as atividades de exploração do petróleo, exceto sobre a distribuição dos derivados do produto, em todo o território nacional.

Além de garantir o monopólio do petróleo, Vargas propôs, em 1954, a criação da Eletrobras, com o objetivo de construir usinas geradoras de energia elétrica para suprir a demanda energética do país. Porém, o projeto enfrentou forte oposição e a empresa só foi instalada em 1962.

Outra instituição estatal criada por Vargas para impulsionar a economia foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (bê êne dê é). A instituição tinha a tarefa de financiar novos projetos públicos e privados para o desenvolvimento econômico do Brasil, como os de reaparelhamento de portos e ferrovias e de ampliação do potencial elétrico.

Selo. Imagem retangular, de fundo cinza-claro, com ilustrações e texto em azul. À esquerda, rosto de um homem sorridente, de cabelos para trás, usando par de óculos de grau. Trata-se de Getúlio Vargas. Sua palma da mão está aberta e manchada com uma substância escura, à direita do selo. Ao fundo, uma torre de ferro com bandeira hasteada. Texto: BRASIL. 1958. CORREIO. PRESIDENTE VARGAS. Dois cruzeiros e cinquenta centavos. Quinto ANIVERSÁRIO DA LEI DA PETROBRÁS.
Selo comemorativo do 5º aniversário da Lei da Petrobras, em 1958.
Cartaz. Na base desse cartaz vertical, em sépia, foi feita uma composição de duas fotografias. Em primeiro plano, à esquerda, um homem sorridente, de cabelos para trás, usando par de óculos de grau, com o braço esquerdo para frente. Há destaque para a palma da mão aberta manchada com uma substância escura cujas gotas pingam em direção ao solo. Trata-se da fotografia de Getúlio Vargas, transformada em ilustração no selo comemorativo descrito anteriormente. Ainda na base do cartaz, à direita dele, torres de ferro em três andares e tubos cilíndricos. Na parte superior do cartaz, sobre a bandeira do Brasil e fundo azul claro, lê-se: PARA SEU GOVERNO, ÊLE DIZ: 'NINGUÉM ARREBATA DAS MINHAS MÃOS A BANDEIRA NACIONALISTA'. Na parte inferior, sobre as fotografias em sépia, lê-se: PETROBRÁS, O OURO NEGRO QUE DARÁ A INDEPENDENCIA DO BRASIL.
Cartaz alusivo à criação da estatal do petróleo, cêrca de 1953.
Ícone. Sugestão de vídeo.

GETÚLIO. Direção: João Jardim. Brasil, 2014. Duração: 100 minutos Filme sobre a vida e a trajetória política de Getúlio Vargas.

O fim do governo de Vargas

O jornalista Carlos Lacerda, proprietário do jornal Tribuna de Imprensa, era o líder da oposição a Getúlio. Nas colunas do seu jornal, Lacerda fazia uma série de acusações políticas e pessoais contra Vargas. Em 5 de agosto de 1954, o chefe da segurança de Vargas, Gregório Fortunato, articulou uma tentativa frustrada de assassinar Lacerda. O jornalista sobreviveu, mas o major da Aeronáutica que o acompanhava, Rubens Vaz, foi assassinado.

Após o episódio, oficiais superiores e subalternos das fôrças Armadas foram pressionados pela imprensa a derrubarem o presidente. Entre renunciar ou sofrer um golpe militar, o presidente recorreu à saída trágica: na noite de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, Vargas pôs fim à sua vida com um tiro no peito. Deixou uma carta-testamento, responsabilizando seus inimigos internos, aliados a grupos estrangeiros, pelas dificuldades enfrentadas pelo povo brasileiro.

A comoção pelo suicídio de Vargas espalhou-se por todo o país. Motins populares irromperam em várias cidades. sédes dos principais jornais e partidos políticos de oposição, além da embaixada dos Estados Unidos, no Rio de Janeiro, foram depredadas. Essas manifestações impediram a tomada do poder pelos militares. Assim, o vice-presidente, Café Filho, assumiu a presidência, garantindo a realização das eleições em 1955.

Ícone. Ilustração de uma lupa sobre uma folha de papel amarelada com a ponta superior direita dobrada, indicando a seção Documento.

Documento

O cortejo de Getúlio

No dia seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, seu corpo foi transportado do Palácio do Catete ao aeroporto Santos Dumont, na cidade do Rio de Janeiro, pois ele seria velado e sepultado em sua terra natal, São Borja (Rio Grande do Sul). A fotografia retrata o traslado do corpo de Vargas.

Fotografia em preto e branco. Vista de cima de local aberto com milhares de pessoas aglomeradas. Uma das ruas, à esquerda, está livre para a circulação de carros. Em segundo plano, na parte superior da fotografia, uma praça com árvores e gramado. Ao lado dela, uma construção grande e horizontal.
Cortejo fúnebre de Getúlio Vargas, na cidade do Rio de Janeiro, em 25 de agosto de 1954.

O que é possível concluir sobre a fórma como Vargas era visto pela população da cidade do Rio de Janeiro observando a fotografia? Justifique.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Getúlio Vargas voltou à presidência da república nas eleições de 1950. Sobre o seu segundo governo, responda às questões a seguir.
    1. Que medidas econômicas marcaram o governo de Vargas? Quais eram seus objetivos?
    2. Cite os principais fatores que levaram à crise política do governo de Vargas.
  2. Getúlio Vargas deixou uma carta para justificar seu suicídio. Leia, a seguir, alguns trechos dessa carta e responda às questões.

reticências Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. reticências Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobras foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

reticências

Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a fórça para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será vossa bandeira de luta. reticências Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. reticências Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

CARTA-TESTAMENTO de Getúlio Vargas [24 agosto 1954]. In: DORATIOTO, F. F. Monteoliva; DANTAS FILHO, José. De Getúlio a Getúlio: o Brasil de Dutra e Vargas, 1945 a 1954. sexta Editora São Paulo: Atual, 1991. página 74-78.

  1. A quem a carta de Vargas é dirigida? Que trecho da carta comprova a intenção de sua narrativa?
  2. Com quais palavras ele se refere à sua vitória nas eleições para presidente da república em 1950?
  3. De acordo com a carta, algumas das políticas de Vargas despertaram a ira de certos grupos. Quais são as políticas e quais são os grupos que se opuseram a ela?
  4. O suicídio do presidente Vargas é visto por grande parte dos estudiosos como um gesto político. Que aspectos da carta podem comprovar essa opinião?
  1. Getúlio Vargas é um dos personagens mais controversos da história brasileira. Considerado por alguns um defensor incondicional dos interesses nacionais e por outros um ditador populista, seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, ajudou a transformá-lo em mito. Agora, vocês vão fazer um debate sobre a figura de Getúlio Vargas.
    1. Sob a orientação do professor, dividam-se em três grupos: um para defender as ações do governo de Vargas; o segundo para combatê-las; e o terceiro para fazer questionamentos para os dois primeiros.
    2. Os três grupos vão pesquisar publicações impressas ou eletrônicas que analisam o governo de Vargas. Anotem dados que podem sustentar os argumentos da defesa e os da acusação. É importante que o grupo da defesa tenha argumentos para polemizar com o grupo da acusação e vice-versa; da mesma fórma, o terceiro grupo deve estar preparado para questionar ambos. Não se esqueçam de anotar as referências consultadas.
    3. Os dois grupos oponentes devem preparar os argumentos de defesa ou os de acusação; enquanto o terceiro grupo deve elaborar previamente algumas questões.
    4. Realizem o debate no dia combinado previamente com o professor. Ao final, avaliem o resultado do trabalho.
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Quais seriam as semelhanças e as diferenças entre o Estado Novo e os regimes totalitários europeus?

No mesmo período em que o Estado Novo foi instalado no Brasil, importantes países da Europa estavam sob regimes totalitários. Era o caso da Alemanha (com Rítler), da Itália (com Mussolini) e da Espanha (com Franco).

É muito comum que os historiadores brasileiros façam comparações entre o Estado Novo e esses regimes, principalmente entre o fascismo italiano e o Estado Novo. Contudo, todos os estudiosos tomam muito cuidado ao realizá-las, pois é necessário levar em consideração os diferentes contextos nacionais em que cada governo foi instalado.

Entender a história do Estado Novo e dos regimes totalitários da Europa do passado, bem como os mecanismos que os governantes usavam para manter-se no poder, é importante para que possamos repensar o presente, reelaborando a fórma como nos comunicamos e nos relacionamos com nossos governantes no regime democrático.

Quais seriam as semelhanças e as diferenças entre o Estado Novo e os regimes totalitários europeus? Para refletir sobre isso, você vai ler alguns textos. Vamos lá?

Fotografia em preto e branco. Em um local fechado, à esquerda, há um homem em traje militar de gala escuro, sentado em uma poltrona, segurando um chapéu militar com plumas. O outro, ao centro, usa casaca, colete e calça pretos e camisa branca; a seu lado, outro homem em traje militar de gala branco, segurando um quepe branco. Eles estão sentados sobre um sofá. Na parede, atrás deles, pinturas e ornamentos rebuscados e cheios de curvas.
No Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, Getúlio Vargas, ainda chefe do governo provisório, recebe Italo Balbo, ministro considerado braço direito de Mussolini, em 1931. Em visita ao Brasil, o ministro italiano afirmou: “Trago a saudação da Itália fascista ao Brasil novo”.

   Trecho 1

Inúmeras foram as evidências de que Vargas considerava o fascismo europeu um modelo a ser imitado, adaptando-o às necessidades da realidade nacional: a ideia de um Estado forte, a personificação do poder central, a crítica à democracia parlamentar, a luta contra a pluralidade de partidos, o combate às “ideias exóticas”, a adoção de uma política imigratória antissemita, o emprego de mecanismos de contrôle social e político (dópis) e de legitimação (Díp).

CARNEIRO, Maria Luiza tutchi. O Estado Novo, o Dops e a ideologia da segurança nacional. In: PANDOLFI, Dulce (organizador). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: éfe gê vê, 1999. página 334.

   Trecho 2

No tocante às semelhanças entre o regime de Vargas e o Fascismo, pode-se destacar: 1) a valorização da missão histórica da nação representada pelo Estado; 2) o reconhecimento dos direitos individuais, mas apenas daqueles que não entravam em conflito com as necessidades do Estado soberano; reticências 5) o antiliberalismo e o antiparlamentarismo.

reticências o regime fascista italiano resultou de um movimento organizado que tomou o poder. O partido teve um papel fundamental como propulsor das transformações por que iria passar o Estado.

Já o regime estadonovista não resultou da tomada do poder por nenhum movimento revolucionário, nem era sustentado por qualquer partido. A mobilização e a organização das massas em milícias também foram recusadas, como demonstra o caso da Organização Nacional da Juventude, transformada em um programa de educação moral e cívica.

Ainda que haja semelhanças no tocante ao cerceamento da liberdade individual, tanto do ponto de vista doutrinário como da realidade histórica, o Estado Novo brasileiro certamente não foi a reprodução literal do fascismo italiano. reticências

ESTADO Novo e ideologia fascista. Educação Pública. Rio de Janeiro, [2012]. Disponível em: https://oeds.link/Qx88tl. Acesso em: 30 junho. 2022.

  1. O trecho 1 cita diversas características do Estado Novo que foram inspiradas nos modelos totalitários europeus. Identifique essas características.
  2. O trecho 2 amplia a discussão sobre o tema desta seção, enumerando algumas diferenças entre o Estado Novo e o fascismo. Identifique essas diferenças, explicando por que o Estado Novo brasileiro não foi a reprodução literal do fascismo italiano.
  3. Agora, reúna-se com um colega e escrevam um pequeno texto coletivo com o seguinte tema: Quais seriam as semelhanças e as diferenças entre o Estado Novo e os regimes totalitários europeus?

Glossário

Estado de sítio
Suspensão temporária de certos direitos e garantias individuais.
Voltar para o texto
Lei de Segurança Nacional
Promulgada em 4 de abril de 1935, aéle ésse êne definia os crimes contrários à ordem política e social. Sua principal finalidade era transferir para uma legislação especial os crimes contra a segurança do Estado, submetendo-os a um regime mais rigoroso.
Voltar para o texto