UNIDADE oito  O MUNDO GLOBALIZADO

Fotografia. Em um local aberto, uma escadaria grande em bege-claro abriga centenas de pessoas em pé, enfileiradas por cores na vertical, todas usando máscara cirúrgica de proteção sobre o nariz e a boca. Da esquerda para a direita, as cores das roupas das pessoas enfileiradas são: branco, azul-escuro, laranja, rosa, verde, vermelho-escuro, rosa-escuro e branco. Do lado direito das pessoas de branco há militares, com quepe branco ou preto e farda escura. Algumas dessas pessoas seguram placas grandes com fundo vermelho e caracteres chineses em branco. Mais ao fundo, na parte superior, é possível ver, parcialmente, algumas bandeiras brancas ou vermelhas, todas com inscrições ilegíveis.
Trabalhadores da área da saúde comemoram o fechamento de um hospital temporário voltado apenas para o tratamento contra a côvid dezenóve, em urran, na China, em 10 de março de 2020, após a diminuição do número de casos da doença. A região foi o epicentro do surto de coronavírus.
Fotografia. Dentro de uma sala de paredes brancas, há cinco pessoas trabalhando. É possível vê-las da cintura para cima. Quatro delas usam uma roupa especial para evitar contaminação na cor branca, e uma na cor rosa. A roupa cobre todo o tronco, com exceção do pescoço e das mãos. Eles estão de luvas e máscara cirúrgicas em azul claro. Sobre a cabeça, uma espécie de gorro que protege toda a cabeça, incluindo as orelhas. Em primeiro plano, à direita, uma pessoa manipula centenas de máscaras cirúrgicas em azul-claro na vertical; perto dela, há um pote plástico contendo mais máscaras. Ao centro, outra pessoa está de frente para um maquinário em cinza-claro, cheio de cabos, hastes, alavancas e botões. Mais ao fundo, há outras pessoas com o mesmo tipo de roupas.
Produção de máscaras em indústria em guêndông, na China, em 17 de março de 2020. No período da pandemia da côvid dezenóve, houve um aumento na produção desse produto.
Fotografia. Um local aberto e gramado, com uma grande construção cinza ao fundo, cercada por cordas interligadas por hastes verticais. Em torno dela, há bandeiras com listras vermelhas e brancas e um quadrado azul no canto superior esquerdo, hasteadas em mastros. Duas pessoas estão próximas a essa construção, sendo que uma delas, à direita, tira fotos com um dispositivo. Uma via cinza, da qual vemos apenas o parapeito, atravessa o centro da fotografia no sentido horizontal. Por ela, uma pessoa de calça branca, camiseta preta e capacete de proteção, com uma criança na garupa também com equipamentos de proteção, passa de bicicleta, para a direita.
Em primeiro plano, um gramado com centenas de pequenas bandeirinhas brancas que balançam ao vento.
Memorial localizado em uóshinton, nos Estados Unidos, em homenagem às pessoas mortas pela côvid dezenóve. Fotografia de 2021.

O fim da Guerra Fria foi marcado pela queda do Muro de Berlim e pela desagregação da antiga União Soviética. A partir de 1991, uma nova ordem internacional bastante complexa surgiu. Para grande parte dos estudiosos, essa nova ordem pode ser chamada de multipolar, já que não existe uma única nação exercendo o papel de superpotência do planeta. O que se vê, na atualidade, são diversas nações que disputam protagonismo político e econômico e exercem importante papel no cenário internacional, como Estados Unidos, países da União Europeia e da Ásia e Leste da Europa, como China e Rússia.

Quais seriam os desafios do mundo atual globalizado? Como os governos e os cidadãos do mundo podem lidar com questões como pandemia de dimensão global, crise econômica, crise energética, o grande número de pessoas vivendo na pobreza extrema e a degradação ambiental?

Você estudará nesta Unidade:

O processo de abertura na União Soviética

A desagregação do bloco socialista

Nova ordem mundial

Globalização

O papel do Brasil no mundo globalizado

Desafios do mundo atual

CAPÍTULO 18  A DESAGREGAÇÃO DO MUNDO SOCIALISTA

Durante a Guerra Fria, os soviéticos construíram uma enorme indústria de base e desenvolveram conhecimentos nas áreas da ciência e da tecnologia.

Ao longo da década de 1960, houve um grande processo de urbanização na União Soviética, bem como a erradicação do analfabetismo. Houve, ainda, melhorias significativas na qualificação da mão de obra, e a maior parte dos trabalhadores soviéticos passou a contar com diploma universitário ou Ensino Médio.

Contudo, mesmo com esse evidente progresso, a distância da economia soviética em relação aos países do Ocidente ampliava-se cada vez mais. Isso podia ser percebido principalmente na produção agrícola e de bens de consumo, que, além de escassos, eram de baixa qualidade. Ao priorizar os investimentos na corrida armamentista e espacial, o regime soviético não deu a atenção devida à produção de alimentos e de artigos como roupas, calçados e eletrodomésticos.

Na década de 1970, vários sinais de crise começaram a surgir na União Soviética, como o distanciamento em relação aos avanços tecnológicos do Ocidente, a ineficiência da indústria civil e a dependência da importação de alimentos. Tudo isso somava-se aos movimentos por liberdade, democracia e independência nacional que começavam a se organizar, o que agravava ainda mais o quadro de crise na União Soviética.

Fotografia. Em primeiro plano, por uma rua de asfalto cinza-escuro, passam três pessoas para à direita, e um carro, cuja traseira vemos apenas parcialmente, dirige-se para a esquerda. A calçada está cheia de pessoas fazendo fila. Elas estão vestidas com gorro sobre a cabeça e casacos de diversas cores e estão voltadas para os prédios, não para a rua. Há placas com inscrições em russo na fachada desses prédios, todos são bege claro, não estão em bom estado e têm, ao menos, dois pavimentos. Um deles, à direita, não tem vidros ou qualquer outra proteção nas janelas, e a parede está parcialmente sem reboco; no edifício que está ao centro da fotografia, nas janelas foram colocadas folhas de madeira. À esquerda da fotografia, há um outro prédio, diante do qual a fila e a aglomeração continuam.
As graves crises de abastecimento obrigavam a população soviética a enfrentar longas filas para comprar alimentos, como em Moscou, na Rússia. Fotografia de 1990.

Processos de abertura na União Soviética

Em 1985, micaíl gorbatchóv foi eleito secretário-geral do Partido Comunista Soviético. Atendendo a pressões da sociedade soviética por mudanças, Gorbatchóvi iniciou um programa de reformas econômicas e políticas com o objetivo de modernizar o Estado sem, contudo, abandonar o regime socialista. Esses programas ficaram conhecidos como glasnóst (transparência política) e perestroika (reestruturação da economia).

A glasnóst realizou reformas que levaram à organização de eleições diretas, liberaram a imprensa para fazer críticas ao governo e possibilitaram que as pessoas saíssem do país. Essa abertura política estimulou a instalação de um amplo debate na sociedade a respeito de assuntos diversos, como os privilégios da burocracia dirigente do Partido Comunista e a elevada corrupção no país.

A perestroika refletia a preocupação do governo soviético com os problemas econômicos. Buscando estimular a economia e elevar a produtividade, Gorbatchóvi concedeu maior liberdade de ação às empresas, autorizando-as a fixar os salários dos empregados e a concorrer com outras empresas no mercado. As pequenas empresas privadas foram legalizadas, e as estrangeiras foram autorizadas a entrar no país.

Custos com guerra também enfraqueceram a economia soviética

A crise na União Soviética a partir da década de 1970 também foi agravada pelos gastos com um conflito no Afeganistão, entre 1979 e 1989. Esses gastos acabaram por debilitar mais ainda a economia soviética.

Em 1978, um golpe de Estado no Afeganistão conduziu ao poder um partido comprometido com a política de Moscou. O novo governo iniciou um programa de reformas socialistas e antirreligiosas, muitas das quais contrariavam os costumes islâmicos. A oposição a essas medidas passou a ameaçar o governo, o que levou a União Soviética a enviar tropas ao Afeganistão em dezembro de 1979. Contudo, sem condições de vencer a resistência, financiada especialmente pelos Estados Unidos, a União Soviética retirou suas tropas do país em 1989.

Fotografia. Um homem visto da cintura para cima, de frente para dois microfones pretos e um púlpito preto, sobre o qual há uma haste dourada, na horizontal. No púlpito preto, a parte voltada para o público apresenta o símbolo da ONU: o planisfério, as linhas imaginárias e a coroa de folhas de louro. O homem tem cabelos grisalhos, usa um par de óculos de grau, camisa de gola branca, gravata vermelha e terno cinza. Ele usa um broche sobre o terno cinza representando uma bandeira na cor vermelha. Ele tem uma mancha avermelhada na parte frontal da cabeça, e olha para a direita, de boca aberta.
O então dirigente da União Soviética, micaíl gorbatchóv, discursa na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova iórque, Estados Unidos, em 1988.

Crise e fim do socialismo no Leste Europeu

Nos anos seguintes à implantação da perestroika e da glasnóst, a economia e a agricultura soviéticas continuavam com índices de crescimento insuficientes. A população passou a enfrentar racionamento de alguns produtos básicos, como gasolina, manteiga e carne.

Ao mesmo tempo, as reivindicações autonomistas no interior das quinze repúblicas que formavam a União Soviética ressurgiram. A grande variedade de povos, línguas e crenças que conviviam no país sempre foi um problema para manter a unidade política. Diante da crise, inúmeros movimentos nacionais reivindicavam autonomia e respeito às identidades locais.

A grande popularidade internacional de Gorbatchóvi pesava cada vez menos, e o apoio ao líder despencava. Além disso, no final da década de 1980, uma espécie de prenúncio do que poderia acontecer na União Soviética abalou o mundo socialista: movimentos democratizantes atingiram o Leste Europeu, levando ao fim do socialismo na região.

Observe, a seguir, os acontecimentos que puseram fim ao socialismo na Hungria, na Tchécoslováquia, na Romênia e na Polônia.

  • Na Hungria e na Tchécoslováquia, a transição se deu de maneira pacífica e pela via das instituições. Os novos governantes, antigos opositores do regime soviético, implantaram programas de desestatização da economia.
  • Na Romênia, o governo respondeu com violência aos protestos populares, mas não conseguiu frear as manifestações. Ao tentar fugir do país, em 1989, o presidente nicolae tcháucêscuacabou preso, julgado e executado.
  • Na Polônia, trabalhadores liderados pelo sindicato independente Solidariedade reivindicavam direito de greve e liberdade de organização sindical. Após reformas democratizantes, em 1990, o líder do Solidariedade, léshi Walesa, foi eleito presidente da república.
Fotografia em preto e branco. À esquerda, vista de cima de pessoas em frente a uma coluna branca, olhando em direção a um homem que está em um local mais alto, à direita. Esse homem, de cabelos escuros e terno de mangas compridas, segura um microfone na mão direita, discursando, voltado para a esquerda. Perto dele, há algumas plantas e bandeiras hasteadas. À direita da foto, atrás desse homem, há outras pessoas em pé, aglomeradas. Ao fundo e à esquerda, ao lado da coluna branca, três homens em pé vistos parcialmente. Um deles usa óculos e tem bigodes fartos.
O líder sindical Lér Valéssa fala a grevistas em assembleia às portas do estaleiro Lênin, em guidânsk, na Polônia, em 1980.
Ícone. Sugestão de vídeo.

ADEUS, Lênin! Direção: Vôlfigan Béquer. Alemanha, 2003. Duração: 118 minutos O filme tem como pano de fundo o processo do fim do socialismo no Leste Europeu, mais especificamente na Alemanha. Após acordar de um período em coma, uma mulher é levada pelos seus filhos a acreditar que o socialismo ainda resistia.

A queda do Muro de Berlim

A República Democrática Alemã (érre dê a), também conhecida como Alemanha Oriental, vivia um processo de estagnação econômica desde meados da década de 1980. Isso motivou a eclosão de movimentos por reformas econômicas e políticas.

Em setembro de 1989, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria. Buscando fugir da crise econômica, milhares de alemães orientais aproveitaram a abertura do novo caminho e migraram para a Alemanha Ocidental. A fuga em massa do país pressionou o governo da érre dê a a também abrir suas fronteiras.

Depois, em novembro, o governo da érre dê a anunciou, em uma transmissão pela televisão, a abertura de todas as suas fronteiras com a Alemanha Ocidental. Em poucas horas, milhares de pessoas se reuniram ao redor do muro nos dois lados da cidade de Berlim. No mesmo dia, o muro caiu, sem que a polícia disparasse um único tiro. No ano seguinte, as duas Alemanhas foram reunificadas.

A queda do Muro de Berlim e dos regimes socialistas no Leste Europeu ajudou a impulsionar os movimentos separatistas na União Soviética. Em dezembro de 1991, quando catorze das quinze repúblicas soviéticas já tinham formalizado sua independência, o presidente da Rússia anunciou o fim da União Soviética e a criação da Comunidade dos Estados Independentes (sei). Assim, a grande potência socialista chegou ao fim. Na visão que se difundiu pelo mundo, era como se o capitalismo tivesse sido o grande “vencedor” da Guerra Fria.

Fotografia. Rua cinza larga, por onde passa uma mulher. Ela tem cabelos escuros e curtos, usa um casaco fino e calça bege e sapatos pretos. À esquerda, ao longo de toda a fotografia, há um muro grande com arte grafite. Na primeira cena, no canto esquerdo da foto, há um rosto de um homem, verde-amarelado. Ele tem os olhos vermelhos, os dentes à mostra em uma boca semiaberta. Com as mãos, cujos dedos são finos e pontudos, com unhas brancas, ele segura um celular próximo à orelha esquerda. Sobre essa figura, há duas janelas com cortinas brancas. Em uma delas, à esquerda, uma figura humana branca abre parcialmente a cortina e observa a rua. Na segunda cena, um homem de pele amarela com grandes dentes à mostra, tem, no nariz, um símbolo de cifrão. Ele segura com a mão direita encostado no corpo um objeto em formato de paralelepípedo, aparentando ser um edifício, com janelas amarelas emolduradas por um grosso traço preto. Atrás dele, há uma árvore e uma construção horizontal de dois pavimentos, com janelas e telhado vermelho. Atrás dessa construção, dois prédios cinzas, semelhantes ao que o homem segura na mão. Ao lado dele, um homem marrom está de tênis azul escuro, calças azul claras, blusa vermelha, tem um bigode no rosto e segura dois objetos claros, um deles na mão direita e, o outro, está junto ao corpo seguro pelo braço esquerdo. Ao lado dele, há mais duas figuras humanas, uma de pele amarela e cartola e outra de pele branca com blusa de mangas compridas e azul. Ao longo do restante do muro, há cores e formas distintas, não identificáveis devido ao ângulo da fotografia. As formas desse grafite não têm preocupação com o realismo, representando objetos e pessoas por meio de formas geométricas. No alto, céu em azul-claro sem nuvens e à direita, um prédio de cor clara visto parcialmente.
Quando falamos em queda do Muro de Berlim, é interessante notar que o termo “queda” é utilizado de maneira simbólica. Ainda hoje, há trechos do muro que permanecem em pé, como uma espécie de “monumento” que marca a história da cidade. O maior trecho remanescente do Muro de Berlim tem cêrca de 1.300 metros de extensão e foi transformado em galeria de arte ao ar livre. A East Side Gallery situa-se do lado leste do muro e reúne pinturas de artistas de todo o mundo. Fotografia de 2019.
Ícone. Seção Documento.

Documento

A queda do símbolo da Guerra Fria

Como vimos, no dia 9 de novembro de 1989, o governo da érre dê a anunciou a abertura de suas fronteiras com a Alemanha Ocidental. Isso significava que todos os cidadãos que viviam na érre dê a poderiam voltar a circular livremente pela Alemanha Ocidental sem serem barrados nas fronteiras.

Além disso, essa decisão fazia com que os moradores de Berlim Oriental pudessem cruzar o muro em direção a Berlim Ocidental. Por isso, em um clima de euforia e comemoração, milhares de pessoas se dirigiram aos arredores do Muro de Berlim naquele 9 de novembro e também nos dias seguintes. Algumas permaneceram próximas ao muro, festejando, e outras subiram na construção. Muitas pessoas, munidas de martelos ou de outros tipos de ferramenta, passaram a dar os primeiros golpes para a derrubada do muro.

Jornalistas do mundo todo, inclusive do Brasil, trabalharam na cobertura do acontecimento. Muitas fotografias foram tiradas naqueles dias, que marcaram, oficialmente, a “queda” do Muro de Berlim. Observe uma dessas fotografias.

Fotografia. Vista geral de local com centenas de pessoas em pé, vistas de costas, muitos com casaco de frio e tons de cinza, preto e marrom. Entre eles, faixas hasteadas no alto. Mais ao fundo, um muro de cor bege e marrom e pessoas sobre ele, voltadas para a frente, sentadas ou em pé. Mais ao fundo, um monumento alto retangular com colunas. No topo desse monumento, há uma estátua de cor azulada e uma bandeira hasteada na vertical, com faixas em três cores: no alto, a cor preta, no meio, a vermelha e, na base da bandeira, a cor amarela. À esquerda e à direita, há postes com lâmpadas de rua na vertical de rua. No alto, céu azul-claro sem nuvens.
Arredores do Muro de Berlim, em 10 de novembro de 1989.
  1. Observe a cena registrada e a quantidade de pessoas que participaram dos eventos que se sucederam ao dia 9 de novembro de 1989 em Berlim. Qual teria sido a importância desses acontecimentos para a população local?
  2. Elabore uma hipótese para explicar por que, na fotografia, há uma multidão posicionada em cima do muro, em pé.
  3. Por que, para muitos estudiosos, o Muro de Berlim era um “símbolo” da Guerra Fria? Explique.

A desagregação da Iugoslávia

Alguns dos acontecimentos mais trágicos relacionados ao fim do socialismo no Leste Europeu e ao fim da Guerra Fria como um todo ocorreram na Iugoslávia, na península Balcânica.

A Iugoslávia era constituída por seis repúblicas federadas (Sérvia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Eslovênia) e duas regiões autônomas ligadas à Sérvia (Voivodina e Kosovo). Esse mosaico de povos e culturas foi aglutinado em torno de um Estado após a Segunda Guerra Mundial, quando o então governo de iôsip bróz Tito adotou o modelo socialista de economia planificada.

O líder iugoslavo, porém, não conseguiu apagar as diferenças econômicas e culturais que havia entre as repúblicas. Também não impediu o descontentamento dos inúmeros povos em relação à maioria sérvia, que de fato governava o país. Com sua morte, em 1980, a frágil unidade política da Iugoslávia começou a ruir. Os efeitos da crise econômica da década de 1980, somados às mudanças em curso no bloco soviético, reacenderam os movimentos pela independência nacional no país.

As primeiras repúblicas a declarar independência foram a Croácia e a Eslovênia, em 1991. Iniciou-se, então, a primeira guerra na Iugoslávia, opondo sérvios e croatas. O reconhecimento dos novos países pela comunidade internacional obrigou as tropas sérvias a recuar, pondo fim ao conflito.

Fotografia. Vista de um local aberto com solo marrom, arenoso e com pedras. À  esquerda, construção em ruínas, com paredes e janelas danificadas, vigas na horizontal e na vertical, e pedaços de parede no chão. Ao centro, um homem com farda em tons de verde, de cabelos escuros e botas pretas com o corpo voltado para a direita, com braço esquerdo sobre o ombro de uma senhora, que, com a mão sobre os olhos e cabisbaixa, está de frente para ele. Ela tem um lenço escuro sobre cabeça, e usa blusa de mangas compridas, saia longa e um avental azul escuro, além de sapatos pretos. Ao fundo, há mais destroços e uma árvore de folhas verdes. No alto, céu em cinza-claro.
Ruínas de residência destruída por ataque aéreo das forças sérvias da Iugoslávia contra a Croácia, em setembro de 1991.

Os Jogos Olímpicos de 1992

A Iugoslávia, condenada por sua intervenção militar na Croácia e na Bósnia, foi impedida de participar dos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona, na Espanha. Os atletas iugoslavos, porém, puderam participar da competição como “participantes olímpicos independentes”.

Sem contar com uma bandeira que os identificasse, os atletas desfilaram na cerimônia de abertura segurando a bandeira do Comitê Olímpico Internacional.

Ícone. Sugestão de livro.

filipovíti, Zlata. O diário de Zlata. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. A garota Zlata filipovíti, de onze anos, escreve um diário e nele registra suas impressões sobre a guerra civil na Bósnia.

A guerra civil na Bósnia e outros conflitos na Iugoslávia

Em 1992, foi a vez de o Parlamento da Bósnia, após referendo popular, declarar a independência em relação à Iugoslávia. O novo país foi reconhecido pela União Europeia e pelos Estados Unidos, mas os sérvios que viviam na região eram contrários à independência e decidiram ir à guerra, opondo milícias sérvias a uma aliança de bósnios e croatas.

O conflito estendeu-se de 1992 a 1995. Os sérvios adotaram uma política de extermínio denominada “limpeza étnica”. Mais de 97 mil pessoas morreram, e cérca de 65% das vítimas eram bósnias. A repercussão do conflito levou a Otan a intervir com suas tropas, forçando um acordo de paz, em novembro de 1995. O Acordo de Dayton dividiu a Bósnia-Herzegovina em República Sérvia e Federação Bósnio-Croata.

Mais tarde, uma nova luta pela independência foi iniciada em Kosovo, província iugoslava de maioria muçulmana controlada pelos sérvios. Diante da política de extermínio e deportações, a Otan interveio. O conflito só terminou em junho de 1999.

As guerras civis na Iugoslávia resultaram em milhares de mortos e no desmembramento do país. Com a emancipação de Montenegro em relação à Sérvia, em 2006, e de Kosovo, dois anos depois, a antiga Iugoslávia reduziu-se a sete pequenos países.

O desmembramento da Iugoslávia (1991-2008)

Mapa. O desmembramento da Iugoslávia, de 1991 a 2008. 
Legenda: Linha verde na horizontal: Limites da antiga Iugoslávia.  
A antiga Iugoslávia era composta por: Eslovênia, com capital em Liubliana, Croácia, com capital em Zagreb, Bósnia-Herzegovina, com capital em Saraievo, Montenegro, com capital em Podgorica, Kosovo, com capital em Pristina, Macedônia, com capital em Skopie, Sérvia, com capital em Belgrado e Voivodina. A fonteira entre a Sérvia e a Voivodina está marcada com uma linha vermelha pontilhada, pois ela é, atualmente, uma província autônoma em relação à Sérvia. No mapa aparecem os seguintes países que faziam fronteira com a antiga Iugoslávia: Itália, Áustria, Hungria, Romênia, Albânia, e Grécia.
Na parte inferior do mapa, rosa dos ventos e escala de 0 a 85 quilômetros.

Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 90.

Fotografia. Vista geral de cidade com residências e prédios baixos e médios. Ao centro, há dois prédios três vezes mais altos e espelhados. O da direita está em chamas alaranjadas e amareladas. No alto, fumaça cinza se dispersa no céu. Mais ao fundo, outros prédios de tamanhos diversos e morros escurecidos. No alto, céu em tons de cinzas com nuvens espalhadas.
Bombardeios incendeiam prédios no centro de saraiêvo, na Bósnia-Herzergovina, em junho de 1992. A guerra civil na Bósnia estendeu-se de 1992 a 1995, quando então foi dividida em República da Sérvia e Federação Bósnio-Croata.

Uma nova ordem mundial

A desagregação do bloco socialista marcou definitivamente o fim da velha ordem bipolar e a emergência de uma nova ordem mundial. Mas quais seriam as características dessa nova ordem mundial? Como passou a funcionar essa nova configuração internacional do poder?

Em um primeiro momento, falava-se muito da “vitória” do capitalismo sobre o socialismo. Afinal, o bloco socialista havia chegado ao fim. Para muitos observadores e analistas que testemunharam os acontecimentos do início dos anos 1990, foi justamente naquele período que teve início o alinhamento ideológico e político de governos e organismos internacionais à hegemonia mundial exercida pelos Estados Unidos.

No entanto, a ideia de um mundo unipolar (ou seja, com a supremacia dos Estados Unidos) não se confirmou. O surgimento de novas potências econômicas, por exemplo, e a rearticulação de potências tradicionais sob novas estruturas de poder deram fórma a um cenário internacional cada vez mais complexo e descentralizado. Por isso, a tendência é dizer que a nova ordem mundial se caracteriza por uma configuração de poder multipolar.

Alguns eventos ocorridos a partir da década de 1990 nos mostram isso, como a reestruturação política e econômica da Alemanha após a reunificação; a consolidação da União Europeia; o fortalecimento econômico de potências asiáticas, principalmente da China; o crescimento econômico dos países emergentes, como Rússia, Brasil e Índia; e as graves crises que atingiram as economias mundias entre 2008 e 2011 e, principalmente, entre 2020 e 2021, com a pandemia da côvid dezenóve. Se, por um lado, a configuração da nova ordem mundial multipolar evidencia as diferentes correlações de fôrça que estão em disputa pela hegemonia de poder, por outro, é possível perceber a conexão e interdependência econômica entre os diversos países do mundo. A crise econômica que afetou os Estados Unidos em 2008, por exemplo, especialmente as instituições financeiras e o capital especulativo, teve repercussão global, atingindo as bolsas de valores da maioria dos países. A pandemia da côvid dezenóve que atingiu, a partir de 2020, as diversas populações do globo, teve como consequência uma profunda crise econômica, humanitária, social e de saúde, que também se alastrou mundialmente.

Fotografia. Pessoas com malas caminham por uma calçada, em fila, em direção a uma porta de entrada à direita. Elas são assessoradas por duas mulheres à esquerda, que usam máscaras de proteção cobrindo nariz e boca, calças e calçados escuros, colete amarelo fluorescente e termômetro em mãos. A figura central, que está prestes a entrar pela porta, usa roupas brancas, viseira plástica e máscara de proteção sobre o rosto, carrega uma mala rosa escuro e uma bolsa a tiracolo; atrás dela, está um homem com máscara de proteção e casaco cinza; ele aguarda com duas malas escuras. Há várias pessoas atrás desse homem, todas com máscaras de proteção. O lugar para onde eles se deslocam abriga algumas pessoas com máscaras de proteção e malas.
Passageiro com proteção contra contaminações em aeroporto internacional na cidade de Callao, no Peru, após retomada dos voos internacionais durante a pandemia da côvid dezenóve. Fotografia de 2020.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Sintetize o contexto socioeconômico e político que levou ao fim da União Soviética.
  2. Qual foi o significado, para o mundo, da queda do Muro de Berlim em 1989?
  3. Em 27 de julho de 1987, a revista estadunidense Time estampou em sua capa uma imagem de Mikhail Gorbatchóvi.
Capa de revista. Ao centro, o busto de um homem de cabelos grisalhos, com camisa de gola branca, gravata e terno em preto, com sobrancelhas escuras e boca um pouco aberta, parece ser uma pintura, ou uma fotografia manipulada para assemelhar-se a uma pintura. Ele olha para à direita. No contorno da capa, as margens estão em vermelho e, à direita e acima, há um detalhe no formato de um quadrado. No triângulo de cima desse detalhe, há uma fotografia do rosto de um homem de cabelos escuros e óculos de grau, com as mãos próximas ao queixo. No triângulo de baixo, palavras em inglês que remetem a uma notícia que consta naquele número de revista. Na parte superior, está o nome da revista e, do lado esquerdo, há dois textos em inglês.
Capa da revista Time de 27 de julho de 1987. Na chamada maior, ao alto e em inglês, lê-se: “A Revolução de Gorbatchóvi”; nos textos laterais, em inglês, lê-se: “Será que ele vai conseguir?” e “A Guerra Fria está acabando?”.

• Ao ler a legenda que acompanha a imagem, você notou que há, na capa da revista, duas perguntas relacionadas às ações de Gorbatchóvi na então União Soviética? Utilizando seus conhecimentos de História e os adquiridos ao longo deste Capítulo, elabore respostas para essas duas perguntas. Leve em consideração as reformas implantadas por Mikhail Gorbatchóvi na então União Soviética, em 1980, e seus resultados.

4. Em 1989, Francis Fukuyama, filósofo e economista estadunidense, ganhou destaque com a teoria de que a história havia chegado ao fim com o término da Guerra Fria e dos embates entre comunistas e capitalistas. Enaltecia, assim, o que ele julgava ser a supremacia do capitalismo diante de seus principais opositores. Finalmente, segundo o teórico, abria-se o caminho para a humanidade se beneficiar do eterno progresso, como apregoavam os liberais do século dezenove. Leia um trecho da principal obra desse autor:

reticências à medida que se revelam os padrões de vida, à medida que as populações se tornam cosmopolitas e melhor educadas, e à medida que a sociedade como um todo conquista uma condição de maior igualdade, o povo começa a exigir não apenas mais riquezas, mas reconhecimento de seu status. reticências

Dos diferentes tipos de regimes surgidos no curso da história da humanidade, desde monarquias e aristocracias até as teocracias religiosas e as ditaduras fascistas e comunistas deste século, a única fórma de governo que sobreviveu intacta até o fim do século vinte foi a democracia liberal.

FUKUYAMA, Francis. O fim da História e o último homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. página 13, 80.

Em grupo, discutam e registrem suas conclusões no caderno.
  1. A humanidade está no caminho de alcançar o estado de plena felicidade? O que falta para essa condição?
  2. A história pode realmente chegar ao fim? O que é a história?

5. A Iugoslávia foi uma das regiões mais impactadas pelo fim da União Soviética. Seu território foi desmembrado em vários países; sua população passou por guerras e massacres. Escolha um dos atuais países da região e pesquise sobre como ele alcançou sua independência. No caderno, redija uma breve dissertação sobre o impacto desse processo na situação atual do país escolhido.

CAPÍTULO 19  INOVAÇÕES E DESAFIOS DO MUNDO GLOBALIZADO

Você saberia definir o que é a globalização? Consegue perceber como o processo de globalização interfere em sua vida?

De modo geral, a globalização pode ser definida como o intenso intercâmbio econômico, social, cultural, de capitais, produtos, serviços e informações que marcam as relações entre os diversos países e que integram todo o planeta.

Segundo alguns estudiosos, esse intercâmbio teria se iniciado com as grandes navegações dos séculos quinze e dezesseis. No entanto, foi no século vinte, ao longo dos anos 1980, que esse intercâmbio passou a crescer muito, especialmente por causa das inovações nas tecnologias de informação e comunicação. A economia, então, adquiriu o caráter mundial e interdependente que pode ser visto hoje.

O comércio global estimulou a circulação mundial de produtos e a redução de seus preços. Esse comércio incentivou, também, o crescimento econômico de vários países chamados de emergentes ou em desenvolvimento, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, assim como a cooperação entre eles. Mas a interdependência entre os mercados pode ter consequências devastadoras, como ocorreu com a crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2008, que afetou as economias do mundo todo, e com a crise em decorrência da pandemia da côvid dezenóve, a partir de 2020.

Fotografia. Um homem sentado diante de um computador que está à esquerda da fotografia. Ele tem cabelos escuros, usa um par de óculos de grau e está com fones brancos nos ouvidos. Veste uma blusa de mangas compridas cinza, com gorro e está com cotovelos sobre a mesa, as mão entrelaçadas. À frente dele, uma tela do computador tem imagens de nove rostos. Sobre a mesa, uma xícara em tons de bege e, ao fundo, uma outra tela de computador, desfocada. No fundo e em desfoque é possível ver, ainda, um quadro, um vaso com uma planta verde, e uma viga inclinada, no canto superior esquerdo da foto, indicativo de que aquela construção é a escada de uma casa que leva ao pavimento superior.
Trabalhador participa de reunião on-line na África do Sul, em 2021. Atualmente, o avanço tecnológico no “mundo globalizado” possibilita às pessoas permanecerem conectadas durante as 24 horas do dia. Os avanços na comunicação e na conexão com a internet propiciaram que diversas atividades passassem a ser realizadas por meio do trabalho remoto.
Ciência e Tecnologia.

Novas tecnologias: a internet

Muitas mudanças trazidas pela globalização não teriam acontecido sem a internet, uma tecnologia que possibilita o trânsito de informações em escala planetária e em tempo real.

E como se deu o desenvolvimento da internet? Nos anos 1960, o governo dos Estados Unidos, preocupado em vencer a corrida armamentista com os soviéticos, encarregou a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa (Arpa, em inglês) de desenvolver novas tecnologias para fins militares. Com esse objetivo, os pesquisadores criaram uma rede de dados e um software que possibilitavam conectar os computadores da agência. Depois, na década de 1980, a rede se expandiu e recebeu o nome de internet. Nos anos 1990, ela se tornou um sucesso comercial, sobretudo quando os europeus criaram a dáblio dáblio dáblio (world wide web ou “rede mundial de computadores”), mais conhecida como web. A web é um sistema que propicia ao usuário acessar textos, imagens, sons e outros conteúdos interligados por sistemas eletrônicos de comunicação.

Atualmente, a internet tem agilizado a comunicação, aproximando pessoas de todas as partes do mundo, e provocado mudanças profundas no comportamento, na linguagem, nos costumes e nas relações humanas. Discussões, debates e trocas de ideias realizadas e divulgadas na internet, especialmente nas redes sociais, podem até mesmo influenciar profundamente o rumo dos acontecimentos em diversas partes do mundo, como a formação de opiniões, o resultado de eleições, a disseminação de notícias falsas, a organização de mobilizações coletivas e protestos políticos, o acesso a produções científicas e culturais de diferentes países etcétera

Usuários de internet no mundo em 2021 (por regiões geográficas)

Gráfico de barras. Usuários de internet no mundo em 2021, por regiões geográficas.
O eixo horizontal traz informações sobre os milhões de usuários em março de 2021, com os seguintes marcadores: 0, 500, 1.000, 1.500, 2.000, 2.500 e 3.000. O eixo vertical traz os nomes das regiões geográficas. 
A Ásia aparece no topo do eixo vertical, com 2.762 milhões de usuários em 2021; abaixo dela, está a Europa, com 737 milhões de usuários; a África aparece logo abaixo da Europa, com 594 milhões de usuários em 2021; a América Latina e Caribe aparecem abaixo da África, com 498 milhões de usuários no mesmo ano. A América do Norte contava com 348 milhões de usuários em 2021 e o Oriente Médio com 199 milhões. Por fim, na base do eixo vertical, a Oceania contava com 30 milhões de usuários em 2021.

Elaborado com base em dados obtidos em: INTERNET users in the World by Geographic Regions – 2021. ainternet World Stats. [sem local], [2022]. Disponível em: https://oeds.link/sbQ1ii. Acesso em: 11 março 2022.

Ícone. Sugestão de vídeo.

O DILEMA das redes. Direção: Jeff Orloviski. Estados Unidos, 2020. Duração: 94 minutos O docu mentário analisa a influência e o grande poder de vigilância que as redes sociais exercem na vida cotidiana dos seus usuários.

Meio Ambiente.

Problemas sociais e ambientais no mundo globalizado

O processo de globalização pode ter consequências devastadoras, especialmente no que se refere à interdependência entre os mercados. Como exemplo, podemos citar a recente crise em decorrência da pandemia da côvid dezenóve que se disseminou em todos os continentes, produzindo efeitos profundos na dinâmica econômica dos diversos países do globo e nas relações deles entre si.

A crise afetou intensamente as economias, inclusive de países desenvolvidos, e impactou muitos setores, como o de serviços, comércio, cultura e lazer. No entanto, ela também produziu efeitos inesperados, como o aumento da lucratividade de empresas que souberam aproveitar o contexto da pandemia para crescer e atuar de maneira mais específica, vendendo produtos e serviços de acordo com as necessidades do momento.

Houve um aumento considerável do desemprego, perda de rendimento e ampliação da pobreza e da miséria. Os efeitos da pandemia afetaram de fórma contundente os grupos sociais mais vulneráveis, representados por mulheres, negros e indígenas dos países em desenvolvimento. A pobreza e a pobreza extrema se aprofundaram com o crescimento das desigualdades econômicas e sociais no mundo durante esse período. A situação contrastante ocorreu apesar de a riqueza de parcelas da população e dos mais ricos ter aumentado com a alta dos preços dos imóveis e de outros produtos no período mais crítico da pandemia. Isso quer dizer que a população pobre e em extrema pobreza precisará de mais tempo para se recuperar da crise, enquanto os mais ricos rapidamente recuperaram suas perdas de rendimento e viram suas riquezas aumentarem, apesar de os problemas econômicos atingirem grande parte da população mundial.

Fotografia. Pessoas à direita, vistas da cintura para cima, de frente para uma mesa de madeira e comprida com inúmeras cuias brancas. As pessoas têm vasilhas, conchas, pegadores e outros utensílios nas mãos, e colocam comida dentro das cuias. Eles estão de touca branca e máscaras de proteção sobre o nariz e a boca. Mais ao fundo, há outras pessoas, com vasilhas cheias de comida em mãos e um outro homem, de frente para a câmera, vestindo um colete com três faixas amarelas na diagonal, e com máscara de proteção sobre a boca e o nariz.
Grupo de moradores da favela do Chapéu Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro, prepara comida para distribuir a pessoas em situação de rua no bairro de Copacabana durante a pandemia da côvid dezenóve. Fotografia de 2020.

A desigualdade social

Diminuir a desigualdade social entre os países e dentro de cada país é um dos maiores desafios do novo milênio. De acordo com o relatório Global Wealth Report 2021, a riqueza mundial atingiu, em 2020, cêrca de 418 trilhões de dólares. No entanto, um grupo pequeno de pessoas concentrava a maior parte dessa riqueza. Para ter uma ideia, 1,1% da população, em 2020, detinha 45,8% da riqueza mundial. Houve um aumento em 2020 do número de milionários no mundo, porém a distância entre os mais ricos e os mais pobres também aumentou, porque muitas pessoas ficaram desempregadas e sem renda durante a pandemia.

Segundo relatório da ônu, em 2020, 783 milhões de pessoas viviam na pobreza extrema, ou seja, com menos de um dólar e noventa cents por dia, representando 11% da população mundial.

Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Ciências

Saúde.

Os desafios da alimentação no mundo globalizado

Desde a década de 1960, os avanços tecnológicos têm aumentado a oferta de alimentos, e hoje a quantidade produzida é mais do que suficiente para abastecer toda a população mundial. Apesar disso, em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas passavam fome no mundo. Na outra ponta, é crescente o número de pessoas com obesidade, em virtude do sedentarismo e do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, pobres em termos nutricionais. Observe o gráfico e o quadro a seguir, que mostram a presença de obesidade entre adultos (maiores de 18 anos) e a desnutrição no mundo.

Obesidade adulta entre 2000 e 2014, por região (em %)

Gráfico de linhas. Obesidade adulta entre 2000 e 2014, por região, em porcentagem.  
No eixo vertical, constam dados de Prevalência (em porcentagem) da obesidade em adultos, entre 2000 e 2020, que vai de 0 a 45 por cento da população. No eixo horizontal, estão os anos de 2000, 2012, 2016 e 2020.  No ano de 2012, há uma linha pontilhada vertical.
Legenda: linha em azul contém os dados sobre o mundo; a linha em laranja contém os dados da África; a linha em vermelho contém os dados da Ásia; a linha em verde-claro contém os dados da América Latina e do Caribe; a linha em verde-escuro contém os dados da América do Norte, Europa e Austrália e Nova Zelândia; a linha em lilás contém os dados da Oceania, excluindo a Austrália e a Nova Zelândia.  
A linha azul que se refere aos dados mundiais, em 2000, estava pouco abaixo de 10, atingiu pouco mais de 10 em 2012 e em 2016 já estava mais próxima de 15.
A linha laranja, que se refere à África, em 2000, estava entre 5 e 10; em 2012 subiu para acima de 10; e, em 2016, estava entre 10 e 15.
A linha vermelha que se refere à Ásia, em 2000, estava abaixo de 5; em 2012 estava pouco acima de 5; e, em 2016, estava entre 5 e 10.
A linha verde claro que se refere à América Latina e ao Caribe, em 2000, estava próxima de 15; em 2012 estava entre 20 e 25; e, em 2016, já estava próxima a 30.
A linha verde escuro que se refere à América do Norte, à Europa e à Austrália e à Nova Zelândia, em 2000, estava pouco abaixo de 20; em 2012, atingiu 25; e, em 2016, já estava acima de 25.
A linha lilás, que se refere à Oceania, excluindo a Austrália e a Nova Zelândia, em 2000, estava pouco acima de 15; em 2012, estava pouco acima de 20; e, em 2016, estava próxima a 25.

Elaborado com base em dados obtidos em: FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS et al. The State of Food Security and Nutrition in the World 2021: Transforming food systems for food security, improved nutrition and affordable healthy diets for all. Roma: fáo, 2021. página trigésima quarta

DESNUTRIÇÃO NO MUNDO ENTRE 2000 E 2016, POR REGIÃO (em %)

2015

2016

2017

2018

2019

2020

África

16,9

17,5

17,1

17,8

18,0

21,0

Ásia

8,3

8,0

7,8

7,8

7,9

9,0

América Latina e Caribe

5,8

6,8

6,6

6,8

7,1

9,1

Oceania

6,1

6,2

6,3

6,2

6,2

6,2

América do Norte e Europa

< 2,5

< 2,5

< 2,5

< 2,5

< 2,5

< 2,5

Elaborado com base em dados obtidos em: FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS e outrosThe State of Food Security and Nutrition in the World 2021: Transforming food systems for food security, improved nutrition and affordable healthy diets for all. Roma: fáo, 2021. página 15.

  1. Observe o quadro que apresenta dados sobre a desnutrição no mundo. Em que regiões ela cresceu?
  2. Segundo o gráfico, os países desenvolvidos são os que apresentam o menor índice de desnutrição e as maiores taxas de obesidade entre adultos. A que você atribui essa relação? Explique.
  3. Qual seria a relação do consumo em excesso de produtos industrializados e o estilo de vida atual nas grandes cidades?
Meio Ambiente.

As mudanças climáticas

Apesar do desenvolvimento de tecnologias surpreendentes, de canais modernos de consumo e de inúmeros produtos eletroeletrônicos, é possível dizer que o planeta, hoje, sofre com a falta de um modelo de desenvolvimento que concilie o crescimento econômico com a preservação ambiental. Por isso, os cuidados com o meio ambiente e com sua preservação estão entre as principais tarefas da humanidade neste decorrer do século vinte e um. Governantes, instituições, empresas e sociedades como um todo devem pensar, juntos, em soluções para os problemas ambientais que ameaçam a qualidade de vida das atuais e das futuras gerações.

Em 2022, por exemplo, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (í pê cê cê, sigla em inglês), órgão das Nações Unidas que realiza estudos sobre o clima, divulgou um relatório apontando que a temperatura média do planeta subiu 1,1ºC desde 1900. Segundo o mesmo relatório, a temperatura continuará subindo, em uma velocidade cada vez maior, caso os países não reduzam a emissão de gases de efeito estufa. China, Estados Unidos e Rússia são os maiores emissores desses gases.

O í pê cê cê também alertou que esse aumento colocará em risco o abastecimento de água e a produção de alimentos em todo o mundo, além de provocar o derretimento das calotas polares, o que elevaria os níveis dos oceanos, fazendo desaparecer cidades, ilhas e até países inteiros.

É importante notar que o í pê cê cê já produziu grandes relatórios (nos seguintes anos: 1990, 1996, 2001, 2007, 2014 e 2022) e muitos documentos sobre as questões ambientais do planeta. Com base no relatório de 2014, os países-membros das Nações Unidas promulgaram, em dezembro de 2015, o Acordo de Paris, que pretende conter o aquecimento global criando metas para a redução de emissão dos gases de efeito estufa.

Fotografia. Uma grande geleira em tons de azul-claro, na horizontal, diante do oceano em tons de azul-escuro. No alto, céu em cinza. Ao centro da geleira, uma queda de água que cai sobre o oceano.
Derretimento da geleira no oceano Ártico, na Noruega. Fotografia de 2019. Nem toda a comunidade científica apoia as conclusões do í pê cê cê. Parte dos especialistas em clima reconhece a ocorrência de uma mudança climática global. Eles não admitem, porém, que essa mudança seja resultado da intervenção humana. Para eles, o aquecimento global é consequência de fatores naturais.
Ícone. Sugestão de livro.

BENSUSAN, Nurit. Meio ambiente: e eu com isso? São Paulo: Peirópolis, 2017. Com um texto leve e bem-humorado, este livro apresenta uma série de crônicas sobre os problemas ambientais enfrentados pelo mundo em nossos dias.

Meio Ambiente.

Os Estados Unidos e o Acordo de Paris

Em junho de 2017, o então presidente dos Estados Unidos, dônald tramp, anunciou que o país sairia do Acordo de Paris, firmado para que os países signatários regulem e até mesmo diminuam as emissões de gases do efeito estufa. Além disso, ao longo do governo de dônald trãmp, houve aumento no uso do carvão e do petróleo como fontes de energia e diminuição do uso de energias limpas e renováveis (como a eólica e a solar, por exemplo). Críticas, novamente, surgiram: essa decisão colocava os Estados Unidos na “contramão” do mundo, uma vez que o aumento do uso de fontes de energia renováveis é fundamental para a preservação do ambiente em longo prazo. Em 2021, o atual presidente dos Estados Unidos, jou baiden, pouco tempo depois de assumir seu mandato, anunciou a retomada do compromisso do país com o Acordo de Paris.

É importante compreender que, no mundo globalizado em que vivemos, as decisões tomadas por parte de governantes, instituições, grupos ou empresas devem levar em consideração o meio ambiente e o planeta como um todo. Afinal, segundo o relatório do í pê cê cê de 2022, é extremamente importante que Estados Unidos, China e Rússia diminuam a emissão de gases de efeito estufa, pois isso constitui ação importante para controlar o aumento da temperatura média do planeta.

Escassez de água

Graças ao seu ciclo natural, a água é um recurso renovável, mas suas reservas não são ilimitadas. Se o consumo continuar crescendo como nas últimas décadas, toda a água superficial do planeta estará comprometida em 2100. Hoje, cêrca de metade das terras emersas já enfrenta o problema da falta de água.

De acordo com um relatório da ônu publicado em 2021, 4 bilhões vivem em áreas com grave escassez de água durante um mês a cada ano. A maior parte dessas pessoas encontra-se em regiões da Ásia, do Pacífico e dos Estados Árabes.

Fotografia. Em primeiro plano, há três mulheres em uma rua. Da primeira delas, no canto esquerdo da foto, vemos apenas a mão e o braço direitos, e um tecido vermelho sobre o colo. As outras duas estão curvadas sobre três vasos cinza, em formato ovalado e com o gargalo mais estreito, como uma ânfora sem alças. Esses vasos estão alinhados a diversos galões de plástico claros com uma alça, próprios para coletar líquidos, com tampas de plástico nas cores vermelha, branca e preta. A mulher que está à esquerda usa uma camiseta branca e uma túnica vermelha, e cobre o nariz e a boca com um pano vermelho. A mulher que está ao seu lado, no centro da foto, usa uma túnica amarela, uma saia estampada e uma máscara vermelha, que protege seu nariz e sua boca. Atrás e ao lado dessas mulheres, há outras pessoas. Ao fundo, há construções e automóveis desfocados.
Pessoas aguardam para coletar água em meio à grave crise hídrica durante a pandemia da côvid dezenóve, em Daca, em Bangladesh. Fotografia de 2020.

Sociedades e culturas

Acompanhamos, até aqui, alguns dos inúmeros problemas e desafios presentes no mundo atual. Questões ambientais, desigualdade social, crises econômicas, pobreza, pandemias, intolerância e xenofobia, por exemplo, mostram que o processo de globalização pode, de fato, trazer impactos bastante complexos (por vezes, negativos) para boa parte da população do planeta.

E no campo cultural? Será que a globalização trouxe mudanças no jeito de se produzir, de transmitir, ou até mesmo no jeito de pensar a cultura? De modo geral, é possível dizer que sim: o cinema, a televisão e, principalmente, as já mencionadas novidades tecnológicas da informação e da comunicação, em especial a internet, têm promovido a formação de uma cultura de massas global. Os conteúdos e os produtos veiculados por esses meios tendem a uniformizar os padrões de consumo e de entretenimento, estimulando as pessoas a se interessarem pelos mesmos programas e a valorizarem as mesmas marcas. A uniformização cultural pode ser observada em alguns hábitos alimentares, como demonstra a expansão das redes de fast-food, ou nos conteúdos de entretenimento, por meio da difusão de filmes e séries de tê vê estadunidenses, europeus e asiáticos.

Ocidentalização?

Para muitos críticos culturais, a globalização promove a ocidentalização da cultura mundial, pois o que se observa é muito mais uma imposição de valores ocidentais do que um intercâmbio entre culturas.

Contudo, há autores que relativizam essa ocidentalização cultural, lembrando que, em muitos casos, há trocas culturais significativas. As culinárias chinesa, japonesa, indiana e mexicana, por exemplo, são apreciadas no mundo inteiro. Além disso, elas são, em muitos casos, adaptadas ao gosto local.

Fotografia. Em um ambiente fechado, dois homens são vistos de costas, diante de um balcão claro, sobre o qual há diversos objetos, incluindo máquinas de cobrança, pôsteres com propaganda de comidas e telas de dispositivos eletrônicos. À esquerda, um homem com poucos cabelos brancos, com camisa xadrez em branco, preto e azul-claro, com calça preta, guarda, com a mão direita, um objeto na sacola laranja que ele segura com a mão esquerda. À direita, um homem de cabelos pretos, com camisa em azul-escuro, calça bege e sapatos marrons, aguarda. Na parte superior, painéis com imagens de sanduíches e outros alimentos de preparo rápido. Atrás do balcão, há geladeiras com porta de vidro, uma mulher de costas com cabelos escuros, de camiseta vermelha e calça preta. Ela é funcionária do local e recolhe um alimento de dentro de um equipamento para mantê-lo aquecido, com um pegador.
Pessoas em Róng Kóng, na costa sul da China, comprando alimentos em uma rede de lanchonetes internacional. Fotografia de 2020.
O paradoxo da globalização

Refletir sobre a cultura nos tempos de globalização é algo muito complexo. Isso porque o processo de integração e comunicação cultural global, que tem como base os padrões e os valores ocidentais, convive com outra tendência, aparentemente contraditória: a reafirmação das culturas locais ou nacionais.

Em várias regiões do mundo, os movimentos pela independência nacional renasceram ou ganharam um novo vigor, demonstrando que algumas culturas locais e tradições étnicas sobrevivem ao mundo globalizado. A região dos Bálcãs, a África Subsaariana, o Tibete e a Federação Russa são alguns exemplos desse processo.

O escritor e crítico cultural indiano Pankaj Mishra observou, após cinco anos de viagem pela Ásia, a tensão entre o movimento de globalização-modernização e a persistência das características locais. Ao tratar do Tibete e de sua resistência tanto à lógica do Ocidente quanto à opressão da China, Mishra vê, na resistência religiosa e localista dos tibetanos, uma alternativa para o mundo e uma chance de liberdade:

Tendo de enfrentar um materialismo agressivamente secular, eles ainda podem provar, quase sozinhos no mundo, como a religião, em geral desconsiderada reticências, pode ser uma fonte de identidade cultural e de valores morais.

MISHRA, Pankaj. Tentações do Ocidente: a modernidade na Índia, no Paquistão e mais além. São Paulo: Globo, 2007. página 438.

Fotografia. Em um local com o chão formado de pedras cinzas, há dezenas de homens sentados em círculo sobre o chão. Eles têm cabelos escuros, sendo que alguns são carecas, usam vestes longas em vermelho-escuro, com camiseta amarela. Ao fundo, outros homens com o mesmo tipo de vestimentas estão em pé e, mais ao fundo, há outros, sentados. Em segundo plano, vegetação com folhas verdes.
Monges budistas em Lhasa, no Tibete. Fotografia de 2020.
Ícone. Sugestão de livro.

CHIAVENTATO, Júlio José. Ética globalizada e sociedade de consumo. São Paulo: Moderna, 2015. O livro traz interessantes reflexões sobre os significados da globalização e seus reflexos na vida das pessoas no Brasil e no mundo.

Fundamentalismo religioso e intolerância

O fundamentalismo é um fenômeno cada vez mais em evidência no mundo globalizado e existe praticamente em todas as religiões, como esclarece o teólogo e escritor Frei Betto no texto a seguir.

O fundamentalismo sempre existiu nas tradições religiosas. Ele consiste em interpretar literalmente o texto sagrado, sem contextualizá-lo, extraindo deduções alegóricas e subjetivas como a única verdade universalmente válida. Para o fundamentalista, a letra da lei vale mais que o espírito de Deus. reticências

BETTO, Frei. Fundamentalismo cristão. Correio da Cidadania, São Caetano do Sul, 23 novembro 2004. Disponível em: https://oeds.link/1oFGwX. Acesso em: 12 março 2022.

O fundamentalismo islâmico é uma das diversas expressões do fundamentalismo. Ele surgiu na década de 1920. Inicialmente, os grupos fundamentalistas eram movimentos de natureza religiosa e social que promoviam campanhas de alfabetização e de assistência à população mais pobre. O objetivo maior deles era buscar soluções próprias para os problemas nacionais com base na tradição islâmica.

A formação desses grupos foi motivada por condições específicas locais. No Oriente Médio, resultou principalmente da criação do Estado de Israel e dos conflitos que se seguiram entre Israel e os países árabes. No Afeganistão, surgiu durante a invasão soviética, que dividiu o país e trouxe violência e pobreza. As crises não resolvidas no Oriente Médio e a política intervencionista e unilateral dos Estados Unidos contribuíram para disseminar o fundamentalismo islâmico em vários países. A atuação central desses grupos continuou sendo a formação política e religiosa, a assistência social e o recrutamento de militantes, mas os atos terroristas ganharam peso.

Fotografia. Sobre uma calçada cinza, seis pessoas estão de costas. Ao fundo, uma grande escultura cinza escuro representando um leão está sobre uma plataforma, na altura dos olhos das pessoas. Sobre e à frente da plataforma e sobre a escultura, há diversos objetos. Entre eles, bandeiras em azul, branco e vermelho, flores, velas, pedaços de papéis, cartazes e fotografias.
Homenagem às vítimas do atentado terrorista promovido por grupo islâmico fundamentalista em Paris, em novembro de 2015. Fotografia de janeiro de 2016. Os fundamentalistas islâmicos agem contra o que chamam de “modelo de vida do Ocidente”.
Globalização e terrorismo

As ações terroristas no século vinte e um estão relacionadas às características da nova ordem mundial: as imensas desigualdades geradas pela globalização, o consumismo e os choques entre uma cultura global e as identidades locais.

Uma das ações terroristas mais impactantes ocorreu em 2001, nos Estados Unidos. Em 11 de setembro daquele ano, aviões foram sequestrados e lançados contra as torres gêmeas do conjunto comercial World Trade Center, localizado em Nova iórque e considerado símbolo do capitalismo, e contra o Pentágono, séde do poder militar dos Estados Unidos. Os atentados, que vitimaram cêrca de 3 mil pessoas, foram transmitidos em tempo real para todo o mundo e teriam sido promovidos pelo grupo fundamentalista islâmico Al Caeda, liderado pelo saudita Osama bin Laden.

O governo dos Estados Unidos, com o apoio do governo britânico, reagiu ao ataque com uma ofensiva militar contra o Afeganistão, país acusado de abrigar Osama bin Laden, isolando a milícia do Talibã, grupo extremista islâmico que governava o país. Em dezembro de 2001, com o apoio da ônu, os Estados Unidos nomearam um novo governo para o Afeganistão. Um acordo previa a retirada das tropas internacionais do país até o fim de 2014. No entanto, o governo dos Estados Unidos manteve tropas no Afeganistão até 2021, por quase 20 anos.

Guerras no Oriente Médio

Depois do Afeganistão, o governo estadunidense acusou o ditador iraquiano Saddam russên de financiar grupos terroristas e de fabricar armas de destruição em massa. Mesmo sem comprovar a existência dessas armas e sem a autorização da ônu, em 2003 os Estados Unidos invadiram o país. Calcula-se que 105 mil civis e quase 5 mil militares morreram no conflito. cêrca de 1,8 milhão de iraquianos abandonaram o país e hoje vivem como refugiados. Em agosto de 2010, o então presidente Barack Obama anunciou o fim das operações no Iraque. Contudo, até 2021, as tropas estadunidenses permaneceram no país.

Fotografia. À frente, solo com pouca vegetação rasteira e seca em tons de bege e verde. Há dois tanques de guerra com oito rodas em tons de bege e marrom. Sobre eles, há sacos, pneus e sacolas de pano e, na parte superior, soldados sentados. Perto dos carros, outras dezenas de soldados em pé, usando blusa de mangas compridas e calça em tons bege. Ao fundo, morros altos em tons de marrom-claro.
Fuzileiros navais estadunidenses formam comboio próximo a Kandahar, preparando-se para invadir o território. Afeganistão, em 2001.
Estado Islâmico

O grupo Al Caeda, que ganhou fama com os ataques às torres gêmeas, foi ofuscado pelas ações de uma organização sunita criada em 2013: o autointitulado Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ísis) ou simplesmente Estado Islâmico. O grupo foi criado pela fusão de um grupo extremista da Síria com a seção da Al Caeda no Iraque.

O Estado Islâmico adota uma interpretação radical do Corão e das profecias de Maomé. Seu objetivo é combater os infiéis (categoria que abrange judeus, cristãos, muçulmanos xiitas, entre outros) e estabelecer um grande califado islâmico com as mesmas fronteiras do antigo Império Árabe medieval. Entre 2014 e 2015, a área controlada pelo Estado Islâmico se estendia do oeste do Iraque ao leste da Síria.

Contudo, a partir de 2017, o Estado Islâmico começou a perder territórios. Até junho daquele ano, o grupo havia perdido 60% da área que anteriormente controlava e 80% de sua receita. De modo geral, isso ocorreu após ter sido expulso de duas importantes cidades que anteriormente ocupava: Mossul, no Iraque, e Raqqa, na Síria. Com isso, o grupo enfraqueceu. Segundo estudiosos, o financiamento do grupo dependia do contrôle de vastas áreas, cobrando impostos das populações dominadas e saqueando antiguidades.

Atualmente, o Estado Islâmico passou a concentrar suas ações em atentados, tomando para si a autoria de diversos atos terroristas ocorridos em variadas partes do mundo.

Fotografia. Vista de um local aberto, com uma via cinza, pela qual passa um homem de casaco preto, camisa azul e calça escura, com uma bicicleta. No centro da foto, ao lado desse homem, há inúmeras pedras, provavelmente escombros da construção em ruínas que está ao fundo, com as paredes quebradas. Parte da construção permanece de pé: é possível ver um cômodo amplo que, embora sem paredes, ainda está coberto por um teto em ruínas.
Região destruída por combates com militantes do Estado Islâmico, em mossúl, no Iraque. Fotografia de 2022.

Terrorismo?

A definição do termo “terrorismo” é muito controversa. Para a ônu, os atos ligados ao terrorismo seriam atos criminosos, extremistas e calculados para provocar um estado de terror em pessoas, grupos e ou ou Estados. Para outros pesquisadores, a ideia de terrorismo pode ir além dos atos violentos: ações como propagar epidemias, contaminar águas, desorganizar sistemas de transporte coletivo e procurar desestruturar sistemas de comunicação também podem ser considerados atos terroristas.

De todo modo, diferentes atos terroristas têm em comum a ideia de causar temor entre a população e mobilizar as redes sociais e a imprensa, chamando a atenção para as causas e os objetivos de determinados grupos e organizações que praticam tais atos.

Os refugiados: uma questão internacional

A situação dos refugiados também aparece, hoje, como uma questão fundamental para a compreensão do mundo global. De acordo com a Agência da ônu para Refugiados (áquinur), são refugiados

reticências as pessoas obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos.

QUEM pode ser considerado refugiado? áquinur. Brasília, Distrito Federal, [2009]. Disponível em: https://oeds.link/KcrULh. Acesso em: 12 março 2022.

Uma das funções da áquinur é assegurar que os refugiados possam obter asilo em outro país. A agência também busca garantir a segurança física e os direitos básicos dessas pessoas, como assistência médica, trabalho, educação de qualidade e direitos civis, incluindo a liberdade de pensamento e a liberdade de deslocamento.

Muitas vezes, porém, os países de acolhida não se dispõem ou não conseguem garantir esses direitos. Os noticiários mostram constantemente campos de refugiados em que as condições de vida são extremamente precárias.

Esse é o caso da maioria dos sírios que vivem em acampamentos na Turquia, no Líbano, na Jordânia, no Iraque e no Egito. Em 2020, depois de nove anos de uma sangrenta guerra civil, a áquinur afirmou que já existiam 6,7 milhões de refugiados sírios.

Muitos deles tentam chegar à Europa usando botes e barcos improvisados para atravessar o mar Mediterrâneo. Além dos riscos da viagem, as restrições para o ingresso de refugiados frustram as esperanças de grande parte daqueles que buscam um recomeço.

Fotografia. Em alto mar, de cor azul-escuro, uma embarcação de tamanho médio com dezenas de pessoas dentro, usando colete salva-vidas em laranja. A maioria usa máscara de proteção, em azul-claro, cobrindo o nariz e a boca. Ao fundo, outra embarcação pequena passando rápido para a esquerda. Mais ao fundo, outra embarcação grande de cor branca e mastro na vertical. No alto, céu azul-claro com poucas nuvens.
Refugiados e imigrantes de diversas nacionalidades aguardam resgate próximos a Malta, no Mar Mediterrâneo, em 2021.
Ícone. Ilustração de um círculo de quatro cores, montado como um quebra-cabeça, sobre uma mão, indicando a seção Integrar conhecimentos.

Integrar conhecimentos

História e Geografia

Quem são e onde estão os refugiados do mundo

Em 2020, a Agência da ônu para Refugiados (áquinur) divulgou um relatório sobre a situação dos refugiados no mundo com algumas conclusões sobre essa problemática após a realização de estudo. Leia trechos da pesquisa e observe o gráfico a seguir.

O áquinur (Agência da ônu para Refugiados), faz hoje um chamado aos líderes mundiais para que acelerem seus esforços para promover a paz, estabilidade e cooperação a fim de estancar e começar a reverter uma tendência de crescimento no deslocamento forçado por violência e perseguição que já dura quase uma década.

Apesar da pandemia da côvid dezenóve, o número de pessoas fugindo de guerras, violência, perseguições e violações de direitos humanos em 2020 subiu para quase 82,4 milhões reticências. A nova cifra é 4% maior que os 79,5 milhões registrados ao final de 2019 – maior número verificado até então.

reticências

“Atrás de cada número há uma pessoa forçada a fugir de sua casa e uma história de deslocamento, perda de bens e sofrimento. Estas pessoas merecem nossa atenção e apoio não apenas com ajuda humanitária, mas com soluções duradoras para sua situação”, disse o Alto Comissário da ônu para Refugiados, Filippo Grandi.

reticências

Meninas e meninos com até 18 anos de idade representam 42% de todas as pessoas forçadas a se deslocar. Eles são especialmente vulneráveis, ainda mais quando as crises perduram por muitos anos. reticências

áquinur: Líderes mundiais devem agir para rever a tendência crescente de deslocamento. áquinur. Brasília, Distrito Federal, 18 junho 2021. Disponível em: https://oeds.link/sZ9jmH. Acesso em: 12 março 2022.

Principais países de origem de deslocados à fôrça até meados de 2021

Gráfico de barras. Principais países de origem de deslocados à força até meados de 2021.
No eixo vertical, dados de países diversos e, no eixo horizontal, o números de 0 a 5.000. 000.
Legenda: barra em azul-claro refere-se a refugiados; barra em vermelho refere-se a venezuelanos deslocados; barra em verde refere-se a solicitantes da condição de refugiado. 
De acordo com o gráfico, a Síria é o país com maior número de deslocados à força. Depois dela, estão a Venezuela, o Afeganistão, o Sudão do Sul, Mianmar, a República Democrática do Congo, o Sudão, a Somália, a República Centro-Africana e o Iraque.
A Síria apresenta muito mais de 5.000.000 de pessoas deslocadas à força, em sua maioria refugiados além de uma pequena quantidade de solicitantes da condição de refugiado. A Venezuela conta com uma pequena quantidade de refugiados, um pouco mais de solicitantes da condição de refugiado e uma grande maioria de deslocados. 
O Afeganistão apresenta grande quantidade de refugiados e pequena quantidade de solicitantes da condição de refugiados. 
No Sudão do Sul há grande quantidade de refugiados e uma quantidade mínima de solicitantes da condição de refugiado. 
Mianmar, República Democrática do Congo, Sudão, Somália e República Centro-Africana apresentam grande quantidade de refugiados e poucos solicitantes da condição de refugiado. 
No Iraque, metade dos deslocados à força são refugiados e a outra metade são solicitantes da condição de refugiado.

Fonte: DADOS sobre refúgio. áquinur. Brasília, Distrito Federal, junho 2021. Disponível em: https://oeds.link/exiypN. Acesso em: 25 maio 2022.

  1. Segundo o texto, quais são as principais causas dos deslocamentos forçados?
  2. De que locais do mundo sai a maior parte das pessoas em situação de deslocamento forçado?
  3. Em grupos, escolham um desses locais e façam uma breve pesquisa para entender por que tantas pessoas saem desses países como refugiados.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Cite alguns pontos positivos e negativos da expansão das redes sociais na internet.
  2. Em 2015, o linguista, filósofo e ativista político estadunidense Noam Tchonsqui concedeu uma entrevista ao jornalista deivid barsãmianem que expôs suas opiniões a respeito da “semente” do Estado Islâmico (ísis).

Há uma interessante entrevista reticências com grém fuler, um ex-agente da cía reticências, sobre o Oriente Médio. O título é “Os Estados Unidos criaram o ísis”. reticências Fuller apressa-se em frisar que sua hipótese não significa dizer que os Estados Unidos da América decidiram dar existência ao ísis e, em seguida, o financiaram reticências – é que os Estados Unidos da América criaram o pano de fundo em que o ísis cresceu e se desenvolveu. reticências

Em 2003, os Estados Unidos da América e a Grã-Bretanha invadiram o Iraque, um crime grave. reticências

Parte do “brilhantismo” da fôrça de invasão reticências foi separar os grupos – sunitas, xiitas e curdos – uns dos outros, e instigá-los uns contra os outros. reticências

barsãmian deivid. Chomsky: o mundo que nossos netos herdarão? Diário Liberdade, Galiza, 30 março 2015. Disponível em: https://oeds.link/xOW0Rd. Acesso em: 12 março 2022.

• O que o ex-agente da cía grém fuler quis dizer quando afirmou que os Estados Unidos criaram o Isis?

  1. Em grupos, façam uma pequena pesquisa sobre o Marco Civil da Internet, que estabeleceu regras visando garantir direitos e responsabilidades para os usuários e provedores da rede. Qual é a opinião de vocês sobre o tema?
  2. No texto a seguir, um dos historiadores mais importantes do século vinte e início do século vinte e um relata sua experiência em relação ao atentado terrorista às torres gêmeas de Nova iórque. Leia-o e responda às questões.

Eu [vi o atentado] enquanto acontecia, na tela de televisão de um hospital de Londres. reticências uóshinton anunciou que o 11 de setembro mudara tudo e, ao fazê-lo, efetivamente tudo mudou, por haver-se declarado único protetor da ordem mundial e definidor das ameaças contra ela.

reticências o 11 de setembro provou que vivemos todos em um mundo no qual um único hiperpoder global finalmente resolvera que, a partir do fim da União Soviética, não há limites reticências para seu poderio nem para sua disposição de utilizá-lo reticências. O século vinte terminou. O século vinte e um começa com crepúsculo e obscuridade.

róbisbáum, Eric. Tempos interessantes: uma vida no século vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. página 447-448.

  1. Por que o autor do texto afirma que o século vinte e um começou com “crepúsculo e obscuridade”?
  2. Qual seria o maior problema do mundo após o atentado, na visão de róbisbáum?

5. A história em quadrinhos a seguir faz uma leitura crítica dos valores e das relações humanas na sociedade contemporânea. Interprete essa crítica e exponha sua visão sobre o assunto.

História em quadrinhos. A história em quadrinhos é composta por três quadros. As cenas se passam em lugares diversos com personagens diferentes.  
Próximo ao primeiro quadrinho, está o título: Quadrinhos dos anos 10.
No quadro 1, lê-se: Mais do que viver o momento, o importante era registrá-lo.  
Na ilustração, há um carrinho de montanha russa com quatro homens sentados se movimentando para a direita. Cada um deles segura em sua mão um dispositivo, provavelmente uma câmera fotográfica. Um deles usa par de óculos de sol. 
No segundo quadrinho, lê-se: E QUANDO ANOITECIA, AS PESSOAS PRATICAVAM UMA FORMA BIZARRA DE SOLIDÃO EM GRUPO.  
Na ilustração, há um prédio visto parcialmente em dois andares. Na parte superior, vê-se, pela janela do apartamento, um homem de cabelos escuros sentado de frente para tela de computador. No andar inferior, um outro homem está sentado com o corpo voltado para a esquerda, de frente para computador. Mais ao fundo, silhueta de outros prédios em cinza e uma lua amarela. 
No terceiro quadrinho, lê-se: AMOR E PROTEÇÃO DE VERDADE, SÓ PARA O DEUS DAQUELA ÉPOCA.  
Na ilustração, há um cofre forte em cinza, e, abraçada a ele, um esqueleto em branco, vestindo camiseta de manga longa listrada e calça, todas brancas. Ele tem fios finos de cabelo sobre a cabeça.
DAHMER, André. Quadrinhos dos anos 10. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. página 171.

CAPÍTULO 20  O BRASIL NO MUNDO GLOBALIZADO

Com o fim da ditadura, como você já sabe, uma Assembleia Nacional Constituinte foi instalada no Congresso Nacional, em Brasília, no dia nota de rodapé 1º de fevereiro de 1987. A nova Constituição foi promulgada em setembro de 1988. Todo o processo de redemocratização no Brasil, assim como a elaboração da Constituição Federal de 1988, também chamada de “Constituição Cidadã”, foi marcado por muita esperança: o desejo dos cidadãos e cidadãs brasileiros, naquele momento, era o de vivenciar a democracia.

No entanto, podemos considerar que a redemocratização no país é até o momento um processo em construção. O Brasil, mantendo um regime democrático há mais de três décadas, enfrenta alguns desafios no aperfeiçoamento de suas instituições e na ampliação dos direitos sociais e da cidadania plena a toda a população.

No início do século vinte e um, o país alcançou avanços importantes, com a diminuição das desigualdades, com a ampliação do acesso a diversos direitos por grupos sociais marginalizados, como indígenas, negros, mulheres, homossexuais, camponeses e pobres. No entanto, muitas das conquistas de direitos sociais e avanços econômicos entraram em uma fase de retração após a crise que se iniciou no país com a pandemia da côvid dezenóve, com o recente aumento da pobreza, do desemprego e das desigualdades. Atualmente, ainda são grandes os desafios para o amplo desenvolvimento humano, econômico e social no Brasil.

Fotografia em preto e branco. Vista do alto da plataforma onde está uma mesa abaulada cinza, em cuja base escura há o brasão da república brasileira, no centro. Atrás dessa mesa há diversas pessoas sentadas e em pé, algumas delas com microfones à frente. Algumas batem palmas, outras sorriem, e elas olham em diferentes direções. O degrau inclinado, à frente da mesa abaulada, tem uma bandeira do Brasil estendida. Abaixo desse degrau, é possível ver diversas pessoas do ombro para cima, a maioria de costas, voltadas para a mesa. Há folhas de papéis inteiras e picadas por todo o ambiente.
A Assembleia Nacional Constituinte instalada em 1987, responsável pela elaboração da Constituição de 1988, contava com deputados federais, senadores e alguns estudiosos e especialistas em temas como cidadania, educação, saúde e direito. Votação final e promulgação da Constituição de 1988.

Governos e políticas sob o regime democrático

Em novembro de 1989, ocorreram, finalmente, as primeiras eleições diretas para a presidência da república desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960.

O primeiro turno das eleições de 1989 contou com um amplo número de candidatos: eram 22 no total. Depois, no segundo turno, o ex-governador de Alagoas Fernando cólor de Mello, do pê érre êne (Partido da Reconstrução Nacional), disputou as eleições com o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, do pê tê (Partido dos Trabalhadores).

cólor conquistou o voto da maioria do eleitorado ao se apresentar como um candidato jovem e dinâmico, capaz de moralizar e modernizar o país. Lula, mesmo tendo grande apelo popular, foi visto por muitos setores da sociedade como radical, principalmente por sua proposta de reforma agrária, temida pelos latifundiários.

O governo de cólor

cólor foi eleito com 36 milhões de votos, contra 31 milhões de Lula. Ao assumir, ele lançou um plano de combate à inflação extremamente ousado. Entre outras medidas, o Plano cólor, como ficou conhecido, estabeleceu o congelamento de preços e salários e o bloqueio de todos os depósitos em conta-corrente, investimentos e cadernetas de poupança que excedessem o valor de 50 mil cruzados novos. O plano também modificou a moeda em circulação no país: o cruzado novo foi substituído pelo cruzeiro.

Embora a inflação tenha caído de 81% em março para 9% em junho de 1990, ela voltou a crescer meses depois. O país passou a enfrentar também aumento do desemprego, arrocho salarial e paralisação da atividade produtiva. A popularidade do presidente despencou.

Fotografia. Um grupo de homens e mulheres em pé, em um ambiente fechado. Ao centro, há dois homens, um de frente para o outro. À esquerda, o homem de cabelos e barba grisalhos, de terno azul-escuro, segura nas mãos uma faixa amarela e verde, e a coloca sobre o pescoço de um outro homem, que se curva para receber a faixa. Este homem tem cabelos escuros, usa camisa de gola branca e terno azul-escuro. Em segundo plano e à esquerda, há uma mulher de cabelos escuros em coque para trás, de terno feminino e saia em rosa e detalhes em preto, brinco e colar branco. Ela olha para a direita. Na outra ponta, há uma mulher de cabelos longos e castanhos e terno feminino azul-escuro, de saia e botões dourados. Ao centro, atrás dos dois homens, há um outro homem de cabelos escuros, de camisa branca, gravata e terno escuro. Em segundo plano, outros homens em pé de terno.
Fernando cólor de Mello recebe a faixa presidencial do ex-presidente José Sarney, em Brasília, em 15 de março de 1990.
A renúncia de cólor e o governo de Itamar Franco

A crise do governo de cólor agravou-se ainda mais quando, em maio de 1992, seu irmão, Pedro cólor, veio a público denunciar um esquema de corrupção e tráfico de influência envolvendo o presidente e aliados políticos. As denúncias levaram à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (cê pê i), encarregada de conduzir as investigações.

Nas ruas, cresceram as manifestações contra o presidente, e o movimento estudantil retomou sua tradição de luta. Vestidos de preto e com o rosto pintado nas cores da bandeira, o movimento dos “caras-pintadas” ganhou as ruas, exigindo o impeachmentglossário do presidente.

No final de setembro, a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment e aprovou o afastamento de cólor até que o Senado julgasse o caso. O vice-presidente, Itamar Franco, assumiu a presidência e, em dezembro, antes que o impeachment fosse votado pelo Senado, cólor renunciou ao cargo para não ter seus direitos políticos cassados. Mesmo com a renúncia, cólor foi condenado por crime de responsabilidade e teve seus direitos políticos suspensos por oito anos.

Empossado definitivamente na presidência após a renúncia de cólor, Itamar Franco propôs um governo de união nacional, integrando todas as fôrças político-partidárias de expressão no país. O principal desafio do governo de Itamar foi o combate à inflação. Para isso, nomeou o sociólogo Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Fazenda.

No final de 1993, Fernando Henrique iniciou a implantação do Plano Real, um programa de estabilização econômica que criou uma nova moeda para o país, o real. A nova moeda começou a circular em 1º de julho de 1994. Recebido inicialmente com ceticismo, o plano foi bem-sucedido. A inflação foi reduzida e, ao mesmo tempo, o poder de compra da população aumentou.

O sucesso do plano refletiu-se nas eleições presidenciais de outubro de 1994, quando seu criador, Fernando Henrique Cardoso, concorrendo pelo Pê ésse dê bê, foi eleito no primeiro turno com 54% dos votos válidos.

Fotografia. Muitos jovens aglomerados, vistos dos ombros e do rosto para cima, com pinturas em tons de preto, amarelo e verde no rosto. Entre eles, meninos e meninas, alguns batendo palma com os braços erguidos, olhando para frente.
Jovens, que ficaram conhecidos como caras-pintadas, em manifestação em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, contra o governo de cólor, em 1992. Estudantes em todo o país foram às ruas exigir o impeachment do então presidente.
O governo de Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso assumiu a presidência do Brasil em janeiro de 1995. Seu principal compromisso era dar continuidade à política de estabilização econômica iniciada com o Plano Real, baseada principalmente na redução do déficit público. Para isso, éfe agá cê, como ficou conhecido, acelerou o programa de privatizações de companhias estatais e iniciou uma reforma constitucional, visando enxugar a máquina administrativa.

A adoção das medidas relacionadas à venda das companhias estatais durante o governo de Fernando Henrique Cardoso suscitou grandes debates e a resistência de setores da sociedade contrários às privatizações.

Em junho de 1997, o Congresso aprovou uma emenda constitucional permitindo a reeleição de prefeitos, governadores e do presidente da república. Na época, havia a suspeita de compra de votos para que a emenda fosse aprovada, mas, mesmo assim, éfe agá cê concorreu a um novo mandato presidencial e foi reeleito em outubro de 1998.

No campo social, algumas conquistas positivas marcaram o segundo mandato do governo de éfe agá cê. Na área da educação, a criação do Bolsa Escola, do Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental (fundéfi), a ampliação das matrículas escolares e a redução dos índices de analfabetismo no país. Na área da saúde, destacam-se a redução da mortalidade infantil, o programa de combate ao agá í vê (vírus da imunodeficiência humana) e a lei que autorizou a comercialização dos medicamentos genéricos, o que reduziu significativamente o preço de muitos remédios consumidos pela população.

Mesmo com as privatizações, a dívida pública triplicou, e a inflação e o desemprego voltaram a crescer. Por causa disso, o Pê ésse dê bê, partido do presidente, não conseguiu eleger seu sucessor nas eleições de 2002.

Fotografia. Um homem visto da cintura para cima, de frente para um púlpito, com um par de microfones pretos à frente. Ele tem cabelos grisalhos, usa um par de óculos de grau no rosto, está de camisa azul claro, de gravata lilás e terno preto. Ele olha para a direita, com a mão direita espalmada para frente. Ao fundo, duas bandeiras hasteadas na vertical (a da esquerda é a bandeira do Brasil e, a da direita, a da República). Ao centro, há um símbolo dourado, visto parcialmente.
O presidente Fernando Henrique Cardoso durante sanção de projeto de lei, em Brasília, em 1999.
Ícone. Sugestão de site.

BIBLIOTECA Virtual do Estudante Brasileiro – úspi. Disponível em: https://oeds.link/co8PZU. Acesso em: 25 maio 2022. Este site abriga uma biblioteca virtual, com muitos livros, textos, dissertações e teses disponíveis para a leitura do público em geral.

A economia brasileira globalizada

O governo de Fernando Henrique teve um papel importante no processo de transformações econômicas que definiria uma nova posição para o Brasil no cenário internacional na era da globalização.

Desde o início dos anos 1990, tanto o Brasil como a maior parte dos países da América Latina passaram a seguir diretrizes econômicas neoliberais, recomendadas por um conjunto de instituições financeiras internacionais sediadas em uóshinton, entre as quais o Fundo Monetário Internacional (éfe ême í) e o Banco Mundial. Divulgadas em 1989, essas diretrizes, que ficaram conhecidas como Consenso de uóshinton, tinham como objetivo disseminar a conduta econômica neoliberal entre os países subdesenvolvidos, em especial os da América Latina.

No Brasil, foi ainda no governo de cólor (mais especificamente, a partir do Plano cólor) que as práticas neoliberais se impuseram, quando a economia foi aberta às importações e aos investimentos estrangeiros. Isso, porém, acabou provocando uma desnacionalização, já que o país passou a importar uma variedade cada vez maior de bens industrializados e a exportar, cada vez mais, recursos naturais. Além disso, as políticas sociais, nos anos 1990, ficaram relegadas a segundo plano.

Posteriormente, com o Plano Real e com a queda nos índices da inflação, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, as práticas neoliberais se fortaleceram no país. O governo brasileiro mostrava aos agentes internacionais que sua economia era confiável e que o país poderia, realmente, se inserir na chamada “mundialização do capital financeiro”. A relativa estabilidade econômica alcançada com o Plano Real, somada às importações e às privatizações de empresas estatais brasileiras, impulsionou mais investimentos estrangeiros. Especialmente a partir de 1995, a industrialização brasileira conheceu novos avanços e a produtividade industrial cresceu.

Práticas neoliberais na América Latina

O Chile foi o primeiro país da América Latina a adotar práticas neoliberais; isso se deu no governo de Augusto Pinochê, a partir de 1973. Depois, em 1976, a Argentina seguiu o exemplo. Nos anos 1990, além do Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia e México, entre outros países latino-americanos, também adotaram as práticas neoliberais.

Fotografia. Em um local aberto com tapete vermelho, há nove pessoas, oito homens e uma mulher. Os homens usam terno escuro, camisa branca e gravatas em cores diversas. Ela é loira de cabelos curtos, com casaco e saia em lilás, com meia-calça clara e sapatos pretos. Ao fundo, há árvores de folhas verdes, tronco em marrom e vista parcial de paredes em bege-claro e balaústres.
Líderes de potências econômicas reunidos na abertura de uma reunião do chamado gê sete ocorrida em Tóquio, Japão, em 1993. Essas potências foram responsáveis pela difusão do neoliberalismo pelo mundo.
O governo de Lula

Ao longo da década de 1990 e dos primeiros anos do século vinte e um, os discursos mais radicais do Partido dos Trabalhadores, fundado em 1980, deram lugar a propostas reformistas moderadas e à preocupação com a gestão da república.

Com esse discurso reformado, Lula, o candidato do partido, conseguiu vencer a desconfiança de boa parte da população.

Nas eleições de 2002, Lula venceu o candidato do Pê ésse dê bê, José Serra, no segundo turno, recebendo quase 53 milhões de votos, o que representou pouco mais de 61% dos votos válidos.

Acusações de corrupção atingiram o governo de Lula. Em 2005, após denúncias veiculadas pela imprensa, o deputado Roberto Jefferson, do pê tê bê, denunciou um esquema de compra de votos de alguns deputados no Congresso, que ficou conhecido como “mensalão”. As denúncias se multiplicaram, atingindo os mais altos escalões do governo e do partido.

No entanto, a ampliação do alcance do Programa Bolsa Família, o aumento nos índices de emprego e a redução da pobreza no país possibilitaram que um cenário favorável se formasse nas eleições de 2006, quando Lula reelegeu-se presidente, derrotando, no segundo turno, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do Pê ésse dê bê.

No segundo mandato, o país seguiu registrando razoáveis índices de crescimento econômico. Diante desse quadro positivo, Lula lançou a candidatura de Dilma russéf, então ministra da Casa Civil, à presidência. No final de 2010, Dilma se tornou a primeira mulher eleita presidente da república no Brasil ao vencer o candidato José Serra, do Pê ésse dê bê, no segundo turno das eleições, com cêrca de 55 milhões de votos, ou 56% do total de votos válidos.

Fotografia. Sobre uma rampa branca, vê-se a cabeça de um homem grisalho, com terno escuro e uma faixa verde e amarela na diagonal sobre o ombro direito, desfocado. Diante dele, voltados para a câmera fotográfica, dois homens de terno escuro e camisa clara sobem a rampa. O que está à direita tem cabelo e bigode grisalhos. O que está à esquerda é visto apenas parcialmente, e tem cabelo e bigodes brancos. Soldados fardados com uniforme branco, botas pretas e cinto vermelho e preto, elmo dourado com plumas vermelhas ladeiam a rampa, segurando mastros com bandeiras vermelhas e brancas. Ao fundo, vê-se centenas de pessoas com bandeiras de diversas cores, e uma faixa verde, amarela e vermelha com dizeres ilegíveis. Em terceiro plano, vista parcial de um prédio espelhado e vigas na vertical em cor clara.
Fernando Henrique Cardoso (de costas) recebe o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice José de Alencar na rampa do Palácio do Planalto em Brasília, na cerimônia de posse do presidente da república, em janeiro de 2003.
O governo de Dilma russéf

Em janeiro de 2011, Dilma Vana russéf tomou posse na presidência da república prometendo dar continuidade aos programas sociais desenvolvidos por seu antecessor, bem como prosseguir com a política de estabilidade econômica e de fortalecimento do mercado interno.

Os últimos dois anos do primeiro mandato de Dilma ficaram marcados pela onda de manifestações ocorridas em 2013. Iniciadas em várias capitais, em protesto contra o aumento do preço da passagem do transporte coletivo, as Jornadas de Junho, como ficaram conhecidas, se espalharam por todo o país.

Apesar do desgaste da imagem do governo, nas eleições de 2014 Dilma russéf derrotou, no segundo turno e por uma diferença apertada de votos, o candidato Aécio Neves, do Pê ésse dê bê, e foi eleita para um novo mandato.

O impeachment de Dilma

A disputa acirrada com o candidato adversário nas eleições para o segundo mandato de Dilma foi um indicador da polarização da sociedade brasileira: o país estava dividido e os debates políticos se intensificavam entre a população.

Dilma iniciou o segundo mandato sob os abalos das denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, a maior empresa pública do país. As denúncias resultaram na deflagração da Operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal, encarregada de investigar um esquema bilionário de desvio de dinheiro da empresa para pagamento de propina a políticos de vários partidos e executivos de grandes empresas.

Em meio a uma crise econômica e política, o governo de Dilma tomou algumas medidas consideradas bastante impopulares, como córtes no orçamento de diversos serviços públicos, aumento de impostos e do preço da gasolina. A partir de março de 2015, uma série de protestos contrários à presidente tomou fórma, em manifestações organizadas pelas ruas das principais cidades do país. Também foram organizadas manifestações a favor da permanência da presidente, que havia sido legitimamente eleita.

O enfraquecimento político do governo possibilitou a abertura de um processo por crime de responsabilidade contra Dilma pelo Congresso Nacional. Após muitas polêmicas e opiniões divergentes em torno da legitimidade ou não desse processo, em 31 de agosto de 2016 o mandato de Dilma foi cassado.

Fotografia. Uma mulher em pé dentro de um carro com a capota aberta. Ela tem cabelos castanhos e curtos, está de casaco com manga três quartos rendada e saia de cor branca, com o braço direito erguido, acenando. Sobre o ombro direito, há uma faixa verde e amarela, com o brasão da república brasileira. À frente, sentada no carro, uma pessoa com quepe branco. Em segundo plano, à esquerda da foto, pessoas em pé, vistas em desfoque.
Dilma russéf no dia de sua posse, em Brasília, em 2011.
O governo de têmer

Em 12 de maio de 2016, com a aceitação do processo de impeachment de Dilma russéf pelo Senado Federal, o vice-presidente Michel têmer assumiu interinamente, isto é, temporariamente, o cargo de presidente da república. Depois, quando o processo foi concluído, em 31 de agosto de 2016, Temer assumiu o cargo de maneira definitiva.

As principais reformas propostas pelo governo tinham por objetivo o contrôle dos gastos públicos. A chamada péqui 55, por exemplo, colocou limites aos gastos do governo federal com serviços públicos pelos 20 anos seguintes; a reforma trabalhista flexibilizou as fórmas de contratação de trabalhadores, modificou o tratamento dado às férias e à jornada de trabalho, regularizou contratos temporários de trabalho, entre outras mudanças.

Fotografia. À frente, um homem visto da cintura para cima. Ele tem cabelos grisalhos penteados para trás, usa camisa de golas branca e terno preto. Ele bate palmas. Atrás dele, outros dois homens sentados batendo palmas, vestidos com terno e gravata escuros e camisa branca, estão desfocados. Ao fundo, parede em azul-claro, uma esfera azul, faixa em amarelo e abaixo, texto: Brasil. Em cima do texto, uma bola branca com estrelas e uma faixa amarela, onde se lê: Ordem e Progresso.
Michel têmer anuncia medidas para a infraestrutura do país, em Brasília, em 12 de julho de 2017.
O governo de Jair Bolsonaro

Em outubro de 2018, o então deputado federal pelo Partido Social Liberal (pê ésse éle) do Rio de Janeiro Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente da república, no segundo turno das eleições, com 55,13% dos votos válidos (ante 44,87% de seu adversário no pleito). A disputa eleitoral foi polarizada entre Bolsonaro e o candidato do pê tê, Fernando Haddad, que substituía o ex-presidente Lula – declarado inelegível e preso na ocasião, acusado de corrupção no âmbito das investigações da Operação Lava Jato, sob acusações cuja legitimidade foi questionada posteriormente.

O governo Bolsonaro alimentou uma forte expectativa de mudanças no país, como o combate à corrupção e à criminalidade, e contribuiu para o avanço de grupos de direita, que até então consideravam-se com pouca visibilidade na política nacional. Por outro lado, as suas políticas foram bastante questionadas em diversas frentes, tendo inclusive muitos de seus ministros trocados ao longo do seu mandato. A partir de 2020 o governo enfrentou uma série de dificuldades em decorrência da pandemia da côvid dezenóve, com mais de 650 mil mortos pela doença e com o aprofundamento da crise econômica e da miséria no país. Para combater essa situação, foram criados programas de transferência de renda, o Auxílio Emergencial, para famílias vulneráveis durante a pandemia, e o Auxílio Brasil, para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Contudo, sua política de combate à pandemia foi duramente criticada por diversos grupos, tendo inclusive sido aberta no Senado uma comissão parlamentar de inquérito, a cê pê i da côvid dezenóve, para apurar supostos crimes e omissões do governo no enfrentamento da doença e na condução da saúde pública.

Fotografia. Vista da cintura para cima de um homem de frente para um púlpito de madeira com microfone preto. Ele tem cabelos grisalhos penteados para a direita, e sobrancelhas grossas. Ele olha para frente, com a boca um pouco aberta. Ele usa camisa de golas em azul-claro, gravata em branco com listras cinzas e terno preto. A mão esquerda está sobre o microfone na vertical. Ao fundo, bandeira-insígnia da presidência, com o brasão da república, em verde e amarelo, vista parcialmente.
Jair Bolsonaro discursa, em Brasília, após nomeação de ministros, em fevereiro de 2021.

Desafios para o país

Apesar de ter havido no Brasil, na primeira década do século vinte e um, uma redução significativa dos índices de pobreza, atualmente ainda há muitas pessoas vivendo na pobreza extrema no país. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (éfe gê vê Social), havia em 2020, no contexto da pandemia da côvid dezenóve, e com o repasse de auxílio emergencial, cêrca de 9,8 milhões de pessoas vivendo na pobreza no Brasil, ou seja, ganhando o equivalente a R$ 261,00duzentos e sessenta e um reais por mês. Contudo, no primeiro semestre de 2021, o índice aumentou, totalizando quase 28 milhões de pessoas vivendo na pobreza. Além disso, houve nesse período um significativo aumento do desemprego e do número de pessoas em situação de rua, assim como a diminuição na renda de muitos brasileiros. No quarto trimestre de 2020 o desemprego começou a declinar um pouco em comparação com os meses anteriores, na fase mais aguda da pandemia, e ainda atingia 11,1% da população.

Garantir educação de qualidade, as condições necessárias para a permanência dos estudantes na escola, a diminuição da evasão escolar, a conclusão do Ensino Médio e o acesso à Educação Superior a todos os brasileiros é ainda um desafio a ser alcançado no país. A taxa de analfabetismo entre brasileiros com 15 anos ou mais vinha caindo ao longo dos anos e em 2019 era de 6,6%. No entanto, em 2021, o Censo Escolar da Educação Básica verificou uma ligeira diminuição no número de matrículas nas escolas de Educação Básica no Brasil, com 46,7 milhões de matrículas efetivadas e cêrca de seiscentas e vinte e sete mil matrículas a menos em comparação com o ano anterior. Essa diminuição já havia ocorrido em 2020 em comparação com 2019 – isto é, no período da pandemia –, causando efeitos negativos na educação de crianças, jovens e adultos e o aumento das desigualdades sociais, que ainda podem demorar para serem superadas. Além disso, o aumento da evasão escolar é um problema que pode contribuir para o aumento do analfabetismo entre a população, a precariedade dos empregos e os baixos salários dos trabalhadores. Observe os dados no gráfico a seguir.

NÚMERO DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA, SEGUNDO A REDE DE ENSINO (2017-2021)

Gráfico em linhas na horizontal. Número de matrículas na educação básica, segundo a rede de ensino, entre 2017 e 2021. 
No eixo vertical, os números vão entre 10 e 60 milhões de matrículas. No eixo horizontal, aparecem os anos de 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021. 
Na legenda, a linha em azul indica o  total de matrículas. A linha em amarelo indica as matrículas em escolas públicas e, em vermelho, as matrículas em escolas privadas.
Total: 
Em 2017, houve 48.608.093 matrículas na Educação Básica. Em 2018, houve  48.455.867 matrículas na Educação Básica. Em 2019, houve 47.874.246 matrículas na Educação Básica. Em 2020:, houve 47.295.294 matrículas na Educação Básica. Em 2021, houve 46.668.401 matrículas na Educação Básica.
Em relação às matrículas em escolas públicas, em 2017, houve 39.721.032 de matrículas. Em 2018, o número era de 39.460.618 crianças matriculadas. Em 2019, 38.739.461; em 2020, 38.504.108  e, em 2021, 38.532.056.
Em relação às matrículas na rede privada de ensino, em 2017, houve 8.887.061 matrículas; em 2018, 8.995.249; em 2019, 9.134.785; em 2020, 8.791.186 e, em 2021, houve 8.136.345 matrículas.

Fonte: BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Resumo Técnico: Censo Escolar da Educação Básica 2021. Brasília, Distrito Federal: Inep, 2021. página 17. Disponível em: https://oeds.link/PcRTRu. Acesso em: 12 março 2022.

Ícone. Ilustração de três pessoas e dois balões de fala indicando a seção Em debate.

Em debate

Multiculturalismo.

As ações afirmativas

As ações afirmativas são políticas públicas ou privadas que visam combater diferentes fórmas de discriminação, como de raça, gênero, idade, condição social, origem étnica ou por deficiência. Com essas ações, o objetivo é garantir a igualdade entre as pessoas no acesso à educação, ao emprego, à saúde e aos bens culturais.

Que medidas podem ser consideradas ações afirmativas? Medidas que valorizam a identidade cultural de grupos discriminados e que promovem a entrada de membros de grupos discriminados no mercado de trabalho ou em estabelecimentos de ensino, por exemplo. Ou, ainda, medidas que estabelecem cotas mínimas de participação na mídia ou em partidos políticos, reparações financeiras a grupos discriminados, entre outras. Vamos conhecer alguns exemplos de ações afirmativas no Brasil?

Até os nossos dias, apesar de toda a luta dos afrodescendentes, a desigualdade racial ainda persiste no país. Desse modo, os movimentos sociais passaram a reivindicar a criação de uma reserva de vagas nas universidades públicas para estudantes afrodescendentes, de acordo com as condições e os critérios estabelecidos pelas instituições. É o chamado sistema de cotas, que começou a ser adotado em 2000.

A população idosa no país, por sua vez, também recebeu atenção com as ações afirmativas. Como o número de idosos no Brasil vem aumentando (há pesquisas que consideram que em 2100 serão 60 milhões de idosos no Brasil), o governo procurou garantir a inclusão social e melhorar a qualidade de vida desse grupo. Uma das ações afirmativas foi a aprovação, em 2003, do Estatuto do Idoso, que ampliou os direitos dos cidadãos com mais de 60 anos. Entre outras medidas, o Estatuto garante aos idosos o transporte público gratuito e a reserva de 10% dos assentos, bem como o direito à meia-entrada em atividades de cultura, esporte e lazer.

Fotografia. Solo em tons de cinza, com sombra de quatro pessoas em pé, vistas de costas, com os braços erguidos para a direita. À direita, um homem de boné, camiseta e bermuda escura. À esquerda, outras duas pessoas com blusa branca. À frente deles, um parapeito do que parece ser uma rampa de acesso ao mar. Ao fundo, outras pessoas estão na parte da rampa mais próxima do mar e fazem os mesmos movimentos. Em segundo plano, há construções à beira-mar. No alto, o céu é azul-claro e o sol emite uma luz forte embranquecendo a parte superior direita da fotografia.
Pessoas se exercitando ao ar livre em Santos, São Paulo. Fotografia de 2019.

Faça uma pesquisa na internet ou em livros para responder à seguinte questão: “As ações afirmativas têm, em geral, caráter transitório ou são algo permanente?”. Com base em sua pesquisa e em suas descobertas, escreva um pequeno texto sobre o papel das ações afirmativas para os grupos discriminados no Brasil.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR]: O feminismo e as redes sociais

[TRILHA SONORA]

[SARA]:

Olá, ouvintes! Olá, Cecília!

[CECÍLIA]:

Olá, Sara! Olá, pessoal! Hoje, no nosso podcast, vamos falar sobre as redes sociais e o feminismo. E aí, você sabe o que é feminismo? Sara, esclarece para a gente!

[SARA]:

Claro, Cecília! Vamos lá! Eu diria que é uma luta por termos os mesmos direitos que os homens e sermos consideradas iguais a eles perante a lei. É importante esclarecer que o feminismo não visa à exclusão dos homens nem à retirada dos direitos deles.

[CECÍLIA]:

Exatamente!

[SARA]:

O feminismo tem uma longa história e várias fases e conquistas. Mas, Cecília, as mulheres não são iguais aos homens perante a lei?

[CECÍLIA]: Agora, sim! Mas nem sempre foi dessa maneira. Antigamente as mulheres não podiam votar, por exemplo. Nem podiam ter uma conta bancária, salvo se o marido autorizasse. Muitas dessas coisas mudaram gradualmente, mas, mesmo depois da nossa Constituição de 1988, resta muito ainda por fazer.

[SARA]:

Como assim?

[CECÍLIA]:

Por exemplo, a Lei Maria da Penha é de 2006. Essa lei visa proteger as mulheres de violência doméstica. E a Lei contra o feminicídio é de 2015.

[SARA]:

O feminicídio é quando uma mulher é assassinada por ser mulher, certo?

[CECÍLIA]:

Isso mesmo! Essas duas leis só surgiram neste século, bem depois da nossa Constituição. Mas veja só como as coisas eram antigamente. Na década de 1980, do século XX, assistimos à justiça inocentando homens que haviam matado ou machucado seriamente suas companheiras. Como se tratava do marido, a justiça os inocentava. Isso mostra que homens e mulheres não estavam sendo vistos como iguais perante a lei. Afinal, nesses casos, a violência contra mulheres era tolerada.

[SARA]:

Ah, agora entendi! Todos temos direito a não sofrer violências. Mas e agora que essas leis já existem? Explica para os ouvintes qual a necessidade de as mulheres continuarem se organizando.

[CECÍLIA]:

Ainda hoje, no século XXI, as mulheres têm muitas desvantagens em relação aos homens. Para entender melhor, vamos pensar especificamente nesse cenário no Brasil.

[SARA]:

Pois é, Cecília! A vida das mulheres, no Brasil, ainda é muito diferente da vida dos homens no que diz respeito à participação no mercado de trabalho e na política, aos salários recebidos e aos cuidados com o lar. Pesquisas mostram, por exemplo, que, em 2019, as mulheres dedicaram 21,4 horas semanais a afazeres domésticos e cuidados com outras pessoas, enquanto os homens dedicaram 11 horas por semana.

[CECÍLIA]:

No mesmo ano, Sara, na população com mais de 25 anos, havia 19,4% das mulheres com nível superior completo contra 15,1% de homens que haviam concluído a universidade ou a faculdade. E olhe esses outros números do mesmo ano: as mulheres ocupavam apenas 37,4% dos cargos gerenciais, enquanto 62,6% eram ocupados por homens.

[SARA]:

Que coisa! Há mais mulheres com maior escolaridade que os homens. Podemos dizer que elas estudaram mais. No entanto, ocupam bem menos cargos de chefia.

[CECÍLIA]: Com essas informações, é possível compreender a importância do feminismo hoje em dia. E não podemos nos esquecer da questão da violência contra a mulher. Apesar das leis, há uma taxa alta de mulheres mortas por seus companheiros. O mapa da violência de 2019 elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, indica que a proporção de feminicídios em relação ao total de homicídios femininos foi de 35,5%. Ou seja, 1/3 das mortes violentas femininas se deveu ao fato de serem mulheres.

[SARA]:

Por isso é necessário continuar lutando, para que a sociedade se conscientize desses problemas e aja de modo preventivo.

[CECÍLIA]:

Com certeza, Sara! O feminismo hoje tem sido organizado muitas vezes através da internet.

[SARA]:

Exatamente! As redes sociais estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. E elas são ferramentas que dão força e visibilidade a muitos movimentos.

[CECÍLIA]

Como o próprio feminismo.

[SARA]:

As redes ajudam a promover o debate, divulgar informações e compartilhar experiências. Por meio delas, pessoas com interesses comuns podem se unir e fortalecer uma causa.

[CECÍLIA]:

Uma das coisas boas da internet é que ela trouxe à tona problemas cuja discussão era evitada.

[SARA]:

Campanhas on-line rapidamente ganham ampla divulgação chegando a lugares difíceis de se atingir no boca a boca. Também deu voz a grupos que antes não tinham como falar pelos meios tradicionais, como rádio, televisão, jornais.

[CECÍLIA]:

As redes sociais nos trazem muitas informações, e podem ser um excelente meio para conhecermos mais sobre o feminismo e outros movimentos da sociedade. Você sabia que há grupos fechados de apoio a mulheres em que elas podem expor livremente situações desagradáveis ou violentas que elas vivem?

[SARA]:

Há realmente muita coisa na internet! Nas redes sociais, podemos notar o repúdio a violências sofridas por mulheres apenas por serem mulheres.

Lembro-me de um caso de 2020, quando uma moça vítima de violência foi maltratada pelo advogado de defesa do réu durante o julgamento do caso.

O advogado desqualificou a vítima e o juiz deu sentença favorável ao acusado. Pudemos ver a sessão e assim perceber nitidamente a forma como ela foi tratada. Nas redes sociais, as pessoas se colocaram a favor dessa moça e pressionaram o poder público a agir, a sair em defesa dela. Na época, usaram uma hashtag que viralizou.

[CECÍLIA]:

Também me recordo dessa história. As redes sociais ajudam a pressionar por mudanças e por isso hoje são fator importante na luta de vários grupos por justiça e efetivação de direitos.

[SARA]:

Isso mesmo!

[CECÍLIA]:

Então, podemos dizer que hoje as redes sociais podem ser ferramentas interessantes na construção de um mundo mais justo para todos. Lembrando que é essencial usá-las com responsabilidade.

[SARA]:

Bem lembrado! As redes sociais são boas, mas precisam ser bem utilizadas. Afinal, da mesma forma que ajudam também podem atrapalhar a construção de uma sociedade melhor para todos.

 

[CECÍLIA]:

Esta conversa foi muito boa! E ficamos por aqui! Até breve, pessoal!

[SARA]:

Até a próxima!

Os indígenas no Brasil atual

Segundo dados do Censo 2010, mais de 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas no Brasil. Esse número representa um aumento de 11,4% em relação ao Censo 2000. Dois fatores ajudam a explicar o crescimento da população indígena no país: as altas taxas de fecundidade e o processo conhecido como etnogênese ou reetnização, que ocorre quando se assumem a identidade e as tradições de uma etnia.

Acredita-se que a reetnização de muitos povos esteja relacionada à existência de políticas públicas, como programas sociais de transferência de renda para a população pobre, incluindo os indígenas, e a mobilização dos próprios indígenas, que se tornaram importantes interlocutores em debates sobre temas relacionados aos seus direitos, à conservação ambiental, ao desenvolvimento sustentável e à demarcação de terras.

A demarcação é um recurso que garante a posse e o uso da terra pelas populações indígenas, protegendo, assim, sua cultura e sua identidade. Esse instrumento legal é também um reconhecimento público da dívida histórica da sociedade brasileira com os povos indígenas, que ao longo de quinhentos anos foram sendo sistematicamente expulsos de suas terras.

Contudo, apesar das garantias legais, o direito dos povos indígenas à terra é constantemente ameaçado: agricultores, pecuaristas, madeireiras e mineradoras desrespeitam os limites das terras indígenas, muitas vezes de fórma violenta.

O movimento indígena

Muitos movimentos indígenas vêm apresentando propostas concretas de mudanças, como a de transformação das Terras Indígenas em Distritos Especiais Indígenas, com autonomia orçamentária e administrativa. Os indígenas também reivindicam capacitação política e técnica para lidar com os desafios que a gestão de suas terras pode trazer, como conciliar os interesses de diferentes povos e estabelecer relações produtivas e justas com os não indígenas.

Entre as organizações indígenas atuais estão a Federação das Organizações Indígenas do rio Negro (fórni) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (apíbi).

Fotografia. Rua de cor cinza-escuro, com centenas de indígenas aglomerados, homens e mulheres. Eles têm cabelos escuros, alguns têm pinturas no rosto, alguns usam máscaras de proteção sobre o nariz e a boca. Eles usam diversos adornos coloridos feitos com penas, contas e palha.
Os indígenas que estão à frente seguram cartazes com textos. Mais ao fundo, à direita, árvores com tronco fino e folhas verdes. Em segundo plano, vista parcial de prédios e no alto, céu em tons de laranja com nuvens grandes.
Manifestação de povos indígenas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra o Marco Temporal, que visava à alteração na demarcação de Terras Indígenas. Fotografia de agosto de 2021.
Ícone. Ilustração de um recipiente de base circular, com duas hastes laterais e grafismos coloridos, indicando a seção Lugar e cultura.

Lugar e cultura

Protagonismo dos jovens na história

Os jovens e os estudantes tiveram, ao longo do tempo, participação ativa nos diversos movimentos culturais, nas mobilizações políticas e sociais, nas discussões, nas reivindicações de direitos e na definição dos rumos do país. Durante o período da ditadura civil-militar, muitos jovens protagonizaram ações importantes de resistência contra o regime imposto. Organizaram-se em grêmios e movimentos estudantis, participaram de mobilizações populares e até mesmo de organizações que defendiam a luta armada contra o regime ditatorial, e em defesa da democracia. O processo de redemocratização, o fim da ditadura e a conquista de diversos direitos sociais foram resultado de intensas lutas organizadas ao longo de muitos anos.

Em 1989, quando o país vivenciava a redemocratização, o fim da ditadura civil-militar e a primeira eleição direta para presidente desde 1960, os jovens e a população brasileira em geral procuraram exercer novos papéis como protagonistas da história, contribuindo para a construção de um novo período em nossa sociedade, exigindo direitos, se organizando e se mobilizando para melhorar as condições de vida de diversos grupos sociais e populações marginalizadas.

A atuação dos estudantes (os “caras-pintadas”) que foram às ruas exigir a saída de cólor da presidência, em 1992, é um exemplo desse tipo de protagonismo. Outro exemplo de grande participação dos jovens em mobilizações sociais e na defesa de direitos ocorreu em 2015, quando estudantes de escolas públicas protestaram contra um projeto de reorganização escolar no estado de São Paulo. Depois de quase 60 dias de ocupações em mais de duzentas escolas, o governo paulista suspendeu a reorganização. Outras mobilizações estudantis semelhantes espalharam-se pelo Brasil ao longo de 2016; no Rio de Janeiro, por exemplo, escolas foram ocupadas porque estudantes exigiam que o governo oferecesse aumento de salário para os professores.

Fotografia. Em uma rua de cor cinza, há pessoas aglomeradas ao centro. À frente delas, há uma faixa longa em preto com texto em branco: Educação é investimento, não gasto! À frente, há uma pessoa de blusa em azul, calça e blusa vermelha amarrada na cintura. À direita, árvores de folhas verdes e mais ao fundo, prédios altos em cinza. No alto, céu nublado em cinza-claro.
Estudantes de escolas ocupadas protestam contra a reorganização escolar em outubro de 2015, na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. Caso a reorganização fosse posta em prática, a distribuição dos ciclos de ensino seria modificada e algumas escolas seriam fechadas; segundo os estudantes, essa medida seria prejudicial, pois muitos teriam de mudar de escola e as salas de aula poderiam ficar mais lotadas.
  1. Com dois ou três colegas, observe a fotografia e leia a frase escrita pelos estudantes, na faixa com fundo preto. Com base em seus conhecimentos, expliquem o significado dessa frase.
  2. Ainda em grupo, façam uma pesquisa sobre a conquista de algum direito no Brasil que tenha sido alcançada por meio da mobilização popular e do protagonismo de diversos agentes sociais. Depois compartilhe com o restante da turma as descobertas de vocês.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Leia a seguir dois trechos que tratam do processo de elaboração da Constituição Federal brasileira de 1988.

    Trecho 1

Promulgada ao final de um regime ditatorial, num contexto de deterioração da situação econômica e de intensa mobilização social reticências a Constituição Federal de 1988 é referenciada como o marco da redemocratização brasileira.

reticências Considerando também as mobilizações pré-Constituinte (caravanas, envio de cartas, telegramas e sugestões pelos cidadãos), a participação popular atinge proporções ainda maiores em termos numéricos reticências.

NERIS, Natália. A voz e a palavra do movimento negro na Constituinte de 1988. Belo Horizonte: Letramento: Casa do Direito, 2018. página 24.

    Trecho 2

A intensa participação por meio de diferentes tipos de ação dos movimentos populares, religiosos, sanitaristas, trabalhadores, aposentados, grupos que se mobilizavam em torno de identidades/características adscritas – mulheres, indígenas, negros, deficientes – entidades patronais ruralistas, banqueiros, multinacionais, atores estatais membros dos Poderes Executivo e Judiciário, fôrças Armadas entre outros tornou a á êne cê um momento-chave, o marco-zero de fato da democracia brasileira.

NERIS, Natália. A voz e a palavra do movimento negro na Constituinte de 1988. Belo Horizonte: Letramento: Casa do Direito, 2018. página 53.

  1. Sobre a elaboração da Constituição de 1988, quais são os aspectos destacados no trecho 1?
  2. Segundo o trecho 2, quais agentes participaram do processo de elaboração da Constituição Federal de 1988? Os diversos grupos sociais estavam representados?

2. As desigualdades sociais e econômicas no Brasil são alguns dos desafios a serem corrigidos ou superados no século vinte e um. Para refletir sobre o assunto, leia o trecho a seguir.

Nos últimos anos, o aumento da desocupação dilapidou a renda do trabalho. Tomando-se um período mais longo, de dez anos até 2021, o rendimento da metade mais pobre no país retrocedeu 26,2%, segundo dados da éfe gê vê Social.

reticências

Moreira destaca que o comportamento dos preços dos alimentos tem sido extremamente negativo para os mais pobres. “Existe a falsa impressão de que os mais ricos sofrem tanto quanto os demais. Mas, para uma família muito pobre, 20% a mais no preço da comida significa passar fome”, diz.

reticências

De acordo com a éfe gê vê Social, 27,4 milhões de brasileiros (13% da população; quase uma Venezuela) vivem hoje com menos de R$ 261duzentos e sessenta e um reais ao mês – a maior taxa de miseráveis em uma década.

reticências

A dinâmica no mercado de trabalho, extremamente negativa para a baixa renda nos anos recentes, também foi bem menos danosa para os mais ricos.

Enquanto a taxa de desocupação da metade mais pobre mais que dobrou desde 2014, o desemprego entre os 10% mais ricos passou de 2% para cêrca de 3% no período, segundo a éfe gê vê Social reticências.

CANZIAN, Fernando. Desemprego dobra e ‘inflação dos pobres’ dispara 40% na pandemia. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 outubro 2021. Disponível em: https://oeds.link/kOOJAR. Acesso em: 13 março 2022.

  1. Segundo o texto, qual foi a perda de rendimento da metade da população mais pobre do país ao longo de dez anos até 2021? O mesmo ocorreu com os mais ricos?
  2. O que ocorreu com a taxa de desocupação no mercado de trabalho da metade mais pobre do país, de 2014 a 2021? E em relação aos 10% mais ricos da população brasileira, qual foi a oscilação da taxa de desocupação?
  3. Redija um texto sobre as desigualdades sociais e econômicas no país atual­mente. Desenvolva sua argu­mentação com base em observações da realidade social, em dados estudados no Capítulo e em sites, jornais, revistas, livros etcétera que sejam fontes confiáveis.
Ícone. Ilustração de cabeça humana com engrenagem cinza no lugar do cérebro, que se conecta com outra engrenagem menor e azul, indicando a seção Para refletir.

Para refletir

Cidadania e Civismo.

O que os governantes e os cidadãos brasileiros devem levar em consideração para alcançar uma cultura de paz?

Desemprego, pobreza extrema, desigualdades sociais, terrorismo e extremismos violentos, esgotamento de recursos naturais, mudanças climáticas, crises humanitárias, conflitos em ascensão. Muitos dos inúmeros desafios enfrentados pelo mundo globalizado também fazem parte da realidade do Brasil.

Foi entendendo a necessidade urgente de um plano de ação para lidar com esses desafios, proteger o planeta e garantir uma cultura de paz que, em setembro de 2015, líderes mundiais (inclusive do Brasil), reunidos na séde da ônu, em Nova iórque, assinaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Esse documento apresenta um conjunto de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ó dê ésse) que devem ser implementados por todos os países do mundo até o ano de 2030.

Leia a seguir o texto produzido pela ônu sobre a proposta da Agenda 2030.

reticências é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Ela também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade.

reticências

Estamos determinados a promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas que estão livres do medo e da violência. Não pode haver desenvolvimento sustentável sem paz e não há paz sem desenvolvimento sustentável.

AGENDA 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nações Unidas Brasil. Brasília, Distrito Federal, 13 outubro 2015. Disponível em: https://oeds.link/FTAZHT. Acesso em: 13 março 2022.

Fotografia. Fachada de prédio na horizontal com várias bandeiras uma ao lado da outra. É de noite e, à direita, há um prédio na vertical com luzes acesas em tons de branco-claro e à esquerda, várias bandeiras pequenas.
séde da ônu em Nova iórque com projeções em sua fachada das 17 metas para o desenvolvimento sustentável, que estão incluídas na Agenda 2030. Fotografia de 2015.

A Agenda 2030 é, de certo modo, sucessora de outro importante documento que teve origem na ônu: os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ó dê ême), assinados por todos os países-membros da ônu no ano 2000.

Observe, a seguir, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ó dê ésse) que fazem parte da Agenda 2030.

Ilustração. Conjunto de dezoito quadrados com ilustrações feitas na cor branca com textos diversos, dispostos em três linhas de seis quadrados.
No primeiro quadrado, com fundo em vermelho, lê-se: 1. ERRADICAÇÃO DA POBREZA, e há uma ilustração com símbolos de quatro adultos de mãos dadas com duas crianças. O adulto da esquerda está de bengala e um outro, de vestido. 
No segundo quadrado, com fundo bege, lê-se o texto: 2. ERRADICAÇÃO DA FOME, e há uma ilustração de uma cuia de onde sai uma fumaça, indicando o vapor que sai de um alimento aquecido.  
No terceiro quadrado, com fundo verde, lê-se o texto: 3. SAÚDE DE QUALIDADE, e há uma ilustração horizontal com altos e baixos, com um pequeno coração na ponta da direita. 
No quarto quadrado, com fundo em vermelho-escuro, lê-se o texto:  4. EDUCAÇÃO DE QUALIDADE, e há uma ilustração de um livro aberto e um lápis na vertical, do lado direito do livro. 
No quinto quadrado, em fundo em laranja, lê-se o texto:  5. IGUALDADE DE GÊNERO, e há uma ilustração de círculo, com flecha para cima à direita, e cruz para baixo, indicando os símbolos dos sexos masculino e feminino, e um símbolo de igual dentro do círculo.
No sexto quadrado, em fundo em azul-claro, lê-se o texto: 6. ÁGUA LIMPA E SANEAMENTO, e há uma ilustração de um copo com água, com um símbolo de gota e com uma seta apontando para baixo. 
No sétimo quadrado, em fundo em amarelo, lê-se o texto: 7. ENERGIAS RENOVAVÉIS e há uma ilustração de um botão de ligar e desligar (um círculo cortado na parte de cima com uma haste vertical), com raios solares ao redor dele.  
No oitavo quadrado, em fundo em roxo, lê-se o texto: 8. EMPREGOS DIGNOS E CRESCIMENTO ECONÔMICO e há uma ilustração de um gráfico em barras na vertical e uma flecha na horizontal. 
No nono quadrado, em fundo em laranja, lê-se o texto: 9. INOVAÇÃO E INFRAESTRUTURA e há uma ilustração de uma rua na diagonal. 
No décimo quadrado, em fundo em rosa-escuro, lê-se o texto: 10. REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES e há uma ilustração em branco de um sinal de igual e linha circular sobre ele. 
No décimo primeiro quadrado, em fundo em laranja, lê-se o texto: 11. CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS e há uma ilustração de prédios e, à esquerda,  de uma casa de telhado triangular.  
No décimo segundo quadrado, em fundo em marrom, lê-se o texto: 12. CONSUMO RESPONSÁVEL e há uma ilustração horizontal com o símbolo do infinito terminando com uma flecha.
No décimo terceiro quadrado, em fundo em verde, lê-se o texto: 13. COMBATE ÀS MUDANCAS CLIMÁTICAS e há uma 
ilustração de um olho e, na íris, a silhueta de árvores. 
No décimo quarto quadrado, em fundo em azul-claro, lê-se o texto: 14. VIDA DEBAIXO DA ÁGUA e há uma ilustração de peixe e um símbolo de água em movimento sobre ele.  
No décimo quinto quadrado, em fundo em verde-claro, lê-se o texto: 15. VIDA SOBRE A TERRA e há uma ilustração de uma árvore, do solo e de três pássaros em sobrevoo.  
No décimo sexto quadrado, em fundo em azul, lê-se o texto: 16. PAZ E JUSTIÇA e há uma ilustração de um pássaro voltado para a direita, com folha fina no bico, pousado sobre um martelo na horizontal.  
No décimo sétimo parágrafo, em fundo em azul-escuro, lê-se o texto: 17. PARCERIAS PELAS METAS e há uma ilustração de cinco círculos entrelaçados.  
No último quadrado, o décimo oitavo, em fundo branco, há o símbolo da ONU, com o planisfério e as linhas imaginárias em círculo, com folhas de louro no entorno, e lê-se um texto em tons de azul: OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

Destacamos, aqui, três pontos (ou seja, três objetivos) que são especialmente importantes para refletirmos sobre os desafios do Brasil do século vinte e um:

Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. reticências

Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de fórma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

AGENDA 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nações Unidas Brasil. Brasília, Distrito Federal, 13 outubro 2015. Disponível em: https://oeds.link/FTAZHT. Acesso em: 13 março 2022.

  1. Agora, você e um colega vão escrever um texto para cada objetivo destacado acima. Vocês devem relacionar o conteúdo dos objetivos 10, 15 e 16 com a realidade brasileira, considerando a diversidade de nosso país, nossa identidade como brasileiros e ao mesmo tempo as condições sociais, culturais, geográficas e econômicas específicas dos diversos grupos e povos que aqui vivem. Vocês devem, também, propor pelo menos uma ação concreta que poderia ser criada para alcançar cada objetivo.
  2. Depois, cada um de vocês vai escrever um texto tomando como base as informações desta seção e os conhecimentos adquiridos até aqui. O tema deve ser o seguinte: O que os governantes e os cidadãos brasileiros devem levar em consideração para alcançar uma cultura de paz?

Glossário

Impeachment
Processo instaurado contra autoridades dos poderes Executivo ou Judiciário para averiguar denúncias de crimes cometidos no exercício da função. O impeachment pode resultar na destituição do cargo.
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