UNIDADE 3  Perspectivas para ver o mundo

Faça as atividades no caderno.

Xilogravura. Na parte superior, pássaros escuros voando para a mesma direção. O céu é claro. Na parte inferior, peixes claros nadando na mesma direção. A água é escura. Todos estão indo na mesma direção, porém em ambientes diferentes.

éscher mauríts cornélis. Céu e água [Sky and water]. 1938. Xilogravura, 43,5 por 43,9 centímetros.

Saiba +

M. C. Escher

O artista holandês Mauríts Cornélis Éscher (1898-1972) é mestre na criação de ilusões de ótica para o espectador, sempre brincando com a perspectiva, a intersecção de planos, o espaço e a realidade. Pelo diálogo com a arquitetura, é reconhecido ainda como o artista das “construções impossíveis”. Entre seus trabalhos, sempre instigantes, destacam-se: a série Metamorfoses (de 1937 a 1970), Côncavo e Convexo (1955) e Relatividade (1953). Ao longo de sua vida, fez mais de 448 gravuras e cérca de 2 mil desenhos. Na Holanda, há um museu dedicado a suas obras.

  1. Observe a xilogravura apresentada e converse com os colegas sobre estas questões.
    1. Descreva o que você vê na imagem.
    2. Agora, descreva o que você vê na parte superior e na parte inferior da imagem. Há alguma semelhança entre elas?
  2. Essa obra é uma xilogravura de autoria do artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher e se chama Céu e água. Com base nos elementos da imagem, explique seu título.
  3. Essa xilogravura é um convite para que o espectador a observe diversas vezes, procurando atentar para os detalhes.
    1. O que mais chama a sua atenção na imagem? Por quê?
    2. Se você observasse apenas a parte inferior, que história inventaria com base nessa imagem? Compartilhe com os colegas.
    3. Agora, se você se colocasse no lugar de um dos pássaros, o que narraria sobre o lugar que sobrevoa? Compartilhe também com seus colegas.

Leitura 1

Contexto

Ao longo de sua vida escolar e também de sua trajetória como leitor, você já deve ter se deparado com um gênero textual muito apreciado por amantes de boas histórias: os contos. São narrativas curtas das mais variadas temáticas e com diversos estilos que costumam capturar a atenção do leitor. Nesta Unidade, você vai estudar as características desse gênero textual com base em dois textos escritos por autores contemporâneos, um do Brasil e outro de Angola, um país do continente africano em que também se fala o português.

Os contos possibilitam que você conheça histórias de diferentes lugares e tempos, entrando em contato com os sentimentos das personagens e com a realidade criada naquela narrativa. Após a leitura de contos, bem como de textos ficcionais em geral, voltamos para o dia a dia com um olhar diferente. Podemos até mesmo rever algum aspecto de nosso mundo interior e da realidade ao nosso redor. Que outros olhares será que os contos desta Unidade vão propiciar? Vamos à leitura!

Antes de ler

O conto que você vai ler a seguir trata de algo corriqueiro: um passeio a ser realizado por uma família. No entanto, o modo como essa história é narrada acaba cativando o leitor. Antes da leitura, leia o título do conto e responda às questões.

  • Você já fez algum passeio inesquecível? Por que você o considera inesquecível?
  • Que passeio você imagina que a família da história vai realizar?
  • O que prende sua atenção quando lê uma história?

João Anzanello Carrascoza

AUTORIA

Nascido em Cravinhos, interior do estado de São Paulo, em 1962, é escritor, redator publicitário e professor universitário. Sua obra é composta de contos e romances marcados por forte traço poético, destinados ao público adulto e ao infantojuvenil. Em sua produção, destacam-se: os romances Aos 7 e aos 40 (2013) e Caderno de um ausente (2014); e os livros de contos O volume do silêncio (2006), Aquela água toda (2012) e Tempo justo (2016). Seu trabalho já foi reconhecido com os prêmios Jabuti e ah pê cê ah (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Passeio

Aconteceu que o pai, à mesa de jantar, disse de repente: Sábado vamos lá. A menina, mais rápida que o irmão, perguntou, Lá onde, pai?, e ele, Não posso falar, é surpresa, e o garoto, Fala, pai, aonde a gente vai?, e ele, já vendo a felicidade futura dos filhos, sorriu, enigmático, Sábado, à tarde!, e continuou a comer, como se nada tivesse acontecido — o mundo de sempre funcionando. Aquela era só a notícia, a hora de vivê-la seria adiante, a mãe, mesmo sem saber qual o plano do marido, disse, em seu auxílio, A semana passa depressa!, e, com efeito, já estava em sua metade.

Mas os filhos queriam tudo imediato da vida e ficaram atiçados, aquele “lá” tinha sido vento em brasa, eles ardiam de curiosidade, o garoto mais, por ser menor; a menina, no seu canto, esperta, pensando, pensando, Vou descobrir! Fosse a praça, redonda, onde alugavam bicicleta e faziam piquenique; ou o parque, grande, de tanto verde, que não entrava de uma só vez em seus olhos; já estariam contentes. Mas lá, lá onde seria?

Não podiam se conter, os dois estavam além dessa noite. E era hora de dormir.

Como manter a calma com aquela alegria, ainda sem fórma, lá na frente? Sonhavam sem sono em suas camas. Reviravam-se, igualmente, nas dobras do lençol e da imaginação. Sorriam no escuro, só sentindo essa dúvida boa, onde?, onde?. O pai era mesmo de revelar aos poucos, para que vissem tudo, devagar, na sua inteireza. O cansaço, contudo, pedia-lhe mais corpo. E ganhou. O garoto foi o primeiro a dormir: arquitetava desejos e fatos, mesclando-os quando, de súbito, já ressonava alto; a respiração forte, no sonho certamente ele corria, era a sede dos dias seguintes. A menina, em seguida: nos lábios, o som silenteglossário de umas palavras adivinhas: shopping, karaokê, Playcenterglossário . O que seria? O passeio, misterioso! Mas como são grossas as camadas da certeza, a menina não podia penetrá-las e ficou só na sua superfície, inventando lugares menores, se comparados à realidade. Bocejou uma vez. Duas. Dormiu.

E, de súbito, já era uma vez.

E depois a noite desse dia.

E logo outro dia.

E a sua noite correspondente.

No meio dessas horas todas, entre sol e sono, os dois irmãos reouviam, na memória, o anúncio do pai, Sábado vamos lá, e experimentavam a mesma feliz aflição, de saber já o quê e o quando, mas não o onde ainda encoberto. E como o eco retornava, também se reesqueciam, tinham as suas urgências. Mas aí, de repente, relembravam. O garoto rodeava o pai, Aonde a gente vai?, a menina jogava verde com a mãe, Na quermesse?, insistiam, insistiam, e nada. Melhor era viver sem expectativas a chegada do sábado.

E esperaram assim, sem perceber, cuidando do que era próprio de sua idade — os deveres da escola, o direito às brincadeiras. E o sábado chegou.

Dia claro, o sol abriu cedo a manhã. Ninguém se lembrava do passeio, mas o passeio estava lá nas suas profundezas. Bastava atirar a primeira palavra para acordá-lo, e foi o pai — só podia ser ele — quem o fez no café da manhã, dizendo: Vamos sair às três! E aí o sorriso de um canto a outro da mesa, a curiosidade vívida das crianças, o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada.

Ainda havia uma chance de descobrir, e o garoto não a deixou passar, Posso levar skate? O pai, Melhor não. A resposta já reduzia as opções, não era campo, praça, parque. A menina perguntou, Posso levar um gibi? O pai, Lá você não vai querer ler, e completou, só se for no caminho. E antes que replicassem, ele completou, é meio longe, vamos de ônibus! A mãe observava os filhos, também ignorava qual o programa, e achou prudente perguntar, Preparo uns lanches?, ao que o marido respondeu, Não, não precisa, a gente come lá!

O mistério prosseguia. O pai como novelo da surpresa só para ele. Então, cada um foi gastar com alguma coisa a leveza de seu sábado: o garoto com o cachorro no quintal, a menina com seus Cê dês, a mãe com as providências para o almoço. Assim, o devagar das horas passou depressa enquanto eles ocupavam mãos e, sobretudo, a mente.

E pronto: já era o tempo de ir.

A mãe queria tirar umas dúvidas: Com que roupa? O marido, à porta do quarto, Confortável, e ela, Vestido ou calça jeans, e ele, Vestido, e ela, Bolsa grande ou pequena?, e ele, Pequena, e ela, com um fiozinho de impaciência, Mas, afinal, aonde vamos?, e ele, Mais uns minutos e você saberá.

Deu a hora combinada.

Lá foi a família. O pai à frente, rebocando a mulher e os filhos até o ponto de ônibus. Esperaram em pé, o orgulho no olhar. Passou um, passou outro. Era o terceiro. O pai viu, É aquele, e acenou, vamos, vamos! O ônibus encostou e abriu a porta: entraram, rápidos, e se sentaram ao fundo. A realidade junto, generosa naquele instante, passeio iniciado. Os dois irmãos continuavam sem saber onde era , mas já provavam uma alegria modesta. E trataram de engordá-la: uma freada do ônibus os atirou um sobre o outro, e eis que riram, gargalharam. A mãe de olho, Cuidado, segurem firme!, o pai feliz também, era isso o que desejava, os filhos daquele jeito, o bom da diversão era ela toda — o caminho.

Primeiro, da janela, viram o bairro de sempre, Olha, olha, o supermercado, a igreja, a escola: tudo há muito conhecido, embora fosse um ver novo, como contentamento. Depois, o ônibus os levou pela primeira vez a umas ruas nervosas, edifícios velhos dos dois lados, até desembocar numa praça cercada de árvores. Aí foram dar numa avenida de tráfego veloz, depois passaram por uns bairros bonitos; parecia outra cidade: casarões imponentes, alamedas, jardins. E essa outra cidade os via dentro do ônibus, à espera do que vinha. O garoto provocava a menina para aumentar a graça da viagem; o pai e a mãe sorrindo-se e, de repente, das mãos dadas, o vento suave nos cabelos.

Então, uma sombra enorme cobriu a avenida por onde o ônibus seguia e, depois de sumir, deixou-a como antes. Logo à frente, puderam ver no céu o que era — Nossa! —, um avião. Rasante, planava quase a tocar os prédios: o ventre bojudo de metal, as asas estalando o sol, som trovejando atrás feito um rabicho. Admiradas, as crianças esticaram os olhos para ver no seu rever o avião, imenso. Sumindo sobre os edifícios, era lá o seu pouso. Até então tinham visto os aviões só pequenos, no muito alto do céu, entre nuvens, sem os detalhes de agora e — descobriam, naquele momento — que eram, em verdade, sempre grandes. Tão despropositada era essa visão, que cutucaram o pai e a mãe perguntando o óbvio, se também tinham visto, como se o avião fosse um passarinho e só o olhar atento, de criança, pudesse percebê-lo na paisagem.

O ônibus fez uma curva, pegou uma rua lateral e eis um novo redemoinho de excitação: no horizonte, vindo da esquerda, outro avião sobrevoava baixinho os edifícios e seguia rugindo para a mesma direção. O pai disse, É no próximo ponto!, e se levantou com a mãe. Os filhos o imitaram com atraso, flertando ainda o avião em seus pormenores, o bico, as asasreticências

Saltaram do ônibus no meio de uma longa avenida. Atravessaram-na por uma passarela e, já do outro lado, caminharam algum tempo. Antes que o pai dissesse, os irmãos já sabiam. Era , o pleno passeio. O coração deles estremecia, com os primeiros encantosreticências Dali, podiam avistar a entrada principal do aeroporto, a torre de controle, um trecho da pista onde um avião taxiava lentamente, sem que soubessem se era sua partida ou chegada.

Também não importava: só queriam vê-lo, com os olhos da certeza, aquele era o instante, sem o antes e o depois, o imediato real — o avião, sólido, movia-se, mais e mais, fóra da neblina do sonho. A família, igualmente, seguia devagarinho pela calçada, rumo ao seu destino.

O pai, no comando, conduziu-os à área de desembarque. Gente e mais gente fluía de várias direções, com bolsas a tiracolo, mochila às costas, malas sobre carrinhos. O frenesiglossário excitava e entontecia. A mãe se pôs entre os filhos, dando-lhes as mãos para que não se perdessem entre as pessoas. Chegaram a uma porta de vidro, que se abriu, automaticamente. Entraram. O pai, Vamos, é lá em cima, e seguiu para a escada rolante, margeando os guichês das companhias aéreas.

Subiram, a curiosidade acelerada. Um andar mais calmo, e também eles num novo estado, acima, ali, o mirante. Uma aglomeração de pessoas em frente à imensa janela panorâmica. Todas para ver além do vão do seu dia. Os irmãos achataram o nariz no vidro, como se quisessem transpô-lo. Latejava nos dois a felicidade, e era muita: até incômoda. Assistiam àquele trecho do mundo, inteiros, que tudo o mais era de força menor. O quadro se fazia e se refazia, móvel: dezenas de jatos estacionados com as portas abertas; ao redor, um ir e vir de tratores e ônibus, o sol atrás dos prédios, e, tocando a pista, agora pousava um avião, Olha lá, olha lá! Chegava, enfim, a hora máxima.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 66-74.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Antes da leitura, você respondeu a três questões. O passeio que você imaginou antes da leitura se confirmou após ler o texto?
    1. A revelação sobre o lugar do passeio causou surpresa em você? Explique.
    2. O conto cativou sua atenção? Por quê?
  2. O título de um conto precisa despertar o interesse do leitor e trazer um elemento sugestivo sobre algo que será contado. No conto lido, o título possui essas características? Justifique.
  3. Releia o início do texto e responda:
    1. Quem são as personagens do conto?
    2. Onde essas personagens estão?
    3. O que acontece na cena do primeiro parágrafo?
    4. O que esse acontecimento provoca na família? Por quê?
    5. Em sua opinião, por que não são citados os nomes das personagens?
  4. Considere a seguinte fala do pai:

Sábado vamos lá.

Ilustração de sinal de interrogação em bold na cor roxa.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 66.

  1. Essa fala é compreensível para o restante da família? O que eles entendem?
  2. Qual palavra desse enunciado indica lugar?
  3. Quando o pai diz essa palavra, as personagens e o leitor sabem a qual lugar esse termo se refere? Que efeito isso desperta em personagens e leitores?
  4. Por que esse termo foi empregado em vez de um substantivo próprio ou comum?
  1. Ao longo da narrativa, os filhos procuram desvendar o mistério criado pelo pai acerca do passeio. No caderno, identifique as hipóteses levantadas pelos filhos.
  2. Que estratégias a família utiliza para descobrir o , encoberto pelo pai? Para onde as crianças imaginaram que o pai poderia levá-las? Comprove com trechos do texto.
  3. As ações e os sentimentos dos filhos diante da notícia dada pelo pai são destacados nos três primeiros parágrafos.
    1. Qual é a duração desses acontecimentos nesses parágrafos?
    2. Em que data eles ocorrem? Justifique com um trecho do texto.
  4. Para indicar como é apresentada a passagem de tempo após os três primeiros parágrafos, escreva no caderno se as afirmações a seguir são verdadeiras ou falsas. Justifique.
    1. Há um salto de tempo para o local do passeio.
    2. Depois do anúncio do pai, os acontecimentos são contados nos mínimos detalhes até o dia do passeio.
    3. Os acontecimentos até sábado são contados de modo resumido.
    4. Há uma retrospectiva do passado da família que conta como surgiu a ideia do passeio.
  5. Releia o seguinte trecho do conto.

E, de súbito, já era uma vez.

E depois a noite desse dia.

E logo outro dia.

E a sua noite correspondente.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 69.

  1. As frases do trecho destacado são longas ou curtas? Qual é a relação desse aspecto do texto com o que está sendo narrado no trecho?
  2. Que termo se repete no início das frases? Por que há essa repetição?
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Narrador e autor

O narrador é aquele que conta a história, a voz que narra os acontecimentos. Essa entidade fictícia é criada pelo autor, uma pessoa real que escreve a narrativa.

Ícone. Retomada de tópicos.

A narrativa e o uso de pronomes pessoais

Os pronomes pessoais indicam as três pessoas do discurso. São elas:

  • 1ª pessoa: quem fala. Exemplos: eu e nós.
  • 2ª pessoa: com quem se fala: Exemplos: tu, vós e você.
  • 3ª pessoa: do que ou de quem se fala. Exemplos: ele, ela, eles, elas.

Quando o narrador participa dos acontecimentos e conta a própria história, por exemplo, temos uma recorrência do uso da 1ª pessoa do discurso (eu/nós).

Quando o narrador observa os acontecimentos, mas não participa da situação, temos o uso da 3ª pessoa (ele/ela/eles/elas).

Faça as atividades no caderno.

  1. A curiosidade dos filhos, que não sabem o local do passeio, é também a dos leitores, pois o narrador utiliza como recurso o mistério e não revela o local. Como o narrador constrói no texto o aumento dessa tensão gerada pelo anúncio do passeio até chegar o grande dia?
  2. Leia as afirmações sobre o narrador do conto e copie no caderno a alternativa correta. Justifique-a com três trechos do texto.
Versão adaptada acessível

11. Leia as afirmações sobre o narrador do conto e registre a alternativa correta. Justifique-a com três trechos do texto.

um É um narrador que conta a história na 1ª pessoa do discurso.

dois É um narrador que conta a história na 3ª pessoa do discurso.

12. Releia o seguinte trecho do texto, observando a voz do narrador.

Dia claro, o sol abriu cedo a manhã. Ninguém se lembrava do passeio, mas o passeio estava lá nas suas profundezas. Bastava atirar a primeira palavra para acordá-lo, e foi o pai — só podia ser ele — quem o fez no café da manhã, dizendo: Vamos sair às três! E aí o sorriso de um canto a outro da mesa, a curiosidade vívida das crianças, o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 69-70.

  1. O narrador participa do café da manhã da família quando o pai anuncia o horário do passeio? Justifique.
  2. Imagine que o narrador está com uma câmera nas mãos. Como ele se movimenta para registrar essa cena?
  3. O narrador faz um comentário sobre uma personagem. Transcreva o trecho e explique o comentário.
  4. Com base nesse trecho e na narrativa, como você descreveria o grau de conhecimento do narrador sobre o que narra? Ele sabe dos acontecimentos e dos sentimentos das personagens? Comente.
  5. Releia o texto e escolha o seu trecho predileto. Agora, no caderno, reescreva essa parte como se ela fosse contada por uma das personagens participantes da história, mudando a voz narrativa.

Faça as atividades no caderno.

13. Além da voz do narrador, o leitor tem acesso a outras vozes na narrativa. Releia este trecho:

A mãe queria tirar umas dúvidas: Com que roupa? O marido, à porta do quarto, Confortável, e ela, Vestido ou calça jeans, e ele, Vestido, e ela, Bolsa grande ou pequena?, e ele, Pequena, e ela, com um fiozinho de impaciência, Mas, afinal, aonde vamos?, e ele, Mais uns minutos e você saberá.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 70-71.

  1. De quem são essas vozes que o trecho apresenta?
  2. No trecho destacado e no restante do texto, como essas e outras vozes estão destacadas?
  3. Geralmente, em narrativas, para reproduzir as falas das personagens, usamos aspas ou travessão e verbos de dizer. Reescreva o trecho destacado em seu caderno, empregando esses recursos.
  4. Compare os dois modos de organizar as falas das personagens. Em sua opinião, por que o autor optou por organizar as falas do jeito que está no conto?
  5. Agora, imagine que você vai resumir esse diálogo entre as personagens, para contá-lo a outra pessoa. Escreva no caderno como ficaria o trecho.
Versão adaptada acessível
  1. De quem são essas vozes que o texto apresenta?
  2. Nesse trecho, e no restante do texto, essas e outras vozes, que não são do narrador, aparecem em itálico (um estilo de letra diferente). Por que você acha que elas aparecem assim, no texto escrito?
  3. Geralmente, em narrativas, para reproduzir as falas das personagens, usamos aspas ou travessão e verbos de dizer. Registre o trecho apresentado empregando esses recursos.
  4. Compare os dois modos de organizar as falas das personagens. Em sua opinião, por que o autor optou por organizar as falas do jeito que está no conto?
  5. Agora, imagine que você vai resumir esse diálogo entre as personagens, para contá-lo a outra pessoa. Registre ou mostre como ficaria o trecho.

14. Releia o trecho a seguir e observe como o narrador conta o início do passeio, mantendo o suspense.

Os dois irmãos continuavam sem saber onde era , mas já provavam uma alegria modesta. E trataram de engordá-la: uma freada do ônibus os atirou um sobre o outro, e eis que riram, gargalharam. A mãe de olho, Cuidado, segurem firme!, o pai também, era isso o que desejava, os filhos daquele jeito, o bom da diversão era ela toda — o caminho.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 71.

  1. Como o narrador conta o início do passeio?
  2. Explique o que você entende ao ler a sentença: “o bom da diversão era ela toda — o caminho.”,
  3. Substitua a expressão “alegria modesta” por outra com valor equivalente.
  4. Observe no trecho como são identificadas as personagens. Como elas são mencionadas ao longo do conto?
Ícone. Retomada de tópicos.

Verbos de dizer

Os verbos de dizer ou de elocução são utilizados, nos textos literários, para apresentar a fala de personagens, e nos textos jornalísticos ou acadêmicos, para introduzir a declaração de alguém. Esses verbos podem expressar um juízo de valor do narrador sobre a declaração, pois há diferença entre dizer que uma personagem respondeu e retrucou. Exemplos de verbos de dizer: perguntar, responder, declarar, exclamar, afirmar, dizer etcétera

Faça as atividades no caderno.

  1. No último parágrafo, já no lugar misterioso, os dois irmãos experimentam o mesmo sentimento de “alegria modesta”.
    1. Transcreva o trecho em que isso fica evidente.
    2. Agora, compare o modo como o narrador descreve esse sentimento nos dois casos. Qual é a diferença e o que ela revela sobre a reação das personagens?
  2. Se você retomar a leitura do conto do ponto anterior ao início do passeio, perceberá o emprego de expressões que mostram como a narrativa é construída com uma linguagem figurada, sugerindo imagens que ampliam o sentido de palavras e expressões. Em seu caderno, explique o sentido das expressões em destaque a seguir, de acordo com o contexto em que estão inseridas no texto:
    1. “aquele ‘lá’ tinha sido vento em brasa”.
    2. a menina jogava verde com a mãe”.
    3. “o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada”.
Versão adaptada acessível

16. Se você retomar a leitura do conto do ponto anterior ao início do passeio, perceberá o emprego de expressões que mostram como a narrativa é construída com uma linguagem figurada, sugerindo imagens que ampliam o sentido de palavras e expressões. Registrando sua resposta, explique o sentido das expressões "vento em brasa", da frase "aquele 'lá' tinha sido vento em brasa"; "jogava verde", da frase "a menina jogava verde com a mãe"; e "sua hora do parto marcada", da frase "o mistério, enfim, com a sua hora do parto marcada".

17. Transcreva o parágrafo em que o momento da revelação do lugar misterioso é antecipado.

  1. Referente ao parágrafo que você identificou na atividade anterior, responda:
    1. Qual elemento revela a pista do lugar misterioso?
    2. Esse elemento é comparado a quê?
    3. Como se estabelece essa comparação?
    4. Qual foi a reação das crianças ao ver essa pista? Elas entenderam que era uma pista?
  2. Qual é o ponto alto da narrativa?
    1. Em qual local as personagens se encontram neste momento importante do conto?
    2. De acordo com o que é narrado nesse momento de chegada, é possível deduzir se mãe e filhos já conheciam o aeroporto? Justifique sua resposta.
  3. Releia o último parágrafo do conto.
    1. A que se refere o termo , da fala “Olha lá, olha lá”?
    2. Encontre o referente para o termo desta fala do pai: “Vamos, é lá em cima”.
    3. Releia a frase: “Todas para ver além do vão do seu dia” e responda: Por que as pessoas vão ao mirante?
    4. Ao terminar o conto e voltar à primeira fala do pai, quais novos sentidos você atribui ao ?
  4. O desfecho da narrativa menciona a chegada da hora máxima do passeio, mas o narrador não conta as reações das personagens. Por que a narrativa termina nesse ponto?
  5. Em uma roda de conversa, relate como foi realizar esse passeio com a família do conto.
    1. Com qual personagem você mais se identificou? Explique sua resposta.
    2. Você já vivenciou alguma situação parecida? Compartilhe com seus colegas.
    3. Você mudaria ou acrescentaria algo no conto? Justifique o que você ajustaria como autor do texto.

O gênero em foco

Faça as atividades no caderno.

Conto

O gênero textual conto é uma narrativa breve que, geralmente, gira em torno de um fato principal. É marcado pela pouca quantidade de personagens.

Ao realizar o estudo do conto “Passeio”, de João Anzanello Carrascoza, você se deparou com os elementos básicos da narrativa.

Em uma narrativa, o conjunto de acontecimentos situados no tempo e no espaço é chamado de enredo. Vamos analisar o tempo e o espaço do conto lido:

Tempo: os fatos estão concentrados em um curto período de tempo, entre meados da semana e sábado. Embora não seja possível precisar a data dos fatos narrados, é possível reconstruí-los em uma ordem cronológica linear.

Espaço: é o ambiente em que se passam os acontecimentos. Em “Passeio”, as quatro personagens – figuras imaginadas pelo autor – movimentam-se por três ambientes: a casa, a cidade e o aeroporto. Esse último local merece uma descrição mais minuciosa, por ser a revelação do esperado lá, principal mistério do conto, e por contribuir para revelar as emoções das personagens.

O contista precisa ser hábil na construção do enredo, de modo a causar o arrebatamento do leitor. Em relação à organização dessa narrativa, um contista elabora, geralmente, quatro partes sequenciais:

Esquema divido em quatro partes. Da parte 1 sai uma seta para a parte 2 e assim por diante até a parte 4, de cima para baixo. Parte 1: Situação inicial. Apresentação de dados que contextualizam a história ao leitor. Parte 2: Conflito: Acontecimento que altera a situação inicial. Parte 3: Clímax. Momento de maior tensão do conto. Parte 4: Desfecho. A resolução do conflito.

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Transcrição do áudio

>> [LOCUTOR - título]: Leitura expressiva de um conto

>> [Locutor]: A doença do Fabrício

>> [Locutor]: De Artur Azevedo >> [Narradora]: O Fabrício era amanuense numa repartição pública, e gostava [Tom enfático] muito da Zizinha, filha única do Major Sepúlveda. O seu desejo era casar-se com ela, mas para isso era preciso ser promovido porque os vencimentos de amanuense não davam para sustentar família. Portanto, o Fabrício limitava-se à posição de namorado, esperando ansioso o momento em que pudesse ter a de noivo.

>> [Narradora]: Um dia, o rapaz recebeu uma carta de Zizinha, participando-lhe que o pai, o Major Sepúlveda, resolvera passar um mês em Caxambu, com a família, e pedindo-lhe que também fosse, pois ela não teria forças para viver tão longe dele.

>> [Narradora]: Sorriu ao amanuense a ideia de ficar uma temporada em Caxambu, hospedado no mesmo hotel que Zizinha. Sendo como era, moço econômico, tinha de parte os recursos necessários para as despesas da viagem; faltava-lhe apenas a licença, mas com certeza o ministro não lha negaria.

>> [Narradora]: Enganava-se o pobre namorado. O ministro, a quem ele se dirigiu pessoalmente, perguntou-lhe de carão fechado:

>> [Ministro]: [Em tom rabugento] Para que quer o senhor dois meses de licença?

>> [Fabrício]: – Para tratar-me.

>> [Ministro]: – Mas o senhor não está doente!

>> [Fabrício]: – [Em tom ansioso] Estou, sim, senhor; não parece, mas estou.

>> [Ministro]: – Nesse caso submeta-se à inspeção de saúde e traga-me o laudo. [Tom enfático] Só lhe darei a licença sob essa condição.

>> [Narradora]: Três dias depois o Fabrício, metido numa capa, com lenço de seda atado em volta do pescoço, a barba por fazer, algodão nos ouvidos, foi à Diretoria Geral de Saúde.

>>[Narradora]: O seu aspecto era tão doentio que o doutor encarregado de examiná-lo disse logo que o viu:

>> [Médico]: – Aqui está um que não engana: vê-se que está realmente enfermo!

>> [Narradora]: E dirigindo-se ao Fabrício:

>> [Médico]: – Que sente o senhor?

>> [Narradora]: O Fabrício respondeu com uma voz arrastada e chorosa:

>> [Fabrício]: [Tom cansado] – Sinto muitas coisas, doutor; dores pelo corpo, cansaço, ferroadas no estômago, opressão no peito.

>> [Médico]: – Vamos lá ver isso! Dispa o casaco!

>> [Narradora]: O Fabrício pôs-se em mangas de camisa, e o médico auscultou-o.

>> [Médico]: [Tom surpreso] – Não tem tosse?

>> [Fabrício]: – Tenho, mas só à noite; não me deixa dormir.

>> [Médico]: – Bom. Pode vestir o casaco.

>> [Narradora]: E o doutor foi escrever o laudo, que entregou ao amanuense. Este na rua desdobrou o papel, para ver que espécie de doença lhe arranjara o médico e leu: "Cardialgia sintomática da diátese artrítica."

>> [Narradora]: Não imaginem o efeito que lhe produziram essas palavras enigmáticas para ele.

>> [Fabrício]: [Tom entre surpreso e desesperado] – E não é que eu estou mesmo doente? –

>> [Narradora]: pensou o pobre rapaz.

>> [Narradora]: Ao chegar à casa, tinha as fontes a estalar. Vieram depois arrepios de frio, a que sucedeu uma febre violenta e febre foi ela, que durou vinte dias.

>> [Narradora]: O enfermo teve alta justamente quando Zizinha voltava de Caxambu com um noivo arranjado lá.

>> [Narradora]: [Tom enfático] Maldita cardialgia sintomática da diátese artrítica.

[locução crédito] O conto A Doença do Fabrício, de Artur Azevedo, está em domínio público.

Outro elemento essencial é a tensão, que precisa permear todo o enredo. Ela precisa ser estabelecida desde os primeiros parágrafos e é a responsável por manter o leitor envolvido com a história, curioso e ansioso para saber o que vai acontecer. No conto lido, a tensão se estabelece a partir da fala do pai sobre o passeio, e o mistério do local é mantido por meio da recorrência do , marcador presente em diversos momentos.

O narrador é parte essencial de um conto, pois é a voz que conta os acontecimentos da narrativa. Ele pode narrar em 1ª ou 3ª pessoa. Em “Passeio”, o narrador está na terceira pessoa e tem acesso a todos os acontecimentos, emoções e pensamentos das personagens.

Observe este esquema sobre a classificação dos narradores:

Esquema. Caixa de texto centralizada com a palavra: Narrador. Ligada por um fio a três caixas de texto na horizontal. Primeira caixa: Pessoa gramatical; ligada por um fio na vertical com: 1ª pessoa; 3ª pessoa. Segunda caixa: Grau de conhecimento (narrador externo); ligada por um fio na vertical com: *Onisciente: sabe tudo o que ocorre com as personagens. *Objetivo ou de conhecimento relativo: mostra as ações das personagens, sem emitir juízos ou revelar os sentimentos deles. Terceira caixa: Grau de participação (narrador interno); ligada por um fio na vertical com: *Protagonista: participa dos acontecimentos, sendo a personagem principal. *Testemunha (observador): se limita a contar o que vê, não participa das ações.

Além da voz do narrador, há as vozes das personagens da narrativa. Como vimos, eles podem ser apresentados de fórmadireta ou indireta.

Discurso direto: a fala da personagem é apresentada diretamente ao leitor, por meio do uso de travessão, aspas ou marcas gráficas (itálico, negrito). Também é acompanhada de verbos do dizer (perguntar, responder, questionar, entre outros) com detalhes ditos pelo narrador das circunstâncias daquela fala.

Discurso indireto: a fala da personagem é contada nas palavras do narrador. Não traz os sinais de pontuação típicos do discurso direto, mas há presença dos verbos de dizer, que destacam o início da fórma indireta.

Ilustração. Destaque para o busto de quatro pessoas enfileiradas na vertical. Primeiro, um homem de cabelos e barba ondulados, barba e óculos. Abaixo, uma mulher com cabelos lisos na altura do ombro. Na sequência, uma menina usando duas tranças. Por último, um menino com cabelos ondulados.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 1

Faça as atividades no caderno.

Figuras de linguagem (1)

1. Releia o segundo parágrafo do conto que você acabou de estudar.

Mas os filhos queriam tudo imediato da vida e ficaram atiçados, aquele “lá” tinha sido vento em brasa, eles ardiam de curiosidade, o garoto mais, por ser menor; a menina, no seu canto, esperta, pensando, pensando, Vou descobrir! Fosse a praça, redonda, onde alugavam bicicleta e faziam piquenique; ou o parque, grande, de tanto verde, que não entrava de uma só vez em seus olhos; já estariam contentes. Mas lá, lá onde seria?

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 66.

  1. Você sabe o que acontece quando as brasas de carvão de uma fogueira ou de uma churrasqueira são abanadas ou atingidas pelo vento?
  2. O que a expressão vento em brasa significa nesse contexto?
  3. O que há em comum entre o significado dessa expressão e a palavra ardiam que aparece na sequência?

2. Agora, leia esta tirinha:

Tirinha. 9 cenas. Personagem: caramujo de três antenas. Cena 1: Caramujo diz: Normalmente eu ando bem devagar... . Cenas 2, 3 e 4: Caramujo posicionado à esquerda do quadrinho, a cada cena ele se desloca bem pouco em direção à direita. Cena 5: Caramujo diz: Batendo papo... Admirando a paisagem... . Cenas 6, e 7: Caramujo posicionado à esquerda do quadrinho, a cada cena ele se desloca bem pouco em direção à direita. Cena 8: caramujo quase centralizado no quadrinho, mas ainda à esquerda. Cena 9: Caramujo diz: Desculpem, mas hoje estou morrendo de pressa!

gonçales, Fernando. Níquel Náusea. Folha de São Paulo, São Paulo, 13 dezembro 2016. Ilustrada, página cê cinco.

  1. Na segunda fala do caracol, o que reforça a ideia de lentidão de seu andar?
  2. Ao final da tirinha, o que produz o humor?
  3. Como as imagens e outros elementos gráficos nos ajudam a compreender essa tirinha?
  4. Observe o último quadrinho. Como você expressaria essa pressa? Como as pessoas costumam explicar essa sensação no lugar onde você mora?

Faça as atividades no caderno.

Metáfora e hipérbole

Nos textos literários e nas conversas do dia a dia, muitas vezes preferimos dizer algo indiretamente para produzir significados novos. Quando dizemos, por exemplo, que um jogador de futebol é um cavalo, queremos dizer que ele é muito forte e, por isso, faz faltas duras. Nesse caso, selecionamos uma característica associada ao animal cavalo e a transferimos para o jogador.

Observe a tirinha a seguir:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: um rato azul  e uma rata cinza. Eles estão lado a lado. Cena 1. O rato, com os olhos entreabertos, aproxima-se da rata e diz: VOCÊ É UM COLÍRIO PARA MEUS OLHOS. A rata, sentada, diz: OH. Cena 2. O rato sorri e diz: UM DESCONGESTIONANTE NASAL PARA MEU NARIZ. A rata olha para ele com os olhos arregalados. Cena 3. O rato, com a cabeça para cima e uma das mãos na barriga, diz: UM ANTIÁCIDO PARA MEU ESTÔMAGO. A rata, com as sobrancelhas abaixadas e a boca voltada para baixo, levanta-se e diz: TEM GENTE QUE NÃO SABE QUANDO PARAR!

gonçales, Fernando. Níquel Náusea. Folha de São Paulo, São Paulo, 12 setembro 2005.

  1. Será que a personagem é, de fato, um colírio para o ratinho?
  2. Qual seria o sentido da palavra colírio no texto?
  3. Por qual outra palavra poderíamos substituir esse termo?

Você se lembra da expressão vento em brasa, que analisou na atividade 1?

Com essa expressão acontece a mesma coisa: quando fazemos vento sobre a brasa, reacendemos o fogo, mesmo que momentaneamente. O autor do conto quis dizer que o pai despertou a curiosidade nos filhos por não dizer o lugar do passeio. Note que houve uma comparação de significados e o uso de uma expressão. A esse processo damos o nome de metáfora.

Esse recurso da língua ajuda a produzir humor e pode tornar a linguagem mais poética, fazendo as pessoas refletirem sobre o que falam ou escrevem.

No conto lido, há outra figura de linguagem que utiliza o exagero para produzir efeitos de sentido. Você, quando esteve com muita fome ou muito sono, provavelmente já disse estar morrendo de fome ou morrendo de sono. É claro que você não estava morrendo de verdade, mas utilizou uma expressão exagerada para mostrar que sua fome ou sono era muito grande.

O caracol, na tirinha da atividade 2, se locomove muito lentamente, mas se desculpa ao dizer que está morrendo de pressa. Obviamente ele também não está morrendo de verdade; ele só usou essa expressão para intensificar sua pressa, mostrar que ela é muito grande, ou seja, ele exagerou. Todas as vezes que nos referimos a algo de fórma exagerada, utilizamos uma hipérbole.

Metáfora e hipérbole são figuras de linguagem, ou seja, são recursos que utilizamos para acrescentar expressividade ao texto. Essas figuras não são as únicas que existem. Você conhecerá mais figuras de linguagem em outras Unidades deste volume.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Releia um trecho do terceiro parágrafo do conto:

Não podiam se conter, os dois estavam além dessa noite. E era hora de dormir. Como manter a calma com aquela alegria, ainda sem fórma, lá na frente? reticências

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 68.

  1. O que significa a expressão lá na frente nesse contexto? Essa expressão é uma metáfora ou uma hipérbole? Justifique.
  2. Diante dessa alegria das personagens, qual hipérbole poderíamos usar?

2. Leia um trecho da crônica “A perfeição não existe”:

Os trinta anos da conquista da Copa do Mundo de 70 estão sendo muito comemorados. Recentemente, sentei-me diante da tê vê para assistir, na íntegra, aos jogos daquela seleção. Com ansiedade, orgulho e saudade, tentei ver as partidas com o olhar crítico de um comentarista e sem a emoção daquele momento.

Queria entender a magia daquele time, idolatrado desde a conquista do título. Sei que foi a primeira Copa transmitida ao vivo pela tê vê, que o Brasil ganhou todas as partidas, que goleou a Itália na final por 4 a 1 e que havia um grito contido no povo, por causa da ditadura, mas existe um encanto ou uma admiração por aquela equipe que ultrapassa meu entendimento.

Naquela época, a marcação individual e a velocidade eram infinitamente menores que hoje. Parreira disse, numa entrevista à revista Placar, que ver hoje a seleção de 70 atuar é um exercício de paciência por causa da lentidão. O treinador (na época, observador e auxiliar da preparação física) é um apaixonado pela marcação, pela velocidade e pelo futebol moderno. reticências

TOSTÃO. A perfeição não existe. São Paulo: Três Estrelas, 2012. página 28.

Fotografia. Destaque para o rosto de Tostão, um homem parcialmente calvo, com cabelos brancos e linhas de expressão marcadas. Ele usa óculos e camiseta preta. Está olhando para a direita. Atrás, estante com livros.
Tostão, ex-jogador de futebol da seleção brasileira, atual comentarista esportivo e autor do livro A perfeição não existe, em fotografia de 2012.
  1. Qual foi o objetivo de Tostão ao rever os jogos da seleção?
  2. Que diferença Tostão reconhece que existe entre a seleção de 1970 e os times da atualidade?
  3. Na crônica, Tostão descreve a fala de Parreira usando uma metáfora. Copie no caderno a frase com essa metáfora e explique-a.
  4. Identifique, no terceiro parágrafo, a hipérbole que caracteriza Parreira. Explique-a.
Versão adaptada acessível
  1. Qual foi o objetivo de Tostão ao rever os jogos da seleção?
  2. Que diferença Tostão reconhece que existe entre a seleção de 1970 e os times da atualidade?
  3. Na crônica, Tostão descreve a fala de Parreira usando uma metáfora. Registre a frase com essa metáfora e explique-a.
  4. Identifique, no terceiro parágrafo, a hipérbole que caracteriza Parreira. Explique-a.
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Passado e futuro

Você já reparou que, na nossa língua, as referências ao futuro são sempre direcionadas para a frente e ao passado para trás? Quando dizemos algo como “siga em frente” para alguém que está enfrentando um problema, queremos, na verdade, dizer para essa pessoa pensar no futuro e superar o que a incomoda. Esse é o caso da expressão lá na frente nesse trecho do conto: o narrador quer dizer que a alegria só tomaria fórma em um momento no futuro, quando as crianças estivessem no passeio prometido.

Faça as atividades no caderno.

Eufemismo

1. Leia a tirinha:

Tirinha. Em quatro cenas.  Personagens: uma joaninha e uma minhoca. Eles estão em cima das folhas de uma planta. Cena 1: A joaninha, olhando para minhoca, diz: SEGUNDA-FEIRA... QUE DIA MAIS HORRÍVEL! Cena 2. Destaque para as silhuetas da joaninha e da minhoca vistas de longe sobre as folhas de uma planta. A minhoca diz: PODÍAMOS RESOLVER ISSO COM UMA TROCA DE NOME... Cena 3. Olhando para a joaninha, a minhoca diz: QUE TAL CHAMAR A SEGUNDA DE... “BOLO DE CHOCOLATE”? Cena 4. Olhando para cima, a minhoca diz: AS OPERADORAS DE TELEFONIA USAM MUITO ESSE TRUQUE. A joaninha olha para a minhoca com as sobrancelhas juntas e a boca voltada para baixo.

GOMES, Clara. Bichinhos de jardim. O Globo, Rio de Janeiro, 23 janeiro 2017. Segundo Caderno, página 4.

a. Por que Joaninha parece não gostar de segunda-feira?

b. Por que a solução sugerida foi trocar o nome do dia da semana?

c. Qual crítica é feita no último quadrinho? O que a personagem quis explicar?

Quando não queremos contar um fato desagradável e utilizamos palavras ou expressões mais suaves, denominamos esse recurso eufemismo, que é uma figura de linguagem. É o caso da troca do nome “segunda-feira” por “bolo de chocolate” na tirinha que você acabou de ler. Segunda-feira é um dia horrível para Joaninha; para tentar amenizar isso, sugere-se que esse dia se chame “bolo de chocolate”, algo agradável.

Quais eufemismos costumamos usar no dia a dia? Pesquise e compartilhe com seus colegas.

Somando e opondo ideias

1. Releia o trecho a seguir, retirado do conto “Passeio”:

reticências shopping, karaokê, Playcenter. O que seria? O passeio, misterioso! Mas como são grossas as camadas da certeza, a menina não podia penetrá-las e ficou só na sua superfície, inventando lugares menores, se comparados à realidade. Bocejou uma vez. Duas. Dormiu.

E, de súbito, já era uma vez.

E depois a noite desse dia.

E logo outro dia.

E a sua noite correspondente.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 68-69.

• Por que você acha que o autor usou parágrafos curtos iniciados por ê?

2. Leia a tirinha do Recruta Zero:

Tirinha. Em duas cenas.  Personagens: Sargento Tainha, homem robusto vestindo farda verde.  Recruta Zero, soldado com farda cinza e boné cobrindo os olhos. Cena 1. Sargento Tainha está de perfil, em pé e com a mão na cintura. Ao lado, Recruta Zero está encostado na parede, com a cabeça apoiada nas mãos e as pernas cruzadas, em posição de descanso. Sargento Tainha, olhando para o Recruta Zero, diz: ZERO, VOCÊ É O MAIS PREGUIÇOSO E O PIOR SOLDADO DE TODO O QUATEL. Recruta Zero responde: ESSA É A SUA OPINIÃO. Cena 2. À esquerda, o Sargento Tainha está olhando para o Recruta Zero e com a boca voltada para baixo, em sinal de desaprovação. Ao lado, o Recruta Zero, ainda sentado e na mesma posição, diz: E EU NÃO QUERO UMA SEGUNDA OPINIÃO.

uólquer, Grégui; uólquer, mort. Recruta Zero. O Estado de São Paulo, São Paulo, 26 outubro 2017. Caderno 2, página C4.

Faça as atividades no caderno.

  1. Identifique os verbos nas falas das personagens e diga quantas orações cada um produziu.
  2. Qual é a palavra que liga as duas orações na fala do Sargento Tainha?
  3. Em qual oração identificada no item a o humor está mais presente?
  4. O que revela a palavra e no último quadrinho? Que palavra você usaria no lugar do e?

Conjunções e e mas

Quando falamos ou escrevemos um texto com duas ou mais orações, precisamos relacioná-las de alguma fórma. Imagine que as orações de um texto são como linhas de um tecido entrelaçadas com nós, senão o tecido se desfaz. No texto, algumas palavras fazem o papel de e mantêm as orações unidas.

A essas palavras damos o nome de conjunções. Elas são diversas tanto em tipos quanto em significados. Nesta Unidade, estudaremos as conjunções e e mas. Agora, releia um trecho do conto da Leitura 1.

O passeio, misterioso! Mas como são grossas as camadas da certeza, a menina não podia penetrá-las e ficou só na sua superfície, inventando lugares menores, se comparados à realidade. Bocejou uma vez. Duas. Dormiu.

E, de súbito, já era uma vez.

E depois a noite desse dia.

E logo outro dia.

E a sua noite correspondente.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 68-69.

Repare que os parágrafos apresentam uma sequência, que obedece a uma ordem no tempo. A palavra e, ao iniciar cada parágrafo, adiciona, soma um fato de cada vez, traz a ideia da passagem do tempo e cria um efeito de repetição.

O autor pode intencionalmente usar a repetição como fez João Carrascoza nesse trecho do conto.

Releia a tirinha do Recruta Zero, na atividade 2, na qual você identificou os verbos, as orações e a conjunção que as ligavam: e. Observe que, na primeira fala do Sargento Tainha, a conjunção e tem o sentido de somar e, na segunda fala, de oposição, adversidade, e pode ser substituída pela conjunção mas.

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Mais ou mas?

Na escrita, é preciso atenção para não confundir o advérbio mais com a conjunção mas. Embora, na fala, na maior parte das vezes, não haja diferença sonora entre essas duas palavras, é o significado que as distingue. Mais significa soma; já mas é a conjunção que utilizamos normalmente para indicar oposição de ideias.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. O trecho a seguir do conto “Passeio” explora o uso da conjunção e. Releia:

A mãe queria tirar umas dúvidas: Com que roupa? O marido, à porta do quarto, Confortável, e ela, Vestido ou calça jeans, e ele, Vestido, e ela, Bolsa grande ou pequena?, e ele, Pequena, e ela, com um fiozinho de impaciência, Mas, afinal, aonde vamos?, e ele, Mais uns minutos e você saberá.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 70-71.

A conjunção e, nesse trecho do conto, soma ou opõe ideias?

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Mas, afinalreticências

A palavra afinal que aparece logo após a conjunção mas é um advérbio que está interferindo no significado do verbo ir (vamos). Repare que a oração poderia ter sido escrita nesta ordem: “Mas aonde vamos, afinal?”. No entanto, ao colocá-la logo após a conjunção mas, o autor enfatiza a impaciência da esposa ao quebrar o ritmo de leitura.

2. Analise as afirmações a seguir e escreva em seu caderno qual está correta ou quais estão corretas.

um O uso de e repetidamente no parágrafo não visa criar nenhum efeito de sentido específico, o autor apenas utilizou essa conjunção para interligar as orações.

dois O uso da conjunção e, nesse trecho, torna a leitura do texto mais rápida.

três Ao repetir a conjunção e no início de frases curtas, o autor cria um jogo de perguntas e respostas rápidas entre o marido e sua esposa, além de enfatizar as respostas “secas” do marido.

3. Leia este poema de Paulo lemínsqui:

amor bastante

quando eu vi você

tive uma ideia brilhante

foi como se eu olhasse

de dentro de um diamante

e meu olho ganhasse

mil faces num só instante


basta um instante

e você tem amor bastante

lemínsqui, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 295.

  1. O que acontece com o eu lírico quando vê a mulher amada?
  2. Observe o uso da conjunção e na primeira estrofe. O que seu uso pelo poeta indica?
  3. Um diamante não tem mil faces. Quando o eu lírico usa essa expressão, que figura de linguagem ele está utilizando?
  4. Esse exagero contido na expressão mil faces tem alguma relação com o último verso “e você tem amor bastante”?

Leitura 2

Faça as atividades no caderno.

Contexto

Na primeira leitura, você acompanhou a expectativa de duas crianças para o dia do passeio marcado pelo pai. Agora, você vai ler mais um conto com personagens infantis. Esse texto faz parte do livro Os da minha rua, no qual o escritor angolano Ondjék reúne histórias que mesclam memória, afeto, identidade e invenção sobre a infância em Angola na década de 1980.

Ondjék

AUTORIA

Ondjék, pseudônimo de ñdalú de Almeida, nasceu em Luanda, capital de Angola, em 1977. É um premiado jovem escritor em língua portuguesa, com livros traduzidos para idiomas como francês, espanhol e inglês. Em 2013, ganhou o prêmio José Saramago pelo romance Os transparentes. As obras Os da minha rua; Bom dia, camaradas; e Avó Dezanove e o segredo do Soviético, com protagonistas infantis, têm cativado jovens leitores.

Antes de ler

O conto a seguir chama-se “O Kazukuta”. Alguma vez você já ouviu a palavra kazukuta? Sua origem é o kimbundu, uma língua falada em Angola, que denomina um tipo de dança popular desse país. No entanto, na narrativa, ela é utilizada como um substantivo próprio.

  • Quem você imagina que se chama Kazukuta?
  • Qual será o conflito principal desse conto? Compartilhe com seus colegas as suas hipóteses.
  • Como você supõe que seja o português falado e escrito em Angola? Será que é compreensível para os brasileiros?

O Kazukuta

Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.

Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, e bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol para lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali na casota, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.

Acho que o Kazukuta era um cão triste porque é assim que me lembro dele. Nós não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando. Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele tinha alergia ou medo, não sei, devia perguntar ao tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e cada vez andava só a dormir mais.

Um dia era de tarde e vi o tio Joaquim dar banho ao Kazukuta. Um banho de demorar. Fiquei espantado: o tio Joaquim que ficava até tarde a ler na sala, o tio Joaquim que nos puxava as orelhas, o tio Joaquim silencioso, como é que ele podia ficar meia hora a dar banho ao Kazukuta?

Lembro o Kazukuta a adorar aquele banho, deve ser porque era um banho sincero, deve ser porque o tio punha devagarinho frases ao Kazukuta, e ele depois ia adormecer. Kazukuta: lembro bem os teus olhos doces a brilhar tipo um mar de sonho só porque o tio Joaquim — o tio Joaquim silencioso — veio te dar banho de mangueira e te falou palavras tranquilas num kimbundu assim com cheiros da infância dele.

E demorou. Já estávamos quase a parar a nossa brincadeira. Porque afinal a água caía nos pelos do Kazukuta, e os pelos ficavam assim coladinhos ao corpo, e virados para baixo como se já fossem muito pesados, e a água acabou, não tinha mais, e mesmo sem fechar a torneira o tio Joaquim, com a mangueira ainda a pingar as últimas gotas dela, e no regresso do Kazukuta à casota, depois daquele abano tipo chuvisco de nós rirmos, o Tio Joaquim deu a notícia que tinha demorado aquele tempo todo para falar:

— Meninos, a tia Maria morreu.

Até tive medo, não daquela notícia assim muito séria, mas do que alguém perguntou:

— Mas podemos continuar a brincar só mais um bocadinho?

O tio largou a mangueira, veio nos fazer festinhas.

— Sim, podem.

Vi um sorriso pequenino na boca do tio Joaquim. Às vezes ele aparecia no quintal sem fazer ruído e espreitava a nossa brincadeira sem corrigir nada. Olhava de longe como se fosse uma criança quieta com inveja de vir brincar conosco.

O tio Joaquim era muito calado e sorria devagarinho como se nunca soubesse nada das horas e das pressas dos outros adultos. O tio Joaquim gostava muito de dar banho ao Kazukuta.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27-29.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Antes da leitura, você imaginou quem seria o Kazukuta que dá título ao conto.
    1. Sua hipótese se confirmou após a leitura?
    2. Como se sentiu quando descobriu quem era?
  2. Sua suposição sobre o conflito principal se confirmou?
  3. Você observou diferenças na linguagem do conto em relação ao português falado aqui no Brasil e na sua região? Se sim, cite algumas delas. Pesquise a língua portuguesa falada em diferentes partes do mundo.
  4. O livro Os da minha rua, de Ondjék, foi publicado em três países que falam a língua portuguesa: Brasil, Angola e Portugal. Conheça diferentes capas das edições dessa obra:
Capa 1: Destaque para a foto da perna de duas crianças, uma usando sapato preto e calça xadrez, e a outra usando tênis preto e calça rosa. Ao fundo, uma parede descascada. Na parte inferior da imagem, o nome do autor: Ondjaki. Logo abaixo, o título do livro: Os da minha rua.
Capa da edição de 2007, publicada no Brasil pela editora Língua Geral.
Capa 2. Destaque para a sombra de três crianças sentadas refletida em uma rua asfaltada. Na parte superior, à esquerda, o nome do autor: Ondjaki. Logo abaixo, o título do livro: OS DA MINHA RUA.
Capa da primeira edição da obra, publicada pela editora Caminho, em Angola, em 2007.
Capa 3. Na parte inferior, ilustração de um cachorro rosa de perfil. Atrás, silhueta de uma cidade, com luzes acesas e céu estrelado. Na parte superior, o nome do autor  ONDJAKI. Logo abaixo, o título do livro:  OS DA MINHA RUA.
Capa da edição de bolso publicada em 2009, em Portugal, pela editora Lêia.
  1. Descreva cada uma das imagens.
  2. A quais temas as capas dos livros remetem?
  3. Relacione cada uma das capas ao conto “O Kazukuta”.

5. O livro Os da minha rua é composto de 22 narrativas contadas pelo narrador-menino Ondjaki. Leia a sinopse e responda às questões.

Há espaços que são sempre nossos. E quem os habita, habita também em nós. Falamos da nossa rua, desse lugar que nos acompanha pela vida. A rua como espaço de descoberta, alegria, tristeza e amizade. Os da Minha Rua tem nas suas páginas tudo isso.

Editora Caminho. Sinopse Os da minha rua. Disponível em: https://oeds.link/QiMXcR. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

  1. A sinopse informa que a obra é uma coletânea de narrativas ligadas por uma mesma temática. Qual?
  2. Com base nas capas das diferentes edições e na sinopse, explique quais são esses “espaços sempre nossos”.
  3. Identifique no paratexto quem são “os da minha rua”.

Faça as atividades no caderno.

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Paratextos

São os elementos verbais e visuais que acompanham o texto principal e complementam seu sentido, como nome do autor, da editora, ano de publicação, capa, imagens, títulos, ilustrações, fotografias, traduções, notas de rodapé, entre outros.

6. Agora releia o primeiro parágrafo do conto:

Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

a. Observe a voz narrativa e copie no caderno a afirmação correta a respeito do narrador.

um É um narrador em 1ª pessoa que testemunha os acontecimentos sem participar da história.

dois É um narrador em 3ª pessoa que sabe de todos os acontecimentos e sentimentos que envolvem as personagens.

trêsÉ um narrador em 1ª pessoa que participa dos acontecimentos da história narrada.

quatro É um narrador em 3ª pessoa que narra tudo de maneira objetiva sem emitir juízos.

b. Justifique sua resposta com dois trechos.

Versão adaptada acessível

a. Observe a voz narrativa e registre a afirmação correta a respeito do narrador.

um É um narrador em 1ª pessoa que testemunha os acontecimentos sem participar da história.

dois É um narrador em 3ª pessoa que sabe de todos os acontecimentos e sentimentos que envolvem as personagens.

três É um narrador em 1ª pessoa que participa dos acontecimentos da história narrada.

quatro É um narrador em 3ª pessoa que narra tudo de maneira objetiva sem emitir juízos.

b. Justifique sua resposta com dois trechos.

  1. Ao contrário do conto “Passeio”, no qual o leitor não tem muitas informações sobre o narrador, em “O Kazukuta” é possível descrever quem conta a história. Faça essa descrição.
  2. Além do narrador-protagonista, há outras personagens nesta narrativa.
    1. Quem são elas?
    2. Elas desempenham o mesmo papel na história?
  3. Quais são as personagens principais do conto? Justifique.
  4. Observe o quadro a seguir, que apresenta palavras que caracterizam o cão Kazukuta e o tio Joaquim. Em seguida, construa, em seu caderno, um outro quadro com duas colunas como indicado, e separe essas palavras em duas categorias.

calado  lento  triste

faminto  paciente  velho

leitor  silencioso  paciente

Características do cão

Características do tio


Versão adaptada acessível

10. Observe a seguir a sequência de palavras que caracterizam o cão Kazukuta e o tio Joaquim. Em seguida, registre quais palavras designam características do cão e quais se referem ao tio.

Quem atribui essas características às personagens do conto?

Faça as atividades no caderno.

  1. Você diria que as personagens do conto têm características e vivenciam sentimentos parecidos com as personagens do conto “Passeio”? Compare os dois contos e explique sua resposta.
  2. No caderno, copie o esquema a seguir, completando-o com os principais elementos que compõem a sequência narrativa.
Versão adaptada acessível

12. Ouça a descrição do esquema a seguir e, depois, registrando sua resposta, complete-o com os principais elementos que compõem a sequência narrativa.

Esquema. Composto de caixas de texto e, entre os textos, setas na horizontal apontadas para a direita. Os textos aparecem na seguinte ordem: Situação inicial; Conflito; Clímax; Desfecho.

13. Releia e compare os primeiros parágrafos dos dois contos em estudo nesta Unidade, respectivamente, “Passeio” e “O Kazukuta”.

Aconteceu que o pai, à mesa de jantar, disse de repente: Sábado vamos lá. A menina, mais rápida que o irmão, perguntou, Lá onde, pai?, e ele, Não posso falar, é surpresa, e o garoto, Fala, pai, aonde a gente vai?, e ele, já vendo a felicidade futura dos filhos, sorriu, enigmático, Sábado, à tarde!, e continuou a comer, como se nada tivesse acontecido — o mundo de sempre funcionando. Aquela era só a notícia, a hora de vivê-la seria adiante, a mãe, mesmo sem saber qual o plano do marido, disse, em seu auxílio, A semana passa depressa!, e, com efeito, já estava em sua metade.

CARRASCOZA, João Anzanello. Aquela água toda. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2018. página 66.

Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

  1. Em qual dos contos a situação inicial é mais desenvolvida? Por quê?
  2. Em qual deles o fato que altera a situação inicial é apresentado logo no primeiro parágrafo? Que fato é esse?
  3. Indique aquele que tem uma marcação temporal mais precisa nesse início.

14. Agora, releia este outro trecho do conto “O Kazukuta”:

Um dia era de tarde e vi o tio Joaquim dar banho ao Kazukuta. Um banho de demorar. Fiquei espantado: o tio Joaquim que ficava até tarde a ler na sala, o tio Joaquim que nos puxava as orelhas, o tio Joaquim silencioso, como é que ele podia ficar meia hora a dar banho ao Kazukuta?

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página28.

  1. Transcreva a frase que situa o leitor sobre quando ocorreu o banho.
  2. Nesse trecho, quais são as pistas que marcam a alteração da situação inicial e o início do momento de tensão da narrativa?
  3. Por que a expressão tio Joaquim é repetida quatro vezes?
  1. A narrativa escrita por Ondjék apresenta dois tempos diferentes: o momento em que os acontecimentos principais ocorrem e o momento em que a lembrança desses acontecimentos é narrada.
    1. Reproduza o esquema a seguir no caderno e no lugar dos pontos de interrogação acrescente as informações que estão faltando.
Diagrama. Composto de caixas de texto ligadas por setas na horizontal, nesta sequência: 
Primeira caixa de texto: Acontecimento 1, 'ponto de interrogação'. Ligado por um fio ao texto: Passado > narrador, 'ponto de interrogação'. Segunda caixa de texto: Acontecimento 2, 'ponto de interrogação'. 
Terceira caixa de texto: Narração da lembrança desses acontecimentos. Ligado por um fio ao texto: 'ponto de interrogação' > Narrador adulto.
  1. Copie no caderno uma frase que revela o narrador já adulto.
  2. Agora, copie uma frase que exemplifique que o narrador conta fatos do passado.
  3. É fácil distinguir no texto a voz do narrador nos dois momentos distintos da vida dele? Explique.
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  1. Reproduza o esquema a seguir e no lugar dos pontos de interrogação acrescente as informações que estão faltando.
  2. Registre uma frase que revela o narrador já adulto.
  3. Agora, registre uma frase que exemplifique que o narrador conta fatos do passado.
  4. É fácil distinguir no texto a voz do narrador nos dois momentos distintos da vida dele? Explique.
  1. O que esses acontecimentos representaram para o narrador nas duas fases da vida dele?
  2. Em outro conto, Um pingo de chuva”, do mesmo livro, o narrador conta como via o mundo. Leia um trecho:

Como num filme, sempre me acontecia isso: eu olhava as coisas e imaginava uma música triste; reticências um dia eu vou a um médico porque eu devo ter esse problema de sempre imaginar as coisas em câmara lenta reticências.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página119-120.

  1. Explique o que significa ver as coisas “como num filme”.
  2. Se o enredo de “O Kazukuta” virasse filme, como seria a trilha de músicas? Use sua imaginação para pensar na trilha sonora e explique sua resposta aos colegas.
  1. Você já viu que, além do narrador, há outras vozes no texto.
    1. Transcreva o trecho em que as falas das personagens são reproduzidas por meio do discurso direto.
    2. Qual é o efeito que o discurso direto provoca no leitor?
    3. Extraia do texto o único exemplo de discurso indireto.
    4. Reescreva o trecho, empregando o discurso direto.
    5. A mudança do tipo de discurso afeta o sentido do trecho? Explique.
  2. Como você leu na apresentação, Ondjaki nasceu em Angola, um país em que também se fala português.
    1. Você teve dificuldade para compreender o texto? Explique.
    2. Qual é o significado das palavras casota e bocadinho? E da expressão “os mais velhos”?
    3. Em Angola, utiliza-se o termo miúdo para se referir a criança. Que tal descobrir outras diferenças de vocabulário entre os dois países? Com orientação do professor, crie um glossário com cinco palavras próprias do português angolano.
  3. De qual dos contos lidos nesta Unidade você mais gostou? Explique o motivo da sua escolha.
  4. Escreva em seu caderno um pequeno comentário sobre seu conto preferido, recomendando-o para um colega.

Saiba +

Laços entre Brasil e Angola

A tê vê Brasil produziu em 2014 uma série de reportagens sobre as relações entre Brasil e Angola. No primeiro episódio, são apresentados os aspectos históricos e culturais que unem os dois países, bem como a primeira telenovela angolana exibida no Brasil. O segundo episódio aborda como a nação angolana está se modernizando depois de um longo período de guerra civil. Disponível em: https://oeds.link/QTLNGQ. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

Oralidade

Faça as atividades no caderno.

Leitura oral em grupo

Você sabia que ler em voz alta um conto contribui para a compreensão do texto? Isso acontece porque para ler em voz alta é preciso prestar atenção no enredo, na atmosfera criada no conto, nas características de cada personagem e no tom empregado pelo narrador para conseguir ler a história de maneira expressiva. Ao se concentrar para escutar uma boa leitura, você se envolve com o texto, criando projeções imaginárias das cenas e das personagens. Que tal, então, preparar uma leitura expressiva do conto “Passeio”, de João Anzanello Carrascoza?

Para viabilizar essa experiência, a turma deve se dividir em grupos de cinco pessoas e elaborar uma leitura expressiva do conto. Esse trabalho precisa ser gravado, pois haverá um concurso. No dia marcado pelo professor, a turma toda vai ouvir as gravações e escolher qual grupo fez a melhor interpretação.

Etapa 1: Organização dos grupos

  1. Com a orientação do professor, forme um grupo com quatro colegas. Lembrem-se de que o conto possui quatro personagens (pai, mãe, filho e filha) e um narrador.
  2. Definam juntos quem fará cada personagem e o narrador.

Etapa 2: Estudo do conto

  1. Leia o conto mais uma vez e reveja as atividades. Faça anotações do que observou desta vez que podem ajudar na elaboração da leitura expressiva.
  2. O grupo deve se reunir para discutir o que cada um anotou e realizar a primeira leitura.
  3. Copie este quadro no caderno e registre as características marcantes de cada personagem. Discuta-as com o grupo. Essa tarefa vai ajudar vocês a encontrarem a voz mais apropriada para cada personagem.
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3. Após ouvir a descrição, registre as características marcantes de cada personagem ilustrado a seguir. Discuta-as com o grupo. Essa tarefa vai ajudar vocês a encontrarem a voz mais apropriada para cada personagem.

Personagens

Características marcantes

Ilustração. Rosto de um homem com barba e óculos, seguida do texto Pai.

Ilustração. Rosto de uma mulher com cabelos castanhos na altura dos ombros, seguida do texto Mãe.

Ilustração. Rosto de uma menina com os cabelos presos em 2 tranças nas laterais, seguida do texto Filha.

Ilustração. Rosto de um menino de cabelos ondulados, seguida do texto Filho.


  1. Reflitam em grupo como a voz do narrador pode ajudar o ouvinte a entrar na atmosfera do conto. Façam experimentos com a tonalidade da voz do narrador e observem como essas alterações mudam a fórma como o ouvinte percebe a narrativa.
  2. Na sequência, pensem se podem inserir algum efeito sonoro que dê um clima especial ao conto, ajudando o ouvinte a imaginar o cenário em que se passa a história.

Faça as atividades no caderno.

Etapa 3: Leitura expressiva

Ensaios

1. Para realizar uma leitura expressiva, é importante prestar atenção aos seguintes pontos:

Velocidade: experimente ler sua parte em velocidades diferentes – primeiro, bem lentamente; depois, de modo acelerado. Procure encontrar a velocidade mais adequada para dizer o que está expresso no texto. Importante: em cada momento (parágrafo ou sentença), há um ritmo mais apropriado para o efeito que você deseja causar nos ouvintes em relação ao significado da palavra dita. Por isso, é fundamental compreender bem o texto e testar as possibilidades.

Articulação: a leitura deve ser fluente, ou seja, não pode “enroscar”. É necessário cuidar da pronúncia e articular bem a fala, evitando que a voz saia abafada. Tente não pular nenhuma sílaba ou emendar palavras enquanto lê. Vale ainda fazer um aquecimento, antes da gravação, para soltar a musculatura do maxilar: abra e feche a boca, movimente os lábios em várias direções e leia um trecho com uma caneta entre os dentes.

Interpretação: com o estudo sobre a personagem e o narrador, o grupo criou uma identidade de voz para cada um deles. É necessário ainda pensar em modulações para os momentos do enredo. O narrador, por exemplo, deve fazer pequenas pausas em momentos estratégicos da história, gerando expectativa no ouvinte. Determinada personagem pode dar ênfase a certas palavras ou expressões.

Respeito às falas: a contação será feita em grupo. Logo, cada um tem seu papel e deve respeitar o momento de ler do outro. Quando houver diálogo entre personagens, tente reproduzir o tom de conversa, isto é, seja espontâneo. Não demore muito para entrar e ler sua fala, pois, caso contrário, a leitura ficará mecânica. Atente, portanto, para a dinâmica de revezamento entre os interlocutores.

  1. Considerando esses aspectos, treine diversas vezes, individualmente, a leitura do texto em casa.
  2. Ensaie com os colegas a leitura do texto em voz alta. É o momento de observar como está o conjunto e verificar se as estratégias que planejaram sozinhos está funcionando em grupo, dando atenção ao ritmo da contação. Aproveitem o ensaio para trocar dicas entre vocês.
  3. Façam um ensaio final, inserindo então os efeitos sonoros. Vale a pena gravar esse último ensaio para que possam ver com distanciamento como ficou a leitura. Se quiserem, podem se apresentar para familiares e pedir a opinião deles. Nessa fase, ainda há tempo para aprimoramentos.

Saiba +

Lá vem história

No canal da tê vê Rá-tim-bum, encontra-se o acervo de vídeos do Lá vem história, que reúne diversas narrativas. As contações fizeram um quadro do programa infantil Rá-tim-bum, exibido na tê vê Cultura entre os anos 1990 e 1994.

Faça as atividades no caderno.

Gravação

  1. Com tudo pronto, é o momento de fazer a gravação. Vocês podem registrar a leitura com um programa de gravação em dispositivos móveis, e depois editar em um software livre de edição digital de áudios, disponível na internet.
  2. Escolham um ambiente silencioso em que vocês saibam que não serão interrompidos. Façam um teste de ambiente, para verificar se há muito eco no local. Não se esqueçam de ter uma cópia do conto em mãos.
  3. Com a gravação feita e editada, entreguem o arquivo de áudio para o professor.

Etapa 4: Escuta e votação

  1. No dia marcado pelo professor, a turma vai ouvir todos os áudios produzidos pelos colegas. Enquanto ouvem as gravações, avaliem os trabalhos com base nos seguintes critérios:
    1. O grupo deu uma interpretação coerente ao que está expresso no conto?
    2. A dinâmica entre as falas das personagens e do narrador prendeu a atenção do ouvinte?
    3. Os efeitos sonoros contribuíram para criar a ambientação da narrativa?
    4. O ritmo da leitura permitiu compreender os sentimentos das personagens?
    5. A velocidade empregada pelo narrador envolveu o ouvinte? Gerou uma expectativa positiva para ouvir o restante da história?
    6. A leitura foi feita de maneira fluente e clara?
  2. Após ouvir atentamente todas as gravações e avaliar cada uma de acordo com os critérios apresentados, entregue seu voto para o professor, que fará a apuração dos dados e revelará qual grupo ganhou o concurso.

Etapa 5: Avaliação

Ao final, faça uma reflexão com seu grupo sobre o que podem aprimorar para realizar a próxima atividade, considerando os seguintes aspectos:

  • Trabalhei de modo colaborativo com meu grupo? (Exemplifique.)
  • Fui comprometido nas atividades individuais e também nas coletivas? Como?
  • Ao escutar o trabalho dos colegas, refleti sobre meu trabalho? O que observei com isso?
  • Fui justo na avaliação dos colegas e na escolha do meu voto?
  • O que aprendi com essa atividade?

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 2

Faça as atividades no caderno.

Estou a pensarreticências

  1. Você viu no estudo do conto “O Kazukuta” que Ondjék é um autor de Angola e que nesse país africano também se fala português, assim como em Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e em outros países da África. Que diferenças você acha que existem entre os falares portugueses nesses outros países e no Brasil? Crie um mapa-múndi com seus colegas indicando expressões próprias de variados países de língua portuguesa.
  2. Leia o poema do poeta brasileiro osváld de Andrade:

ERRO DE PORTUGUÊS

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português

ANDRADE, osváld de. Poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1976. página 177.

  1. O poeta fez uma brincadeira com o duplo sentido da expressão erro de português. Que brincadeira é essa?
  2. Discuta com um colega: o que vocês acharam do poema de osváld de Andrade? E do jeito como ele escreve?

3. Retome este trecho do conto de Ondjék:

reticências o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 29.

  1. A expressão destacada não é comum no português aqui do Brasil. Por qual expressão você a substituiria?
  2. O que você reconhece de diferente nessa expressão?
  3. Na sua localidade, como as pessoas expressariam essa ideia do trecho destacado? Quais palavras e frases usariam?

O português são quantos?

Durante a leitura do conto de Ondjék, a primeira coisa que você deve ter estranhado foi o uso de algumas palavras diferentes, como o próprio título, “O Kazukuta”, e o termo casota. Porém, há mais diferenças entre o uso da língua portuguesa feito pelo autor e o uso que nós, brasileiros, fazemos dela. Isso se dá porque a língua não é apenas um conjunto de palavras e regras para combiná-las quando falamos ou escrevemos. Para existir, uma língua precisa de pessoas que interajam entre si, se comuniquem, troquem informações, contem histórias etcétera Em outras palavras, para uma língua existir, pessoas devem utilizá-la; como as pessoas são diferentes umas das outras, a fórma como elas usam a língua também o será.

Seus gostos pessoais, as músicas que ouve, os livros que lê, os filmes a que assiste, sua idade, sua profissão, a cidade em que mora, sua nacionalidade, entre outros aspectos, influenciam a fórma como você usa a língua portuguesa. Ondjék é de Angola, um país africano que, como o Brasil, também foi colonizado por Portugal, por isso nele também se fala a língua portuguesa. No entanto, a história e a cultura de Angola são muito diferentes das brasileiras. Isso cria muitas diferenças linguísticas entre o português falado nesses países, mas não o suficiente para impossibilitar a comunicação, ou seja, não falamos línguas diferentes, e sim variedades linguísticas diferentes.

Fotografia. Destaque para o busto de Ondjaki, homem com cabelos compridos e crespos, amarrados atrás da cabeça. Ele usa camisa branca e segura um microfone com a mão direita.
O escritor angolano Ondjék, durante palestra na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Brasília (Distrito Federal), em abril de 2012.
Ícone. Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo.

Em Angola, se fala outras línguas além do português, o que também influencia o português falado lá; o kimbundu, por exemplo, é uma das línguas mais faladas.

Pesquise quais outras línguas são consideradas oficiais aqui no Brasil. Registre, em seu caderno, as regiões brasileiras onde encontramos pessoas falantes dessas línguas.

Saiba +

Língua Brasileira de Sinais (Libras)

Libras é uma língua de modalidade gestual-visual, já que combina gestos, expressões faciais e corporais para se comunicar com o outro. É uma língua utilizada principalmente pela comunidade surda brasileira.

Símbolo de acessibilidade em Libras. Em um quadrado de fundo azul, há um par de mãos brancas espalmadas, uma para cima e a outra para baixo, com duas aspas próximo ao punho. Pouco acima delas, também em branco, o contorno da gola em "V" de uma blusa.
Sinal de Libras.

Mas não existe apenas a variação linguística provocada pelo fator geográfico no conto. Você deve ter percebido que a fórmacomo Ondjék escreve nos faz pensar que o narrador do conto é uma criança. A variação linguística pode ser provocada por um fator social, nesse caso, a idade. Esses são apenas dois dos fatores que podem influenciar o uso da língua – aos poucos, vamos conhecer outros. Por enquanto, vamos analisar a variação geográfica e a variação social motivada pela idade das personagens que aparecem nesse texto de Ondjék e em outros textos.

Faça as atividades no caderno.

Estou a pensar ou estou pensando?

Você já conhece três fórmas nominais do verbo: o infinitivo, o gerúndio e o particípio. Quando precisamos nomear os verbos, normalmente fazemos isso utilizando os infinitivos, ou seja, fórmas verbais terminadas em com valor equivalente aos substantivos: pular, descer, sorrir, cantar, beber, pedir etcétera Repare que é comum dizermos “o verbo pular”, “o verbo descer”, como se déssemos nomes aos verbos.

Nas variedades do português falado em Angola, como também em outros países africanos e na Europa, o uso de expressões formadas por a + infinitivo, como em estou a pensar, é muito frequente.

No Brasil, entretanto, preferimos utilizar o gerúndio, fórma nominal com valor equivalente a adjetivo ou advérbio, cuja marca é a terminação . Se um falante do português no Brasil dissesse ou escrevesse a mesma expressão, ele usaria o gerúndio: estou pensando.

Saiba +

Línguas e dialetos indígenas

Você sabia que temos mais de 160 línguas e dialetos indígenas em nosso país? Os povos nativos do Brasil possuem uma cultura rica, também em termos linguísticos. Além da diversidade de saberes cotidianos, muitas palavras que empregamos na língua portuguesa derivaram dessa integração com as línguas indígenas.

LÍNGUAS. Povos indígenas no Brasil, 2019. Disponível em: https://oeds.link/neSZ5M. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

1. Analise a tirinha a seguir e responda às perguntas:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando blusa branca e short vermelho. Homem, enquadramento das pernas, usando calça e sapatos. Cena 1. Armandinho está de perfil, levemente sorrindo, e segura uma placa com o texto: VENDO PÔR DO SOL. Atrás dele, fora de quadro, alguém diz: QUANTO QUER PELO PÔR DO SOL? Cena 2. Olhando para trás, Armandinho diz: NÃO ESTÁ À VENDA! EU ESTOU VENDO O PÔR DO SOL! Cena 3. Olhando para a frente, Armandinho diz: APROVEITE PRA VER TAMBÉM. Atrás dele, aparecem as pernas de um homem.

béc, Alexandre. Armandinho: livro três. Disponível em: https://oeds.link/YNuuri. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

  1. Que palavra foi empregada no gerúndio?
  2. Como ficaria essa expressão se a personagem fosse um nativo de outra localidade do mundo que fala a língua portuguesa?
  3. Onde encontramos o humor nessa tirinha?

Saiba +

Gerundismo

Essa é um expressão utilizada para descrever o uso inadequado do gerúndio, um vício de linguagem bastante presente no dia a dia em que transformamos, desnecessariamente, um verbo conjugado em gerúndio, como neste exemplo: "Vou estar transferindo a sua ligação", quando poderíamos dizer "Vou transferir a sua ligação".

ATIVIDADE

Faça as atividades no caderno.

1. Valter Hugo Mãe é um autor angolano que está há muito tempo residindo em Portugal. Leia um trecho de um de seus textos:

Eu adoraria ver jacarés, ursos brancos ou cobras de dez metros. Uma vizinha da nossa rua tem uma vaidosa galinha dangola. Eu gosto de animais e mais ainda dos esquisitos e invulgares, até dos que parecem feios por serem indispostos. Os bichos só são feios se não entendermos seus padrões de beleza. Um pouco como as pessoas. Ser feio é complexo e pode ser apenas um problema de quem observa.

Eu uso óculos desde os cinco anos de idade. Estou sempre por detrás de uma janela de vidro. Não faz mal, é porque eu inteira sou a minha casa. Sou como o caracol, mas muito mais alta e veloz. A minha mãe também acha assim, que o corpo é casa. Habitamos com maior ou menor juízo.

O jacaré é um bicho indisposto, eu sei. Gosto muito dele, mas não devo chegar perto. Nunca vi, já disse. Tenho pena. Talvez seja pior para o jacaré, por não o amar. Eu gosto dele mas não sei se constrói. Estou a ser sincera. Ainda tenho que ler sobre isso. Talvez os bichos ferozes construam coisas às quais não sabemos dar valor. É importante pensarmos no valor que cada coisa ou lugar tem para cada bicho. Só assim vamos empreender a razão de cada coisa ser como é. Depois de entendermos melhor, a beleza comparece.

MÃE, Valter agá O paraíso são os outros. Porto: Porto Editora, 2014. página 13.

  1. Explique por que a narradora se compara ao caracol.
  2. A narradora do texto de Valter Hugo Mãe é também uma criança, como no conto de Ondjék. Em qual dos dois contos isso fica mais evidente pelo uso linguístico? Justifique sua resposta.
  3. Tanto o texto de Ondjék quanto o de Valter Hugo Mãe apresentam uma marca de variação regional que não é utilizada no português falado no Brasil. Que marca é essa? Copie em seu caderno o trecho em que ela aparece no texto de Mãe.
Versão adaptada acessível
  1. Explique por que a narradora se compara ao caracol.
  2. A narradora do texto de Valter Hugo Mãe é também uma criança, como no conto de Ondjaki. Em qual dos dois contos isso fica mais evidente pelo uso linguístico? Justifique sua resposta.
  3. Tanto o texto de Ondjaki quanto o de Valter Hugo Mãe apresentam uma marca de variação regional que não é utilizada no português falado no Brasil. Que marca é essa? Registre o trecho em que ela aparece no texto de Mãe.
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Diferenças gramaticais

Quando analisamos a variação regional, não podemos nos limitar a falar de sotaque ou de diferenças de vocabulário. Há diferenças mais profundas relacionadas à gramática, como o uso de a + infinitivo em vez do gerúndio, que você estudou nesta Unidade. Diferenças gramaticais também existem quando observamos regiões do mesmo país, como acontece no Brasil. Já reparou que o pronome tu não é utilizado da mesma fórma em todos os lugares do nosso país?

Faça as atividades no caderno.

Sujeitos e objetos

1. Releia este trecho do texto de Valter Hugo Mãe:

Talvez os bichos ferozes construam coisas às quais não sabemos dar valor. É importante pensarmos no valor que cada coisa ou lugar tem para cada bicho. Só assim vamos empreender a razão de cada coisa ser como é. Depois de entendermos melhor, a beleza comparece.

MÃE, Valter H. O paraíso são os outros. Porto: Porto Editora, 2014. página 13.

  1. Os verbos e as locuções verbais destacados estão conjugados na 1ª pessoa do plural: nós. Além da narradora, a quem mais esse pronome pessoal se refere?
  2. O pronome pessoal nós não aparece em nenhum momento nesse trecho. De que fórma é possível saber que os verbos estão na 1ª pessoa do plural?
Versão adaptada acessível
  1. Os verbos e as locuções verbais "sabemos", "pensarmos", "vamos" e "entendermos", retirados do trecho de Valter Hugo Mãe, estão conjugados na 1ª pessoa do plural: nós. Além da narradora, a quem mais esse pronome pessoal se refere?
  2. O pronome pessoal nós não aparece em nenhum momento nesse trecho. De que forma é possível saber que os verbos estão na 1ª pessoa do plural?
  1. Em sua fala do dia a dia, você sempre diz os sujeitos das orações?
  2. Leia a tirinha “As Cobras”, de Luis Fernando Verissimo:
Tirinha. Em três cenas. Personagens: duas cobras. Cena 1. As cobras estão correndo, uma à frente da outra. A de trás diz: VAMOS MASSACRÁ-LOS! A da frente responde: VAMOS! Cena 2. Ainda correndo, a cobra da frente diz: VAMOS ARRASAR ELES. A cobra de trás responde: VAMOS! Cena 3. As cobras estão paradas, olhando uma para a outra. A cobra de trás diz: MAS ANTES, VAMOS ACERTAR O PRONOME.

VERISSIMO, Luis F. As Cobras: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 1997. página 98.

  1. É possível saber quem as cobras pretendem massacrar e arrasar?
  2. Qual é a relação do uso dos pronomes los e eles nos dois primeiros quadrinhos com o que é dito no último quadrinho?
  3. “Arrasar eles” ou “Arrasá-los”: qual das duas fórmas é mais usada no dia a dia do brasileiro?

Algumas diferenças entre a língua portuguesa falada em variadas partes do mundo

Como você viu, a variação linguística não se resume a sotaques ou diferenças de palavras. Observe agora outras duas características que diferenciam o português falado em diferentes países: a primeira é relacionada ao sujeito das orações; a segunda, aos complementos dos verbos.

Ícone. Retomada de tópicos.

Sujeito

Você já aprendeu que sujeito é o termo sobre o qual se declara algo e que ele sempre concorda com o verbo em pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) e número (singular ou plural).

Os tipos de sujeito

Você já sabe que a oração é composta de dois grandes blocos, o sujeito e o predicado, e que os verbos são o núcleo do predicado e podem ser: intransitivos (que têm sentido completo) – “Ele chegou”; e transitivos (que pedem um complemento) – “Ele comeu nêsperas”.

Agora, veremos que o sujeito de uma oração pode ser de vários tipos. Releia um trecho do conto de Ondjaki:

Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura reticências.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

O verbo dessa oração é comia: esse verbo declara algo sobre ele (o Kazukuta). O pronome ele é da 3ª pessoa do singular, com a qual o verbo está concordando. O sujeito está expresso na oração, portanto é um sujeito pleno. Essa relação entre o verbo e seu sujeito é chamada de concordância verbal.

Observe:

Esquema. Em destaque: Ele comia [...]. Ele: sujeito e pronome de 3ª pessoa do singular. Comia: verbo e forma de 3ª pessoa do singular.

Observe a continuidade do trecho apresentado:

Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, e bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol para lhe acudir as feridas.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

Os verbos mexer (mexia-se), bocejar (bocejava) e ser (era) têm o mesmo sujeito de comer: ele. Por isso, não há necessidade de repetir o sujeito. O autor utilizou o sujeito oculto, que conseguimos identificar com base na concordância verbal. O sujeito oculto é bastante utilizado, porque, no uso da língua, o mais comum é a economia linguística: cortamos informações desnecessárias.

Há, portanto, dois tipos diferentes de sujeito:

  • pleno: quando está expresso na oração;
  • oculto: quando não está expresso na oração, mas identificamos com base na concordância com o verbo ou no contexto.
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Outras classificações do sujeito

Ainda há outras classificações, como os sujeitos simples, com­posto, indeterminado e inexistente.

Pleno por aqui, oculto por lá

Você já sabe que o verbo estabelece uma concordância de pessoa (1ª, 2ª e 3ª) e número (singular e plural) com seu sujeito. O sujeito de uma oração pode vir expresso com os pronomes eu, tu, você, ele, nós, a gente, vocês, vós e eles ou ter como núcleo um ou mais substantivos, que são substituíveis por esses pronomes. Observe o trecho do texto de Valter Hugo Mãe:

O jacaré é um bicho indisposto, eu sei. Gosto muito dele, mas não devo chegar perto.

MÃE, Valter H. O paraíso são os outros. Porto: Porto Editora, 2014. página 13.

O jacaré é o sujeito do verbo ser (“é”). Nesse caso, o núcleo é o substantivo jacaré, equivalente ao pronome ele (“Ele é um bicho indisposto”). A substituição não desfaz a concordância com o verbo.

Observe as seguintes concordâncias verbais com o verbo comer:

Concordância verbal no português falado

Pronome – sujeito

Forma verbal

Eu

como

Você/tu

come/comes

Ele

come

Nós/a gente

comemos/come

Vocês

comem

Eles

comem


Note que a fórma do verbo é igual quando o sujeito é você, ele ou a gente (come) ou quando o sujeito é vocês e eles (comem). Por isso, no Brasil, nem sempre se utiliza o sujeito oculto, e é possível escolher dizer tu come, você come e ele come. Nas fórmas verbais iguais, é preciso utilizar o sujeito pleno para não gerar confusão.

No português falado na Europa, acontece o contrário; como os portugueses usam mais o pronome vós e fazem a concordância verbal com o pronome tu, as fórmas verbais não se repetem tanto, o que evita a confusão para identificar o sujeito oculto.

Resumindo:

  • O português falado no Brasil é uma língua preferencialmente de sujeito pleno.
  • O português falado na Europa é uma língua preferencialmente de sujeito oculto.
  • Essa diferença é motivada pela variação na concordância verbal.
Ícone. Retomada de tópicos.

Concordância verbal

A falta de concordância verbal, como em eles come, ocorre bastante nas variedades linguísticas brasileiras consideradas socialmente desvalorizadas. É verdade que essa variação pode ser motivada pelo baixo nível de escolaridade do falante que desconhece o que recomenda a norma-padrão, mas também pode ser motivada por uma situação de uso da língua que não exige formalidade. Ou seja, um falante com alto grau de escolaridade pode até saber usar a concordância verbal tal como está prevista na norma-padrão, mas optar por não usá-la quando estiver conversando sem se preocupar com a fórma socialmente valorizada em situação informal. Os textos falados e escritos que exigem o uso da variedade culta utilizam sempre a concordância verbal.

Os complementos verbais

Como você sabe, o verbo de uma oração declara algo sobre o sujeito e relaciona-se com outros termos da oração, completando seu sentido. Leia esta tirinha do Garfield:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Jon, um homem com cabelos castanhos e ondulados e olhos grandes, usando blusa azul. Liz, uma mulher com cabelos pretos, usando batom vermelho e vestido amarelo. Garfield, um gato robusto laranja com listras pretas. Cena 1. Jon olha para Liz, sorri e diz: SONHEI COM VOCÊ A NOITE PASSADA, LIZ. Sorrindo, ela diz: QUE LINDO. Ao lado dela está Garfield, que olha para eles. Cena 2. Jon olha para Liz, sorri e diz: EU TAMBÉM SONHEI COM O GODZILLA. Sorrindo, ela diz: NUM SONHO DIFERENTE, EU ESPERO. Garfield continua olhando para eles. Cena 3. Jon olha para Liz, sorri e diz: POR QUÊ? Liz está com os olhos arregalados. Garfield, de costas viradas para eles, afastando-se, pensa: ESTE É O MOMENTO EM QUE EU DEIXO O RECINTO.

Garfield. Folha de São Paulo, São Paulo, 9 janeiro 2015. Ilustrada, página C9.

Suponha que Dion tivesse dito a Liz apenas o seguinte: “Eu sonhei”. Certamente ela teria perguntado: “Com o quê?”. Nessa oração, o verbo sonhar é transitivo, pois precisa ser completado com outro termo: com você. Se não, Liz ficará sem entender o que Dion quer comunicar.

Note que a expressão com você na primeira fala de Dion tem um núcleo, a palavra você, que indica o conteúdo do sonho. Mas há uma palavra que serve para ligar o verbo sonhar com o complemento você: o termo com, uma preposição.

Então, nessa oração temos:

Esquema. Em destaque: Eu sonhei com você [...]. EU está entre parênteses e é o sujeito. Embaixo das demais palavras há uma seta indicando a classe das palavras. SONHEI é verbo. COM é preposição. VOCÊ é complemento.

Quando o sentido do verbo em certa oração precisa ser completado e isso só é possível com o recurso de uma preposição, nós chamamos o verbo de transitivo indireto e o complemento de objeto indireto. Então, nas duas primeiras falas de Jon, temos dois objetos indiretos: “com você” e “com o gudzila”, que complementam o mesmo verbo. Liz não gostou de estar no mesmo sonho que o gudzila, fato que Garfield, esperto, notou rapidamente e o fez sair de fininho.

Mas existem também complementos que se ligam ao verbo sem preposição. Nesses casos, o verbo é transitivo direto e o complemento é um objeto direto.

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Preposições

Constituem uma classe de palavras que relacionam dois termos em uma oração. São preposições básicas: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre e atrás.

Vamos ler outra tirinha:

Tirinha. Em 4 cenas. Personagem: Lino, um menino com cabelos curtos e lisos, usando camisa vermelha listrada. Ele está sentado em uma carteira escolar. Cena 1. Lino, com um dos braços levantados, diz: EU LEVANTEI A MÃO E A PROFESSORA NEM ME VIU. Cena 2. Sentado com a cabeça encostada no encosto da cadeira e com a expressão apática, Lino diz: É MUITO TRISTE QUANDO UMA PROFESSORA NÃO VÊ A GENTE. Cena 3. Com a cabeça apoiada na carteira, Lino diz: VOCÊ SENTE PROFUNDAMENTE QUANDO UMA PROFESSORA NÃO TE VÊ. Cena 4. Com os cotovelos apoiados na carteira e as mãos segurando a cabeça, ele questiona: POR QUE ELA NÃO ME VIU?

chuls , chárlis Ém Minduim. O Estado de São Paulo, São Paulo, 5 abril 2015. Caderno 2, página C6.

Na primeira fala da personagem Lino, o primeiro verbo é levantei, que tem como complemento a mão, seu objeto direto, já que está ligado ao verbo sem preposição. Além disso, em todas as falas de Lino, há o verbo ver, que também pede para ser completado sem o uso de preposição; portanto, com objetos diretos. Observe como os objetos diretos utilizados por Lino nos mostram um caso interessante de variação linguística do português.

(a) “ela nem me viu”

(b) “é muito triste quando uma professora não vê a gente

(c) “Você sente profundamente quando uma professora não te vê”

(d) “Por que ela não me viu?”

Você consegue notar alguma diferença entre eles? Note que a gente é um pronome que está em variação com nós e funciona, na maioria dos casos, como sujeito, assim como eu, você ou vocês, tu, ele ou ela. Em (a) e (d), a palavra me se refere a eu; em (c), te se refere a você. Me e te são também pronomes, mas que exercem a função de complemento verbal. Em (b), Lino usa a gente como complemento do verbo ver. Vamos entender isso melhor:

Pessoa

Pronome – sujeito

Pronome – complemento verbal

1ª - singular

Eu

Me, mim, comigo

2ª - singular

Tu, você

Te, ti, contigo

3ª - singular

Ele, ela

Se, o, a, lhe, si, consigo

1ª - plural

Nós/a gente

Nos, a gente, conosco

2ª - plural

Vocês

Vocês

3ª - plural

Eles, elas

Se, os, as, lhes


Lino utilizou um pronome como objeto direto que é mais utilizado como sujeito. Como o pronome a gente não possui um correspondente para ser utilizado como complemento, como acontece com nós/nos, utilizamos a mesma fórma. Observe a tabela e note que o mesmo acontece com vocês. Nas variedades cultas, o uso de ele, ela, eles e elas como objeto direto está em variação com as outras fórmas listadas no quadro. Em situações cotidianas, esse uso é comum, mas, em situações formais, é avaliado de fórma negativa.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Releia o terceiro parágrafo do conto de Ondjék:

Acho que o Kazukuta era um cão triste porque é assim que me lembro dele. Nós não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando. Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele tinha alergia ou medo, não sei, devia perguntar ao tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e cada vez andava só a dormir mais.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

  1. Identifique e escreva em seu caderno quais são os sujeitos dos verbos em destaque.
  2. Quais desses sujeitos são plenos e quais estão ocultos?
  3. Se Ondjaki preferisse ocultar os sujeitos plenos desses verbos, poderia causar alguma má interpretação por parte do leitor? Justifique sua resposta.
  4. Você deve ter chegado à conclusão de que a maioria desses verbos poderia ter seu sujeito oculto. Agora pense: se esse texto estivesse escrito em português falado no Brasil e os pronomes nós fossem substituídos por a gente, ainda seria possível ocultá-los? Por quê?
Versão adaptada acessível
  1. Identifique e registre quais são os sujeitos dos verbos "Acho", "era", "lembro", "ligávamos", "brincava", "faziam", "queríamos" e "saísse", retirados do trecho de Ondjaki.
  2. Quais desses sujeitos são plenos e quais são ocultos?
  3. Se Ondjaki preferisse ocultar os sujeitos plenos desses verbos, poderia causar alguma má interpretação por parte do leitor? Justifique sua resposta.
  4. Você deve ter chegado à conclusão de que a maioria desses verbos poderia ter seu sujeito oculto. Agora pense: se esse texto estivesse escrito em português falado no Brasil e os pronomes "nós" fossem substituídos por "a gente", ainda seria possível ocultá-los? Por quê?

2. O texto a seguir é a transcrição de um trecho de uma entrevista de Ondjaki na qual ele expressa sua visão de lusofonia (conceito utilizado para designar o conjunto de países cujo idioma oficial ou dominante é a língua portuguesa).

Primeiro quero dizer uma coisa, não me interessa nada os nomes e os aproveitamentos políticos que fazem dos nomes. Não gosto do termo, não acho um termo muito justo, embora o possa entender do ponto de vista fonético, mas eu não acho que as pessoas usam esse termo se referindo à fonia, e aí é que está o problema. Quando, sobretudo os políticos, dizem lusofonia, estão a pensar, e isso é que é desagradável, estão a pensar sabe em quê? Em cinco países africanos. Quando, teoricamente, a lusofonia devia englobar Portugal, Brasil, Timor e, na minha opinião, todas as pequenas ou grandes comunidades, já nem digo que trabalhem, que se interessem pela nossa língua. É isso que poderia ser uma lusofonia.

Entrevista de Ondjék a Luís Aguilar. Festival Internacional de Literatura Metropolis blu, Montreal, Canadá, maio 2014.

  1. Qual é a opinião de Ondjék sobre a lusofonia?
  2. Analise as orações produzidas por Ondjék e responda: há predomínio de sujeitos plenos ou ocultos? Cite ao menos três exemplos para justificar sua resposta.
  3. Quando o sujeito é o pronome eu, a tendência de Ondjék é utilizar o sujeito pleno ou oculto?
  4. De acordo com a resposta que você deu à questão anterior, que explicação você daria a essa tendência?

Faça as atividades no caderno.

3. Leia agora a transcrição de um trecho de entrevista de João Anzanello Carrascoza:

Jornalista: A gente vai falar agora do livro Linha Única, que é um livro de microcontos reticências O autor está aqui com a gente, é o nosso convidado de hoje, João Anzanello Carrascoza reticências. Microcontos, Carrascoza? Dá uma definição de microconto pra mim, pra gente entender.

João Carrascoza: Bom, microconto em uma definição não tão rígida, mas, digamos, você tem que contar uma história, não necessariamente como eu fiz, numa linha única, pode ser duas, três, quatro linhas, mas ele tem que concentrar uma narrativa, tem que ter um conflito. Então, aqueles elementos que são constituintes de um conto tradicional têm que aparecer ali.

Entrevista de João Anzanello Carrascoza ao programa Metrópolis. tê vê Cultura, Fundação Padre Anchieta, São Paulo, 30 janeiro 2017.

  1. Segundo Carrascoza, o microconto apresenta as mesmas características que um conto tradicional?
  2. Tanto na fala da jornalista quanto na de Carrascoza, há predomínio de sujeitos ocultos ou plenos?
  3. Localize, na fala da jornalista, dois objetos indiretos.
  4. Você percebeu que esses objetos indiretos apresentam pronomes como núcleo? Que pronomes são esses? Eles são também utilizados no dia a dia como pronomes sujeito?
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Pronome mim

Nas variedades cultas, mim (“Dá uma definição de microconto pra mim”) é utilizado como objeto indireto, ou seja, esse pronome é sempre ligado ao verbo por uma preposição. No entanto, nas normas socialmente desvalorizadas, há intensa variação entre mim e eu, tanto na função sujeito quanto na função objeto indireto.

  1. Compare a fala de Carrascoza à de Ondjaki, analisando o uso do sujeito. Há alguma variação da língua portuguesa nos dois países?
  2. Leia a tirinha:
Tirinha. Em três cenas. Personagens: Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando blusa de mangas compridas azul e calça verde. Mãe do Armandinho, destaque para as pernas de uma mulher usando saia, meia-calça e sapatos. Cena 1. À esquerda, a mãe de Armandinho segura um frasco de spray. À direita, Armandinho segura uma caixa e diz, olhando para ela: VOU LEVAR A ARANHA PARA O BOSQUE... Cena 2. Ainda olhando para a caixa, Armandinho diz: ...ONDE ELA NÃO FARÁ MAL A NENHUM HUMANO... E NENHUM HUMANO FARÁ MAL A ELA! Cena 3. Armandinho olha para sua mãe, que ainda segura o frasco de spray, e diz: O QUE VOCÊ VAI FAZER COM ESSE VENENO?

béc, Alexandre. Armandinho oito. Florianópolis: antes de Cristo béc, 2016. página 44.

  1. No primeiro quadrinho, identifique os complementos do verbo levar. Eles são diretos ou indiretos?
  2. No segundo quadrinho, a mudança na ordem dos termos utilizados faz com que as mesmas palavras sejam ora sujeito, ora objeto indireto. Explique como isso se dá.
  3. Armandinho, a personagem da tirinha, gostaria que humanos e aranhas vivessem em igualdade, sem fazer mal uns aos outros. Ainda no segundo quadrinho, o uso das mesmas palavras em orações diferentes produz qual efeito de sentido em relação ao desejo de Armandinho?
  4. No último quadrinho, qual é o objeto direto do verbo fazer?

Questões da língua

Faça as atividades no caderno.

Acentuação (2)

1. Leia:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Grump, um homem cinza, com cabelos espetados, usando roupa azul; ele segura um livro de capa verde aberto. Cachorro azul. Os personagens estão frente a frente. Cena 1. À esquerda, Grump está olhando para o livro e diz: VEJAMOS O QUE MAIS MUDA NESSE ACORDO. Na parte superior do quadrinho, em fundo preto, há o texto: ACENTO AGUDO. Desaparece nos ditongos abertos 'ei' e 'oi' das palavras paroxítonas. À direita, o cachorro está olhando para ele. Cena 2. Ainda olhando para o livro, Grump diz: CERTO... CERTO... A REGRA PARECE BEM SIMPLES. O cachorro continua olhando para ele. Cena 3. Grump folheia o livro rapidamente. Ao lado do livro há as onomatopeias FLEP FLAP FLEP FLAP FLEP. Com os olhos arregalados e a língua de fora, Grump diz: SÓ FALTA EU ACHAR AQUI NESSA JOÇA, QUE DIACHO SIGNIFICA ISSO DE 'DITONGO' E 'PAROXÍTONA'... O cachorro está com os olhos semicerrados e a língua de fora.

ORLANDELI. grãmp. Disponível em: https://oeds.link/ABCrSo. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

  1. A personagem grãmp parece enfrentar dificuldades para entender as regras de acentuação. O que ela não consegue entender?
  2. Você lembra o que são palavras paroxítonas? Caso não lembre, consulte um dicionário ou uma gramática e anote a definição. Indique ao menos três exemplos na própria fala de grãmp.
  3. E ditongos, você lembra o que são? Procure escrever com suas palavras a definição de ditongo.
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Acordo ortográfico

grãmp se refere ao acordo ortográfico assinado em 1990 pelos países em que a língua oficial é o português. No entanto, no Brasil, ele só passou a valer oficialmente em 2016. Na prática, poucas mudanças ocorreram na ortografia do português utilizado no Brasil: apenas 0,5% das palavras sofreram alteração. É importante ressaltar que não existe nenhuma mudança na língua, somente na ortografia.

Ditongos abertos

Releia a regra ortográfica que grãmp estava estudando:

ACENTO AGUDO

Desaparece nos ditongos abertos “ei” e “oi” das palavras paroxítonas.

ORLANDELI. grãmp. Disponível em: https://oeds.link/ABCrSo. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

Ao responder às questões sobre a tirinha, você revisou:

Ditongo: encontro de uma vogal + uma semivogal ou semivogal + vogal.

Exemplos: deu, viu, seu, pau, série, colégio etcétera

Paroxítona: palavra em que a sílaba tônica é a penúltima.

Exemplos: aberta, fechada, aula, hisria, escola etcétera

Uma das classificações utilizadas para estudar os ditongos diz respeito à abertura da boca quando pronunciamos a vogal. Nossa boca pode estar mais aberta ou mais fechada, por isso os ditongos podem ser abertos e fechados. Faça um teste falando em voz alta esta sequência de vogais:


Repare que, quando você pronunciou o som que representamos pelo ih, sua boca estava quase fechada, e, conforme foi se aproximando do a, sua boca foi ficando cada vez mais aberta. Ao se aproximar do u, sua boca voltou a se fechar. Podemos dizer que tanto ih e ê como óh e u são vogais fechadas e que é, a e ó são vogais abertas. Por isso, todo ditongo em que as vogais são é, a e ó são classificados como ditongos abertos, os demais são ditongos fechados.

Antes do acordo ortográfico, os ditongos abertos que estavam na sílaba tônica das palavras paroxítonas recebiam o acento agudo. Agora, esse acento não existe mais. Quando esses ditongos abertos aparecem na última sílaba ou em palavras com apenas uma sílaba, eles continuam marcados com acentos. Observe:

  • Ditongos abertos em palavras monossílabas: géis (plural de gel), méis (plural de mel), véu, céu, réu.
  • Ditongos abertos em palavras oxítonas: papéis, anéis, fiéis, quartéis, coronéis, troféu, ilhéu, chapéu, herói, lençóis, constrói.
  • Ditongos abertos em palavras paroxítonas: heroico; plateia, ideia.

Resumindo: sempre que os ditongos ei e oi estiverem nas palavras paroxítonas, ou seja, que apresentam a penúltima sílaba tônica, não serão acentuados.

Ícone. Retomada de tópicos.

Sílaba tônica

É aquela pronunciada com maior força, com mais proeminência. Quando essa sílaba é a antepenúltima da palavra, sempre devemos acentuá-la. Por exemplo: matetica, mero e alise.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

  1. Por que não é correto afirmar que o acordo ortográfico uniformiza a língua portuguesa?
  2. Leia mais uma tirinha de grãmp sobre o acordo ortográfico:
Tirinha. Em três cenas. Personagens: Grump, um homem cinza, com cabelos espetados, usando roupa azul; ele está sentado diante de uma mesa na qual há um monitor e um teclado de computador. Cachorro azul. Cena 1. Grump está com as mãos sobre o teclado e diz: TIVE UMA IDEIA. VOU PEDIR AJUDA AO MEU SOBRINHO PARA ENTENDER O TAL ACORDO. PRA ESSA MOLECADA É MOLEZA. ESTÃO APRENDENDO AGORA. NÃO TEM OS VÍCIOS DA GENTE, QUE JÁ USA AS ANTIGAS REGRAS FAZ TEMPO. O cachorro está atrás de Grump, olhando para ele. Cena 2. Grump digita. Do teclado saem as onomatopeias TEC, TEC, TEC, TEC, TEC. Na parte superior do quadrinho, há o texto: Olá, sobrinho. Beleza? Por acaso você está por dentro das regras do acordo ortográfico? Cena 3. Na parte superior do quadrinho, há o texto: Falaaaaaa Tiunnnmm!! Blz???!!!! Dois pontos, um traço e fecha parênteses (compondo um rosto com um sorriso). Axo q Naumm eh dificium naumm!!!!! Passa aki em Ksaaaaaaa Q nois aprendihh juntuuuuu!!!!!! Ponto e vírgula e a letra 'p' maiúscula (compondo uma carinha com a língua de fora). Hsuahushahushuashuashuah. 
Grump olha espantado para o monitor do computador e diz: MELHOR PENSAR EM OUTRA COISA. O cachorro também tem uma expressão de espanto.

ORLANDELI. grãmp. Disponível em: https://oeds.link/UAbqtD. Acesso em: 26 fevereiro 2022.

  1. Por que grãmp acredita que seu sobrinho pode ajudá-lo a aprender as regras do novo acordo ortográfico? O que o faz mudar de ideia?
  2. Você acredita que a fórma como utilizamos a escrita nas redes sociais deveria obedecer às regras de ortografia? Justifique.
  3. grãmp, em sua primeira fala, utiliza uma palavra paroxítona com ditongo aberto na sílaba tônica. Que palavra é essa?
  4. A fórma como o autor escreveu essa palavra está de acordo com a regra de acentuação que você acabou de aprender?

3. Releia os dois primeiros parágrafos do conto de Ondjék:

Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas, das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta ia sobrar para a fome dele.

Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, e bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho de sol pra lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes, ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali na casota, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.

Ondjék. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007. página 27.

  1. Copie em seu caderno as palavras que apresentam ditongo.
  2. Quais desses ditongos são abertos e quais são fechados?
Versão adaptada acessível
  1. Registre as palavras que apresentam ditongo.
  2. Quais desses ditongos são abertos e quais são fechados?

Produção de texto

Faça as atividades no caderno.

Conto

O que você vai produzir

Nesta Unidade, você estudou as características composicionais de um conto, ao ler dois textos que narram acontecimentos da época da infância, a partir de focos narrativos distintos, e pôde se aprofundar um pouco mais no conto da primeira leitura ao gravar uma versão em áudio.

Agora, você vai experimentar ser um contista, ao reescrever o conto “Passeio” mudando o foco narrativo: a história deve ser contada em 1ª pessoa, pelo filho da família. Depois, seu conto e os de seus colegas serão publicados em uma coletânea, para circular na comunidade escolar.

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Narrador em 1ª pessoa

Quando o narrador fala em 1ª pessoa, ele expressa sua visão, seus sentimentos e sua avaliação sobre os acontecimentos. Ele não tem acesso ao que pensam as demais personagens, podendo apenas supor o que elas sentiram em determinada situação.

Planejamento

1. Como você estudou anteriormente, os acontecimentos são narrados com base na posição do narrador. No conto “Passeio”, conhecemos os fatos por meio de um narrador em 3ª pessoa, que tudo sabe, mas não participa dos fatos, apenas os observa de fóra. Agora, quem vai contar o que ocorreu é o garoto, então tente imaginar a caracterização dele e como é seu dia a dia. Depois, organize o que pensou, copiando e preenchendo em seu caderno o quadro a seguir.

Rotina

Características físicas

Características psicológicas


  1. Você já conhece a sequência narrativa e suas especificidades no gênero conto. Faça o exercício de supor como essa personagem, descrita e caracterizada por você anteriormente, participa e conta esses fatos, na sequência em que ocorrem. Responda:
    1. Como será que o garoto via a família sentada na mesa do jantar?
    2. O que ele pensou quando o pai deu a notícia do passeio?
    3. Como ele imagina que a irmã tenha ficado?
    4. O que ele fez para matar a curiosidade e esperar pelo grande dia?
    5. O que ele sentiu no trajeto até o passeio?
    6. Quais emoções o passeio despertou no garoto?
    7. Como ele via os outros membros da família no local do passeio?
    8. Por que o garoto resolve contar essa história do passeio?

Faça as atividades no caderno.

3. Com essas perguntas respondidas, reflita como serão as quatro partes do enredo. Observe o esquema:

Esquema. Composto de caixas de texto e setas na horizontal. Os textos aparecem na seguinte ordem: Situação inicial; Conflito; Clímax; Desfecho.

Que mudanças ou acréscimos você fará na narrativa original? Anote as ideias no caderno.

Produção

  1. Elabore seu texto com base no planejamento feito, começando pelo parágrafo que apresenta ao leitor a situação inicial e os traços desse narrador-personagem. Você pode marcar a cidade e o ano em que se passa a história.
  2. Não deixe de apresentar um conflito, estabelecer uma tensão e provocar um clímax, deixando explícitos os sentimentos do garoto em relação aos fatos.
  1. Amplie a interação das personagens, utilizando o discurso direto. Essa é uma maneira de o leitor conhecer mais o que pensam as demais personagens da narrativa.
  2. No desfecho, você pode colocar uma avaliação do protagonista sobre a experiência do passeio.
  3. Organize os parágrafos e articule uma ação com a outra, criando progressão e unidade no conto.
  4. À medida que for escrevendo o texto, releia e monitore se está de acordo ou não com o planejamento.
  5. Por fim, dê um título que chame a atenção do leitor e estabeleça relação com o conto.

Revisão

  1. Faça uma leitura silenciosa do conto para corrigir problemas ortográficos e de pontuação. Ajuste o texto para que fique claro para o leitor.
  2. Troque seu texto com o de um colega. Você avaliará a produção dele, enquanto ele avalia a sua. Considere os critérios a seguir. Anote sua avaliação em uma folha avulsa, para entregar ao colega.

Em relação à proposta e ao sentido do texto

Em relação à ortografia e à pontuação

a. O título é coerente com a narrativa e intriga o leitor?

a. O travessão ou as aspas foram empregados corretamente na inserção do discurso direto?

b. O narrador está em 1ª pessoa, apresentando uma visão parcial dos acontecimentos?

b. Os pontos-finais foram utilizados para dividir bem frases e parágrafos?

c. As quatro partes do enredo estão organizadas de modo que o leitor possa compreender a história?

c. As vírgulas foram utilizadas para inserir explicações ou restringir alguma informação?

d. Há tensão na narrativa?

d. Os acentos foram empregados corretamente?

e. O desfecho apresenta uma avaliação do narrador-personagem coerente com o que foi apresentado antes e com a resolução do conflito apresentado?

e. A grafia das palavras e as concordâncias foram checadas?

  1. Com base nas anotações, converse com sua dupla sobre o que obser­varam nas leituras. Lembre-se de fazer críticas construtivas para ajudar seu colega a aprimorar o texto.
  2. Após a avaliação do colega, converse com o professor para esclarecer eventuais dúvidas gramaticais e de pontuação. Você também pode consultar obras de referência, como dicionários e gramáticas.
  3. Com base na autoavaliação, nos comentários dos colegas e nas consultas realizadas, faça as alterações que julgar necessárias no conto. Escreva uma versão final.
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Ambiguidades

Evite ambiguidades em seu texto. Muitas vezes, ao empregar os pronomes pessoais ele ou ela, não deixamos claro para o leitor a quem esses termos se referem. Também é importante evitar repetições desnecessárias. No caso do conto em primeira pessoa, não é preciso sempre repetir o pronome eu. Por meio da flexão verbal, já fica evidente a primeira pessoa do discurso.

Circulação

1. Depois da correção do professor, digite a versão final de seu conto para que ele possa compor uma coletânea dos trabalhos produzidos pela turma. Para facilitar a reunião dos textos, é importante que todos entreguem seus contos na mesma formatação.

  1. Combinem com o professor a organização da turma, em grupos, para realizar as seguintes tarefas:
  • criação da capa da coletânea;
  • elaboração do sumário do livro;
  • ilustração dos contos;
  • divulgação da coletânea na escola;
  • entrega do exemplar na biblioteca da escola.

Avaliação

  1. Como foi transformar um conto em 3ª pessoa em 1ª pessoa?
  2. Como você conseguiu transmitir a perspectiva do narrador-protagonista?
  3. Os esquemas ajudaram na fase de planejamento do conto?
  4. Ao ler a narrativa do colega e a sua, que ponderações você faria em relação à mudança do foco narrativo? O que ela altera na história?
  5. Como foi a circulação da coletânea na comunidade escolar?

Glossário

frenesi
: atividade, agitação intensa.
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Playcenter
: nome de um parque de diversão que funcionou na cidade de São Paulo de 1973 a 2012.
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silente
: silencioso.
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