UNIDADE 1  O Sertão como palco da tradição popular

Titulo do carrossel
Imagem meramente ilustrativa

Gire o seu dispositivo para a posição vertical

Pintura. O quadro explora as cores fortes e alegres e apresenta traços figurativos em um cenário bem detalhado. Retrata uma pequena vila rural durante a colheita do caju. À esquerda, quatro jovens usando roupas coloridas e descalços. Eles estão ao redor de uma árvore repleta de caju, segurando bastões com as mãos, com os braços estendidos para cima, na direção do caju. Atrás deles, um carrinho de mão cheio de cajus e um cachorro cinza. Ao lado, uma mulher usando vestido azul, segurando um regador com as mãos, rega uma plantação de flores. À direita, uma mulher usando vestido lilás e amarelo está segurando com as mãos uma tigela e jogando grãos de milho para algumas galinhas. Ao lado dela, uma mulher, usando vestido laranja e segurando uma vassoura com as mãos, varre o chão de terra vermelha batida. Ela está na frente de uma pequena casa branca com porta e janelas azuis. Do lado direito dela, dois meninos estão sentados e segurando piões com as mãos. E uma menina está segurando uma cesta com caju. Atrás dela, duas casas pequenas, uma vermelha e outra branca. No fundo, pasto, vegetação e céu azul.
BORGES, Rosângela. A colheita de caju. 2010. Acrílica sobre tela, 30 por 40 centímetros. Acervo da artista.

Faça as atividades no caderno.

  1. Observe a imagem.
    1. Quais características da Arte naífi podem ser identificadas?
    2. Você conhece a importância do caju para a região do Sertão nordestino?
  2. O ambiente do Sertão já deu origem a inúmeros livros, peças de teatro e filmes. Reúna-se com alguns colegas para conversar sobre aqueles de que você se lembra.
Versão adaptada acessível
  1. Com base na descrição da imagem, responda.
    1. Quais características da Arte naífi podem ser identificadas?
    2. Você conhece a importância do caju para a região do Sertão nordestino?

Saiba +

Arte naïf

Essa expressão foi usada pela primeira vez no fim do século dezenove. Arte naífi é o nome que damos à arte de pintores autodidatas que têm na espontaneidade e na expressão da individualidade a sua essência. Geralmente, as imagens são elaboradas em um tratamento bidimensional, sem perspectiva, com cores fortes.

A obra da pernambucana Rosângela Borges (1976-) faz parte dessa vertente artística. Aos 25 anos, ela começou a pintar cenas de brincadeiras de criança, passando depois a ilustrar a vida do sertanejo e o maracatu, uma dança originada em Pernambuco.

Leitura 1

Contexto

Você vai ler um trecho de uma das obras mais ­celebradas do teatro brasileiro: Auto da Compadecida, escrita por Ariano Suassuna em 1955. A peça incorpora elementos da cultura popular e faz do riso um poderoso instrumento de crítica social. Os protagonistas são os amigos João Grilo e Chicó, sertanejos humildes que, com muita lábia e bom humor, levam a vida como podem no Sertão nordestino.

No início da peça, João Grilo e Chicó tentam convencer padre João a benzer um cachorro, sem lhe dizer que o bichinho pertence à patroa deles, mas o padre se recusa a realizar tamanha sandice. Para convencê-lo, João Grilo lhe diz que o dono do cachorro é Major Antônio Moraes, homem rico e poderoso, e, tão rápido quanto se recusara, o padre muda de opinião – afinal, que mal tem abençoar uma criatura de Deus? João Grilo só não contava com o surgimento repentino do Major Antônio Moraes, que vem subindo a ladeira rumo à igreja.

Ariano Suassuna

AUTORIA

Nascido no município paraibano de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, Ariano Suassuna (1927-2014) foi autor de diversas peças teatrais, com destaque para Auto da Compadecida, traduzida para dezenas de idiomas e adaptada três vezes para o cinema. Além de dramaturgo, foi poeta, romancista e entusiasmado estudioso e defensor da cultura popular.

Antes de ler

O aparecimento do Major Antônio Moraes tem tudo para gerar uma grande confusão.

  • Será que João Grilo vai ser desmascarado?
  • Ao final do trecho, alguém ficará em apuros. Quem será?
Capa de livro. Na parte superior, o nome do autor: Ariano Suassura. Na parte inferior, o título do livro: Auto da Compadecida. Centralizada,  ilustração da personagem Compadecida, uma mulher com cabelos longos ondulados e coroa na cabeça. Ela usa um véu colorido que recai sobre os personagens e forma uma grande tenda, compondo o fundo da ilustração. Suas mãos estão unidas, em posição de oração, na frente do corpo. Do lado direito da sua cabeça, a figura do diabo, representada por um homem com chifres, camisa vermelha e dentes para fora. Do lado esquerdo da cabeça, representação do personagem Manoel, um homem com coroa, colar e camisa em tons amarelos. Abaixo dela, uma tenda de circo menor, com uma janela no centro. Na janela, um homem e uma mulher. Do lado de fora, dois homens com roupas coloridas, típicas de palhaço, segurando bastões que alicerçam toda a estrutura. Abaixo da janela, centralizado, um cachorro malhado. Espalhadas por toda a ilustração,  bandeirinhas e estrelas coloridas. Uma faixa larga e branca contorna a ilustração em formato retângulo. Uma borda estreita e colorida delimita a capa do livro.
Capa do livro Auto da Compadecida.

Auto da Compadecida

reticências

CHICÓ

João, deixe de ser vingativo que você se desgraça! Qualquer dia você inda se mete numa embrulhada séria!

JOÃO GRILO

E o que é que tem isso? Você pensa que eu tenho medo? Só assim é que posso me divertir. Sou louco por uma embrulhada!

CHICÓ

Permita então que eu lhe dê meus parabéns, João, porque você acaba de se meter numa danada.

JOÃO GRILO

Eu? Que há?

CHICÓ

O Major Antônio Moraes vem subindo a ladeira. Certamente vem procurar o padre.

JOÃO GRILO

Ave-Maria! Que é que se faz, Chicó?

CHICÓ

Não sei, não tenho nada a ver com isso! Você, que inventou a história e que gosta de embrulhada, que resolva!

JOÃO GRILO

Cale a boca, besta! Não diga uma palavra, deixe tudo por minha conta. [Vendo Antônio Moraes no limiar, esquerda.] Ora viva, seu Major Antônio Moraes, como vai Vossa Senhoria? Veio procurar o padre? [Antônio Moraes, silencioso e terrível, encaminha-se para a igreja mas João toma-lhe a frente.] Se Vossa Senhoria quer, eu vou chamá-lo. [Antônio Moraes afasta João do caminho com a bengala, encaminhando-se de novo para a igreja. João, aflito, dá a volta, tomando-lhe a frente e fala, como último recurso.] É que eu queria avisar, pra Vossa Senhoria não ficar espantado: o padre está meio doido.

ANTÔNIO MORAES

parando

Está doido? O padre?

JOÃO GRILO

animando-se

Sim, o padre! Está dum jeito que não respeita mais ninguém e com mania de benzer tudo. Vim dar um recado a ele, mandado por meu patrão, e ele me recebeu muito mal, apesar de meu patrão ser quem é.

ANTÔNIO MORAES

E quem é seu patrão?

JOÃO GRILO

O padeiro! Pois ele chamou o patrão de cachorro e disse que apesar disso ia benzê-lo.

ANTÔNIO MORAES

Que loucura é essa?

JOÃO GRILO

Não sei, é a mania dele agora. Benze tudo e chama a gente de cachorro.

ANTÔNIO MORAES

Isso foi porque era com seu patrão. Comigo é diferente.

JOÃO GRILO

Vossa Senhoria me desculpe, mas eu penso que não.

ANTÔNIO MORAES

Você pensa que não?

JOÃO GRILO

Penso, sim. E digo isso porque ouvi o padre dizer: “Aquele cachorro, só porque é amigo de Antônio Moraes, pensa que é alguma coisa”.

ANTÔNIO MORAES

Que história é essa? Você tem certeza?

JOÃO GRILO

Certeza plena. Está doidinho, o pobre do padre!

ANTÔNIO MORAES

Pois vamos esclarecer a história, porque alguém vai pagar essa brincadeira! Quanto à mania de benzer, não faz mal, ela me será até útil. Meu filho mais moço está doente e vai pra o Recife, tratar-se. Tem uma verdadeira mania de igreja e não quer ir sem a bênção do padre. Mas fique certo de uma coisa: hei de esclarecer tudo, e se você está com brincadeiras pra meu lado, há de se arrepender. Padre João! Padre João!

Sai pela direita. No mesmo instante, Chicó tenta fugir, mas João agarra-o pelo pescoço.

Ilustração. À esquerda, representação do personagem Major Antônio, um homem com bigode, usando chapéu e terno. Ele está subindo um morro de terra com pouca vegetação montado em um cavalo. À direita, no topo do morro, representação dos personagens João Grilo e Chicó, dois jovens usando chapéu marrom em formato de arco, camisa e calça. Um deles carrega um saco azul nas costas. Eles conversam com o homem. No céu, o sol.

JOÃO GRILO

Não, você fica comigo! Vim encomendar a bênção do cachorro por sua causa e você tem de ficar. E mesmo, Chicó, você já está acostumado com essas coisas, já teve até um cavalo bento!

CHICÓ

É, mas acontece que o Major Antônio Moraes pode ter alguma coisa de cavalo, de bento é que ele não tem nada!

JOÃO GRILO

Deixe de ser frouxo e fique aqui!

ANTÔNIO MORAES

voltando

Ah, padre, estava aí? Procurei-o por toda parte.

PADRE

da igreja

Ora quanta honra! Uma pessoa como Antônio Moraes na igreja! Há quanto tempo esses pés não cruzam os umbraisglossário da casa de Deus!

ANTÔNIO MORAES

Seria melhor dizer logo que faz muito tempo que não venho à missa!

PADRE

Qual o quê, eu sei de suas ocupações, de sua saúde...

ANTÔNIO MORAES

Ocupações? O senhor sabe muito bem que não trabalho e que minha saúde é perfeita.

PADRE

amarelo

Ah, é?

ANTÔNIO MORAES

Os donos de terras é que perderam hoje em dia o senso de sua autoridade. Veem-se senhores trabalhando em suas terras como qualquer foreiro. Mas comigo as coisas são como antigamente, a velha ociosidade senhorial!

PADRE

É o que eu vivo dizendo, do jeito que as coisas vão, é o fim do mundo! Mas que coisa o trouxe aqui? Já sei, não diga, o bichinho está doente, não é?

ANTÔNIO MORAES

É, já sabia?

PADRE

Já, aqui tudo se espalha num instante! Já está fedendo?

Ilustração. À esquerda, um padre usando chapéu e batina marrom. Ele está gesticulando com as mãos. À direita, representação do personagem Major Antônio, um homem com bigode e cabelos castanhos, usando chapéu e terno. Ele está olhando para o padre com a mão na cintura. No fundo, casas pequenas e uma igreja. No céu, o sol.

ANTÔNIO MORAES

Fedendo? Quem?

PADRE

O bichinho!

ANTÔNIO MORAES

Não. Que é que o senhor quer dizer?

PADRE

Nada, desculpe, é um modo de falar!

ANTÔNIO MORAES

Pois o senhor anda com uns modos de falar muito esquisitos!

PADRE

Peço que desculpe um pobre padre sem muita instrução. Qual é a doença? Rabugemglossário ?

ANTÔNIO MORAES

Rabugem?

PADRE

Sim, já vi um morrer disso em poucos dias. Começou pelo rabo e espalhou-se pelo resto do corpo.

ANTÔNIO MORAES

Pelo rabo?

PADRE

Desculpe, desculpe, eu devia ter dito “pela cauda”. Deve-se respeito aos enfermos, mesmo que sejam os de mais baixa qualidade.

ANTÔNIO MORAES

Baixa qualidade? Padre João, veja com quem está falando. A Igreja é uma coisa respeitável, como garantia da sociedade, mas tudo tem um limite!

PADRE

Mas o que foi que eu disse?

ANTÔNIO MORAES

Baixa qualidade! Meu nome todo é Antônio Noronha de Britto Moraes e esse Noronha de Britto veio do Conde dos Arcos, ouviu? Gente que veio nas caravelas, ouviu?

PADRE

Ah bem e na certa os antepassados do bichinho também vieram nas caravelas, não é isso?

ANTÔNIO MORAES

Claro! Se meus antepassados vieram, é claro que os dele vieram também. Que é que o senhor quer insinuar? Quer dizer por acaso que a mãe dele procedeu mal?

PADRE

Mas, uma cachorra!

ANTÔNIO MORAES

O quê?

PADRE

Uma cachorra!

ANTÔNIO MORAES

Repita!

PADRE

Não vejo nada de mal em repetir, não é uma cachorra mesmo?

ANTÔNIO MORAES

Padre, não o mato agora mesmo porque o senhor é um padre e está louco, mas vou me queixar ao bispo. [A João.] Você tinha razão. Apareça nos Angicos, que não se arrependerá. [Sai.]

PADRE

aflitíssimo

Mas me digam pelo amor de Deus o que foi que eu disse.

JOÃO GRILO

Nada, nada, padre! Esse homem só pode estar louco com essa mania de ser grande. Até ao cachorro ele quer dar carta de nobreza!

PADRE

Faço tudo para agradá-lo e vai-se queixar ao bispo! Ah se fosse no tempo do outro! Aquele, sim, era um santo, a coisa mais fácil do mundo era satisfazê-lo. Esse dagora é uma águia, um verdadeiro administrador. Será que vai me suspender?

reticências

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005.página. 27-35.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Antes da leitura, você levantou hipóteses sobre o desenrolar da cena em que João Grilo pede a padre João que benza um cachorro. Retome o que você havia pensado e responda oralmente às questões.
    1. Com a chegada do Major, João Grilo é desmascarado?
    2. Quem se prejudicou com a chegada inesperada do Major? Por quê?
    3. Suas hipóteses se confirmaram? Explique.
  2. O Auto da Compadecida tem uma profunda relação com o universo do circo, fato que fica mais evidente com a presença de duas personagens que representam dois tipos de palhaço, batizados popularmente de o Palhaço e o Bobo: o primeiro é espertalhão e destemido, e o outro, ingênuo e medroso.
    1. Com base na leitura desse trecho, que personagens representam o Palhaço e o Bobo?
    2. Justifique sua resposta com exemplos de ações e comportamentos dessas personagens.
  3. Por que, no trecho lido, a chegada repentina de Antônio Moraes pode ser considerada um conflito?
  4. Leia as afirmações a seguir e reescreva apenas a correta no seu caderno.
Versão adaptada acessível

4. Leia as afirmações a seguir e reescreva apenas a correta.

um Padre João recebe Major Antônio Moraes com frieza.

dois Chicó age para acalmar o Major em favor de João Grilo.

três João Grilo faz Major Antônio Moraes se passar por louco.

quatro Major Antônio Moraes, embora poderoso, revela-se humilde.

5. Releia o trecho a seguir.

CHICÓ

João, deixe de ser vingativo que você se desgraça! Qualquer dia você inda se mete numa embrulhada séria!

JOÃO GRILO

E o que é que tem isso? Você pensa que eu tenho medo? Só assim é que posso me divertir. Sou louco por uma embrulhada!

CHICÓ

Permita então que eu lhe dê meus parabéns, João, porque você acaba de se meter numa danada.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 27-28.

  1. Com base no contexto, qual é o sentido da palavra embrulhada?
  2. Que elementos do contexto possibilitaram que você chegasse a essa conclusão?
Ícone retomada de tópicos

Apresentação, conflito e desfecho

Como toda fórma tradicional de arte dramática, o auto encena uma narrativa composta de:

• apresentação: situação inicial em que é ambientada a história e são conhecidas as personagens;

• conflito: oposição de fôrças entre indivíduos ou entre fôrças internas do próprio indivíduo; além do conflito principal, é comum haver pequenos conflitos, que contribuem para o desdobramento e a resolução do conflito principal;

desfecho ou desenlace: resolução do conflito principal.

Faça as atividades no caderno.

  1. João Grilo decide fazer o Major Antônio Moraes acreditar que o padre está doido.
    1. Por que ele faz isso?
    2. De que maneira ele busca convencer o Major da doidice do padre?
    3. Antônio Moraes se convence?
  2. A certa altura, o Major diz ao padre: “Meu nome todo é Antônio Noronha de Britto Moraes e esse Noronha de Britto veio do Conde dos Arcos, ouviu? Gente que veio nas caravelas, ouviu?”.
    1. Qual é a intenção do Major ao mencionar seu nome completo?
    2. O que ele quer dizer com “Gente que veio nas caravelas”?
    3. As demais personagens, porém, não têm sobrenome. O que isso revela sobre elas?
  3. Ao se dirigir ao Major Antônio Moraes, João Grilo usa o pronome de tratamento Vossa Senhoria.
    1. Em que ocasiões esse pronome de tratamento é usado?
    2. Considerando o contexto, por que João Grilo usa esse pronome de tratamento?
  4. Releia este trecho.

PADRE

da igreja

Ora quanta honra! Uma pessoa como Antônio Moraes na igreja! Há quanto tempo esses pés não cruzam os umbrais da casa de Deus!

ANTÔNIO MORAES

Seria melhor dizer logo que faz muito tempo que não venho à missa!

PADRE

Qual o quê, eu sei de suas ocupações, de sua saúde...

ANTÔNIO MORAES

Ocupações? O senhor sabe muito bem que não trabalho e que minha saúde é perfeita.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005.página 31.

  1. Em vez de dizer diretamente que há muito tempo Antônio Moraes não ia à igreja, o padre utiliza outra frase com esse intuito. Que frase é essa?
  2. Essa frase caracteriza o uso de uma linguagem elaborada ou coloquial? Por quê?

Saiba +

O Auto da Compadecida, o filme

Em 2000 a obra Auto da Compadecida ganhou uma importante adaptação para o cinema. Dirigido por Guel ­Arraes, o longa-metragem tem duração de 105 minutos. As cenas externas foram filmadas em Cabaceiras, no Sertão da Paraíba, e em João Pessoa, capital do estado. Para alongar o enredo, foram inseridas novas tramas e personagens, como Rosinha, filha do Major Antônio Moraes.

Fotograma. Dois homens sentados em um carro de bois puxado por um cavalo. Eles estão passando por uma terra seca. Atrás, algumas árvores com poucas folhas.
No filme O Auto da Compadecida (2000), Chicó e João Grilo foram interpretados, respectivamente, por Selton Mello (sentado à esquerda no carro de bois) e Matheus Nachtergaele.

Faça as atividades no caderno.

10. Releia este outro trecho.

ANTÔNIO MORAES

Pois vamos esclarecer a história, porque alguém vai pagar essa brincadeira! Quanto à mania de benzer, não faz mal, ela me será até útil. Meu filho mais moço está doente e vai pra o Recife, tratar-se. Tem uma verdadeira mania de igreja e não quer ir sem a bênção do padre. Mas fique certo de uma coisa: hei de esclarecer tudo, e se você está com brincadeiras pra meu lado, há de se arrepender. Padre João! Padre João!

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005.página 30.

Ilustração. Representação do personagem Major Antônio, um homem de bigode, usando chapéu e terno. Ele está de pé segurando uma bengala com a mão direita.
  1. Boa parte do diálogo entre padre João e Antônio Moraes gira em torno de um mal-entendido. Qual?
  2. Qual é a participação de João Grilo na criação do mal-entendido?
  3. Por que esse mal-entendido gera um efeito cômico?

11. Releia o trecho a seguir.

PADRE

Faço tudo para agradá-lo e vai-se queixar ao bispo! Ah se fosse no tempo do outro! Aquele, sim, era um santo, a coisa mais fácil do mundo era satisfazê-lo. Esse dagora é uma águia, um verdadeiro administrador. Será que vai me suspender?

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página35.

  1. No diálogo existe uma palavra que retrata a variedade linguística que existe no Brasil. Que palavra é essa?
  2. Essa palavra resulta da união de duas palavras. Quais?
  3. Podemos afirmar que existe uma fórma correta de pronunciar essas palavras? Por quê?

Faça as atividades no caderno.

  1. Que características do texto permitem identificá-lo como um texto dramático, isto é, escrito para ser encenado?
  2. Nas cenas seguintes da peça, o cachorro morre e é enterrado com honras religiosas. Esse funeral do cachorro foi inspirado na obra O dinheiro, cordel de Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Leia a seguir um fragmento dessa obra.

Mandou chamar o vigário:

– Pronto! – o vigário chegou.

– Às ordens, Sua Excelência!

O Bispo lhe perguntou:

– Então, que cachorro foi

que o reverendo enterrou?

– Foi um cachorro importante,

animal de inteligência:

ele, antes de morrer,

deixou a Vossa Excelência

dois contos de réis em ouro.

Se eu errei, tenha paciência.

– Não errou não, meu vigário,

você é um bom pastor.

Desculpe eu incomodá-lo,

a culpa é do portador!

Um cachorro como esse,

se vê que é merecedor!

Ilustração. Um cachorro marrom com coleira preta e asas acinzentadas. Ele está sentado sobre a terra, olhando para a direita. Sobre ele, uma nuvem. Atrás, fundo azul.

BARROS, Leandro Gomes de. Fragmento de O dinheiro. In: SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página. 10.

  1. Qual é a principal diferença entre as fórmas textuais usadas no cordel e na peça para contar a história?
  2. Com base na leitura do cordel, por que o vigário considera o cachorro importante?
  3. Na peça, pode-se dizer que padre João também considera o cachorro importante? Por quê?
Ícone retomada de tópicos

Literatura de cordel

Literatura de cordel é um gênero textual caracterizado por poemas narrativos de tradição oral e capas ilustradas por xilogravuras. Recebe esse nome pois, quando ela surgiu em Portugal, no século dezesseis, os poemas eram impressos em folhetos que eram pendurados em cordões para serem vendidos em feiras populares. Em algumas cidades do Nordeste brasileiro, esse tipo de literatura tornou-se muito popular.

O gênero em foco

Ilustração. Ícone de Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo

Faça as atividades no caderno.

Auto

Auto é um tipo de texto dramático. De origem medieval, é uma peça de teatro geralmente escrita em versos e predominantemente breve.

Surgido na Península Ibérica no final do século doze, em contexto sob forte influência cristã, o auto pode apresentar temas religiosos, como episódios bíblicos e biografias de santos, e ter viés moralizante, pois as histórias encenadas condenam ou celebram comportamentos segundo a moral cristã.

Inicialmente, os autos eram encenados dentro de templos religiosos. Somente depois ganharam espaços não sagrados, como feiras e mercados, e desenvolveram também temas profanos, cuja temática não é religiosa. Contudo, isso não significa que estejam imunes à moral cristã, visto que o contexto social em que surgiram é o mesmo. Essa modalidade de auto é conhecida como pastoril, pois seus temas em geral são relacionados à vida no campo.

Outra fórma de teatro comum na Península Ibérica nessa época é a farsa, sem divisão de atos nem marcação de cenas. Ao contrário dos autos, as farsas são fundamentalmente profanas e exageradamente engraçadas, apresentam poucas personagens e privilegiam temas como o relacionamento humano e a oposição aos valores tradicionais. A distinção entre eles, entretanto, é imprecisa, pois, graças ao teor cômico, alguns autos pastoris se confundem com farsas, como é o caso do Auto de Inês Pereira, também chamado de Farsa de Inês Pereira, de autoria de Gil Vicente.

Gil Vicente

Considerado o pai do teatro português, Gil Vicente (1465?-1536?) é autor de uma obra teatral diversa. Ficou conhecido sobretudo por seus autos, com destaque para a chamada “trilogia das barcas”, composta de Auto da Barca do Inferno (1517), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519).

Em seus autos, o moralismo serve a uma poderosa crítica de costumes. Isso porque eles promovem a interação entre personagens da mitologia cristã e da vida cotidiana.

Essas figuras comuns que Gil Vicente trouxe para sua dramaturgia encarnam comportamentos de membros de determinado grupo social. Por essa razão, são chamados tipos sociais ou personagens-tipo. Essas personagens aparecem na obra simplesmente como o “frade”, o “sapateiro”, o “corregedor” etcétera.

Na obra Auto da Compadecida, que tipo de crítica social aparece? Quais personagens e trechos do texto comprovam sua hipótese?

Fotografia. Peça de teatro. À esquerda, um ator com tiara de chifres e rosto pintado de vermelho com alguns detalhes em branco. Ele usa roupas vermelhas com detalhes em couro preto e luvas pretas. Está gesticulando com as mãos e olhando para a esquerda, com a boca aberta. Do lado direito, um ator com peruca loira, rosto pintado de branco e roupas brancas. Ele está sorrindo, olhando para esquerda e com o dedo indicador da mão esquerda para cima.
Apresentação da obra O Auto da Barca do Inferno, do Grupo Trapiche, em 2013.

Faça as atividades no caderno.

Leia um trecho de Auto da Barca do Inferno:

Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de fôrmas, chega ao batel infernal e diz

SAPATEIRO Hou, da barca!

DIABO Quem vem aí?

                 Santo sapateiro honrado,

                 como vens tão carregado!

SAPATEIRO Mandaram-me vir assi...

Mas para onde é a viagem?

DIABO Para a terra dos danados!

VICENTE, Gil. O Velho da Horta, Auto da Barca do Inferno, Farsa de Inês Pereira. São Paulo: Ateliê, 2000. página. 138.

Ilustração. Um homem com bigode e cabelos curtos castanhos, usando blusa, calça e avental. Ele está em pé carregando nas costas um saco com ferramentas. A mão esquerda está na testa e a mão direita segura a alça do saco com ferramentas. Atrás, uma barca, embarcação à vela.

Embora feroz, a crítica social em sua obra é comumente acompanhada de elementos cômicos, o que mais conquista do que constrange o público. O juiz tolo, o sapateiro enganador, o corregedor corrupto, entre outros tipos, encenam uma sociedade com mais vícios que virtudes, para a diversão da plateia que assiste à crítica de padrões sociais.

Ainda no que se refere à incorporação de elementos da cultura popular, Gil Vicente também ficou conhecido por utilizar trocadilhos, piadas e ditados do povo.

Quanto à fórma, Gil Vicente escreveu toda a sua obra em versos, principalmente nas chamadas redondilhas, tendo a menor delas cinco sílabas poéticas, e a maior, sete. Observe um dos versos que você leu.

O verso foi dividido em sete sílabas poéticas. Cada sílaba está dentro de um quadrado colorido com um número sequencial de 1 a 7, deixando a última sílaba do verso fora do quadrado e sem número.
Co (1) mo (2) vens (3) tão (3) ca (4) rre (5) ga (7) do!

Trata-se de uma redondilha maior. As redondilhas são uma métrica de origem medieval e típicas de expressões poéticas populares, sendo até hoje frequentes em letras de canção.

Ícone pontos de atenção e noções complementares

Sílabas poéticas e escansão

Versos são compostos de sílabas poéticas. Elas recebem esse nome porque sua contagem é diferente da contagem de sílabas gramaticais, pois o critério para a divisão é sonoro, e não gramatical. No verso de Gil Vicente “Santo sapateiro honrado”, por exemplo, o término da palavra sapateiro e o início da palavra honrado são pronunciados de uma só vez, o que corresponde a uma sílaba poética. Além disso, a contagem de sílabas poéticas termina sempre na última sílaba tônica do verso, que pode ou não coincidir com a última gramatical. O processo de divisão de um verso em sílabas poéticas é chamado escansão.

Auto à brasileira

O auto chegou ao Brasil nos primórdios da colonização e era usado como instrumento de catequese. Para cativar os nativos, os jesuítas misturavam figuras das mitologias cristã e indígena, o que aos poucos deu nova cara ao auto. Posteriormente, foram incorporados elementos das culturas africanas, o que contribuiu para a popularização e o sincretismo (fusão de culturas) típicos desse gênero no país.

Exemplo dessa fusão cultural é o Auto do Bumba Meu Boi. Encenado nas festas de São João (santo católico), é protagonizado por Pai Francisco (africano escravizado), que convoca pajés (indígenas) para ressuscitar o boi que ele matara para atender ao desejo de sua esposa, grávida, de comer língua de boi.

Fotografia. Um grupo de pessoas desfila na rua usando alegorias de boi feitas com tecidos coloridos e floridos e uma máscara de boi.
Desfile do Grupo Boi Estrela em Santo Antônio do Leverger (Mato Grosso), 2020.

Tradição sem cerimônias

Embora modificadas graças à mistura com outras culturas e à realidade local, expressões tradicionais ibéricas como a literatura de cordel, os romances e os autos mantiveram sua essência na tradição sertaneja.

Ambientada no Sertão nordestino, a obra de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida, apresenta evidente influência dos autos de Gil Vicente, a começar pelo tema do julgamento final, também presente no Auto da Barca do Inferno. Em ambas as peças, as personagens, após a morte, acertam suas contas com Deus.

O tratamento dado ao tema revela outras características em comum, no caso, o teor moralizante e o uso de tipos sociais. Na obra de Suassuna, membros da Igreja e da aristocracia são criticados por conta de seus vícios, enquanto personagens humildes e ingênuos são representados positivamente. Contudo, os tipos são outros, pois são outras a sociedade e a cultura.

Outro procedimento comum entre artistas medievais ibéricos herdado por Ariano Suassuna é a apropriação de elementos da cultura popular. Não apenas o episódio do cachorro, mas muitos outros do Auto da Compadecida foram retirados de fontes da tradição popular sertaneja, como folhetos de cordel, romances e autos. Até mesmo João Grilo é uma homenagem ao protagonista de um cordel intitulado As proezas de João Grilo, personagem que, por sua vez, é uma evidente releitura de Pedro Malasartes, herói espertalhão de origem portuguesa.

Reflita com os colegas: considerando que Ariano Suassuna poderia criar as próprias personagens, por que se baseou em outras que já existiam?

Capa de cordel. Na parte superior, o nome do autor: João Ferreira de Lima. Abaixo, o título do livro: As Proezas de João Grilo. Na parte inferior, ilustração de um homem usando chapéu e terno e segurando um grilo com uma corda.
Capa do cordel As proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima. 2001.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 1

Faça as atividades no caderno.

Um pouco mais sobre o predicado

Você já sabe que os termos essenciais da oração são o sujeito e o predicado. Esses termos são responsáveis pela estrutura básica da oração.

1. Para relembrar os dois tipos de predicado que você já estudou nesta Coleção, leia esta tirinha.

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando blusa branca e short azul. Fê, uma menina com cabelos ruivos presos em coque, usando blusa branca e short verde. Um menino com cabelos castanhos, usando blusa amarela e short vermelho. Todos estão de perfil. Cena 1. Fê está segurando um prato de comida com as mãos. Fora do quadro, Armandinho diz: NÃO QUER UM PEDACINHO, FÊ? Cena 2. Olhando para Armandinho, ambos com o prato de comida nas mãos, Fê diz: OBRIGADA, DINHO... MAS EU NÃO COMO CARNE! Cena 3. Armandinho, olhando para seu prato, diz: MAS ISTO NÃO É CARNE... ISTO É PEIXE. À direita, o menino, também segurando um prato de comida com as mãos, diz: E TEM CAMARÃO! No meio, Liz olha para Armandinho sem expressão.

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016.página90.

As tirinhas causam humor por apresentar situações inesperadas. Qual é a situação inesperada na tirinha que você leu?

2. Releia as orações do segundo e do terceiro quadrinhos.

– Obrigada, Dinho... mas eu não como carne!

– Mas isto não é carne... isto é peixe!

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016. página 90.

  1. Encontre os verbos das duas falas.
  2. Existe alguma diferença em relação ao que esses verbos expressam?

Vamos retomar as definições de sujeito e predicado.

Sujeito é o termo ao qual o verbo ou locução verbal de uma oração se refere e sobre o qual o predicado declara algo.

Predicado é o que se declara sobre o sujeito da oração. Ele pode expressar ação, característica ou estado do sujeito. Às vezes, pode expressar um fenômeno ou evento sem a presença de um sujeito na oração, como em: “Chove muito no verão tropical”.

Estudar o predicado é conhecer a relação que se estabelece entre ele e o sujeito. Devemos lembrar que o processo de predicação se refere a afirmar algo sobre alguma coisa. Essa função desempenhada pelo predicado é sempre iniciada por um verbo.

Ícone retomada de tópicos

Verbos

Lembre-se de que os verbos podem expressar ações, acontecimentos e estados (ou, ainda, mudança ou continuidade de estado).

Os verbos que indicam ações, acontecimentos, processos ou fenômenos são chamados verbos de ação. Eles contêm a informação principal de certo tipo de predicado. Na fala da amiga de Armandinho, encontramos o verbo comer (como) – um verbo de ação que geralmente revela a atividade de ingerir alimentos.

Os verbos que atribuem uma característica ou estado ao sujeito da oração são chamados verbos de ligação. Nesse caso, a informação principal do predicado não está no verbo, e sim no que chamamos de predicativo do sujeito. Na resposta de Armandinho à amiga, há um verbo de ligação – ser (é) – que atribui ao alimento a característica de não ser carne, mas peixe (pela interpretação do menino).

Ícone retomada de tópicos

Verbos de ligação

Alguns exemplos de verbos de ligação são ser, estar, permanecer, ficar, parecer, continuar, virar, tornar-se.

Você sabe que os predicados devem conter necessariamente um verbo. O que define o tipo de predicado de cada oração, porém, é o seu núcleo, que nem sempre é o verbo... Como? Em primeiro lugar, pense no que significa a palavra núcleo. Segundo o Dicionário Caldas Aulete Digital, o significado que nos interessa aqui é “parte essencial de algo”. Retome estas orações da tirinha:

– Obrigada, Dinho... mas eu não como carne!

– Mas isto não é carne... isto é peixe!

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016. página 90.

Como registramos, na primeira oração temos um verbo de ação e, na segunda, um verbo de ligação. A parte principal do predicado, que contém a ideia central, é chamada de núcleo do predicado. Na primeira oração, o núcleo é o verbo comer. Na segunda e na terceira orações, o núcleo do predicado está nas palavras carne e peixe.

Predicado verbal é aquele que apresenta como núcleo, sua parte essencial, um verbo.

Predicado nominal é aquele que tem como núcleo, sua parte essencial, um nome (substantivo, adjetivo, locução adjetiva). Os verbos que ocorrem nos predicados nominais são sempre de ligação.

Além desses dois tipos de predicado, existe outro, que você estudará a seguir.

Faça as atividades no caderno.

Predicado verbo-nominal

Leia a tirinha a seguir e responda às questões.

Tirinha. Em três cenas: Cena 1. Garfield, um gato robusto alaranjado com listras pretas. Ele está com os olhos bem abertos voltados para as páginas de um livro que está em suas mãos. Ele pensa: ...E EU VIVI FELIZ PARA SEMPRE! Cena 2. Fechando o livro, Garfield pensa: FIM! Cena 3. Garfield está olhando para frente. O livro está sobre a mesa. Ele pensa: OS MELHORES LIVROS SÃO AQUELES QUE VOCÊ MESMO ESCREVE.

DAVIS, Jim. Garfield. Folha de São Paulo, São Paulo, 1º outubro. 2015. Ilustrada, página C7.

  1. gárfild, no primeiro quadrinho, tem uma expressão feliz e usa uma oração conhecida dos finais dos contos de fadas, mas com uma mudança significativa. Qual é ela?
  2. O que a mudança nessa conhecida oração traz de pista sobre a história que ele estava lendo?
  3. O que revela o último quadrinho sobre a história?
  4. Considere a oração do primeiro quadrinho:

...e eu vivi feliz para sempre!

DAVIS, Jim. Garfield. Folha de São Paulo, São Paulo, 1º outubro 2015. Ilustrada, página C7.

  • Qual é o verbo dessa oração? É um verbo de ação ou de ligação?
  • O adjetivo feliz está se referindo a que palavra? Que função sintática exerce essa palavra nessa oração?
  • Reúna-se com um colega e releia o quadrinho, atentando ao núcleo. O que é possível inferir sobre ele?

Há um tipo de predicado que reúne, ao mesmo tempo, um núcleo verbal e um nominal, como você viu na tirinha do gárfild:

Esquema.
...e eu vivi feliz para sempre!
vivi: verbo intransitivo; núcleo verbal
feliz: adjetivo; núcleo nominal

Esse tipo de predicado, em que se encontram dois núcleos – um verbal, que expressa uma ação, e um nominal, que revela uma predicação por meio de substantivos, adjetivos ou locuções adjetivas –, é chamado predicado verbo-nominal.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Leia estes trechos retirados do Auto da Compadecida e registre, no caderno, o tipo de predicado de cada um.

Pois vamos esclarecer a história, porque alguém vai pagar essa brincadeira!

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página. 30.

b.

Meu filho mais moço está doente e vai pra o Recife [...].

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 30.

c.

Enfim, isso é um fim de mundo.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página. 92.

  1. Considere o item c da questão anterior. Relacionando a frase ao contexto em que ela estava inserida, qual é o significado do predicado?
  2. Releia esta fala do Auto da Compadecida.

Pois o senhor anda com uns modos de falar muito esquisitos!

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página. 32.

a. O verbo em destaque pode apresentar mais de um sentido? Quais?

Versão adaptada acessível

a. O verbo "andar", empregado no texto, pode apresentar mais de um sentido? Quais?

  1. Nesse caso, qual é o tipo de predicado da oração?
  2. Substitua o verbo sem que o sentido da frase seja alterado.

4. Leia esta tirinha e observe novamente o verbo andar.

Tirinha. Em duas cenas. Cena 1. Um grupo de lobos de cor cinza caminhando em uma floresta. Na parte superior, o texto: LOBOS ANDAM LIVRES POR QUILOMETROS EM BUSCA DE ALIMENTOS. Cena 2. Uma cachorrinha marrom com um laço rosa na cabeça. Ela está em cima de uma poltrona, olhando para frente. No chão, um tapete redondo com dois potes com comida próximos. A cachorrinha diz: QUE COISA PRIMITIVA!

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 agosto. 2018. Ilustrada, página. C7.

  1. Por que a cachorrinha julga primitivo o fato de os lobos ainda terem de buscar o próprio alimento?
  2. A que termo o adjetivo livres está sendo atribuído no primeiro quadrinho? Que tipo de verbo é andar?
  3. Reúna-se com um colega para compararem qual é a diferença no sentido do verbo andar entre a tirinha e o texto da atividade 3.

Faça as atividades no caderno.

Orações coordenadas

A oração é um enunciado construído por um verbo e um predicado. Quando um período é composto de mais de uma oração, podemos classificá-las como dependentes ou independentes. As dependentes estão subordinadas à oração principal, ou seja, o sentido delas está atrelado à outra.

Já as independentes sintaticamente apresentam sentido completo; uma oração não assume nenhuma função sintática da outra.

Leia a seguir a tirinha de Armandinho.

Tirinha. Em três cenas. Armandinho, menino com cabelos azuis, usando blusa branca e short azul. Fê, uma menina ruiva usando fantasia de Carmem Miranda, composta por saia e top verde e amarelo, colar branco e um chapéu com frutas. Eles estão de perfil, um de frente para o outro. Cena 1. À esquerda, Fê, sorrindo, diz: É DA CARMEM MIRANDA. À direita, Armandinho, sorrindo, diz: LEGAL, DEIXA EU PROVAR? Cena 2. Com a boca aberta, Fê diz: BOM... ELA FOI FEITA SOB MEDIDA, MAS SE VOCÊ QUER MESMO... Armandinho olha para ela com um sorriso tímido. Cena 3. Fê está com os olhos arregalados e a boca fechada. Ao lado, Armandinho está comendo uma banana e fazendo o som de NHOC! NHOC...

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016. página 51.

  1. O que Lili entendeu da fala de Armandinho? E o que ele quis dizer?
  2. Que palavra causou essa confusão?

Retome a fala de Lili no segundo quadrinho.

Quantas orações há nesse período? Elas são dependentes ou independentes sintaticamente?

Um período composto de orações sintaticamente independentes é chamado período composto por coordenação. Dizemos que as orações que o compõem são coordenadas.

Veja:

Esquema. Ela foi feita sob medida, mas se você quer mesmo... Ela foi feita sob medida,: oração coordenada 1 mas se você quer mesmo...: oração coordenada 2

Observe que essas duas orações se encontram unidas pela conjunção mas.

Ícone retomada de tópicos

Período simples e período composto

Chamamos de período simples aquele que apresenta um só verbo ou uma só locução verbal. Já o período composto apresenta mais de um verbo ou locução verbal.

Ícone retomada de tópicos

Conjunção e locução conjuntiva

Conjunção é a palavra invariável que liga orações ou dois termos que exercem função semelhante dentro de uma mesma oração. Locuções conjuntivas são expressões formadas por duas ou mais palavras com valor de conjunção: visto que, à medida que, uma vez que, desde que, para que, a fim de que, depois que...

Agora, considere este texto, que traz uma curiosidade sobre o camelo:

Os camelos possuem diversos recursos para sobreviver em ambientes desérticos. Conseguem beber até 100 L de água de uma vez, protegem-se do calor com uma densa pelagem e têm gordura nas corcovas que pode ser consumida.

MASSAO, Lucas. Sem medo de espinhos: como o camelo consegue comer cactos. Superinteressante, São Paulo, Abril, edição. 388, página 32, maio 2018.

Faça as atividades no caderno.

Analise este período, retirado desse texto:

Esquema.
Conseguem beber até 100 litros de água de uma vez, protegem-se do calor com uma densa pelagem [...].
Conseguem beber até 100 litros de água de uma vez,: oração coordenada 1
protegem-se do calor com uma densa pelagem [...]: oração coordenada 2

Repare que as duas orações coordenadas estão justapostas, não foram ligadas por conjunção ou locução conjuntiva.

As orações coordenadas justapostas, sem o recurso de uma conjunção ou locução conjuntiva, são chamadas assindéticas.

As orações coordenadas ligadas por conjunção ou locução conjuntiva são chamadas sindéticas.

As conjunções que unem orações coordenadas são chamadas coordenativas.

Há cinco tipos de relação de sentido que podem ser estabelecidos pelas conjunções coordenativas. Vamos estudar cada um deles.

Oração coordenada sindética aditiva

Volte a este exemplo:

reticências protegem-se do calor com uma densa pelagem e têm gordura nas corcovas reticências.

MASSAO, Lucas. Sem medo de espinhos: como o camelo consegue comer cactos. Superinteressante, São Paulo, Abril, edição. 388, página. 32, maio 2018.

  1. Esse trecho traz duas características dos camelos. Que palavra liga as duas orações que revelam essas características?
  2. Que sentido essa palavra estabelece entre as orações?

Você observou que, unindo as orações, encontramos uma conjunção coordenativa: e. Ligadas por essa conjunção, as duas orações revelam uma relação de sentido de adição, acréscimo.

As orações coordenadas sindéticas que expressam uma ideia de acréscimo ou adição são chamadas aditivas.

As conjunções coordenativas aditivas mais comuns são: e e nem. Algumas locuções conjuntivas aditivas são: bem como, não só... mas também.

Oração coordenada sindética adversativa

Releia esta rubrica do trecho do Auto da Compadecida:

reticências No mesmo instante, Chicó tenta fugir, mas João agarra-o pelo pescoço.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página. 30.

  1. Chicó é impedido de fugir por João. Que palavra liga as orações que revelam esse fato?
  2. Que ideia essa palavra atribui às orações?

O conteúdo da segunda oração se opõe à ação de Chicó ao tentar fugir. Essa oposição vem indicada pela conjunção mas.

As orações coordenadas sindéticas que expressam uma ideia de oposição ou contraste são chamadas adversativas.

As conjunções coordenativas adversativas mais usadas são: mas, porém, todavia, contudo, entretanto. Algumas locuções conjuntivas adversativas são: no entanto, apesar disso, ainda assim.

Faça as atividades no caderno.

Oração coordenada sindética alternativa

Leia esta manchete publicada no jornal Diário de Pernambuco.

Portaria permite a servidor escolher trabalhar ou não em dia de jogo do Brasil

PORTARIA permite a servidor escolher trabalhar ou não em dia de jogo do Brasil. Diário de Pernambuco, Recife, 22 junho. 2018. C1, página 1.

  1. Essa manchete abordou a flexibilização do horário de trabalho de servidores públicos em dias de jogos do Brasil durante a Copa de 2018. Segundo a manchete, o que aconteceu nos dias dos jogos do Brasil em relação ao horário de trabalho?
  2. Que ideia a palavra ou constrói nessa manchete?

A manchete anterior traz uma ideia de escolha, alternância: ou o servidor escolheria trabalhar, ou escolheria não trabalhar. As duas orações são coordenadas e estão ligadas pela conjunção ou, revelando uma relação de alternância ou escolha.

As orações coordenadas sindéticas que expressam uma ideia de alternância de fatos, opção, escolha, são chamadas alternativas.

A conjunção ou é a mais comum para revelar esse tipo de relação de sentido, embora os pares quer... quer, ... , ora... ora, e mesmo ou... ou possam marcar a mesma relação.

Oração coordenada sindética conclusiva

Leia a tirinha a seguir e responda às questões.

Tirinha. Em três cenas. Personagens: um menino com cabelos crespos, usando blusa branca e short verde. Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando blusa laranja e short azul. Eles estão de perfil. Cena 1. Voltado para a esquerda, de costas para Armandinho, o menino diz: ÀS VEZES OS PRECONCEITOS E O ÓDIO... Armandinho também está voltado para a esquerda, olhando para as costas do menino. Entre eles, um sapo. Cena 2. Ainda de costas para Armandinho, o menino diz: ...APARECEM DISFARÇADOS DE 'HUMOR'! Armandinho continua olhando para as costas do menino. Entre eles, o sapo. Cena 3. Voltado para a direita e olhando para Armandinho, o menino diz: ENTÃO, NÃO É 'SÓ UMA PIADA'!  Armandinho está olhando para ele, sem expressão. Entre eles, o sapo, que agora sorri.

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016. página 51.

Faça as atividades no caderno.

  1. Que ideia é introduzida pela fala da personagem no último quadrinho? Em pequenos grupos, converse com os colegas sobre o posicionamento da personagem a respeito dessa ideia.
  2. Que palavra relaciona as falas da personagem?

O terceiro quadrinho expressa uma conclusão ou consequência da fala anterior. Essa conclusão é indicada pela conjunção então.

As orações coordenadas sindéticas que expressam uma ideia de conclusão ou consequência lógica são chamadas conclusivas.

As conjunções coordenativas que unem orações pela ideia de conclusão são: logo, portanto e pois (quando posposta ao verbo). Também são usadas as conjunções e locuções conjuntivas: assim, então, por isso, por conseguinte, de modo que, de fórma que, em vista disso.

Oração coordenada sindética explicativa

Leia a tirinha.

Tirinha. Em três cenas. Cena 1: Uma personagem com um pano amarrado na cabeça, com a boca voltada para baixo e olhando para frente, diz: O pior tipo de esperança é a pequena. Cena 2. A personagem, ainda olhando para frente, diz: Porque a esperança pequena... Cena 3. Olhando para cima e com a boca voltada para baixo, ela diz: É mais fácil de perder.

DAHMER, André. Malvados. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 maio 2018. Ilustrada,página C4.

  1. Qual é a preocupação da personagem da tirinha?
  2. Que ideia a segunda fala da tirinha revela em relação à primeira fala, no quadrinho anterior?
  3. Que palavra relaciona a primeira e a segunda falas da personagem?

A segunda fala da personagem explica o motivo pelo qual ela considera a esperança pequena a de pior tipo, o que expressou na primeira fala. Essa explicação vem indicada pela conjunção porque.

As orações coordenadas sindéticas que expressam ideia de explicação em relação ao que foi afirmado em oração anterior são chamadas explicativas.

As conjunções coordenativas explicativas mais comuns são: porque, que, pois (quando precede o verbo).

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Identifique os verbos e as locuções verbais nestes trechos do Auto da Compadecida e registre, no caderno, se as orações são sindéticas ou assindéticas.

Versão adaptada acessível

1. Identifique os verbos e as locuções verbais nestes trechos do Auto da Compadecida e registre se as orações são sindéticas ou assindéticas.

a.

Não diga uma palavra, deixe tudo por minha conta.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 28.

b.

Benze tudo e chama a gente de cachorro.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 29.

c.

No mesmo instante, Chicó tenta fugir, mas João agarra-o pelo pescoço.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 30.

  1. Analise os contextos em que esses trechos estão inseridos e, em seguida, explique o significado de cada um.
  2. As conjunções coordenativas desempenham um papel importante ao estabeler relações de sentido entre as orações. Identifique que conjunção seria mais adequada para cada conjunto de orações:

e   mas   porque

  1. Isso foi * era com seu patrão.
  2. Vossa Senhoria me desculpe, * eu penso que não.
  3. Começou pelo rabo * espalhou-se pelo resto do corpo.
  1. Leia as orações a seguir e responda qual é a relação de sentido estabelecida entre elas.

É mesmo, é bondade minha, porque você não passa de um amarelo safado!

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 63.

b.

Permita então que eu lhe dê meus parabéns, João, porque você acaba de se meter numa danada.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página 28.

5. Leia a tirinha de Dústin.

Tirinha. Em três cenas. Personagens: um homem com cabelos castanhos, usando blusa preta e short marrom. Um menino com cabelos loiros, usando óculos, blusa vermelha e short. Cena 1. À esquerda, o homem está em pé, de frente para o menino, e diz: CARA, VOCÊ PASSOU METADE DA MANHÃ SENTADO AÍ. À direita, o menino está sentado no degrau de uma escada na frente da porta de uma casa. Ele está com as duas mãos sustentando o queixo, com a boca voltada para baixo, e diz: EU SEI... CHEGUEI NUMA IDADE EM QUE FICO PARALISADO PELOS SINAIS CONFLITANTES. Cena 2. O menino, ainda com as mãos no queixo e olhando para cima, continua: AQUELA ÉPOCA DA VIDA EM QUE FICAMOS COM UM PÉ EM CADA UM DOS MUNDOS. O homem está sentado ao lado do menino, olhando para ele, e diz: ISSO DEVE SER FRUSTANTE. Cena 3. O menino está olhando para o homem e com os braços abertos, levemente voltados para baixo, e as mãos espalmadas. Ele diz: EXATAMENTE, OU SOU MUITO JOVEM PARA PODER FAZER UMA COISA, OU VELHO O SUFICIENTE PARA SABER QUE DETERMINADA COISA NÃO VAI DAR CERTO. O homem continua olhando para o menino.

KELLEY, Steve; PARKER, Jeff. Dustin. O Globo, Rio de Janeiro, 14 março. 2017. Segundo Caderno, página 4.

  1. No último quadrinho, ele diz a razão pela qual está vivendo um conflito. Que tipo de relação se estabelece entre as orações da fala do último quadrinho?
  2. Você já viveu esses momentos de conflito, de não poder fazer o que quer e não querer fazer o que pode? Escreva um texto contando um pouco sobre isso. Ao final, analise se fez uso de conjunções e, em caso positivo, de que tipo.

Leitura 2

Faça as atividades no caderno.

Contexto

Você vai ler um fragmento de outro auto ambientado no Sertão nordestino. Trata-se de Morte e vida severina, cujo subtítulo é Auto de Natal pernambucano. Escrita por João Cabral de Melo Neto, a obra foi publicada em 1955, o mesmo ano da conclusão do Auto da Compadecida. Contudo, enquanto no auto de Ariano Suassuna a crítica social está associada ao riso, em Morte e vida severina ela aparece em tom sério.

A obra é protagonizada por Severino, lavrador humilde que se vê forçado a deixar o Sertão pernambucano em busca de melhores condições de vida na capital, Recife. Por onde passa, porém, ele depara com várias faces da morte, consequência da miséria e do descaso locais. No entanto, por meio de um nascimento, a obra celebra a capacidade humana de resistir.

João Cabral de Melo Neto

AUTORIA

Nascido no Recife e falecido no Rio de Janeiro, João Cabral de Melo Neto (1920­‑1999) é um dos principais poetas brasileiros de todos os tempos. Ficou conhecido como “poeta engenheiro”, graças ao gosto pela rigidez formal e à recusa ao sentimentalismo na poesia. É autor de diversas obras, sendo Morte e vida severina uma das mais conhecidas.

Capa de livro. Na parte superior, o nome do autor: João Cabral de Melo Neto. Na parte inferior, o título do livro: Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Centralizado, um homem em preto e branco usando batina, segurando com as mãos uma criança no colo. À direita, um cacto laranja. No fundo, cor azul.
Capa do livro Morte e vida severina.

Antes de ler

O fragmento está dividido em duas partes: na primeira, Severino se apresenta e, na segunda, ainda no início de sua viagem, ele encontra uma mulher à janela, a quem pergunta se há trabalho disponível.

  • Será que Severino encontrará trabalho?
  • Que ofício possibilita a essa mulher sobreviver em meio à miséria do Sertão?

Morte e vida severina

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É

E A QUE VAI

– O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

5 deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

10 do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

15 e que foi o mais antigo

senhor desta sesmariaglossário .

Como então dizer quem fala

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

20 da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

25 com nome de Severino

filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

30 magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

35 no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas,

e iguais também porque o sangue

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

40 iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

45 de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

50 e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

iguais em tudo e na sina:

a de abrandar estas pedras

suando-se muito em cima,

55 a de tentar despertar

terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar

algum roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam

60 melhor Vossas Senhorias

e melhor possam seguir

a história de minha vida,

passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

[reticências]

DIRIGE-SE À MULHER NA JANELA, QUE DEPOIS DESCOBRE TRATAR-SE DE QUEM SE SABERÁ

– Muito bom dia, senhora,

que nessa janela está;

sabe dizer se é possível

algum trabalho encontrar?

5 – Trabalho aqui nunca falta

a quem sabe trabalhar;

o que fazia o compadre

na sua terra de lá?

– Pois fui sempre lavrador,

10 lavrador de terra má;

não há espécie de terra

que eu não possa cultivar.

– Isso aqui de nada adianta,

pouco existe o que lavrar;

15 mas diga-me, retirante,

que mais fazia por lá?

– Também lá na minha terra

de terra mesmo pouco há;

mas até a calva da pedra

20 sinto-me capaz de arar.

– Também de pouco adianta,

nem pedra há aqui que amassar;

diga-me ainda, compadre,

que mais fazia por lá?

25 – Conheço todas as roças

que nesta chãglossário podem dar:

o algodão, a mamona,

a pitaglossário , o milho, o caroáglossário .

– Esses roçados o banco

30 já não quer financiar;

mas diga-me, retirante,

o que mais fazia lá?

– Melhor do que eu ninguém

sabe combater, quiçá,

35 tanta planta de rapina glossário

que tenho visto por cá.

– Essas plantas de rapina

são tudo o que a terra dá;

diga-me ainda, compadre,

40 que mais fazia por lá?

– Tirei mandioca de chãs

que o vento vive a esfolar

e de outras escalavradasglossário

pela seca faca solar.

45 – Isto aqui não é Vitória,

nem é Glória do Goitá;

e além da terra, me diga,

que mais sabe trabalhar?

– Sei também tratar de gado,

50 entre urtigasglossário pastorear:

gado de comer do chão

ou de comer ramas no ar.

– Aqui não é Surubim,

nem Limoeiro, oxaláglossário !

55 mas diga-me, retirante,

que mais fazia por lá?

– Em qualquer das cinco tachas

de um banguê sei cozinhar;

sei cuidar de uma moenda,

60 de uma casa de purgar.

– Com a vinda das usinas

há poucos engenhos já;

nada mais o retirante

aprendeu a fazer lá?

65 – Ali ninguém aprendeu

outro ofício, ou aprenderá:

mas o sol, de sol a sol,

bem se aprende a suportar.

– Mas isso então será tudo

70 em que sabe trabalhar?

vamos, diga, retirante,

outras coisas saberá.

– Deseja mesmo saber

o que eu fazia por lá?

75 comer quando havia o quê

e, havendo ou não, trabalhar.

– Essa vida por aqui

é coisa familiar;

mas diga-me, retirante,

80 sabe benditosglossário rezar?

sabe cantar excelênciasglossário ,

defuntos encomendar?

sabe tirar ladainhasglossário ,

sabe mortos enterrar?

85 – Já velei muitos defuntos,

na serra é coisa vulgar

Ilustração. Um homem usando chapéu marrom em forma de arco, casaco e calça em tons de amarelo e sandálias marrons. Ele está de costas, olhando para uma mulher. Ela tem cabelos pretos presos atrás da cabeça, rugas e usa blusa bege. A mulher está apoiada na janela aberta, com a mão direita sustentando o queixo, as sobrancelhas arqueadas e a boca voltada para baixo, olhando para o homem.

mas nunca aprendi as rezas,

sei somente acompanhar.

– Pois se o compadre soubesse

90 rezar ou mesmo cantar,

trabalhávamos a meias,

que a freguesia bem dá.

– Agora se me permite

minha vez de perguntar:

95 como a senhora, comadre,

pode manter o seu lar?

– Vou explicar rapidamente,

logo compreenderá:

como aqui a morte é tanta,

100 vivo de a morte ajudar.

– E ainda se me permite

que lhe volte a perguntar:

é aqui uma profissão

trabalho tão singular?

105 – É, sim, uma profissão,

e a melhor de quantas há:

sou de toda a região

rezadora titular.

– E ainda se me permite

110 mais outra vez indagar:

é boa essa profissão

em que a comadre ora está?

– De um raio de muitas léguas

vem gente aqui me chamar;

115 a verdade é que não pude

queixar-me ainda de azar.

– E se pela última vez

me permite perguntar:

não existe outro trabalho

120 para mim neste lugar?

– Como aqui a morte é tanta,

só é possível trabalhar

nessas profissões que fazem

da morte ofício ou bazar.

125 Imagine que outra gente

de profissão similar,

farmacêuticos, coveiros,

doutor de anel no anular,

remando contra a corrente

130 da gente que baixa ao mar,

retirantes às avessas,

sobem do mar para cá.

Só os roçados da morte

compensam aqui cultivar,

135 e cultivá-los é fácil:

simples questão de plantar;

não se precisa de limpa,

de adubar nem de regar;

as estiagens e as pragas

140 fazem-nos mais prosperar;

e dão lucro imediato;

nem é preciso esperar

pela colheita: recebe-se

na hora mesma de semear.

[reticências]

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.página. 29-30; 37-40.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Com o auxílio do professor, organizem-se em duplas para realizar a leitura dramatizada do texto. Explorem as possibilidades de entonação e a expressividade nas passagens mais marcantes. Troquem as personagens após a primeira leitura e discutam sobre as diferenças nas entonações que utilizaram.
  2. Antes da leitura, você levantou hipóteses sobre o encontro entre Severino e a mulher à janela. Retome o que você havia pensado e responda oralmente às questões.
    1. Severino encontra trabalho? Por quê?
    2. Que ofício possibilita à mulher sobreviver em um ambiente tão difícil?
    3. Suas hipóteses se confirmaram? Explique.
  3. Leia a seguir um comentário de João Cabral de Melo Neto a respeito de Morte e vida severina.

“O auto de natal Morte e Vida Severina possui estrutura dramática: é uma peça de teatro. Por isso fico um pouco aborrecido quando ouço ou leio ‘adaptação do poema de João Cabral’. Isso é bobagem, pois Morte e Vida Severina já é uma peça: não precisa de adaptação.”

NADAI, José Fulaneti de (Organização.). João Cabral de Melo Neto. São Paulo: Abril Educação, 1982. página. 45.

(Coleção Literatura Comentada).

  1. Que elementos possibilitam classificar Morte e vida severina como pertencente ao gênero dramático?
  2. João Cabral se diz aborrecido quando ignoram a estrutura dramática da obra e referem-se a ela como um poema. Com base no que você aprendeu nesta Unidade, que outro autor da tradição em língua portuguesa escrevia suas peças em versos? Que tipo de peça ele escreveu? Ele usava o mesmo tipo de verso usado por João Cabral?

4. A primeira parte do fragmento apresenta 64 versos, e a segunda, 144. Para esta questão, os versos de cada parte foram enumerados de cinco em cinco. Em seu caderno, associe corretamente os trechos indicados a seguir e seus respectivos assuntos principais.

Versão adaptada acessível

4. A primeira parte do fragmento apresenta 64 versos, e a segunda, 144. Para esta questão, os versos de cada parte foram enumerados de cinco em cinco. Associe corretamente os trechos indicados a seguir e seus respectivos assuntos principais.

um 1 a 30 (1ª parte)

dois 31 a 50 (1ª parte)

três 51 a 58 (1ª parte)

quatro 59 a 64 (1ª parte)

cinco. 1 a 14 (2ª parte)

seis. 15 a 68 (2ª parte)

sete. 69 a 78 (2ª parte)

oito. 79 a 92 (2ª parte)

nove. 93 a 116 (2ª parte)

dez. 117 a 144 (2ª parte)

a. Severino melhor se define como emigrante

b. ofício dos Severinos

c. Severino tenta explicar quem é

d. rotina de Severino em sua terra natal

e. ofício da mulher

f. descrição da vida e da morte dos Severinos

g. a mulher enumera outros ofícios que têm serventia no lugar

h. Severino se diz lavrador, mas este ofício não tem serventia no lugar

i. Severino enumera vários ofícios, mas ne-nhum tem serventia no lugar

j. Severino diz não saber rezar em velórios

  1. Ao longo do texto, a palavra retirante é usada várias vezes para se referir a “Severino”.
    1. Consulte em um dicionário o verbete retirante e transcreva em seu caderno o sentido mais condizente com as características de Severino.
Ilustração. Quatro pessoas e um cachorro andando em fila, para a direita, em uma estrada de terra. Eles estão de perfil. Da esquerda para a direita: um cachorro marrom; um homem usando chapéu, camisa e calça e segurando uma maleta debaixo do braço direito; uma mulher com lenço amarrado na cabeça, usando vestido e segurando com a mão esquerda uma trouxa sobre a cabeça; uma menina com cabelos presos em rabo-de-cavalo, usando vestido e uma mochila nas costas; um menino usando camisa e short, segurando um graveto com as mãos.

Faça as atividades no caderno.

  1. Em uma das falas da mulher, ela usa a expressão retirantes às avessas. A quem ela se refere?
  2. Por que essas pessoas são consideradas retirantes às avessas?
  3. Qual é a vantagem de serem retirantes às avessas?
  1. Ao longo da primeira parte, o protagonista esforça-se para dizer às “Vossas Senhorias” quem ele é.
    1. O nome de batismo do protagonista é Severino. No início do texto, há uma expressão que sugere a ideia de batismo. Qual? Por quê?
    2. Severino tem sobrenome? Para que servem os sobrenomes?
    3. Por que, embora Severino enumere tantos nomes junto ao seu, ele nunca parece satisfeito ao definir a si mesmo?
    4. Severino conclui que a melhor fórma de conhecê-lo é por meio de sua condição de vida, e não de seu nome. Qual é essa condição? Que verbo evidencia essa condição do protagonista? Por quê?
    5. Considerando o gênero textual de Morte e vida severina, a quem Severino se dirige por meio do pronome “Vossas Senhorias”?
    6. Tendo em vista a condição de vida da personagem e a função desse pronome de tratamento, comente a relação entre Severino e seus interlocutores.
  2. Releia o trecho a seguir.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas,

e iguais também porque o sangue

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Ilustração. Uma mulher com cabelos pretos presos atrás da cabeça, rugas, usando blusa bege. Ela está apoiada na janela aberta, com a mão direita sustentando o queixo, as sobrancelhas arqueadas e a boca voltada para baixo.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.página 29-30.

Faça as atividades no caderno.

  1. Os Severinos da região têm apenas o nome em comum? Explique.
  2. No antepenúltimo verso do trecho, há a palavra severina, que é um neologismo, isto é, o emprego de palavras novas, derivadas de outras já existentes. Nesse caso, o autor usa um nome próprio com função de adjetivo. Essa palavra está diretamente relacionada a outra palavra. Qual?
  3. Considerando o trecho, qual é a classe gramatical da palavra severina? Por quê?
  4. Considerando as respostas para os itens anteriores, explique o sentido de severina.
  5. Agora explique o título da obra.
  1. Nesta Unidade, você aprendeu que personagens-tipo ou tipos sociais são comuns em autos medievais.
    1. Severino é uma personagem-tipo? Por quê?
    2. A mulher com quem ele conversa é uma personagem-tipo? Por quê?
  2. Em Auto da Compadecida, a personagem Major Antônio Moraes representa a aristocracia rural sertaneja. Em Morte e vida severina, essa classe social também é representada por uma personagem, embora ela seja citada rapidamente no excerto que você leu.
    1. Quem é essa personagem?
    2. No texto, o que sugere a influência dessa personagem na região em que vivia?
  3. Releia o trecho a seguir.

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino

filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

magra e ossuda em que eu vivia.

Ilustração. À esquerda, um urubu em cima de um cacto. Ao lado, ossada de uma cabeça de boi no chão de terra seca. Ao fundo, céu azul e um sol grande.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 29.

Transcreva no caderno a alternativa que indica corretamente a figura de linguagem usada nos versos “vivendo na mesma serra / magra e ossuda em que eu vivia.” e, em seguida, justifique sua resposta.

Versão adaptada acessível

Transcreva a alternativa que indica corretamente a figura de linguagem usada nos versos “vivendo na mesma serra / magra e ossuda em que eu vivia.” e, em seguida, justifique sua resposta.

  1. Ironia.
  2. Hipérbole.
  3. Eufemismo.
  4. Personificação.

Saiba +

Morte e vida severina e a música

Em 11 de setembro de 1965, estreou no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca) uma versão musicada de Morte e vida severina. O elenco era formado por estudantes universitários, e a direção ficou a cargo de Silnei Siqueira e Roberto Freire. O texto foi musicado pelo então estudante de arquitetura Chico Buarque. João Cabral de Melo Neto não era fã de música, mas se encantou ao ver o resultado em uma apresentação do grupo teatral na França.

Fotografia em preto e branco. Um grupo de pessoas em cena teatral. Elas estão de pé, voltadas para a esquerda. Usam roupas claras e estão descalças. Um homem está atrás de todo o grupo e segura um instrumento musical de corda.
Encenação de Morte e vida severina, em fevereiro de 1966, em São Paulo (São Paulo).

Faça as atividades no caderno.

11. Observe a reprodução da obra Os retirantes, de Candido Portinari (1903-1962).

Pintura. Quadro em tons terrosos, que denotam uma atmosfera triste e sombria. Representação de uma família em situação de pobreza fugindo da seca. Todas as pessoas apresentam corpos muito magros, aparência fantasmagórica e feição assustada. Elas usam roupas esfarrapadas e estão descalças. À esquerda um homem idoso com barba e cabelos brancos, segurando um bastão com a mão direita. Na frente dele, uma mulher segurando no colo uma criança com estrutura raquítica. Ao lado, no centro da imagem, uma mulher segurando com o braço direito uma criança de colo e com o braço esquerdo, uma trouxa na cabeça. Ao lado dela, uma criança e um homem usando chapéu. O homem está segurando, com a mão direita, a mão do menino, e com a mão esquerda, um bastão com uma trouxa. À direita, duas crianças maiores estão encostadas no homem. Uma delas tem uma barriga grande e redonda. Estão em um cenário de terra seca, sem nenhuma vegetação. No céu dezenas de urubus.
PORTINARI, Candido. Os retirantes. 1944. Óleo sobre tela, 190 por 180 centímetros. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (maspi), São Paulo (São Paulo).
  1. O que sugerem a disposição das personagens e a faixa etária delas?
  2. Você pesquisou anteriormente a definição da palavra retirante. Que elementos da obra de Portinari sugerem a representação de retirantes? Explique.
  3. Há pouco você releu a descrição física dos Severinos em Morte e vida severina. Essa descrição se assemelha às personagens da obra de Portinari? Explique.
  4. Preste atenção ao ambiente da obra Os retirantes. Ele se assemelha ao cenário de Morte e vida severina?
  5. Por onde passa, Severino encontra a morte. Na tela, há elementos que sugerem essa ideia? Explique.

12. Disposto a trabalhar, Severino cita diversos ofícios que pode exercer. Transcreva em seu caderno a alternativa que reúne apenas ofícios que Severino se sente capaz de exercer.

Versão adaptada acessível

12. Disposto a trabalhar, Severino cita diversos ofícios que pode exercer. Transcreva a alternativa que reúne apenas ofícios que Severino se sente capaz de exercer.

  1. Lavrador, pastor de gado, coveiro.
  2. Lavrador, artesão, pastor de cabras.
  3. Lavrador, dono de engenho, rezador titular.
  4. Lavrador, pastor de gado, trabalhador de engenho.

13. Releia o trecho a seguir.

mas diga-me, retirante,

que mais fazia por lá?

– Em qualquer das cinco tachas

de um banguê sei cozinhar;

sei cuidar de uma moenda,

de uma casa de purgar.

– Com a vinda das usinas

há poucos engenhos já;

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página36.

  1. Durante séculos, o engenho de cana-de-açúcar foi muito importante para a economia nordestina. No contexto em que se passa a história de Severino, o engenho ainda era importante? Explique.
  2. O trecho cita quatro elementos presentes nos antigos engenhos de cana. Quais são esses elementos?
  3. Faça uma pesquisa e explique a função de cada um desses elementos.

Faça as atividades no caderno.

14. Para esta questão, considere um trecho de Morte e vida severina.

– Tirei mandioca de chãs

que o vento vive a esfolar

e de outras escalavradas

pela seca faca solar.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 38.

  1. A palavra escalavradas é o particípio passado do verbo escalavrar, que significa arranhar, escoriar. No trecho, qual é o sujeito dessa ação e sobre quem ela recai, ou seja, o que escalavra o quê?
  2. Com base na resposta anterior, explique a metáfora faca solar.

15. O trecho a seguir trata sobre as dificuldades encontradas pela população brasileira no contexto da pandemia do vírus sárs cóv dois, causador da côvid dezenóve.

Somos muitos Severinos, iguais em (quase) tudo e na sina

reticências Severino parece renascer qual Fênix, agora em todas as regiões do país, compartilhando, porém, da mesma velha sina: sobreviver às inúmeras adversidades impostas. A tragédia comum dos nascidos no sertão nordestino, como a fome, a seca, a pobreza e a morte, fez João Cabral de Melo Neto construir o personagem Severino, o qual na verdade não passa de um representante da massa deslocada de retirantes, que faziam legião no interior do Nordeste na luta pela vida. reticências No século vinte e um, ainda são muitos os retirantes olvidados, que peregrinam guiados apenas pela esperança de conquistar uma vida um pouco melhor, dia após dia. reticências Se a morte atinge a todos, a fome chega aos lares de muitos e o desemprego devasta a vida de vários, somos todos um pouco Severinos. Estamos em plena “severinização”.

MINASSA, Pedro Sampaio. Somos muitos Severinos, iguais em (quase) tudo e na sina. A Gazeta, 14 junho. 2021. Disponível em: https://oeds.link/pnZsPY. Acesso em: 15 fevereiro. 2022.

  1. Pesquise o significado da palavra Fênix. Em seguida, explique o sentido que a palavra assume no texto, considerando o contexto do trecho lido.
  2. Que semelhanças o autor do texto enxerga entre a personagem criada por João Cabral de Melo Neto e os retirantes atuais?
  3. A palavra severinização é um neologismo. Que sentido ela assume no texto?

Oralidade

Leitura dramática

Antes de iniciar os ensaios de uma peça é comum que ocorra uma leitura dramática, como uma primeira entrada conjunta no universo das personagens que eles vão assumir e no contexto da peça como um todo. Antes, cada um leu individualmente a peça e se preparou.

Com o auxílio do professor, você e os colegas vão se reunir em pequenos grupos para passarem juntos por essa experiência.

Etapa 1: Seleção de trecho de peça dramática e distribuição das personagens

Para a leitura, você e seus colegas de grupo vão escolher uma destas alternativas.

Seleção de outro trecho da peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

Seleção de trecho de outro auto, de Ariano Suassuna ou de outro autor.

Seleção de trecho de um roteiro de outra peça teatral que tenha o Sertão nordestino como contexto.

Procurem um resumo da peça para tomar contato com ela como um todo. Considerem na escolha as características do grupo, como o número de personagens. Reproduzam o trecho selecionado em folhas de papel, se possível, digitado e com espaços laterais para que cada um possa fazer suas marcações. Cada integrante ficará com uma cópia. Distribuam as personagens entre vocês.

Etapa 2: Leitura e ensaio individuais

Estude o texto. Faça para você mesmo perguntas do tipo: “Como é a personagem que vou assumir?”, “Que recursos de expressividade são adequados para ela?” etcétera.

Explorem as marcações dos textos e procurem pensar sobre os aspectos que elas podem indicar sobre a construção da personagem, possibilitando que sejam explorados sotaques, timbres de voz, entonações, a expressividade e a função das pausas, quando elas aparecem.

Etapa 3: Leitura dramática

No dia agendado pelo professor, você e seus colegas vão ler juntos pela primeira vez o trecho dramático que escolheram. Será o momento de ver como ficará a articulação da caracterização de cada personagem por vocês na leitura conjunta. Se possível, façam uma gravação dessa leitura para poderem assistir a ela mais de uma vez.

Etapa 4: Avaliação

Reúna-se com a turma e o professor para avaliar as leituras. Comentem a atuação de cada um, considerando a expressividade de acordo com a personagem, levando em consideração o enredo, a entonação e os sotaques utilizados etcétera.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 2

Faça as atividades no caderno.

Coesão textual (1)

1. Leia a tirinha e responda às questões.

Tirinha. Um caracol em três cenas. Cena 1. Sorrindo, o caracol diz: TENHO UM SUPER PODER... Cena 2. Ainda sorrindo, o caracol diz: ...QUE CONSISTE EM PLANEJAR TODA A VIDA, FILOSOFAR SOBRE O UNIVERSO E CRIAR INVENÇÕES INCRÍVEIS. Cena 3. O caracol, debaixo de uma flor derramando água na cabeça dele,  diz: ...DURANTE UM ÚNICO BANHO QUENTE!

GOMES, Clara. Bichinhos de jardim. O Globo, Rio de Janeiro, 27 agosto. 2016. Segundo Caderno, página 4.

a. O Caracol afirma ter um superpoder. Qual é a vantagem de ter esse superpoder?

b. Na tirinha, a fala do Caracol foi elaborada em um longo período:

– Tenho um superpoder... que consiste em planejar toda a vida, filosofar sobre o Universo e criar invenções incríveis... durante um único banho quente!

GOMES, Clara. Bichinhos de jardim. O Globo, Rio de Janeiro, 27 agosto. 2016. Segundo Caderno, página 4.

 De que outro modo a mesma fala poderia ter sido escrita?

c. Qual é a palavra que, além de ligar as orações, faz referência ao superpoder?

Pronomes relativos

Os pronomes relativos, como o que da tirinha que você acabou de ler, fazem referência a algum elemento anteriormente mencionado no texto, considerado seu antecedente. No caso da tirinha, o que se refere e substitui o substantivo superpoder, seu antecedente.

O pronome relativo retoma e estabelece uma relação com uma palavra que vem antes dele, contribuindo para a coesão textual.

Há pronomes relativos que concordam em gênero e número com seus antecedentes: o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.

Há aqueles, porém, com fórma fixa: que, quem, onde, quando, como.

Faça as atividades no caderno.

Figuras de linguagem (1)

Você se lembra de já ter brincado de trava-línguas? Vamos recordar alguns?

Três pratos de trigo para três tigres tristes.

Domínio público.

Ilustração. Três pratos com trigo. Ilustração. Uma jarra de vidro; dentro, uma pequena aranha. Ilustração. Representação da personagem Hera, uma mulher com cabelos loiros e presos no alto da cabeça, usando vestido. Ela está de perfil, com os olhos fechados e as mãos cruzadas na frente do corpo, dentro de um círculo com borda decorada. Ilustração. Três carretéis com fios coloridos dispostos um ao lado do outro. Um deles tem um fio solto e esticado.

A jarra e a aranha

Em cima da mesa, tem uma jarra.

Dentro da jarra, tem uma aranha.

Tanto a aranha arranha a jarra

quanto a jarra arranha a aranha.

Domínio público.

Ilustração. Três pratos com trigo. Ilustração. Uma jarra de vidro; dentro, uma pequena aranha. Ilustração. Representação da personagem Hera, uma mulher com cabelos loiros e presos no alto da cabeça, usando vestido. Ela está de perfil, com os olhos fechados e as mãos cruzadas na frente do corpo, dentro de um círculo com borda decorada. Ilustração. Três carretéis com fios coloridos dispostos um ao lado do outro. Um deles tem um fio solto e esticado.

Quem era Hera? Hera era a mulher de Zeus.

Domínio público.

Ilustração. Três pratos com trigo. Ilustração. Uma jarra de vidro; dentro, uma pequena aranha. Ilustração. Representação da personagem Hera, uma mulher com cabelos loiros e presos no alto da cabeça, usando vestido. Ela está de perfil, com os olhos fechados e as mãos cruzadas na frente do corpo, dentro de um círculo com borda decorada. Ilustração. Três carretéis com fios coloridos dispostos um ao lado do outro. Um deles tem um fio solto e esticado.

Fia, fio a fio, fino fio, frio a frio.

Domínio público.

Ilustração. Três pratos com trigo. Ilustração. Uma jarra de vidro; dentro, uma pequena aranha. Ilustração. Representação da personagem Hera, uma mulher com cabelos loiros e presos no alto da cabeça, usando vestido. Ela está de perfil, com os olhos fechados e as mãos cruzadas na frente do corpo, dentro de um círculo com borda decorada. Ilustração. Três carretéis com fios coloridos dispostos um ao lado do outro. Um deles tem um fio solto e esticado.
  1. A repetição de sons que dificultam a fala quando lidos em voz alta caracteriza os trava-línguas. Que sons são repetidos em cada trava-língua lido?
  2. Você conhece outros trava-línguas? Conte para os colegas e peça a eles que identifiquem qual é a repetição que dificulta a fala.

Aliteração e assonância

Os trava-línguas são produzidos pela repetição de sons, ora de vogais, ora de consoantes. Essa repetição é intencional e cria um efeito rítmico bem interessante não só nos trava-línguas, como também em outros gêneros poéticos e mesmo em prosa. Trata-se de um recurso poético.

Dependendo dos tipos de som repetidos, o recurso poético da repetição é denominado de um modo diferente.

Aliteração é a rep=etição de sons de consoantes.

Assonância é a repetição de sons de vogais.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Identifique, nos trechos que seguem, os pronomes relativos e seus antecedentes.

– Conheço todas as roças

que nesta chã podem dar:

o algodão, a mamona,

a pita, o milho, o caroá.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 37.

b.

– Tirei mandioca de chãs

que o vento vive a esfolar

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 38.

2. Leia o trecho a seguir. Em seguida, substitua o pronome relativo em destaque por outro, sem alterar o valor de sentido.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta

Ilustração. À esquerda, o sol grande no céu. À direita, no chão, um camaleão em cima de uma lápide na terra seca.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 30.

3. Reúna-se com dois colegas para estudar a ocorrência de alguns pronomes relativos de fórma fixa e os que concordam em gênero e número com seus referentes listados no quadro a seguir.

quem/onde/quando

o qual/a qual/os quais/as quais

cujo/cuja/cujos/cujas

  1. Procurem em jornais, revistas ou livros exemplos desses pronomes e os registrem em duas folhas de papel.
  2. Identifiquem o referente de cada pronome relativo em cada exemplo e os liguem usando lápis ou caneta colorida.
  3. Comparem como é feita a concordância em cada conjunto e registrem, em um pequeno texto, as conclusões a que chegaram.

4. Reúna-se com um colega para procurarem, em livros de poemas, na biblioteca da escola, exemplos de aliterações e de assonâncias. Escolham um de cada tipo e copiem em uma folha de papel, destacando as repetições. Apresentem o resultado da pesquisa de vocês para a turma e o professor.

Questões da língua

Faça as atividades no caderno.

O destaque que queremos nas palavras que temos

Leia esta tirinha:

Tirinha. Em três cenas. Personagem: Chico-Bacon, um homem calvo, com bigode, usando chapéu de cozinheiro e avental brancos. Ele está atrás de balcão. Sobre o bacão, um telefone, um bloquinho de anotações e uma caneta. Atrás dele, um forno de pizza aceso. Cena 1. Chico Bacon está segurando com a mão direita um telefone ao ouvido e, com a mão esquerda, uma caneta. Alguém no telefone fala: POR FAVOR... FAZ ENTREGA? Do lado superior esquerdo do quadrinho, está escrito: CHICO BACON PIZZAIOLO. Cena 2. Ainda ao telefone, com as sobrancelhas juntas e a boca aberta, Chico Bacon diz: NÃO. Cena 3. Chico, com o dedo indicador da mão esquerda para cima e sorrindo, diz ao telefone: SÓ DELIVERY!

GALHARDO, Caco. Chico bêicom. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 junho. 2015. Ilustrada, página. C7.

  1. Como você já viu, as tirinhas causam humor pelo inesperado. O que de inesperado provoca o humor nessa tirinha?
  2. Por que o cartunista colocou em destaque as palavras entrega, não e delivery?
  3. Que tipos de destaque o cartunista usou?
  4. Por que o cartunista usou dois tipos de destaque gráfico para a palavra delivery?
Recursos gráficos para destaques

Frequentemente, usamos recursos gráficos (destaques em bold ou itálico, por exemplo) para enfatizar alguma palavra ou expressão do texto. No entanto, você sabia que existem orientações para o uso desses recursos gráficos?

O bold é usado sempre que queremos dar destaque a alguma palavra no texto.

Veja estes exemplos retirados de boxes que entraram nesta Unidade.

Arte naífi é o nome que damos à arte de pintores autodidatas reticências. (página 10)

Predicado verbal é aquele que apresenta como núcleo, sua parte essencial, um verbo.

(página 23)

A própria palavra bold, no quadro anterior, é um exemplo de destaque no texto pelo uso desse recurso.

O itálico deve ser usado em títulos de livros, peças, filmes, músicas, pinturas, esculturas, entre outros. Ele também marca nomes científicos de espécies, além de palavras e locuções de outros idiomas (estrangeirismos), como foi o caso de delivery, na tirinha de Caco Galhardo.

Faça as atividades no caderno.

A seguir, temos exemplos de destaque em um trecho do roteiro da peça A megera domada, de Uilian Xêiquispíer, traduzida e adaptada por Valcir Carrasco. Observe que o bold foi usado para destacar as entradas das falas de cada personagem, e o itálico, para marcar as rubricas.

Entram Batista, Catarina, Bianca, Grêmio e Hortênsio.

Batista – Senhores, não me importunem mais! Estou decidido! Não vou permitir o casamento de Bianca, minha caçula, antes de achar marido para a mais velha. Se um dos dois se interessar por Catarina, tem a minha permissão para namorar, noivar e casar!

Grêmio – (À parte) Ela é muito geniosa! (para Hortênsio) Quem sabe, Hortênsio, você e ela não fariam um belo par?

Catarina – (Para Batista) Está zombando de mim, pai, me oferecendo como troféu a um desses senhores?

Xêiquispíer, Uilian. A megera domada. tradução e adaptado Valcir Carrasco. segunda edição. São Paulo: Moderna, 2014. página. 38.

Pontuação (1)

Releia o seguinte trecho de Morte e vida severina:

– Muito bom dia, senhora,

que nessa janela está;

sabe dizer se é possível

algum trabalho encontrar?

– Trabalho aqui nunca falta

a quem sabe trabalhar;

o que fazia o compadre

na sua terra de lá?

Ilustração. Uma mulher com cabelos pretos presos atrás da cabeça, rugas e blusa bege. Ela está apoiada na janela aberta, com os braços cruzados, as sobrancelhas arqueadas e a boca aberta.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 37.

Observe que, nas falas das duas personagens, introduzidas pelo travessão, o segundo verso está separado do seguinte por um ponto e vírgula. Reflita e converse com um colega para responder: por que foi usada essa pontuação?

Ponto e vírgula

O ponto e vírgula representa, em termos de pontuação, um meio-termo entre a vírgula e o ponto – nem separa tão sutilmente elementos ou orações de um período, nem fecha um período por completo. Seguem alguns usos do ponto e vírgula:

separa itens em uma enumeração (comuns em leis, por exemplo);

delimita orações coordenadas muito extensas ou que já tenham vírgula ou em uma sequência de várias orações;

separa nomes de autores em referências bibliográficas.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Releia um trecho do Auto da Compadecida:

JOÃO GRILO

Cale a boca, besta! Não diga uma palavra, deixe tudo por minha conta. [Vendo Antônio Moraes no limiar, esquerda.] Ora viva, seu Major Antônio Moraes, como vai Vossa Senhoria? Veio procurar o padre? [Antônio Moraes, silencioso e terrível, encaminha-se para a igreja mas João toma-lhe a frente.] Se Vossa Senhoria quer, eu vou chamá-lo. [Antônio Moraes afasta João do caminho com a bengala, encaminhando-se de novo para a igreja. João, aflito, dá a volta, tomando-lhe a frente e fala, como último recurso.] É que eu queria avisar, pra Vossa Senhoria não ficar espantado: o padre está meio doido.

Ilustração. Retrato da representação do personagem João Grilo, um jovem de cabelos curtos castanhos, usando chapéu em formato de arco, com uma estrela no centro, segurando uma trouxa nas costas com a mão. Ele está de perfil e sorri.

SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. trigésima quinta edição. Rio de Janeiro: Agir, 2005. página28.

  • Por que o autor usou itálico nesse trecho?
  1. Reúna-se com um colega para levantarem outros exemplos de destaques gráficos em palavras e orações em jornais, revistas ou livros. Relacionem três exemplos em uma folha de papel, apresentem e justifiquem o uso de cada um para a turma e o professor.
  2. Nos itens a seguir, justifique cada um dos casos de uso do ponto e vírgula.

O jagunço é menos teatralmente heroico; é mais tenaz; é mais resistente; é mais perigoso; é mais forte; é mais duro.

CUNHA, Euclides da. Os sertões. segunda edição. São Paulo: Ateliê, 2002. página 215.

b.

GRUPO ESPARRAMA; FREIRE, Ester. 2POR4: um encontro musical com palhaços. São Paulo: Editora do Brasil, 2017. página9-14.

c.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: https://oeds.link/fGd074. Acesso em: 8 abril. 2022.

4. Elabore um pequeno texto em que sejam utilizados recursos gráficos de destaque e ponto e vírgula, de acordo com o que você estudou. Apresente o texto aos colegas e justifique, oralmente, a inserção de ambos.

Produção de texto

Cena de teatro

O que você vai produzir

Nesta Unidade, você aprendeu que dramaturgos como Gil Vicente e Ariano Suassuna se apropriaram de elementos da cultura popular para criar seus textos. Agora é sua vez de criar uma cena de peça de teatro com base em um episódio narrado na literatura de cordel. Assim como Suassuna, você vai se inspirar em uma das tantas artimanhas de João Grilo.

O fragmento a seguir foi retirado do cordel João Grilo, um presepeiro no palácio, do piauiense Pedro Monteiro. Presepeiro significa “chegado a uma confusão”, nada mais apropriado para João Grilo, não é mesmo? Deixando para trás a seca e levando consigo apenas a esperteza, João Grilo espera sair-se bem usando seus dotes de “adivinhão”. Após caminhar mil léguas, ele chega a um palácio, onde é acolhido por um rei que revela não saber quem anda lhe roubando as joias. João Grilo então se dispõe a desmascarar os ladrões. Com muita sorte, consegue descobrir dois deles, e, como recompensa, permanece com regalias no palácio.

Um dia, porém, a coroa – logo a principal joia do reino – é roubada, para desespero do rei, que jura dar um tesouro a João Grilo caso ele também desmascare esse ladrão. Qual é a estratégia de João Grilo? Um galo. Sim, que atende pelo nome de Zé Quixaba. Leia.

reticências

Botou o bicho num cesto

E pôs-se a recomendar:

– Zé Quixaba, fique atento,

Pra poder denunciar

Só quando a mão do ladrão

O seu topete tocar.


Organizou os criados

Postos à disposição,

De maneira enfileirada

Para esfregar a mão

Na crista do velho galo

(A sua grande armação).


Garantindo que o galo

Era quem denunciava.

Sentindo a mão do ladrão,

Ele logo se ouriçava,

Esticava o pescoço,

Batia asa e cantava.

reticências

Ao terminar o serviço

O João Grilo ordenou

A abertura das mãos

E ligeiro observou:

– Temos aqui dois culpados

Que o galo denunciou

Faça as atividades no caderno.

Prendam depressa estes dois!

Disse isso e foi explicar:

– Os verdadeiros ladrões,

Para tentar despistar,

Nem tocaram no galo

Com medo dele cantar...


Para que compreendessem,

Logo ele emendou dizendo:

– Eu passei tisnaglossário no galo,

Quando não estavam vendo,

E por serem os culpados

Só fingiam estar fazendo.

reticências

MONTEIRO, Pedro. João Grilo, um presepeiro no palácio. In: HAURELIO, Marco (Organização.). Antologia do cordel brasileiro. São Paulo: Global, 2012.página171-172.

Planejamento

  1. Com o auxílio do professor, a turma será organizada em pequenos grupos. A cena deve ser inspirada nas ações narradas nesse fragmento e escrita em prosa.
  2. Quem são as personagens? Pensem coletivamente sobre as características delas. Lembrem-se de criar ao menos uma personagem para cada integrante do grupo!
  3. Note que João Grilo fala direta e indiretamente, ou seja, há momentos em que sua fala aparece indicada com travessão (discurso direto) e outros em que aparece contada pelo narrador (discurso indireto). Identifique todas as falas, pois elas serão fundamentais para a construção da cena.
  4. A cena se passa no interior de um palácio. Imaginem como é esse palácio para pensarem nos elementos de construção do cenário, muito importantes para ambientar a história.
  5. Como as personagens estão vestidas? Lembrem-se de que o figurino é um elemento importante de caracterização das personagens, pois pode simbolizar posição social, profissão etc.
  6. Identifique as descrições da cena (movimentos, gestos, expressividade, reações das personagens). Se quiser, enriqueça a descrição com novos elementos.
  7. O episódio é narrado no passado, nas fórmas pretérito perfeito e imperfeito. Identifique todos os verbos no passado e, em seguida, especifique quais correspondem ao momento em que se passa o episódio e quais correspondem a momentos anteriores a ele.

Produção

1. As descrições de movimentos, expressões e cenário devem ser indicadas em rubricas. Para isso, lembrem-se de grafá-las de modo diferente dos diálogos. Você pode usar itálico, parênteses ou colchetes. Exemplo:

João Grilo organiza os criados.

Ícone retomada de tópicos

Rubrica

Rubrica ou didascália é um elemento característico do texto dramático. Ela serve para descrever: a movimentação das personagens, a interpretação dos atores (como expressar determinada fala ou movimento), elementos cênicos, como mobília, e a sonoplastia. Para se diferenciar dos diálogos, a rubrica comumente é grafada em itálico, entre parênteses ou colchetes. Exemplo: [Chicó faz uma saudação à mulher, que vem entrando, com dois pacotinhos na camisa.]

2. O texto deve ser escrito em prosa e, diferentemente do que ocorre no trecho do cordel, os verbos ficam em sua maioria no presente, pois é um texto para ser encenado, ou seja, cujas ações devem se passar diante do espectador. Só ficam no passado os verbos que fazem referência a ações anteriores à ação principal, isto é, que precedem ao episódio do galo.

3. Escrevam em discurso direto todas as falas das personagens. Como o texto é em prosa, não há necessidade de obedecer à métrica rígida dos versos, portanto criem falas espontâneas. Elas devem ser antecedidas dos nomes das personagens. Exemplo:

JOÃO GRILO

– Zé Quixaba, fique atento reticências.

Revisão

1. Reflita sobre a produção textual do seu grupo, respondendo às perguntas do quadro a seguir.

Em relação à proposta e ao sentido do texto

1. Identificamos os trechos de discurso indireto e soubemos transformá-los em discurso direto?

2. Identificamos as descrições e as transformamos corretamente em rubricas?

3. Ao transformar as falas em prosa, conseguimos deixá-las naturais, espontâneas?

Em relação à ortografia e à pontuação

1. Demarcamos corretamente as falas?

2. Diferenciamos as rubricas das falas, usando itálico, parênteses ou colchetes?

3. Usamos corretamente os sinais de pontuação para indicar a expressividade das falas?

  1. Em seguida, troquem o texto com outros grupos e permitam que eles comentem as adaptações, considerando esses mesmos critérios.
  2. Com base nos comentários, façam as alterações que julgarem adequadas.

Circulação

  1. No dia combinado com o professor, o grupo deve encenar a cena preparada.
  2. Se possível, é interessante caracterizar as personagens e o cenário. Elementos simples de figurino e cenografia possibilitam ao elenco e à plateia entrar no universo da cena.
  3. Escolha com seus colegas as funções com que mais se identificam: direção, elaboração do cenário, do figurino etcétera.
  4. Façam a gravação do espetáculo em vídeo. Depois, em roda, assistam às cenas para discutir os elementos do texto dramático.

Avaliação

  1. Quais foram as principais dificuldades ao adaptar uma narrativa em verso para texto dramático?
  2. A adaptação que você preparou com seu grupo preservou a essência do texto original?
  3. O texto encenado correspondeu ao que você imaginou? Por quê?

Glossário

rabugem
: tipo de sarna que ataca animais.
Voltar para o texto
umbral
: local de entrada.
Voltar para o texto
bendito
: canto fúnebre entoado próximo à cabeça do defunto.
Voltar para o texto
caroá
: planta nativa do Nordeste brasileiro com poucas folhas e flores vermelhas ao centro.
Voltar para o texto
chã
: extensão plana de terra.
Voltar para o texto
escalavrado
: machucado; destruído, arranhado.
Voltar para o texto
excelência
: canto fúnebre entoado próximo aos pés do defunto.
Voltar para o texto
ladainha
: prece religiosa que alterna curtas invocações e respostas dos fiéis.
Voltar para o texto
oxalá
: tomara, assim seja.
Voltar para o texto
pita
: planta de folhas pontiagudas nativa da América e cultivada em regiões semiáridas.
Voltar para o texto
planta de rapina
: erva daninha, ou seja, que prejudica o cultivo de determinadas culturas.
Voltar para o texto
sesmaria
: porção de terra que os colonizadores portugueses cediam aos colonos.
Voltar para o texto
urtiga
: planta de pequeno porte em cujas folhas há pelos que irritam a pele humana.
Voltar para o texto
tisna
: substância preparada para escurecer algo.
Voltar para o texto