UNIDADE 7  Sonetos de ontem e de hoje

Faça as atividades no caderno.

Ilustração. Guardanapo com o texto em letras maiúsculas: AINDA CABE AMOR ANTES QUE ESSE AMOR ACABE, com traços horizontais espessos e outros mais finos entre as palavras. Entre as sílabas da palavra ANTES há um símbolo em forma de coração, de traçado fino, com outros dois corações menores de traçados espessos dentro. O fundo é branco e as letras são na cor preta.
Reprodução de um dos guardanapos que compõem o projeto “Eu me chamo Antônio”, de Pedro Gabriel, que circulou em redes sociais.
  1. A ilustração e o texto foram produzidos por Pedro Gabriel e fazem parte de um projeto em que a personagem Antônio aguarda, em um café, a pessoa que ama. Podemos dizer que Pedro e Antônio são a mesma pessoa?
  2. A composição entre imagem e texto pode ser considerada um poema? Explique.
  3. Você sabe o que é um soneto? Em caso afirmativo, conhece algum? Compartilhe suas respostas com os colegas e o professor.

Saiba +

Eu me chamo Antônio

“Eu me chamo Antônio” é nome de um projeto iniciado em 2012 pelo escritor brasileiro Pedro Antônio Gabriel Anhorn (1984-). Nele, o autor dá vida à personagem Antônio, seu alter ego. Enquanto espera a chegada de sua amada nos cafés espalhados pela cidade, Antônio relata o que sente por meio de frases e ilustrações repletas de poesia em guardanapos de papel, numa narrativa quase que interminável. Em 2013, as histórias vividas por Antônio foram transformadas no livro Eu me chamo Antônio. A publicação rendeu a Pedro inúmeros seguidores nas redes sociais.

Leitura 1

Contexto

Você vai ler a seguir três poemas de formato mais fixo, com estrofes e rimas marcadas, que falam sobre amor. Os autores os escreveram em diferentes épocas: Camões, no século dezesseis, Guilherme de Almeida, em 1911, e Vinicius de Moraes, em 1938.

Luís de Camões

AUTORIA

Luís Vaz de Camões (centésima.1524-1580) é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa. Embora haja poucos documentos que comprovem seu local de nascimento, é provável que tenha vivido em Coimbra ou Lisboa, Portugal. E escreveu em uma época marcada pela retomada dos valores clássicos renascentistas, associados às menções a divindades greco-romanas, bem como a um ideal estético pautado pelos valores de bondade, beleza e verdade. Camões exilou-se na África durante um período de sua vida, voltando, posteriormente, a Portugal, de onde partiu para uma viagem rumo ao Oriente. Nesse local, escreveu o poema que lhe daria grande notoriedade: Os Lusíadas.

Antes de ler

Antes de ler os três poemas, observe-os brevemente e responda:

  • Como você imagina que esses poemas retratam a pessoa amada?
  • O que esses poemas têm em comum quanto à fórma como estão compostos?
  • Todos os poemas apresentam título? Se não, imagine os motivos que levaram a essa escolha.
  • Por que um dos poemas está associado à meditação?

Texto 1

Ilustração. À esquerda, homem em uma varanda. Ele usa chapéu e está com o braço direito estendido para cima, com uma rosa vermelha na mão. À direita, uma grande lua crescente cercada de estrelas e com algumas nuvens parcialmente iluminadas pelo luar.

Quem vê, Senhora, claro e manifesto

Quem vê, Senhora, claro e manifestoglossário

o lindo ser de vossos olhos belos,

se não perder a vista só em vê-los,

já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;

mas eu, por de vantagem merecê-los,

dei mais a vida e alma por querê-los,

donde já me não fica a mais de resto.


Assi[m] que a vida e alma e esperança

e tudo quanto tenho, tudo é vosso,

e o proveito disso eu só o levo.


Porque é tamanha bem-aventurançaglossário

O dar-vos quanto tenho e quanto posso

Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

CAMÕES, Luís de. Quem vê, Senhora, claro e manifesto. In: CAMÕES, Luís de. Sonetos de amor. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2016. página 34.

Guilherme de Almeida

AUTORIA

Guilherme de Andrade de Almeida (1890-1969) foi um poeta modernista que atuou também em outras áreas, como o jornalismo, a heráldica (criou o brasão, por exemplo, da cidade de São Paulo) e a crítica cinematográfica. Excluído do grupo de poetas que foram seus contemporâneos, fez parte de um movimento nacional de reflexão sobre o fazer poético no Brasil. Escreveu poemas de formato mais fixo, como os sonetos, e também fez experimentações no campo gráfico da poesia. Guilherme pode ser considerado um dos precursores do que anos depois viria a ser chamado de poesia concreta.

Texto 2

Coração

O coração que em mim palpitaglossário e vive

num outro peito já pulsou. Não sei

onde, quando, nem como. Ele revive

um passado que nunca atravessei.


Recorda terras onde nunca estive,

repete frases que nunca escutei,

chora saudades que jamais eu tive

canta esperanças que jamais sonhei.


E assim eu levo pelo mundo afora,

num peito moço, um coração de outroraglossário ,

um coração envelhecido e triste.


Perdidamente apaixonado, ele ama

não sei quem, que nem sei como se chama,

que nunca mesmo saberei se existe.

ALMEIDA, Guilherme de. Coração. In: ALMEIDA, Guilherme de. Sonetos. segunda edição Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. página 12.

Ilustração. Detalhe das mãos de uma pessoas segurando fotografias de um casal; um rapaz de boné vermelho e uma moça de chapéu branco. Ao fundo, aberto sobre a mesa, um álbum de fotografias.

Vinicius de Moraes

AUTORIA

Vinicius de Moraes (1913-1980) é considerado um grande representante da poesia brasileira. Começou sua carreira na literatura, na década de 1940, com a escrita de poemas formalmente mais rígidos e estruturados, como os sonetos. Neles, Vinicius retomou, quer pelo uso da fórma fixa, quer pela temática, algumas características clássicas da lírica camoniana, sendo considerado, por alguns críticos, um herdeiro poético de Camões.

Texto 3

Quatro sonetos de meditação

Ilustração. À esquerda, silhueta de um homem no meio da floresta. À direita, silhueta de uma mulher segurando um lampião para o alto. Ela também está no meio da floresta. Sobrepostos, pontos roxos e avermelhados como gotas de água. Fundo rosado e alaranjado.

dois

Uma mulher me ama. Se eu me fosse

Talvez ela sentisse o desalento

Da árvore jovem que não ouve o vento

Inconstante e fiel, tardio e doce.


Na sua tarde em flor. Uma mulher

Me ama como a chama ama o silêncio

E o seu amor vitorioso vence

O desejo da morte que me quer.


Uma mulher me ama. Quando o escuro

Do crepúsculoglossário mórbidoglossário e maduro

Me leva a face ao gênio dos espelhos


E eu, moço, busco em vão meus olhos velhos

Vindos de ver a morte em mim divina:

Uma mulher me ama e me ilumina.

MORAES, Vinicius de. Quatro sonetos de meditação. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 129-130.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Antes da leitura, você levantou algumas hipóteses sobre os poemas. Retome o que havia pensado e responda às questões.
    1. Como você imaginou que os três poetas retratariam as pessoas que amam?
    2. Que semelhança os três poemas apresentam em relação à fórma como foram compostos?
    3. Leia novamente o primeiro poema e investigue por que motivo ele não tem título.
    4. Que título você daria para o poema? Justifique sua resposta.
    5. Converse com os colegas: por que o poema de Vinicius de Moraes está associado à meditação?
Ilustração. Três homens sentados em torno de uma mesa redonda. Sobre ela, uma xícara, um livro e um caderno. Da esquerda para a direita (sentido horário): homem meio calvo vestindo terno e gravata, segurando com a mão esquerda um livro aberto e com a mão direita uma xícara próxima ao rosto, com os braços apoiados na mesa, um deles pelo cotovelo; um homem de barba e bigode, vestindo um traje com babado no pescoço. Ele está sentado, com os cotovelos sobre a mesa, segurando uma xícara com as mãos; de costas, um homem calvo, de óculos, vestindo camisa amarela e calça cinza. Ele está sentado de pernas cruzadas, escrevendo em um caderno sobre a mesa.

SAIBA +

Meditação

No poema de Vinicius de Moraes, o termo meditação pode estar associado a dois significados distintos: ao de gênero lírico “meditação” ou, então, à prática de meditação. Como gênero, meditação é um poema que apresenta uma reflexão de um eu que está em busca de um sentido, uma mudança de estado ou, então, que está se preparando para uma transformação (como a morte, por exemplo). Já a meditação, enquanto prática, está ligada às filosofias comportamentais orientais que se caracterizam pela busca de um estado de clareza mental e emocional por meio de técnicas de concentração.

2. Por que no poema de Camões é utilizado o vocativo “senhora”?

Ícone retomada de tópicos

Vocativo

É a fórma linguística que usamos para chamar algo ou alguém. No caso do soneto de Camões, o uso do vocativo “senhora” é, além de um chamamento, uma referência às cantigas trovadorescas. Nas cantigas de amor, os trovadores faziam referência à mulher amada por meio dessa expressão também como fórma de subordinar-se ao ser amado.

  1. Nesse mesmo poema, a voz poética estabelece que tipo de relação com a pessoa que ama?
  2. Em um dos boxes Autoria, você viu que Vinicius de Moraes é considerado por alguns críticos herdeiro da lírica camoniana. Quais semelhanças podemos encontrar entre o poema de Camões e o de Vinicius de Moraes?
  3. Em seu texto, Camões também faz uma reflexão sobre valores. De que modo isso ocorre?

Faça as atividades no caderno.

6. Alguns versos de Guilherme de Almeida têm uma marcação rítmica. Observe-os e leia-os em voz alta.

O coração que em mim palpita e vive

num outro peito já pulsou. Não sei

ALMEIDA, Guilherme de. Coração. In: ALMEIDA, Guilherme de. Sonetos. segunda edição Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. página 12.

  1. Que elementos ajudam a marcar esse ritmo?
  2. Levante uma hipótese sobre o motivo pelo qual o poeta teria utilizado essa marcação rítmica.
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Ritmo versus rima

Uma característica que encontramos em muitos poemas é o modo como os autores trabalham com ritmo e rima. Podemos dizer que a rima se dá por meio de repetições de sons que ajudam a memorizar as palavras e a marcar certa musicalidade no texto. Há vários tipos de rima. O ritmo pode ser marcado como a cadência, a repetição de sons determinados pelas sílabas tônicas das palavras.

  1. Um tema comum em diversos poemas amorosos é o retrato de como parecemos rejuvenescer ou envelhecer quando amamos ou deixamos de amar alguém. Como os poemas “Coração” e “Quatro sonetos de meditação” retratam essa sensação?
  2. Quando lidamos com a linguagem poética, muitas vezes estamos diante dos limites da linguagem, ou seja, os poemas nos ajudam a descrever certos sentimentos difíceis de descrever com palavras comuns e linguagem cotidiana. Como o poema de Guilherme de Almeida e o de Vinicius de Moraes representam esses sentimentos?
  3. Outra característica do gênero lírico é tornar possível, pelas palavras e pela imaginação, que o poeta ou a pessoa amada seja outra coisa ou pessoa. Como Vinicius de Moraes utiliza esse recurso?
  4. Releia a primeira estrofe do poema de Vinicius de Moraes, observando os termos destacados.
Versão adaptada acessível

10. Releia a primeira estrofe do poema de Vinicius de Moraes, observando os termos "fosse" e "sentisse".

Uma mulher me ama. Se eu me fosse

Talvez ela sentisse o desalento

Da árvore jovem que não ouve o vento

Inconstante e fiel, tardio e doce

MORAES, Vinicius de. Quatro sonetos de meditação. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 129.

Os termos destacados marcam uma hipótese do eu lírico sobre a pessoa amada. Qual é essa hipótese?

Versão adaptada acessível

Os termos "fosse" e "sentisse" marcam uma hipótese do eu lírico sobre a pessoa amada. Qual é essa hipótese?

Ilustração. Retato de uma mulher de cabelos pretos cacheados. Ela está de perfil, de olhos fechados e expressão serena. Sobrepostos a sua figura há pontos e traços iluminados que simbolizam estrelas. Eles se conectam formando constelações. Próxima ao rosto dela, uma lua crescente.

O gênero em foco

Soneto

O termo soneto vem do francês antigo, sonet, um tipo de canção. O soneto surgiu no século treze, cantado por camponeses sicilianos em versos de sílabas contadas, tendo duas possíveis origens: uma popular e outra mais clássica e erudita, por causa de influências latinas. O soneto apresenta, então, uma fórma poética fixa, ou seja, apresenta um mesmo número de estrofes, versos e sílabas poéticas.

O soneto clássico tem quatro estrofes: as duas primeiras com quatro versos, e as duas últimas com três. A rima também é marcada por uma estrutura específica – a bê a bê á bê bê á CDC DCD –, como podemos observar em outro famoso soneto de Vinicius de Moraes:

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Poema e poesia

É importante retomar a diferença entre poema e poesia. Enquanto o poema é a materialização verbal do texto poético (sua fórma), a poesia seria a parte abstrata. Podemos, assim, encontrar poesia em uma dança, em um filme, ou em alguma obra de arte que não tenha linguagem verbal, mas que possua certo lirismo, certa emotividade.

Soneto do amor total

Primeira estrofe de quatro versos

Amo-te tanto, meu amor... não cante A

O humano coração com mais verdade... B

Amo-te como amigo e como amante A

Numa sempre diversa realidade B

Segunda estrofe de quatro versos

Amo-te afim, de um calmo amor prestante, A

E te amo além, presente na saudade. B

Amo-te, enfim, com grande liberdade B

Dentro da eternidade e a cada instante. A

Terceira estrofe de três versos

Amo-te como um bicho, simplesmente, C

De um amor sem mistério e sem virtude D

Com um desejo maciço e permanente. C

Quarta estrofe de três versos

E de te amar assim muito e amiúde, D

É que um dia em teu corpo de repente C

Hei de morrer de amar mais do que pude. D

MORAES, Vinicius de. Soneto do amor total. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 299.

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Enjambement

Outro elemento que encontramos em sonetos é um fenômeno conhecido como enjambement. De origem francesa, enjambement, ou “cavalgamento”, refere-se ao modo como uma oração ou período pode começar em um verso e terminar em outro. É o que ocorre, por exemplo, nesta passagem do soneto de Vinicius de Moraes: “[reticências] não cante / O humano coração com mais verdadereticências”.

Os versos de um soneto também têm um número fixo de sílabas poéticas. Veja a escansão dos dois versos iniciais do poema de Vinicius de Moraes:

Esquema composto da escansão de dois versos de um poema.
O primeiro verso foi dividido em 9 sílabas poéticas. Cada sílaba está separada por uma barra e, abaixo de cada sílaba há um número sequencial de 1 a 9, deixando a última sílaba do verso sem número.
A (1)/ mo- (2) / te (3) / tan (4)/ to,(5) / meu a(6) / mor...(7) / não(8) / can (9) / te.
Abaixo do número 9 está escrito: última sílaba tônica.
O segundo verso foi dividido em 10 sílabas poéticas. Cada sílaba está separada por uma barra e, abaixo de cada sílaba há um número sequencial de 1 a 10, deixando a última sílaba do verso sem número.
O hu (1) /ma (2) / no (3) / co (4) / ra (5)/ ção (6)/ com (7)/ mais (8)/ ver (9)/ da (10) / de...
Abaixo do número 10 está escrito: última sílaba tônica

MORAES, Vinicius de. Soneto do amor total. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 299.

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Métrica

A métrica relaciona-se à medida do verso de um poema, que chamamos de metro. Essa medida é dada pela contagem das sílabas poéticas, chamada de escansão.

Há algumas orientações para a escansão de um verso:

  • Não são contadas as sílabas poéticas que se encontram depois da última sílaba tônica de cada verso.
  • Na escansão, as pontuações são desconsideradas.
  • São combinadas em uma só sílaba poética a vogal átona que finaliza uma palavra e a vogal átona que inicia a palavra seguinte. Por exemplo, “meu a / morreticências”.

Dependendo do número de suas sílabas poéticas, um verso recebe um nome diferente. Os mais recorrentes são:

Esquema.
pentassílabo, 5 sílabas poéticas (redondilha menor)
heptassílabo, 7 sílabas poéticas (redondilha maior)
decassílabo, 10 sílabas poéticas (heroico ou sáfico)
dodecassílabo, 12 sílabas poéticas (alexandrino)
Ícone retomada de tópicos

Escansão e sílabas poéticas

Nas redondilhas menor e maior, não há regra para a incidência das sílabas tônicas. Nos versos heroicos, as sílabas tônicas encontram-se nas posições 6 e 10 das sílabas poéticas. Nos versos sáficos, as sílabas tônicas recaem sobre as posições 4, 8 e 10. Nos versos alexandrinos, as sílabas tônicas estão nas posições 6 e 12.

Existem também os versos brancos, que têm métrica, mas não rimas. Observe o início de “A canção do exílio”, de Gonçalves Dias, um poeta do Romantismo, com métrica e rimas, e a releitura que Oswald de Andrade, um poeta do Modernismo, fez usando versos brancos:

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá

As aves, que aqui gorjeiam

Não gorjeiam como lá.

reticências

DIAS, Gonçalves. Canção do exílio. In: garbúlio, José Carlos (organizador). Gonçalves Dias: melhores poemas. São Paulo: Global, 2012. página 18.

Canto de regresso à Pátria

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

Não cantam como os de lá

reticências

ANDRADE, O. Pau Brasil: obras completas de Oswald de Andrade. segunda edição São Paulo: Globo, 2003. página 193.

Converse com os colegas: para fazer poesia é necessário seguir um formato fixo? E para um poema?

SAIBA +

Romantismo e Modernismo literários no Brasil

O Romantismo literário foi um movimento que, no Brasil, teve início em 1836, com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, e estendeu-se até quase o fim do século dezenove. Algumas de suas características foram a exaltação do nacionalismo, a idealização da sociedade e do amor, o sentimentalismo e o subjetivismo. O Modernismo, por sua vez, teve início na Semana de Arte Moderna, em 1922. Algumas de suas características foram as experimentações artísticas, a liberdade formal (abandono das fórmas fixas), a valorização do cotidiano, a ruptura com a tradição.

Capa de livro. Sobre fundo bege, o título na parte superior: SEMANA DA ARTE MODERNA, em que as letras S e a letra A final são vermelhas. Na parte inferior, em letras menores, o texto: S. PAVLO 1922. Abaixo do título, centralizada, a ilustração de uma planta de raízes, caule e galhos pretos com folhas vermelhas nas extremidades destes.
Reprodução da capa do programa da Semana de Arte Moderna de 1922, autoria de Di Cavalcanti.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 1

Faça as atividades no caderno.

Elementos de versificação

1. Releia a primeira estrofe do soneto de Camões estudado nesta Unidade e responda às questões.

Quem vê, Senhora, claro e manifesto 

o lindo ser de vossos olhos belos, 

se não perder a vista só em vê-los, 

já não paga o que deve a vosso gesto.

CAMÕES, Luís de. Quem vê, Senhora, claro e manifesto. In: CAMÕES, Luís de. Sonetos de amor. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. página 34.

Ilustração. Detalhe do rosto em meio perfil de uma mulher jovem de cabelos loiros ondulados e soltos, de brinco e vestindo um traje de gola verde.
  1. Nessa estrofe, há duas rimas diferentes. Quais são elas?
  2. Entre essas duas rimas que você listou, há uma pouco comum. O que causa esse estranhamento?

2. Agora leia um poema de Paulo Leminski:

que dia é hoje?

um dia, eu soube

hoje me foge.

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 315.

  1. O verbo fugir nesse contexto tem dois sentidos possíveis. Quais são eles?
  2. O sentido do poema é construído pela exploração do significado de qual palavra?
  3. Você considera que há rima entre hoje e foge? Justifique sua resposta.
  4. O sentimento que o eu lírico expressa nesse poema é um lamento em relação ao tempo passado ou ao tempo presente? Justifique sua resposta.

Rimas: os sons que se repetem

Uma das fórmas que utilizamos para dar ritmo aos versos em poemas e músicas é a rima, ou seja, a repetição de sons iguais ou similares em sílabas no final ou no interior dos versos.

Faça as atividades no caderno.

1. Leia o soneto “Quando a chuva cessava e um vento fino”, de Guilherme de Almeida, e responda às questões a seguir.

Quando a chuva cessava e um vento fino

Franzia a tarde úmida e lavada

Eu saía a brincar pelas calçadas

Nos meus tempos felizes de menino.


Fazia de papel, toda uma armada

E, estendendo meu braço pequenino

Eu soltava os barquinhos sem destino

Ao longo das sarjetas, na enxurrada...


Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,

Que não são barcos de ouro os meus ideais

São barcos de papel, são como aqueles:


Perfeitamente, exatamente iguais!

Que os meus barquinhos, lá se foram eles!

Foram-se embora e não voltaram mais.

ALMEIDA, Guilherme de. Quando a chuva cessava e um vento fino. In: ALMEIDA, Guilherme de. Sonetos. segunda edição Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. página 52.

Ilustração. Silhueta de um homem olhando para um céu pintado em tons de cores quentes (sobretudo amarelo, laranja e rosa). Diante dele, representados em perspectiva, alguns postes elétricos. Acima deles, como que pairando no ar, desenhos de inúmeros barquinhos de papel brancos. À frente da cena, no canto esquerdo, os ramos de uma árvore.
  1. O eu lírico traz uma lembrança do passado nas duas primeiras estrofes. Que lembrança é essa e a que sentimento ela está associada?
  2. Nas duas últimas estrofes, o eu lírico recupera essa lembrança usando uma metáfora. Explique a presença dessa figura de linguagem nesses versos.
  3. Que sentimento é representado quando o eu lírico diz: “Que os meus barquinhos, lá se foram eles! / Foram-se embora e não voltaram mais.”?
  4. Nas palavras finais dos versos, quais apresentam sons iguais ou semelhantes?

Repare que o poeta construiu um padrão de repetição dessas rimas: nas duas estrofes com quatro versos, há rima entre o primeiro e o quarto verso e entre o segundo e o terceiro; já nas estrofes com três versos, há rima entre o primeiro e o terceiro verso.

2. Observe a primeira e a segunda estrofe. Se compararmos suas rimas, será possível notar mais um padrão de repetição. Identifique e descreva em seu caderno que padrão é esse.

Versão adaptada acessível

2. Observe a primeira e a segunda estrofe. Se compararmos suas rimas, será possível notar mais um padrão de repetição. Identifique e descreva que padrão é esse.

Faça as atividades no caderno.

3. Agora, compare a terceira e a quarta estrofe. Qual padrão você nota?

O poeta não criou esse esquema bastante complexo de rimas por acaso. Essas rimas dão um ritmo e uma melodia específicos para os versos. Vamos estudar as rimas mais detalhadamente!

Rimas perfeitas e imperfeitas

Ao iniciar o estudo sobre rimas, é preciso ter em mente que a rima não trata simplesmente de uma correspondência de letras, mas sim de sons. Há sons que são iguais, mas que são escritos de fórma diferente.

Nas palavras doce e fosse, por exemplo, temos o mesmo som nas últimas sílabas, mas as palavras são grafadas com letras diferentes. Assim, se quiséssemos rimá-las em um poema ou letra de música, a coincidência de sons seria perfeita, da mesma fórma como acontece no poema de Guilherme de Almeida. Veja que na primeira estrofe, entre as palavras fino e menino, por exemplo, a partir do som representado pela letra i, todos os sons são iguais.

Damos o nome de perfeitas às rimas formadas por palavras cujos sons se repetem de fórma idêntica.

As rimas imperfeitas são aquelas em que os sons são apenas parecidos, ou seja, eles não se repetem de fórma idêntica nas sílabas que rimam.

Releia o poema de Paulo Leminski:

que dia é hoje?

um dia, eu soube

hoje me foge.

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 315.

Analise as afirmações e reescreva em seu caderno a alternativa que melhor representa o tema do poema de Leminski.

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Analise as afirmações e reescreva a alternativa que melhor representa o tema do poema de Leminski.

um Dias da semana

dois Calendário

três Passagem do tempo

Repare que as palavras hoje e foge têm sons parecidos. A última sílaba de ambas apresenta o mesmo som, apesar de grafias diferentes (je e gê é). No entanto, há uma leve diferença na vogal da penúltima sílaba: na palavra hoje, a vogal óh apresenta um som mais fechado; já na palavra foge, esse som é mais aberto. Poderíamos dizer que essa diferença é entre ô e ó, apesar de essas palavras não serem acentuadas.

As rimas e a disposição das palavras no verso

Leia mais um poema de Paulo Leminski:

surpresa de ser

tão solta e tão presa

a noite dá meiavolta

e volta a ser nossa

toda a beleza que possa

LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 257.

  1. A noite é caracterizada por uma antítese. Qual é? Quais efeitos ela causa no poema?
  2. Em sua opinião, por que o eu lírico a caracteriza desse modo?
  3. O que pode significar “a noite dá meiavolta”?
  4. Leia em voz alta o poema e observe novamente os versos: há em seu interior palavras com sons iguais ou semelhantes? Quais?

As rimas de um poema podem ocorrer no interior ou no final dos versos.

As rimas que ocorrem no interior dos versos são chamadas de rimas internas. Podem estar entre duas palavras no interior dos versos ou entre uma palavra no interior e outra no final do verso.

As rimas que ocorrem no final dos versos são chamadas de rimas externas.

e. Registre no caderno.

Versão adaptada acessível

e. Registre:

  • uma rima externa do poema;
  • uma rima interna entre palavras que estão no interior dos versos;
  • uma rima interna entre palavras que estão no interior e exterior dos versos.

f. Entre as rimas observadas na atividade anterior, há uma rima imperfeita. Identifique-a e explique por que ela é assim classificada.

Faça as atividades no caderno.

Estrofes

Leia este poema de Carlos Drumôn de Andrade e responda.

Balanço

A pobreza do eu

a opulência do mundo

A opulência do eu

a pobreza do mundo

A pobreza de tudo

a opulência de tudo

A incerteza de tudo

na certeza de nada.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Balanço. In: ANDRADE, Carlos Drumôn. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. página 1 027.

  1. O poeta trabalha com pares de palavras opostas na construção de seu poema. Que pares são esses?
  2. Busque o significado da palavra opulência. Em seguida, explique o efeito que causa nas duas primeiras estrofes.
  3. O poema se encerra com o verso “na certeza de nada”. Que sentido você atribui a esse verso final?
  4. Por que o título do poema é “Balanço”?
  5. Que figura de linguagem estrutura o poema? Que efeito ela causa no poema?
  6. Observe que o poema tem oito versos. Como esses versos se organizam no poema?

O agrupamento de versos é chamado de estrofe. A classificação das estrofes se dá justamente pela quantidade de versos de um poema.

Esse poema de Drumôn é escrito em estrofes de dois versos, chamadas de dísticos. Repare que o poeta não escolheu aleatoriamente esse tipo de estrofe, isso reforça o sentido poético do texto: no título ele já sugere um movimento entre dois lados, o movimento do balanço, e todo o poema é construído em oposições, como vimos. Assim, é muito significativo que as estrofes também apresentem dois elementos.

Além dos dísticos, temos outros tipos de estrofe:

Esquema.
monóstico: 1 verso
dístico: 2 versos
terceto: 3 versos
quadra: 4 versos
quintilha: 5 versos
sextilha: 6 versos
septilha: 7 versos
oitava: 8 versos
novena: 9 versos
décima: 10 versos
Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

Leia outro soneto de Vinicius de Moraes para responder às questões.

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.


De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.


De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.


Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

MORAES, Vinicius de. Soneto de separação. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. página 177.

Ilustração. Casal de mãos recém-separadas, de costas um para o outro. À esquerda, homem vestindo camisa azul. À direita, mulher de cabelos castanhos, usando vestido vinho. Ao fundo, diante de cores em tons gradativos de rosa (acima) ao roxo (abaixo), detalhe dos rostos de ambos de frente um para o outro, de olhos fechados, em posições opostas (a mulher à esquerda e o homem à direita).
  1. O soneto de Vinicius de Moraes trata, como registra o título, do momento de uma separação. Como o poeta caracteriza esse momento?
  2. Encontramos no poema diversas repetições: de versos inteiros e de estruturas sintáticas semelhantes, estabelecendo o que chamamos de paralelismo. Escreva o verso que se repete inteiro e as estruturas sintáticas semelhantes.
  3. Observe que o recurso do paralelismo provoca um efeito expressivo no poema, contribuindo para ressaltar seu ritmo. Releia o poema em voz alta, escolha a estrofe que mais lhe agrada pelo ritmo e escreva-a em seu caderno.
Versão adaptada acessível

3. Observe que o recurso do paralelismo provoca um efeito expressivo no poema, contribuindo para ressaltar seu ritmo. Releia o poema em voz alta, escolha a estrofe que mais lhe agrada pelo ritmo e registre-a.

  1. O autor faz também uso de outras figuras de linguagem para tornar mais expressivo o poema. Riso e pranto, no primeiro verso, são metonímias e, ao mesmo tempo, antíteses. O que essas palavras representam no contexto de um soneto sobre separação?
  2. Releia as rimas do poema. Podemos dizer que elas são perfeitas ou imperfeitas, internas ou externas? Justifique sua resposta, com exemplos retirados dos versos.

Leitura 2

Contexto

Leia agora três exemplos de sonetos mais modernos e contemporâneos.

Antes de ler

Antes de ler os três próximos poemas, discuta com os colegas e o professor:

  • O que sugere o título do texto 1?
  • O que você imagina que o segundo poeta comenta sobre história?
  • Por que será que as palavras do título Minima poetica estão grafadas em itálico e sem acentuação? O que significa o numeral romano quatro no subtítulo?

Álvaro de Campos

AUTORIA

Álvaro de Campos é um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa (1888-1935), que criou diversas personagens para escrever poemas de modos diferentes. Entre os mais conhecidos estão este que escreveu o soneto, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares. Ligado a um movimento de questionamento sobre as fórmas clássicas de escrever poemas, o Modernismo, o escritor levou a fundo a ideia de experimentação e escrita livre em suas obras, que são consideradas entre as mais expressivas já produzidas em língua portuguesa.

Texto 1

Ah, um soneto...

Meu coração é um almirante louco

Que abandonou a profissão do mar

E que a vai relembrando pouco a pouco

Em casa a passear a passear...


No movimento (eu mesmo me desloco

Nesta cadeira, só de o imaginar)

O mar abandonado fica em foco

Nos músculos cansados de parar.


Há saudades nas pernas e nos braços.

Há saudades no cérebro por fóra.

Há grandes raivas feitas de cansaços.


Mas – esta é boa! – era do coração

Que eu falava... e onde diabo estou eu agora

Com almirante em vez de sensação?...

CAMPOS, Álvaro de. Ah, um soneto. ín: PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. página 398.

Antonio Cicero

AUTORIA

Antonio Cicero Correia Lima (1945-) formou-se em Filosofia na Universidade de Londres e é membro da Academia Brasileira de Letras e poeta contemporâneo. Também atua como crítico literário, compositor e filósofo. Irmão da cantora e compositora Marina Lima, Cicero é um dos principais poetas da atualidade, ainda publicando seus poemas, com forte marca crítica sobre os eventos políticos da contemporaneidade, e também com expressiva atuação no meio musical, na ême pê bê.

Texto 2

História

A história, que vem a ser?

mera lembrança esgarçadaglossário

algo entre ser e não-ser:

noite névoa nuvem nada.

Entre as palavras que a gravam

e os desacertos dos homens

tudo o que há no mundo some:

Babilônia Tebas Acra.

Que o mais impecável verso

breve afunda feito o resto

(embora mais lentamente

que o bronze, porque mais leve)

sabe o poeta e não o ignora

ao querê-lo eterno agora.

CICERO, Antonio. História. In: CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002. página 59.

Ilustração. Rapaz de cabelos castanhos, vestindo camiseta marrom-escura de mangas longas e calça comprida marrom-clara. Ele está sentado em um banco de praça, com os braços apoiados nas pernas pelos cotovelos e segura um livro aberto. Sua cabeça está levemente inclinada para baixo, voltada para o livro. Ao fundo, algumas árvores.

Paulo Fernando Henriques Britto

AUTORIA

Paulo Fernando Henriques Britto (1951-) é um poeta carioca, considerado um dos principais sonetistas contemporâneos. Ele usa o rigor formal dos sonetos para questionar a realidade que vivemos e fazer uma reflexão metalinguística sobre o próprio fazer poético.

Texto 3

Minima poetica

quatro

Dizer não tudo, que isso não se faz,

nem nada, o que seria impossível;

dizer apenas tudo que é demais

pra se calar e menos que indizível.

Dizer apenas o que não dizer

seria uma espécie de mentira:

falar, não por falar, mas pra viver,

falar (ou escrever) como quem respira.

Dizer apenas o que não repita

a textura do mundo esvaziado:

escrever, sim, mas escrever com tinta;

pintar, mas não como aquele que pinta

de branco o muro que já foi caiadoglossário ;

escrever, sim, mas como quem grafita.

BRITTO, Paulo Fernando Henriques. Minima poetica. In: BRITTO, Paulo Fernando Henriques. Mínima lírica. segunda edição São Paulo: Companhia das Letras, 2013. página 103.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Depois de ler os sonetos da Leitura 2, responda às questões.
    1. Por que o Texto 1 traz em sua referência o nome de dois poetas, Fernando Pessoa e Álvaro de Campos?
    2. As hipóteses que você levantou para o Texto 2 corresponderam ao que você leu no poema?
    3. Converse com os colegas e o professor sobre suas hipóteses em relação ao título e ao subtítulo do poema Minima poetica. O que vocês concluíram?
  2. No poema de Álvaro de Campos parece haver um contraste entre duas imagens poéticas: a casa e o mar. Como podemos relacioná-las?
  3. Como podemos relacionar os poemas “Ah, um sonetoreticências”, de Álvaro de Campos (página 247), e “Coração”, de Guilherme de Almeida (página 234)?
  4. Releia a segunda estrofe do poema “Ah, um sonetoreticências”:

No movimento (eu mesmo me desloco

Nesta cadeira, só de o imaginar)

O mar abandonado fica em foco

Nos músculos cansados de parar.

CAMPOS, Álvaro de. Ah, um soneto. In: PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. página 398.

Ilustração. Silhueta de um homem de chapéu, sentado de pernas cruzadas em uma cadeira de balanço em uma varanda. Ao fundo, cenário natural montanhoso.
  1. Nessa parte do texto, há diversas referências a diferentes tipos de movimento. Quais são? Como podemos interpretá-las?
  2. Por que Álvaro de Campos associa a figura do almirante às suas sensações nesse poema?
  3. Levante hipóteses sobre o motivo de o título do poema de Álvaro de Campos ser “Ah, um sonetoreticências.”.
  1. Antes de ler os três sonetos, você pensou sobre o modo como um dos sonetos falaria sobre “história”. Analisando mais a fundo agora, que reflexão Antonio Cicero parece fazer sobre a história como ciência e a que ele a relaciona? Que trechos do poema podemos usar para analisar essa questão?
  2. Releia este trecho do poema de Antonio Cicero.

Que o mais impecável verso

breve afunda feito o resto

(embora mais lentamente

que o bronze, porque mais leve)

sabe o poeta e não o ignora

ao querê-lo eterno agora.

CICERO, Antonio. História. In: CICERO, Antonio. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002. página 59.

  1. Que associações são feitas pelo poeta para descrever peso e leveza nesse trecho? Como podemos interpretá-las?
  2. Há versos que, se retirados do poema, fazem sentido isoladamente e outros não; precisam de outra parte para formar um significado completo. Destaque-os, explicando quais trechos fazem sentido de modo independente e quais deles precisam da informação marcada pelo verso seguinte.
Ilustração. Colar porta-retratos com figuras de duas pessoas; mulher de cabelos castanhos, usando vestido de gola alta e homem de cabelos castanhos de costume escuro. Ao redor do objeto, cor escura representando o fundo do mar.

7. No poema de Paulo Henriques Britto, encontramos metalinguagem. Explique como esse recurso foi utilizado nesse caso.

Ícone retomada de tópicos

Metalinguagem

É uma fórma de linguagem que reflete sobre seu próprio fazer. Encontramos metalinguagem, por exemplo, quando uma canção fala sobre como o compositor cria suas músicas, quando um filme mostra os bastidores de uma montagem cinematográfica, ou quando um poema explica como se dá o fazer poético.

8. Leia o que dois escritores dizem sobre a fórma como eles escrevem.

Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever?

RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. São Paulo: Globo, 2000. página 26.

Quando não escrevo, estou morta.

BORELLI, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. página 25.

  • Um dos versos mais marcantes do poema de Paulo Henriques Britto associa escrever a viver: “falar (ou escrever) como quem respira”. Clarice Lispector e Rainer Maria Rilke, como você leu anteriormente, foram escritores que consideravam a escrita a única fórma de se manterem vivos. O que você acha disso? Escrever também é algo essencial para você? Com base nessa ideia, comente qual sua relação com a escrita.

9. No final de seu poema, Paulo Henriques Britto associa sua escrita poética a grafitar. Como seria “escrever como quem grafita”?

Saiba +

Grafite

É uma expressão artística urbana que surgiu provavelmente na década de 1970 nos Estados Unidos. Com forte marca de denúncia e contestação, os grafites são desenhos feitos em locais inesperados em muros, paredes e outros objetos públicos das grandes cidades.

Grafite. Detalhe do rosto de uma pessoa indígena de cocar. Além da pintura corporal do povo indígena representado, desenhada nas faces e no queixo, há diversas formas geométricas coloridas sobrepostas pelo artista que produziu o grafite. Ao fundo, algumas árvores.
Mural Etnias, do artista Eduardo Kobra. Rio de Janeiro (érre jóta), 2019.

Oralidade

Ilustração. Ícone de Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo.

Slam

Você já ouviu falar de batalha de poemas? Embora muitas pessoas acreditem que o ato de escrever ou declamar poemas seja uma prática do passado, muitos eventos que vêm acontecendo em várias regiões do Brasil mostram que a produção e a leitura de poemas nunca estiveram tão ativas. Esses eventos são os slams, campeonatos orais de poemas que levam em consideração apenas a palavra e a linguagem corporal daqueles que, de fórma bastante expressiva, declamam sua produção. Com um microfone nas mãos e uma grande roda de ouvintes e júris atentos, os participantes do slam, os slammers, iniciam um verdadeiro duelo poético.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

>> [LOCUTOR - título]: Slam.

>> [LOCUTOR]: Vamos conhecer as principais características da poesia Slam ouvindo a doutora em Linguística Aplicada pela Unicamp Cynthia Agra de Brito Neves.

>> [Cynthia Agra de Brito Neves]: A palavra slam é uma onomatopeia da língua inglesa utilizada para indicar o som de uma batida de porta ou janela.

Algo próximo do nosso “pá!” em língua portuguesa. A onomatopeia foi emprestada por Marc Kelly Smith para nomear o Uptown Poetry Slam, um evento poético que surgiu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1984.

O termo slam é corriqueiramente utilizado para se referir às finais de torneios de baseball, tênis, bridge e basquete.

Smith passou a nomear também de slam os campeonatos de performances poéticas que organizava e no qual os slammers, poetas, eram avaliados com notas pelo público presente, inicialmente, em um bar de jazz em Chicago, depois nas periferias da cidade.

A iniciativa viralizou, contagiando outras cidades dos Estados Unidos e, mais tarde, ganhou o mundo. Em 2008, Roberta Estrela D’Alva trouxe o Poetry Slam para o Brasil, ao fundar o ZAP! Slam em São Paulo.

D’Alva manteve a onomatopeia que, segundo ela, funciona como uma sigla para “Zona Autônoma da Palavra”. Em 2012, foi a vez de Emerson Alcalde fundar o Slam da Guilhermina, o segundo slam do Brasil, na zona leste de São Paulo.

Hoje, além desses dois, há quase uma centena de slams espalhados de norte a sul do nosso país, dentre eles: Slam das Minas, Slam Resistência, Slam Sófálá, Slam Clube da Luta, Slam do Grito, Slam do Corpo, Slam do 13, Rio Poetry Slam et cetera.

As poesias são declamadas em voz alta e performaticamente pelos slammers, que versam sobre temas sociais, poesias de teor crítico que requerem a escuta e a reflexão de seu público ouvinte.

E como toda competição, o slam também tem suas regras. As poesias devem ser autorais, não podem passar de 3 minutos e os slammers não podem contar com subterfúgios cênicos, apenas voz e corpo.

Os 5 jurados são escolhidos aleatoriamente da plateia na hora do evento e atribuem notas que variam de 0 a 10. São três rodadas: na primeira participam todos os inscritos, 5 vencedores vão para a segunda rodada e 3 para a terceira.

Em dezembro, há o Campeonato Brasileiro de Slam, o Slam Br, e o vencedor nacional é quem representa o Brasil na Copa do Mundo de Slam, que ocorre todo ano, em meados de maio, em Paris, na França. Roberta Estrela D’Alva e Emerson Alcalde já conquistaram o terceiro e segundo lugar, respectivamente, nesse mundial.

Vamos ouvir agora um exemplo na voz de Mel Duarte, do Slam das Minas:

>> [Mel Duarte]:

Que nossa dança

ressoe em corpos presos

por preconceito

Que nossa palavra

atravesse barreiras

e no peito cause efeito

Que nosso som

extravase e

chegue aos ouvidos

mais primitivos

Que nossa imagem

sobreponha a tudo

que antes foi aprendido

E que de uma vez por todas

reconheçam as nossas artes

com o valor merecido

>>[LOCUTOR - Crédito de iconografia]:“O poema manifesto Deslocamento, presente neste áudio, é de autoria de Mel Duarte, do Slam das Minas”.

Fotografia. Apresentação musical. Em primeiro plano, três artistas estão em um palco. Todos seguram microfones e vestem a mesma camiseta vermelha com estampa branca retangular à altura do peito.   Da esquerda para a direita: mulher de cabelos cacheados que veste saia escura; homem de barba e bigode, de óculos e boné, que veste bermuda jeans; homem de chapéu que veste calças compridas com bolsos nas laterais das pernas. Este último parece ser o que expressa seus versos no momento da captura da imagem, pois está com um dos braços semiflexionado erguido, com a mão espalmada, e  com o microfone próximo da boca. Atrás deles, equipamentos eletrônicos operados por um DJ. Ao redor do palco, spots luminosos. Ao fundo, cartazes com o nome do evento: SLAM DA GUILHERMINA, no qual a primeira palavra está destacada em letras bem maiores.
Festa de aniversário de dez anos do Slam da Guilhermina, em 2022.

Saiba +

Slam brasileiro

Criado na década de 1980 nos Estados Unidos, o slam (palavra inglesa cujo significado é “batida”) chega ao Brasil nos anos 2000 e, desde então, fomenta a produção e a escuta de poemas em batalhas poéticas. Nos encontros, organizados geralmente em regiões mais periféricas, os slammers têm até três minutos para mostrar sua performance. Os poemas, que, em sua grande maioria, são criados instantaneamente no momento da apresentação ou improvisados com base em poemas existentes, tratam dos mais variados temas, sobretudo os de cunho crítico, que fazem a denúncia de problemas sociais.

Que tal fazer com a sua turma um slam de sonetos? O professor vai definir um cronograma de atividades prévias e a data do evento. Reúna-se com um colega para selecionar um soneto e fazer uma releitura dele para apresentarem. O slam acontecerá na escola, na hora do intervalo. Os ouvintes serão os colegas de outras turmas, os professores e os demais funcionários da escola que serão convidados por vocês para o evento. Vamos começar?

Etapa 1: Sensibilização para o slam

  1. Antes de selecionar e adaptar os sonetos que você e seu colega apresentarão no slam, conheça um pouco melhor como acontecem as declamações de poemas nesses encontros. O professor vai reproduzir um áudio para você ouvir um slam. E, na internet, você encontra vídeos desse tipo de competição. Com o professor e os colegas, escolha um para assistir com a turma, além do que você vai ouvir.
  2. Após ouvir o áudio e assistir ao vídeo, converse com a turma e o professor:
    1. Que sentimentos os slams suscitaram em você?
    2. Quais foram os recursos sonoros e a linguagem corporal que cada declamador utilizou para dar expressividade à performance?
  3. Assista novamente ao vídeo escolhido, prestando atenção agora nos seguintes aspectos:

ritmo: verifique se o declamador usa um ritmo rápido, lento etcétera. e qual é a relação com o tema do poema;

dicção: observe o modo como o declamador pronuncia as palavras do poema;

tom: note qual é o tom utilizado pelo participante. Ele pode variar, dependendo da temática do poema;

fluência: avalie a maneira como o declamador dá fluência e espontaneidade à leitura;

volume: verifique o volume da voz que o participante emprega ao longo da declamação do poema;

expressão corporal e facial: repare como o declamador usa o corpo, as mãos e o rosto para dar expressividade ao poema.

4. Converse com a turma sobre os aspectos observados para se preparar para seu slam.

Etapa 2: Seleção, leitura e adaptação do soneto

  1. Reúna-se com seu colega e, com a ajuda do professor, façam uma pesquisa em livros ou sites da internet sobre poetas brasileiros que criticaram os problemas de seu tempo por meio de sonetos. Leiam alguns dos poemas desses autores e selecionem o que mais chamar a atenção de vocês.
  2. Copiem esse poema em uma folha avulsa.
  3. Façam uma leitura atenta do soneto escolhido, destacando os temas tratados nele. A proposta é que, com a identificação dos temas, vocês façam uma releitura desse soneto, reescrevendo-o com base em temas atuais.

Etapa 3: Ensaio

  1. Defina com seu colega se apenas um de vocês declamará o soneto ou se cada um declamará uma parte dele. Caso escolham a primeira opção, o outro membro da dupla deve, ao lado dos demais colegas, integrar uma equipe de apoio que será responsável pela produção do slam, preparando um espaço especial para a roda, com microfones e imagens dos poetas escolhidos para as releituras, e convidando os demais estudantes, professores e funcionários da escola para o evento.
  2. O poema não deverá ser lido, mas sim declamado. Decore-o e ensaie a declamação. No dia da apresentação, caso se esqueça de algo, você pode improvisar algum trecho.
  3. Como os slammers, lembre-se de utilizar diferentes recursos para dar expressividade à apresentação.

Etapa 4: Apresentação

  1. No dia do evento, siga as orientações do professor. Ele será o apresentador e o mediador do slam.
  2. As pessoas que quiserem participar do júri poderão se candidatar com o professor. Ele fará o sorteio de cinco pessoas para compor essa equipe de avaliação, que seguirá estes critérios:
    1. a qualidade do poema (em termos da releitura feita do poema original, das rimas etcétera.);
    2. a qualidade da performance (o ritmo, a dicção, o tom de voz etcétera.).
  3. Ao declamar seu poema, ponha em prática todos os aspectos trabalhados no ensaio.
  4. Ouça com atenção as declamações dos sonetos feitas pelos colegas e os recursos que empregaram para dar expressividade ao texto e envolver a plateia.

Etapa 5: Avaliação

Após a ação poética na escola, reúnam-se com o professor e avaliem o processo, observando como a performance impactou o ambiente escolar. Discutam o que foi positivo e os desafios durante a produção, para terem parâmetros para outra apresentação.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 2

Faça as atividades no caderno.

Sentidos

1. Leia o poema “Triste encanto”, de Mario Quintana, e responda às questões.

Triste encanto das tardes borralheirasglossário

Que enchem de cinza o coração da gente!

A tarde lembra um passarinho doente

A pipilarglossário os pingos das goteiras...


A tarde pobre fica, horas inteiras,

A espiar pelas vidraças, tristemente,

O crepitar das brasas na lareira...

Meu Deus... o frio que a pobrezinha sente!


Por que é que esses Arcanjosglossário neurastênicosglossário

Só usam névoa em seus efeitos cênicos?

Nenhum azul para te distraíres...


Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,

Eu pintava trezentos arco-íris

Nesse tristonho céu que nos encobre!...

QUINTANA, Mario. Triste encanto. In: QUINTANA, Mario. A rua dos cataventos. São Paulo: Globo, 2005. página 34.

Ilustração. Vista do interior de um ambiente. Centralizada, uma mesa com um garrafa térmica, uma xícara e alguns livros sobre ela. Ao fundo, uma janela envidraçada. Do lado de fora, ramos de uma árvore e paisagem natural montanhosa iluminada pelo sol.
  1. No poema, o eu lírico se compadece de quem?
  2. Há no poema uma comparação entre dois espaços. Quais são eles?
  3. Na primeira estrofe, a palavra cinza tem destaque na construção do sentido poético. Em sua opinião, o que ela significa nesse contexto?

Faça as atividades no caderno.

2. Leia a tirinha do Recruta Zero e responda às questões.

Ilustração. Tirinha. Em duas cenas. Personagens: Recruta Zero, homem de farda verde e boné que cobre seus olhos. Sargento Tainha, homem corpulento de farda verde, com um dente para fora da boca. Cena 1. Zero fala em um celular: PODE AGUARDAR UM MINUTO SARGENTO? HÁ OUTRA LIGAÇÃO CHEGANDO! Ao fundo, uma barraca de acampar e árvores. Cena 2. O sargento Tainha está pendurado em um galho de árvore, segurando o galho com a  mão direita e um celular ao ouvido com a mão esquerda. Ele diz: ODEIO SER SEGURADO NA LINHA QUANDO MAL ESTOU CONSEGUINDO ME SEGURAR!. Ao fundo, céu azul e uma nuvem.

WALKER, Greg; WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de São Paulo, São Paulo, 1º março. 2018. Caderno 2. página C4.

  1. O humor da tirinha é produzido com base na exploração dos sentidos de uma palavra. Qual é essa palavra?
  2. Na oração “Odeio ser segurado na linha”, o que significa a palavra “segurado”?
  3. O que significa “segurar” na oração “quando mal estou conseguindo me segurar”?
  4. Usar a mesma palavra com diferentes sentidos é muito comum no dia a dia. Pense e anote em seu caderno outros exemplos desses usos.
Versão adaptada acessível

d. Usar a mesma palavra com diferentes sentidos é muito comum no dia a dia. Pense e registre outros exemplos desses usos.

3. Agora, leia o poema “Campanário de São José”, de Cassiano Ricardo.

Campanário de São José

(para ser repetido, três vezes, na leitura)

Quem

Não

Tem

Seu


Bem

Que

Não

Vem?


Ou

Vem

Mas


Em

Vão?

Quem?

RICARDO, Cassiano. Campanário de São José. A difícil manhã. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1960. página 144.

Ilustração. Três sinos amarelos estão suspensos em uma viga com cordas atadas aos badalos.

Faça as atividades no caderno.

  1. Nesse soneto do poeta brasileiro Cassiano Ricardo, que rimas se destacam na leitura?
  2. Classifique essas rimas em perfeitas ou imperfeitas.
  3. Após o título, o poeta indica que o poema deve ser lido três vezes. Três estudantes devem ler o poema um após o outro. Após ouvir essas leituras, indique o que sugere o som das rimas se repetindo.
  4. O título do poema traz o nome de São José, a quem é atribuído, na crendice popular, o poder de proteger as famílias e os casais. Por que essa informação nos ajuda a entender o poema?
  5. O título apresenta também a palavra campanário, que ajuda a entender o efeito sonoro do poema. Procure a palavra no dicionário e explique essa relação.

Sentido literal e figurado das palavras

Você já sabe que na língua os substantivos nomeiam todos os seres, ações, sentimentos e coisas que nos cercam. O curioso é que não há nada na sequência de sons da palavra cachorro, por exemplo, que lembre o animal doméstico que ela nomeia. Ao ouvirmos os sons dessa palavra, automaticamente pensamos no conceito ou na ideia desse animal, ou seja, pensamos em seu significado. À sequência sonora que nomeia os seres chamamos significante, que estará sempre associado a um significado. Uma palavra é sempre composta, portanto, de dois elementos: um significante e um significado. Essa composição é chamada de signo. Significante e significado são faces da mesma moeda, um não existe sem o outro.

Mas a relação entre o significante e o significado de um signo é uma convenção social, fruto de um acordo comum, pelo qual combinamos de nomear certo ser com certo nome. Os falantes de língua portuguesa, por exemplo, atribuem o mesmo significado à sequência sonora do significante cachorro. Exatamente por ser social e culturalmente realizado, o acordo se altera nas diferentes línguas; por exemplo, os falantes de língua inglesa atribuíram outro significante ao significado cachorro: dog. Já os franceses, os chamam de chien, e os espanhóis, de perro.

Agora, reveja o segundo quadro da tirinha do Recruta Zero apresentada anteriormente.

Ilustração de uma cena de tirinha. Personagem: sargento Tainha, homem corpulento de farda verde, com um dente para fora da boca. O sargento Tainha está pendurado em um galho de árvore, segurando o galho com a  mão direita e um celular ao ouvido com a mão esquerda. Ele diz: ODEIO SER SEGURADO NA LINHA QUANDO MAL ESTOU CONSEGUINDO ME SEGURAR!. Ao fundo, céu azul e uma nuvem.

WALKER, Greg; WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de São Paulo, São Paulo, 1º março. 2018. Caderno 2. página C4.

Faça as atividades no caderno.

O humor da tirinha é produzido pela exploração do significado da palavra segurar. Repare que o significado convencional dessa palavra – apoiar, agarrar em algo para não cair – é utilizado na segunda ocorrência, “mal estou conseguindo me segurar”. Porém, na primeira ocorrência, “odeio ser segurado na linhareticências”, o sentido é outro, algo próximo a “ser deixado esperando”. No caso do significado convencional, diremos que esse é o sentido literal. Mas as palavras, além de terem um ou mais significados mais ou menos fixos e literais, podem ir ganhando outros sentidos, dependendo da situação de uso da língua. Um deles é o sentido figurado.

Para entender o sentido figurado, é preciso que o ouvinte/leitor perceba que o sentido literal foi modificado pelo contexto de uso daquela palavra. No caso da tirinha, deve-se levar em conta que o Sargento Tainha foi deixado na linha pelo Recruta Zero.

Sentido figurado e figuras de linguagem

Vamos retomar o poema de Mario Quintana trabalhado na atividade 1, da página 254.

Triste encanto das tardes borralheiras

Que enchem de cinza o coração da gente!

A tarde lembra um passarinho doente

A pipilar os pingos das goteirasreticências


A tarde pobre fica, horas inteiras,

A espiar pelas vidraças, tristemente,

O crepitar das brasas na lareirareticências

Meu Deusreticências o frio que a pobrezinha sente!


Por que é que esses Arcanjos neurastênicos

Só usam névoa em seus efeitos cênicos?

Nenhum azul para te distraíresreticências


Ah, se eu pudesse, tardezinha pobre,

Eu pintava trezentos arco-íris

Nesse tristonho céu que nos encobre!reticências

QUINTANA, Mario. Triste encanto. A rua dos cataventos. São Paulo: Globo, 2005, página 34.

Ilustração em tons de sépia. Vista do interior de um ambiente. Centralizada, uma mesa com um garrafa térmica, uma xícara e alguns livros sobre ela. Ao fundo, uma janela envidraçada. Do lado de fora, ramos de uma árvore e paisagem natural montanhosa iluminada pelo sol.

O poema é construído pela oposição entre o espaço interno aquecido e o espaço externo da tarde fria. Além dessa oposição, o eu lírico apresenta outras: “névoa” se opõe a “azul”, que se opõe a “cinza”. Todas essas figuras são metáforas de uma oposição maior: a tristeza que inunda a tarde versus a alegria que o eu lírico gostaria de poder sentir.

Para se referir à tarde, o eu lírico utiliza uma figura de linguagem que você já estudou, a personificação ou prosopopeia. Ao transformar a tarde em um ser animado, personificado, o eu lírico pretende dividir conosco o mesmo sentimento de pena da tarde, principalmente quando lamenta o frio sentido por ela.

Ícone retomada de tópicos

Personificação ou prosopopeia

A atribuição de sentimentos e ações humanas a objetos e seres inanimados é chamada de personificação ou prosopopeia.

Que ações e que sentimentos são atribuídos à tarde?

Além da personificação, há na primeira estrofe uma figura de linguagem que explora o sentido figurado. Vamos descobrir qual é essa figura?

Na atividade 1, você tentou definir o significado da palavra cinza. Para isso, era necessário que você percebesse que o significado dessa palavra não é literal, e sim construí­do em comparação com o sentido literal. Leia novamente os dois primeiros versos do poema e a explicação a seguir para entender melhor.

O eu lírico atribui às tardes o adjetivo borralheiras, ou seja, nas tardes se acumulam as cinzas do fogo de uma lareira e são essas cinzas que enchem “o coração da gente”.

Esquema.
tardes borralheiras
borralho: cinzas que sobram após o fogo se apagar

O significado atribuído ao significante cinza não é o literal; no poema, cinza, no singular, significa tristeza. A figura de linguagem utilizada, nesse caso, é a metáfora.

Ícone retomada de tópicos

Metáfora

Podemos dizer que a metáfora é uma figura de linguagem em que seres de universos diferentes são comparados. A comparação se baseia em semelhanças entre os elementos da comparação. O elemento comum, que torna possível a comparação, fica implícito. Em uma comparação metafórica, o elemento comum está explicitado, como na frase “Esse menino é esperto como uma raposa”. Mas se dissermos “Esse menino é uma raposa”, estamos deixando implícita a característica comum entre raposa e menino e criando uma metáfora.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Leia a tirinha de Níquel Náusea.

Tirinha. Uma girafa em cinco cenas.  Ela aprece de perfil, sem mostrar a cabeça nem as patas. Cena 1. Corpo da girafa. Na parte superior, o texto: UMA GIRAFA CONVERSA COM SEUS PÉS. Cena 2. Corpo da girafa. Cena 3. A girafa diz: VOCÊS ANDAM MUITO DISTANTES! Cena 4. Corpo da girafa. Cena 5. Corpo da girafa. Na parte inferior, o texto: UMA CONVERSA SEM PÉ NEM CABEÇA.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 junho. 2018. Ilustrada. página C7.

a. Na frase “Vocês andam muito distantes!”, o verbo andar pode ser entendido de duas fórmas. Avalie as acepções a seguir e escreva em seu caderno quais são as duas possibilidades de uso para este verbo.

Versão adaptada acessível

a. Na frase “Vocês andam muito distantes!”, o verbo andar pode ser entendido de duas formas. Avalie as acepções a seguir e escreva quais são as duas possibilidades de uso para este verbo.

um dar passos, caminhar.

dois decorrer, passar (o tempo).

três ter movimento próprio; funcionar, trabalhar.

quatro portar-se de determinado modo; ter certo procedimento; comportar-se, agir.

  1. Justifique as acepções escolhidas na atividade anterior.
  2. No último quadro, qual expressão tem igualmente seu signifi­cado explorado? Explique os dois sentidos possíveis literal e figurado que ela pode ter.
  3. Que elemento visual, somado à exploração dos sentidos literal e figurado, ajuda a produzir o humor na tirinha?

2. Na Copa do Mundo de 2018, a Seleção Brasileira de Futebol enfrentou, no primeiro jogo, a Seleção Suíça. Quebrando a expectativa da maioria, o jogo terminou empatado. A tirinha a seguir explora esse acontecimento. Leia-a e responda às questões propostas.

Tirinha. Em uma cena. À esquerda, homem de chapéu, vestindo casaco escuro e camiseta listrada. Ele está de braços estendidos para os lados, com as mãos espalmadas, e diz: A GENTE NÃO IA DAR UM CHOCOLATE NA SUÍÇA? À direita, mulher de cabelos pretos, vestindo blusa listrada e saia preta, com um braço semiflexionado e a mão com o indicador para cima, diz: SÓ QUE OS SUÍÇOS É QUE FAZEM CHOCOLATE!

GALHARDO, Caco. Daiquiri. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 junho. 2018. Ilustrada. página C5.

Faça as atividades no caderno.

  1. O humor na tirinha é produzido pela exploração de qual elemento verbal?
  2. Qual seria o sentido literal dessa expressão?
  3. O que a personagem quis dizer com a expressão “dar um chocolate” na Suíça?
  4. Que outra expressão poderia substituir “dar um chocolate”, mantendo o mesmo sentido figurado?
  5. Que sentido tem a resposta dada à pergunta de Daiquiri?
  6. A resposta “Só que os suíços é que fazem chocolate!” demonstra que o sentido da pergunta foi ou não compreendido? Justifique sua resposta.

3. Releia o poema “Ah, um sonetoreticências”, de Álvaro de Campos, estudado nesta Unidade e responda às questões.

Meu coração é um almirante louco 

Que abandonou a profissão do mar 

E que a vai relembrando pouco a pouco 

Em casa a passear a passearreticências 


No movimento (eu mesmo me desloco

Nesta cadeira, só de o imaginar)

O mar abandonado fica em foco

Nos músculos cansados de parar.


Há saudades nas pernas e nos braços.

Há saudades no cérebro por fóra.

Há grandes raivas feitas de cansaços.


Mas – esta é boa! – era do coração

Que eu falavareticências e onde diabo estou eu agora

Com almirante em vez de sensação?reticências

CAMPOS, Álvaro de. Ah, um soneto. In: PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. página 398.


  1. Na primeira estrofe, a palavra coração está empregada no sentido metafórico? Justifique sua resposta.
  2. Almirantes são os que têm a função de comandar o navio. Ao comparar seu coração a um almirante louco, o eu lírico atribui algo comum aos elementos da comparação. O que há em comum entre eles?
  3. O sentido figurado também pode ser utilizado para expressar valorização ou depreciação, para demonstrar afeto ou jocosidade, por exemplo. Quando o poeta caracteriza o almirante como louco, ele o faz com sentido figurado. O que ele quer dizer com a palavra louco? O sentido conferido a ela é positivo ou negativo?
Ilustração. Barco sobre ondas em mar agitado sob céu escuro.

Questões da língua

Faça as atividades no caderno.

Pontuação (5)

Nesta seção, vamos estudar um sinal de pontuação muito comum em textos literários, principalmente na poesia: as reticências. Veremos, ainda, a acentuação de oxítonas seguidas dos pronomes los e las, como em vê-los, por exemplo.

1. Leia a tirinha do Chico Bento.

Tirinha. Em quatro cenas. Personagem: Chico Bento,menino de cabelos pretos desgrenhados, com um dente da frente saliente, vestindo camiseta amarela e calça azul com listras pretas enviesadas. Cena 1. Chico Bento está deitado de costas dentro de um barco com as pernas cruzadas e braços cruzados atrás da cabeça, enquanto o barco flutua em um rio. Cena 2. Chico Bento, na mesma postura, diz: AHHH... Cena 3. Chico Bento na mesma postura, agora de olhos fechados, diz: QUI.... Cena 4. Chico Bento, na mesma postura, agora com o rosto de perfil, diz: ...TRANQUILIDAD... Do lado direito, o barco se aproxima de uma cachoeira.

SOUSA, Mauricio de. Turma da Mônica. O Estado de São Paulo, São Paulo, 29 janeiro. 2018. Caderno 2. páginaC4.

  1. Ao dividir a fala de Chico Bento em três quadros, o que se quis enfatizar?
  2. Por que a última fala de Chico Bento, reticências tranquilidadreticências”, é marcada com duas reticências?
  3. O que produz humor na tirinha?
  4. Pela presença das reticências, a leitura precisa ser feita de modo específico. Leia a tirinha em voz alta e descreva como você pronuncia essas três palavras.
Reticências

Uma das funções dos sinais de pontuação é fornecer ao leitor referências de como ele deve ler o texto, ou seja, que entonação deve empregar em sua fala a cada frase lida. Entonar é o modo de produzir os sons da fala. Isso é facilmente percebido em perguntas; leia, por exemplo, as orações a seguir em voz alta:

Esquema com exemplo de entonação na fala de duas orações. Você fez o exercício de Português? Na imagem, a frase está dividida em dois níveis de altura. O trecho 'Você fez o exercício de' está na mesma linha e a palavra 'Português' está mais elevada. Uma seta indica o sentido crescente do início para o fim da oração. Como você fez o exercício de Português? Na imagem, a frase está dividida em três níveis de altura. A palavra 'Como' está mais elevada, o trecho 'você fez o exercício de' está no nível intermediário e a palavra 'Português' está abaixo. Uma seta indica o sentido decrescente do início para o fim da oração.

Quando você pronunciou a primeira pergunta, a palavra Português foi dita levemente mais alta do que o restante da oração, isso indica ao interlocutor que a resposta deve ser sim ou não. Na segunda pergunta, a palavra como foi pronunciada mais alta, você fez o exercício de em tom de voz normal e Português, em tom mais baixo. Isso indica ao interlocutor que a resposta não pode ser apenas sim ou não. Toda vez que utilizamos palavras como qual, como, onde, entre outras, no início de perguntas, produzimos essa entonação.

Em frases com ponto final, a entonação cai na última palavra, indicando o final da frase. Leia em voz alta para perceber.

Esquema com exemplo de entonação na fala de uma frase.
Eu não fiz a lição de casa.
O trecho "Eu não fiz a lição de" está em uma linha mais elevada" e a palavra "casa" está mais abaixo. Uma seta indica o sentido decrescente do início para o fim da frase.

Quando não abaixamos o nosso tom de voz ao final das frases, mantendo o mesmo tom do início, deixamos o interlocutor esperando pela finalização, em suspenso. Geralmente, fazemos isso sem completar a frase, o que deixa a quem nos ouve a tarefa de utilizar a imaginação para completá-la. Na escrita, essa entonação é marcada pelas reticências.

Observe a fala de Chico Bento no último quadro da tirinha da atividade 1.

Veja que a personagem não chega a completar a palavra. Quando a leitura chega às reticências, automaticamente a completamos. Se a leitura for feita em voz alta, após a última letra interromperíamos a fala bruscamente, sem mudar a entonação. Além disso, esse recurso foi utilizado na tirinha para reforçar a ideia de queda da personagem em sua canoa.

Na literatura, as reticências também são utilizadas para indicar que determinada ação se estende para além do que foi descrito, convdando o leitor a construir o sentido de fórma ativa.

Veja alguns exemplos:

Canção do exílio facilitada

lá?

ah!

sabiáreticências

papáreticências

manáreticências

sofáreticências

sinháreticências

cá?

bah!

PAES, José Paulo. Um por todos. São Paulo: Brasiliense, 1986. página 67.

O poema

Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, aquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já havia passado o frêmito e o mistério da vida...

QUINTANA, Mario. O poema. In: QUINTANA, Mario. Antologia poética. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. página 171.

Reticências

As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho...

QUINTANA, Mario. Reticências. In: QUINTANA, Mario. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. página 285.

Leia os comentários que seguem e, em seu caderno, relacione-os com os textos que leu.

Versão adaptada acessível

Leia os comentários que seguem e relacione-os com os textos que leu.

um O texto é metalinguístico porque define poeticamente reticências, utilizando reticências.

dois O texto faz referência ao poema de Gonçalves Dias, apenas sugerindo, por meio das reticências e de palavras-chave, tudo o que dá prazer ao eu lírico.

três No texto, as reticências suspendem o pensamento, sugerindo que o leitor deve dar continuidade à resposta do eu lírico.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Vamos ler e analisar novamente o soneto de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

Ah, um sonetoreticências

Meu coração é um almirante louco

Que abandonou a profissão do mar

E que a vai relembrando pouco a pouco

Em casa a passear a passearreticências


No movimento (eu mesmo me desloco

Nesta cadeira, só de o imaginar)

O mar abandonado fica em foco

Nos músculos cansados de parar.


Há saudades nas pernas e nos braços.

Há saudades no cérebro por fóra.

Há grandes raivas feitas de cansaços.


Mas – esta é boa! – era do coração

Que eu falavareticências e onde diabo estou eu agora

Com almirante em vez de sensação?...

Ilustração. Uma âncora e uma bússola afundando no mar.

CAMPOS, Álvaro de. Ah, um soneto... In: PESSOA, Fernando. Poesia completa de Álvaro de Campos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. página 398.

  1. No título do poema há reticências. Elas indicam que a entonação deve ser interrompida ou alongada?
  2. Com base no estudo desse poema que foi realizado tanto na seção Leitura 2 quanto na seção Conhecimentos linguísticos e gramaticais 2, mostre por que as reticências do título sugerem essa entonação que você indicou na atividade anterior.
  3. Na primeira estrofe, as reticências no último verso indicam uma entonação com que se deve ler o verso. Descreva como deve ser a leitura desse verso.
  4. As reticências no último verso da última estrofe estão postas logo após um sinal de interrogação. O que isso pode significar?
Ícone retomada de tópicos

Reticências (reticências)

Sinal de pontuação usado para marcar continuidade ou interrupção de uma ação ou pensamento. Esse sinal é ótimo auxiliar da linguagem poética. Também muito utilizado em citações de textos, incompletas.

Faça as atividades no caderno.

Acentuação

1. Leia a tirinha a seguir.

Tirinha. Em cinco cenas. Personagem: homem meio calvo com óculos de aros espessos, de cabelos, bigode e cavanhaque pretos, vestindo camisa social e de gravata. Ele está ao telefone. Cena 1. O homem diz ao telefone: TEMOS A HONRA DE CONVIDÁ-LA PARA A ESTREIA DE "VACA ATOLADA"! Cena 2. Com a mão direita espalmada voltada para cima, o homem prossegue: SIM, O FILME, BASEADO NO ROMANCE DE SUA AUTORIA... [reticências] FIZEMOS UM CONTRATO, LEMBR... [reticências]?. Cena 3. Com a cabeça voltada para cima, ele pergunta: O QUÊ?. Cena 4. Agora voltando a cabeça para frente, ele diz: É “FACA AMOLADA”?, "BEM... [reticências]" Cena 5. Olhando para frente, repete: BEM... [reticências]

LAERTE. Piratas do Tietê. Folha de São Paulo, São Paulo, 20 maio 2016. Ilustrada. página C5.

  1. A personagem da tirinha está dialogando com alguém ao telefone. Que elementos de sua fala indicam que ouve um turno do interlocutor não registrado na tirinha?
  2. O humor na tirinha é produzido principalmente pela exploração de sons parecidos em palavras diferentes. O que diferencia o título do filme e o do romance?
  3. Explique como devemos ler as quatro ocorrências de reticências na tirinha.
  4. O verbo convidar, utilizado no primeiro quadro, apresenta uma modificação em sua fórma (convidá). Descreva essa mudança e formule uma hipótese para explicar por que ela ocorreu.
Oxítonas seguidas de los e las

Você lembra que as palavras oxítonas são aquelas nas quais a última sílaba é tônica, ou seja, é pronunciada com maior intensidade. As regras de acentuação das oxítonas são duas apenas:

um Marcam-se com acento agudo todas as oxítonas terminadas em -a(s), -e(s) e -o(s) semiabertos (jacaré e avó) e com acento circunflexo as oxítonas que acabam em -e(s) e -o(s) semifechados (dendê e avô).

dois Marcam-se com acento agudo o ê nas sílabas terminadas em -em ou -ê êne ésse (alguém, armazém, parabéns). Atenção: esta regra só vale para as oxítonas, portanto palavras como ontem não recebem acento, pois são paroxítonas.

Quando uma palavra oxítona for uma fórma verbal acrescida dos pronomes a e o, algumas modificações serão necessárias. Observe a seguir.

dar

+

o

=

dá-lo

contar

+

as

=

contá-las

saber

+

os

=

sabê-los

ler

+

a

=

lê-la

por

+

o

=

pô-lo

Ao acrescentar o pronome, o verbo perde o -r final e o pronome ganha um -l inicial. Essa alteração acontece por uma questão de eufonia, isto é, para tornar mais agradável a sonoridade, como em “contá-las”.

Além disso, as regras de acentuação das oxítonas passam a valer para o verbo.

Portanto, lembre-se sempre de que:

As fórmas verbais oxítonas terminadas em -a, -e e -o, seguidas de lô ou lôs e lá ou lás devem ser acentuadas de acordo com as regras de acentuação de todas as palavras oxítonas.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Leia a tirinha de Armandinho:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Armandinho, um menino com cabelos azuis, vestindo camiseta branca e short azul. Um menino com cabelos castanhos, usando camiseta branca e short vermelho e segurando um violão. Uma menina com cabelos pretos presos em rabo-de cavalo, com umas flor amarela na cabeça. Ela usa camiseta bege e short branco. Pai de Armandinho, representado pelas pernas de um homem usando calças compridas cinza e sapatos azuis. Cena 1. À esquerda, o pai de Armandinho diz: GAMBÁS SÃO ANIMAIS SILVESTRES PROTEGIDOS POR LEI. Ao lado, Armandinho e o menino com o violão debaixo do braço estão voltados para a direita, com a cabeça levemente inclinada para cima. Entre eles, o sapo está sorrindo.  Cena 2. Um gambá com a cabeça de fora de uma casinha de passarinhos. Fora do quadro, o pai de Armandinho diz: VAMOS DEIXÁ-LO EM PAZ QUE ELE VOLTA AO LUGAR DELE, A MATA!. Cena 3. O menino com o violão está com o corpo voltado para a esquerda, na direção do pai de Armandinho, e a cabeça inclinada para cima. Ele diz: NÃO TEM MAIS MATA, TIO! - CORTARAM TUDO PRA FAZER UM CONDOMÍNIO! Ao lado, o sapo também está voltado para o pai de Armandinho. À direita, Armandinho e a menina estão voltados para a direita, com a cabeça levemente inclinada para cima, observando algo atentamente. A menina tem um pássaro pousado em sua cabeça.

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: a cê Beck, 2016. página 68.

  1. Geralmente as tirinhas são construídas com a intenção de produzir humor. Esse efeito não está presente nessa tirinha. Qual é a intenção do autor ao produzi-la? O que indica isso?
  2. Quais palavras do texto são oxítonas?
  3. Quais dessas palavras são verbos?
  4. Qual desses verbos obedece à regra de acentuação estudada?

2. Leia a tirinha do Recruta Zero:

Tirinha. Em duas cenas. Personagens: Recruta Zero, de touca cobrindo os olhos e avental brancos. Platão, homem corpulento de cabelos pretos, de óculos e vestindo uniforme cinza. Eles estão em um restaurante. Recruta Zero está atrás da mesa de servir, segurando uma colher com mão direita. Cena 1. Recruta Zero serve Platão, colocando comida em seu prato. Zero diz: SABE QUANTAS BATATAS EU TIVE QUE DESCASCAR PARA FAZER ESSE PURÊ?. Platão, do outro lado da mesa, está segurando seu prato e olhando para o Recruta Zero. Ele diz: NÃO!. Cena 2. Com os braços estendidos para cima, a boca escancarada, Zero  diz: 523! Platão, olhando para a comida em seu prato, diz: MUITO OBRIGADO! AGORA ME SINTO CULPADO DEMAIS PARA COMER!

WALKER, Greg; WALKER, Mort. Recruta Zero. O Estado de São Paulo, São Paulo, 17 março. 2017. Caderno 2, página C4.

  1. Que recurso foi utilizado pelo autor da tirinha para reforçar que a fala do Recruta Zero no último quadro é um grito?
  2. Por que a personagem que interage com o Recruta Zero diz sentir culpa?
  3. Reescreva em seu caderno a oração do último balão de fala, acrescentando ao verbo comer o complemento o purê. Em seguida, reescreva essa oração, agora utilizando o pronome o no lugar de purê.
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c. Reescreva a oração do último balão de fala, acrescentando ao verbo comer o complemento o purê. Em seguida, reescreva essa oração, agora utilizando o pronome o no lugar de purê.

d. Se você respondeu corretamente à atividade anterior, a fórma verbal com o pronome sofreu algumas alterações. Explique-as.

Produção de texto

Soneto

O que você vai produzir

Depois de ler os sonetos desta Unidade, você escreverá agora seu próprio soneto, usando quatro estrofes e o esquema de rima a bê a bê á bê bê á cê dê cê dê cê dê.

Planejamento

  1. Comece pensando sobre o que vai escrever. Você vai escrever sobre sentimentos ou fará uma reflexão filosófica sobre algum assunto de seu interesse? A fórma será a do soneto, mas o conteúdo ficará a sua escolha.
  2. Você viu que a fórma do poema também pode se relacionar a seu conteúdo, como no poema “Coração”, de Guilherme de Almeida, que foi feito com uma musicalidade proposital, para lembrar as batidas de um coração. Pense em alguma maneira de relacionar a fórma e o conteúdo em seu soneto.

Produção

1. Agora você escreverá seu soneto. Para isso, use o caderno para criar vários rascunhos do poema, pelo menos três, antes de achar a fórma definitiva.

Versão adaptada acessível

1. Agora você escreverá seu soneto. Para isso, crie vários rascunhos do poema, pelo menos três, antes de achar a forma definitiva.

  1. Depois de achar a versão para escrever, troque seu poema com um colega da sala e conversem sobre o que ficou bom e o que precisa melhorar.
  2. Nos poemas que você estudou nesta Unidade, sempre havia algumas imagens poéticas que davam base ao que o poema dizia. Escolha algumas imagens poéticas para dar fórma a seu poema.
  3. Não se esqueça do formato do texto. Nos sonetos, encontramos sempre quatro estrofes. Retome a seção O gênero em foco e organize seu poema conforme o formato padrão desse gênero.

Revisão

  1. Para esses poemas, o processo de revisão será feito de modo coletivo. Para isso, o professor montará um pequeno varal na sala, no qual os poemas serão pendurados.
  2. A partir disso, leia seu poema e os de seus colegas de modo que todos possam conversar sobre as imagens poéticas utilizadas, o formato dos versos e as rimas escolhidas.
  3. Para revisar os poemas, pensem nos critérios a seguir.

Em relação à fórma do soneto

  • Do ponto de vista da fórma, os poemas estão organizados em quatro estrofes, sendo as duas primeiras com quatro versos e as duas últimas com três versos?
  • Foram utilizadas imagens poéticas criativas no conteúdo dos sonetos?

Em relação às rimas

  • Foram utilizados os tipos de rima estudados na seção O gênero em foco?
  • Do ponto de vista do número de sílabas poéticas, quais tipos de verso foram usados?

Em relação à correção ortográfica

  • Foram cometidos erros ortográficos nas estrofes que precisam ser corrigidos?
  • O recurso enjambement, ou cavalgamento, em que a oração começa em um verso e termina no outro, foi usado de alguma fórma?

Circulação

1. Para tornar os poemas públicos, você, seus colegas e o professor farão um flash mob. Depois que todos os poemas estiverem prontos, vocês deverão pensar em um modo de fazer uma ação poética na escola que mostre de que maneira a poesia está presente no cotidiano.

Saiba +

Flash mob

É uma manifestação artística, organizada pela internet, que usa o efeito surpresa e para mobilizar pessoas e questionar a rotina que levamos nas grandes cidades. Em escolas, universidades ou comunidades virtuais, grupos organizam intervenções artísticas públicas em que se canta em coro, dança ou se declama de modo surpreendente, sem que as outras pessoas consigam compreender completamente o que está acontecendo.

Fotografia. Manifestação artística a céu aberto. Grupo de jovens vestindo roupas coloridas pratica em duplas movimentos de equilibrismo semelhantes aos de espetáculos circenses: alguns se apoiam deitados de costas no chão, com as pernas estendidas para cima, enquanto o colega com quem cada um deles forma dupla se equilibra de cabeça para baixo, com as pernas afastadas estendidas para cima, enquanto apoia os ombros nos pés do colega que está deitado, segurando as mãos deste. Alguns estão em pé de braços erguidos, sobre os quais se apoia o colega de dupla, que estende braços e pernas suspensos no ar, arqueando o corpo para trás. Ao redor, pessoas observando os jovens. Ao fundo, área arborizada sob céu azul com algumas nuvens brancas.
Crianças e jovens participam de flash mob em Nova York, em 2022.

2. Uma sugestão é um grupo de estudantes se reunir na hora do intervalo e declamar um poema. Pensem em uma ação surpreendente e criativa!

Avaliação

  1. Depois de todo esse processo, você, seus colegas e o professor vão fazer uma roda de conversa.
  2. Em roda, conversem sobre o que foi aprendido sobre o gênero soneto e sobre poema e poesia em todas as ações realizadas ao longo da Unidade.
  3. Você conseguiu aprender a diferença entre poema e poesia?
  4. Como foi apresentar os poemas produzidos para a escola?
  5. Como você vê a poesia e os poemas depois das atividades e ações feitas com os gêneros poéticos nesta Unidade?

Glossário

bem-aventurança
: conceito religioso que marca um tipo de felicidade extrema.
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crepúsculo
: momento em que o céu fica com um colorido marcante quando o Sol nasce ou se põe.
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manifesto
: fórma verbal oriunda de manifestar, manifestado.
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mórbido
: relativo a doença.
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outrora
: em outro momento, passado.
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palpitar
: agitar ligeiramente.
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caiado
: pintado a cal.
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esgarçado
: rasgado, desfeito, alargado.
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arcanjo
: diz-se do anjo pertencente a uma ordem superior.
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borralheira
: local onde se acumula a borralha ou cinza do forno ou da lareira.
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neurastênico
: perda geral do interesse, cansaço extremo que atinge tanto a área física quanto a intelectual.
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pipilar
: piar, emitir som como as aves.
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