UNIDADE 4  Um olhar atento para o cotidiano

Faça as atividades no caderno.

Fotografia. Instalação artística em uma rua. Nas laterais, construções com varandas e pinturas nas paredes. No centro, uma passagem com piso verde e calçadas de ambos os lados. Algumas pessoas estão caminhando e outras estão sentadas em bancos. Postes de iluminação decorados com pinturas de flores e vasos de plantas compõem o ambiente. Na parte superior, diversos guarda-chuvas coloridos estão flutuando no ar.
IMPACTAPLAN Art Productions. Umbrella Sky Project. 2019. Águeda, Portugal.
  1. Observe atentamente a imagem e responda às questões a seguir.
    1. O que você vê na fotografia?
Versão adaptada acessível

a. Com suas palavras, descreva a imagem com as informações que você tem dela.

  1. O que chama a sua atenção nessa imagem? Explique.
  2. Como essa intervenção pode transformar o cotidiano de quem passa por ali?
  1. Além de publicar notícias, reportagens e artigos de opinião sobre acontecimentos do dia a dia, os jornais e as revistas abrem espaço para textos literários que entretêm o leitor e o convidam à reflexão. São as crônicas, nas quais um escritor apresenta sua visão particular sobre determinado assunto ou acontecimento, incluindo-se histórias sobre o cotidiano.
    1. Você tem o hábito de ler crônicas? Comente sua resposta.
    2. Em algum momento de sua vida escolar, você leu crônicas? E fóra da escola? Relate sua experiência.
    3. Se você fosse um cronista e se inspirasse na intervenção da imagem para escrever sua crônica no jornal de sua cidade, que título você daria a ela? Por quê?

Saiba +

Projeto Umbrella Sky

O céu de guarda-chuvas, que parecem flutuar no ar, é o ponto forte de um projeto que traz diversas instalações artísticas coloridas ocupando os espaços públicos. A proposta é levar cor para as áreas cinza das cidades e permitir a interação com os transeuntes. Em Águeda, Portugal, onde o projeto começou, a instalação pode ser visitada entre julho e setembro; mas o projeto também percorre outras cidades.

Respostas e comentários

1. Respostas pessoais.

2. Respostas pessoais.

Competências gerais da Bê êne cê cê: 3 e 4.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 2, 4 e 5.

Competências específicas de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 10.

Objetos de conhecimento

Leitura: reconstrução das condições de produção, circulação e recepção; apreciação e réplica; construção da textualidade e compreensão dos efeitos de sentidos provocados pelos usos de recursos linguísticos e multissemióticos; estratégias de leitura.

Oralidade: produção de textos orais; oralização.

Produção de texto: consideração das condições de produção; estratégias de produção: planejamento, textualização e revisão/edição; construção da textualidade.

Análise linguística/semiótica: recursos linguísticos e semióticos que operam nos textos pertencentes aos gêneros literários; fono-ortografia; morfossintaxe, figuras de linguagem.

Respostas

2. a) O objetivo da questão é mobilizar o conhecimento prévio da turma sobre o gênero.

b) Converse sobre os espaços de circulação da crônica. O gênero circula tanto na esfera jornalística como na esfera literária. Explique aos estudantes que elas estão presentes no ambiente escolar por ser um gênero breve, que estimula a formação do leitor, mas que seu espaço de circulação mais comum é a imprensa. Muitas crônicas são publicadas, primeiramente, na imprensa e depois reunidas em coletâneas do gênero.

c) Incentive os estudantes a pensar em um título que expresse seu ponto de vista sobre a intervenção.

Sobre esta Unidade

A crônica é o gênero de estudo desta Unidade. A compreensão da leitura e de sua estrutura é trabalhada nas crônicas “Visitante noturno” e “O fruto da solidão”, apresentadas na seção Leitura em conjunto com Conhecimentos linguísticos e gramaticais (verbos, orações coordenadas e subordinadas). Na seção Oralidade, os estudantes vão pesquisar sobre outros cronistas e apresentar para a turma um áudio sobre o autor escolhido. Eles também terão a oportunidade de produzir uma crônica na seção Produção de texto.

Sobre Saiba+

Se julgar pertinente, realize um trabalho interdisciplinar com o professor de Arte sobre intervenções artísticas urbanas, para que os estudantes possam conhecer mais sobre essa linguagem artística e outras ações realizadas no Brasil e no exterior.

Leitura 1

Faça as atividades no caderno.

Contexto

A crônica é um texto verbal breve que trata geralmente de assuntos e acontecimentos do dia a dia. Escrito de um jeito leve e coloquial, esse gênero comumente é publicado no espaço de “variedades” da imprensa, representando um “respiro” para o leitor em meio ao universo das notícias. Situadas entre a esfera jornalística e a esfera literária, muitas vezes, algumas crônicas se tornam atemporais e passam a circular em livros.

Você lerá a seguir uma crônica publicada no livro Boca de luar (1984), uma reunião de crônicas que Carlos Drumôn de Andrade escreveu para o “Caderno B” do Jornal do Brasil, periódico carioca fundado em 1891. Durante 15 anos (de 1969 a 1984), três vezes por semana, Drumôn “conversou” com os leitores do jornal por meio de suas crônicas.

Carlos Drumôn de Andrade

AUTORIA

Carlos Drumôn de Andrade (1902-1987) nasceu na cidade de Itabira do Mato Dentro, em Minas Gerais. É considerado um dos maiores nomes da poesia brasileira. Além de poesia, Drumôn produziu crônicas e contos. Contribuiu como cronista nos jornais mineiros, de 1930 a 1934; no Correio da Manhã, de 1954 a 1968; no Jornal do Brasil, de 1969 a 1984, e reuniu suas crônicas em dez livros.

Capa de livro. Na parte superior, fotografia em preto e branco de parte de uma grande pedra; em volta, o mar. Diversas pessoas estão sobre a pedra, algumas sentadas e outras em pé.  Na parte inferior, o título do livro: BOCA DE LUAR e o nome do autor: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Fundo branco.
Capa do livro Boca de Luar, de Drumôn.

Antes de ler

Antes da leitura da crônica, leia o título do texto e discuta com os colegas estas questões.

  • O título da crônica desperta seu interesse pela leitura? Justifique.
  • Quem você imagina que seja o visitante noturno? Qual será o tema da crônica?

Visitante noturno

O inseto apareceu sobre a mesa como todos os insetos: sem se fazer anunciar. E sem que se atinasse por que motivo escolhera aquele pouso. Não parecia bicho da noite, desses que não podem ver lâmpada acesa, e logo se aproximam, fascinados. Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.

Ninguém? O homem, que tem o hábito de ficar altas horas entre papéis e livros, sentiu-lhe a presença e pensou imediatamente em esmagar o intruso. Chegou a mover a mão. Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.

Respostas e comentários

Respostas pessoais.

Sobre Contexto

É possível explicar aos estudantes a origem da palavra crônica, que vem do grego crônos, que significa “tempo”. Registros históricos comprovam que as primeiras crônicas foram escritas na Idade Antiga. Naquela época, o propósito desse gênero era relatar acontecimentos históricos situados no tempo, documentando fatos ocorridos. Já os cronistas contemporâneos buscam relatar, de seu ponto de vista pessoal, seja em tom literário, jornalístico ou político, os acontecimentos cotidianos de sua época, publicando suas crônicas em veículos de grande circulação. Escrevendo como quem troca ideias com seus leitores, como se estivessem muito próximos, os autores os envolvem com reflexões sobre a vida social, política, econômica, por vezes de fórma humorística, outras, de modo mais sério, outras, com um jeito poético e mágico que indica o pertencimento do gênero à literatura. As que têm aspectos literários chegam a se confundir com contos. Ao narrar, muitas vezes inserem em seu texto trechos de diálogos, recheados com expressões cotidianas.

Sobre Antes de ler

A proposta é que os estudantes levantem hipóteses sobre o texto com base no título. Permita que eles expressem livremente as expectativas em relação ao texto e peça-lhes que escrevam no caderno as suposições de quem seja o visitante noturno.

Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal nenhum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologiaglossário não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça. E na dúvida, era melhor deixar viver aquilo, que nem nome tinha para ele. Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?

O inseto parecia pouco ligar para ele, juiz autonomeado e algoz em perspectiva. Dormia ou modorravaglossário sobre a mesa literária, indiferente, simplesmente. Chegara por acaso, sumiria daí a pouco; deixá-lo viver a seu modo, que era um viver anônimo, desligado de inquietações humanas, invariável dentro da natureza: curto e pobre.

Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animálculo que momentos antes pensara em destruir. Como se alguém viesse de longe para vê-lo, fazer-lhe companhia, em sua noite de trabalho. Não conversava, não incomodava, era uma questão apenas de estar à sua frente, imóvel, em secreta comunhão. Ele fôra o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas aquela fôra a casa de sua preferência.

A menos que o acaso determinasse aquele encontro. Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a esta hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. A essa altura, espantou-se com a mobilidade de suas reações. Passava de verdugoglossário a sentimentalão, depois a observador cético e crítico, finalmente perdia-se na confusão das várias atitudes que podemos assumir diante de um inseto instalado na mesa de um escritório, a uma hora que ainda não é madrugada mas já é noite alta e de sono profundo.

Ilustração. Um homem com cabelos pretos lisos, usando óculos redondo, camisa branca e colete marrom. Ele está sentado em uma cadeira de escritório, com a mão direita sobre uma mesa e a mão esquerda apoiada no rosto. O homem está olhando para baixo, na direção de um inseto sobrevoando uma folha de papel  sobre a mesa à sua frente. Um foco de luz vindo de uma luminária ilumina a folha de papel e o inseto.  Espalhados sobre a mesa, diversos papéis, lápis, canetas e livros. Ao fundo, uma estante com alguns livros e janela com vista noturna da silhueta de uma cidade.
Respostas e comentários

Habilidades trabalhadas nesta seção e em suas subseções (Estudo do texto e O gênero em foco)

(ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos fórmas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

(ê éfe seis nove éle pê quatro sete) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes fórmas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.

(ê éfe oito nove éle pê três três) Ler, de fórma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de fórma livre e fixa (como raicái), poema concreto, sáiberpoema, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

Orientação

Neste momento, é interessante fazer a leitura compartilhada da crônica com os estudantes, mediando a interação leitor-texto, questionando-os e orientando-os sobre os elementos que se apresentam no gênero textual em estudo e observando que esse texto faz parte do campo artístico-literário.

Os estudantes devem exercitar a leitura de textos visando o desenvolvimento da capacidade de ler, de fórma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances infantojuvenis, contos populares, contos de terror, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

Aquietou-se, afinal, na contemplação do “bicho da terra tão pequeno”. Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo, que tivesse olhos e um projeto de asas – o suficiente para deslocar-se no espaço em aventuras breves. E não era uma aventura simples: a altura do edifício exigia esforço grande para chegar da árvore até o décimo primeiro andar. Entretanto, o botão vivo o fizera, e ali estava, tranquilo ou cansado, à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.

O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. E na multidão de insetos, imagináveis e inimagináveis, só lhe interessava aquele, companheiro noturno vindo de não se sabe onde, a caminho de ignorado rumo.

Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz. Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade. E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.

A nada? Muitas conversas entre homens também não levam a resultado algum, mas há sempre a esperança de um entendimento que pode vir das palavras ou de uma troca desprevenida de olhares. E o olhar pode penetrar mais fundo que as palavras. O homem sabia disto. Mas aí notou que, sabendo falar alguma coisa, não era perito em ver diretamente o real. A figura do inseto dizia-lhe pouco. Dos dois, talvez fosse ele, homem, o que menos habilitado se achava para uma fórma de comunicação, aquém – ou além – dos códigos tradicionais.

Distraiu-se avaliando essas limitações e, ao voltar à observação do visitante, este havia desaparecido, decepcionado talvez com a incomunicabilidade dos gigantes. Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, esta nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página. 13-15.

Ilustração. Destaque de parte de uma mesa com uma luminária iluminando uma folha de papel sobre ela, por onde um pequeno inseto sobrevoa. Ao redor da mesa, diversos papéis e canetas espalhados.
Respostas e comentários

Orientação

Continuando a interação com a turma ao longo da leitura da crônica, reflita sobre a época em que ela foi escrita e publicada e também sobre seu tema, questionando os estudantes sobre sua atualidade ou não.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Relembre o que você discutiu com os colegas antes da leitura e responda oralmente às questões.
    1. As expectativas que você tinha ao ler o título se confirmaram após a leitura? Explique.
    2. O título de um texto deve despertar o interesse do leitor e indicar o tema que será abordado na crônica. O título da crônica tem essas características? Justifique.
  2. A crônica é um gênero textual que, com base na observação e no relato de fatos e acontecimentos do cotidiano, chama a atenção dos leitores para aquilo que parece invisível para a maioria das pessoas, convidando à reflexão.
    1. Que evento motiva a escrita da crônica “Visitante noturno”?
    2. Em sua opinião, esse evento é relevante ou banal? Justifique.
  3. Leia no quadro a seguir algumas características e expressões atribuídas às personagens da crônica.

coisinha insignificante  nocivo  algoz  animálculo  sentimentalão

bichinho  gigante indeciso  botão marrom rombudo

intruso  verdugo  desconhecido  juiz autonomeado

  1. Quais dessas características são atribuídas ao inseto, e quais, ao homem?
  2. Observe que o inseto é caracterizado reiteradamente pela ideia de pequenez, ao passo que o homem, pela ideia de grandeza. Que efeito de sentido produz essa diferenciação?
  1. “Visitante noturno” é uma crônica que tem elementos próprios das narrativas (personagens, tempo, espaço, narrador) e apresenta uma pequena história.
    1. Na crônica, o autor adota um ponto de vista para contar a história. Essa crônica está na 1ª ou na 3ª pessoa? De que modo esse ponto de vista influencia na narrativa?
    2. O narrador demonstra conhecer os sentimentos e pensamentos das personagens, ou somente conta o que observa? Justifique com um trecho do texto e explique os efeitos que essa escolha produz na crônica.
  2. Observe os fragmentos a seguir.

reticências Era uma coisinha insignificante, encolhida sobre o papel e ali disposta, aparentemente, a passar o resto de sua vida mínima, sem explicação, sem sentido para ninguém.

Ninguém? reticências

reticências E os dois, homem e inseto, assim ficaram longo tempo, na muda inspeção, ou conversa, que não conduzia a nada.

A nada? reticências

Ilustração. Um homem com cabelos pretos lisos, usando óculos, camisa e colete. Ele está sentado em uma cadeira de escritório, com as mãos sobre uma mesa, olhado na direção de uma folha de papel com um inseto em cima dela.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página. 13-14.

As perguntas destacadas são formuladas por quem? Na sua opinião, que efeito elas causam no texto?

Versão adaptada acessível

As perguntas "Ninguém?" e "A nada?" são formuladas por quem? Na sua opinião, que efeito elas causam no texto?

Respostas e comentários

1. a) Resposta pessoal.

1. b) Sim. O título “Visitante noturno” desperta o interesse do leitor para saber quem é o visitante noturno e quem ele visita.

2. a) A presença de um inseto no meio da noite diante de um homem é o motivo para a escrita da crônica.

2. b) Resposta pessoal.

3. a) Inseto: coisinha insignificante; nocivo; animálculo; bichinho; botão marrom rombudo; intruso; desconhecido. Homem: algoz; sentimentalão; gigante indeciso; juiz autonomeado; verdugo.

3. b) Produz um efeito de sentido de oposição, marcando a grande diferença e distância entre as duas personagens.

Respostas

1. a) Aproveite para comentar com os estudantes que sempre iniciamos uma leitura com expectativas. Compreendê-las e depois verificar se elas foram ou não atendidas pode colaborar para o desenvolvimento da formação da nossa trajetória como leitor.

4. a) A crônica foi escrita em 3ª pessoa. O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante. Ainda que chegasse a identificá-lo como espécie, não avançaria muito no conhecimento do indivíduo, que era único por ser entre todos o que o visitava. reticências. O estudante pode citar a visão mais ampla em relação ao que acontece.

b) O narrador, além de observar os acontecimentos de perto, sabe tudo o que o homem sente e pensa, conforme os seguintes trechos: “O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante” ou “Já não escrevia. Olhava. Mirava. Sentia-se também olhado e mirado, quando o inseto fez ligeiro movimento que o colocou diretamente sob o foco de luz.”. Já em relação ao inseto, o narrador somente o observa de fóra sem conhecimento de sua interioridade, como no seguinte trecho: “O inseto parecia pouco ligar para ele”. É importante que o estudante explique que o narrador se comporta de fórma diferente em relação ao homem e ao inseto, fazendo com que o leitor não tenha acesso ao que o inseto sente.

5. Pelo narrador. As duas perguntas têm como função questionar a afirmação anterior.

Faça as atividades no caderno.

Ícone retomada de tópicos

Discurso indireto livre

Em um texto narrativo, quando é citada a voz de uma personagem, podem ser utilizados três tipos de discurso: o discurso direto, o indireto e o indireto livre. Podemos considerar o discurso indireto livre a mescla do discurso direto (a personagem fala diretamente sem a intermediação do narrador) com o discurso indireto (quando o narrador utiliza as próprias palavras para reproduzir a fala de uma personagem). Observe este exemplo da crônica lida: “Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal nenhum. Inseto nocivo? Talvez.”. Nesse trecho, temos acesso à consciência da personagem. Note que não é possível separar a fala do narrador da fala da personagem.

6. Leia três trechos da crônica.

um.

O homem não pensou em recorrer às enciclopédias para identificar o visitante.

dois.

Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animálculo que momentos antes pensara em destruir.

três.

Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página 13-14.

a. Transcreva, no caderno, a opção em que há uso de discurso indireto livre.

Versão adaptada acessível

a. Transcreva a opção em que há uso de discurso indireto livre.

  1. Reescreva, em discurso indireto, o trecho identificado na atividade anterior.
  2. Agora, reescreva o mesmo trecho em discurso direto.
  3. O uso do discurso indireto livre contribui para aproximar o leitor da história contada. Por que isso acontece?

7. Algumas palavras utilizadas na crônica não são tão corriqueiras, mas é possível deduzir o sentido delas com base no contexto, sem ser necessária a consulta ao dicionário. Releia os trechos a seguir e tente identificar o sentido das palavras em destaque.

um.

reticências Uma ternura imprevista brotou no homem pelo animálculo que momentos antes pensara em destruir reticências.

dois.

Era alguma coisa parecida com um botão marrom rombudo reticências.

três.

reticências à mercê do gigante indeciso, que procurava entender, não propriamente sua presença, mas a turbação íntima que essa presença despertava no gigante.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página 13.

Agora, converse com os colegas e veja se os significados indicados por eles foram semelhantes. Utilizem um dicionário para confirmar as hipóteses de vocês.

Respostas e comentários

6. a) três.

7. Possíveis respostas são: animal muito pequeno, achatado e perturbação.

Respostas

6. b) Sugestão: o homem se questionou se teria direito de aplicar penas de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios nem sequer para reagir, quanto mais para explicar-se.

c) Sugestão: o homem perguntou-se: – Com que direito aplicaria pena de morte a um desconhecido infinitamente desprovido de meios sequer para reagir, quanto mais para explicar-se?

d) O leitor tem acesso direto aos pensamentos e sentimentos das personagens por meio do discurso indireto livre; isso aproxima o leitor do que está sendo narrado.

7. Permita que os estudantes compartilhem as respostas.

Sobre discurso indireto livre

Segundo Fiorin, No discurso indireto livre, misturam-se duas vozes, a do narrador e a do personagem reticências Há dois tons diferentes, que permitem perceber essas duas vozes: o tom mais ou menos neutro da narração e o tom entre colérico e resignado do personagem. Esse autor retoma, nessa afirmação, os conceitos propostos por Báquitin, em que o autor afirma que o uso do discurso indireto livre nos gêneros em prosa está ligado ao registro de mundo.

Indicação de livro

FIORIN, José Luiz. Interdiscursividade e intertextualidade. In: BRAIT, béf (Organização.). Báquitin: outros conceitos-chave. São Paulo: Cortez, 2006. página 161.

michil bactín. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1995.

Faça as atividades no caderno.

8. Na crônica, o homem, após notar a presença do inseto, levanta a mão para matá-lo. Releia:

Deteve-se. Não seria humano liquidar aquele bichinho só porque estava em lugar indevido, sem fazer mal nenhum. Inseto nocivo? Talvez. Mas sua ignorância em entomologia não lhe dava chance de decidir entre a segurança e a injustiça.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página13.

  1. Por que essa ação seria injusta?
  2. Após esse primeiro contato com o bichinho, no quarto parágrafo do texto, o homem cria uma primeira hipótese para explicar a presença do inseto em seu escritório. Que hipótese é essa?
  3. No quinto parágrafo o homem elabora uma segunda hipótese sobre a presença do inseto. De que modo as diferentes hipóteses poderiam influenciar nas atitudes do homem?
  1. Ao final do quarto parágrafo, o narrador diz que o viver do inseto era curto e pobre.
    1. O que significa um viver curto, nesse contexto?
    2. Avalie as acepções a seguir e transcreva, no caderno, a que melhor explica o viver pobre do inseto nesse contexto.
      1. Pouco favorecido.
      2. De poucas posses.
      3. Que inspira compaixão.
  2. Na crônica são utilizados recorrentemente verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo (viesse, houvesse, determinasse, voltasse) e no futuro do pretérito (seria, aplicaria, sumiria). Observe os verbos destacados neste trecho.
Versão adaptada acessível

10. Na crônica são utilizados recorrentemente verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo (viesse, houvesse, determinasse, voltasse) e no futuro do pretérito (seria, aplicaria, sumiria). No trecho a seguir, observe os verbos "determinasse" e " voltasse".

A menos que o acaso determinasse aquele encontro. Era possível. O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a esta hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação. reticências

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. páginas treze e catorze.

Qual é a relação entre o uso desses tempos verbais e a postura do homem quanto à presença do inseto naquele espaço?

Ilustração. Um homem com cabelos pretos lisos, usando óculos, camisa e colete. Ele está sentado à mesa, com os cotovelos sobre a mesa e as mãos juntas, com os dedos entrelaçados, e a cabeça levemente voltada para a esquerda, observando um inseto voando ao redor dele.

11. As aspas podem ser utilizadas, entre outros propósitos, para destacar determinados termos, bem como para citar as palavras de outro texto. No caso do trecho “bicho da terra tão pequeno”, no sétimo parágrafo, as aspas são utilizadas para citar partes de outros textos. Leia-os.

um. O homem, bicho da Terra tão pequeno chateia-se na Terra lugar de muita miséria e pouca diversão, reticências.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. O homem; as viagens. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. As impurezas do branco. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. página 27.

dois. No mar tanta tormenta, e tanto dano,

Tantas vezes a morte apercebida!

Na terra tanta guerra, tanto engano,

Tanta necessidade avorrecidaglossário !

Onde pode acolher-se um fraco humano,

Onde terá segura a curta vida,

Que não se arme, e se indigne o Céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno?

CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas. Disponível em: https://oeds.link/bQyZvw. Acesso em: 11 março. 2022.

Respostas e comentários

8. a) Porque o bicho aparenta ser inofensivo e estava apenas no lugar errado.

8. b) Que o inseto chegara por acaso e sumiria dali a pouco.

8. c) As hipóteses poderiam influenciar na atitude do homem de matar ou não o inseto.

9. a) Significa uma vida de pouca duração.

9. b) Resposta correta: três

Respostas (continuação)

10. O emprego de verbos no pretérito imperfeito do subjuntivo serve para a formulação de diversas hipóteses e questionamentos que o homem faz sobre a presença do inseto.

Relembre os estudantes de que as fórmas verbais do futuro do pretérito e pretérito imperfeito do subjuntivo estão relacionadas ao universo hipotético ou dubitativo.

Faça as atividades no caderno.

  1. Tanto no poema de Drumôn como no trecho de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, a expressão citada bicho da terra tão pequeno refere-se ao homem. A quem se refere essa expressão, na crônica “Visitante noturno”?
  2. Por que, na crônica, essa expressão aparece entre aspas? Responda à questão considerando essa expressão nos diferentes textos.

Saiba +

Luís Vaz de Camões

É considerado um dos maiores poetas portugueses. Compôs o poema épico Os Lusíadas para celebrar as glórias portuguesas durante as grandes navegações (Viagem de Vasco da Gama às Índias). Camões morreu aos 55 anos, em 1580.

Fotografia. Folha de rosto. Uma borda ornamental composta por dois pilares nas laterais, uma base reta e um arco superior contornam o texto: OS LUSÍADAS de Luís de Camões.
Folha de rosto da edição portuguesa de Os Lusíadas, de 1572.

12. Releia o último parágrafo da crônica.

Não é todas as noites que um inseto nos visita. E, se consegue insinuar-nos alguma coisa, esta nunca jamais foi captada para os homens que merecem crédito; só os ficcionistas é que costumam registrá-la, mas quem leva a sério ficcionistas?

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página. 15.

  1. Nesse trecho é empregada a 1ª pessoa do plural pelo narrador. Quais efeitos de sentido produz esse recurso ao final da crônica?
  2. As palavras destacadas retomam qual item?
Versão adaptada acessível

b. As palavras "esta" e "la" retomam qual item no texto?

  1. Ao opor “homens que merecem créditos” aos “ficcionistas”, é possível atribuir que característica aos ficcionistas? Qual é a diferença entre um grupo e outro?
  2. A crônica termina questionando quem leva a sério os ficcionistas. Em sua opinião, por que os ficcionistas não seriam levados a sério? Você concorda com isso?
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Ficção e ficcionista

Quando contamos um fato imaginado por nós, estamos criando uma ficção. Assim fazem os ficcionistas, aqueles que escrevem ficção. Eles têm a liberdade de criar outras realidades, outros mundos. Romances, novelas, contos e filmes são obras de ficção.

13. Em jornais, revistas e sites, há um espaço reservado aos escritores do gênero crônica. Leia um trecho da última crônica publicada por Drumôn no Jornal do Brasil.

Ciaoglossário

Há 64 anos, um adolescente fascinado por papel impresso notou que, no andar térreo do prédio onde morava, um placar exibia a cada manhã a primeira página de um jornal modestíssimo, porém jornal. Não teve dúvida. Entrou e ofereceu os seus serviços ao diretor, que era, sozinho, todo o pessoal da redação. O homem olhou-o, cético, e perguntou:

Respostas e comentários

11. a) A expressão “bicho da terra tão pequeno” refere-se ao inseto.

11. b) As aspas foram utilizadas para marcar que essa expressão se refere a outros textos, aproximando o homem “bicho da terra tão pequeno” (referência do poema e de Os Lusíadas) do inseto da crônica. Amplie a discussão a respeito do uso dessa expressão, explorando a intertextualidade.

Respostas

12. a) Ao empregar a 1ª pessoa do plural, o narrador busca incluir o leitor na reflexão proposta na crônica.

b) Esta e o pronome la retomam alguma coisa que um inseto pode insinuar.

c) Os ficcionistas costumam registrar pequenas coisas, como a visita de um inseto, ao contrário dos homens que merecem crédito, que não captam essas coisas pequenas.

d) Como dito na crônica de Drumôn, os ficcionistas prestam atenção em coisas “pequenas” que, aos olhos de muitas pessoas, podem passar despercebidas. Mas cabe à ficção muitas vezes nos despertar para singularidades da vida que podem nos trazer prazer, a fruição, bem como reflexões sobre diversas questões “escondidas” nessas coisas ditas “pequenas”.

As respostas podem ser compartilhadas entre os estudantes para comparar como cada um interpretou esse questionamento.

Sobre Saiba+

Nesta página, os autores deste livro retomam a expressão “bicho tão pequeno” presente na crônica de Drumôn e em seu poema “O homem; as viagens”, associando-a a um dos versos de Camões em Os Lusíadas, poema épico sobre as viagens marítimas dos portugueses no século dezesseis. O diálogo entre os versos de Drumôn e de Camões é reforçado no texto do Saiba+, que contém dados básicos sobre Camões e sua obra. Se for oportuno, apresente aos estudantes a primeira edição impressa dessa obra clássica, do acervo da Biblioteca Digital Mundial.

Sobre ficção e ficcionista

A ficção nos acompanha cotidianamente e pode proporcionar entretenimento e deleite, possibilitando um distanciamento necessário da realidade. Para José Costa Júnior, em artigo da revista Ítaca, A ficção trata-se então de um tipo de ato comunicativo, onde o leitor é convidado a participar de um jogo, do qual participa deliberadamente e cuja estrutura como jogo é ditada pelo texto da ficção e pela reação do leitor/espectador. A natureza da ficção envolve uma noção diferenciada de verdade, a ser adotada a partir do contato com a ficção. O produto desse contato são nossas reações e interpretações do discurso ficcional.

Os ficcionistas, em decorrência, produzem textos/discursos dotados de verossimilhança suficiente para criar, na percepção do público, um espaço entre acontecimentos factuais e suas representações artísticas, possibilitando sua fruição.

Indicação de artigo

JÚNIOR, José Costa. Por que vivemos o irreal? O estudo filosófico da ficção. Ítaca, Rio de Janeiro, número 18,página 109-132, 2011.

– Sobre o que pretende escrever?

– Sobre tudo. Cinema, literatura, vida urbana, moral, coisas deste mundo e de qualquer outro possível.

O diretor, ao perceber que alguém, mesmo inepto, se dispunha a fazer o jornal para ele, praticamente de graça, topou. Nasceu aí, na velha Belo Horizonte dos anos 20, um cronista que ainda hoje, com a graça de Deus e com ou sem assunto, comete as suas croniquices.

Comete é tempo errado de verbo. Melhor dizer: cometia. Pois chegou o momento deste contumaz rabiscador de letras pendurar as chuteiras (que na prática jamais calçou) e dizer aos leitores um ciao – adeus sem melancolia, mas oportuno.

reticências

Crônica tem esta vantagem: não obriga ao paletó e gravata do editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos grandes problemas; não exige de quem a fez o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, finanças, política nacional e internacional, esporte, religião e o mais que imaginar se possa. Sei bem que existem o cronista político, o esportivo, o religioso, o econômico etcétera., mas a crônica de que estou falando é aquela que não precisa entender de nada ao falar de tudo. Não se exige do cronista geral a informação ou comentários precisos que cobramos dos outros. O que lhe pedimos é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não trivial e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadiação de espírito. Claro que ele deve ser um cara confiável, ainda na divagação. Não se compreende, ou não compreendo, cronista faccioso, que sirva a interesse pessoal ou de grupo, porque a crônica é território livre da imaginação, empenhada em circular entre os acontecimentos do dia, sem procurar influir neles. Fazer mais do que isso seria pretensão descabida de sua parte. Ele sabe que seu prazo de atuação é limitado: minutos no café da manhã ou à espera do coletivo.

reticências

reticências Em certo período, consagrou mais tempo a tarefas burocráticas do que ao jornalismo, porém jamais deixou de ser homem de jornal, leitor implacável de jornais, interessado em seguir não apenas o desdobrar das notícias como as diferentes maneiras de apresentá-las ao público. Uma página bem diagramada causava-lhe prazer estético; a charge, a foto, a reportagem, a legenda bem-feitas, o estilo particular de cada diário ou revista eram para ele (e são) motivos de alegria profissional.

A duas grandes casas do jornalismo brasileiro ele se orgulha de ter pertencido – o extinto Correio da Manhã, de valente memória, e o JORNAL DO BRASIL, por seu conceito humanístico da função da Imprensa no mundo. Quinze anos de atividade no primeiro e mais 15, atuais, no segundo, alimentarão as melhores lembranças do velho jornalista.

E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça. Ceda espaço aos mais novos e vá cultivar o seu jardim, pelo menos imaginário.

Aos leitores, gratidão, essa palavra-tudo.

Ilustração. Rosto de um homem calvo usando óculos de armação redonda.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Ciao. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 setembro. 1984. Caderno B, página 1.

  1. Com base nesse texto, é possível concluir que o gênero crônica trata de um assunto específico? Explique.
  2. De acordo com o cronista, qual é a vantagem de escrever crônica?
  3. O que o autor quis dizer com Comete é tempo errado de verbo?
Respostas e comentários

13. a) Não, a crônica pode tratar de diferentes temas, principalmente ligados aos acontecimentos cotidianos, sendo “território livre da imaginação”.

13. b) A liberdade em escrever de fórma livre, sem as responsabilidades sobre a checagem de fatos, especializar­‑se em um assunto, entre outras possibilidades.

13. c) Que o verbo deveria estar no passado, “cometia”, já que era o último dia do autor como cronista.

Orientação

Depois da leitura, é possível propor à turma uma discussão sobre características literárias das crônicas lidas e compará-las com outros gêneros de crônica, como as esportivas.

O gênero em foco

Crônica

A crônica comumente é um texto curto escrito em prosa que tem como matéria-prima assuntos e fatos do cotidiano. Originalmente, esse gênero se caracterizava pela compilação de fatos históricos organizados de acordo com a ordem cronológica. No entanto, a partir do século dezenove, o gênero passou a circular na imprensa. Inicialmente, a função do gênero era informar ou comentar as questões políticas, sociais e artísticas da época. Aos poucos, a crônica ganhou contornos mais leves e descompromissados, com a finalidade de entreter os leitores.

Folha de livro. Na parte superior, faixa com desenhos geométricos. Na sequência, o texto: AQUI COMEÇA  A CRÔNICA DELREY. Abaixo, texto em duas colunas. Fundo de papel amarelado.
Reprodução fác símile da edição impressa de 1644 da Crônica de dona Joãoprimeiro, escrita pelo português Fernão Lopes, que relatava episódios da História de Portugal.

Entre outros motivos, a evolução histórica do gênero marca o caráter híbrido da crônica, situada entre o jornalístico e o literário, podendo comentar uma notícia recente, expor a opinião do autor sobre um tema, relatar uma experiência vivida, narrar eventos cotidianos, mesclando informações verídicas e inventadas. Leia o início de uma crônica escrita por Ivan Ângelo (1936-) que reflete sobre o que é a crônica:

Uma leitora se refere aos textos aqui publicados como “reportagens”. Um leitor os chama de “artigos”. Um estudante fala deles como “contos”. Há os que dizem: “seus comentários”. Outros os chamam de “críticas”. Para alguns, é “sua coluna”.

Estão errados? Tecnicamente, sim – são crônicas –, mas... Fernando Sabino, vacilando diante do campo aberto, escreveu que “crônica é tudo que o autor chama de crônica”.

ÂNGELO, Ivan. Sobre a crônica. Veja São Paulo, São Paulo, 25 abril. 2007. página. 78.

Fotografia. Retrato de um homem com cabelos brancos, usando camiseta esportiva preta com detalhes em branco. Atrás, fachada de uma construção com portão de grades.
Ivan Ângelo, jornalista, cronista e romancista brasileiro, em foto de 1994.

A crônica tem, então, a marca da flexibilidade.

Em um ensaio intitulado “A vida ao rés do chão”, o crítico literário Antonio Candido (1918-2017) explica que o cronista explora aquilo que é corriqueiro, um acontecimento aparentemente menor (miúdo) ou algo da condição humana, de um ponto de vista muito particular, mas que não é distante do leitor.

Para Candido, nesse mesmo ensaio, a crônica transforma o olhar particular e efêmero da vida de cada um em algo universal e perene.

Respostas e comentários

Orientação

Esta página retoma a crônica, comentando a origem e as transformações desse gênero textual, ressaltando a marca de flexibilidade que ele apresenta. Para ampliar as reflexões sobre esse assunto recomendamos a leitura do artigo “A crônica brasileira tecida pela história, pelo jornalismo e pela literatura”, de Silvânia Siebert (disponível em: https://oeds.link/fDWYCn; acesso em: 16 março 2022).

Faça as atividades no caderno.

Contudo, nem todas as crônicas têm essa grandeza e perduram no tempo. É importante lembrar que esse gênero tem um caráter efêmero, ou seja, é criado dentro da lógica de produção de um jornal: com frequência e em grande quantidade.

As principais características da crônica são:

  • texto escrito em prosa;
  • linguagem coloquial;
  • voz em 1ª pessoa ou 3ª pessoa;
  • cotidiano como tema;
  • visão particular do cronista sobre situação corriqueira;
  • pode provocar riso, reflexões e diferentes emoções;
  • pode predominar a conotação ou a denotação.

Os diferentes tipos de crônica são:

Crônica dialogada: é estruturada em fórma de diálogo para abordar uma situação corriqueira.

Crônica humorística: apresenta uma perspectiva cômica sobre um fato do cotidiano.

Lírica: caracteriza-se pela linguagem poética em que o autor expressa seus sentimentos sobre uma lembrança ou um acontecimento.

Crônica narrativa: destaca-se por colocar em primeiro plano a narração de uma história. Por isso, aproxima-se das características do gênero conto.

Crônica reflexiva: tem como propósito refletir sobre algo de interesse geral a partir de um fato particular.

O que aproxima a crônica e o público a quem se destina?

Ícone pontos de atenção e noções complementares

A crônica e a metalinguagem

É comum que o cronista se debruce sobre seu fazer e crie crônicas com uma dimensão metalinguística, ou seja, em que aparece uma reflexão sobre a própria produção desse gênero. Por exemplo, Rubem Braga, quando escreveu “O padeiro”, comparou sua profissão à do padeiro. Assim como o pão entregue diariamente pelo padeiro, a crônica está no jornal todos os dias para o deleite dos leitores.

Ilustração. Uma mesa. Sobre a mesa, um pão e um jornal impresso.

Saiba +

Nomes da crônica brasileira

No século dezenove, dois autores que se consagraram como romancistas, José de Alencar e Machado de Assis, produziram crônicas para os jornais da época. Na virada do século, destacam-se as produções de Olavo Bilac. No entanto, foi nos anos 1930 que a crônica moderna se definiu, com nomes como Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drumôn de Andrade, e, principalmente, com Rubem Braga, que se dedicou quase exclusivamente a esse gênero. A partir de 1940, surgiram outros grandes cronistas, como Fernando Sabino, Lourenço Diaféria, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Luis Fernando Verissimo, Marina Colasanti, Mario Prata, Antonio Prata, Martha Medeiros e muitos outros.

Respostas e comentários

Sobre A crônica e a metalinguagem

Nesta página, a proposta é refletir sobre o conceito de metalinguagem relacionado ao gênero em estudo. Ou seja, trata-se de propor análises de discursos de cronistas sobre o gênero crônica, ou a autocrítica desses autores ao discorrer sobre os próprios textos, ou, ainda, a produção de crônicas cujo tema são outros gêneros literários. Além disso, a página indica diferentes tipos de crônica que podem ser trabalhados em sala de aula.

Sugestão

A crônica Ciao, lida anteriormente, traz exemplos do uso de metalinguagem. Consulte a biblioteca da escola ou do bairro e apresente outros dois exemplos de crônicas aos estudantes para demonstrar o uso da metalinguagem no gênero.

Indicação de artigo

A obra completa de Machado de Assis está em domínio público (disponível em: https://oeds.link/fVVqJ8; acesso em: 16 março 2022). Nesse site, os interessados também poderão acessar vídeos e informações sobre a vida e a obra do autor.

Outro autor de crônicas cujas obras são acessíveis para a leitura é Lima Barreto.

Sobre Saiba+

Este Saiba+ refere-se aos nomes de importantes cronistas brasileiros, muitos deles ainda atuantes no campo da literatura brasileira. Uma possível atividade para esta seção é propor aos estudantes que investiguem na internet a atuação de cada um desses autores no mundo literário e jornalístico. Outra possibilidade é pedir‑lhes que acessem um vídeo em que a atriz Fernanda Torres fala sobre sua atuação como escritora e cronista (disponível em: https://oeds.link/Ne4zGj; acesso em: 16 março 2022).

Orientação

Estimule os estudantes a discutir os elementos que existem na crônica que a aproximam dos leitores. É possível que apareça como resposta a representação de situações cotidianas, que participam da vivência do público.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 1

Faça as atividades no caderno.

Mais um pouco sobre verbos

Reúna-se com um colega para relerem juntos o trecho da crônica de Drumôn e realizar esta atividade.

reticências O inseto voara a esmo. O homem quis aferrar-se a esta hipótese, bem plausível. Já se envergonhava de ter envolvido o estranho numa aura de sensibilidade, e talvez voltasse ao impulso inicial de eliminação.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página 14.

  1. Os verbos aferrar e envergonhava estão acompanhados de um pronome pessoal oblíquo átono (se). De que pessoa e número são esses pronomes? A quem esses pronomes se referem?
  2. Observem agora este exemplo.

Nós nos aferramos à vida e não desistimos. Não nos envergonhamos disso.

Comparem esse exemplo com o trecho da crônica de Drumôn. O que vocês observam em relação ao uso dos verbos destacados, dos pronomes pessoais átonos ligados a eles e dos sujeitos das orações?

Versão adaptada acessível

Comparem esse exemplo com o trecho da crônica de Drummond. O que vocês observam em relação ao uso dos verbos "aferrar" e "envergonhar", dos pronomes pessoais átonos ligados a eles e dos sujeitos das orações?

c. Os verbos destacados são chamados verbos pronominais. Reflitam sobre as respostas anteriores e levantem hipóteses sobre o que é um verbo pronominal.

Versão adaptada acessível

c. Os verbos citados nos itens anteriores são chamados verbos pronominais. Reflitam sobre as respostas anteriores e levantem hipóteses sobre o que é um verbo pronominal.

Ícone retomada de tópicos

Pronomes pessoais retos e oblíquos

Os pronomes pessoais indicam as pessoas que participam da interação verbal e as pessoas ou coisas sobre as quais se fala. Os pronomes pessoais do caso reto assumem a função de sujeito da oração (eu, tu, você, ele ou eles, ela ou elas, nós, vós). Os do caso oblíquo assumem a função de objeto direto ou indireto e podem ser átonos (me, te, o ou os, a ou as, lhe ou lhes, nos, vos, se) ou tônicos (mim, comigo, ti, contigo, você ou vocês, ele ou eles, ela ou elas, nós, conosco, vós, convosco, si, consigo).

Verbo pronominal

Leia:

O verbo pronominal é aquele que exige ou aceita um pronome oblíquo átono de mesmo número e pessoa do sujeito ao qual se refere.

Veja:

Esquema.
O homem quis aferrar-se a esta hipótese [...]

O homem: sujeito na 3ª pessoa do singular

se: pronome oblíquo átono de 3ª pessoa do singular
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Observação

Há verbos usados apenas na fórma pronominal (por exemplo: Eu me queixei de dor nas costas.), e há aqueles usados também na sua fórma simples (por exemplo: Ele se debateu durante o pesadelo.; Ele debateu o assunto com maestria.). Perceba que, nesses casos, o verbo debater apresenta sentidos diferentes.

Alguns exemplos de verbos pronominais são: queixar-se, enganar-se, aborrecer-se etcétera.

Respostas e comentários

Sobre Mais um pouco sobre verbos

O verbo é o principal elemento de uma oração, pois é a partir dele que se institui a rede de relações sintático-semânticas, ou seja, grande parte dos verbos que indicam ação ou processo demanda a presença do sujeito e de complementos, preposicionados ou não, na estrutura sintática oracional. exêmplo: Paulo cumprimentou Eduardo; Eduardo cumprimentou Paulo; Paulo e Eduardo cumprimentaram-se. Nas atividades desta página, os estudantes devem perceber que os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos e vos exercem a função sintática de complemento ao serem usados na conjugação de determinados verbos do português denominados pronominais: arrepender-se, atrever-se, locomover-se, queixar-se, suicidar-se, cumprimentar-se, pentear-se etcétera

Sugestão

Peça aos estudantes que elaborem frases que ilustrem o uso dos pronomes pessoais. Solicite-lhes também que atentem às fórmas que, talvez, não lhes sejam familiares, por aparecerem em textos antigos, evidenciando a variação histórica da língua, ou da escrita/fala monitoradas – vos, vós, contigo, convosco, consigo –, exemplos da variação linguística situacional.

Respostas

a) O pronome se é de 3ª pessoa do singular e se refere ao sujeito da oração (O homem/ele), que leva o verbo para a 3ª pessoa do singular.

b) Espera-se que os estudantes observem que os pronomes pessoais oblíquos acompanham o sujeito das orações.

c) Acompanhe as discussões das duplas e oriente quando julgar necessário.

Faça uma síntese a partir das hipóteses que forem formuladas por eles antes de dar início ao item a seguir.

Habilidades trabalhadas nesta seção

(ê éfe seis nove éle pê cinco quatro) Analisar os efeitos de sentido decorrentes da interação entre os elementos linguísticos e os recursos paralinguísticos e cinésicos, como as variações no ritmo, as modulações no tom de voz, as pausas, as manipulações do estrato sonoro da linguagem, obtidos por meio da estrofação, das rimas e de figuras de linguagem como as aliterações, as assonâncias, as onomatopeias, dentre outras, a postura corporal e a gestualidade, na declamação de poemas, apresentações musicais e teatrais, tanto em gêneros em prosa quanto nos gêneros poéticos, os efeitos de sentido decorrentes do emprego de figuras de linguagem, tais como comparação, metáfora, personificação, metonímia, hipérbole, eufemismo, ironia, paradoxo e antítese e os efeitos de sentido decorrentes do emprego de palavras e expressões denotativas e conotativas (adjetivos, locuções adjetivas, orações subordinadas adjetivas etcétera), que funcionam como modificadores, percebendo sua função na caracterização dos espaços, tempos, personagens e ações próprios de cada gênero narrativo.

(ê éfe seis nove éle pê cinco cinco) Reconhecer as variedades da língua falada, o conceito de norma-padrão e o de preconceito linguístico.

(ê éfe seis nove éle pê cinco seis) Fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma-padrão em situações de fala e escrita nas quais ela deve ser usada.

(ê éfe zero oito éle pê zero seis) Identificar, em textos lidos ou de produção própria, os termos constitutivos da oração (sujeito e seus modificadores, verbo e seus complementos e modificadores).

(ê éfe zero oito éle pê zero sete) Diferenciar, em textos lidos ou de produção própria, complementos diretos e indiretos de verbos transitivos, apropriando-se da regência de verbos de uso frequente.

Faça as atividades no caderno.

Pronomes oblíquos como objetos

Antes de abordar os pronomes oblíquos como objetos, vamos retomar esta noção.

Transitividade verbal é a propriedade que alguns verbos têm de se ligar a um ou mais complementos para ter sua significação plena.

Os complementos verbais são chamados de objetos e podem ser de dois tipos:

  • objeto direto (se entre ele e o verbo ou locução verbal não há preposição) e
  • objeto indireto (se entre ele e o verbo ou locução verbal há preposição).

De acordo com essa relação, os verbos transitivos podem ser:

Esquema.
• diretos (VTD) – O acaso determinou aquele encontro.
determinou: VTD 
aquele encontro: objeto direto

• indiretos (VTI) – O autor gostou da companhia do inseto.
gostou: VTI 
da companhia do inseto: objeto indireto

• diretos e indiretos (VTDI) – O autor dedicou a crônica ao mosquito.
dedicou: VTDI 
a crônica: objeto direto
ao mosquito: objeto indireto

Nesses exemplos, os núcleos dos objetos são substantivos. No entanto, pronomes oblíquos também podem assumir a função sintática de objeto nas orações. Leia a tirinha do cartunista chárlis Ém chuls :

Tirinha. Em quatro cenas. Personagens: Linus, um menino com pouco cabelo, usando blusa azul listrada e short preto. Lucy, uma menina com cabelos pretos na altura do ombro, usando um vestido roxo. Cena 1. À esquerda, Linus está segurando uma folha de papel com as mãos e caminhando para a direita, na direção de Lucy. Ele diz: DÊ UMA OLHADA NESSE CARTUM, LUCY, E ME DIGA SE É ENGRAÇADO. À direita, Lucy está sentada e segurando um livro aberto nas mãos. Ela está olhando para o livro. Cena 2. Linus está de joelhos, olhando para Lucy. Ao lado, Lucy está sentada e segurando na frente do rosto a folha de papel com o cartum. Ela diz: QUEM FOI QUE DESENHOU? Cena 3. Olhando para Lucy, Linus diz: FUI EU QUE DESENHEI... Soltando o cartum das mãos, Lucy diz: ENTÃO EU ACHO QUE NÃO TEM A MENOR GRAÇA! Cena 4. Caminhando para esquerda, segurando o cartum com a mão e a boca voltada para baixo, Linus diz: AS IRMÃS MAIS VELHAS SÃO COMO ERVA DANINHA NO GRAMADO DA VIDA!

chuls, tcharles em. Você não entende o sentido da vida! Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2017. página 9.

No primeiro quadrinho, Linus utiliza o pronome oblíquo me. Esse pronome está complementando o verbo dizer (diga para mim). No caso, o pronome me está assumindo a função sintática de objeto indireto.

Os pronomes oblíquos me, te, se, nos e vos podem exercer a função sintática de objeto direto e objeto indireto.

Eu não te vi aquele dia.

(te = objeto direto; o verbo ver não exige preposição: ver algo ou alguém)

Respostas e comentários

Sobre Verbo pronominal

Uma das dificuldades no uso normativo dos verbos pronominais diz respeito à necessidade de adequar o pronome átono ao sujeito a que ele se refere. Assim, é comum nos depararmos com produções orais e escritas dos estudantes contendo construções como nós se gosta no lugar de nós nos gostamos. Por essa razão, reforçar o modelo de conjugação dos verbos pronominais é uma atividade produtiva para a fixação do uso normativo da língua. Exemplo: eu me lavo, você se lava, nós nos lavamos. Amplie a lista dos verbos pronominais com os estudantes, demonstrando-lhes que, dependendo do significado, o verbo pode dispensar o pronome (debater-se = contorcer-se; debater = discutir), ou, ao contrário, apenas ser empregado com um pronome (cuidar-se). Pode-se comentar ainda que muitos desses verbos funcionam como reflexivos (lavar-se, olhar-se, pentear-se). Deixamos aqui outras sugestões: afastar-se, apoderar-se, aposentar-se, aproximar-se, arrepender-se, assustar-se.

Sobre Pronomes oblíquos como objetos

Os estudantes devem compreender que o objeto direto e o indireto são formados por um nome, geralmente um substantivo. Para evitar a repetição do nome, por exemplo, podemos substituí-lo por um pronome. Quando isso ocorre, devemos recorrer sempre aos pronomes oblíquos átonos (o, a, os, as, me, te, se, nos, vos), que assumem a função sintática de objeto, complementando o sentido de um verbo transitivo. Por essa razão, sob o ponto de vista normativo, deve-se enunciar pegue-o no lugar de pegue ele, uma vez que não cabe aos pronomes do caso reto (eu, tu, ele...) exercerem o papel de objeto.

A companhia de água te telefonou?

(te = objeto indireto, o verbo telefonar exige preposição: telefonar para alguém)

Os pronomes oblíquos o, a, os, as, bem como suas contrações lo, la, los, las, no, na, nos, nas, exercem a função sintática de objeto direto.

  • Encontrei-o no supermercado.
  • Foi bom encontrá-lo.

Já os pronomes oblíquos lhe e lhes exercem função sintática de objeto indireto.

lhe falei tudo sobre ontem. (lhe = objeto indireto, equivale a a ele/a ela e a você)

Para identificar a função sintática desses pronomes é preciso verificar se o verbo exige ou não preposição. Para isso, substitua o pronome por você e veja se a preposição aparece. Se não aparecer preposição, o pronome exercerá a função de objeto direto.

  • Eu não te vi aquele dia. / Eu não vi você aquele dia. (te = objeto direto) Se aparecer preposição, o pronome exercerá a função de objeto indireto.
  • A companhia de água te telefonou? / A companhia de água telefonou para você? (te = objeto indireto)

Neologismos

Leia a tirinha e responda:

Tirinha. Em três cenas. Personagens: um menino com cabelos pretos, usando camiseta e short azul. Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando camiseta verde e short azul. Eles estão de frente um para o outro; entre eles, um sapo. Cena 1. O menino, com a boca aberta e olhando para Armandinho, diz: MEU PRIMO É TRETEIRO DA INTERNET! Armandinho está olhando para o menino, com a boca voltada para cima. Cena 2. Armandinho, com a boca aberta, diz: MESMO? E O QUE UM TRETEIRO FAZ? O menino está olhando para Armandinho, com a boca voltada para cima. Cena 3. O menino, olhando para Armandinho e com a boca aberta, diz: TRETA. Armandinho está olhando para o menino, sem expressão.

BECK, Alexandre. Armandinho nove. primeira edição Florianópolis: á cê Beck, 2016. página 18.

  1. É possível reconhecer na tirinha uma palavra inventada. Qual é?
  2. Qual é a sua hipótese sobre como ela foi formada?
  3. De acordo com a tirinha e com os seus conhecimentos, o que significa treteiro?

Neologismo é a criação de uma nova palavra ou expressão ou, então, a atribuição de um novo sentido a uma palavra existente.

Geralmente, o neologismo surge quando nós, falantes, queremos nos expressar, mas não encontramos a palavra adequada.

Respostas e comentários

Orientação

Explique para a turma que determinadas combinações de verbos pronominais exigem alteração no modo de grafar o verbo ou o pronome que o acompanha. São duas as principais modificações previstas no uso normativo do português: a) fórmas verbais terminadas por r, s ou z perdem a consoante final. Por razões fonéticas, os pronomes o ou os, a ou as recebem um l em casos como: beber o suco > bebê-lo; pedimos a conta > pedimo-la; refez as tarefas > refê-las; b) fórmas verbais terminadas por ditongo nasal devem manter sua terminação. No entanto, deve-se acrescentar um n diante dos pronomes o ou os, a ou as: fizeram as tarefas > fizeram-nas; dão beijos em nós > dão-nos beijos; pedem as provas > pedem-nas; põe os ovos na geladeira > põe-nos. Os estudantes podem estranhar algumas dessas construções, mas é importante que eles reconheçam novas fórmas de usar a língua, para que possam explorar esse tipo de construção nas produções escritas formais que demandem o uso de fórmas remissivas pronominais para assegurar a coesão entre enunciados linguísticos. Mostre-lhes, ainda, que as alterações descritas não ocorrem com o pronome lhe ou lhes: pedimos uma explicação à professora > pedimos-lhe uma explicação.

Sobre Neologismos

Pergunte aos estudantes se eles percebem a criação de novas palavras e expressões na língua portuguesa ou nos textos que leem. Instigue-os a perceber as criações neológicas usadas na área das tecnologias, esportes, alimentação, compras, letras de músicas. Discuta o uso de neologismos: por que recorremos tanto à língua inglesa para designar novos produtos, objetos e procedimentos?, O que aconteceria se não usássemos os neologismos?.

Orientação para a atividade 1

A tirinha analisada é um exemplo interessante para mostrar aos estudantes como os neologismos, de modo geral, são formados a partir dos processos de formação lexical disponíveis na língua (derivação, composição, abreviação, sigla etcétera). O sufixo -eiro é um dos mais produtivos no português, usado, por exemplo, na formação de palavras associadas a profissões (pedreiro, marceneiro, copeiro), árvores (abacateiro, caquizeiro, pessegueiro), recipientes (saleiro, açucareiro, paliteiro) e também para designar um agente em formações como roqueiro (músico ou fã do estilo musical rock).

Respostas

a) Treteiro.

b) Incentive os estudantes a perceber que a palavra foi derivada do substantivo treta pela utilização do sufixo -eiro.

c) Alguém que briga ou que arruma confusão.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

1. Leia as orações a seguir.

um.

O que lhe pedimos é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não trivial e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadiação de espírito.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Ciao. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 setembro. 1984. Caderno B,página 1.

dois.

E é por admitir esta noção de velho, consciente e alegremente, que ele hoje se despede da crônica, sem se despedir do gosto de manejar a palavra escrita, sob outras modalidades, pois escrever é sua doença vital, já agora sem periodicidade e com suave preguiça.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Ciao. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 setembro. 1984. Caderno B, página 1.

Indique no caderno qual dos verbos destacados acompanhado de um pronome oblíquo não é um verbo pronominal e explique por quê.

Versão adaptada acessível

Considerando as duas orações, indique qual dos verbos acompanhado de um pronome oblíquo não é um verbo pronominal e explique por quê.

  1. Retorne à crônica Ciao, de Carlos Drumôn de Andrade. O texto apresenta dois neologismos: croniqueiro e croniquices.
    1. O sufixo -eiro indica profissão ou ofício. Com base nessa informação e de acordo com o texto, escreva o significado para o neologismo croniqueiro.
    2. A palavra croniquice foi formada com base na palavra crônica. Você conhece outras palavras formadas pelo sufixo -ice? Quais?
    3. Considerando a resposta que você deu ao item anterior e a crônica Ciao, qual é a sua hipótese sobre o significado de croniquice?
  2. Leia a tirinha de Calvin.
Tirinha. Em três cenas. Personagens: Calvin, um menino usando touca e casaco. Haroldo, um tigre de pelúcia usando cachecol. Cena 1. À esquerda, Calvin, olhando para Haroldo, diz: EU GOSTO DE VERBRAR PALAVRAS. À direita, Haroldo, olhando para Calvin, diz: QUÊ? Cena 2. Calvin está com os braços abertos, olhando para frente e sorrindo. Ele diz: EU PEGO SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS E OS TRANSFORMO EM VERBOS. LEMBRA QUANDO 'ACESSO' ERA SÓ UMA COISA? AGORA A GENTE FALA 'EU ACESSO'. A PALAVRA FOI VERBADA. Cena 3. Calvin e Haroldo estão de costas caminhando na neve. Calvin diz: VERBAR, ESQUISITA A LÍNGUA.  Haroldo diz: QUEM SABE NO FIM DAS CONTAS A GENTE NÃO CONSEGUE TRANSFORMAR A LINGUAGEM EM UMA BARREIRA INSTRANSPONÍVEL PARA A COMUNICAÇÃO?

uáterson, Bill. Felino, selvagem, psicopata e homicida: as aventuras de Calvin e Haroldo. São Paulo: cônrad, 2012. página. 53.

Calvin diz que adora verbar as palavras, ou seja, transformá-las em verbos. Ao mesmo tempo que afirma que gosta dessa atividade, ele a realiza, transformando o substantivo verbo em um verbo propriamente. Agora é sua vez: transforme outros nomes em verbos. Como você é o inventor, pode usar nomes próprios e adjetivos também.

Respostas e comentários

1. Em um, na fórma lhe pedimos não temos verbo pronominal, dado que o pronome lhe tem a função de objeto indireto do verbo pedir (além disso, não é de mesma pessoa e número do sujeito, nem se refere a ele).

2. a) Aquele que escreve crônica.

2. b) Respostas pessoais.

2. c) Respostas pessoais.

3. Resposta pessoal.

Respostas

2. a) Aproveite para retomar com os estudantes a formação de palavras por sufixação.

b) Sugestões: esquisitice, maluquice, tolice, meiguice etcétera

c) Sugestões: 1. algo feito ou escrito por um cronista, 2. uma doença que dá em cronistas, 3. uma maluquice crônica, 4. mania de fazer crônicas etcétera

3. Sugestões: arvorizar, roupar, beijaflorar, planetar etcétera

Orientação

Os estudantes podem questionar como saber se um verbo é essencialmente pronominal. O verbo, para ser pronominal, tem de vir acompanhado de um pronome oblíquo átono que se refere à mesma pessoa do sujeito. Além disso, quando conjugado, sempre será acompanhado do pronome oblíquo: eu me arrependi do que fiz, tu te arrependeste do que fizeste, ele se arrependeu do que fez, nós nos arrependemos do que fizemos, vós vos arrependeis do que fizestes, eles se arrependeram do que fizeram. Nesses exemplos, o oblíquo não pode ser eliminado, de modo a formar enunciados como ele arrependeu do que fez (sem o se); tampouco complementam o sentido do verbo por serem inerentes a ele. Por essa razão, esses pronomes também não exercem função sintática. Nas fórmas verbais não pronominais, o pronome sempre terá uma função sintática reconhecida (será o objeto direto ou indireto); portanto, ele não tem uma aderência ao verbo, já que seu papel é completar o sentido expresso pelo verbo. É importante reforçar o modo de enunciar os verbos pronominais. Exemplo: o verbo é arrepender-se (não apenas arrepender), agachar-se (e não agachar), ajoelhar-se (e não ajoelhar), candidatar-se (e não candidatar), esquivar-se (e não esquivar).

Sugestão

Com relação à atividade 2, comente a intensificação do valor negativo que as palavras terminadas em -ice assumem no português: babaquice, birutice, burrice, caduquice, cafonice, chatice, esquisitice, mesmice, sem-vergonhice, teimosice...

Na atividade 3, destaque os neologismos verbais criados a partir de palavras da área tecnológica. Ainda que tenhamos três conjugações verbais, nossa preferência é transformar qualquer substantivo em um verbo da primeira conjugação: blog > blogar (não bloguer ou bloguir), Twitter > tuitár (não twitter, tuitir). Questione-os: Seria possível criar verbos a partir de nuvem, tablet, Wi-Fi? Se sim, que sentidos teriam?.

Leitura 2

Faça as atividades no caderno.

Contexto

A primeira leitura apresentou uma crônica de Carlos Drumôn de Andrade. Nessa narrativa breve, a visita de um inseto a um apartamento leva seu morador a fazer uma série de reflexões. Agora, você vai ler outra crônica e constatar quão diverso pode ser esse gênero. O texto “O fruto da solidão” foi publicado no livro O amigo do vento: crônicas, uma coletânea de crônicas de Heloisa Seixas. Como você viu, há diferentes tipos de crônica; algumas partem da experiência vivenciada pelo cronista, outras trazem histórias inventadas e há, ainda, aquelas que falam sobre o próprio ofício de cronista.

Heloisa Seixas

AUTORIA

Jornalista, tradutora e escritora, Heloisa Seixas nasceu em 1952, na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou no jornal O Globo e no escritório da ônu (Organização das Nações Unidas) no Rio de Janeiro. Começou a escrever ficção com quase 40 anos. Suas obras voltadas para o público juvenil são Frenesi – Histórias de duplo terror (Rocco, 2006) e Uma ilha chamada livro (recór, 2009). Foi quatro vezes finalista do Prêmio Jabuti.

Antes de ler

Com base no que você já sabe sobre o gênero e no título do texto que você vai ler, discuta com os colegas as seguintes questões:

  • Quem teria interesse em ler uma coletânea de crônicas chamada O amigo do vento?
  • O que o título “O fruto da solidão” sugere a você?
  • Que características você imagina encontrar nesta crônica de Heloisa Seixas?
Capa de livro. Na parte superior, o nome da autora: Heloisa Seixas. Sobre um fundo claro, ilustração de um menino com cabelos emaranhados, usando apenas short. De perfil, ele está segurando um dente de leão perto dos lábios, assoprando. Do dente de leão, saem diversos objetos e letras, como se fossem levados pelo vento. Na parte inferior, o título do livro: O amigo do vento. Crônicas.
Capa do livro O amigo do vento, de Heloisa Seixas.

O fruto da solidão

Por causa de algumas reminiscências sobre comidas da infância, uma amiga gentil me presenteou com um saco de seriguelas. Peguei os pequenos frutos e fui colocando-os na boca, um a um, mordendo a casca vermelho-alaranjada, sentindo-lhe o estalo, sorvendo a polpa até chegar ao caroço, do tamanho de uma azeitona. Depois, satisfeita, saí para fazer compras. Ao chegar na porta do supermercado, talvez ainda sob o impacto do gosto antigo, notei de longe umas caixas com frutos vermelhos em fórma de coração e pensei: “São jambos”. Cheguei perto, mas não precisei nem tocar nas frutas para ver que me enganara. Não eram jambos e sim peras vermelhas, uma novidade exótica que nenhuma relação tinha com o sabor de infância. Decepcionada, me afastei.

Respostas e comentários

Sobre Contexto

O item Contexto apresenta um panorama dos assuntos e atividades que, ao longo do Capítulo, dialogarão com as práticas de sala de aula. As questões que seguem o texto de apresentação são as chamadas “questões de antecipação”. Segundo afirma Rochane Rojo, em seu artigo “Letramento e capacidades de leitura para a cidadania”, durante o processo de leitura, O leitor não aborda o texto como uma folha em branco. A partir da situação de leitura, de suas finalidades, da esfera de comunicação em que ela se dá; do suporte do texto (livro, jornal, revista, outdoor etcétera); de sua disposição na página; de seu título, de fotos, legendas e ilustrações, o leitor levanta hipóteses tanto sobre o conteúdo como sobre a fórma do texto ou da porção seguinte de texto que estará lendo. Esta estratégia opera durante toda a leitura e é também responsável por uma velocidade maior de processamento do texto, pois o leitor não precisará estar preso a cada palavra do texto, podendo antecipar muito de seu conteúdo.

Essas informações estimulam a capacidade de prever o que será encontrado nas páginas seguintes.

Sobre Antes de ler

As perguntas antes da leitura têm como objetivo retomar a função do gênero crônica, quem é seu público e saber o interesse que os estudantes têm de ler a coletânea da autora Heloisa Seixas. Além disso, por meio de levantamento de hipóteses, pretende-se ativar os conhecimentos prévios deles sobre o gênero já estudado.

Estimule os estudantes a pensar o que é o sentimento de solidão, para que eles possam dizer o que imaginam que seja o “fruto da solidão”, antecipando o conteúdo temático do texto.

Indicação de artigo

rojo rochane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. Disponível em: https://oeds.link/OPWxu2. Acesso em: 16 março 2022.

Mas logo descobri que levava os jambos comigo. Pensava neles, recordava. Seu formato, o contraste entre o vermelho de sua pele e a brancura da polpa, seu cheiro – os jambos têm cheiro de rosas. Mas não era só isso e eu sabia bem. Levava comigo, junto com os jambos imateriais, a sensação de susto, de quase pavor. E deixei fluir a lembrança.

Na época com cinco ou seis anos, eu voltava de carro com meus avós do sítio que tínhamos em Jacarepaguá. Íamos pela Estrada Velha do Joá, que em alguns pontos era sinuosa, estreita, sem acostamento ou retorno. Até que avistamos à esquerda um pequeno recuo, sombreado de árvores, onde, numa barraquinha, um velho vendia jambos. Meu avô, muito guloso, imediatamente deu uma guinada, e parou no recuo. Decidira comprar um punhado daquelas frutas vermelhas que adorava. Eu, que estava sentada sozinha no banco de trás, decidi saltar também. Enquanto meus avós escolhiam os jambos, dei uns passos, distraída, apreciando a beleza das copas das árvores, o emaranhado de parasitas que escorriam dos galhos como uma barba rala. E, de repente, ouvi o ronco do motor. Ao me voltar, vi o fusca do meu avô tomando o asfalto e, num segundo, desaparecendo na curva.

Eles tinham ido embora sem mim.

Ilustração. À esquerda, entre duas árvores, um idoso com cabelos brancos está de pé atrás de uma barraca com diversas caixas de jambo. Ao lado, uma menina com cabelos trançados, usando vestido. Ela está de costas, caminhando em uma estrada sinuosa cercada por árvores e vegetação. No fundo, um fusca azul fazendo a curva na estrada asfaltada.

Fiquei paralisada. O velho da barraca, arrumando seus jambos, nem parecia ter notado minha presença. E meus avós? Na certa tinham pensado que eu sequer saltara, que continuara no banco de trás enquanto eles compravam as frutas. Sim, fôra isso. Eles iam voltar. Eles não iam fazer aquilo comigo.

Foram segundos, minutos, de um medo profundo, uma sensação de abandono avassaladora. Por mais que, racionalmente, eu não parasse de repetir para mim mesma que estava tudo bem. Eles iam voltar.

É claro que voltaram. Demoraram um pouco, embora notassem logo minha falta, mas é que tiveram dificuldades em encontrar um retorno na estrada estreita. Ao vê-los, tentei sorrir – mas, sem saber, já estava marcada. E o jambo, com toda sua beleza, com todo seu cheiro de rosas, ficou sendo para sempre em mim o fruto da solidão.

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 20-22.

Respostas e comentários

Habilidades trabalhadas nesta seção e em sua subseção (Estudo do texto)

(ê éfe seis nove éle pê quatro quatro) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos fórmas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

(ê éfe seis nove éle pê quatro sete) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes fórmas de composição próprias de cada gênero, os recursos coesivos que constroem a passagem do tempo e articulam suas partes, a escolha lexical típica de cada gênero para a caracterização dos cenários e dos personagens e os efeitos de sentido decorrentes dos tempos verbais, dos tipos de discurso, dos verbos de enunciação e das variedades linguísticas (no discurso direto, se houver) empregados, identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.

(ê éfe oito nove éle pê três três) Ler, de fórma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de fórma livre e fixa (como raicái), poema concreto, sáiberpoema, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.

Orientação

As propostas de leitura de texto em sala de aula podem recriar o que acontece com a leitura em outros espaços sociais.

A leitura desta crônica pode ser feita silenciosamente pela turma em um primeiro momento. A seguir, outras práticas de leitura poderão ser utilizadas em sucessivos eventos em sala de aula, como a leitura em voz alta, leitura colaborativa, leitura intensiva.

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Estudo do texto

Faça as atividades no caderno.

  1. Antes da leitura, você tinha algumas expectativas em relação ao texto.
    1. Retome seu levantamento de hipóteses. Quais se confirmaram e quais não? Comente.
    2. O que você achou do modo como a autora aborda uma lembrança da infância?
  2. As trinta crônicas selecionadas para a obra O amigo do vento foram publicadas originalmente no jornal O Globo e na revista Seleções. Para formar a coletânea, elas foram divididas em quatro seções. No quadro a seguir, estão os nomes das seções e os títulos das crônicas inseridas em cada parte da obra, exceto o título do texto lido agora.

Seção

Crônicas

A vida da gente

“O amigo do vento”, “O menino e a catedral”, “O caminho das pedras”, “Era uma vez...”, “Lição de piano”, “O quarto de bonecas” e “Miniatura”.

O mundo

“O menino sem bola”, “Pássaros do Islã”, “A formiguinha”, “Os filhos do sim”, “Flores e espinhos”, “Verdades e mentiras”, “De mentira”, “Pela janela”, “Lâmpada fria”, “Vidros escuros”.

O tempo

“A cápsula”, “A nave do tempo”, “Correspondência”, “Tempo”, “As mãos de Mariá”.

A palavra

“Livros”, “Na esquina do poeta”, "O palavrão", "Teclados", “Síndrome do claustro”, “Janelas”, “Provérbio chinês”.

  1. Em sua opinião, qual foi o critério utilizado para a divisão das crônicas nas quatro partes?
  2. Em qual seção você inseriria “O fruto da solidão”? Justifique sua resposta.
  1. A crônica é um gênero que pode partir do dia a dia vivenciado pelo autor.
    1. Quais são os dois acontecimentos aparentemente banais apresentados na introdução da crônica?
    2. O que esses fatos do cotidiano provocam na cronista?
    3. Você já vivenciou situações semelhantes às apresentadas na crônica?
  2. O ponto de vista é fundamental na crônica. Sobre esse aspecto no texto lido, responda às questões.
    1. A crônica está escrita na 1ª pessoa ou na 3ª pessoa ? Justifique com elementos do texto.
    2. Por que foi adotado esse ponto de vista no texto?
  3. A crônica de Heloisa Seixas mostra ao leitor acontecimentos que ocorreram em dois momentos.
    1. Esses acontecimentos estão situados no presente, passado ou futuro?
    2. Quais são os dois momentos apresentados pela cronista?
    3. Como ela os relaciona?
  4. Acompanhando a construção temporal, na crônica, as ações relatadas ocorrem em espaços diferentes.
    1. Segundo a citação de Antonio Candido lida anteriormente nesta Unidade, a crônica “pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza, e uma singularidade insuspeitadas”. Na introdução da crônica, o fato miúdo ocorre em qual espaço?
    2. Esse espaço é descrito de maneira detalhada ou econômica? Justifique.
    3. No desenvolvimento da crônica os acontecimentos ocorrem em qual espaço? Como ele é descrito?
    4. Por que há diferença no modo como esses espaços são descritos pela cronista?
Respostas e comentários

1. Respostas pessoais.

2. a) O critério utilizado para a divisão das crônicas em seções foi o temático.

2. b) “A vida da gente”, pois a autora rememora uma experiência vivida na época em que era criança.

3. a) São o recebimento de um saco de seriguelas como presente e a confusão entre peras e jambos em uma ida ao supermercado.

3. b) Esses fatos remetem a uma lembrança da infância quando foi esquecida pelos avós em uma barraca na Estrada do Joá.

3. c) Resposta pessoal.

4. b) Porque a cronista relata uma situação que vivenciou.

5. a) Os acontecimentos estão situados no passado.

Respostas

1. a) Essa atividade pode ser feita oralmente para que os estudantes continuem o debate feito no momento anterior à leitura.

b) Avalie se os pontos de vista apresentados pelos estudantes estão bem justificados e coerentes e se eles se apropriaram do que estudaram a respeito do gênero.

3. c) Possibilite que os estudantes relacionem as situações da crônica ao dia a dia.

4. a) A crônica é escrita em 1ª pessoa. Trechos: “Mas logo descobri que levava os jambos comigo”.

Aceite trechos em que fique evidente o uso de pronomes e verbos na 1ª pessoa do discurso.

5. b) Há um momento de um passado mais recente que se refere ao presente da amiga e à ida ao supermercado. Outro momento é um passado mais distante, quando ela era criança e foi esquecida pelos avós na Estrada do Joá.

c) No momento vivido no supermercado, uma fruta encontrada faz a autora acessar memórias de infância, levando ao segundo momento, em um passado mais distante.

6. a) No primeiro momento da crônica, o fato ocorre em um supermercado.

b) É descrito de maneira bem econômica. Sabe-se apenas que lá há caixas com frutos vermelhos.

c) Os acontecimentos estão situados em uma parada na Estrada Velha do Joá. O espaço é descrito de maneira mais detalhada.

d) A diferença na descrição do cenário deve-se ao fato de que o supermercado apenas situa o leitor onde ela se lembrou dos jambos, que são o mote para a história que ela vai contar. Já a referência à Estrada do Joá merece um detalhamento, pois se pretende recriar o cenário em que a experiência vivida ocorreu.

Faça as atividades no caderno.

  1. No desenvolvimento da crônica, é relatado um episódio um pouco inesperado.
    1. Qual é esse episódio? Quem participa dele?
    2. Por que é mencionada a característica de o avô ser guloso?
  2. Por que para a autora o jambo ficou marcado como fruto da solidão?
  3. Avalie as alternativas e copie no caderno a que melhor explica o desfecho do texto.
    1. A cronista conclui o relato e retoma o que foi dito na introdução.
    2. A cronista sente o cheiro de rosas da infância.
    3. A cronista explica sua dificuldade em descobrir o que era o fruto da solidão.
    4. A cronista revela que os avós não voltaram para buscá-la.
  4. Como você já sabe, a crônica é um texto curto que pode apresentar elementos narrativos reduzidos e variar sua estrutura. Tente esquematizar a crônica lida. Copie e complete o quadro no caderno.

Estrutura

Parágrafo

Conteúdo

Introdução

1º e 2º

Abordagem do tema.

Desenvolvimento

Conclusão

Saiba +

Jacarepaguá

É um bairro da zona oeste do município do Rio de Janeiro. Hoje uma área urbana, essa região era rural no passado. Na época colonial, os engenhos de açúcar ocupavam as terras. No Brasil da época do Império, a cana-de-açúcar deu lugar ao cultivo de café, ainda em imensas propriedades. No século vinte, já no país republicano, o café perdeu espaço na economia. Jacarepaguá tornou-se repleta de chácaras com produção granjeira e de hortifrúti que abastecia o centro da cidade e outros bairros. Apenas na década de 1970 iniciou-se o processo de urbanização na área, com o surgimento de conjuntos residenciais e loteamentos.

Fotografia em preto e branco. À esquerda. uma estrada; à direita, uma construção. Ao fundo, um morro. Ao redor, vegetação.
Fotografia antiga da Estrada Velha do Joá, na cidade do Rio de Janeiro, 1969.

11. Observe as imagens dos frutos mencionados no texto.

Fotografia. Um pequeno cacho de seriguela, uma fruta pequena, redonda e avermelhada, em um galho de árvore.
Seriguela.
Fotografia. Um jambo inteiro, fruto com casca vermelha; ao lado, duas fatias de jambo sobrepostas, deixando evidente a poupa branca.
Jambo.
Fotografia. Três peras vermelhas em um galho de árvore.
Pera.
  1. Qual é a semelhança entre esses frutos?
  2. É possível inferir a razão de as seriguelas levarem a cronista a pensar no jambo? Explique.
  3. Como os frutos se relacionam na história?
Respostas e comentários

7. a) É o episódio em que a menina foi esquecida pelos avós na Estrada Velha do Joá. Participam a menina, seus avós e o vendedor da barraca de frutas.

7. b) Para justificar o motivo da parada no meio da estrada: a compra de jambos que o avô adorava.

8. Porque remete ao episódio de infância em que ela se sentiu sozinha, ao ser deixada na estrada.

9. Alternativa correta: a).

10. Resposta pessoal.

11. a) As seriguelas, assim como as peras e os jambos, são frutos com casca avermelhada.

Respostas

10. Introdução – Apresentação da situação que propicia a lembrança do episódio que será relatado.

Desenvolvimento – Relato da lembrança em que ocorre um fato inesperado e marcante.

Conclusão – Desfecho do relato da lembrança. Retomada do que foi dito na introdução.

11. b) Ela come a seriguela, que a faz acessar memórias de infância, quando está no supermercado. Ao avistar uma pera vermelha, tomada por sentimentos da infância, confunde a fruta com um jambo, que estava presente na memória da autora por meio de um episódio específico de quando era criança.

c) A cor e o formato semelhante das frutas fazem a autora relacionar uma à outra.

Faça as atividades no caderno.

12. Nos dois primeiros parágrafos, a cronista relata diferentes impressões sensoriais proporcionadas pelos frutos, ajudando o leitor a imaginar o que ela experimenta. Copie e preencha o quadro a seguir no caderno, e observe como a autora descreve em detalhes de que modo os frutos estimulam seus sentidos e suas lembranças.

Versão adaptada acessível

12. Nos dois primeiros parágrafos, a cronista relata diferentes impressões sensoriais proporcionadas pelos frutos, ajudando o leitor a imaginar o que ela experimenta. Reproduza e preencha o quadro a seguir, e observe como a autora descreve em detalhes de que modo os frutos estimulam seus sentidos e suas lembranças.

Fruto

Característica percebida pelo olfato

Característica percebida pela visão

Característica percebida pelo paladar

Seriguela

Jambo

Pera

  1. Qual fruto mais estimula os sentidos da cronista?
  2. Além de apresentar suas características concretas, esse fruto é descrito de maneira bem subjetiva pela cronista. Como a subjetividade aparece?
  1. Releia o primeiro parágrafo e crie uma hipótese sobre o motivo de a degustação das seriguelas ser descrita com detalhes pela autora.
  2. Releia o segundo parágrafo da crônica.

Mas logo descobri que levava os jambos comigo. Pensava neles, recordava. Seu formato, o contraste entre o vermelho de sua pele e a brancura da polpa, seu cheiro – os jambos têm cheiro de rosas. Mas não era só isso e eu sabia bem. Levava comigo, junto com os jambos imateriais, a sensação de susto, de quase pavor. E deixei fluir a lembrança.

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 20.

Ilustração. Um cacho de jambos vermelhos com folhas verdes presos ao caule.
  1. Ao afirmar que os jambos têm cheiro de rosas, é atribuído um valor positivo ou negativo ao fruto?
  2. As palavras em destaque fazem parte do mesmo campo semântico (conjunto de palavras ligadas pelo seu sentido) que revela os sentimentos vivenciados pela autora-narradora. Esses sentimentos são associados a experiências positivas ou negativas?
  3. Transcreva no caderno o trecho em que há no texto outras palavras do mesmo campo semântico dos termos destacados.
Versão adaptada acessível

c. Transcreva o trecho em que há no texto outras palavras do mesmo campo semântico dos termos "susto" e "pavor".

  1. Essas palavras encontradas no item c estão acompanhadas de adjetivos. Quais? Procure no dicionário o significado dessas palavras.
  2. Esses adjetivos identificados no item d exercem uma função dentro do que está sendo contado na crônica. Qual é o papel deles?
Ícone pontos de atenção e noções complementares

Campo semântico

Em qualquer língua, é possível associar palavras que apresentam conceitos próximos e fortemente relacionados pelo seu sentido. Por exemplo, as palavras pavor, medo e terror podem ser agrupadas em um mesmo conjunto de palavras por compartilharem sentidos próximos relacionados a um sentimento.

Respostas e comentários

12. a) O jambo.

12. b) Por trechos que trazem as sensações da autora em relação ao fruto.

13. Possivelmente, a degustação da seriguela representa também a rememoração do “gosto antigo”, ou seja, da experiência vivida na infância.

14. a) É atribuído um valor positivo.

14. b) Experiências negativas.

14. c) “Foram segundos, minutos, de um medo profundo, uma sensação de abandono avassaladora. Por mais que, racionalmente, eu não parasse de repetir para mim mesma que estava tudo bem. Eles iam voltar”.

14. d) São os adjetivos: profundo (intenso e arraigado) e avassaladora (algo que o deixa arrasado, devastado).

14. e) Eles mostram a intensidade dos sentimentos que essa experiência provocou na menina.

Respostas

12. Fruto: seriguela. Característica percebida pelo olfato: sem descrição. Característica percebida pela visão: casca vermelho-alaranjada. Característica percebida pelo paladar: polpa suculenta.

Fruto: pera. Característica percebida pelo olfato: sem descrição. Característica percebida pela visão: vermelha em formato de coração. Característica percebida pelo paladar: sem descrição.

Fruto: jambo. Característica percebida pelo olfato: cheiro de rosas. Característica percebida pela visão: vermelho em formato de coração com polpa branca. Característica percebida pelo paladar: sabor de infância.

Sobre Campo semântico

Retome ou apresente aos estudantes o conceito de campo semântico. Crie então uma rede de palavras na lousa. Peça aos estudantes que enumerem palavras que podem ser associadas, por exemplo, à educação. Dê como exemplo: ensino e aprendizagem.

Faça as atividades no caderno.

  1. Agora releia o último parágrafo da crônica.
    1. A frase É claro que voltaram busca certa cumplicidade com o leitor. Justifique essa afirmação.
    2. Como você entende a frase já estava marcada?
    3. No trecho, o travessão indica que a cronista adulta reflete sobre a lembrança. Você diria que ela enxerga essa experiência apenas de maneira negativa?
Ilustração. À esquerda, um fusca azul. Ao lado, uma menina com cabelos em duas tranças, usando vestido. Ela está de pé em uma estrada, olhando para o fusca. Ao fundo, céu azul.
  1. Compare as duas crônicas lidas nesta Unidade e responda às questões.
    1. Qual é a matéria-prima da crônica “Visitante noturno”, de Carlos Drumôn de Andrade? E da crônica “O fruto da solidão”, de Heloisa Seixas?
    2. Como você caracterizaria a linguagem de cada uma delas?
    3. Que reações cada uma delas provoca no leitor?
  2. Leia a apresentação feita pelo escritor Ruy Castro para o livro O amigo do vento. Depois, conheça a sinopse da obra extraída do site de uma livraria virtual.

reticências Esse dom de escrever, de narrar, de envolver o leitor e hipnotizá-lo está visível nos 30 textos de que se compõe O amigo do vento. Mas não acreditem em mim – leiam e confiram.

Bem, talvez eu esteja um pouco parcial para falar de Heloisa Seixas. Deve ser porque, desde fins de 1990, tenho o privilégio de ouvi-la diariamente, ao vivo ou por telefone, falando com a mesma precisão com que escreve – a palavra justa, a palavra mágica –, fazendo de tudo uma história cheia de histórias e nunca deixando de me encantar com cada uma delas.

CASTRO, Ruy. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página13.

O Amigo do vento: crônicas reúne uma série de crônicas de Heloisa Seixas, a maioria delas com um marcante tom lírico e narrativo. As delicadas crônicas apresentam quase todas um tom levemente nostálgico, por vezes melancólico, parecendo querer resguardar o espaço de um tempo menos acelerado que o nosso, um tempo em que nos fosse possível atentar para os pequenos detalhes do mundo que nos rodeia, com seus peculiares sabores e aromas.

Disponível em: https://oeds.link/n2FAyt. Acesso em: 10 março. 2022.

  1. Os textos apresentam recomendações favoráveis ou não à obra? Justifique.
  2. Qual texto estabelece um diálogo mais direto com o leitor? Por quê?
  3. O que Ruy Castro quis dizer com a expressão “a palavra justa, a palavra mágica”?
  4. Tendo como base a crônica lida, você concorda com as avaliações feitas sobre a obra? Explique.
  5. Considerando que já teve contato com uma parte do trabalho de Heloisa Seixas, você ficou com vontade de conferir as demais crônicas? Comente.
  6. Que recomendação você faria para a crônica “Visitante noturno”, de Carlos Drumôn de Andrade?
Respostas e comentários

17. d) Resposta pessoal.

17. e) Resposta pessoal.

17. f) Resposta pessoal.

Respostas

15. a) A autora parece prever uma pergunta do leitor e antecipa a resposta. Ressalte aos estudantes que esse texto é um exemplo de como se estabelece o tom de conversa entre cronista e leitor.

b) A frase revela quanto essa experiência foi significativa para a cronista. O acontecimento ficou marcado para sempre em sua memória.

c) Não. Essa experiência tem um lado negativo (medo, susto, pavor, abandono). Por outro lado, é associada ao jambo descrito como belo e cheiroso. Logo, essa experiência parece agora representar uma doce tristeza.

16. a) Em “Visitante noturno”, a matéria-prima é a visita de um inseto ao apartamento de um homem; deduz-se que seja um fato verídico vivido pelo cronista, mas não se pode afirmar. Já “O fruto da solidão” tem como matéria-prima uma experiência vivenciada pela autora na infância.

b) As duas crônicas têm linguagem acessível e marcada pelo uso de recursos literários que criam imagens poéticas.

c) Ambas provocam reflexões acerca de experiências vividas. A de Heloisa relata um fato mais marcante.

17. a) Os dois textos apresentam recomendações favoráveis à obra. Ruy ­Castro diz que as histórias encantam os leitores, enquanto a sinopse menciona os tons utilizados pela autora para mostrar aos leitores detalhes do mundo com seus sabores e aromas.

b) É o texto de Ruy Castro, pois tem como finalidade apresentar a obra, logo, se dirige diretamente (“leiam/confiram”) ao leitor para convidá-lo a ler as crônicas. Já a sinopse detém-se em descrever o livro, adotando uma linguagem mais impessoal.

c) Ruy Castro pode ter proposto que a cronista é precisa na hora de escrever e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de encantar os leitores.

d) Espera-se que os estudantes estabeleçam relações entre a avaliação da obra e a crônica lida.

e) Se possível, leve os estudantes à sala de leitura e promova a leitura coletiva de algumas crônicas de Heloisa Seixas.

f) Estimule os estudantes a escrever essa recomendação, tendo como referência os dois textos desta atividade.

Oralidade

Leitura expressiva

Você conhece Rubem Braga? Ele é considerado o “pai” da crônica brasileira moderna e, para alguns especialistas, foi um marco na fórma de escrever crônicas no Brasil. Seus textos têm a característica de serem leves, ao mesmo tempo que contêm críticas sociais recheadas de ironia e sarcasmo. Ao abordar sobre o cotidiano, as crônicas de Rubem Braga tanto focavam as necessidades das pessoas de sua época como misturavam poesia ao olhar para a natureza. Rubem Braga se tornou um referencial para os cronistas brasileiros, devido ao seu estilo único.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

>> [LOCUTOR - título]: Rubem Braga e a crônica

>> [Locutor]: Você sabe quem foi Rubem Braga? Qual a importância dele para a crônica brasileira?

>> [Locutor]: [Tom de apresentação] Para sabermos mais sobre o tema, conversamos com Ana Karla Dubiela, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro.

>> [Entrevistada]: Olá, meu nome é Ana Karla Dubiela e hoje eu vou conversar com vocês sobre um gênero jornalístico ou litero-jornalístico – porque está ligado à literatura e ao jornalismo: a crônica.

>> [Entrevistada]: Quando a gente fala em crônica no Brasil, a gente lembra logo de Rubem Braga. Vocês conhecem o Rubem Braga?

>> [Entrevistada]: Ele é conhecido como o pai da crônica moderna, porque o texto dele fez a diferença na crônica brasileira. É um texto leve, suave, que fala do cotidiano das pessoas.

>> [Locutor]: [Pergunta à entrevistada] Como Rubem Braga inovou esse gênero literário?

>> [Entrevistada]: O Rubem Braga tanto fazia crítica social como fazia poesia em prosa, o que o Afonso Romano de Santana chama de “proesia”.

>> [Entrevistada]: Foi fazendo esse tipo de texto, antenado com as necessidades da sua época, com a Revolução de 30, com a política de Getúlio Vargas, mas, ao mesmo tempo, falando do passarinho, da natureza... inovando na questão ecológica, que não existia ainda, falando sobre a mulher, a praia, o mato, o campo, a cidade, e encontrando poesia no concreto.

>> [Entrevistada]: Rubem Braga se tornou uma bússola para a maioria dos escritores que seguiam a sua linha de escrita.

>> [Entrevistada]: E não só os escritores, os críticos literários como Antonio Candido e vários outros, como Afrânio Coutinho, e até os críticos mais contemporâneos, têm no Rubem Braga um referencial máximo de como fazer crônica com leveza e ainda tirar a crônica da sua condição de texto efêmero, que dura pouco tempo e, no outro dia, enrola carne no açougue. Mas ela é um gênero que se tornou eterno, por quê?

>> [Entrevistada]: Porque ela, apesar de ser rápida como o nosso cotidiano, sempre apressado, dá para ler entre uma parada e outra do bonde. Ou, no nosso tempo, entre uma parada e outra do metrô. Ela é um texto que virou livro.

>> [Locutor]: [Pergunta à entrevistada] Por que alguns dizem que existe a crônica pré e pós Rubem Braga?

>> [Entrevistada]: Então, recapitulando: por que dizem que o Rubem Braga marcou tanto a crônica, que a gente diz que existe a crônica antes de Rubem Braga e depois de Rubem Braga?

>> [Entrevistada]: Porque ele fez um diferencial linguístico, temático e extremamente pessoal.

>> [Entrevistada]: O estilo de Rubem Braga é único, se a gente pegar, por exemplo, a crônica “Luto da família Silva”, escrita na década de 60, a gente pode ver que ela é completamente atual.

>> [Entrevistada]: Eu acho que o diferencial dele, além da poesia, é a crítica social, é a ironia, é a leveza, é o sarcasmo, é a nostalgia da década de 80, quando ele já estava perto de seu falecimento, e várias outras preciosidades, outras pérolas que a gente só sabe lendo e saboreando Rubem Braga.

>> [Locutor]: [Pergunta à entrevistada] Quais outras especificidades podemos notar no texto de Rubem Braga?

>> [Entrevistada]: Há um jeito de fazer crônica do Rubem Braga que é bem peculiar.

>> [Entrevistada]: Ele começa como quem não quer nada, contando um fato ou divagando sobre um acontecimento e, de repente, ele começa a viajar em outra história.

>> [Entrevistada]: E, depois, ele volta para o início, para o assunto principal, o assunto que ele começou a fazer a crônica e, de repente, tem uma epifania.

>> [Entrevistada]: Pode haver uma certa nostalgia, uma certa tristeza, um desalento diante do mundo, uma falta de esperança e que, de repente, existe um brilho, um insight, uma coisa boa que acontece de repente, que o faz sair daquele estado de coisa e encontrar com o sonho, com a realização, como se estivesse na Passárgada de Manoel Bandeira ou em um paraíso temporário e, de repente, ele abre os olhos e se dá novamente com a realidade cruel, com o sofrimento e o desalento.

>> [Entrevistada]: Essa característica é crescente, principalmente na última fase de Rubem Braga, entre os anos 80 e 90, que foi quando ele faleceu.

>> [Entrevistada]: Na minha opinião, essa crônica, como o Rubem Braga fazia, não existe mais, é claro. Ficou lá no século XX.

>> [Entrevistada]: É uma crônica bem marcada por esse viés entre a poesia e a crítica, entre a realidade e a ficção.

>> [Entrevistada]: Mas há excelentes cronistas agora no nosso século XXI. O tamanho mudou, a leveza é maior, o que tem tudo a ver com o nosso tempo e com a nossa maneira de ver a vida, e observar, e tratar, e pensar, e refletir o cotidiano em que a gente vive.

>> [Entrevistada]: [Tom de conclusão] Eu espero ter ajudado vocês e estimulado a ler Rubem Braga e todas as crônicas que a gente tem hoje por todos os cantos deste país.

[locução - crédito] Estúdio: Spectrum

Fotografia em preto e branco. Retrato de um idoso com cabelos e bigode brancos, usando camisa e blusa de mangas compridas. Ele está sentado em uma cadeira e gesticulando com as mãos . No fundo, vegetação desfocada.
Rubem Braga (1913-1990), um dos cronistas mais renomados da literatura brasileira.
Capa de livro. Preenchendo a capa, o nome do autor escrito em azul e rosa: RUBEM BRAGA. Na parte superior, à direita, o título do livro: 200 crônicas escolhidas. No fundo, cor verde.
Capa do livro 200 crônicas escolhidas, de Rubem Braga.

Agora, é a sua vez de fazer uma pesquisa sobre a relevância da obra de um cronista brasileiro. O objetivo é que você conheça mais sobre o gênero crônica e desenvolva habilidades necessárias para uma leitura expressiva e uma escuta atenta, visto que, ao final da pesquisa, você e seu grupo devem gravar um áudio apresentando para a turma a obra do cronista.

Etapa 1: Discussão em grupo

  • Em pequenos grupos, converse com os colegas:
    1. Vocês já leram crônicas? Teve alguma que se destacou? Conte sobre o tema que ela abordava.
    2. Quem era o autor?
    3. Vocês já leram uma crônica do Rubem Braga?
    4. Que episódio da sua vida poderia ser transformado em uma crônica?
    5. Quais temas despertariam em você o interesse na leitura de uma crônica?
Respostas e comentários

Habilidade trabalhada nesta seção

(ê éfe seis nove éle pê cinco três) Ler em voz alta textos literários diversos – como contos de amor, de humor, de suspense, de terror; crônicas líricas, humorísticas, críticas; bem como leituras orais capituladas (compartilhadas ou não com o professor) de livros de maior extensão, como romances, narrativas de enigma, narrativas de aventura, literatura infanto-juvenil, – contar/recontar histórias tanto da tradição oral (causos, contos de esperteza, contos de animais, contos de amor, contos de encantamento, piadas, dentre outros) quanto da tradição literária escrita, expressando a compreensão e interpretação do texto por meio de uma leitura ou fala expressiva e fluente, que respeite o ritmo, as pausas, as hesitações, a entonação indicados tanto pela pontuação quanto por outros recursos gráfico-editoriais, como negritos, itálicos, caixa-alta, ilustrações etcétera gravando essa leitura ou esse conto/reconto, seja para análise posterior, seja para produção de audiobooks de textos literários diversos ou de podcasts de leituras dramáticas com ou sem efeitos especiais e ler e/ou declamar poemas diversos, tanto de fórma livre quanto de fórma fixa (como quadras, sonetos, liras, raicáis etcétera), empregando os recursos linguísticos, paralinguísticos e cinésicos necessários aos efeitos de sentido pretendidos, como o ritmo e a entonação, o emprego de pausas e prolongamentos, o tom e o timbre vocais, bem como eventuais recursos de gestualidade e pantomima que convenham ao gênero poético e à situação de compartilhamento em questão.

Sobre Oralidade

As atividades desta página, conforme o título indica, propõem que o estudante exercite a oralidade formal. De acordo com Rochane Rojo e Bernár Xinóiri no artigo “Gêneros orais formais – As relações oral/escrita nos gêneros orais formais e públicos: o caso da conferência acadêmica”, a relação entre gêneros orais e escritos não é dicotômica e, sim, de continuidade e interdependência. De modo geral, trabalhar a escrita, na escola, pressupõe o oral, e trabalhar gênero oral pressupõe a escrita. Não se trata de analisá-los e compreendê-los como objetos estanques de estudo, mas como elementos discursivos em contínua integração (o artigo citado está disponível em: https://oeds.link/ZPNyfN; acesso em: 13 março 2022).

Etapa 2: Pesquisa sobre o cronista

Forme grupo com três colegas da turma e defina com eles que cronista vocês vão pesquisar. Na página 128 há nomes de alguns importantes cronistas brasileiros no boxe Saiba+.

Estes tópicos podem ajudar na busca pelas informações sobre o cronista escolhido:

  • informações sobre a vida do cronista;
  • características da obra dele;
  • seleção de uma crônica dele, para a gravação;
  • data em que a crônica foi publicada.

Etapa 3: Preparação, gravação e compartilhamento

  1. Com o resultado da pesquisa em mãos, elabore com os colegas de grupo um roteiro da fala do áudio para apresentar o cronista.
  2. É preciso definir quem vai falar na gravação. Pode ser um ou mais integrantes. Além da apresentação do cronista, será necessário gravar a leitura da crônica escolhida.
  3. Para a gravação, o grupo tem de cuidar da entonação, do ritmo e do tom de voz, essenciais para guiar o espectador ao longo da sua comunicação. Enfatize com a voz e a entonação as partes mais importantes, chamando a atenção do ouvinte. Lembre-se de que sua voz deve ser firme e audível. Leia a crônica mais de uma vez antes de realizar a gravação e treine, por meio da sua voz, a expressividade.
  4. Em um ambiente silencioso, gravem o depoimento e a crônica com um instrumento próprio para isso (pode ser usado um gravador ou algum aplicativo de celular).
  5. No dia marcado pelo professor, reproduzam seu áudio e ouçam com atenção os áudios dos colegas.
  6. Durante a apresentação dos outros grupos, anote informações importantes e as suas impressões sobre a crônica reproduzida. Ao final, conte para a turma que autor e obra despertaram mais interesse em você.

Avaliação

Considere os seguintes critérios para a autoavaliação nesta atividade.

  • Adotei uma postura de escuta atenta durante a apresentação dos colegas? Em que posso melhorar nesse quesito?
  • Trabalhei de fórma colaborativa com meu grupo na pesquisa sobre o cronista e na gravação do áudio?
  • O áudio produzido despertou o interesse da turma para conhecer o trabalho do cronista selecionado pelo meu grupo?
Respostas e comentários

Orientação

Na Etapa 2, oriente os estudantes na formação do grupo para a pesquisa sobre cronistas. Para que os resultados dessa busca sejam adequados, é necessário que os estudantes reflitam criticamente sobre o que pesquisar, como, quando e onde, além de registrar resultados e compartilhá-los com os colegas.

Prosseguindo com a Etapa 3, é importante acompanhá-los no momento de preparação, gravação e compartilhamento do áudio. A elaboração do roteiro para o áudio precisa considerar os dados obtidos em pesquisa, a fórma de apresentá-los e o público destinatário.

O tipo de avaliação proposto poderá contribuir para o desenvolvimento da autonomia daqueles que se encontram, em geral, no lugar de avaliados.

Conhecimentos linguísticos e gramaticais 2

Faça as atividades no caderno.

Orações coordenadas e orações subordinadas

Vamos lembrar de algumas coisas que você já aprendeu? Da crônica “O fruto da solidão”, releia estes períodos:

um.

Por causa de algumas reminiscências sobre comidas da infância, uma amiga gentil me presenteou com um saco de seriguelas.

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 20.

dois.

Meu avô, muito guloso, imediatamente deu uma guinada, e parou no recuo.

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 20.

  1. Quantos verbos tem o primeiro período? E o segundo?
  2. O primeiro desses períodos é simples ou composto? E o segundo?
  3. Agora, releia este recorte:

três.

Enquanto meus avós escolhiam os jambos, dei uns passos reticências

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página20.

Quantos verbos tem esse trecho? Quais são?

  1. Qual dos trechos que você releu se constitui de um período composto por subordinação? E qual se constitui de um período composto por coordenação? Justifique suas respostas.
  2. Que palavra liga as orações do período composto por subordinação? E que palavra liga as orações do período composto por coordenação?
  3. A que classe de palavras pertencem os dois termos que você identificou no item anterior?

Quando falamos sobre orações coordenadas e orações subordinadas estamos falando sobre período composto.

Você já viu que os períodos compostos são aqueles que têm duas ou mais orações. Você estudou também que as orações coordenadas são independentes entre si sintática e semanticamente, e as orações subordinadas, não.

Em outras palavras, as orações subordinadas desempenham uma função sintática em relação à oração principal e são classificadas de acordo com essa função.

Esquema.
Os avós não viram a menina perto das árvores e partiram.
Período composto por coordenação

Os avós não viram a menina perto das árvores: oração principal

e: conjunção coordenativa

partiram: 2ª oração

Os avós não viram a menina perto das árvores/partiram: orações coordenadas
Esquema.
A menina teve medo enquanto esteve sozinha.
Período composto por subordinação

A menina teve medo: oração principal
enquanto : conjunção subordinativa
esteve sozinha: oração subordinada
Respostas e comentários

a) O primeiro período tem um verbo (presenteou). O segundo, dois (deu, parou).

b) O primeiro período é simples e o segundo, composto.

c) Tem dois verbos: escolhiam e dei.

e) Enquanto liga o período composto por subordinação e o e liga o composto por coordenação.

f) À classe das conjunções.

Respostas

Esta atividade tem como objetivo resgatar as noções de oração, período simples e composto, de coordenação e subordinação, que vêm sendo estudadas desde o volume do 6º ano, para introduzir as orações subordinadas substantivas de modo mais contextualizado.

d) O período composto por subordinação é o três, pois há uma hierarquia/dependência sintática e de sentido entre as duas orações. O composto por coordenação é o dois, porque as duas orações são independentes sintática e semanticamente.

Habilidades trabalhadas nesta seção e em sua subseção (Questões da língua)

(ê éfe seis nove éle pê cinco seis) Fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma-padrão em situações de fala e escrita nas quais ela deve ser usada.

(ê éfe zero oito éle pê zero quatro) Utilizar, ao produzir texto, conhecimentos linguísticos e gramaticais: ortografia, regências e concordâncias nominal e verbal, modos e tempos verbais, pontuação etcétera

(ê éfe zero oito éle pê um dois) Identificar, em textos lidos, orações subordinadas com conjunções de uso frequente, incorporando-as às suas próprias produções.

(ê éfe zero oito éle pê zero seis) Identificar, em textos lidos ou de produção própria, os termos constitutivos da oração (sujeito e seus modificadores, verbo e seus complementos e modificadores).

(ê éfe oito nove éle pê três sete) Analisar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como ironia, eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras.

Sobre Orações coordenadas e orações subordinadas

As atividades desta seção vão reforçar as funções dos recursos gramaticais na constituição dos textos. Assim, assegure-se de que os estudantes tenham clareza sobre determinados conceitos. Faça-os explicar o que é uma oração (enunciado linguístico centrado em um verbo), período (enunciado iniciado por letra maiúscula e finalizado por um sinal de pontuação), como identificar um período simples (tem apenas uma oração) ou composto (tem mais de uma oração), por que dizemos que há período composto por coordenação (as orações são sintaticamente independentes) ou porque é classificado como composto por subordinação (as orações são interdependentes). Durante a interação, peça-lhes que ilustrem com exemplos. Faça a mediação necessária e elucide todas as possíveis dúvidas.

As orações subordinadas podem ser adverbiais, substantivas ou adjetivas. Essa classificação se deve ao fato de que cada um desses tipos de oração desempenha função semelhante a advérbio, substantivo e adjetivo.

Você já estudou as orações subordinadas adverbiais. Agora, vai conhecer as substantivas e se aprofundar em três delas: as objetivas diretas, as objetivas indiretas e as apositivas.

Orações subordinadas substantivas

Leia com um colega esta tirinha de Calvin.

Tirinha. Em três cenas. Personagens: Calvin, menino com cabelos espetados, usando blusa listrada e short. Mãe de Calvin, mulher com cabelos na altura do ombro, usando camisa xadrez e calça. Cena 1. À esquerda, a mãe está de pé, com as mãos na cintura e olhando para Calvin. Ela diz: QUERO QUE VOCÊ ARRUME O SEU QUARTO HOJE, TÁ? À direita, Calvin está de pé, olhando para a mãe, e diz: VAI ME PAGAR POR ISSO? Atrás dele, cama desarrumada, com diversos objetos espalhados, e um gaveteiro com gavetas abertas. Cena 2. A mãe, caminhando para a esquerda, se afastando de Calvin, diz: NÃO. Calvin, com os braços levantados para cima, as mãos espalmadas e a boca bem aberta, diz: SE NÃO ME PAGAM, COMO VOU SABER QUE É IMPORTANTE? Cena 3. A mãe, com os braços cruzados e o corpo voltado para Calvin, diz: VOCÊ PODE CONFIAR EM UMA MÃE QUANTO A ISSO. Ao lado, Calvin está cabisbaixo e com a boca fechada.

uáterson, Bill. O mundo mágico: as aventuras de Calvin & Haroldo. São Paulo: cônrad, 2007. página. 76.

  1. Sobre o que Calvin e a mãe estão discutindo?
  2. O menino afirma que, se não for remunerado pela arrumação, não saberá se ela é importante. Discuta com seu colega sobre o que pensam dessa atitude.
  3. Retomem a fala da mãe no primeiro quadrinho. Quantos verbos há nela? Quantas orações?
  4. A fala da mãe constitui-se de um período composto por coordenação ou por subordinação? Discutam e justifiquem.

Observe esta reescrita da fala da mãe de Calvin e compare-a com a fala original.

Esquema.
Eu quero a arrumação de seu quarto por você hoje.
Período simples

Eu: sujeito
quero: núcleo do predicado
a arrumação: substantivo/núcleo do objeto direto
a arrumação de seu quarto por você hoje: objeto direto

[Eu] Quero que você arrume o seu quarto hoje, tá?
Período composto por subordinação

[Eu] quero: oração principal
que você arrume o seu quarto hoje, tá?: oração subordinada substantiva na função sintática de objeto direto

Veja que a reescrita se constitui de um período simples. O núcleo do predicado nesse caso é um verbo transitivo direto (quero), que exige um objeto direto. Esse objeto direto tem um núcleo – o substantivo arrumação.

Respostas e comentários

a) Sobre a arrumação do quarto do menino.

b) Resposta pessoal.

c) Há dois verbos e duas orações.

Sobre Orações subordinadas substantivas

Estas orações equivalem a um substantivo, no período simples. Se a turma manifestar dificuldades para compreender esse processo, organize uma atividade de transformação das orações em substantivos. exêmplo.: Combinamos de ir ao cinema > Combinamos a ida ao cinema; Não gosto de que me critiquem > não gosto de críticas a mim; Gostaria de saber isto: como funciona este celular > gostaria de saber sobre o funcionamento deste celular. Trabalhe quantas frases forem necessárias para que os estudantes apreendam o processo. Pode-se ainda propor o movimento contrário, apresentando-se períodos simples em que o substantivo deve ser transformado em oração subordinada substantiva: Aguardo o embarque no avião > aguardo embarcar no avião; Não sei da possibilidade dessa vitória > não sei se essa vitória é possível. Mostre-lhes que essas possibilidades estão disponíveis na língua para flexibilizar os modos de enunciar uma ideia em português. Outra vantagem é eles perceberem que essas transformações resultam de processos morfológicos de formação de palavras: agitar > agito; atacar > ataque; combater > combate; condenar > condenação; acusar > acusação etcétera

Respostas

b) Aproveite para promover uma discussão sobre a contribuição de cada membro da família nas atividades domésticas. Questione também a demanda por remuneração que o menino faz.

d) Constitui-se de um período composto por subordinação, porque a relação entre as orações é hierárquica: há uma oração principal (Quero, que demanda um complemento – objeto direto, no caso, visto que o verbo querer se apresenta como transitivo direto) e a que a completa sintática e semanticamente (que você arrume o seu quarto hoje).

No entanto, a fala original da mãe se constitui de um período composto. O núcleo da oração principal continua sendo um verbo transitivo direto (quero), que exige um objeto direto. Entretanto, nessa fala, a função de objeto direto está sendo desempenhada por uma oração.

No segundo exemplo, vemos então que a oração principal é complementada sintática e semanticamente por uma outra oração que tem o valor de um substantivo. A esse tipo de oração damos o nome de oração subordinada substantiva. Ela geralmente é introduzida por uma conjunção integrante, na maioria das vezes, que.

Para finalizar esta parte, as orações subordinadas substantivas exercem funções sintáticas em relação à oração principal que são próprias de substantivos: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e aposto.

Nesta Unidade, estudaremos as orações subordinadas substantivas objetiva direta, objetiva indireta e apositiva. As demais, veremos nas próximas Unidades.

Orações subordinadas substantivas objetivas diretas

A fala da mãe de Calvin na tirinha que você viu traz uma oração subordinada substantiva que desempenha a função de objeto direto da oração principal. Leia agora esta tirinha.

Tirinha. Em três cenas. Armandinho, um menino com cabelos azuis, usando camiseta branca e short azul. Cena 1. Armandinho está segurando com as mãos um livro aberto. Ele está voltado para a direita, com a cabeça levemente inclinada para frente, em direção ao livro. Atrás dele, um sapo sorrindo e notas musicais flutuando. Na parte superior, o texto: 'OS CIENTISTAS DIZEM QUE SOMOS FEITOS DE ÁTOMOS'... Cena 2. Armandinho, ainda com o livro nas mãos, está voltado para a direita, olhando para frente e sorrindo. Atrás dele, um sapo e notas musicais flutuando. Na parte superior, o texto: ... 'MAS UM PASSARINHO ME DIZ'... Cena 3. Armandinho está voltado para a direita, sorrindo e olhando para cima, na direção de um passarinho que está pousado no galho de uma árvore.  Ao lado, um sapo sorrindo e notas musicais flutuando. Na parte superior, o texto: ... 'QUE SOMOS FEITOS DE HISTÓRIAS*'

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: á cê Beck, 2016. página15.

  1. Armandinho está lendo um livro, que traz uma citação. De quem é? Como você descobriu isso?
  2. Reúna-se com um colega e reflitam sobre estas duas orações:

Os cientistas dizem que somos feitos de átomos.

Os passarinhos dizem que somos feitos de histórias.

Comparem a fala da mãe de Calvin com esses dois exemplos. Em que eles se assemelham?

Na tirinha de Armandinho, vemos mais dois exemplos de orações subordinadas substantivas que exercem a função de objeto direto.

As orações subordinadas que exercem a função de objeto direto são chamadas objetivas diretas.

Essas orações podem também ser introduzidas pela conjunção integrante se. Veja:

Os cientistas verificaram se fomos feitos de átomos.

Respostas e comentários

Sobre Orações subordinadas substantivas objetivas diretas

Reforce a compreensão dos estudantes sobre a necessidade de complementar as informações expressas por determinados verbos. Quem deseja, por exemplo, deseja algo, quem lê, lê algo, quem vê, vê algo ou alguém. Nos períodos simples, os complementos são os objetos diretos; nos compostos por subordinação, os complementos manifestam-se sob a fórma de orações subordinadas substantivas objetivas diretas. Em Desejo teu sucesso, os termos realçados funcionam como objeto direto da oração principal, Desejo; afinal, quem deseja deseja algo. Se a frase fosse Desejo que tenhas sucesso, a lógica seria a mesma, pois, ao questionarmos desejo o quê?, obtemos como resposta: que tenhas sucesso. Assim, o trecho que tenhas sucesso é o objeto direto do verbo desejar. Considerando que essa passagem se manifesta sob a fórma de uma oração, recebe o nome de oração subordinada substantiva objetiva direta.

Respostas

a) A citação é de Eduardo Galeano (1940-2015). Sabe-se disso pelas aspas e nota, indicada por um asterisco, que se encontra no fim do texto e na margem inferior do último quadrinho.

Explore com os estudantes os conceitos de nota de rodapé e de referência. Retome também a importância do uso das aspas para demarcar trechos de outra autoria. Explique-lhes que Eduardo Galeano foi um jornalista e escritor uruguaio.

b) A semelhança se dá pelo fato de as três orações principais terem um verbo transitivo direto como núcleo do predicado que demandam objetos diretos.

Faça as atividades no caderno.

Orações subordinadas substantivas objetivas indiretas

Linus está ensinando Matemática para Sally. Leia:

Tirinha. Em quatro cenas. Personagens: Linus, um menino com pouco cabelo, usando blusa vermelha listrada. Sally, uma menina com cabelos loiros e um laço azul na cabeça. Eles estão sentados à mesa, um ao lado do outro. Linus está segurando um lápis entre os dedos; à sua frente, algumas folhas de papel. Cena 1. Linus está com a cabeça levemente voltada para baixo, escrevendo na folha. Ao lado, Sally, com a mão esquerda sustentando o rosto, observa Linus escrevendo. Linus diz: NÃO SE ESQUEÇA DE QUE UM NUMERAL SEMPRE CORRESPONDE A UMA CERTA QUANTIDADE DE OBJETOS.... Cena 2. Olhando para Sally, Linus diz: ENTÃO, QUANDO VOCÊ CONTA, O QUE ESTÁ FAZENDO É ENCONTRAR A CORRESPONDÊNCIA ENTRE OS ELEMENTOS QUE ESTÁ CONTANDO E O CONJUNTO DOS NUMERAIS... Sally está com a cabeça voltada para Linus, prestando atenção ao que ele diz. Cena 3. Linus, escrevendo na folha, diz: EM UM CONJUNTO DE NÚMEROS, AQUELE QUE INDICA O ÚLTIMO DELES A ENCONTRAR CORRESPONDÊNCIA É O NÚMERO CARDIAL...Sally observa Linus escrevendo. Cena 4.  Sally, com a mão no rosto e olhando para Linus, diz: VAI PASSAR UM PROGRAMA LEGAL NA TV HOJE ÀS SETE HORAS! Linus olha para cima com os olhos arregalados e expressão desapontada.

chuls charles ÉmVocê não entende o sentido da vida! Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2017. página 25.

  1. Sally não aproveitou a explicação de Linus. Como é possível saber disso?
  2. Compare:

– Não se esqueça de que um numeral sempre corresponde a uma certa quantidade de objetos...

chuls charles. Você não entende o sentido da vida! Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2017. página 25.

– Não se esqueça da correspondência entre um numeral e uma certa quantidade de objetos...

  1. Qual é o verbo da oração principal dos dois períodos? Que tipo de verbo ele é em termos de transitividade? Por quê?
  2. Qual é a função sintática desempenhada pelos trechos em destaque em cada um dos períodos?
  3. Qual é o núcleo do trecho em destaque no primeiro período? E no segundo?

Retome a reescrita da primeira fala de Linus para compará-la à fala original:

Esquema.
– [Você] Não se esqueça da correspondência entre um numeral e uma certa quantidade de objetos...
Período simples

[Você]: sujeito
esqueça: núcleo do predicado
correspondência: substantivo núcleo do objeto indireto

– [Você] Não se esqueça de que um numeral sempre corresponde a uma certa quantidade de objetos...
Período composto por subordinação

Não se esqueça: oração principal
de que um numeral sempre corresponde a uma certa quantidade de objetos...: oração subordinada substantiva na função sintática de objeto indireto
corresponde: verbo núcleo do predicado

A reescrita compõe-se de um período simples, com um verbo transitivo indireto (esquecer-se) como núcleo do predicado e um substantivo (correspondência) como núcleo do objeto indireto.

Respostas e comentários

1. Pelo comentário que ela faz no último quadrinho, totalmente desvinculado da explicação. Além disso, a expressão facial do menino revela desapontamento.

Sobre Orações subordinadas substantivas objetivas indiretas

O mesmo raciocínio usado para compreender as orações subordinadas substantivas objetivas diretas deve ser aplicado aqui nas orações subordinadas substantivas objetivas indiretas. A diferença é que os verbos empregados nas construções, por serem transitivos indiretos, sempre aparecerão acompanhados de uma preposição, ou seja, quem precisa, precisa de algo ou de alguém, quem depende, depende de algo ou de alguém, quem se lembra, se lembra de algo ou de alguém. Nos períodos simples, os complementos são os objetos indiretos; nos compostos por subordinação, os complementos manifestam-se sob a fórma de orações subordinadas substantivas objetivas indiretas. Em Convenci-me de tua inocência, os termos de tua inocência funcionam como objeto indireto da oração principal Convenci-me; afinal, quem se convence se convence de algo. Se a frase for Convenci-me de que eras inocente, a lógica será a mesma, pois, ao questionarmos: Convenci-me de quê?, obtemos como resposta de que eras inocente. Assim, o trecho de que eras inocente é o objeto indireto do verbo convencer-se. Considerando que essa passagem se manifesta sob a fórma de uma oração, recebe o nome de oração subordinada substantiva objetiva indireta.

Respostas

2. a) O verbo é esquecer-se. É um verbo transitivo indireto, porque demanda um objeto indireto (ligado a ele por preposição).

b) Em ambos os períodos, a função sintática dos trechos destacados é a de objeto indireto.

c) No primeiro, o núcleo é um verbo (corresponde); no segundo, um substantivo (correspondência).

A primeira fala de Linus, porém, é um período composto. O núcleo da oração principal continua sendo um verbo transitivo indireto (esquecer-se), o qual exige um objeto indireto que, na fala original, é constituído de uma oração.

As orações subordinadas que exercem a função de objeto indireto são chamadas objetivas indiretas.

Orações subordinadas substantivas apositivas

1. Eddie Sortudo e Hagar estão conversando. Leia:

Tirinha. Em duas cenas. Personagens: Hagar, um homem corpulento usando roupa de pele de animal e chapéu com chifres. Eddie, um homem usando macacão e um cone na cabeça. Eles estão sentados lado a lado e seguram uma vara de pesca. Cena 1. À esquerda, Eddie, olhando para Hagar, diz: PERGUNTOU A HELGA SE PODERÁ IR A PARIS? À direita, olhando para baixo, Hagar diz: PERGUNTEI. ELA RESPONDEU ISTO: QUE SÓ IREI NO DIA DE SÃO NUNCA. Cena 2. Eddie, olhando para frente, diz: BEM, O IMPORTANTE É QUE ELA NÃO DISSE 'NÃO'! Hagar está sustentando a cabeça com a mão esquerda e com os olhos voltados para cima.

BROWNE, Chris; BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o horrível. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2010. página 89.

  1. Sobre o que as duas personagens estão conversando?
  2. Helga, a esposa de Hagar, concordou com essa viagem? Como você identificou isso?
  3. Fez ou não diferença Helga não ter dito “Não”?

2. Reúna-se com um colega para analisar este período:

Ela respondeu isto: que só irei no dia de São Nunca.

BROWNE, Chris; BROWNE, Dik. O melhor de Hagar, o horrível. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2010. página 89.

  1. Quantas orações tem esse período? Quais são os verbos de cada uma?
  2. O trecho destacado refere-se a que palavra da oração principal?
  3. Que informação o trecho destacado traz para a palavra a que se refere?

Observe como está constituída a resposta que Hagar deu a Eddie:

Esquema.
– Ela respondeu isto: que só irei no dia de São Nunca.
Período composto por subordinação

– Ela respondeu isto: oração principal
que só irei no dia de São Nunca: oração subordinada substantiva na função sintática de aposto

A oração subordinada refere-se ao pronome demonstrativo isto da oração principal. Como ele tem um sentido vago, impreciso, a oração desempenha a função de elucidá-lo.

O núcleo da oração principal da fala de Hagar é um verbo transitivo direto (disse), que exige um objeto direto (isto). Esse objeto direto é vago e demanda uma elucidação. Quem traz essa elucidação é a oração que vem depois dos dois-pontos (que só irei no dia de São Nunca), o que implicou a resposta de Helga propriamente.

As orações subordinadas que têm a função de aposto são chamadas apositivas.

Respostas e comentários

1. a) Estão conversando sobre a possibilidade de uma viagem a Paris.

1. b) Não, ela não concordou. Isso pode ser identificado pela condição que impôs ao marido: ele poderá ir no dia de São Nunca (que não existe).

1. c) Não, não fez diferença, visto que ela impôs uma condição que inviabiliza a ida de Hagar a Paris.

2. a) Esse período tem duas orações. Os verbos são: respondeu (oração principal) e irei (oração subordinada).

2. b) Refere-se a isto.

2. c) O trecho destacado explica o que o pronome demonstrativo isto está significando nesse contexto.

Sobre Orações subordinadas substantivas apositivas

No período simples, o aposto corresponde ao termo da oração que tem as funções de explicar, resumir, enumerar, especificar ou atribuir qualidade a outro nome. Os apostos também podem se manifestar, no português, sob a fórma de uma oração. Nesse sentido, em Só quero uma coisa: que você realize seus desejos, a oração que você realize seu desejo explicita o que estava condensado na palavra coisa, registrada na oração principal, esclarecendo, ao interlocutor, qual era o desejo do enunciador. Explique aos estudantes que as orações subordinadas substantivas apositivas costumam aparecer justapostas, isto é, sem o uso de uma conjunção integrante (Meu avô me disse isto: você é um jovem sábio.). Assim, para explicar um termo anteriormente expresso, esse tipo de oração geralmente vem precedida de dois-pontos. No entanto, por sua natureza apositiva, também podem ser precedidas das seguintes locuções explicativas: a saber, isto é, ou seja etcétera

Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

Atividades

Faça as atividades no caderno.

  1. Transforme os períodos simples em compostos, usando orações subordinadas substantivas estudadas.
    1. Eu esperava sua vinda ansiosamente. (oração subordinada substantiva objetiva direta)
    2. Ela não se esqueceu de seu amor por ele. (oração subordinada substantiva objetiva indireta)
  2. Agora, faça o inverso: transforme os períodos compostos por subordinação em períodos simples.
    1. Eu imagino que você lute com garra por seu sonho.
    2. Nós insistimos em que você participe do evento.
  3. Os períodos a seguir foram retirados da crônica “O fruto da solidão”. Releia-os.

um.

Mas logo descobri que levava os jambos comigo.

dois.

Na certa tinham pensado que eu sequer saltara.

SEIXAS, Heloisa. O fruto da solidão. In: SEIXAS, Heloisa. O amigo do vento: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 22.

  1. Quais são os verbos ou as locuções verbais de cada período? E as orações principais? E as subordinadas?
  2. Que função sintática cada oração subordinada desses períodos desempenha?

4. Reúna-se com um colega e leiam este trecho da obra Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa:

O senhor... mire, veja: o mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais reticências

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. página 20.

  1. Qual é o sentido desse trecho?
  2. Considerem o destaque. O período composto por subordinação constitui-se de quais orações? Analisem detalhadamente, conversem e justifiquem.

5. Leia a tirinha a seguir.

Tirinha. Em quatro cenas. Personagens: Calvin, um menino com cabelos espetados, usando blusa listrada e short. Mãe de Calvin, mulher com cabelos na altura dos ombros, usando blusa de mangas compridas e calça. Cena 1. À esquerda, a mãe de Calvin está sentada à mesa, com as mãos sobre a mesa e a cabeça voltada para a direita, olhando para baixo. À direita, Calvin está de pé olhando para a mãe. Ele diz: EU TENHO UM COMUNICADO. A PARTIR DE HOJE, EU NÃO VOU MAIS RESPONDER PELO NOME DE 'CALVIN'. Cena 2. Calvin, com os olhos fechados e a mão direita no peito, diz: DE AGORA EM DIANTE, EU QUERO SER CHAMADO DE 'CALVIN, O CORAJOSO'. Cena 3. Com o corpo levemente voltado para a direita e olhando para Calvin, a mãe diz: CALVIN, O CORAJOSO? Calvin, sorrindo, diz: CERTO, ESTE É O MEU NOVO NOME PARA O RESTO DA MINHA VIDA. Cena 3. Com a mão esquerda sobre o encosto da cadeira e olhando para Calvin, a mãe diz: E COMO FICA 'CALVIN, O DESORDENADO'? Calvin, com os olhos fechados e os braços cruzados, diz: TAMBÉM. CALVIN, O CORAJOSO COMEÇARÁ A REFERIR-SE A SI MESMO NA TERCEIRA PESSOA.

uáterson, Bill. O ataque dos transtornados monstros de neve mutantes assassinos. São Paulo: Best, 1994. volume 2. página 78.

  1. A situação retratada demanda um diálogo formal ou informal? Por quê?
  2. Explique a fala de Calvin no último quadrinho.
  3. Na tirinha ocorre uma oração com função de aposto. Com que objetivo ela é utilizada?
Respostas e comentários

1. a) Eu esperava ansiosamente que você viesse.

1. b) Ela não se esqueceu de que o amava.

2. a) Eu imagino a sua luta por seu sonho com garra.

2. b) Nós insistimos na sua participação no evento.

5. a) Informal, por ser um diálogo entre mãe e filho.

5. b) Calvin se refere a si mesmo como “Calvin, o corajoso”, utilizando a 3ª pessoa.

5. c) É utilizada para explicar, detalhar uma característica do Calvin.

Respostas

1. a) Comente com os estudantes sobre a colocação do advérbio ansiosamente. Se ele fosse incluído ao final da oração subordinada, haveria uma ambiguidade, pois ele estaria logo após o verbo viesse. No local indicado pela resposta, essa ambiguidade se desfaz, em função da proximidade com o verbo esperava. De modo geral, para evitar ambiguidade, os advérbios seriam colocados próximos do termo que modificam.

3. a) um verbos: descobri/levava; oração principal: Mas logo descobri; oração subordinada: que levava os jambos comigo; dois locução verbal e verbo: tinham pensado/saltara; oração principal: Na certa tinham pensado; oração subordinada substantiva objetiva direta: que eu sequer saltara.

b) As duas orações subordinadas substantivas desempenham a função de objeto direto.

4. a) Incentive as duplas a conversarem sobre sua interpretação do texto. O que está em jogo nesse trecho é a transformação por que as pessoas passam durante a vida.

b) O período se constitui de uma oração principal (o mais importante e bonito do mundo é isto:) e uma oração subordinada substantiva apositiva (que as pessoas não estão sempre iguais). A justificativa reside na relação que a oração subordinada substantiva apositiva tem com o termo isto – ela o esclarece.

Questões da língua

Faça as atividades no caderno.

Pontuação (4)

Releia estes trechos da crônica “Visitante noturno”.

reticências Não o mataria com os dedos, mas com outra folha de papel.

reticências Ele fôra o escolhido de um inseto, que poderia ter voado para outro apartamento, onde houvesse outra vigília de escrevedor de coisas, mas aquela fôra a casa de sua preferência.

reticências Seria exagero encontrar expressão naqueles dois pontinhos negros e reluzentes, mas o fato é que deles parecia vir para os olhos do homem um sinal de atenção ou curiosidade.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Visitante noturno. In: ANDRADE, Carlos Drumôn de. Boca do luar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. página. 13-14.

  1. Observe a conjunção mas nos trechos. Ela é chamada de conjunção coordenativa adversativa, pois carrega uma ideia de oposição em relação à oração coordenada anterior. Reúna-se com um colega e discutam: que oposição cada ocorrência da conjunção mas nos trechos anteriores está indicando?
  2. O que você e seu colega identificam antes da conjunção mas nesses trechos? O que é possível inferir disso?
Vírgula e conjunções adversativas

Observe este cartum.

Cartum. Na parte superior, o texto: REDES E CIA LTDA. Abaixo, três homens vestidos com camisa e calça. Dois deles estão deitados em redes. O homem da esquerda está com os olhos fechados e com os braços atrás da cabeça. Ao lado dele, o outro homem está deitado e com a cabeça levantada, olhando para a direita, na direção de um homem que está de pé, segurando uma prancheta. O homem com a prancheta diz: DEIXE-ME VER SE ENTENDI, VOCÊS TESTAM AS REDES O DIA INTEIRO, MAS ACHAM QUE O INTERVALO DE DESCANSO É MUITO CURTO?

Teivis, Bob. Frank & Ernest. O Estado de São Paulo, São Paulo, 9 agosto. 2017. Caderno 2, página C4.

Esse cartum revela uma ironia. A conjunção coordenativa mas na fala do gerente introduz uma oposição entre a ideia apresentada na primeira oração coordenada (Vocês testam as redes o dia inteiro) e na segunda (mas acham que o intervalo de descanso é muito curto), como se ficar deitado o dia todo fosse muito trabalhoso. Geralmente, essa conjunção é antecedida por uma vírgula. Isso também vale para outras conjunções adversativas, como porém, todavia, entretanto e contudo. Exemplo:

É incrível, porém eles não se emendam.

Estamos ansiosos, todavia acreditamos na vitória.

Viajamos muito, entretanto gostamos de voltar para casa.

Somos muito fortes, contudo choramos facilmente.

Respostas e comentários

Sobre Vírgula e conjunções adversativas

No exemplo dado, é importante os estudantes perceberem que as orações coordenadas sindéticas adversativas introduzidas pelo conectivo mas são sempre precedidas por vírgulas. No entanto, professor, se considerar pertinente aprofundar a discussão, pode ampliar a reflexão com os estudantes e mostrar que, excetuadas as orações coordenadas sindéticas aditivas conectadas pelo conectivo e, as demais orações coordenadas são assindéticas, separando-se por vírgulas. Esse, no entanto, não é o único sinal que delimita as orações coordenadas, já que os conectivos coordenativos – porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto – têm grande mobilidade no discurso, podendo figurar no início, no meio e até mesmo no fim de uma oração: Pedro é açougueiro; entretanto, não come carne / Pedro é açougueiro; não come, entretanto, carne / Pedro é açougueiro: não come carne, entretanto.

Respostas

a) Na primeira, traz a oposição ao modo de matar o mosquito; na segunda, a de não ter ido para qualquer apartamento, mas para aquele; na terceira, a da expressividade do olhar do mosquito quando isso não seria esperado.

b) Identifica-se a ocorrência da vírgula antes de mas. Pode-se inferir que, antes de mas com valor de oposição, se emprega a vírgula.

Faça as atividades no caderno.

O uso da vírgula antes da conjunção será opcional apenas quando ela apresentar valor aditivo, ou seja, quando estiver relacionando ideias que se somam e for parte da construção não só... mas também. Veja:

Falava não só inglês mas também arranhava francês e italiano.

Ortografia

Releia este trecho da crônica “Ciao”, de Carlos Drumôn de Andrade:

reticências Nasceu aí, na velha Belo Horizonte dos anos 20, um cronista que ainda hoje, com a graça de Deus e com ou sem assunto, comete as suas croniquices.

ANDRADE, Carlos Drumôn de. Ciao. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 setembro. 1984. Caderno B, página 1.

a. A palavra destacada deriva de que outra? A que classe gramatical pertence? E a sua primitiva?

Versão adaptada acessível

a. A palavra "croniquices" deriva de que outra? A que classe gramatical pertence? E a sua primitiva?

  1. Que sentido ela assume no trecho?
  2. Compare croniquices com as palavras do quadro:

velhice

fugisse

dormisses

tolices

mesmice

partisse

  • A que classe gramatical pertence cada uma das palavras do quadro?
  • O que é possível concluir em relação à fórma como elas são grafadas?
Os sufixos -ice e -isse

A palavra croniquice, como você já viu, é um neologismo, formado por um substantivo (crônica) e o sufixo -ice(ésse). Esse sufixo se junta a outros substantivos ou adjetivos para formar novos substantivos.

A terminação -isse é indicativa do tempo pretérito imperfeito do modo subjuntivo, referindo-se a verbos, portanto.

São grafadas com a terminação -ice as palavras que pertencem à classe dos substantivos. Exemplos: meninice, chatice, gulodices.

A terminação -isse é usada com verbos da 3ª conjugação, no pretérito imperfeito do modo subjuntivo. Exemplos: dormisses, partisse, fugisse.

Saiba +

Caminhada literária

Em Belo Horizonte foi criado um roteiro turístico que apresenta a capital mineira dos anos 1920 seguindo os passos de escritores como Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade e Pedro Nava. O trajeto da caminhada, que dura cerca de duas horas, termina no mirante da rua Sapucaí, vizinho à casa do poeta Carlos Drummond de Andrade. De acordo com os idealizadores do passeio, eles se basearam nos escritos dos poetas e cronistas para mostrar uma Belo Horizonte que agora só existe por meio desses registros.

Respostas e comentários

a) Deriva de crônica. Tanto croniquices quanto crônica pertencem à classe dos substantivos.

b) A palavra indica comportamentos típicos dos cronistas.

Sobre Os sufixos -ice e -isse

Alerte os estudantes para uma observação importante: o sufixo sempre será uma fórma linguística que se acrescenta ao final de uma palavra flexionada ou derivada. Nesse sentido, nem todas as terminações de palavras são sufixos: por exemplo, as palavras vice, ápice, foice, coice, índice, hélice, apólice, cúmplice, Berenice têm as três letras finais terminadas em -ice. No entanto, isso não significa que -ice seja um sufixo, já que essas palavras não são fórmas derivadas ou flexionadas. Assim, para se certificar de que -ice é um sufixo formador de substantivos abstratos, faz-se necessário observar a base primitiva, isto é, sabemos que -ice é sufixo em meninice, chatice e gulodice, pois conseguimos retomar, respectivamente, as fórmas menino, chato e guloso. Já o sufixo -isse, ainda que tenha a mesma identidade sonora de seu homófono -ice, tem grafia distinta e caracteriza não a derivação lexical, e sim a desinência que se emprega para flexionar verbos no modo subjuntivo. Nesse sentido, acrescenta-se esse sufixo a uma base verbal: partir > partisse; dormir > dormisse; ver > visse.

Respostas

c) 

  • Pertencem à classe dos substantivos: velhice, mesmice, tolices. Pertencem à classe dos verbos: dormisses, fugisse, partisse.
  • Espera-se que os estudantes notem que as palavras que pertencem à classe dos substantivos são grafadas com sufixo -ice, e as que pertencem à classe dos verbos são grafadas com a terminação -isse.
Ícone. Ilustração de três triângulos apontando para o lado direito, indicando a seção Atividades.

ATIVIDADES

Faça as atividades no caderno.

1. Foram suprimidas as vírgulas destes dois trechos da crônica “Roncos”, de Ruy Castro.

Não se sabe como eles chegam a esses números mas calcula-se que haja no Brasil mais de seis milhões de pessoas que roncam consistentemente. reticências

reticências Dá a média de um cidadão roncando para 30 que não sofrem do problema mas que podem estar ao alcance sonoro do roncador.

CASTRO, Ruy. Roncos. In: CASTRO, Ruy. A melancia quadrada: crônicas. São Paulo: Moderna, 2015. página 21.

a. Copie os trechos no caderno, pontuando-os adequadamente.

Versão adaptada acessível

a. Transcreva os trechos, pontuando-os adequadamente.

  1. Justifique a pontuação que você usou.
  2. Reescreva os dois trechos, substituindo a conjunção mas por outras conjunções adversativas e fazendo as adequações necessárias.
  3. Observe a pontuação que você usou durante a reescrita. Compare-a com a que colocou nos trechos originais. Comente.

2. Leia o cartum.

Cartum. No centro, uma cebola roxa e uma cenoura conversando. A cebola roxa está sorrindo, os braços flexionados para cima e as mãos espalmadas. Olhando para a cenoura, a cebola diz: VOCÊ É UM LEGUME? EU TAMBÉM. ALGUMAS PESSOAS GOSTAM DE MIM E OUTRAS NÃO. COM VOCÊ É ASSIM? DE QUE FAZENDA VOCÊ É? EU SOU DA FAZENDA DE... Ao lado, a cenoura está com os olhos semiabertos, a boca voltada para baixo e os braços caídos na lateral do corpo, com expressão desolada.  À direita, uma placa com o texto: GRAMÁTICA DOS ALIMENTOS: CEBOLICE.

Teivis, Bob. Frank & Ernest. O Estado de São Paulo, São Paulo, 17 dezembro. 2016. Caderno 2, página C6.

  1. A cebola está conversando com a cenoura. O que a imagem informa sobre essa interação?
  2. Pelo que você leu na fala da cebola, da expressão da cenoura e da placa “Gramática dos alimentos: cebolice”, o que é possível supor sobre o sentido dessa palavra?
  3. Liste outras palavras que apresentem o sufixo -ice e suas respectivas primitivas.

3. Copie e complete as palavras do quadro com -ice ou -isse.

meigu*   ped*mos   crianc*   rabug*

ca*   tagarel*   dirig*   resist*

  • O que você percebeu em relação ao uso dessas terminações?

4. Reúna-se com um colega para elaborarem um parágrafo a partir deste início, empregando o pretérito imperfeito do modo subjuntivo.

Tudo seria melhor, se ...

Respostas e comentários

2. a) Ela mostra a cebola animadíssima e a cenoura com expressão de tédio, desânimo, cansaço.

2. b) É possível supor que cebolice significa bobagem, tolice.

2. c) Resposta pessoal.

3. Meiguice, caísse, pedíssemos tagarelice, criancice, dirigisse, rabugice, resistisse, com as terminações ice, formando substantivos.

Respostas pessoais.

Respostas

1. a) “Não se sabe como eles chegam a esses números, mas calcula-se que haja no Brasil mais de seis milhões de pessoas que roncam consistentemente. reticências / reticências Dá a média de um cidadão roncando para 30 que não sofrem do problema, mas que podem estar ao alcance sonoro do roncador.”

b) As conjunções coordenativas adversativas geralmente são precedidas de vírgula.

c) Não se sabe como eles chegam a esses números, porém/contudo/todavia/entretanto... calcula-se que haja no Brasil mais de seis milhões de pessoas que roncam consistentemente. reticências / reticências Dá a média de um cidadão roncando para 30 que não sofrem do problema, porém/contudo/todavia/entretanto... que podem estar ao alcance sonoro do roncador.

d) A vírgula foi usada durante as substituições assim como na reescrita dos trechos originais.

2. c) Relacione as palavras listadas pelos estudantes na lousa, comentando a passagem da primitiva para a derivada pelo sufixo e identificando caso a caso a classe gramatical de ambas.

4. Peça às duplas que leiam seus parágrafos para comentar o uso do tempo/modo solicitado e sua grafia com -isse.

Sugestões para as atividades

Neste fechamento de atividades sobre análise linguística, confira se a turma ainda tem alguma dúvida sobre os tópicos trabalhados. Se necessário, elabore outras atividades, respeitando, sempre, o ritmo e a necessidade de aprendizagem de cada estudante. Explore bem a última atividade desta seção, pois é uma oportunidade que os estudantes têm de aplicar um conceito gramatical à produção de pequenos textos. Os resultados também poderão apontar alguns anseios, desejos e insatisfações – o que contribuirá para você conhecer um pouco mais o perfil dos estudantes.

Produção de texto

Ilustração. Ícone de Tema contemporâneo transversal Multiculturalismo.

Crônica

O que você vai produzir

Nesta Unidade, você leu crônicas e conheceu as características desse gênero. Que tal experimentar o olhar atento do cronista? Para isso, observe bem seus lugares de vivência, escolha uma situação inusitada e produza sua crônica. Os textos da turma devem ser reunidos na coletânea Crônicas do nosso bairro. A turma pode organizar um evento para lançar a publicação e promover rodas de leitura e conversa com a comunidade escolar.

Planejamento

1. A produção do cronista é quase diária. Por isso, diante da falta de assunto, é comum que os escritores se inspirem em outros textos do gênero para ter ideias e assim, produzir o próprio texto. Por isso, para ajudar em seu planejamento, leia a crônica “Tatuapé, o caminho do tatu”, de Daniel Munduruku, autor de origem indígena que resolveu refletir sobre os significados dos nomes indígenas em alguns lugares da cidade de São Paulo.

Tatuapé, o caminho do tatu

Uma das mais intrigantes invenções humanas é o metrô. Não digo que seja intrigante para o homem comum, acostumado com os avanços tecnológicos. Penso no homem da floresta, acostumado com o silêncio da mata, com o canto dos pássaros ou com a paciência constante do rio que segue seu fluxo rumo ao mar.

Os índios sempre ficam encantados com a agilidade do grande tatu metálico. Lembro de mim mesmo quando cheguei a São Paulo. Ficava muito tempo atrás desse tatu, apenas para observar o caminho que ele fazia.

O tatu da floresta tem uma característica muito interessante: ele corre para sua toca quando se vê acuado pelos seus predadores. É uma fórma de escapar ao ataque deles. Mas isso é o instinto de sobrevivência. Quem vive na floresta sabe, bem lá dentro de si, que não pode se permitir andar desatento, pois corre um sério perigo de não ter amanhã.

O tatu metálico da cidade não tem esse medo. É ele que faz o seu caminho, mostra a direção, rasga os trilhos como quem desbrava. É ele que segue levando pessoas para os seus destinos. Alguns sofrem com sua chegada, outros sofrem com a sua partida.

lustração. Um tatu com corpo de trem com oito vagões. No primeiro vagão, cabeça e patas dianteiras de tatu. No último vagão, patas traseiras e rabo de tatu.
Respostas e comentários

Orientação

Nesse momento, os estudantes já terão reunido conhecimentos variados sobre o gênero crônica. É possível retomar a reflexão sobre o gênero estudado, propondo a eles que retomem o que aprenderam em momentos anteriores, já com o objetivo de planejar a escrita dos próprios textos. A seção possibilita desenvolver o tema contemporâneo transversal Multiculturalismo (subtema: Diversidade Cultural) ao permitir que o estudante explore seus lugares de vivência e sentimentos de identidade e pertencimento. A prática favorece que reconheçam na literatura a pluralidade cultural.

Sobre Planejamento

Após a leitura de “Tatuapé, o caminho do tatu”, promova um diálogo com os estudantes para que eles possam compartilhar suas impressões sobre a crônica do autor Munduruku. Aproveite para retomar o que já foi estudado nesta Unidade sobre o gênero. Se julgar pertinente, leve para sala de aula o significado de nomes indígenas de espaços da sua cidade, mostrando para o estudante como as palavras de origem indígena estão presentes em nossa língua.

Habilidades trabalhadas nesta seção

(ê éfe seis nove éle pê cinco um) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etcétera – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.

(ê éfe oito nove éle pê três cinco) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.

Voltei a pensar no tatu da floresta, que desconhece o próprio destino mas sabe aonde quer chegar.

Pensei também no tempo de antigamente, quando o Tatuapé era um lugar de caça ao tatu. Índios caçadores entravam em sua mata apenas para saber onde estavam as pegadas do animal. Depois eles ficavam à espreita daquele parente, aguardando pacientemente sua manifestação. Nessa hora – quando o tatu saía da toca – eles o pegavam e faziam um suculento assado que iria alimentar os famintos caçadores.

Voltei a pensar no tatu da cidade, que não pode servir de alimento, mas é usado como transporte, para a maioria das pessoas poder encontrar o seu próprio alimento. Andando no metrô que seguia rumo ao Tatuapé, fiquei mirando os prédios que ele cortava como se fossem árvores gigantes de concreto. Naquele itinerário eu ia buscando algum resquício das antigas civilizações que habitaram aquele vale. Encontrei apenas urubus que sobrevoavam o trem que, por sua vez, cortava o coração da Mãe Terra como uma lâmina afiada. Vi pombos e pombas voando livremente entre as estações. Vi um gavião que voava indiferente por entre os prédios. Não vi nenhum tatu e isso me fez sentir saudades de um tempo em que a natureza imperava nesse pedaço de São Paulo habitado por índios Puris. Senti saudades de um ontem impossível de se tornar hoje novamente.

Pensando nisso deixei o trem me levar entre Itaquera e Anhangabaú. Precisava levar minha alma para o princípio de tudo.

MUNDURUKU, Daniel. Tatuapé, o caminho do tatu. Crônicas de São Paulo: um olhar indígena. São Paulo: Callis, 2009. página14-16.

  1. A exemplo de Daniel Munduruku, escreva uma crônica em que o assunto tenha relação com o lugar onde você vive. Planeje os seguintes aspectos do seu texto:
    • Defina o recorte do seu tema, por exemplo, pode ser o bairro e a escola, o bairro e o transporte etcétera. Lembre-se: a crônica é um texto curto. Essa seleção é fundamental. Observe como Munduruku fez esse recorte e pense como fará isso em seu texto.
    • Com o tema definido, pense em que história você vai contar. É uma situação cotidiana comum ou um fato inusitado? Quem vivenciou esses acontecimentos? Na crônica lida, Munduruku parte de algo corriqueiro: o vai e vem dos moradores no metrô e sua experiência na cidade de São Paulo fazem-no refletir sobre a relação do homem na cidade e sobre o tempo.
    • Quanto à fórma como a crônica será apresentada, anote suas ideias para o tipo de ponto de vista (1ª pessoa ou 3ª pessoa), os detalhes relativos ao espaço e ao tempo dos acontecimentos.
    • Vale ainda refletir sobre a maneira como construirá a proximidade com o leitor, isto é, se vai se dirigir diretamente a ele.
    • Qual será a linguagem adotada? Observe como Munduruku cria seu texto baseando-se em comparações entre passado e presente, bem como utilizando imagens ao relacionar o metrô com o tatu. Você pode se apropriar dessa referência ou dos recursos empregados por Drumôn e Seixas. Lembre-se de que esse aspecto depende do tema que deseja desenvolver.
    • Que reflexão sobre o cotidiano e a condição humana você deseja promover no leitor por meio de sua crônica?
    • Qual será o tom que você adotará na sua crônica? Será mais reflexivo como o de Munduruku e Drumôn ou mais narrativo e melancólico como o de Heloisa?

Produção

  1. Elabore seu texto com base no planejamento e tenha como referência esta possível estrutura para a crônica:
    • Introdução: é o momento de abordar o tema e dar início ao relato da situação a ser contada.
Respostas e comentários

Orientação

Após o final da leitura da crônica de Munduruku, os estudantes encontram, no item 2 de Planejamento, orientações para a produção de um texto no gênero estudado. Retome com eles a situação de comunicação em que se encontram os cronistas ao planejar um texto desse gênero: “O que escreverá?”, “Para que tipo de leitor escreverá?”, “Como escreverá?”, “Em que momento e espaço a crônica será publicada?”.

Sugestão

Em Produção, peça aos estudantes que analisem a crônica de Munduruku tendo como base essa estrutura. Depois comente que essa é apenas uma das possibilidades de estruturar a crônica, um gênero bastante flexível, como foi estudado nesta Unidade.

Aproveite ainda para destacar aos estudantes a importância do título para despertar a curiosidade do leitor para a leitura. Escreva na lousa os títulos das crônicas da Unidade, comparando as diferentes estratégias utilizadas para intitular um texto.

No momento da Revisão, se julgar pertinente, promova a troca das crônicas entre os estudantes da turma, para que eles possam verificar as reações que seu texto provoca nos leitores e pensar em adequações necessárias.

  • Desenvolvimento: é o espaço para apresentar a situação cotidiana comum ou inusitada, com suas personagens situadas em um cenário que pode ser bem detalhado ou resumido.
  • Conclusão: é a hora de deixar uma reflexão, explícita ou não, para o leitor sobre o tema da introdução.

2. Por último, dê à sua crônica um título que desperte a atenção dos leitores.

Revisão

  1. Após elaborar a crônica, faça uma leitura silenciosa e anote possíveis dúvidas ortográficas e de pontuação para elucidar com o professor.
  2. Depois, avalie seu texto seguindo estes critérios.

Em relação à proposta e ao sentido do texto

1. A crônica trata de uma situação do cotidiano ligada ao lugar onde você vive?

2. A situação é descrita de modo a propiciar que o leitor visualize os acontecimentos?

3. O texto busca uma proximidade com o leitor, seja pela linguagem, seja pela interlocução direta etc.?

4. O desfecho leva o leitor a refletir sobre o tema proposto?


Em relação à ortografia e à pontuação

1. Os pontos finais foram utilizados para quebrar frases no meio do parágrafo e deixar o texto fluente para o leitor?

2. Os sinais de pontuação (como vírgula e travessão) foram utilizados de modo a contribuir com a expressividade do texto?

3. As palavras foram escritas de acordo com as regras ortográficas da língua portuguesa? Se precisar, consulte um dicionário ou gramática.

4. Os acentos foram empregados corretamente?

Ícone retomada de tópicos

Figuras de linguagem

Elas podem contribuir para dar mais expressividade a sua crônica, possibilitando que o leitor visualize o cenário em que se passa a situação cotidiana abordada no texto. Notáveis cronistas são hábeis em criar comparações e metáforas para apresentar um fato comum ou inusitado.

3. Após a autoavaliação e os comentários do professor, reescreva sua crônica, fazendo as alterações necessárias para deixá-la pronta para a publicação.

Circulação

  1. A turma deve reunir todas as crônicas (versão final digitada) em uma coletânea. Para isso, digitem os textos no mesmo formato de folhas, façam ilustrações e uma capa. É importante também criar um sumário, organizando os textos por seção, de acordo com a temática.
  2. Com a coletânea pronta, promovam o evento de lançamento para a comunidade escolar. No dia marcado, façam uma roda de leitura das crônicas e uma conversa entre autores e leitores.
  3. Criem uma versão digital, pensando aspectos da diagramação, e disponibilizem-na nas mídias sociais da escola.

Avaliação

  1. A leitura da crônica de Daniel Munduruku ajudou no planejamento do seu texto?
  2. Ao exercitar o olhar atento do cronista para o cotidiano, o que você descobriu sobre seus lugares de vivência?
  3. Qual foi a sua maior dificuldade na elaboração da crônica?
  4. Que parte da produção textual você mais gostou de fazer?
  5. Como foi a receptividade da comunidade escolar às crônicas sobre o bairro?
Respostas e comentários

Orientação

Além da sugestão de Circulação proposta ao final do Capítulo, há diferentes possibilidades de levar as crônicas a diferentes públicos, como publicá-las em jornais da cidade em que vivem, por exemplo, ou em espaços virtuais da própria escola ou, ainda, criar um blog para acolher as publicações.

Projeto

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Cidadania e civismo.

Cidadania

Segunda etapa

O cidadão e sua cidade

A palavra cidadania origina-se do latim tchívitas, que significa cidade. Há, portanto, uma relação intrínseca entre o cidadão e a cidade em que mora. Veja o que Lêdo Ivo (1924-2012), escritor e jornalista brasileiro, afirmou sobre a cidade, na crônica “A fábula da cidade”.

Uma casa é muito pouco para um homem; sua verdadeira casa é a cidade. E os homens não amam as cidades que os humilham e sufocam, mas aquelas que parecem amoldadas às suas necessidades e desejos, humanizadas e oferecidas – uma cidade deve ter a medida do homem.

IVO, Lêdo. Lêdo Ivo: melhores crônicas. São Paulo: Global, 2004. página 50.

Você concorda ou não com o autor? O que ele quis dizer com “uma cidade deve ter a medida do homem”? É justamente esse ponto que você vai estudar nesta etapa.

Atividade para o Grupo 1

Flashes da cidade

Se você estiver neste grupo, acompanhado de um adulto, dos colegas e de um dispositivo para fotografar (máquina fotográfica, câmera do celular etcétera.), faça um passeio pela cidade. Mapeie com o grupo alguns locais que gostariam de visitar.

O primeiro objetivo será fotografar: ruas, praças, edificações, sistemas de iluminação e distribuição de água etcétera. O segundo, avaliar as condições do que for registrado. Este roteiro de avaliação pode ajudar:

  1. Que condições de manutenção e/ou conservação revelam a fotografia de cada foco observado?
  2. Quem é responsável por essa manutenção e/ou conservação em cada caso?
  3. Nos casos em que for identificada falta de manutenção e/ou conservação, o que poderia ser feito para a situação ser revertida? Como os cidadãos que moram no lugar poderiam contribuir para isso?

O objetivo final será registrar em fichas, nomeadas como Um flash da cidade, aquilo que fotografaram e avaliaram. Veja como montar cada ficha:

  • as melhores fotografias que revelarem aspectos que você e os colegas de grupo definirem para discutir deverão ser impressas;
  • cada fotografia dessas deverá ser colada em uma folha de papel sulfite, abaixo do título;
  • será necessário legendar cada fotografia com o endereço do local, a data e a situação observada;
Ilustração. Uma criança usando boina, camiseta regata listrada, bermuda e tênis. Ela está segurando com as duas mãos uma máquina fotográfica perto do rosto.
Respostas e comentários

Orientação

O projeto permite desenvolver o tema contemporâneo transversal Cidadania e Civismo (subtemas: Vida Familiar e Social e Educação em Direitos Humanos) tendo agora como foco o reconhecimento da cidade e do espaço social compartilhado entre os cidadãos e a pesquisa sobre direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade, com foco em ações cidadãs que visem minimizar desigualdades.

Habilidades trabalhadas nesta seção

Leitura

(ê éfe seis nove éle pê três dois) Selecionar informações e dados relevantes de fontes diversas (impressas, digitais, orais etcétera), avaliando a qualidade e a utilidade dessas fontes, e organizar, esquematicamente, com ajuda do professor, as informações necessárias (sem excedê-las) com ou sem apoio de ferramentas digitais, em quadros, tabelas ou gráficos.

(ê éfe oito nove éle pê dois quatro) Realizar pesquisa, estabelecendo o recorte das questões, usando fontes abertas e confiáveis.

Produção de texto

(ê éfe seis nove éle pê zero seis) Produzir e publicar notícias, fotodenúncias, fotorreportagens, reportagens, reportagens multimidiáticas, infográficos, podcasts noticiosos, entrevistas, cartas de leitor, comentários, artigos de opinião de interesse local ou global, textos de apresentação e apreciação de produção cultural – resenhas e outros próprios das fórmas de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais, gameplay, detonado etcétera– e cartazes, anúncios, propagandas, spots, jingles de campanhas sociais, dentre outros em várias mídias, vivenciando de fórma significativa o papel de repórter, de comentador, de analista, de crítico, de editor ou articulista, de booktuber, de vlogger (vlogueiro) etcétera., como fórma de compreender as condições de produção que envolvem a circulação desses textos e poder participar e vislumbrar possibilidades de participação nas práticas de linguagem do campo jornalístico e do campo midiático de fórma ética e responsável, levando-se em consideração o contexto da Web 2.0, que amplia a possibilidade de circulação desses textos e “funde” os papéis de leitor e autor, de consumidor e produtor.

(ê éfe seis nove éle pê zero sete) Produzir textos em diferentes gêneros, considerando sua adequação ao contexto produção e circulação – os enunciadores envolvidos, os objetivos, o gênero, o suporte, a circulação –, ao modo (escrito ou oral; imagem estática ou em movimento etcétera), à variedade linguística e/ou semiótica apropriada a esse contexto, à construção da textualidade relacionada às propriedades textuais e do gênero), utilizando estratégias de planejamento, elaboração, revisão, edição, reescrita/redesign e avaliação de textos, para, com a ajuda do professor e a colaboração dos colegas, corrigir e aprimorar as produções realizadas, fazendo cortes, acréscimos, reformulações, correções de concordância, ortografia, pontuação em textos e editando imagens, arquivos sonoros, fazendo cortes, acréscimos, ajustes, acrescentando/alterando efeitos, ordenamentos etcétera

(ê éfe seis nove éle pê zero oito) Revisar/editar o texto produzido – notícia, reportagem, resenha, artigo de opinião, dentre outros –, tendo em vista sua adequação ao contexto de produção, a mídia em questão, características do gênero, aspectos relativos à textualidade, a relação entre as diferentes semioses, a formatação e uso adequado das ferramentas de edição (de texto, foto, áudio e vídeo, dependendo do caso) e adequação à norma culta.

(ê éfe seis nove éle pê três cinco) Planejar textos de divulgação científica, a partir da elaboração de esquema que considere as pesquisas feitas anteriormente, de notas e sínteses de leituras ou de registros de experimentos ou de estudo de campo, produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigo de divulgação científica, artigo de opinião, reportagem científica, verbete de enciclopédia, verbete de enciclopédia digital colaborativa, infográfico, relatório, relato de experimento científico, relato (multimidiático) de campo, tendo em vista seus contextos de produção, que podem envolver a disponibilização de informações e conhecimentos em circulação em um formato mais acessível para um público específico ou a divulgação de conhecimentos advindos de pesquisas bibliográficas, experimentos científicos e estudos de campo realizados.

(ê éfe seis nove éle pê três seis) Produzir, revisar e editar textos voltados para a divulgação do conhecimento e de dados e resultados de pesquisas, tais como artigos de divulgação científica, verbete de enciclopédia, infográfico, infográfico animado, podcast ou vlog científico, relato de experimento, relatório, relatório multimidiático de campo, dentre outros, considerando o contexto de produção e as regularidades dos gêneros em termos de suas construções composicionais e estilos.

(ê éfe seis nove éle pê cinco um) Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/edição e reescrita, tendo em vista as restrições temáticas, composicionais e estilísticas dos textos pretendidos e as configurações da situação de produção – o leitor pretendido, o suporte, o contexto de circulação do texto, as finalidades etcétera – e considerando a imaginação, a estesia e a verossimilhança próprias ao texto literário.

(ê éfe oito nove éle pê dois seis) Produzir resenhas, a partir das notas e/ou esquemas feitos, com o manejo adequado das vozes envolvidas (do resenhador, do autor da obra e, se for o caso, também dos autores citados na obra resenhada), por meio do uso de paráfrases, marcas do discurso reportado e citações.

(ê éfe oito nove éle pê três cinco) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.

na sequência, devem entrar: a descrição da situação documentada pela fotografia; a solução que poderia ser dada em casos em que for identificada falta de manutenção e/ou conservação; a contribuição que os cidadãos poderiam dar para a reversão da situação.

  • Antes de redigir o texto expositivo, retome o que aprendeu na Unidade 2.
  • Se for preciso, juntem outra folha ou outras folhas de sulfite à primeira.
  • Um furo no alto da primeira folha ajudará na hora de pendurar as fichas no mural do evento de conclusão do projeto.

Atividade para o Grupo 2

Exemplos de cidadania

Há cidadãos que realizam trabalhos em prol dos que precisam. Se você estiver neste grupo, pesquise e identifique, na cidade em que você mora, as organizações que desenvolvem trabalhos solidários sem fins lucrativos. Em seguida, selecione com o seu grupo quatro delas e sistematize um histórico para cada uma.

  1. Quando ela foi fundada?
  2. Partiu da iniciativa de quem?
  3. Com que finalidade ou finalidades foi formada?
  4. Por que surgiu nesse lugar?
  5. Em que campo atua?
  6. Que tipo de ações realiza?
  7. Quantas pessoas atende por mês?
  8. Como é mantida?

Reúna-se com um ou dois colegas de grupo e, na companhia de um responsável, marquem uma visita a uma das instituições selecionadas para construir esse histórico e conversar com algumas pessoas que se dediquem a ela ou que sejam beneficiadas por ela. Identifiquem o impacto que essa instituição tem no lugar em que se encontra. Registrem tudo o que ouvirem, peguem fôlderes e informativos, o endereço do site, se houver, tirem fotografias etcétera. Não se esqueçam de pedir autorização para todos os registros!

Cada dupla ou trio vai organizar tudo o que descobrir em um texto expositivo, cujo título será Exemplo de cidadania. No final desse texto, é preciso destacar o impacto que essa instituição tem no lugar em que se encontra.

  • Antes de redigir o texto expositivo, retome o que aprendeu na Unidade 2.
  • Para o evento final, além do texto expositivo, faça com os colegas um cartaz com o material de divulgação e orientação que conseguirem em cada instituição, para dar visibilidade ao trabalho desenvolvido por elas.
  • Se for possível, durante a visita, coletem depoimentos de pessoas beneficiadas pelas instituições. É preciso pedir autorização para usar esses depoimentos no trabalho. Feito isso, construam um painel de depoimentos para complementar o material para o evento final.
  • Você e o grupo poderão decidir se transcreverão os depoimentos e os exporão em papel ou se montarão um conjunto de áudios para o público ouvir.

Atividade para o Grupo 3

Esporte e cidadania

Sabe-se que os esportes, em geral, exigem de seus praticantes o respeito às regras e ao outro. Pense, por exemplo, nos Jogos Paralímpicos. Eles despertam otimismo, aumentam a autoconfiança dos atletas e dão esperança aos jovens. Pense ainda nos programas esportivos que visam à inclusão social.

Se você estiver neste grupo, identifique eventos na sua cidade que representam a possibilidade da prática de cidadania pelos atletas.

Identificados esses eventos, reúna-se com um ou dois colegas para fazerem uma pesquisa sobre um deles. Essa pesquisa terá como objetivo levantar informações para compor uma resenha. Este roteiro pode orientar o trabalho de seu grupo:

  1. Qual é o nome do evento ou programa esportivo?
  2. Em que data(s) ou período(s) ele acontece(u)?
  3. Quem o promove? A que público ele atende? Que modalidades esportivas ele envolve?
  4. Que objetivo ou objetivos ele tem?
  5. Que fato relevante ocorreu ou fatos relevantes ocorreram na edição que é foco desta pesquisa?
  6. Como ele contribui para a prática cidadã?

De posse dessas informações, resenhem ao menos quatro eventos ou programas, formando duplas ou trios. O importante será mostrar em que o evento ou o programa contribui para a formação de cidadãos e/ou para o exercício da cidadania.

  • Antes de elaborar a sua resenha, retome o que aprendeu na Unidade 3.
  • Selecionem imagens representativas dos eventos e, juntando-as aos textos, montem cartazes, que serão expostos ao final deste projeto. Reúnam tudo o que conseguirem sobre o evento (boletins, notícias, fôlderes de divulgação etcétera.) para complementar o material da exposição no evento final.

Atividade para o Grupo 4

Flagrantes do cotidiano

Para quem se engajar neste grupo, está reservada a produção de crônicas individuais. A crônica é como uma fotografia de um momento real, mas filtrada pela sensibilidade e pelo ponto de vista único do cronista. Desta vez, a observação do cotidiano deverá ser feita sob a perspectiva de um narrador (em 1ª pessoa) que se sensibiliza com situações cotidianas e que envolvem o exercício da cidadania.

Para facilitar, seguem algumas sugestões de espaços que podem ser inspiradores:

a rua o transporte público o terminal de ônibus o semáforo de um cruzamento de avenidas o pátio da escola o estacionamento de um supermercado a fila do banco o parque o campinho de futebol a fila em busca de emprego a unidade básica de saúde

Lembrem-se: mais importante do que o fato em si é a reflexão que esse fato vai deflagrar.

  • Retome o que foi estudado sobre crônica nesta Unidade.
  • Depois de lidos, comentados e revisados, os textos devem ser passados a limpo ou digitados, impressos e afixados em cartolinas, devidamente identificados.
Respostas e comentários

Orientação

Permita que os estudantes, em um primeiro momento, se organizem nos temas e propostas de acordo com o interesse. Promova um momento de reflexão coletiva ao final do projeto, buscando perceber se eles compreendem o papel social que exercem e a importância da atuação na prática cidadã.

Glossário

entomologia
: ramo da Zoologia que estuda os insetos.
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modorrar
: cair em sonolência.
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verdugo
: carrasco.
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avorrecido
: aborrecido.
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Ciao
: tchau.
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