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A proposta desta coleção
Entendemos o livro didático como um material de apoio ao seu trabalho, que vai auxiliá-lo na organização de sua prática docente. Por essa razão, apresentamos esta coleção com textos e atividades que ordenam os conteúdos e sugerem encaminhamentos para o trabalho docente de forma articulada com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)* e com a Política Nacional de Alfabetização (PNA)*. Ambos os documentos foram utilizados na concepção da coleção visando garantir a eficiência no processo de alfabetização e aprendizagem dos estudantes.
Este Manual do Professor pretende contribuir com sugestões para facilitar sua orientação das atividades propostas aos estudantes e, acreditamos, com subsídios para sua formação contínua.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
Para elaborar um material didático que proporcione os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes de todo o Brasil, é preciso garantir que eles tenham acesso às aprendizagens essenciais ao longo de sua formação na Educação Básica, visando também a uma formação cidadã e ética como instrumento de transformação. Dessa forma, um dos documentos normativos que balizam a escrita desta obra didática é a Base Nacional Comum Curricular.
A BNCC* "define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica". Essas aprendizagens essenciais são aferidas pela obtenção de competências gerais, considerando toda a Educação Básica, e de competências específicas, que dialogam com os diferentes componentes curriculares e áreas de conhecimento, além do desenvolvimento de habilidades:
Na BNCC, competência é defnida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
[...]
Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os estudantes devem "saber" (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem "saber fazer" (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC. (BNCC, 2018, p. 8 e 13.)
A seguir são apresentadas as competências da BNCC trabalhadas neste volume, com as referências das unidades em que são desenvolvidas.
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Práticas de linguagem e eixos da BNCC
Um dos objetivos fundamentais do ensino de Língua Portuguesa é o desenvolvimento da capacidade de comunicar, fator determinante da qualidade das diversas interações que realizamos, por meio das quais nos construímos como sujeitos, nos inserimos na coletividade e atuamos na sociedade. Além disso, visa à capacidade de compreender e produzir textos em diferentes e variadas situações de comunicação e ao desenvolvimento de habilidades relativas à textualidade. Por fim, também objetiva a capacidade de reconhecer e saber aplicar, em dado contexto, os aspectos gramaticais e notacionais, bem como aqueles relativos ao funcionamento da língua e às suas regularidades.
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Assim, o texto — visto como unidade de sentido — apresenta-se como foco central do trabalho proposto nesta coleção. Ele é o ponto de partida para as reflexões sobre o sistema de escrita: primeiro o estudante entra em contato com o texto, levanta hipóteses, conversa sobre ele, faz apreciações, inferências, comparações e daí parte para o estudo de outros aspectos linguísticos. Ou seja, ao mesmo tempo que o estudante vivencia a experiência da leitura e da escrita, ele também reflete sobre o sistema de escrita de modo que possa conquistar sua autonomia como leitor e produtor de textos.
E para auxiliar o professor a analisar e definir objetivos, planejar e mensurar a progressão dos estudantes, as habilidades apresentadas na BNCC se articulam às práticas de linguagem, que correspondem a diferentes eixos da Língua Portuguesa, que serão apresentados a seguir.
O eixo da Leitura
Este material entende a leitura como um processo de decodificação para chegar à compreensão, no qual se constroem sentidos sobre o texto. Nesse processo, tanto o texto quanto o leitor são importantes, na medida em que, para ler, o leitor não lança mão apenas de suas habilidades de decodificação, mas também de suas previsões sobre o texto, seus conhecimentos prévios e seus objetivos. Com base no material textual e em suas experiências de vida, o leitor envolve-se em um processo de verificação de hipóteses, faz ajustes e, assim, vai construindo sentidos possíveis para o que lê.
Na leitura compreensiva, o leitor não se coloca em posição passiva, uma vez que atua sobre o texto e interage com ele. Seus conhecimentos linguísticos e textuais e sua experiência de vida exercem forte influência no processo de leitura, determinando as antecipações, inferências e os sentidos a ser desenvolvidos.
A ênfase no eixo da Leitura acontece nas seções "Para ler" e "Para ler mais", embora esteja presente ao longo de todas as seções.
O eixo da Produção de textos
A produção de textos coloca-se como indissociável da questão da leitura. Saber produzir textos adequados aos diversos contextos que se apresentam no dia a dia é ferramenta básica tanto para o desenvolvimento pessoal quanto para a efetiva inserção social. Assim, todo o trabalho de produção de textos está associado ao de leitura, seja no que se refere à preparação temática, seja no que se refere às questões relativas à forma de construção de cada texto e de cada gênero, tendo em vista o contexto de produção.
Entendemos ser fundamental que os estudantes compreendam que leitura e escrita, assim como o discurso oral, são processos que têm etapas próprias, não são ações automáticas. Dessa forma, a escrita implica o uso de inúmeros recursos para a construção da coesão e da coerência, para o estabelecimento de relações de sentido.
Nesta coleção, o eixo da Produção de textos é privilegiado na seção "Produção escrita", mas também é trabalhado em outras seções como "Oficina de criação" e "Projeto em equipe".
O eixo da Oralidade
São muitas as oportunidades em sala de aula, ao trabalhar com este material, que podem contribuir para que os estudantes compreendam o funcionamento do discurso oral. Elas acontecem na própria convivência entre eles, nos momentos de realizar os combinados que garantirão o equilíbrio de relações em sala, ou nas ocasiões em que houver possibilidade de realizar exposição oral, declamar poema, participar de roda de piadas, debater tema, contar história, fazer rap, realizar leitura dramática, e assim por diante.
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O eixo da Oralidade recebe especial destaque, nesta obra, na seção "Produção oral", mas atividades orais são propostas ao longo de todo o material.
O trabalho com a língua oral
Há, em cada unidade, propostas de atividades orais e muitos outros momentos em que os estudantes são colocados em situações nas quais devem se comunicar oralmente, contando histórias, expondo fatos, dando opiniões ou defendendo algum ponto de vista.
É importante que tais oportunidades sejam aproveitadas a fim de desenvolver as competências relativas à leitura e produção de textos. Veja outras sugestões:
-
Contar histórias
Durante esse tipo de atividade, é importante que os estudantes sejam orientados quanto à:
- presença de pontos centrais da história e suas interligações, sem as quais a compreensão do ouvinte poderá ser prejudicada;
- ocorrência de repetições desnecessárias;
- ordenação das ações;
- linguagem utilizada de acordo com a situação de comunicação;
- entonação de voz, mudança de timbre etc., que contribuem para a produção de sentidos.
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Fazer exposições, dar instruções
Outras atividades solicitam que os estudantes exponham informações, expliquem suas produções ou deem instruções aos colegas.
Durante essas atividades, é importante que os estudantes sejam orientados quanto à:
- ordenação da fala, de modo que os ouvintes possam compreendê-la;
- utilização do vocabulário e construção de enunciados;
- linguagem utilizada de acordo com a situação de comunicação;
- importância dos recursos gestuais e expressões faciais que provocam a atenção dos ouvintes.
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Participar de debates e trocas de ideias
Ao participar de debates e momentos de trocas de ideias, os estudantes aprendem a respeitar os turnos de fala e podem ser orientados a tentar compreender a opinião do outro para que possam concordar ou discordar sem que se perca a progressão e a unidade do discurso produzido coletivamente. É preciso mostrar-lhes que, para fazer-se entender, cada um deve pensar nos aspectos observados no item anterior.
Além dos debates e trocas de ideias propostos nesta coleção, outros podem ser criados por você ou sugeridos pelos estudantes com base em situações ocorridas no ambiente escolar ou na comunidade.
O eixo da Análise linguística/semiótica
O domínio da língua em suas diversas situações de uso, mantendo estreitas relações com a leitura e a produção de textos, é condição básica para uma efetiva participação social.
Assim, outra preocupação da coleção consiste em, dentro dos limites que se consideram adequados à faixa etária, não só apresentar a descrição do funcionamento da língua ou fornecer subsídios para o domínio das variedades urbanas de prestígio, mas também propor reflexões sobre a língua, por meio das quais o estudante, a partir do conhecimento linguístico que já possui como falante do português e da observação de exemplos, possa apreender cada vez mais as regularidades e complexidades linguísticas.
Nesta coleção, o trabalho com o eixo da Análise linguística/semiótica acontece principalmente na seção "Estudo da língua", porém está presente também em outros momentos ao longo da obra.
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Campos de atuação da BNCC
Outra categoria organizadora da BNCC são os campos de atuação, que apontam "para a importância da contextualização do conhecimento escolar, para a ideia de que essas práticas derivam de situações da vida social e, ao mesmo tempo, precisam ser situadas em contextos significativos para os estudantes"*.
Os campos de atuação nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental são quatro, conforme indicados na tabela a seguir.
Habilidades da BNCC
A seguir são apresentadas as habilidades da BNCC* trabalhadas neste volume, com a indicação dos campos de atuação, as práticas de linguagem, os objetos de conhecimento e as referências das unidades em que são desenvolvidas.
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A Política Nacional de Alfabetização (PNA)
Em 2019, o Ministério da Educação publicou a Política Nacional de Alfabetização (PNA) com o objetivo de melhorar a qualidade da alfabetização e combater o analfabetismo no Brasil. Baseada em evidências científicas, a PNA tem como um dos seus princípios a ênfase nos seis componentes essenciais para a alfabetização, conforme indicado no esquema abaixo.
Para auxiliar a prática da PNA, foi lançado ainda o Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (Renabe)*, tendo a Ciência Cognitiva da Leitura como base para prover evidências relevantes acerca de procedimentos e recursos eficazes para auxiliar estudantes a adquirirem competências de leitura e escrita.
Melhorar a qualidade da alfabetização no Brasil ainda é um desafio. Por isso, este material didático foi idealizado como instrumento para auxiliar o desenvolvimento do processo de alfabetização e aprendizagem dos estudantes, integrando o ensino dos componentes essenciais para a alfabetização e as pesquisas científicas apresentadas no Renabe, servindo não só como um recurso de ensino, mas também como uma ferramenta fundamental na formação dos estudantes enquanto cidadãos e na universalização da literacia.
(PNA, 2019. p. 33.)
Literacia
Ler é parte essencial do dia a dia de qualquer pessoa e permeia toda a nossa vida. A leitura não é somente uma atividade divertida, mas é também uma ferramenta que ajuda a expandir nosso conhecimento, mesmo depois que saímos da escola. A leitura permite aprender, transmitir e produzir conhecimento. Por esses motivos, um dos maiores objetivos durante as etapas da Educação Básica deve ser fazer os estudantes criarem o hábito de ler e, consequentemente, desenvolver o amor pela leitura, pois isso os acompanhará durante toda a vida. Mas o que é literacia e qual é a sua importância?
Literacia é o conjunto de habilidades de leitura e de escrita, é saber ler e escrever e usar essas habilidades de modo apropriado para obter e produzir informações. Ela é vital para assegurar que o estudante tenha as melhores chances possíveis de obter sucesso em sua vida escolar e cotidiana, pois nos permite compreender uma série de textos escritos, visuais e orais, incluindo livros, jornais, revistas, filmes, programas de rádio e TV, mapas, símbolos, conversas e instruções, entre outros.
Apesar de ser um conceito usado internacionalmente desde os anos 1980, o termo "literacia" passou a ser usado no Brasil com a publicação da PNA, em 2019. Morais* explica que o termo "letramento" vem sendo utilizado no país num sentido que, à primeira vista, tem o mesmo significado que literacia. No entanto, letramento refere-se ao uso social da leitura e escrita e não contempla as habilidades linguísticas necessárias para a alfabetização ou aquelas que estão relacionadas ao desenvolvimento da linguagem escrita, como decodificação, compreensão e fluência, por exemplo.
Quando falamos de literacia é importante sabermos que as habilidades de ler e escrever não se desenvolvem de uma vez só, mas sim por meio de habilidades e comportamentos que são adquiridos progressivamente. Os educadores e as famílias são os responsáveis por desenvolver e implementar estratégias que vão ajudar o estudante a alcançar níveis mais avançados de literacia.
Conforme a PNA*, a base do desenvolvimento da literacia é denominada literacia básica, que vai dos últimos anos da Educação Infantil até o 1o ano do Ensino Fundamental e envolve a aquisição de habilidades fundamentais para a futura alfabetização, como o aumento de vocabulário, decodificação e a consciência fonológica, que fundamentam as tarefas de leitura. A literacia emergente, que faz parte da literacia básica, começa na primeira infância e constitui o conjunto de conhecimentos, comportamentos e habilidades relacionados à leitura e à escrita, que precedem a alfabetização.
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Esses conhecimentos não apenas influenciam o desenvolvimento das estratégias que os estudantes utilizam para aprender a ler e escrever palavras antes de irem para a escola, como são preditores importantes do seu sucesso posterior na alfabetização*.
O segundo nível é a literacia intermediária, que costuma ir do 2o até o 5o ano e envolve o desenvolvimento de habilidades de literacia comuns a muitas tarefas, incluindo estratégias de compreensão de textos, vocabulário, conhecimento ortográfico, produção de escrita e fluência em leitura oral.
O terceiro e último nível é a literacia disciplinar, que deve ser desenvolvida do 6o ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio e envolve habilidades e literacia específicas para diferentes componentes curriculares, como História, Ciências, Matemática, Literatura e Arte.
Conhecer os níveis de literacia é importante para que o professor de cada etapa possa entender todos os fatores e habilidades de alfabetização que permitirão aos estudantes tornarem-se leitores e escritores capazes e independentes, por toda a vida.
Literacia Familiar
A Literacia Familiar é construída na base dos relacionamentos iniciais do estudante e está intimamente ligada às suas experiências linguísticas cada vez mais intensas e às crescentes habilidades de comunicação. Desde o dia em que os bebês nascem, eles são cercados por pessoas, objetos e ocasiões que os preparam para se tornarem seres alfabetizados. As situações cotidianas oferecem oportunidades para que eles descubram quem são as pessoas e o que são os objetos e atividades em seus ambientes (ver, ouvir, tocar, cheirar e saborear coisas novas).
Uma das práticas da Literacia Familiar é a leitura partilhada. Ler com o estudante promove laços e sentimentos de confiança e o amor pela leitura*. Essa ação amplia o vocabulário, desenvolve a compreensão da linguagem oral, introduz padrões morfossintáticos e desperta a imaginação*. A base da literacia começa em casa, pois é onde nasce a vontade de ler. Se os familiares não praticam a leitura, o professor e a escola devem promover momentos de conversas para mostrar, delicadamente, a importância desse momento*.
De acordo com a PNA, há muitas outras práticas de Literacia Familiar que podem ser incorporadas ao dia a dia do estudante e contribuir para seu desenvolvimento, como:
- conversar com o estudante;
- narrar histórias;
- modelar a linguagem oral;
- desenvolver vocabulário receptivo e expressivo em situações cotidianas e nas brincadeiras;
- brincar com jogos de letras e palavras.
Nesta coleção, o momento privilegiado para a Literacia Familiar é o quadro "Para ler em casa", em geral ao final das seções "Para ler" e "Para ler mais".
Componentes essenciais para a alfabetização
As evidências científicas mais atuais revelam seis componentes essenciais para a alfabetização: a consciência fonêmica, a instrução fônica sistemática, a fluência em leitura oral, o desenvolvimento de vocabulário, a compreensão de textos e a produção de escrita*. Neste material, chamaremos instrução fônica sistemática de conhecimento alfabético, além de usarmos os demais termos: fluência em leitura oral, desenvolvimento de vocabulário, compreensão de textos e produção de escrita.
As indicações a seguir referem-se aos componentes essenciais para a alfabetização contemplados em todas as unidades deste volume.
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Nas orientações específicas deste Manual do Professor, próximo à reprodução das páginas do Livro do Estudante, você encontrará as indicações dos componentes essenciais para a alfabetização trabalhados, denominados "Componentes da PNA":
As indicações a seguir referem-se aos Componentes da PNA contemplados nesta coleção:
- Conhecimento alfabético
- Fluência em leitura oral
- Compreensão de textos
- Desenvolvimento de vocabulário
- Produção de escrita
Conhecimento alfabético
O conhecimento alfabético se refere à identificação das letras, suas formas e seus valores fonológicos (sons que representam). A maneira mais eficiente de ensinar as relações entre fonemas e grafemas (sons e letras) é por meio de uma instrução fônica sistemática. Um programa de instrução fônica sistemática é cuidadosamente organizado, mostrando aos estudantes as relações entre letras e sons dentro de uma sequência lógica, que vão das mais simples às mais complexas*. O professor deve utilizar diferentes estratégias e recursos que ajudarão o estudante a aprender as letras e seus valores fonológicos.
As principais descobertas das pesquisas na área de alfabetização baseada em evidências sobre a instrução fônica sistemática incluem as seguintes conclusões:
- é mais eficaz do que uma instrução não sistemática ou não fônica, pois a instrução fônica sistemática melhora significativamente o reconhecimento de palavras e a ortografia dos estudantes;
- melhora significativamente a compreensão de textos dos estudantes;
- é eficaz para estudantes; de vários níveis sociais e econômicos;
- é particularmente benéfica para estudantes que têm dificuldade em aprender a ler e que correm o risco de desenvolver futuros problemas de leitura;
- é mais eficaz quando introduzida desde a Educação Infantil;
- não é um programa de aprendizagem da leitura completo: com a instrução fônica, os estudantes devem solidificar seus conhecimentos sobre o alfabeto engajando-se em atividades de consciência fonêmica e ouvindo e lendo histórias.
De acordo com a PNA*:
Programas de alfabetização que introduzem as instruções fônicas sistemáticas têm consistentemente mostrado resultados melhores do que programas que não o fazem, com repercussões tanto na leitura e na escrita de itens isolados, quanto na compreensão de textos. Por tal motivo, muitos países já recomendam, em suas diretrizes oficiais, que as instruções fônicas sistemáticas façam parte do programa de alfabetização, tais como os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha e a Finlândia.
Nesta coleção, o foco em conhecimento alfabético, em geral, acontece na seção "Estudo da língua", mas o trabalho com esse componente essencial para a alfabetização pode ocorrer também em outros momentos, como em "Praticar a fluência" e "Produção escrita".
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Fluência em leitura oral
Quando um estudante não tem fluência na leitura oral, a leitura é instável. Ele fica preso em certas palavras ou tem que ler partes do texto várias vezes para poder entendê-lo. A leitura não tem expressão e a entonação é monótona. A pontuação é desconsiderada e são realizadas pausas em pontos estranhos do texto.
A fluência é a ponte entre a decodificação e a compreensão de textos. Quando os estudantes leem com fluência, eles não gastam energia mental na decodificação de palavras e podem concentrar os seus esforços cognitivos para compreender o que estão lendo.
A fluência se desenvolve gradualmente por meio da prática constante da leitura e requer de três a quatro anos de ensino formal e muito esforço por parte do estudante*.
Existem muitas técnicas que os professores podem usar para ajudar o estudante a ler com mais precisão, velocidade e prosódia. Veja a seguir o que você pode fazer em sala de aula:
- Faça atividades com leituras repetidas de palavras e pequenas frases: essas atividades são boas porque depois da leitura inicial focada no reconhecimento da palavra, o estudante pode se concentrar para ler com fluência.
- Forneça comentários construtivos sobre a qualidade da leitura quando ocorrerem erros.
- Leia em voz alta para os estudantes sempre que puder, sendo um modelo de leitor fluente.
- Use poemas, canções ou outros textos com padrões rítmicos claros. Isso pode ajudar o estudante a ouvir o ritmo natural do texto, facilitando a leitura fluente.
- Deixe o estudante ler frases curtas e peça-lhe que as leia como uma afirmação, pergunta e exclamação, praticando a leitura com expressão.
- Peça aos estudantes que leiam em duplas: cada um lê um trecho de um texto e ambos podem dar sugestões sobre aspectos em que o colega pode melhorar.
Avalie a fluência regularmente para verificar o progresso dos estudantes e pensar em formas de intervenção. Peça a eles que leiam em voz alta e procure dar-lhes retornos que os orientem quanto à articulação das palavras, à velocidade e à entonação.
Em outros momentos, avalie de maneira formal: cronometre o tempo de leitura e anote a quantidade de erros cometidos. Assim você obterá as taxas de precisão e velocidade de leitura do estudante e poderá verificar se elas estão próximas ao que se espera para o ano escolar.
Monitorar o progresso dos estudantes na fluência em leitura oral vai ajudá-lo a determinar a eficácia de seu ensino e a definir os seus próximos objetivos pedagógicos. Veja orientações detalhadas a respeito nas páginas MP029 a MP031 deste Manual do Professor.
Ao longo desta coleção, há diversas oportunidades para o desenvolvimento da fluência em leitura oral. As principais se dão na subseção "Praticar a fluência" das seções "Para ler" e "Para ler mais" e nas avaliações, quando será possível aferir a velocidade de leitura dos estudantes.
Compreensão de textos
A compreensão é a razão da leitura. Se o leitor consegue decodificar uma palavra, mas não entende o que está lendo, ele não conseguirá utilizar a linguagem escrita de modo eficiente e será configurado como alguém "que possui habilidades limitadas de leitura e compreensão de texto"*.
Bons leitores têm um propósito para ler e pensam ativamente enquanto leem. Para dar sentido ao texto, usam vários processos cognitivos ao mesmo tempo: recorrem às suas experiências e conhecimento do mundo, a seu conhecimento de vocabulário e estrutura da linguagem e a seus conhecimentos de literacia; fazem inferências; leem a maioria das palavras por meio do reconhecimento automático; entendem o texto; e sabem como tirar o máximo proveito dele. Também sabem quando têm problemas de compreensão e o que devem fazer para solucioná-los*.
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É possível direcionar o ensino da compreensão, mostrando aos estudantes estratégias de leitura que os bons leitores usam para compreender o que leem. Algumas dessas técnicas são simples de ser realizadas e podem refletir um ganho significativo no entendimento do texto. O documento Put Reading First* (Colocando a leitura em primeiro lugar), do governo dos Estados Unidos, explica que as estratégias de compreensão se referem a um conjunto de etapas que bons leitores usam para entender melhor o texto. Esses procedimentos ajudam os estudantes a se tornarem objetivos, ativos e controladores de sua própria compreensão de leitura. Dessa maneira, o documento aponta algumas situações didáticas para melhorar a compreensão de texto:
- Monitorar a compreensão: Ensine os estudantes a estarem cientes do que eles entenderam e do que não entenderam; a identificar onde a dificuldade está e por que ela está ocorrendo; a repetir em outras palavras a passagem do texto onde estão tendo problemas de entendimento; voltar e avançar no texto, a partir do ponto onde está o problema, para ver se encontram informações que os ajudarão a compreender.
- Usar organizadores gráficos para ilustrar conceitos e inter-relações entre conceitos em um texto: Os organizadores gráficos são ferramentas educacionais usadas para capturar e reter o conhecimento de um determinado assunto. Eles podem ser: mapas conceituais, mapas de ideias, teias de informações, gráficos, tabelas comparativas, linhas do tempo, diagramas.
- Responder a perguntas: As perguntas são eficazes para melhorar o aprendizado da leitura porque dão aos estudantes um propósito para a leitura; concentram a atenção no que devem aprender; encorajam os estudantes a monitorar sua compreensão e a revisar o conteúdo.
- Fazer perguntas: Gerando perguntas, os estudantes tornam-se conscientes para reconhecer se podem responder àquelas perguntas e para verificar se entenderam o que estão lendo.
- Reconhecer a estrutura do texto: Os estudantes que conseguem reconhecer a estrutura do texto têm maior facilidade para identificar conteúdos, sequências de eventos, conflitos, objetivos e resultados.
- Resumir: Resumir exige que os estudantes determinem o que é importante no que estão lendo, condensando as informações e colocando-as em suas próprias palavras. O resumo ajuda a identificar as ideias principais e conectá-las, a eliminar informações redundantes e desnecessárias e a lembrarem-se do que leram.
Essas estratégias de compreensão são utilizadas nesta coleção como meio de auxiliar os estudantes a entenderem o que estão lendo. Quando eles percebem que essas técnicas podem ajudá-los a aprender, ficam mais dispostos, motivados e envolvidos ativamente na aprendizagem. O trabalho com compreensão de textos é privilegiado na subseção "Compreender o texto" de "Para ler" e "Para ler mais", mas acontece também em diversas outras seções, como em "Produção escrita".
Desenvolvimento de vocabulário
O vocabulário refere-se ao repertório de palavras que uma pessoa conhece e usa e o seu desenvolvimento refere-se ao processo de aquisição de novas palavras.
O desenvolvimento de vocabulário é importante em todo o currículo. Está intimamente ligado às habilidades eficazes de leitura e escrita, e essas habilidades, por sua vez, são necessárias para um bom desempenho na escola e na vida.
Esse componente essencial para a alfabetização, juntamente com outros componentes, tem uma forte relação com a capacidade do indivíduo de compreender o que lê. Desenvolver vocabulário é um processo complexo que dura anos. Marzano* explica que para desenvolver essa habilidade com sucesso o estudante precisa refletir conscientemente sobre seus significados e para isso existem várias estratégias que o professor pode usar em sala de aula:
- Deixe o estudante ver a palavra nova várias vezes para familiarizar-se com ela.
- Ajude o estudante a entender a definição da palavra e também como ela é comumente usada em contexto.
- Estimule o estudante a aprender sinônimos e antônimos da palavra.
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- Utilize o dicionário sempre que possível.
- Dê oportunidades de praticar o uso da nova palavra, tanto oralmente quanto de forma escrita.
- Leia para os estudantes parando para explicar o significado de quaisquer palavras desconhecidas à medida que elas forem aparecendo.
- Dê oportunidade para que os estudantes leiam livros ou outros materiais impressos em sala de aula.
- Crie jogos com as palavras novas. Uma ideia é jogar bingo de vocabulário, usando palavras familiares e desconhecidas.
Conforme você for utilizando as diferentes estratégias e técnicas descritas acima, será capaz de determinar quais delas são as melhores para ajudar os estudantes a ampliar o vocabulário.
Nesta coleção, a ênfase em desenvolvimento de vocabulário se dá na subseção "Ampliar o vocabulário" de "Para ler" e "Para ler mais", bem como em outras seções como "Conhecer mais palavras" e "Dicionário do estudante".
Produção de escrita
O desenvolvimento da escrita é um processo longo e o estudante investe muitos recursos cognitivos para entendê-la. Ele precisa compreender que as letras representam sons na pronúncia das palavras e que essas letras se conectam de uma forma lógica e ordenada para formar as palavras. De acordo com as pesquisas reportadas na PNA*, os diferentes níveis de produção de escrita correspondem a:
Nível da letra: caligrafia; envolve a planificação, a programação e a execução de movimentos da escrita.
Nível da palavra: ortografia; envolve operações mentais que permitem saber, por exemplo, que /mãw/ se escreve "mão" (e não "maum").
Nível da frase: consciência sintática; envolve a ordem das palavras, as combinações entre as palavras e a pontuação.
Nível do texto: escrever e redigir; refere-se à organização do discurso e envolve processos que não são específicos da língua escrita, como a memória episódica (memória de fatos vivenciados por uma pessoa), o processo sintático e semântico.
É importante que o professor conheça as fases pelas quais o estudante passa ao aprender a escrever, pois esse entendimento possibilita uma atuação pedagógica mais consciente e atenta aos conhecimentos e aprendizagens que o estudante tem que adquirir para desenvolver essa habilidade.
Nesta coleção, o desenvolvimento desse componente essencial para a alfabetização terá ênfase na seção "Produção escrita", mas também ao longo das demais seções (como "Oficina de criação" e "Projeto em equipe"), uma vez que os estudantes serão constantemente convidados a produzir registros escritos de frases e textos.
PIRLS
O trabalho de compreensão textual da coleção foi pensado de acordo com a proposta do PIRLS — Progress in International Reading Literacy Study* (Estudo Internacional de Progresso em Leitura) —, uma iniciativa realizada a cada cinco anos pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA), que realiza estudos comparativos em grande escala de desempenho educacional e outros aspectos da educação.
A avaliação da literacia de leitura do PIRLS procura contemplar duas finalidades de leitura: ler como forma de adquirir e utilizar informação, e ler para apreciar textos literários. Considerando essas duas finalidades, o PIRLS propõe quatro processos gerais de compreensão leitora:
- Localizar e retirar informação explícita;
- Fazer inferências diretas;
- Interpretar e relacionar ideias e informação;
- Analisar e avaliar conteúdo e elementos textuais.