UNIDADE 1 HISTÓRIA E NOSSAS ORIGENS

CAPÍTULO 1 SABER HISTÓRICO

Um livro de História nos convida a viajar através do tempo e a conhecer diferentes sociedades. Com o estudo de História, podemos refletir sobre povos distantes e sobre a própria sociedade em que vivemos, além de pensar e agir sobre os desafios de nosso tempo.

Afinal, não somos culpados pelo mundo que encontramos ao nascer. Mas precisamos fazer alguma coisa sobre o mundo que está sendo construído ou destruído.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

Você se lembra de histórias de sua vida? Quais?

Fotografia. Destaque para três jovens indígenas sentados lado a lado, vestindo bermudas, cocares com penas brancas e amarelas sobre as suas cabeças, colares com sementes ao redor de seus pescoços e pinturas sobre seus rostos e corpos. O jovem ao centro segura um aparelho celular entre as mãos, o qual concentra os olhares dos demais.
Jovens indígenas visualizam fotos em ismartifône, em Palmas, Tocantins. Fotografia de 2015. Neste capítulo, vamos aprender que as fotografias são importantes fontes históricas.
Fotografia. Destaque para um grupo de mulheres em posição de dança. Elas vestem camisas brancas, saias compridas e coloridas e turbantes brancos. Seus pés estão descalços, em contato com o solo. Ao redor, há homens vestindo camisas coloridas e chapéus brancos com abas.
Grupo dançando punga, dança tradicional de origem africana, em São Luís, Maranhão. Fotografia de 2016. A História é uma importante ferramenta para interpretar culturas e tradições.
Fotografia. Uma multidão de pessoas, lado a lado, sobre uma avenida asfaltada. Há vários cartazes e faixas com diferentes textos, como: “Em defesa da Educação”.
Manifestação estudantil em defesa da educação pública, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2018. A História ajuda a promover a cidadania.

História: uma produção de saber

A História é uma área de estudo que investiga as vivências humanas ao longo do tempo. Em sua origem grega, a palavra “história” significa “procurar saber” ou “informar-se”.

Quando estudamos História, pesquisamos diversos aspectos da vida humana, por exemplo: fórmas de trabalho e tipos de diversão, alimentos produzidos e consumidos, relações de dominação e resistência entre pessoas.

Quem tem conhecimento histórico percebe que, se algumas coisas mudaram no passado, elas também podem mudar no presente. Sem consciência histórica, alguém pode achar, por exemplo, que certas injustiças sociais de nossa época e a exploração predatória do meio ambiente são “naturais”. Assim, muitas pessoas não enxergam a possibilidade de lutar por um mundo melhor.

Estudar História nos permite refletir sobre como podemos construir um mundo mais livre, justo e sustentável.

Como produzimos saber histórico?

A produção de saber histórico constitui uma área de estudo (História) que tem vários objetivos, entre os quais podemos destacar: preservar memórias, interpretar culturas e promover a cidadania.

Fotografia. Duas mulheres lado a lado, vistas de perfil, usando máscaras cirúrgicas sobre seus narizes e bocas. Ambas têm os olhares voltados para uma obra composta de diversas ampulhetas presas por fios pendendo de cima.
Visitantes observam instalação artística composta de dezenas de ampulhetas na exposição Coronaceno reflexões em tempos de pandemia, no Museu do Amanhã, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021. O estudo de História ajuda a refletir, por exemplo, sobre os impactos de uma pandemia no mundo.

Preservar memórias

No dia a dia, vivenciamos acontecimentos que fazem parte de nossa história. Alguns desses acontecimentos são lembrados e divulgados; outros são esquecidos, silenciados e apagados. Assim são construídas as memórias das pessoas, dos grupos e das sociedades.

A construção da memória social é influenciada por interesses políticos, econômicos e valores de uma sociedade. Com frequência, as datas históricas são escolhidas com base em memórias de grupos dominantes. Isso produz esquecimentos sobre fatos importantes ligados a outros grupos sociais. Para reagir a esses esquecimentos, podemos desenvolver uma atitude historiadora que busca preservar as memórias da diversidade dos grupos sociais.

Fotografia. Um grupo de pessoas de diferentes idades ao redor de uma mesa. Sentados ao lado da mesa, há um homem de cabelos pretos e dois homens de cabelos grisalhos. O homem de cabelo preto segura folhas de papel. Sobre a mesa há duas maletas.
Cena do filme brasileiro Narradores de Javé, dirigido por Eliane Caffé, 2003. Nessa ficção, os moradores de Javé descobrem que a pequena cidade pode desaparecer sob as águas de uma usina hidrelétrica em construção. Para salvar Javé e transformá-la em patrimônio a ser preservado, eles decidem escrever a história do local, recorrendo à memória e à escrita da História.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Que recordações você tem de sua infância? Conte aos colegas um momento importante de sua vida.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Museu da Pessoa

Disponível em: https://oeds.link/PI0Epc. Acesso em: 27 outubro 2021.

Esse museu virtual conta histórias de vida de pessoas não famosas. Há vídeos, canções, áudios, relatos, textos e fotografias que fazem parte das diversas exposições virtuais.

Interpretar culturas

Cultura é o modo de vida criado e transmitido de uma geração para outra. Abrange conhecimentos e obras, artes e ciências, normas e costumes.

A cultura envolve o que pensamos e fazemos como membros de um grupo social. Assim, as danças, os jogos, as comidas, as músicas e as linguagens são exemplos de manifestações culturais.

Quando viajamos para outros lugares ou estudamos História, entramos em contato com vários tipos de manifestação cultural e podemos notar semelhanças e diferenças nos modos de pensar, sentir e agir das pessoas.

Nesses contatos culturais, algumas pessoas ou alguns grupos podem discriminar o outro, pois julgam que sua cultura é superior ou melhor. Esse comportamento é chamado de etnocêntrico, que se refere à tendência de uma pessoa achar que sua própria cultura é o “centro do mundo”. O etnocentrismo provoca conflitos sociais, pois sua prática implica negar, rejeitar, perseguir ou repudiar o outro, isto é, aquele que é diferente.

Uma atitude historiadora nos faz refletir sobre o fato de que as culturas representam diferentes respostas ou soluções aos desafios da vida. Desse ponto de vista, por exemplo, não existe uma única cultura no território brasileiro, mas múltiplas culturas convivendo simultaneamente (multiculturalismo). Além disso, não existem culturas superiores ou inferiores, melhores ou piores. O que existe são diversas fórmas de se vestir, de comer, falar, brincar, trabalhar, pensar sobre a vida. É o que chamamos de diversidade cultural.

Quando reconhecemos nossa cultura, valorizamos nossa identidade pessoal e social. Além disso, o convívio democrático exige respeito pelo outro e valorização da pluralidade das culturas.

Fotografia. Um grupo de pessoas dispostas em uma roda, todas trajando roupas brancas. Ao centro da roda, uma mulher e um homem em posição de luta. Ao redor, as demais pessoas tocam instrumentos musicais.
Roda de capoeira em Salvador, Bahia. Fotografia de 2019. A capoeira é um exemplo de manifestação cultural.

Promover a cidadania

Cidadania é nossa maneira de pertencer à sociedade. Esse pertencimento ocorre quando, por exemplo, existem garantias aos direitos à vida, à liberdade, à educação, ao lazer, ao trabalho, ao voto eleitoral, entre outros.

Ao estudar História, percebemos que muitos direitos foram conquistados no Brasil, como o voto feminino (1932), a consolidação dos direitos trabalhistas (1943), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) etcétera Mas ainda há um longo caminho para se alcançar a cidadania plena. Nesse sentido, é preciso superar as enormes desigualdades entre ricos e pobres que existem no Brasil.

Uma atitude historiadora pode despertar a consciência de cada um de nós para a tarefa de construir uma sociedade mais democrática, que inclua mais pessoas no exercício da cidadania, independentemente de idade, sexo, origem, cor da pele ou religião.

Fotografia. Vista aérea de uma cidade com dois agrupamentos de moradias distintas. Em primeiro plano há diversos casebres muito próximos. Ao fundo há diversos prédios grandiosos.
O contraste entre moradias de uma comunidade, em primeiro plano, e de um bairro nobre, ao fundo, revela a desigualdade na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2020.

Ofício do historiador

Quem se dedica a pesquisar e a ensinar História é chamado de historiadora ou historiador. Esse profissional produz saber histórico ao investigar o que os seres humanos fizeram, pensaram e sentiram no contexto de suas culturas. Esse saber histórico também abrange conhecimentos sobre as relações entre passado e presente.

O ofício do historiador depende de pesquisas variadas, interpretações de fontes e formulações de hipóteses sobre seus temas de estudo. A atividade do historiador envolve uma busca pelo conhecimento. E conhecer é uma tarefa contínua, que nunca tem fim. Por isso, o historiador não tem a pretensão de fixar “verdades absolutas ou definitivas”. Nesse sentido, este livro de História, por exemplo, é apenas um ponto de partida para seus estudos.

Fontes históricas

Em História, a palavra fonte é utilizada para se referir às fontes de pesquisa consultadas pelo historiador. As fontes históricas sugerem pistas sobre o assunto pesquisado e, por isso, devem ser interpretadas pelo historiador e associadas a outras pesquisas.

Existem muitas maneiras de classificar as fontes históricas, isto é, os vestígios e os registros da atividade humana ao longo do tempo. A seguir, vamos conhecer uma classificação que organiza as fontes em escritas e não escritas:

  • escritas – cartas, letras de canções, livros, jornais, revistas, documentos oficiais etc;
  • não escritas – pinturas, esculturas, mobílias, instrumentos de trabalho, roupas, músicas, filmes, construções, fotografias, utensílios, relatos orais etcétera

Durante muito tempo, as fontes escritas foram consideradas as mais importantes para a pesquisa histórica. Atualmente, os historiadores compreendem que as fontes não escritas são igualmente valiosas e relevantes. Isso significou uma mudança que ampliou o modo de produzir o saber histórico.

Entre as fontes não escritas, podemos destacar os relatos orais de quaisquer pessoas (idosos, jovens, gente famosa, gente comum). Ao conhecer esses registros, é possível interpretar a memória dessas pessoas e contribuir para a compreensão de um passado recente. É o que chamamos de história oral.

Interpretar fontes históricas

Ao analisar as fontes históricas, o historiador pode reunir pistas ou evidências que lhe permitam, por exemplo, reconhecer mudanças ocorridas em uma sociedade e o que as provocou. Os processos de mudança podem ocorrer em vários campos: na economia, nas artes, na política, na maneira de pensar, nas fórmas de viver e de sentir o mundo.

Além das mudanças, o historiador pode observar permanências sociais, ou seja, aquilo que não se alterou ou sofreu pouca transformação. Por exemplo: modos de pensar, fórmas de trabalho, tipos de lazer, construções que não mudaram etcétera

Fotografia em preto e branco. Um grupo de meninos em uma rua com calçamento de pedra, direcionados a uma bola de futebol. Ao fundo, casas.
Garotos jogando bola em rua da cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 1957.
Fotografia. Um grupo de meninas e meninos em uma quadra esportiva, direcionadas a uma bola de futebol. Ao fundo, uma trave branca retangular e uma rede trançada.
Crianças jogando futebol em São Caetano do Sul, São Paulo. Fotografia de 2016. As regras básicas do futebol permaneceram ao longo do tempo. Porém, houve mudanças em quem pratica o esporte. No passado, era um jogo predominantemente masculino. Hoje, é comum mulheres se dedicarem a esse esporte.

Com base em uma mesma fonte histórica, o historiador pode perceber várias informações significativas. Ao encontrar um recibo de compra ou venda de um escravizado, por exemplo, ele já observou pelo menos uma informação básica: que houve escravidão nesse lugar, ou seja, que homens, mulheres e crianças foram escravizados e podiam ser negociados como se fossem mercadorias. O recibo também pode conter o nome da moeda utilizada naquela época, entre outros dados.

Manuscrito. Folha de papel amarelada com ilustração e textos manuscritos. No topo, há a ilustração de dois homens brancos, vestindo paletós e calças, sentados ao redor de uma mesa, um deles portando uma pena direcionada a uma folha de papel, e o outro com os braços cruzados sobre o peito. À esquerda deles, um homem e uma mulher negros, em pé, descalços, vestindo roupas brancas. A seguir, texto manuscrito, no qual foram inseridos ícones, com as letras a, b, c, d e e, indicando diferentes informações.
Reprodução de recibo de compra e venda de um escravizado, datado de 1851.
  1. Nome da pessoa escravizada: Benedito.
  2. Dona do escravizado: Maria Antônia Teixeira.
  3. Valor: 500 mil-réis.
  4. Local da negociação: Rio de Janeiro.
  5. Data da negociação: 4 de outubro de 1851.

Já no caso de uma máscara africana, o historiador póde investigar quais materiais e técnicas foram empregados pelas pessoas que a produziram, levantar hipóteses sobre sua origem, as fórmas de utilização etcétera

  • Matéria-prima: madeira.
  • Local de origem: Costa do Marfim.
  • Data de produção: entre o fim do século dezenove e o início do vinte.
  • Uso: danças e festivais.
Máscara. Objeto de madeira, em formato oval, com a representação de olhos semifechados, nariz afilado e boca pequena, contornado por entalhes lineares.
Máscara africana de madeira produzida na Costa do Marfim entre o fim do século dezenove e o início do vinte.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Você costuma registrar momentos de sua vida em fotografias, vídeos, redes sociais etcétera? Em sua opinião, é importante guardar esses registros? Por quê?
  2. Existe uma única fórma de contar uma história? Argumente e cite um exemplo.

OUTRAS HISTÓRIAS

Vídeo nas Aldeias

Segundo o Censo de 2010 realizado pelo IBGE, vivem no Brasil cêrca de 896 mil pessoas que se declaram indígenas. Elas vivem em cidades, áreas rurais ou terras indígenas. Essa população é composta de 305 povos que falam cêrca de duzentas e setenta e quatro línguas diferentes.

Os povos indígenas do Brasil possuem uma cultura valiosa e diversificada que deve ser preservada. Com esse objetivo, foi criado o projeto Vídeo nas Aldeias, que procura fortalecer as identidades e os patrimônios indígenas.

Desde sua criação, na década de 1980, o projeto organiza oficinas em mais de cem aldeias indígenas, espalhadas por diversos estados do país. Ao longo desses anos, foram implantados centros de produção e edição de vídeo nas aldeias participantes. Assim, as oficinas funcionam como escolas de cinema.

Atualmente, existem mais de noventa vídeos que apresentam relatos, histórias tradicionais contadas pelos mais velhos, práticas cotidianas das aldeias, relação com os recursos naturais e estratégias de preservação ambiental, entre outros assuntos.

Os vídeos produzidos pelos indígenas estão disponíveis neste link: https://oeds.link/hqKo4G (acesso em: 3 novembro 2021). Nesse site é possível conhecer projetos e produções visuais de diversas populações indígenas.

Fotografia. Destaque para duas mulheres indígenas, uma delas em posição mais baixa, segurando uma máquina fotográfica com as mãos. A outra, por detrás, tem o olhar voltado para o objeto. Ambas têm longos cabelos lisos e escuros e usam vestidos coloridos e pinturas corporais
Oficina de formação audiovisual promovida pelo projeto Vídeo nas Aldeias, na Terra Indígena Kayapó, Pará. Fotografia de 2018. Atualmente, vários povos indígenas procuram registrar suas histórias por meio de diferentes tecnologias.

Responda no caderno

Atividades

  1. De acordo com o texto, quais são os principais objetivos e ações do projeto Vídeo nas Aldeias? Que assuntos são tratados nos vídeos produzidos pelos indígenas?
  2. Os vídeos produzidos pelos próprios indígenas podem ser utilizados como fontes históricas? Para responder à questão, releia o item “Fontes históricas”, na página 14, e associe-o ao texto “Vídeo nas Aldeias”. A resposta deve apresentar uma explicação e uma conclusão decorrentes dessas leituras.

Tempo e fórmas de registro

Olhar o relógio para saber as horas, combinar o horário para se encontrar com os amigos, esperar os minutos passarem até o fim do jogo, perceber que algumas coisas mudaram em relação ao passado. Esses são exemplos de experiências cotidianas que nos dão a noção de tempo.

Tempo contado pelo relógio

As diferentes culturas podem construir sua própria maneira de contar e registrar o tempo. Isso já aconteceu seja por meio da observação do Sol e da Lua, seja com a utilização de instrumentos como a ampulheta, a clepsidra etcétera

Nas cidades atuais, milhões de pessoas controlam seus compromissos pelo relógio. Observe que utilizamos o relógio para saber a hora de acordar, comer, ir à escola, estar com os amigos, praticar esportes, dormir etcétera

Com o relógio, dividimos o dia em horas, minutos e segundos. Mas essa fórma de medir o tempo não predominou em todas as épocas nem entre todos os povos.

Foi apenas a partir do século dezesseis que os primeiros relógios mecânicos foram instalados em torres de igrejas, em monumentos de praças e em prédios públicos. Eram lugares bem visíveis para que as pessoas pudessem enxergá-los.

Fotografia. Vista da fachada de um museu, com várias colunas, grandes portas e janelas. Ao centro, uma torre em tamanho maior, contendo um relógio em cada uma de suas laterais.
Relógio em torre do Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Fotografia de 2021.

Hoje em dia encontramos relógios de diversos tipos espalhados por vários lugares. Existem relógios de pulso e de parede, relógios que aparecem nos computadores, nos celulares, em luminosos pelas ruas etcétera

Fotografia. Um poste contendo uma placa e um relógio digitais indicando, respectivamente, o texto “Volte para casa. Faça a sua parte” e “17:37”. Ao redor, vias asfaltadas, prédios e alguns coqueiros.
Relógio digital em avenida da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2020.

integrar com matemática

Responda no caderno

para pensar

  1. Quantas horas por dia você passa na escola? E por mês?
  2. Completado um ano, quantas horas você terá passado na escola?

Tempo geológico, histórico e anacronismo

Existem diferentes modos de compreender o tempo. Um deles, por exemplo, é o tempo geológico, ou seja, aquele relacionado à formação do planeta Terra. Essa noção de tempo é mais trabalhada pela Geografia e pela Física.

Por sua vez, em História, a noção de tempo mais trabalhada é a do tempo histórico, ou seja, aquele que se relaciona com as ações dos seres humanos na Terra. Assim, o tempo histórico é o tempo das criações culturais.

Cada sociedade vivencia o tempo histórico à sua maneira. Por isso, os povos têm diferentes fórmas de contar, sentir e responder aos desafios de seu tempo.

Um dos principais vícios que podem contaminar a análise histórica é o anacronismo (do grego, ana = contra + cronismo = relativo ao tempo). O anacronismo nos leva a julgar pessoas utilizando critérios atuais, como se fossem válidos para todas as épocas. Desse modo, o anacronismo consiste em atribuir aos sujeitos do passado razões ou sentimentos que não faziam parte de seu tempo histórico.

Por exemplo, não faz sentido dizer que o colonizador português desprezava a Ecologia ao derrubar árvores da Mata Atlântica. O motivo é que, entre os europeus do século dezesseis, prevalecia a noção de que os recursos naturais eram tão abundantes que podiam ser explorados de fórma descontrolada ou indiscriminada. Afinal, a Ecologia é uma área do conhecimento que se desenvolveu, sobretudo, a partir do século vinte.

Cronologia e calendário

Ao estudar o tempo, com o objetivo de estabelecer sequências para os acontecimentos, os povos construíram cronologias. A elaboração das cronologias varia de acordo com os valores, os interesses e as escolhas de cada povo. Um dos instrumentos das cronologias é o calendário, que é um sistema de divisão, medição e organização do tempo. Os calendários apresentam um sistema de contagem do tempo que pode ser organizado com base em atividades humanas, como o cultivo, as festas, o trabalho, as cerimônias religiosas etcétera

Fotografia. Destaque para um calendário entalhado em pedra, contendo escritas e símbolos, dispostos de forma simétrica em um círculo, com a representação de um rosto, caracterizando o deus-sol, ao centro.
Calendário asteca produzido entre os séculos catorze e quinze, exposto no Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México, México. Fotografia de 2020.

Diferentes tipos de calendário foram criados por vários povos, como os judeus, os cristãos e os muçulmanos. A organização dos calendários também variou de acordo com conhecimentos e necessidades de cada povo que os desenvolveu.

Atualmente, a maioria dos países utiliza o calendário cristão. Esse calendário organiza a contagem do tempo com base nas seguintes unidades: dia, semana, mês e ano. Períodos maiores podem ser contados em blocos de dez anos (década), de cem anos (século) e de mil anos (milênio).

Pelo calendário cristão, ficou convencionado que o ano 1 celebra o nascimento de Jesus Cristo. As datas anteriores a esse evento são assinaladas pela abreviatura a.C. (antes de Cristo). Já as datas posteriores não precisam de marcação ou podem vir acompanhadas da abreviatura d.C. (depois de Cristo).

Pintura. Homens e mulheres em um campo gramado, vestindo trajes simples: os homens com calças rasgadas, camisas e chapéus, e as mulheres com vestidos, aventais e chapéus. Todos portam ferramentas para o trabalho rural, como foices e rastelos. Em segundo plano há um castelo contornado por água, com torres altas e telhados triangulares e pontiagudos.
Pintura em miniatura extraída do Breviário Grimãni, de Sáimon Bening, século dezesseis, em que aparecem as tarefas que normalmente eram realizadas no mês de junho.

Unidades de tempo

O século é uma unidade de tempo muito utilizada nos estudos de História. Ele costuma ser escrito, na maioria das vezes, em algarismos romanos. Exemplos: século quinze, século dezessete, século vinte e um. Há pessoas, porém, que preferem representar os séculos em algarismos arábicos (15, 17, 21, por exemplo). Nesta coleção, adotamos a primeira fórma, algarismos romanos.

Agora, vamos aprender a calcular os séculos e a identificar alguns números romanos.

Algarismos arábicos

Algarismos romanos

1

I

2

II

3

III

4

IV

5

V

6

VI

7

VII

8

VIII

9

IX

10

X

Algarismos arábicos

Algarismos romanos

11

XI

12

XII

13

XIII

14

XIV

15

XV

16

XVI

17

XVII

18

XVIII

19

XIX

20

XX

Algarismos arábicos

Algarismos romanos

21

XXI

22

XXII

30

XXX

40

XL

50

L

60

LX

70

LXX

80

LXXX

90

XC

100

C

Para saber a que século um ano pertence, basta somar 1 ao número de centenas do ano. Por exemplo: o ano 997 tem 9 centenas. Temos, então:

997 9 + 1 = 10 (dez, em algarismos romanos). Assim, 997 foi um ano do século dez.

Cálculo semelhante pode ser feito, por exemplo, com o ano 1822:

1822 18 + 1 = 19 (dezenove, em algarismos romanos).

Já no caso a seguir não há centenas:

56 0 + 1 = 1. Ou seja, o ano 56 pertence ao século um, em algarismo romano.

Quando, porém, um ano termina em 00, temos uma exceção à regra. Nesse caso, o número de centenas já indica o século e não é preciso somar 1. Observe:

2000 20 (vinte, em algarismos romanos). Isso significa que o ano 2000 ainda pertence ao século vinte (é o último ano desse século). Já 2001 é o primeiro ano do século vinte e um.

Os séculos anteriores ao nascimento de Cristo seguem as mesmas regras. Observe:

401 antes de Cristo 4 + 1 = 5. Assim, 401 antes de Cristo pertence ao século cinco antes de Cristo Observe que é o último ano desse século, pois a contagem é regressiva.

Agora, observe mais um caso com o ano terminando em 00:

400 antes de Cristo 4. Então, 400 antes de Cristo é o primeiro ano do século quatro antes de Cristo

Periodizações históricas

Você já percebeu que constantemente estamos agrupando e dividindo o tempo de acordo com as atividades de nosso cotidiano? Por exemplo, o período de estudar, de dormir, o período de férias.

De fórma semelhante, os historiadores procuram dividir o tempo histórico em períodos, isto é, elaboram periodizações. As periodizações variam dependendo das escolhas feitas por quem as elaborou. Por isso, existem diferentes periodizações históricas, que elegem determinados marcos da memória.

Linha do tempo

A linha do tempo é uma fórma de esquematizar assuntos em ordem cronológica. Para construir uma linha do tempo, precisamos escolher os assuntos que desejamos representar e organizá-los em eventos sucessivos (antes e depois) e simultâneos (que ocorrem ao mesmo tempo). Ao criar uma linha do tempo, trabalhamos com alguns conceitos históricos, como duração, sequência, simultaneidade, permanências e rupturas.

Na elaboração da linha do tempo, é possível utilizar escalas. A escala estabelece uma correspondência entre uma unidade de medida de comprimento (em geral, o centímetro) e uma unidade de tempo (como mês, ano, década, século etcétera). Utilizar escalas não é obrigatório, mas, em alguns casos, é fundamental anunciar que a linha do tempo foi construída sem escala.

Periodização tradicional da História

  Pré-História  

Do surgimento do ser humano até a invenção da escrita (cérca de 4000 antes de Cristo).

Fotografia. Destaque para estátua de pedra com traços de um corpo feminino.
Estátua neolítica, 6000 antes de Cristo

  Idade Antiga ou Antiguidade  

Da invenção da escrita até a queda do Império Romano do Ocidente (476).

  Idade Média  

Da queda do Império Romano do Ocidente até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453).

Iluminura. Representação de um homem trajando uma armadura metálica, portando uma lança com uma bandeira no topo. Está sentado sobre o dorso de um cavalo, que usa uma capa amarela com detalhes laranjas e franjas nas laterais.
Iluminura de cavaleiro, cêrca de1434.

  Idade Moderna  

Da tomada de Constantinopla até a Revolução Francesa (1789).

  Idade Contemporânea  

Da Revolução Francesa até os dias atuais.

Fotografia. Destaque para escultura ao ar livre, com estruturas curvas, contínuas e assimétricas, na cor vermelha.
Escultura de Tomie Ohtake, em Santos, São Paulo. Fotografia de 2008.

Linha do tempo fóra de escala.

Responda no caderno

para pensar

Como seria uma linha do tempo sobre sua vida? Escolha alguns momentos marcantes e organize-os em uma linha.

Versão adaptada acessível

Como seria uma linha do tempo sobre sua vida? Escolha alguns momentos marcantes e organize-os em uma linha do tempo tátil. Para tanto, você pode utilizar materiais emborrachados e outros objetos como papéis lisos, ásperos, finos e ou espessos, além de linhas, palitos, botões etc.

Debate entre Pré-História e História

Uma das periodizações históricas mais conhecidas e debatidas estabelece a distinção entre um período anterior à invenção da escrita e outro posterior à escrita. Nessa divisão, convencionou-se chamar de Pré-História o longo período que se inicia com o surgimento do ser humano e termina com o período em que surgiu a escrita, por volta de 4000 antes de Cristo O período posterior foi denominado História.

A distinção entre Pré-História e História foi criada por historiadores europeus que viveram no século dezenove. Eles davam grande importância às fontes escritas porque supunham que elas eram mais confiáveis.

Atualmente, os estudiosos não dão tanta importância para essa distinção entre fontes escritas e não escritas. Isso porque há várias fórmas de registro do passado que podem ser interpretadas. Além disso, o ser humano, desde que surgiu na Terra, é um ser histórico.

Apesar das críticas mais recentes, o termo Pré-História continua sendo usado para referir-se ao período inicial da existência humana sobre a Terra. Neste livro, eventualmente, podemos nos referir a esse termo – sabendo que esse período faz parte da História como todos os outros.

Fotografia. Contornos de diversas mãos, em tons de vermelho, amarelo, laranja, preto e branco, sobre as paredes de uma gruta.
Pintura rupestre encontrada na Gruta das Mãos, em Santa Cruz, Argentina. Fotografia de 2017. Pesquisadores calculam que essa pintura foi feita entre 13 mil e 10 mil anos atrás, durante a chamada Pré-História.

Periodização tradicional e eurocentrismo

Há outra divisão da História, também elaborada por europeus, que destaca quatro grandes períodos: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Essa divisão foi desenvolvida com base no estudo de algumas regiões da Europa, do Oriente Médio e do Norte da África.

Essa periodização tradicional também recebe críticas, porque se baseia em uma visão histórica centrada nos povos da Europa. É, portanto, eurocêntrica. É importante conhecê-la porque ela é frequentemente citada. Podemos utilizá-la, mas não devemos nos restringir a essa divisão tradicional.

PAINEL

O tempo

Vários artistas procuraram representar o tempo em suas obras. Uma dessas representações é o quadro Uma dança para a música do tempo, do pintor francês Nicolás Pússim (1594-1665).

A seguir, observe uma interpretação de alguns elementos dessa tela.

Pintura. Quatro pessoas de mãos dadas em destaque, indicadas pelo número ‘2’, dispostas em um círculo, com diferentes trajes e as indicações de: ‘Representação do trabalho’; ‘Representação da pobreza’, ‘Representação do prazer’ e ‘Representação da riqueza’. Nas laterais, à direita, um homem em idade avançada, com um par de asas nas costas, segurando uma harpa, e duas crianças sentadas no solo, uma à esquerda, outra à direita da tela, indicados pelo número ‘1’. À esquerda, uma escultura de pedra representando dois rostos vistos de perfil, indicada pelo número ‘4’. Em segundo plano, entre as nuvens do céu, um homem sobre uma carruagem conduzida por cavalos, rodeado por mulheres de aspecto angelical, indicados pelo número ‘3’.
Uma dança para a música do tempo, pintura de Nicolás Pússim, cêrca de 1636.

1. As crianças e o homem idoso representam o tempo ou a passagem do tempo.

O homem idoso toca uma harpa e sua música dá ritmo ao movimento das pessoas, que simboliza a dança da vida”. Sem a música do tempo, não existiria a dança da vida. Observe, também, que o homem possui asas, trazendo a ideia de que o tempo voa.

  1. As figuras que dançam representam o trabalho, o prazer, a riqueza e a pobreza. Observe que a riqueza não dá a mão para a pobreza. O trabalho olha em direção à riqueza. E o prazer desvia o olhar do trabalho. Na visão do pintor, a relação entre esses quatro elementos marca a vida das pessoas.
  2. No céu, o pintor representou o deus Apolo e suas seguidoras Horas, as deusas referentes às estações do ano. Os deuses vivem a eternidade, enquanto os humanos vivem no mundo em que tudo começa e termina.
  3. A estátua representa o deus romano Jano, nome do qual derivou o termo janeiro. Jano simboliza a porta de entrada para um novo tempo. A face dupla de Jano representa a síntese do velho e do novo, do passado e do futuro.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas sobre o trabalho dos historiadores. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.

  1. Esses profissionais investigam as vivências humanas ao longo do tempo.
  2. Os historiadores revelam verdades absolutas e definitivas sobre o passado.
  3. Em seu ofício, os historiadores pesquisam, levantam hipóteses e interpretam culturas.
  4. Atualmente, os historiadores somente analisam fontes escritas, por serem mais confiáveis.
  1. Em grupo, entrevistem uma pessoa mais velha que vocês conheçam. Para isso, leiam as orientações a seguir.
    1. Elaborem um questionário para a entrevista. Observem, a seguir, exemplos de perguntas que podem ser adaptadas por vocês.
      • Qual é o seu nome? Quando e onde você nasceu?
      • Que lembranças você tem de sua infância e de sua juventude?
      • Como eram suas brincadeiras, sua casa e sua rua?
      • Você guarda algum objeto dessa época (fotografias, cartas, roupas, acessórios)? Por que você guarda esse objeto?
      • Você tem saudade de sua infância? Por quê?
      • Se tivesse que dar um conselho para uma pessoa mais jovem, o que diria?
    1. Registrem a entrevista em texto, vídeo ou áudio.
    2. Apresentem a entrevista para os colegas da turma.
    3. Identifiquem semelhanças e diferenças entre as respostas dos entrevistados.

integrar com matemática

3. Para refletir um pouco mais a respeito da divisão do tempo em anos e séculos, faça as atividades a seguir. Se necessário, peça ajuda ao professor.

  1. Escreva no caderno, em algarismos romanos, o século em que você nasceu e o século anterior. Indique o ano do início e o do término de cada um.
  2. Escreva no caderno, em algarismos romanos, os seguintes séculos: 1, 9, 10, 15, 20 e 21.
  3. Indique a que século pertencem os seguintes anos: 100 antes de Cristo, 10, 1500, 1988, 2001, 2020.
  4. Indique o ano em que começou e o ano em que terminou cada um dos seguintes séculos: dois, oito, doze, quinze, vinte e dezenove.

Interpretar texto e imagem

4. Analise e compare as duas imagens a seguir.

Fotografia em preto e branco. Uma sala de aula formada por alunas uniformizadas, sentadas sobre carteiras escolares de madeira. Ao fundo, uma mulher adulta, em pé.
Alunas aprendem costura na Escola Normal Caetano de Campos, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 1908.
Fotografia. Uma sala de aula formada por alunas e alunos uniformizados, vestindo camisas brancas e calças, sentados em carteiras escolares de plástico e metal, voltados para uma lousa sobre a parede à frente. Segurando uma caneta sobre a lousa, há um homem em pé.
Alunas e alunos em sala de aula da Escola Municipal Benedito de Oliveira Barros, em Itaparica, Bahia. Fotografia de 2019.
  1. Observe os seguintes elementos: cores e datas das fotografias; cidades onde elas foram tiradas; pessoas e cenários retratados.
  2. Comparando essas fotografias, você diria que, ao longo do tempo, as escolas mudaram ou continuaram iguais? Explique sua resposta.
  3. Agora compare sua classe com as salas de aula representadas nessas duas fotografias. Analise semelhanças e diferenças entre elas.

integrar com arte

5. Observe a imagem e responda às questões.

Fotografia. Capa de revista internacional. Destaque para a reprodução de uma pintura, que ocupa quase toda a capa. Na pintura, foi representado um conjunto de pessoas com características diversas: homens e mulheres; crianças, adultos e idosos; brancos, negros e asiáticos; trajando roupas variadas; muitos com as mãos em posição de oração, aparentando professar diferentes religiões.
Capa de revista com a pintura Regra de ouro, do artista estadunidense Norman Rockwell, 1961. Na obra, está escrita a frase, em inglês, Do unto others as you would have them do unto you”, que pode ser traduzida por “Faça aos outros aquilo que você gostaria que fizessem a você”.
  1. Qual é o nome dessa obra? Em que ano foi criada? Quem é seu autor?
  2. Compare as pessoas representadas na imagem. Quais são suas semelhanças e diferenças?
  3. Qual é o sentido da frase escrita na obra?
  4. Em sua opinião, as diferenças étnicas, religiosas, de idade e de gênero são respeitadas atualmente no Brasil? Desenvolva sua resposta argumentando.