UNIDADE 2 AMÉRICA, ORIENTE MÉDIO E ÁFRICA

CAPÍTULO 4 AMÉRICA ANTIGA

O continente americano foi habitado por diversos povos. Entre eles, destacamos os olmecas, os maias, os astecas, os incas e os Tupi-guarani. Cada um desses povos desenvolveu culturas singulares, com modos de falar, pensar e trabalhar próprios. Um dos elementos em comum entre esses povos foi o cultivo do milho, cereal cultivado pela primeira vez por povos antigos da América.

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O que podemos fazer para valorizar as culturas indígenas? Comente.

Fotografia. Vista aérea de um sítio arqueológico, com diversas construções em formato piramidal, edificadas em níveis retangulares decrescentes da base para o ápice, e lances de escadarias do solo para o topo. Ao redor, diversas pessoas transitando.
Vista do sítio arqueológico de Teotihuacán, próximo à Cidade do México, México. Fotografia de 2020. Também conhecida como “Cidade dos Deuses”, Teotiuacán foi um grande centro urbano da América antiga. As construções piramidais, erguidas a partir do século um, influenciaram civilizações posteriores, como maias e astecas. Na fotografia, veem-se os dois grandes templos desse sítio: as pirâmides da Lua (em primeiro plano) e do Sol (ao fundo).
Fotografia. Um grupo de homens dispostos lado a lado, vestindo roupas vermelhas com listras verticais marrons, e chapéus compridos nas cabeças, com plumas laterais formando um semicírculo. Eles carregam uma estrutura de madeira nos ombros, sobre o qual há um homem vestindo roupas vermelhas com bordados dourados, um manto, uma espécie de coroa dourada com três pontas e portando um cetro em uma das mãos, contendo três pontas no topo, e duas extensões laterais: uma afilada e a outra achatada. Ao redor, mulheres com vestidos coloridos, chales brancos e coroas de flores amarelas na cabeça. Em segundo plano, um conjunto de casas com telhados triangulares.
Inti Raymi ou “Festa do Sol” em Cuzco, Peru. Fotografia de 2021. Manifestação tradicional da região, o Inti Raymi era uma celebração religiosa dos incas, na qual festejavam o deus Sol e o início do solstício de inverno. Atualmente, é uma representação teatral que reúne mais de 700 artistas – além de turistas do mundo todo – com o objetivo de celebrar e valorizar a cultura dos antepassados.
Fotografia. Um grupo de mulheres indígenas vestindo roupas com adornos de palha, colares e cocares com penas coloridas nas cabeças, dispostas lado a lado, portando uma faixa retangular com a imagem de uma mulher indígena e o texto: Guerreiras da ancestralidade. Território indígena Tupinikim e Guarani - Espírito Santo.
Indígenas das etnias Tupiniquim e Guarani participam da nota de rodapé 2a Marcha Nacional das Mulheres Indígenas em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 2021. A marcha reivindicava, entre outros aspectos, a garantia da posse dos territórios indígenas no Brasil.

América indígena

Ao longo do tempo, os povos originários que viviam no continente americano receberam diversos nomes por parte dos estudiosos. Vejamos alguns deles:

  • pré-colombianos – termo que tem como referência a chegada do navegador e explorador genovês Cristóvão Colombo à América;
  • nativos – termo que designa aqueles que nascem e vivem em um local;
  • índios – termo que se popularizou por conta de um equívoco de Colombo, que não sabia que havia encontrado um novo continente, acreditando ter chegado às Índiasglossário .

Todos esses nomes são convenções criadas para se referir a mais de 3 mil povos diferentes que viviam na América antes da chegada dos europeus no século quinze.

Apesar dessa diversidade, atualmente esses povos preferem termos como povos originários ou indígenas para se autoidentificar, lutar por seus direitos e valorizar suas culturas.

Principais povos originários da América (séculos X-XV)

Mapa. Principais povos originários da América (séculos dez a quinze). Mapa do continente americano com a indicação de áreas ocupadas por diferentes povos. Legenda: Linha tracejada roxa – Mesoamérica; Linha tracejada vermelha – Cordilheira dos Andes.
As linhas tracejadas roxas delimitam uma área que corresponde à parte sul do atual México e aos atuais países de Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Panamá.  
A linha tracejada vermelha indica um longa cadeia de montanhas que se estende pela costa oeste da América do Sul. Compreendendo grande parte do atual Brasil, do Sul para o Norte, há áreas ocupadas pelos povos Guarani, Jê, Tupi, AruaK e Karib. No oeste da América do Sul, em área atravessada pela Cordilheira dos Andes: Araucanos, Incas, Chibchas e Aruak. No norte da América do Sul: Aruak, Karib e Chibchas. Os demais territórios sulamericanos referem-se a Outras Populações. Na Mesoamérica: Maias, ao sul, e Astecas, ao norte. Na maior parte das ilhas da América Central: Aruak. Na América do Norte, em sentido sul para o norte, Astecas, Apaches, outras populações, Shoshonis, Sioux, Iroqueses, Algonquinos, Atapascos, Inuítes e Outras populações. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.260 quilômetros.
Fonte: ATLAS histórico integral. Barcelona: Biblograf, 1993. página 39.
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  1. O nome dado a uma pessoa pode influenciar a formação de sua identidade? Comente.
  2. Quem escolheu seu nome? Você sabe o que motivou essa escolha? E o que seu nome significa?
Fotografia. Destaque para mulher indígena, de cabelos longos, lisos e escuros, vestindo uma jaqueta amarela, um par de óculos no rosto e um cocar com penas coloridas na cabeça. Ela segura um microfone com uma das mãos, em direção a sua boca.
A líder indígena brasileira Txai Suruí discursa na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas cópi vinte e seis em Glasgow, Escócia. Fotografia de 2021. No evento, Suruí reivindicou mais participação dos povos originários nas decisões da cúpula do clima.

Mesoamericanos e andinos

Os olmecas, os maias e os astecas viviam em uma região chamada Mesoamérica, que corresponde à parte sul do México e a países como Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Panamá. Já os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico. Observe a localização dos territórios desses povos no mapa da página anterior.

Olmecas

Os olmecas se desenvolveram, aproximadamente, entre 1200 antes de Cristo e 400 antes de Cristo A cultura olmeca espalhou sua influência por uma vasta área que se estende, atualmente, do México (estados de Veracruz e Tabasco) ao Panamá.

Pesquisas arqueológicas indicam a existência de, ao menos, quatro grandes centros urbanos olmecas, cujos nomes atuais são: São Lourenço, Três Zapotes, Laguna de Los Cerros e La Venta. Nesses lugares, os arqueólogos encontraram vestígios de uma rica cultura que construiu, entre outras obras, pirâmides, templos, praças e imensas esculturas de basalto. La Venta foi, provavelmente, o centro olmeca mais populoso, abrigando cérca de 18 mil habitantes.

Escultura. Rosto com feições humanas sobre um suporte de madeira de formato circular. O rosto possui nariz com abas largas, lábios volumosos e um capacete ao redor da cabeça.
Escultura olmeca exposta no Museu Nacional de Antropologia, na Cidade do México, México. Fotografia de 2016. Muitos dos vestígios do passado olmeca encontrados pelos arqueólogos são grandes esculturas conhecidas como Cabeças Colossais. Algumas chegam a pesar 25 toneladas, e acredita-se que tenham sido esculpidas em 900 antes de Cristo

Os olmecas cultivavam plantas como milho, feijão e abóbora. Também caçavam e recolhiam frutas silvestres. Extraíam látex e produziam borracha. Por isso, ficaram conhecidos como “povo da borracha”.

A religião desse povo era politeísta. Eles cultuavam vários deuses, simbolizados por animais e forças da natureza, como o jaguar, a serpente, o Sol, a água, as montanhas e certas plantas agrícolas. Em alguns cultos, os dirigentes olmecas podiam atuar como sacerdotes, pois acreditava-se que eram dotados de poderes sobrenaturais.

Além disso, os olmecas desenvolveram um calendário que servia para orientar as atividades agrícolas, do plantio à colheita. Inventaram também um sistema de numeração e de escrita com base em sinais (glifos) que eram gravados ou pintados.

A sociedade olmeca não formou um império unificado, dirigido por um governo centralizado. O que havia eram centros regionais que organizavam sua sociedade. Nesses centros, os historiadores perceberam a existência de diversos grupos sociais, constituídos por camponeses, artesãos, comerciantes, escribas, sacerdotes e dirigentes políticos.

A invenção do milho

O milho que conhecemos hoje (zea meis) é o resultado de um longo trabalho de desenvolvimento de técnicas de agricultura entre os primeiros povos americanos. Cultivado há milhares de anos, essa planta foi domesticada e tornou-se completamente dependente da ação humana para se reproduzir. Por isso, o milho pode ser considerado uma “invenção agrícola” dos povos originários da América.

O milho começou a ser cultivado desde aproximadamente 8 mil anos atrás, na região que corresponde ao atual México. Dali, foi levado para outras partes da América e incorporado à alimentação de vários povos.

Os olmecas, por exemplo, consideravam o milho um alimento tão importante que, com o tempo, o tornaram uma planta sagrada, sendo utilizado em rituais artísticos e religiosos.

Atualmente, o milho é um dos cereais mais produzidos e consumidos no mundo. Ele é utilizado em diversos pratos tradicionais, como o taco, a polenta, a pamonha e a canjica. Além disso, é usado na fabricação de óleos, combustíveis e ração de animais.

Fotografia. Destaque para diversas espigas de milho de coloração variada, como amarelo, roxo, vermelho e branco.
Algumas variedades de milho encontradas no Vale Sagrado, Peru, região onde viviam os incas. Fotografia de 2016. O vestígio mais antigo de uma espiga de milho foi encontrado na região do atual México, datada de 7000 antes de Cristo
Fotografia. Uma rua de comércio popular abarrotada de pessoas. Destaque para duas mulheres preparando massas finas e arredondadas, com o auxílio das mãos.
Mulheres indígenas preparam tortilhas em Santiago Sacatepequez, Guatemala. Fotografia de 2018. Feitas com farinha de milho, as tortilhas são uma espécie de pão que compõe alguns pratos típicos dos povos antigos da América, como o taco, consumido até os dias de hoje.
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Você conhece outras comidas feitas com milho? Quais?

Maias

A história maia tem suas origens no século oito antes de Cristo Antropólogos e historiadores apontam que o grande desenvolvimento dessa civilização ocorreu entre 300 Depois de Cristo e 900 Depois de Cristo

Nesse período, os maias construíram cidades-Estado como Copán (na atual Honduras), Tikal (na atual Guatemala), Chichén Itzá e Palenque (ambas no atual México). Eram cidades autônomas, que tinham governos, leis e costumes próprios. Apesar da autonomia, essas cidades-Estado mantinham certas alianças e relações comerciais. Eram comercializados bens como cacau, sal, conchas e jade, um tipo de pedra ornamental.

Belos palácios e templos em fórma de pirâmide foram erguidos em várias cidades maias. Em Tikal, por exemplo, arqueólogos encontraram mais de 3 mil construções, entre elas o Templo do Grande Jaguar. Esse templo tinha aproximadamente a altura de um prédio de 20 andares. Hoje, a área da antiga cidade de Tikal foi transformada em um parque nacional e declarada Patrimônio da Humanidade pela unêsco.

Fotografia. Vista de um templo de pedra construído em níveis retangulares decrescentes da base até o ápice, com uma longa escadaria do solo até o topo. Ao redor, áreas gramadas e árvores.
Vista do Templo do Grande Jaguar, em Tikal, Guatemala. Fotografia de 2019.

Sociedade, economia e saberes

A sociedade maia tinha divisões hierárquicas entre os diferentes grupos. Havia uma elite composta de nobres, sacerdotes e guerreiros. Mas a maioria da população era formada por agricultores e artesãos, que pagavam tributos para o governo. Cada cidade tinha um chefe de governo que era considerado um representante dos deuses.

A principal atividade econômica dos maias era a agricultura. Entre os alimentos que cultivavam, destacam-se milho, algodão, feijão, cacau, abacate e chili (pimenta). Eles empregavam uma técnica agrícola chamada coivara, que incluía a derrubada e a queima das plantas nativas, abrindo espaço para o cultivo.

Homens e mulheres desse povo dominavam as técnicas de cerâmica, o ofício de modelar ouro e prata (ourivesaria), a fiação e a tintura de tecidos. Entre as belas criações da arte maia, podemos destacar as obras arquitetônicas, as esculturas em baixo-relevo e os murais. Os maias também dominavam técnicas de produção de diferentes tipos de borracha, utilizando látex e extratos de plantas.

Escrita e calendário

Os maias criaram um sistema de escrita e produziram livros chamados códices. Embora a maioria dos códices tenha sido destruída pelos conquistadores europeus, alguns deles foram preservados e decifrados na segunda metade do século vinte. Os códices são fontes históricas importantes, pois apresentam aspectos da cultura maia. Nesses livros, os maias registraram, por exemplo, o cotidiano, as crenças religiosas e os conhecimentos científicos. A escrita maia foi grafada também em monumentos de pedra e artigos de cerâmica.

Manuscrito. Página de códice, com destaque para a representação de um ser que mistura aspectos humanos e animais, com os braços e pernas esticados e uma serpente sobre a cabeça. De seu corpo verte água. Ao redor há animais e diversos símbolos.
Detalhe de uma página do códice maia Troana Cortesianus, também conhecido como Códice de Madri, cêrca de 1230. Na imagem, vemos a representação de Ixchel, deusa da Lua. A água que sai de seu corpo e a serpente sobre sua cabeça são referências maias à estação chuvosa do ano.

Além da escrita, os maias desenvolveram conhecimentos astronômicos e matemáticos (sistema numérico e o conceito do número zero). Observando o movimento da Lua, do Sol e de outras estrelas, eles elaboraram calendários de muita precisão, que os ajudavam a organizar as atividades agrícolas e as festividades religiosas.

Ilustração. Indicação de um sistema numérico, nesta sequência, de 0 a 19, respectivamente: uma concha vazia; um círculo; dois círculos; três círculos quatro círculos; uma barra; uma barra e um círculo em cima, uma barra e dois círculos; uma barra e três círculos; uma barra e quatro círculos; duas barras; duas barras e um círculo em cima; duas barras e dois círculos, duas barras e três círculos, duas barras e quatro círculos; três barras; três barras e um círculo em cima; três barras e dois círculos; três barras e três círculos; três barras e quatro círculos.
Sistema numérico maia. Observe que as unidades são indicadas com bolinhas e traços (formados a cada cinco unidades). Os maias perceberam que, para aperfeiçoar seu sistema numérico, um número sem valor deveria ser acrescido. A fórma de indicar o zero no sistema foi com a imagem de uma concha vazia.
Ilustração. Indicação de uma adição e sua equivalência no sistema numérico maia: 5 mais 8 igual a 13; uma barra mais uma barra e três círculos igual a duas barras sobrepostas e três círculos.
Adição indicada com os símbolos do sistema numérico maia. Nessa adição, a soma obtida é representada por 2 traços e 3 bolinhas, que equivalem a 13 unidades, pois: 5 + (5 + 3) = 13.

A partir do século nove, a civilização maia entrou em declínio por razões que ainda são estudadas pelos historiadores. Várias possíveis causas foram apontadas para explicar o abandono das cidades maias: secas prolongadas, insuficiência da produção de alimentos para abastecer as populações, epidemias, invasões de povos vizinhos e rebeliões internas, entre outras.

Astecas

Os astecas eram um povo que migrou de regiões norte-americanas e foi ocupando a região conhecida como Vale do México, entre os séculos doze e treze. Também chamados de mexicas (de onde deriva o nome México), eles falavam o nahuatl, que é a língua indígena mais falada hoje nesse país, mesmo após ter passado por transformações.

Os astecas estabeleceram núcleos de povoamento em torno do Lago tescôco. Fundaram ali a cidade de Tenochtitlán, que se tornou a capital. No centro dessa cidade havia um imponente templo construído em fórma piramidal. Os historiadores calculam que Tenochtitlán chegou a ter entre 100 mil e 230 mil habitantes, alcançando uma área de 13,5 quilômetros quadrados. Para ter uma ideia do tamanho dessa cidade asteca, podemos compará-la à movimentada Sevilha, que tinha cêrca de 150 mil habitantes e era a maior cidade espanhola no século dezesseis.

Por meio de alianças e conquistas militares, os astecas expandiram seus territórios, dominando regiões centrais do atual México, desde o Atlântico até o Pacífico. Calcula-se que a população desse império atingiu cêrca de 6 milhões de pessoas.

Grandes centros urbanos, como Tenochtitlán, eram sustentados por tributos, muitas vezes pagos sob a fórma de alimentos que vinham das diferentes regiões dominadas pelos astecas.

Ilustração. Representação de uma cidade cercada por rios, com espaços organizados, construções piramidais, edificadas em retângulos em níveis decrescentes da base para o ápice, e um templo central, maior, com vários lances de escadaria. Pessoas transitam entre as construções.
Representação artística da cidade asteca de Tenochtitlán.

Sociedade, economia e saberes

A sociedade asteca era fortemente hierarquizada. Era composta de nobres, comerciantes, artesãos e camponeses. Entre os nobres, estavam o imperador, os sacerdotes, os chefes militares, os governadores de províncias e os altos funcionários do Estado. Também havia uma elite de ricos comerciantes e artesãos. A maioria da população era formada por camponeses obrigados a pagar tributos para o governo.

Os astecas desenvolveram uma agricultura complexa. Drenaram pântanos, abriram canais de irrigação e construíram chinampas, ilhas artificiais destinadas ao cultivo agrícola. Os principais produtos cultivados eram milho, feijão, cacau, algodão, tomate e tabaco.

Fotografia. Detalhe de um manuscrito com a representação de homens vestindo tecidos brancos ao redor da cintura desempenhando diferentes atividades em uma área de cultivo. Sobre uma porção de terra, alguns deles seguram hastes de madeira em direção ao solo terroso. No centro, dois estão cobrindo uma estrutura de madeira, quadrada, com uma mistura de terra e material orgânico, formando uma ilha artificial. Em segundo plano há diversas ilhas artificiais cercadas por água, contendo plantas de folhas longas e verdes.
Representação artística de camponeses astecas trabalhando em chinampas, ilhas artificiais destinadas ao cultivo agrícola, em detalhe de um manuscrito espanhol do século XVI.

Além disso, os astecas criavam animais como perus, patos e cachorros. Comercializavam bens como tecidos, peles, cerâmicas, sal, ouro e prata. Dominavam técnicas de ourivesaria, cerâmica, tecelagem e engenharia, que aplicavam, por exemplo, na construção de diques, templos e aquedutosglossário . Produziam obras de arte como máscaras em fórma de mosaico, muitas vezes representando divindades. Os astecas desconheciam o uso do ferro e da roda.

Fotografia. Um aqueduto de pedras com colunas em formato de arco. Ao redor, arbustos e plantas rasteiras.
Ruínas do aqueduto chapúltepéc, na Cidade do México, México. Fotografia de 2016. Os astecas construíram aquedutos para levar água da montanha para a população que vivia no Vale do México.

Assim como os maias, os astecas desenvolveram um calendário, um sistema de escrita baseado em signos e produziram códices (livros). O Códice Boturini e o Códice Mendoza foram criados por volta de 1540, cêrca de vinte anos após a chegada dos espanhóis.

Os astecas eram politeístas, ou seja, cultuavam diversos deuses. Entre eles, estavam:

  • uitizilôpótchili – deus da guerra e do Sol;
  • Tlaloc– deus da chuva e do trovão;
  • Quetzalcóatl – também conhecido como serpente emplumada, deus da água, da terra, da escrita, do calendário e das artes.
Máscara. Objeto com traços humanos: dois olhos, um nariz e os dentes à mostra, feita com pedras azuis.
Máscara asteca feita de madeira e coberta de turquesas, confeccionada entre os séculos quinze e dezesseis. Representa, provavelmente, um deus asteca do fogo e criador da vida.

Para cultuar esses deuses, os astecas erguiam templos com fórma de pirâmide e realizavam rituais de sacrifício humano. As pessoas sacrificadas eram, em sua maioria, prisioneiros de guerra. Na cultura asteca, esse ritual era um momento de renovação da aliança entre deuses e seres humanos.

Fotografia. Ruínas de construções feitas de pedras. Destaque  para uma escultura de serpente, ao centro, também coberta por pedras. As ruínas possuem diferentes níveis de altura e escadarias.
Ruínas no Templo Maior, dedicado aos deuses uitizilôpótchili e Tlaloc, na Cidade do México, México. Fotografia de 2020. Na imagem, notam-se vestígios de uma construção em fórma de serpente emplumada, símbolo asteca que representava o deus Quetzalcóatl.

Incas

Atualmente, milhares de turistas visitam todos os anos a cidade de Cuzco, no Peru. Essa cidade foi a capital do Império Inca, civilização que habitava essa região desde antes do século doze.

Ao longo de sua história, os incas foram se tornando mais poderosos que as sociedades andinas anteriores, como os reinos de Huari ou Chimu. Ao expandir seu território, os incas dominaram vários povos, alcançando uma população de cérca de 12 milhões de pessoas. No seu apogeu, o território inca abrangia uma área que hoje se estenderia do Equador ao Chile. Essa área era atravessada por uma rede de caminhos de cérca de 40 mil quilômetros. Por esses caminhos, os incas levavam suas leis, língua e crenças a centenas de povos submetidos. Confira no mapa a extensão desse território.

Extensão do Império Inca (século XVI)

Mapa. Extensão do Império Inca (século dezesseis). Destaque para parte da América do Sul, com a divisão política atual dos territórios. Legenda: círculo preto, Cidades incas; círculo verde, cidades modernas; círculo branco, cidades modernas construídas sobre cidades incas; linha contínua, limites atuais entre países. Uma linha vermelha liga diferentes cidades, entre os territórios atuais de Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia. Do sul para o norte, nesta ordem: Santiago (círculo verde), Mendoza (círculo branco), Ranchillos (círculo preto), Chilecito (círculo preto), Copiapó (círculo branco), Pucará de Andalgalá (círculo preto), La Playa (círculo preto), Salta (círculo branco), Tilcara (círculo preto), São Pedro de Atacama (círculo branco), Catarpe (círculo preto), Tupiza (círculo preto), Paria (círculo preto), Cochabamba (círculo branco), Chuquiabo/La Paz (círculo branco), Chucuito (círculo verde), Hatun Colla (círculo verde), Cuzco (círculo verde), Vilcashuamán (círculo verde), Jauja (círculo verde), Arequipa (círculo branco), Chala (círculo branco), Nasca, Tambo Colorado (círculo preto), Inkawasi (círculo preto), Pachacamac (círculo preto), Lima (círculo branco), Huanuco Pampa (círculo preto), Vale Moche e Chan Chan, Chiquito Viejo (círculo preto), Cajamarca (círculo verde), Deserto de Sechura, Túmbez (círculo verde), Tomebamba/Cuenca (círculo verde), Hatun Cañar/Ingapirca (círculo preto), Quito (círculo preto) e Guaca (círculo verde). 
No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 340 quilômetros.
Fontes: BETHELL, Leslie (org.). América Latina colonial um São Paulo: Edusp, 1998. volume 1. página 77; ALONSO, M.; VÁSQUEZ, E. História: Europa moderna e América colonial. Buenos Aires: Aique, 1994. página 93.

Alerta ao professor

O texto “Incas” contribui para o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero seis agá ih zero sete e ê éfe zero seis agá ih zero oito, pois aborda as fórmas de registro, os espaços territoriais ocupados e os aportes culturais, científicos, sociais e econômicos dessa sociedade.

Além de Cuzco, os incas construíram diversas cidades. Uma delas é mátchu pítchu, que fica no topo de uma montanha, a 2.400 metros de altitude. Provavelmente, essa cidade era visitada pelo imperador para descansar, caçar e receber autoridades estrangeiras. Machu Picchu foi abandonada pouco depois da conquista espanhola, no século dezesseis. Séculos depois, em 1911, uma equipe de arqueólogos liderada pelo estadunidense Hiram Bingham chegou à cidade, que estava coberta pela vegetação, mas era conhecida pelos moradores do entorno. Em 1983, Cuzco e Machu Picchu foram declaradas Patrimônios da Humanidade pela unêsco.

Fotografia. Vista aérea de uma cidade cercada por uma cadeia de montanhas acidentadas e com densa vegetação. A cidade é formada por ruínas de pedras, corredores e escadarias em nível.
Vista das ruínas de Machu Picchu, cidade inca situada no Peru. Fotografia de 2021. Os conquistadores espanhóis não chegaram a conhecê-la.

Imperadores incas

O imperador inca era considerado uma divindade que recebia o nome de Sapa Inca e de Filho do Sol. Quando morria, o Sapa Inca era mumificado e cultuado. Entre os imperadores incas, podemos destacar Pachacuti, que governou de 1438 a 1471.

Pachacuti criou uma regra que contribuiu para a expansão do império. Segundo essa regra, quando o soberano morria,

“[...] um de seus filhos assumia a chefia do estado. Recebia o direito de governar, declarar guerras, fazer a paz, cobrar impostos, mas não recebia qualquer propriedade material. Tudo o que pertencera ao Inca morto passava para seus outros descendentes em linha masculina, que formavam um grupo social reticências denominado panaca. Eles eram responsáveis pela preservação da múmia do Inca e pela manutenção de seu culto. Para sermos fiéis à concepção nativa, o Inca morto, representado por sua múmia, continuava a possuir os bens e ser servido por seus descendentes.

A regra da herança dividida significava que tudo o que resultara da administração anterior – obras e conquistas – saía da esfera do Estado. A cada sucessão [do Inca] era preciso começar tudo de novo: o rei recém-chegado não tinha alternativa senão ampliar os limites do império, conquistando novos povos e novas terras. reticências

Os panacas dos reis mortos formavam verdadeiros estados dentro do estado, enfraquecendo o poder do Inca e alimentando a rivalidade no interior da elite.

FAUSTO, Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. página 20-21.

Fotografia. Destaque para escultura metálica de um homem com roupa ricamente detalhada, vestindo um manto, uma espécie de coroa com três pontas na cabeça e segurando um cetro contendo três pontas no topo, e duas extensões laterais: uma afilada e a outra achatada. Ao fundo, céu azul.
Estátua do Sapa Inca Pachacuti, localizada na Praça de Armas, em Cuzco, Peru. Fotografia de 2018.

Sociedade, economia e saberes

Além do imperador, a elite inca era composta de sacerdotes, chefes militares, governadores locais e funcionários do Estado. Também havia grupos privilegiados de artesãos, guerreiros, projetistas e contabilistas.

A maioria da população era formada por camponeses, que se dedicavam, sobretudo, ao cultivo de milho, batata, feijão, quinoa, tomate e tabaco e à criação de animais como lhamas e alpacas. Esses animais eram utilizados para o transporte de cargas e para a obtenção de lã, leite e carne. Durante um período do ano, os camponeses eram obrigados a realizar serviços para o Estado, trabalhando como agricultores, pastores e construtores.

Os incas desenvolveram a tecelagem, a cerâmica, a metalurgia do bronze e do cobre e a ourivesaria de ouro e prata.

Construíram palácios, templos, estradas pavimentadas, aquedutos, canais de irrigação e terraços de cultivo na encosta de montanhas.

Um império interligado

Como vimos, as cidades incas eram interligadas por uma vasta rede de estradas. Eram caminhos que atravessavam vales, desfiladeiros e montanhas. Ao longo das principais estradas, havia abrigos, armazéns e postos com jovens corredores. Esses jovens deveriam memorizar mensagens e transmiti-las oralmente até o próximo posto. Isso permitiu a rápida comunicação entre diversas regiões do império.

Os incas desenvolveram um sistema de registro de informações em quipos (nós feitos num cordão). Os quipos eram feitos em uma série de cordões coloridos nos quais a posição e a quantidade de nós representam números. Serviam para registrar, por exemplo, impostos e divisões do tempo.

Fotografia. Um conjunto de vários cordões, cada um deles contendo diferentes nós.
Quipo inca, cêrca de 1430-1532.

Muitos quipos foram destruídos pelos conquistadores espanhóis, mas aqueles que resistiram se tornaram importantes fontes para o estudo da história dos incas.

Xilogravura. Imagem de uma mulher de cabelos castanhos, longos e lisos, usando um vestido amarelo e uma capa vermelha, segurando uma corda com as mãos, da qual pendem vários cordões com nós.
Xilogravura produzida no século dezesseis representando um inca com o quipo em mãos. Essa imagem faz parte da obra do cronista indígena peruano Felipe Guamán Poma de Ayala intitulada Os curacas, de 1616.

Uma das línguas adotadas pelos incas foi o quíchua (ou quéchua). Hoje, essa língua é falada por cêrca de 10 milhões de pessoas na América do Sul. O quíchua influenciou também o português brasileiro, dando origem a palavras como condor, chácara, mate e pampa.

Fotografia. Um conjunto de adultos e crianças no meio de uma plantação, todos vestindo túnicas e capas coloridas e chapéus largos. Em segundo plano há casas de tijolos com tetos triangulares.
Homens, mulheres e crianças andinos, falantes da língua quíchua, com roupas tradicionais na comunidade Amaru, no Vale Sagrado, Peru. Fotografia de 2019.

Os Tupi-guarani

Até o começo do século dezesseis, ninguém chamava de Brasil as terras que hoje formam nosso país. Essas terras eram habitadas há milhares de anos por povos indígenas que tinham uma rica cultura e desenvolviam atividades como a caça, a pesca, a coleta de alimentos, a agricultura e o artesanato.

Entre os povos que viviam no território do atual Brasil, estão os Tupi-guarani. Há indícios de que esses povos iniciaram um movimento de migração do sul da Floresta Amazônica em direção ao litoral por volta de 500 Depois de Cristo Eles buscavam a mitológica “Terra sem Mal”, um lugar onde havia fartura e não se morria.

Como vários povos em diferentes espaços e tempos históricos, os Tupi-guarani buscavam um mundo imaginário onde a existência seria mais feliz e plena para todos.

Localização dos povos indígenas

Apesar de terem certa unidade linguística e cultural, os Tupi-guarani não formavam um único povo. Eles se subdividiam em grupos que falavam línguas diferentes, mas parecidas entre si, como Carijó, Tupiniquim, Tupinambá, Potiguar, Guarani etcétera

Segundo alguns pesquisadores, havia uma população de aproximadamente 1 milhão de Tupi-guarani antes do contato com os europeus. Essa população ocupava longos trechos do litoral e do interior, acompanhando o vale dos rios.

Havia também outros povos no território brasileiro. Os Tupi-guarani chamavam esses povos de tapuias, os inimigos que falavam outras línguas. Eram Cariri, Aimoré, Tremembé etcétera

O mapa a seguir mostra as áreas ocupadas, no século dezesseis, por alguns povos indígenas no território que hoje abrange o Brasil.

Distribuição dos indígenas no território que formaria o Brasil (século dezesseis)

Mapa. Distribuição dos indígenas no território que formaria o Brasil (século dezesseis). Destaque para o atual território brasileiro, dividido em estados, com a indicação de suas respectivas capitais. Legenda: verde claro, Tupi-guarani (se estende pela maior parte da costa leste do país, banhada pelo Oceano Atlântico, compreendendo áreas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Pará, além de áreas em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia); Laranja, Jê (se estende principalmente pela área central do país, compreendendo o atual estado de Goiás, o Distrito Federal, e partes de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo,  Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Pará e Tocantins além de Paraná e Santa Catarina); Vermelho, Aruak (presente em partes dos territórios de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amazonas, Pará, Roraima e Amapá); Lilás, Karib (engloba a parte norte da região Norte, em áreas do Pará, Amapá, Amazonas e Roraima, além de uma área entre o Piauí e a Bahia); Amarelo, Cariri (se estende pela porção central a região Nordeste, em áreas da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí); Verde escuro, Pano (compreende parte do território do Amazonas e do Acre); Roxo, Tukano (localizado no extremo oeste do Acre e em pequena parte do Amazonas); Marrom, Charrua (ocupa o extremo sul do Rio Grande do Sul); Rosa, outros (localizado em pequenas áreas do Sudeste, entre os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, no sul da Bahia, em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Pará, Amazonas e Rondônia). Linha contínua indica Limites atuais. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 360 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: FAE, 1986. página 12.

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Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

De acordo com o mapa, no século dezesseis, que povo indígena vivia na região onde você mora atualmente? Se necessário, consulte um mapa geopolítico atual.

OUTRAS HISTÓRIAS

A busca pela “Terra sem Mal”

A antropóloga francesa Hélène clastres estudou o mito Tupi-guarani da “Terra sem Mal”. clastres acredita que as regras e as necessidades da vida em sociedade (a coleta e produção de alimentos, a confecção de utensílios, os conflitos, as regras de convívio) teriam um peso muito grande para esses povos. Alcançar a “Terra sem Mal” fazia parte do ideário de sua religião e era uma fórma de diminuir esse peso. Nesse espaço imaginário, os Tupi-guarani viveriam sem ter de trabalhar, seriam eternamente jovens e felizes numa terra esplêndida.

Na crença desse povo, era possível ir para esse lugar sem ter de morrer. A “Terra sem Mal” é um local a ser buscado em vida, daí a necessidade de migrar, caminhar guiado pelo maracáglossário do caraíglossário .

Já o historiador brasileiro Ronaldo Vainfas não rejeita os motivos religiosos na busca pela “Terra sem Mal”, mas acrescenta outras razões, como o aumento da população e a necessidade de encontrar terras das quais se pudesse tirar o sustento de todos. Assim, além da religião, havia motivos sociais e econômicos para as migrações Tupi-guarani.

Texto elaborado pelos autores com base em: GUARANI: Mbya e Tupi. Comissão Pró-Índio de São Paulo [2018]. Disponível em: https://oeds.link/Ts0Y11. Acesso em: 2 dezembro2021; VAINFAS, Ronaldo. A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Pintura. Representação de animais, plantas e flores, com linhas curvas, traços delicados e muitas cores, de forma não padronizada. As cores são vivas e se alteram por toda a obra.
Na Terra sem Males, pintura de Jaider Esbell, 2021. Indígena da etnia Macuxi, Esbell foi um dos principais representantes da arte contemporânea indígena. Nessa obra, o artista teve como inspiração o mito indígena da Terra sem Mal.

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Atividades

  1. Segundo o texto, para os Tupi-guarani, a vida em sociedade oferecia grandes dificuldades? Por quê?
  2. Como os Tupi-guarani imaginavam que seria a “Terra sem Mal”?
  3. Em outras religiões também existe um lugar onde se desfruta da juventude, saúde e felicidade eterna? Cite um exemplo.

Sociedades Tupi-guarani

Os Tupi-guarani estavam divididos em diversos grupos. Cada um desses grupos abrangia um conjunto de aldeias que, em geral, reuniam entre quinhentas e duas mil pessoas. Eles moravam em casas coletivas feitas de madeira e cobertas com palha. Essas aldeias eram lideradas por chefes e conselheiros, como os pajés e os caraíbas, que tinham funções religiosas.

Os Tupi-guarani podiam deslocar suas aldeias para novos locais quando havia desgaste do solo, diminuição de animais de caça, disputas internas entre grupos rivais ou quando ocorria a morte de um líder.

A guerra era um aspecto fundamental das culturas Tupi-guarani, sendo praticada pelos homens. Eles guerreavam com outros povos e também entre eles. Entre os objetivos da guerra, estava o domínio dos locais mais apropriados à lavoura, caça e pesca. Havia também o objetivo de capturar inimigos para praticar a antropofagia ritual. Entre os Tupi-guarani não havia a prática de escravizar os vencidos ou exigir deles o pagamento de tributos.

Para realizar os rituais antropofágicos, eles cuidavam bem de seus prisioneiros por dias ou meses. Depois, o prisioneiro era executado, geralmente na época da colheita. Nessa ocasião, pessoas de outras aldeias eram convidadas a participar do ritual.

Ao praticar a antropofagia, os indígenas acreditavam que assumiriam as qualidades do guerreiro sacrificado. Faziam o mesmo com a onça, animal que admiravam e temiam. Isso explica por que eles não comiam animais como o bicho-preguiça, que era considerado lento e indefeso, algo que ninguém desejava ser.

Gravura. Uma aldeia cercada por hastes verticais de madeira, dispostas em um círculo, contendo quatro moradias coletivas e diversos indígenas portando arcos e flechas voltados para fora da área delimitada. Ao redor, diversos indígenas portando arcos e flechas, vestindo penas coloridas apontam diretamente para a aldeia em destaque.
Ataque Tupiniquim a uma aldeia Tupinambá, gravura colorizada de Théodore de Bry, 1592. Bry não visitou a América no século dezesseis e representou, segundo sua visão europeia, o conflito entre diferentes grupos Tupi-guarani no território do atual Brasil.
Cerâmica. Uma urna de formato oval, com base de menor diâmetro que o corpo e coloração amarronzada.
Urna funerária Tupi-guarani, feita de cerâmica e utilizada pelos indígenas para enterrar seus mortos. Fotografia de 2010.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

mundurukú, Daniel. Coisas de índio: versão infantil. terceira edição São Paulo: Callis, 2019.

O livro apresenta um panorama sobre a pluralidade e a cultura das comunidades indígenas do Brasil.

PAINEL

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Mantos Tupinambá

Havia artesãos muito habilidosos entre os Tupinambá. Muitas peças feitas por eles atraíram a atenção dos conquistadores europeus, como os mantos confeccionados com fibras naturais e penas de aves. Ao menos seis desses mantos foram levados para a Europa nos séculos dezesseis e dezessete e hoje se encontram em museus, mas nenhum museu brasileiro possui um manto Tupinambá.

Este manto encontra-se no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. Há outros exemplares semelhantes em museus da França, Itália, Bélgica, Alemanha e Suíça. Os mantos eram, ao mesmo tempo, obras de arte e objetos ritualísticos, utilizados nas cerimônias de antropofagia, por exemplo. As penas vermelhas são de uma ave chamada guará.

Fotografia. Destaque para um manto comprido coberto de penas vermelhas.
Manto Tupinambá coberto com penas de aves, feito no século dezesseis.

A comunidade indígena de Olivença afirma ser descendente de Tupinambá e reivindica, desde o início dos anos 2000, a devolução do manto. Como não conseguiram repatriar o objeto, em 2021, as artistas indígenas Glicéria Tupinambá e Daiara Tukano resolveram recriá-lo como forma de resistência e preservação da cultura Tupinambá.

Fotografia. Uma mulher indígena de cabelos grisalhos, curtos e lisos, vestindo uma camisa azul e saia branca, um cocar com penas e colares ao redor do pescoço, observa um manto comprido coberto de penas vermelhas.
Nivalda Amaral de Jesus, líder da comunidade indígena de Olivença, na Bahia, observa manto Tupinambá trazido da Europa para uma exposição na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2000.

OFICINA DE HISTÓRIA

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Conferir e refletir

1. Leia um texto sobre o mito asteca de fundação da cidade de Tenochtitlán e responda às questões.

“Segundo as lendas da tradição asteca, a escolha do local de fundação da cidade [de Tenochtitlán] foi determinada por uma profecia do deus Colibri-Azul [Huitzilopochtli]. Dizia o deus que os astecas receberiam um sinal quando encontrassem o local ideal para a fundação de sua cidade. O sinal esperado era uma águia pousada num cacto sobre uma rocha, trazendo em seu bico uma serpente, e teria sido encontrado no centro do lago tescôco, onde fundaram Tenochtitlán – que quer dizer ‘rocha de cactos.

HUMBERG, Flávia Ricca; NEVES, Ana Maria Bergamin. Os povos da América: dos primeiros habitantes às primeiras civilizações urbanas. São Paulo: Atual, 1996. página 64.

  1. De acordo com o mito de fundação de Tenochtitlán, que sinal os astecas receberam quando encontraram o local ideal para construir sua cidade?
  2. Pesquise qual é a bandeira atual do México. Que desenho aparece em seu centro? O que esse desenho simboliza?

2. A revista çaience divulgou um estudo sobre os quipos incas, realizado pelos antropólogos guéri Urton e quéri Brezine, da Universidade de Harvard (Estados Unidos). A seguir, leia o trecho de uma reportagem sobre o assunto e responda às questões.

‘Esta fórma de comunicação foi usada para registrar informações cruciais para o Estado. Incluía registros contábeis como censos, finanças e números militares’, disse [o antropólogo guéri Urton].

‘Nesse sentido, a descoberta de que os quipos foram usados como livros de contabilidade revela uma nova coincidência da cultura inca com outras da Antiguidade’, acrescentou. reticências

Apesar de os antropólogos não terem conseguido decifrar de fórma precisa os quipos, para Urton é possível que eles também tenham sido usados como calendários.

Segundo ele, nos locais fúnebres dos incas foram encontrados quipos com setecentas e trinta cordas, reunidas em 24 conjuntos, o que equivale exatamente ao número de dias e meses de dois anos.”

ESTUDO revela que quipos incas eram documentos contábeis. UOL, 11 agosto 2005. Disponível em: https://oeds.link/1vEYDG. Acesso em: 5 fevereiro 2021.

  1. De acordo com o estudo citado, quais eram os possíveis usos dos quipos incas?
  2. Por que as descobertas a respeito dos quipos, indicadas na reportagem, revelam uma “nova coincidência da cultura inca com outras [culturas] da Antiguidade”? Explique.

Interpretar texto e imagem

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3. No século XVII, o artista holandês álbert équirráut criou pinturas inspirando-se nos indígenas que viviam no Brasil. A seguir, vamos analisar duas obras desse artista que representam uma mulher Tupi e uma mulher tapuia da etnia Tarairiú.

Pintura. Representação de uma mulher indígena, de cabelos escuros e lisos, vestindo uma saia de tecido branco e peito desnudo. Em seu colo, apoiado em uma de suas mãos, uma criança pequena. Com a outra mão, a mulher apoia uma cesta contendo diversos objetos sobre a sua cabeça. Ao seu lado há uma bananeira com frutos. Em segundo plano uma grande área de plantação direcionada a uma casa, no canto esquerdo.
Mulher Tupi, pintura de álbert Eckhout, 1641.
Pintura. Representação de uma mulher indígena, de cabelos escuros e lisos, vestindo uma tanga de folhas ao redor da cintura, e o peito desnudo. Com uma das mãos ela segura ramos de plantas, e com a outra segura uma mão humana. Sobre suas costas há um cesto contendo objetos e um pé humano. Ao seu lado há um cachorro de pelagem escura. Em segundo plano uma área como vegetação, árvores e um riacho.
Mulher Tarairiú (tapuia), pintura de álbert Eckhout, 1641.
  1. Descreva os cenários e as personagens das duas pinturas.
  2. Qual das personagens foi representada com elementos da cultura europeia? Explique.
  3. Debata, por meio de argumentos, esta frase com seus colegas: As imagens das mulheres indígenas falam mais sobre o colonizador do que sobre o colonizado.

4. Copie em seu caderno o quadro a seguir e complete-o com as informações que estão faltando. Para isso, observe as imagens e leia suas legendas.

10%

Objeto 1

Objeto 2

Data de produção

Povo que produziu

Materiais

Animal representado

Significado cultural

Objeto 1

Estátua. Objeto de ouro representando uma lhama, com quatro patas, duas orelhas para cima e um focinho longo.
Estátua representando uma lhama, produzida pelos incas entre 1400 e 1550. Essa peça foi feita em folhas de ouro e tem 1 centímetro de largura e 6 centímetros de altura. Provavelmente foi utilizada como oferenda religiosa. Na religião inca, o ouro estava associado ao deus Sol, Inti.

Objeto 2

Estátua. Serpente com duas cabeças, uma em cada extremidade do corpo, feita com pedras azuis. Cada uma das cabeças possui focinho e boca vermelhos e grandes dentes brancos.
Estátua de serpente de duas cabeças produzida pelos astecas entre 1400 e 1600. A peça tem 40 centímetros de largura e 20 centímetros de altura. Seu corpo é um mosaico de turquesas. O nariz e a boca foram preenchidos com conchas vermelhas e brancas. Provavelmente foi usada em cerimônias religiosas representando o deus Quetzalcóatl.

Glossário

Índias
: termo usado pelos europeus para se referir às terras do Oriente, como a Índia, a China e o Japão.
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Aqueduto
: canal elevado, construído para conduzir água.
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Maracá
: tipo de chocalho indígena usado em cerimônias.
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Caraí
: líder indígena, o mesmo que caraíba.
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