UNIDADE 2  AMÉRICA, ORIENTE MÉDIO E ÁFRICA

CAPÍTULO 5 MESOPOTÂMIA

A palavra “Mesopotâmia” é de origem grega e significa “situado entre rios”. Ela foi utilizada para designar a região entre os vales dos rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, localizado no continente asiático. Atualmente, essa região corresponde à maior parte do território do Iraque.

Os habitantes da Mesopotâmia desenvolveram um dos mais antigos sistemas de escrita. Ali foram criadas escolas para jovens aprenderem a ler e a escrever. Porém, somente poucos estudantes podiam frequentá-las. Nessa sociedade, o domínio da escrita representava uma fórma de poder.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para começar

Na atualidade, saber ler e escrever bem é uma fórma de poder? Reflita e debata expondo seus argumentos aos colegas.

Fotografia. Vista de um homem sentado sobre uma canoa vermelha flutuando em um rio cercado por vegetação densa.
Navegação na região de arruárón, no atual sul do Iraque. Fotografia de 2021. Alimentada pelos rios Tigre e Eufrates, essa região abriga pântanos conhecidos como Pântanos da Mesopotâmia. A região foi declarada Patrimônio Mundial pela Unesco em 2016.
Fotografia. Destaque para uma escultura de pedra, representando um ser com o rosto de um homem, e o corpo de um animal, com seis patas, rabo e asas nas costas. Ao fundo, paredes de um museu com outras esculturas de pedra.
Representação de uma divindade com cabeça humana, corpo de leão e asas de águia, conhecida como Lamassu e cultuada pelos assírios. Os assírios viveram na Mesopotâmia por mais de treze séculos. Esta representação foi produzida entre os anos 883 antes de Cristo e 859 antes de Cristo
Fotografia. Vista de um muro de tijolos, com pequena abertura central, em ruínas. No centro, uma pessoa em pé sobre um calçamento de madeira rodeado de solo terroso, caminha em direção ao muro.
Ruínas da cidade suméria de Ur, na atual província de Dhi Qar, no Iraque, datadas de 2100 antes de Cristo Fotografia de 2020. Os sumérios habitaram uma região que corresponde hoje ao sul do Iraque.

Povos da Mesopotâmia

Ao longo dos séculos, a Mesopotâmia foi habitada por povos que guerrearam entre si em diferentes momentos. Entre eles, podemos citar os sumérios, os acádios, os amoritas (ou antigos babilônios), os assírios e os caldeus (ou novos babilônios).

Esses povos tinham línguas e culturas diversas. No primeiro mapa a seguir, observe a área ocupada pelos antigos povos da Mesopotâmia. Depois, observe a divisão política atual do Oriente Médio.

Mesopotâmia: ocupação (IX-II milênio a.C.)

Mapa. Mesopotâmia: ocupação (nono a segundo milênio antes de Cristo). Destaque para os territórios ocupados por diferentes povos na região da Mesopotâmia, que atualmente corresponde à parte do Oriente Médio. Legenda: Amarelo, Período sumeriano (compreende a região entre os rios Tigre e Eufrates, próximo ao Golfo Pérsico, onde estão localizadas as cidades de Ur, Eridu, Larsa, Lagash, Uruk e Nippur); Marrom, Período acadiano (amplia os domínios sumerianos nos sentidos norte, noroeste e leste, abrangendo também as cidades de Kish e Babilônia); Rosa, Império Babilônico/Hamurábi (estende os domínios acadianos nos sentidos norte, noroeste e leste, ocupando praticamente toda a região localizada entre os rios Eufrates e Tigre, incluindo as cidades de Mari, Assur, Haran e Nínive); Verde, Império Assírio (amplia os domínios do Império Babilônico, ocupando um vasto território desde o Golfo Pérsico, na Ásia, até o Rio Nilo, na África, dominando regiões da Pérsia, Fenícia e Egito, compreendendo as cidades de Susa, Ugarit, Damasco, Tiro, Jerusalém e Mênfis). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 240 quilômetros.
Fonte: quínder, Hermann; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Ediciones Istmo, 1982. página 26, 28 e 30.

Oriente Médio: divisão política atual

Mapa. Oriente médio: divisão política atual. Destaque para os países do Oriente Médio e suas respectivas capitais. Afeganistão, capital Cabul (Rosa); Irã, capital Teerã (Verde); Turquia, capital Ancara (Amarelo escuro); Iraque, capital Bagdá (Lilás); Kuait, capital Al Kuait (Laranja); Síria, capital Damasco (Verde); Líbano, capital Beirute (Verde); Chipre, capital Nicósia (Magenta); Israel, capital Jerusalém (Laranja); Jordânia, capital Amã (Rosa); Arábia Saudita, capital Riad (Amarelo claro); Barein, capital Manama (Amarelo claro); Emirados Árabes Unidos, capital Abu Dabi (Lilás); Catar, capital Doha (Laranja); Omã, capital Mascate (Verde); Iêmen, capital Sana (Rosa). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 470 quilômetros.
Fonte: í bê gê É. Atlas geográfico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: í bê gê É, 2018. página 49.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

  1. Em cada mapa, o que as áreas coloridas representam?
  2. Que povo mesopotâmico ocupou um território mais amplo?

Aldeias agrícolas

A agricultura e a criação de animais foram desenvolvidas pela humanidade em diferentes momentos e lugares do mundo. Na Mesopotâmia, por exemplo, existem vestígios muito antigos dessas práticas.

Inicialmente, os povos que viviam na Mesopotâmia eram caçadores-coletores e produziam instrumentos feitos de pedra, ossos e madeira. Aos poucos, alguns desses povos começaram a cultivar vegetais, a criar animais e a permanecer mais tempo nos lugares que ocupavam, formando aldeias sedentárias.

Entre os produtos agrícolas cultivados, podemos citar: cevada, trigo, linho, gergelim, tâmara, cebola e alho. Entre os animais domesticados, destacamos: ovelhas, cabras, porcos e bois.

Na Mesopotâmia, o desenvolvimento da agricultura e da criação de animais começou por volta de 8000 antes de Cristo Para melhorar a produção agropastoril, por exemplo, os sumérios e os acádios aprenderam a controlar a ocorrência de inundações pela água dos rios, pois, na época das cheias, os rios transbordavam e suas águas podiam destruir as plantações. Para impedir que isso ocorresse, povos da região construíram muros e diques capazes de conter a água. Além disso, fizeram canais de irrigação que levavam a água até os terrenos mais secos.

A construção de muros, diques e canais de irrigação foi realizada primeiro pelos moradores das aldeias. Depois, parte dessas atividades passou a ser controlada por administradores de templos e palácios.

A produção agrícola e a criação de animais transformaram o cotidiano dos habitantes da Mesopotâmia. Um exemplo dessas transformações foi a especialização de alguns trabalhos. Assim, havia pessoas que se dedicavam mais à produção de metais e cerâmicas, à confecção de tecidos ou ao comércio.

Mosaico. Imagem de mosaico com fundo azul, dividido em três linhas horizontais separadas. De cima para baixo, nesta ordem: linha 1. homens sentados em cadeiras, segurado copos, à esquerda, homens em pé parecem servi-los, à direita um homem segurando um instrumento musical; linha 2. homens em pé acompanhando rebanhos de bovinos, ovelhas e cabras; linha 3. homens em pé, segurando cestas nas costas, ao lado de burros e cavalos.
Representações encontradas em um túmulo da realeza de Ur mostrando, na linha de cima, um banquete do rei com nobres acompanhado de um homem tocando lira e, nas linhas inferiores, trabalhadores conduzindo ovelhas, cabras, bois, burros e carregando peixes e mantimentos para possivelmente serem entregues como tributos, cêrca de 2500 antes de Cristo

Organização das famílias

Nas aldeias da Mesopotâmia, os trabalhos relacionados à agricultura e à criação de animais eram realizados basicamente pelas famílias. De início, eram famílias alargadas, ou seja, formadas por avós, pais, filhos, tios, primos, netos, genros ou noras que viviam em um mesmo local. Mas essa fórma de organização familiar modificou-se com o tempo. No começo do segundo milênio antes de Cristo, há indícios de que essas famílias começaram a ser substituídas por famílias nucleares, formadas apenas por pais, filhos e poucas pessoas próximas.

As famílias alargadas e nucleares foram importantes na organização da vida social. Os líderes das famílias procuravam resolver conflitos internos nas aldeias e defendiam os interesses dos moradores diante das autoridades dos templos e palácios.

Baixo-relevo. Placa esculpida, contendo a representação de uma mulher, um homem e duas crianças.
Detalhe de placa representando uma família composta de um casal e dois filhos, cêrca de 645 antes de Cristo Essa placa foi encontrada em palácio real na antiga cidade de Nínive, no atual Iraque.
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para pensar

Quantas pessoas compõem sua família? Como vocês convivem? O que cada um faz no dia a dia?

Primeiras cidades

Na Mesopotâmia, foram encontrados vestígios de cidades sumérias como Ur, Uruk, Nippur, Lagash e Eridu, que se desenvolveram por volta de 4000 antes de Cristo

Nas cidades, havia trabalhadores especializados em ofícios diferentes dos das pessoas que viviam nas aldeias. Entre os trabalhadores urbanos estavam os artesãos, que, dominando ferramentas e técnicas próprias, se dedicavam à produção de vários bens. Como exemplos de artesãos, podemos mencionar ceramistas, construtores de carroças, carpinteiros, moedores de cereais (moleiros) e tecelões.

Além disso, as cidades se diferenciavam das aldeias por apresentarem uma população mais numerosa vivendo de maneira mais adensada. Nelas havia diversos tipos de construção, como casas, templos, ruas, pontes e palácios. Dessas construções, destacavam-se os templos e o palácio real, que eram centros de poder.

Ao redor de algumas cidades foram erguidas muralhas protetoras e torres de vigilância. A cidade suméria de Uruk, por exemplo, foi rodeada por uma muralha com aproximadamente 10 quilômetros de extensão.

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Em sua casa, existem objetos artesanais? Quais? Onde eles foram produzidos?

OUTRAS HISTÓRIAS

A invenção da roda

A roda utilizada em veículos de transporte é considerada uma das maiores invenções humanas. Um dos mais antigos veículos com rodas foi desenvolvido na região mesopotâmica da Suméria. A seguir, leia o texto de um especialista em história suméria sobre a invenção da roda.

“No quarto milênio antes de Cristo, algum hábil artífice da Suméria construiu o primeiro veículo de rodas que se conhece, provavelmente bem parecido com o pequeno modelo a seguir [...]. A roda sumeriana de madeira inteiriça, o maior invento mecânico de todas as épocas, permaneceu durante séculos inalterada em sua essência. cêrca de .1900 anos depois, rodas com raios, mais leves, levavam à batalha os carros de guerra egípcios [...], e na Idade Média [entre os séculos cinco Depois de Cristo e quinze Depois de Cristo] rodas dianteiras, girando sobre eixos, fizeram manobráveis os carros [...].

Veículos de rodas agora já se moviam mais depressa, porém não eram bastante velozes e baratos para satisfazer aos reclamos da Revolução Industrial. A solução, que surgiu em 1804, foi a locomotiva a vapor com rodas de ferro, que transportava com rapidez cargas 15 vezes maiores do que as dos carroções de tração animal. Ficou assegurada, assim, a movimentação de pessoas e bens. Mas o êxito maior alcançado pela roda veio no século vinte. Então, com pneumáticosglossário de borracha, ela inaugurou a era do automóvel.”

crãmer, Samuel Noah. Mesopotâmia: o berço da civilização. São Paulo: José Olympio, 1969. página 174.

Fotografia. Destaque para uma estrutura com quatro rodas laterais, um panorama retangular ao centro e uma haste de madeira.
Modelo de carro feito pelos mesopotâmicos por volta de 4000 antes de Cristo
Fotografia. Destaque para uma locomotiva de metal sobre trilhos. De suas chaminés saem fumaças de coloração branca.
Locomotiva no Reino Unido. Fotografia de 2020. O transporte ferroviário ganhou grande importância a partir do século dezenove, com a Revolução Industrial.

Responda no caderno

Atividades

  1. Qual é o tema do texto? Quem o escreveu?
  2. Com base no texto, construa uma linha do tempo relacionando os marcos do desenvolvimento da roda com as épocas em que ocorreram.
Versão adaptada acessível

Com base no texto, construa uma linha do tempo tátil relacionando os marcos do desenvolvimento da roda com as épocas em que ocorreram. Para essa atividade, você pode utilizar materiais emborrachados, papéis com texturas e espessuras variadas, bem como, palitos, linhas, botões etc.

Religiões e divindades

Atualmente no Brasil, o cristianismo abrange religiões que reúnem grande quantidade de seguidores. O cristianismo possui ramos como o catolicismo, o protestantismo (anglicano, luterano, calvinista) e o neopentecostalismo.

Os cristãos acreditam na existência de um Deus único, criador do universo. Portanto, o cristianismo é uma religião monoteísta (do grego, mono = um + theo = deus).

Já os diferentes povos que viveram na Mesopotâmia eram politeístas (do grego, poli = muitos + theo = deus). Eles acreditavam em diversos deuses que tinham características humanas e estavam relacionados a elementos da natureza. Observe alguns exemplos desses deuses:

  • Anu (deus do céu);
  • Ishtar (deusa do amor e da guerra);
  • Enlil (deus do ar e do destino);
  • Shamash (deus do Sol e da justiça);
  • Ninmah (deusa da terra e da fertilidade);
  • Enki (deus das águas, da sabedoria e das técnicas);
  • Abu (deus da vegetação e das plantas).
Relevo. Representação, em uma placa, de um ser com rosto e corpo de mulher, mas com garras nos pés e asas nas costas. Aos seus pés figuras de dois leões e, ao lado, duas corujas.
Placa de terracota representando uma divindade mesopotâmica com asas e garras de ave, sobre leões e cercada por corujas, cêrca de 1800 antes de Cristo-1750 antes de Cristo Especialistas acreditam ser uma representação de Ishtar, deusa do amor e da guerra.

Diversos povos da Mesopotâmia acreditavam também que, depois da morte, o espírito da pessoa ia para um mundo inferior, um lugar deprimente e terrível. Assim, não havia a crença em uma vida melhor após a morte. Por esse motivo, homens e mulheres queriam aproveitar ao máximo sua existência e, talvez por causa disso, a juventude era considerada a melhor fase da vida.

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para pensar

Em sua opinião, qual é a melhor fase da vida? Reflita e debata expondo seus argumentos aos colegas.

Sacerdotes e templos

Os templos religiosos eram importantes na vida social da Mesopotâmia. Nesses locais, havia culto aos deuses, realização de rituais e recebimento de oferendas. Cada templo era considerado o “lar dos deuses”.

Cada cidade podia ter vários templos. Só na Babilônia, capital da antiga Suméria (no atual Iraque), havia cêrca de cinquenta templos dedicados a diferentes deuses.

Fotografia. Vista de uma construção retangular de tijolos, com destaque para uma longa escadaria ao centro, partindo da base até o topo.
Zigurate localizado na antiga cidade de Ur (próximo da atual província de Dhi Qar, no Iraque) e construído em cêrca de 2100 antes de Cristo Fotografia de 2021. Zigurates eram construções religiosas típicas da Mesopotâmia. Sua aparência é de uma torre de tijolos em degraus.

No templo, os sacerdotes e as sacerdotisas conduziam as cerimônias religiosas e administravam seus bens e negócios. Com as oferendas que recebiam dos fiéis, os sacerdotes acumulavam riquezas em fórma de terras, rebanhos ou sementes, por exemplo.

Para controlar as atividades econômicas, os sacerdotes desenvolveram um sistema de escrita e numeração (como veremos mais adiante). Em razão do poder religioso e econômico, muitos sacerdotes tiveram forte influência política, sobretudo nas cidades sumérias.

Escultura. Um homem, com cabelo e barbas longos, vestindo uma longa túnica, com as mãos unidas próximas ao seu peito.
Escultura de alabastro representando um homem em adoração, encontrada no templo dedicado ao deus Abu, deus da vegetação e das plantas, na antiga cidade de Esnuna (atual Tel Asmar, no Iraque), cêrca de 2900 antes de Cristo-2600 antes de Cristo

Reis e palácios

Existem diferentes hipóteses para explicar a origem e o fortalecimento do poder dos reis nas cidades antigas da Mesopotâmia. Segundo uma delas, no início da vida urbana não existiam reis nem palácios. No entanto, conforme as cidades foram crescendo e acumulando riquezas, elas passaram a correr risco de invasões e saques.

Diante disso, a defesa das cidades tornou-se uma preocupação para seus habitantes, o que levou à organização de tropas e à escolha de um chefe permanente para comandá-las. Esse chefe seria transformado posteriormente no rei.

Nas sociedades da Mesopotâmia, o rei exercia funções políticas e militares. Tinha também liderança religiosa, pois era visto como um representante dos deuses e, por isso, tinha o poder de fazer valer as vontades divinas entre os humanos. A partir do segundo milênio antes de Cristo, o poder do rei passou a ser transmitido a seus parentes, dando origem às monarquias hereditárias.

Os reis e os funcionários do governo também dominaram boa parte das atividades econômicas. Controlavam, por exemplo, algumas oficinas de artesanato, onde eram produzidos objetos de metal, cerâmica, tecidos e mobiliário, entre outros bens.

Baixo-relevo. Placa de pedra escura, com a imagem de um homem vestindo uma armadura e um chapéu comprido, visto de perfil, segurando um arco e uma flecha.
Detalhe de marco de limite de terras feito de um tipo de rocha chamado diorito, representando o rei Marduquenadique, que governou a Babilônia entre 1099 antes de Cristoe 1082 antes de Cristo Chamadas de kudurrus (em acádio, “fronteira” ou “limite”), essas pedras de registro também são testemunhos artísticos do período babilônico.

Com exceção da elite, ou seja, pessoas de posição social elevada, a maior parte da população vivia, de certo modo, em regime de servidão. Isso porque era obrigada a:

  • trabalhar para o Estado na construção de edifícios (palácios, templos), muralhas, canais de irrigação, diques e celeiros;
  • pagar impostos ao Estado, arrecadados em fórma de alimentos, rebanhos e sementes.

A imposição dessas obrigações constitui o que alguns historiadores chamam de servidão coletiva. Essa servidão foi comum tanto na região mesopotâmica como no Egito antigo, onde o Estado exercia domínio sobre as terras. No entanto, os camponeses usufruíam da sua posse: eles produziam para seu sustento e o de suas famílias e eram obrigados a entregar parte da produção ao governo.

Fotografia. Vista da entrada de uma construção, com paredes azuis e imagens de animais dourados. No centro, uma grande abertura com formato arqueado no topo.
Portão de Ishtar, reconstrução com fragmentos originais do portão da antiga cidade babilônica, construído por volta do século seis antes de Cristo

Escrita suméria

A escrita não foi inventada por um único povo. Diversas sociedades criaram seus próprios sistemas de escrita em momentos e lugares distintos da história. Um desses lugares foi a região da Suméria, na Mesopotâmia. Lá, os sumérios desenvolveram um sistema de escrita por volta de 3300 antes de Cristo

Segundo pesquisadores, a escrita suméria surgiu quando a vida nas cidades se tornava cada vez mais complexa. Os sacerdotes teriam percebido que já não podiam confiar apenas na memória e na transmissão oral dos conhecimentos para registrar as atividades dos templos. E essas atividades eram muitas: empréstimos de animais, pagamento a comerciantes, contrôle de produtos estocados em seus armazéns, entre outras. Para gravar essas informações, supõe-se que aos poucos eles tenham desenvolvido um sistema de escrita. Foram, então, criando sinais que representavam números e outros que representavam coisas como animais, pessoas e mercadorias.

Entre os sumérios, predominava o sistema numérico sexagesimal, que tinha como base o número 60. Esse sistema é utilizado até nossos dias para medir os graus angulares (30graus, 90graus, 360graus) e também o tempo: uma hora tem 60 minutos, 1 minuto tem 60 segundos.

Além das atividades dos templos, a escrita passou a registrar ensinamentos religiosos, normas jurídicas, literatura. Assim, os sumérios puderam escrever histórias até então transmitidas entre eles apenas de fórma oral.

Para escrever, os sumérios utilizavam argila e um tipo de estilete em fórma de cunha. A cunha é uma peça de madeira ou metal que serve para esculpir materiais como pedra, madeira e barro. Por causa desse instrumento, a escrita foi chamada de cuneiforme. A escrita cuneiforme foi utilizada para registrar várias línguas faladas na Mesopotâmia, como o sumério, o acádio, o babilônio e o assírio.

Relevo. Placa com a representação de homens vistos de perfil, vestindo longas túnicas, com as mãos flexionadas para frente, segurando objetos em forma de cunha.
Escribas usando tablete e cunha para escrever. Relevo encontrado em um palácio da antiga cidade de Nínive (no atual Iraque), produzido por volta do século oito antes de Cristo

Escolas, ontem e hoje

Na Mesopotâmia, estudar em escolas era privilégio das elites e, nas aulas, os estudantes aprendiam a ler, escrever e resolver problemas de Matemática.

As turmas eram pequenas, com cérca de quatro alunos, e eles estudavam com uma tábua de argila elaborada pelo professor. A disciplina era rígida e os castigos físicos eram aplicados com frequência.

Hoje, o ensino escolar é bem diferente do daquela época. Atualmente no Brasil, por exemplo, as leis asseguram que todas as crianças têm direito à educação. A alfabetização é um dos objetivos de aprendizagem nos primeiros anos de estudo e, depois, durante o Ensino Fundamental, as crianças continuam estudando sua língua e aprendendo assuntos de outras áreas do conhecimento, como Matemática, História, Geografia, Ciências e Arte.

Evidentemente, hoje em dia, a disciplina nas salas de aula não é tão rígida como era em muitas sociedades antigas. Os castigos físicos, por exemplo, são proibidos por lei tanto no Brasil como em muitos outros países.

Tábua de argila. Objeto em formato circular, com linhas verticais e horizontais encunhadas.
Tábua escolar suméria, com exercício de escrita cuneiforme, possivelmente corrigido pelo professor.
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Em sua opinião, as escolas são importantes espaços de convívio? O que você aprende ao conviver com seus colegas? Reflita e exponha seus argumentos.

Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 2011.

Reconstituição das organizações sociais e econômicas, das relações políticas, da cultura e dos modos de vida dos antigos povos da Mesopotâmia com base em documentos escritos e arqueológicos.

Direito

Foi na região da Mesopotâmia que se criaram os primeiros códigos jurídicosglossário escritos. Entre os códigos mais antigos, destaca-se aquele que foi instituído no governo de Hamurábi, rei da Babilônia.

Chamado de Código de Hamurábi, ali estavam reunidas normas sobre diversos assuntos da vida social: crimes (homicídios, lesões corporais, roubos), questões comerciais, divisão social, casamento e herança, entre outros.

Boa parte dessas normas foi estabelecida com base em costumes que já eram praticados entre os povos da Mesopotâmia. Mas, ao organizá-las em um código, Hamurábi reafirmava a importância do rei como aquele que impõe ordem à sociedade.

Estela. Um bloco de pedra escura, com imagens escupidas no topo: duas figuras masculinas, frente a frente, uma delas, à esquerda, em pé, vestindo uma túnica; a outra, a sua frente, à direita, sentada em um trono, vestindo uma túnica e um longo chapéu, segurando um cetro em uma de suas mãos.
Estela de Hamurábi, bloco de pedra de cêrca de 1700 antes de Cristo que traz gravada a lei do talião e representa o rei Hamurábi recebendo do deus Sol o poder de elaborar o código.

Princípio de talião

Em muitas sociedades antigas, o criminoso era punido com diversos tipos de revide, isto é, várias fórmas de vingança. Muitas vezes, esses revides se transformavam em violência sem fim entre grupos rivais.

O Código de Hamurábi instituiu um meio para limitar esses excessos. Era o princípio ou lei de taliãoglossário , pelo qual a pena seria proporcional à ofensa cometida: olho por olho, dente por dente”. Os artigos do Código de Hamurábi descrevem casos que serviam de modelos a serem aplicados em questões semelhantes. Observe alguns exemplos:

Artigo 229 – Se um construtor edificou uma casa para um homem livre, sem dar solidez à sua obra, e a casa desabou matando o proprietário, então esse construtor será morto.

Artigo 230 – Se a casa desabou matando o filho do proprietário, então o filho do construtor também será morto.

Artigo 231 – Se a casa desabou matando um escravo do proprietário, então o construtor dará outro escravo ao dono da casa.

CÓDIGO de Hamurábi. dê agá nét. Disponível em: https://oeds.link/nQsvOG. Acesso em: 21 dezembro 2021.

Atualmente, as penas do Código de Hamurábi podem parecer brutais, segundo os valores predominantes na atualidade. No entanto, para a época, o princípio de talião foi considerado uma fórma de expressão da justiça. Ao mal provocado pelo crime, retribuía-se com o mal previsto pela pena. No Código de Hamurábi também existia a possibilidade de a pena ser paga na fórma de recompensa econômica (gado, armas, moedas).

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para pensar

Em sua opinião, para combater um crime, basta punir o criminoso? Argumente explicando sua opinião.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

  1. Na Mesopotâmia desenvolveram-se cidades cujos centros de poder eram os templos e o palácio real. Nas cidades brasileiras atuais, quais são os centros de poder? Como eles interferem em nossas vidas? Em grupo, deem exemplos e justifiquem a resposta.
  2. Os mesopotâmicos desenvolveram um sistema de escrita e numeração. Em grupo, levando isso em consideração, observem e comparem as duas imagens a seguir por meio das perguntas propostas.
Fotografia. Destaque para uma placa retangular contendo linhas verticais e horizontais entalhadas, distribuídas uniformemente por toda a extensão da placa.
Reprodução de uma placa suméria com escrita cuneiforme contendo um problema de Matemática, cêrca de 2000 antes de Cristo-1600 antes de Cristo
Fotografia. Uma menina de cabelos loiros, longos e lisos, vista de perfil, vestindo uma jaqueta rosa, sentada a frente de uma mesa contendo caderno, livro, estojo com canetas, um aparelho de celular e um computador ligado. Em seu caderno há contas de matemática.
Fotografia de uma adolescente do século vinte e um estudando Matemática em aula on-line, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2021.
  1. Que instrumentos foram utilizados para produzir as inscrições no bloco reproduzido na imagem 1? Que instrumentos a estudante está usando na imagem 2?
  2. As duas imagens representam a necessidade de fazer registros? Argumente explicando sua resposta.
  1. Alguns especialistas atribuem a invenção da roda aos sumérios, que viveram na Mesopotâmia. Essa invenção foi continuamente aperfeiçoada e é, até os dias atuais, utilizada nos meios de transporte. Tendo isso em vista, faça o que se pede.
    • Pesquise na internet, em livros ou em revistas imagens de veículos de rodas de diferentes épocas e selecione-as.
    • Elabore legendas para as imagens selecionadas. Essas legendas podem apresentar informações como data, origem e material do veículo.
    • Crie um painel com as imagens e suas legendas. A atividade pode ser realizada em cartolina, papel pardo ou em uma plataforma digital.
    • Apresente o resultado da pesquisa para a classe.
Versão adaptada acessível

3. Alguns especialistas atribuem a invenção da roda aos sumérios, que viveram na Mesopotâmia. Essa invenção foi continuamente aperfeiçoada e é, até os dias atuais, utilizada nos meios de transporte. Tendo isso em consideração, faça o que se pede.

Pesquise na internet, em livros ou em revistas informações de veículos de rodas de diferentes épocas.

Selecione informações como data, origem e material do veículo.

Crie um painel tátil com as informações pesquisadas. Você pode utilizar materiais emborrachados, linhas, palitos, botões e papéis com diferentes espessuras, texturas e dimensões.

Apresente o resultado da pesquisa para a classe.

Interpretar texto e imagem

4. Em um palácio assírio na antiga cidade de Nínive (localizada no atual Iraque) foram encontrados relevos com cenas de caça a leões, prática comum entre os reis daquela época. Essa prática simbolizava o dever do monarca de proteger e lutar por seu povo. Observe a representação e responda às questões.

Baixo-relevo. Placa de pedra esculpida em baixo-relevo, com a imagem de um homem caracterizado como rei, segurando o pescoço de um leão em posição de salto e empunhando uma espada que atravessa o peito do animal. Na testa do leão há uma flecha cravada. Próximo ao rei há uma pessoa segurando flechas e um arco.
Baixo-relevo representando o rei Assurbanípal matando um leão, cêrca de645 antes de Cristo-640 antes de Cristo
  1. Qual é o objeto mostrado na imagem? Quando ele foi produzido? Onde foi encontrado? Quais personagens estão representados no objeto?
  2. Como o rei está matando o leão? Na sua interpretação, o rei parece estar fazendo um grande esforço para matá-lo? Explique.
  3. Que características do rei podemos destacar na cena? Explique.

5. A Epopeia de Gilgamesh é um poema épico da antiga Mesopotâmia que narra as aventuras de Gilgamesh. A obra é, em grande parte, uma exaltação à amizade, exemplificada na relação dos heróis Gilgamesh e Enkidu. Segundo o poema, com a morte de Enkidu, Gilgamesh sofre muito e toma consciência de sua condição de mortal. Em sua busca pela imortalidade, ele ouve o conselho de um herói, que lhe diz que quem encontrasse uma certa planta seria eternamente jovem.

No final do poema, Gilgamesh consegue encontrar essa planta, mas ela lhe é roubada por uma serpente. Assim, fica claro que a imortalidade só pertence aos deuses.

Lendo a Epopeia, podemos perceber diversos elementos da cultura dos povos da Mesopotâmia.

A seguir, leia um trecho dessa epopeia, em que a divindade Sidúri dá conselhos ao herói Gilgamesh, procurando fazê-lo desistir de sua busca pela imortalidade:

“Tu, Gilgamesh, enche tua barriga;

Alegra-te dia e noite reticências

Cuida do jovem que tu tens nas mãos.

Que tua amada alegre-se em teus braços.

Eis tudo o que pode fazer à humanidade.

EPOPEIA de Gilgamesh. Tablete dez, III: 6-14. In: REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997. página 30.

  1. Qual foi o conselho dado por Sidúri ao herói Gilgamesh?
  2. Qual seria a ligação entre o conselho de Sidúri e as ideias que os povos da Mesopotâmia tinham sobre a vida e a morte?

Glossário

Pneumático
: o mesmo que pneu.
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Códigos jurídicos
: conjuntos sistematizados de leis escritas.
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Talião
: do latim, talis = tal, igual; significa “retaliação”, “revide”.
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