UNIDADE 2 AMÉRICA, ORIENTE MÉDIO E ÁFRICA
CAPÍTULO 6 EGITO ANTIGO E REINO DE CUXE
Há cêrca de 4 mil anos, duas sociedades poderosas se desenvolveram na África às margens do imenso Rio Nilo: o Egito antigo e o Reino de Cuxe.
Muitas pessoas já ouviram histórias sobre o Egito antigo, famoso por suas pirâmides, seus faraós, suas múmias e sua cultura. Apesar de pouco conhecido, o Reino de Cuxe destacou-se por seus faraós negros e por valorizar a presença das mulheres na vida pública.
responda oralmente
para começar
Em sua interpretação, o que torna uma sociedade poderosa? Argumente justificando sua resposta.
Organizações políticas na África
A África é um continente imenso, com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados. Nesse amplo território, as sociedades africanas desenvolveram diferentes fórmas de organização política, como aldeias, cidades-Estado, reinos e impérios.
De modo geral, podemos dizer que, na sua origem, todas essas fórmas de organização tinham como base as relações de parentesco e de lealdade a um chefe. Por isso, ficaram conhecidas como “sociedades de linhagem”.
Aldeias e cidades-Estado
As aldeias eram formadas por conjuntos de famílias. Cada família tinha um chefe, que liderava seus descendentes e agregados. Geralmente, o chefe de uma família era a pessoa mais velha, que se destacava por sua liderança e por seus conhecimentos. Entre os chefes de família, escolhia-se o chefe de aldeia. A autoridade dos chefes vinha da sua linhagem, isto é, do parentesco com os antepassados que teriam fundado a aldeia.
O chefe era o responsável pelo governo da comunidade. Ele comandava os guerreiros, administrava a economia e mandava aplicar castigos às pessoas que não cumpriam as normas do grupo. Mas o chefe de aldeia não governava sozinho. Para tomar decisões que afetavam a comunidade, ele contava com a ajuda dos chefes de família, como uma espécie de conselho comunitário. Às vezes, as aldeias se uniam para formar alianças.
Havia nas aldeias pessoas que exerciam funções religiosas. A religião influenciava profundamente o cotidiano. Os antepassados e os heróis míticos, considerados fundadores de suas sociedades, eram cultuados em cerimônias religiosas.
Em muitos lugares da África, também existiam cidades-Estado, cercadas por muralhas de madeira, barro ou pedra. Nessas cidades, vivia uma população composta de comerciantes, artesãos, funcionários do governo e o rei. Nos arredores dos centros urbanos, homens e mulheres dedicavam-se à agricultura e à criação de animais. Como exemplos de antigas cidades-Estado africanas, podemos citar Ifé e Oyo, localizadas perto da costa ocidental, e Cartago, localizada no norte do continente.
Reinos e impérios
Algumas sociedades africanas organizaram-se em reinos e impérios, à medida que a população tornou-se mais numerosa e houve aumento do comércio e das tropas militares. De modo geral, o rei era aquele que recebia o poder de fórma hereditária e governava o povo com certa unidade cultural. Já o título de imperador era dado ao governante que expandia seu território, conquistando outros povos. Mas as diferenças entre reino e império não são rigorosas.
Os reinos e os impérios apresentavam, assim, uma organização mais complexa do que as aldeias e as confederações. Observe, a seguir, alguns exemplos.
• Império do Mali – consolidou-se na África Ocidental com a vitória do rei Sundiata Keita sobre o rei Sumanguru, em 1235, e perdurou até o século . quinze
- Império Songai – nos séculos quinze e , dezesseis expandiu-se do Reino de Gao e atingiu a costa atlântica até regiões que hoje correspondem ao Senegal e à Gâmbia.
- Império de Gana – criado pelo povo soninke na região hoje correspondente ao norte do Senegal e ao sul da Mauritânia, atingiu seu maior poder no século . onze
- Reino do Daomé – fundado no século , dezessete no Golfo da Guiné, perdurou até o final do século . dezenove
Além desses exemplos de organizações políticas e sociais duradouras, destaca-se o Egito antigo, um dos impérios mais conhecidos da África.
integrar com geografia
Responda no caderno
para pensar
Vimos que a África é um imenso continente. Quais continentes são maiores que a África? E quais são menores? Se necessário, consulte um planisfério atual.
Egito antigo
O Egito antigo desenvolveu-se às margens do Rio Nilo. Esse rio é um dos maiores do mundo, com cêrca de 6,8 mil quilômetros de extensão. O Nilo nasce no Lago Vitória, no atual território de Uganda, e deságua no Mar Mediterrâneo.
Unificação política
Observando o mapa a seguir, percebemos que a foz do Rio Nilo fórma um deltaglossário . Essa região, situada ao norte da África, ficou conhecida como Baixo Egito. No sentido sul, a partir da cidade de Mênfis, começava o Alto Egito.
Egito antigo (3000 a.C.-30 a.C.)
responda oralmente
observando o mapa
- Que mares banhavam o território do Egito antigo?
- Em qual mar o Rio Nilo deságua?
Por volta de 5000 , antes de Cristo já existiam aldeias sedentárias nas regiões do Alto e do Baixo Egito. Nelas, praticavam-se a agricultura e a produção de cerâmica. Mais tarde, desenvolveu-se a metalurgia.
Ao longo do tempo, as aldeias se unificaram, formando núcleos populacionais maiores. Aos poucos, esses núcleos também se reuniram politicamente, dando origem a dois grandes reinos: um no Baixo Egito e outro no Alto Egito. Em 3100 , antes de Cristo forças militares do Alto Egito conquistaram a região do Baixo Egito e, assim, os dois reinos foram submetidos ao comando de um único governante: o faraó.
Desenvolvimento da agricultura
O Egito antigo era cercado por desertos. Ainda assim, os egípcios conseguiram desenvolver uma agricultura diversificada, produzindo trigo, linho, cevada, uva, algodão, entre outros. Isso foi possível por causa do aproveitamento das águas do Nilo.
No período das cheias, as águas do Rio Nilo inundavam as margens e depositavam no solo uma rica camada de húmus, uma substância produzida pela decomposição de restos vegetais e animais que fertilizava o solo. Quando o rio retornava ao nível normal, o terreno que tinha sido inundado se tornava fértil e adequado para o cultivo agrícola.
Além disso, os egípcios construíram canais de irrigação para levar as águas do Nilo até áreas mais afastadas de suas margens. Também construíram diques para armazenar água e barragens para se proteger das inundações mais fortes.
responda oralmente
para pensar
As sociedades do Egito antigo e da Mesopotâmia se desenvolveram perto de rios. Na região onde você mora existe algum rio? Qual é o estado de preservação ambiental desse rio? Existem projetos voltados a sua proteção?
dica filme
Rio Nilo/Egito (Estados Unidos). TBS Productions, 1989. 8 minutos Série Sem Fronteiras.
Apresenta aspectos da geografia do Vale do Nilo e discute como a agricultura e a troca de produtos estimularam o sedentarismo e a miscigenação do povo egípcio.
Sociedade egípcia
Os grupos sociais do Egito antigo dividiam-se principalmente de acordo com o trabalho ou a função social que cada um desempenhava. A maioria da população egípcia era composta de camponeses, seguidos pelos diferentes tipos de artesãos.
Alguns historiadores consideram que também havia escravizados. Porém, eles não eram numerosos e não constituíam a principal fôrça de trabalho nessa sociedade.
No topo da hierarquiaglossário social encontravam-se o faraó e membros de sua família. Logo abaixo, vinham sacerdotes, chefes militares e funcionários do governo.
Vamos conhecer alguns aspectos da sociedade egípcia.
Escravizados
A prática de escravizar pessoas é antiga e existiu em diversas sociedades. De modo geral, chamamos “escravizado” aquele que está sob o domínio de um senhor. Esse senhor pode utilizar o trabalho sem remunerá-lo, pode vendê-lo e até alugá-lo.
Na Mesopotâmia e no Egito antigo, havia um número pequeno de escravizados, por isso não representavam a principal fôrça de trabalho. Esses homens e mulheres tinham uma vida bem diferente da dos escravizados da Grécia e de Roma.
Alguns historiadores afirmam que, na Mesopotâmia e no Egito, em certas condições, os escravizados podiam ter alguns bens, casar-se com pessoas livres e prestar testemunhos em tribunais.
No Egito antigo, eram escravizados, sobretudo, os prisioneiros de guerra. Eles realizavam desde tarefas domésticas até trabalhos em construções públicas, minas e pedreiras.
Camponeses
Os camponeses egípcios, conhecidos como felás, viviam em aldeias e dedicavam-se à agricultura e à criação de animais. Cultivavam principalmente trigo (usado para fazer pães), cevada (para o preparo da cerveja), linho (para a produção de tecidos), legumes, verduras e uvas (para fazer vinho). Também criavam bois, carneiros, cabras, porcos e, posteriormente, cavalos.
Além dessas atividades, eles também caçavam e pescavam. No entanto, a carne era um alimento de luxo para a maior parte da população. Os mais pobres só a comiam em ocasiões especiais.
No final do período das cheias do Rio Nilo, os camponeses aravam e semeavam a terra, trabalhando em duplas. Enquanto um revolvia a terra usando arados e enxadas, outro lançava as sementes.
Para colher os cereais, eles utilizavam instrumentos de madeira, pedra ou metal. Depois de separar as cascas, armazenavam os grãos em celeiros.
Os camponeses egípcios viviam em regime de servidão coletiva. Isso porque a maioria deles estava ligada à terra que cultivavam e era obrigada a entregar parte dos produtos agrícolas e dos rebanhos como imposto ao governo. Além disso, era frequentemente convocada para trabalhar em obras públicas, como a construção de palácios, templos e pirâmides. Portanto, nessa sociedade havia trabalho compulsório ou obrigatório.
Artesãos
No Egito antigo, havia diferentes tipos de artesãos, como barqueiros, tecelões, padeiros e cervejeiros. Havia também artesãos especializados em mumificar corpos e decorar túmulos, pintando ou esculpindo.
Quase sempre, os artesãos que produziam artigos considerados de luxo trabalhavam em oficinas dos templos ou palácios. Eles produziam esculturas de pedra e de madeira, peças de ourivesariaglossário , vasos de alabastroglossário ou faiançaglossário e tecidos finos.
Além dos artesãos urbanos, existiam aqueles que trabalhavam em oficinas no campo, produzindo tecidos, artigos de couro e vasilhas de cerâmica, entre outros objetos.
Funcionários do governo e sacerdotes
Os escribas eram funcionários do governo que sabiam ler, escrever e contar. Eles geralmente trabalhavam nos palácios e nos templos copiando decretos do governo, contabilizando a saída e a entrada de mercadorias, anotando o pagamento das taxas, escrevendo obras literárias e religiosas.
O vizir ( tjati) também era um importante funcionário do governo. Ele chefiava a administração e a justiça, comandando uma enorme quantidade de outros funcionários, como administradores locais, juízes e supervisores das obras públicas.
Os sacerdotes conduziam as cerimônias religiosas, administravam os templos e recebiam as oferendas dos fiéis. Por isso, detinham muitas riquezas e exerciam forte influência política.
Faraó
O ponto mais alto da escala social era ocupado pelo faraó. Além de rei, ele era considerado um deus vivo que tinha poderes para controlar as forças da natureza e proteger a sociedade.
Os egípcios acreditavam, por exemplo, que as cheias do Nilo e as boas colheitas dependiam do poder do faraó. A crença de que ele era uma divindade sofreu variações no decorrer da história do Egito antigo, sendo às vezes fortalecida e, em outros momentos, enfraquecida.
O faraó controlava boa parte das terras e das atividades econômicas no Egito antigo, auxiliado por nobres, sacerdotes e funcionários do governo.
Mulheres no Egito antigo
As mulheres desempenhavam importantes papéis sociais e políticos no Egito antigo. O sistema jurídico garantia igualdade entre homem e mulher.
Assim, houve mulheres faraós, sacerdotisas, funcionárias do governo, artesãs e camponesas. É certo que a maioria dos faraós egípcios foram homens, mas algumas mulheres também governaram com esse título.
Uma delas foi Hatshepsut, que reinou durante cêrca de duas décadas no século quinze antes de Cristo Sob o governo dela, foram construídas e restauradas edificações em várias partes do Egito. Seu reinado foi considerado pacífico e próspero. Além de Hatshepsut, outra faraó muito conhecida foi Cleópatra, que governou entre 51 antes de Cristo e 30 , é antes de Cristopoca em que o Egito foi dominado pelos romanos.
responda oralmente
para pensar
Atualmente, no Brasil, existem atividades que são exercidas predominantemente por mulheres? E por homens? Em sua opinião, por que isso acontece? Reflita e debata o assunto com os colegas.
Cultura e religião
A religião teve grande importância em diversos aspectos da vida dos egípcios. Eles eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Muitos desses deuses estavam relacionados às forças da natureza, sendo representados em fórma animal, humana ou misturando as duas formas.
Deuses e templos
Geralmente, cada cidade tinha um deus principal que era cultuado em um templo. Entre os templos mais conhecidos, estão os de lúcsor e de Karnak, próximos a Tebas, antiga capital egípcia.
O templo de Karnak era dedicado à principal divindade egípcia: Amon-Rá, o deus Sol, cultuado em todo o Egito, a quem eram oferecidas as conquistas militares. Para a maioria da população, também era importante o culto a Osíris (deus dos mortos e da ressurreição), a Ísis (deusa da vida, esposa e irmã de Osíris) e a Hórus (deus do céu e dos faraós, filho de Ísis e Osíris).
Os antigos egípcios prestavam homenagens aos deuses e dedicavam-lhes tributos ou oferendas. Acreditando que os deuses tinham desejos parecidos com os dos humanos, os egípcios ofereciam-lhes presentes como bebidas, comidas e festas.
responda oralmente
para pensar
Qual é a importância da religião em sua vida? Ela influencia seu dia a dia? Comente.
Mumificação
Os egípcios antigos acreditavam na vida após a morte no reino de Osíris. Lá, os mortos seriam julgados e, se fossem absolvidos, poderiam retornar a seus próprios corpos. Por isso, havia uma preocupação em conservar o corpo após a morte, o que contribuiu para o desenvolvimento de técnicas de mumificação.
A mumificação era um processo que visava preservar o corpo da pessoa que havia morrido. Para isso, retiravam-se partes internas do organismo, desidratava-se o corpo e nele eram introduzidas substâncias químicas que evitavam a decomposição.
Havia vários tipos de mumificação. Alguns eram mais simples e baratos, outros mais caros e duradouros. A escolha do tipo de mumificação dependia das possibilidades de cada família para pagar o artesão que fazia esse trabalho.
Ao realizar mumificações, os egípcios desenvolveram também estudos sobre o corpo humano que resultaram em conhecimentos médicos, como a criação de fórmulas químicas para diminuir a dor (analgésicos), tratamento dos dentes e técnicas cirúrgicas.
Pirâmides
A crença na vida após a morte também esteve relacionada com a construção de sofisticadas tumbas, o que exigiu conhecimentos avançados de matemática e engenharia. As tumbas egípcias mais conhecidas são as pirâmides.
Na região de Gizé (próxima ao Cairo, a atual capital egípcia), estão localizadas as pirâmides dos faraós Quéops, Quéfren e Miquerinos. A maior delas é a de Quéops, com cêrca de 150 metros de altura, o que corresponde a um prédio de mais ou menos 50 andares. A menor é a de Miquerinos.
Para a construção dessas pirâmides, foram utilizados blocos de pedra resistentes, como o granito ou o basalto. Calcula-se que na pirâmide de Quéops tenham sido utilizados mais de dois milhões de blocos de pedra.
À frente dessas três pirâmides, foi construída a Esfinge de Gizé. Trata-se de uma enorme escultura que tem por volta de 20 metros de altura e representa uma cabeça humana em corpo de leão. Acreditava-se que ela era a guardiã das pirâmides.
A parte interna das pirâmides, onde ficavam os túmulos, podia ser decorada com expressões artísticas que retratavam cenas da história do morto ou as características pelas quais ele queria ser lembrado.
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Transcrição do áudio
Egito antigo
[Narradora]
No norte da África, formou-se uma das primeiras sociedades da história da humanidade: o Egito antigo. Há cerca de .9000 anos, iniciou-se um progressivo ressecamento climático responsável pela formação do grande deserto do Saara. Gradativamente, as populações africanas deslocaram-se em busca de áreas férteis, com vegetação abundante e acesso a água. O vale do rio Nilo tornou-se a região de maior concentração populacional da África. Ao longo das suas margens, desenvolveu-se a agricultura de irrigação com aproveitamento e controle das cheias anuais.
Em torno de 3100 a.C., grande parte das comunidades dispersas ao longo do rio Nilo foram unificadas sob o comando de Menés. Fundador da primeira dinastia egípcia, Menés é considerado também o primeiro faraó do Egito, espécie de rei que concentrava os poderes políticos, religiosos e econômicos.
[Narradora] Os egípcios ergueram enormes pirâmides que se tornaram símbolos de sua cultura. Quéops, Quéfrin e Miquerinos, as mais famosas pirâmides, foram construídas a partir de 2550 a.C., no planalto de Gizé, na margem esquerda do rio Nilo, próximo à atual cidade do Cairo. A pirâmide de Quéops foi o edifício mais alto do mundo até o século dezenove. Suas dimensões são impressionantes: cerca de 140 metros de altura, área de mais de .50000 metros quadrados e mais de 2 milhões de blocos de calcário, cada qual pesando cerca de 2,5 toneladas. Na planície de Gizé, há também a imponente esfinge, uma enorme escultura construída ao lado da pirâmide de Quéfrin. Trata-se de uma figura antropozoomórfica, ou seja, uma imagem que combina elementos humanos e animais, no caso da esfinge, o corpo de leão e a cabeça humana.
As pirâmides eram grandes túmulos erguidos sobre uma câmara, na qual era sepultado o corpo do faraó. Os egípcios acreditavam que existia uma outra vida após a morte e, para isso, preservavam os corpos dos seus mortos. Nas pirâmides, havia também uma câmara de oferendas, localizada na sua parte leste, nela eram depositados objetos de uso pessoal do morto e aplicados afrescos, relevos e inscrições nas paredes.
[Narradora] Para conservação dos corpos dos mortos, os egípcios desenvolveram técnicas de mumificação. Isso era feito para que o corpo permanecesse intacto até que a alma pudesse encontrá-lo novamente. Anúbis, deus com cabeça de chacal e corpo de homem, era encarregado de conduzir a alma para a sala de seu julgamento. O coração do morto era colocado num dos pratos de uma balança e deveria pesar menos que a pena da verdade, que se encontrava no outro prato. Se a balança ficasse equilibrada, a alma poderia apresentar-se diante de Osíris e retornar para encontrar o corpo e, assim, viver a vida eterna. Se o coração fosse muito pesado, a alma seria oferecida ao monstro devorador, com cabeça de crocodilo e corpo de leão e hipopótamo, posicionado ao lado direito de Anúbis. Como um escriba, Tot, deus com cabeça de ave e corpo humano, registrava os resultados do julgamento. A alma então era conduzida por Hórus, com cabeça de falcão e corpo humano, até a presença de Osíris, sentado no trono com os símbolos de poder, coroa e cetro, e acompanhado das deusas Ísis e Néftis. A passagem pelo trono de Osíris indicava também a passagem para a vida eterna.
[Narradora] Dentre todos os deuses cultuados no Antigo Egito, Osíris era o mais popular. Senhor dos mortos e da vida além-túmulo, era visto como a encarnação das forças da natureza, representava o ciclo anual da renovação e do renascimento da terra do Egito após as inundações do Nilo. Além de ser considerado o primeiro governante da Terra, teria ensinado as técnicas de agricultura e domesticação de animais aos seres humanos. Morto pelo seu irmão Set, foi vingado pelo seu filho Hórus e ressuscitado por Ísis, sua esposa, não como humano, mas como rei mumificado. Todos os faraós, ao morrerem, tornavam-se Osíris. Por essa razão, em diversos templos e pirâmides, as imagens dos faraós eram representadas com o rosto de Osíris.
PAINEL
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Expressões artísticas do Egito
Grande parte da produção artística do Egito antigo foi influenciada pela religião. Além da construção de templos, o culto aos deuses motivou a criação de esculturas e pinturas que representavam as divindades e a religiosidade dos egípcios. Mas os temas espirituais não eram os únicos, pois existiam também expressões artísticas de cenas do cotidiano.
Na pintura, as figuras humanas frequentemente apareciam em posição rígida e respeitosa, com a cabeça e os pés de perfil e o tronco de frente. Essa era a fórma mais comum de representar a figura humana na arte egípcia.
As obras artísticas do Egito antigo foram feitas com diferentes materiais, como madeira, calcário, alabastro, mármore e basalto. Conheça algumas delas a seguir.
Para construir tumbas, era preciso fazer cálculos matemáticos complexos. Os tipos de tumba variavam conforme a riqueza do morto e a época em que foram construídos. As mais simples chamavam-se mastabas, e as mais grandiosas eram as pirâmides.
Os artistas egípcios mais habilidosos conquistavam prestígio e riquezas. Para elaborar suas obras, eles seguiam regras e padrões de execução. De fórma geral, o artista não assinava suas obras.
dica livro
ANDE, Edna. Egito: arte na Idade Antiga. São Paulo: Callis, 2011.
Acompanhado de imagens e ilustrações, o livro apresenta um panorama da arte produzida no Egito antigo.
Escrita egípcia
Assim como os sumérios, os egípcios criaram um sistema de escrita que é considerado um dos mais antigos do mundo. Há registros da escrita egípcia que datam de cêrca de 3000 antes de Cristo
Os egípcios desenvolveram fórmas de escrita como a hieroglífica, a hierática e a demótica, que eram utilizadas em diferentes situações. A escrita hieroglífica é a mais antiga e tinha um uso restrito, sendo encontrada principalmente em templos e túmulos. A hierática, uma variação da hieroglífica, aparece em textos sagrados, administrativos e literários. E a demótica, a mais recente e popular, era empregada sobretudo para tratar das questões comerciais e cotidianas. Nesse tipo de escrita, os sinais passaram a representar os sons das palavras.
Com a dominação romana sobre o Egito, iniciada no século um a.C., o conhecimento da escrita egípcia foi se perdendo. Séculos se passaram até que antigos textos egípcios fossem compreendidos novamente. Isso ocorreu apenas no século XIX.
Em 1822, o estudioso francês jeãn franssôá champolióncomeçou a decifrar as escritas egípcias. Para isso, ele estudou um documento conhecido como Pedra de Roseta, um fragmento de granito que tinha inscrições talhadas em grego, hieroglífico e demótico. Com base no texto escrito em grego, champolión decifrou as duas versões da escrita egípcia.
Dessa maneira, abriu-se uma enorme porta para o conhecimento da história do Egito antigo. Foi a partir da decifração da Pedra de Roseta que se desenvolveu a egiptologia.
OUTRAS HISTÓRIAS
Dos papiros ao texto digital
Por volta de 3000 , o antes de Cristos egípcios usavam o papiro para registrar sua escrita. O termo “papiro” deu origem à palavra “papel”.
No entanto, o papel é uma invenção chinesa muito diferente do papiro. O vestígio mais antigo de papel data do século dois antes de Cristo Essa invenção chinesa difundiu-se pelo mundo, sendo amplamente utilizada até os dias de hoje.
No século , f vinteoram criados novos suportes para a escrita, como computadores e celulares. Esses suportes promoveram uma revolução na maneira de ler e escrever.
O uso de diferentes suportes para a escrita mudou ao longo do tempo. No entanto, o que permanece é a necessidade que as pessoas têm de se comunicar e de registrar suas vivências e memórias.
Responda no caderno
Atividades
- Ao longo do tempo, o ser humano utilizou diferentes suportes para escrever. Cite alguns exemplos.
- Para escrever, que suporte você mais utiliza em seu dia a dia?
Reino de Cuxe
Ao sul do vale do Rio Nilo, havia uma região chamada pelos egípcios de Núbia, palavra que significa “terra do ouro”. Ali, a partir do segundo milênio a.C., desenvolveu-se o Reino de Cuxe. Essa sociedade surgiu nas terras que correspondem, mais ou menos, ao atual território do Sudão. Observe o mapa.
Região da Núbia na Antiguidade (II milênio a.C.)
Inicialmente, o Reino de Cuxe tinha a cidade de Kerma como capital. Depois, a séde do governo deslocou-se para Napata e, posteriormente, para Meroé. Essas cidades foram importantes centros comerciais, religiosos e artísticos.
Na região de Meroé, foram encontradas centenas de pirâmides construídas pelos cuxitas. Hoje, essas obras são consideradas Patrimônios da Humanidade pela Unesco.
Faraós cuxitas
O Reino de cuxe manteve relações instáveis com o Egito. Em certos momentos, os cuxitas foram submetidos pelos faraós egípcios. Em outros, os egípcios viveram sob o domínio dos reis de Cuxe.
Historiadores indicam que, em 713 a.C., um rei cuxita chamado Xabaca comandou tropas para conquistar o Egito. Após sua vitória, o Egito foi incorporado ao Reino de Cuxe.
Por mais de 50 anos, os reis cuxitas Xabaca, Xabataca e Taharqa governaram tanto a Núbia quanto o Egito. Esses reis ficaram conhecidos como faraós negros, mas essa classificação foi feita por estudiosos posteriormente. A verdade é que não temos certeza se os cuxitas e os egípcios eram negros ou não.
A dominação cuxita no Egito antigo terminou por volta de 664 a.C., quando tropas assírias invadiram o território egípcio. Após a invasão dos assírios, os reis cuxitas se retiraram do Egito e se instalaram na região entre Napata e Meroé. Aos poucos, os cuxitas se distanciaram das influências egípcias. O Reino de Cuxe durou até aproximadamente o século quatro
Os egípcios, por sua vez, destruíram muitos vestígios que representavam o domínio cuxita, como estátuas de faraós desse povo.
Expressões culturais
Os cuxitas foram influenciados pela cultura do Egito antigo e de outros povos africanos. Essas trocas podem ser percebidas, por exemplo, no artesanato, na escultura, na arquitetura, na religião, nas técnicas militares e na escrita.
Apesar das influências, os cuxitas desenvolveram uma escrita própria, a meroítica. Algumas de suas características são: alfabeto de 23 sinais, valores fonéticos e fórma cursiva. A escrita meroítica ainda não foi decifrada.
Mulheres de cuxe
As mulheres exerceram papel importante na sociedade cuxita, ocupando cargos de poder e prestígio. Havia, por exemplo, mulheres que exerciam a função de sacerdotisas, como Amenirdis primeiro e Chepemipet II.
Em diversos momentos, o Reino de Cuxe foi governado por rainhas-mães, chamadas de candaces, nome derivado de um título de nobreza de origem meroítica. Elas influenciavam questões religiosas, militares, econômicas e o relacionamento com os povos vizinhos.
Entre as candaces, destacam-se Amanirenas, Amanishaketo e Amamitere. Muitas delas também foram guerreiras e comandaram exércitos, até mesmo em batalhas contra o Império Romano. Posteriormente, negociaram os limites e as fronteiras de Cuxe em relação aos domínios de Roma.
Responda no caderno
para pensar
Atualmente, no Brasil, a maior parte dos cargos políticos é exercida por homens. Procure explicar por que isso acontece e como superar essa situação.
OFICINA DE HISTÓRIA
Responda no caderno
Conferir e refletir
1. No Egito antigo, todas as pessoas viviam da mesma maneira ou havia desigualdades sociais? Explique sua resposta.
Interpretar texto e imagem
2. A seguir, leia dois trechos que abordam as visões da morte e as práticas funerárias no Egito antigo e na Mesopotâmia. Depois, faça o que se pede.
Fonte 1 – Egito antigo
“De acordo com as crenças egípcias, o espírito seria julgado no além-túmulo no tribunal dos deuses [...]. [Se o espírito fosse considerado inocente,] iria para o paraíso, chamado de campos da paz, vivendo eternamente em total felicidade. reticências Mesmo assim, a sobrevivência do espírito reticências dependia da constante provisão de víveres alimentares [comidas], que deveriam regularmente ser depositados na tumba.”
xinaidêr, Maurício Elvis. O Egito antigo. São Paulo: Saraiva, 2001. página 38-39. (Coleção Que história é esta?).
Fonte 2 – Mesopotâmia
“A religião não oferecia aos mesopotâmios a possibilidade de uma salvação ou de uma vida no além. reticências Apenas os cuidados dos parentes vivos podiam amenizar um pouco o sofrimento dos mortos: para isso, eram feitas oferendas [...]. Essa visão explica, certamente, por que eles não ergueram grandes monumentos funerários, nem se preocuparam com a preservação do corpo do morto [...].”
REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo: Saraiva, 1997. página 30. (Coleção Que história é esta?).
- Identifique semelhanças e diferenças entre as visões da morte e as práticas funerárias no Egito e na Mesopotâmia.
- Em sua interpretação, qual visão em relação à morte era mais otimista: a dos egípcios ou a dos mesopotâmios? Argumente explicando sua resposta.
3. As esfinges são criaturas míticas que têm o corpo de leão e a cabeça de outro animal. Observe as duas esfinges reproduzidas a seguir, criadas por cuxitas e egípcios. Que diferenças e semelhanças podem ser observadas entre elas? Construa um quadro comparando seus personagens, materiais, tamanhos e datas de produção.Explique que, embora ambas as representações sejam esfinges, elas diferem quanto aos personagens representados (embora ambos sejam faraós), aos materiais, ao tamanho e à data de criação.
Versão adaptada acessível
As esfinges são criaturas míticas que têm o corpo de leão e a cabeça de outro animal. Considere as duas esfinges apresentadas, criadas por cuxitas e egípcios. Que diferenças e semelhanças podem ser notadas entre elas? Destaque informações sobre personagens representados, materiais, tamanhos e datas de produção.
integrar com geografia
4. Leia o texto a seguir. Depois, responda às questões propostas.
“Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indica que o Rio Amazonas é 140 quilômetros mais extenso do que o Nilo e, portanto, o maior rio do mundo. A pesquisa foi a primeira a utilizar imagens de satélite para medir ambos os rios e deve colocar um ponto final na discussão sobre qual é o maior curso de água do planeta.”
AMATO, Fábio. Amazonas é maior que o Nilo, afirma Inpe. Folha de São Paulo, 3 julho 2008. Disponível em: https://oeds.link/A6fWt3. Acesso em: 16 dezembro 2021.
- Qual instituto realizou o estudo mencionado?
- Que objetivo tinha o estudo?
- A que conclusão chegou?
- Qual foi o principal recurso utilizado nessa pesquisa?
5. Em um documento, escrito em torno de 1500 a.C., um escriba mais velho comenta com o filho as dificuldades da vida dos camponeses, artesãos e militares, tentando convencê-lo a escolher sua profissão. Leia trechos desse documento e, em seguida, responda às questões.
“Já pensaste na vida do camponês que cultiva a terra? O cobrador de impostos fica no cais ocupado em receber os dízimosglossário das colheitas. Está acompanhado de agentes armados de bastões e negros munidos com pedaços de pau. Todos gritam: 'Vamos, os grãos!'. Se o camponês não os possui, eles o atiram ao solo. Amarrado, arrastado para o canal é jogado de cabeça.
O entalhador de pedra permanece agachado desde o nascer do sol, seus joelhos e sua espinha dorsal estão alquebradosglossário . O pedreiro fica sobre vigas dos andaimes, exposto a todos os ventos, pendurado nos capitéisglossário das colunas; seus braços se gastam nos trabalhos, suas roupas ficam em desordem, ele só se lava uma vez por dia.
reticências Conto-te a respeito do oficial de infantariaglossário ? Ainda pequeno, é levado e encerrado na caserna. Agora, queres que te conte suas expedições em países longínquos? Carrega seus víveres e água nas costas como um burro de carga; suas costas estão feridas. Bebe água podre. Deve montar guarda sem cessar. Chega diante do inimigo? Não passa de um pássaro trêmulo. Regressa ao Egito? Não é mais que um velho pedaço de madeira roído de vermes.
Só vi violência por toda parte! Por isso, consagra teu coração às letras. Contempla os trabalhos manuais e, em verdade, nada existe acima das letras. Ama a literatura [...]. Ela é mais importante do que todos os ofícios. Aquele que, desde a infância, se dispõe a tirar proveito dela, será venerado.”
MALLET, Albert; ISAAC, Jules. L’Orient et la Grèce. Apud: GOVERNO do Estado de São Paulo. Secretaria de Educação/Cenp. Coletânea de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: / Sudeste, 1979. sêmp página 56.
- Quem é o narrador desse texto e a quem ele se dirige?
- Que tipos de trabalhadores são mencionados?
- Que recomendação é dada pelo narrador a seu interlocutor?
Glossário
- Delta
- : nome da quarta letra do alfabeto grego, correspondente à letra “D” do alfabeto que usamos no Ocidente. A letra delta se escreve assim, em sua fórma maiúscula: delta. Ou seja, tem a fórma de um triângulo. Por isso, em Geografia, quando a foz ou ponto de desaguamento de um rio tem a fórma triangular com ilhas, ela é chamada de delta.
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- Hierarquia
- : classificação em ordem crescente ou decrescente que mostra a importância de pessoas ou coisas.
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- Ourivesaria
- : arte praticada por aqueles que trabalham com ouro e prata.
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- Alabastro
- : variedade de rocha granulada e branca, usada por muitos artesãos egípcios para fazer vasos.
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- Faiança
- : tipo de cerâmica feita de barro esmaltado ou vidrado.
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- Dízimo
- : imposto sobre 10% de toda a produção.
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- Alquebrado
- : curvado, torto.
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- Capitel
- : parte superior de uma coluna, geralmente entalhada ou ornamentada.
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- Infantaria
- : tropa terrestre que se posiciona nas primeiras linhas de ataque.
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