UNIDADE 4 SOCIEDADE E RELIGIÃO
CAPÍTULO 10 BIZÂNCIO E ISLAMISMO
Os bizantinos e os árabes fundaram duas importantes religiões monoteístas: o cristianismo ortodoxo e o islamismo.
Atualmente, calcula-se que existem mais de 200 milhões de cristãos ortodoxos e cêrcade 1,3 bilhão de seguidores do islamismo. Neste capítulo, vamos estudar aspectos das sociedades bizantina e árabe, bastante marcadas pela religiosidade.
responda oralmente
para começar
Qual elemento cultural você considera marcante na sociedade em que vive? Pense em exemplos como música, esporte, lazer, trabalho, religião etcétera
Império Bizantino
A capital do Império Romano do Oriente era Constantinopla, que foi fundada no lugar onde existia a antiga colônia grega de Bizâncio, por isso o império ficou conhecido também como “Império Bizantino”.
Foi durante o governo de Justiniano (527-565) que o Império Bizantino se expandiu. Para reconquistar territórios que haviam pertencido ao Império Romano, Justiniano promoveu campanhas militares, combatendo germanos, persas e eslavos.
Império Bizantino: expansão territorial (século VI)
Responda no caderno
observando o mapa
- Cite algumas cidades que foram retomadas pelos bizantinos no século . seis
- Nessa época, em quais continentes o Império Bizantino tinha territórios?
Tantas guerras trouxeram grandes despesas: era preciso pagar os soldados, fornecer armas para o exército e sustentar seu abastecimento. Para cobrir esses gastos, os governantes cobravam altos impostos da população.
Além de suas conquistas militares, Justiniano se destacou por suas realizações no campo do Direito. Logo que assumiu o poder, ele encarregou importantes juristas de organizarem normas do Direito romano adaptando-as às necessidades do cristianismo. Esse trabalho resultou no Código de Justiniano e em outras obras jurídicas. Por meio delas, muitas instituições do Direito romano chegaram aos nossos dias.
A partir do governo de Justiniano, os imperadores bizantinos usaram a religiosidade cristã para consolidar o poder e manter a unidade do império. Adotando o título de basileu (do grego, “autoridade suprema”), os imperadores tinham poder para mandar nos assuntos do Estado e da Igreja. Essa união do poder político (césar) e do poder religioso (papa) nas mãos do imperador bizantino é chamada césaropapismo.
Economia
A agricultura e o pastoreio eram atividades fundamentais na economia bizantina. No entanto, a produção de alimentos não era suficiente para atender satisfatoriamente às necessidades da maioria da população.
Ao lado da produção agropastoril, o comércio bizantino era uma das principais atividades econômicas do império. Essa atividade era favorecida pela localização de Constantinopla, pois a cidade ficava no caminho de rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia. Os principais produtos comercializados no império incluíam:
- artigos de luxo: perfumes, seda, porcelana e vidro, feitos por artesãos chineses, árabes, persas ou indianos e revendidos aos europeus ricos;
- produtos agrícolas: trigo, especiarias, vinho e azeite, produzidos no norte da África, na Grécia e na Síria;
- artesanato: joias, tecidos e artigos de ouro e marfim feitos em cidades bizantinas.
O comércio ativo e lucrativo contribuiu para o desenvolvimento da vida urbana. Constantinopla permaneceu como a principal cidade do império, atingindo cêrca de um milhão de habitantes no século . onze Mas existiram outras cidades importantes, como Tessalônica, Niceia, Trebizonda e Tarso.
Com o objetivo de controlar os preços e o abastecimento das cidades, o governo bizantino interferia nas atividades econômicas do império. Era dono de negócios de pesca e de produção de metais, armas e tecidos. Além disso, supervisionava a qualidade e a quantidade de mercadorias produzidas.
Grupos sociais
A maioria da população do Império Bizantino era formada por servos e escravizados, que trabalhavam em grandes propriedades rurais (latifúndios). Os grandes proprietários rurais eram os mosteiros e os nobres.
Quase todo o trabalho nos latifúndios era feito pelos servos, que dependiam da terra para viver. Além da agricultura e da criação de animais, os servos e os escravizados do campo trabalhavam nos serviços domésticos, na mineração e na construção civil.
Já nas cidades bizantinas, a população era formada por diversos grupos sociais, como escravizados, artesãos, pequenos comerciantes e funcionários de médio e baixo escalão do governo. Os artesãos organizavam-se em corporações de ofício, formadas por quem trabalhava no mesmo ramo – como carpintaria, tecelagem ou sapataria.
Além desses grupos, havia uma elite urbana composta de grandes comerciantes, donos de oficinas de artesanato, membros do clero e altos funcionários do governo. Eles consumiam artigos de luxo, como roupas de lã e seda bordadas com fios de ouro e prata, vasos de porcelana e tapeçarias.
A vida em Constantinopla era considerada mais confortável do que em outras cidades bizantinas. No entanto, essa condição não era desfrutada por todos. Os trabalhadores livres que ganhavam pouco, por exemplo, nem sempre conseguiam comprar roupas e pagar por uma moradia. Muitos viviam pelas ruas de fórma miserável.
dica livro
BELTRÃO, Cláudia. O mundo bizantino. São Paulo: FTD, 2002. (Coleção Para conhecer melhor).
Obra sobre o mais duradouro império da Idade Média: aspectos geográficos, o governo de Justiniano, a economia, a sociedade, a religião, a administração e a vida cotidiana.
dica internet
Museu Bizantino e Cristão
Disponível em: https://oeds.link/bgKaup. Acesso em: 4 janeiro 2022.
A página conta a história do Museu Bizantino e Cristão, em Atenas, descreve a arquitetura do edifício e seus jardins e apresenta o acervo.
Revolta de Nika
O Hipódromo de Constantinopla era uma grande arena com capacidade para, aproximadamente, 50 mil pessoas. Lá eram realizados espetáculos teatrais, festas populares e corridas de cavalo. Era um dos poucos lugares públicos onde a multidão tinha certo contato com o imperador, que comparecia frequentemente aos espetáculos.
No hipódromo, dois grandes grupos rivais se reuniam e expressavam suas reivindicações ao imperador. Eram os Verdes, do qual participavam comerciantes e artesãos, e os Azuis, compostos sobretudo de aristocratas rurais. Esses grupos mantinham variadas disputas políticas, esportivas e religiosas. Segundo historiadores, eles se pareciam com as atuais “torcidas organizadas”.
Em 532, o hipódromo estava lotado de torcedores Verdes e Azuis. Após uma corrida de cavalos, houve dúvida sobre quem teria vencido a disputa. O imperador Justiniano estava presente e quis escolher o vencedor. Mas os grupos políticos, que estavam divididos entre os dois competidores, começaram a gritar: Nika! Nika! (“Vitória! Vitória!”, traduzido do grego). Cada grupo desejava que seu competidor favorito fosse o vitorioso.
A confusão do jogo tornou-se um violento protesto popular. Do hipódromo, o conflito foi para as ruas e se transformou em uma rebelião com saques, destruições e incêndios. Justiniano pensou em fugir, mas desistiu depois de ouvir os conselhos de sua esposa, Teodora. Ele mandou reprimir os revoltosos, massacrando cêrca de 35 mil pessoas.
O estopim da Revolta de Nika ocorreu durante um espetáculo esportivo. No entanto, as causas da revolta eram amplas e profundas. Quando analisadas, revelam, por exemplo, a insatisfação popular em relação aos altos impostos cobrados pelo governo.
Cisma do Oriente
Além das tensões sociais, ocorreram diversos conflitos religiosos e políticos entre autoridades do Império Bizantino e da Igreja Católica Romana. Ao longo dos séculos, esses conflitos resultaram no Grande Cisma do Oriente (1054), que dividiu o mundo cristão em duas Igrejas:
- a Igreja Ortodoxa, com séde em Constantinopla e sob o comando do patriarca da cidade, indicado pelo imperador bizantino;
- a Igreja Católica, com séde em Roma e sob o comando do papa.
Declínio do Império Bizantino
Ao longo de sua história, o Império Bizantino foi alvo de constantes ataques externos. Apesar disso, o império durou até a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453. Essa data é usada como marco tradicional para indicar o fim da Idade Média.
Uma das consequências do domínio turco foi o aumento dos preços e dos impostos cobrados dos comerciantes europeus que iam a Constantinopla comprar produtos asiáticos. Assim, esses produtos ficaram mais caros e mais difíceis de ser encontrados na Europa Ocidental.
O Império Bizantino chegou ao fim, mas aspectos de sua cultura foram preservados por diversas sociedades do Ocidente e do Oriente. Muitos sábios bizantinos mudaram-se para a Itália, levando seus conhecimentos da cultura greco-romana.
Cultura bizantina
No Império Bizantino, viviam pessoas de diferentes povos: egípcios, gregos, persas, eslavos, sírios e judeus. As trocas culturais entre esses povos resultaram na diversidade cultural bizantina, caracterizada por elementos de diversas origens, como a religião cristã, a língua grega, o Direito romano e a arquitetura de inspiração persa.
Religião cristã
O cristianismo era a religião oficial do império. O patriarca de Constantinopla era o chefe da Igreja Ortodoxa, mas ele estava subordinado, na prática, ao imperador bizantino, considerado representante de Deus.
Em Constantinopla, aconteciam diversos debates sobre doutrinas religiosas. Uma dessas doutrinas foi a iconoclastia, palavra que significa “quebra de imagens”. Os ícones eram representações de imagens sagradas, de santos ou de Jesus Cristo. Os adeptos da iconoclastia se opunham ao culto das imagens dos santos e pregavam a destruição das estátuas das igrejas.
A questão iconoclasta estava associada a disputas políticas entre o imperador e os sacerdotes dos mosteiros, que produziam imagens de santos às quais atribuíam poderes milagrosos. Para conter o poder dos mosteiros, o imperador Leão terceiro proibiu a adoração de imagens em 730. A proibição durou até 787 e foi retomada em 813, quando o imperador Leão quinto procurou novamente estabelecer a iconoclastia, que mais uma vez foi banida em 843.
Após o declínio do Império Bizantino, o cristianismo ortodoxo chegou a outras partes do mundo, inclusive ao Brasil, graças às migrações ocorridas nos séculos dezenove e . vinte Atualmente, calcula-se que existam no mundo cêrca de 250 milhões de cristãos ortodoxos, sendo uma das principais religiões de libaneses, sírios, gregos, russos, ucranianos, sérvios e outros povos da Ásia e da Europa Oriental.
Língua grega e produção artística
Inicialmente, as obras literárias bizantinas eram escritas em latim, mas, com o tempo, a língua grega tornou-se a mais importante do império, sendo utilizada nos textos do governo e da Igreja. O grego era falado na capital e em outras regiões do império.
As obras literárias, em prosa ou poesia, eram manuscritas e recebiam ricas decorações, chamadas iluminuras. Além de escrever obras originais, muitos autores bizantinos também reuniram, copiaram e traduziram textos da Antiguidade greco-romana, ajudando a preservá-los.
Os bizantinos também se destacaram por suas pinturas, mosaicos e esculturas. Os afrescos representando anjos, santos e autoridades religiosas foram um tipo de pintura decorativa frequente no Império Bizantino. Grande parte dessas obras era encontrada nas igrejas e em casas mais luxuosas.
Os mosaicos bizantinos eram feitos geralmente com pedaços de pedras e vidros coloridos, colados sobre um vidro claro e recobertos por folhas de ouro. Os mosaicos bizantinos costumavam representar animais, plantas e figuras religiosas ou políticas.
Já as esculturas bizantinas serviram principalmente aos ideais religiosos. Feitas em ouro, marfim ou vidro e em baixo-relevo, essas obras podiam ser encontradas tanto em edifícios como em capas de livros.
PAINEL
Santa Sofia
Na arquitetura bizantina, destacam-se as igrejas e os mosteiros, que expressavam o domínio do Estado sobre os assuntos religiosos. Um exemplo marcante é a Igreja de Santa Sofia (nome que, em grego, significa “sagrada sabedoria”).
- O projeto arquitetônico da Igreja de Santa Sofia serviu de modelo para a construção de muitas igrejas no Ocidente e no Oriente.
- Ela foi construída no século quatro e reconstruída entre 532 e 537, logo depois de ter sido incendiada durante a Revolta de Nika.
- Foram utilizadas cêrca de 18 toneladas de ouro em sua decoração.
- Quando foi transformada em mesquita, os mosaicos bizantinos foram cobertos com uma camada de cal. No século , vinte porém, esses mosaicos foram restaurados, assim como o restante do antigo templo ortodoxo, e a construção se tornou um museu. Em 2020, Santa Sofia foi reconvertida em mesquita.
- Suas fachadas são relativamente simples, como as da maioria dos templos bizantinos, mas toda a parte interna é luxuosamente decorada. Marfim, pedras preciosas e mosaicos cobrem paredes, teto e vitrais.
- A cúpula tem 34 metros de diâmetro, 56 metros de altura e parece flutuar sobre a base quadrada.
- Depois da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos no século , quinze a Igreja de Santa Sofia foi transformada em uma mesquita muçulmana e recebeu a adição de quatro minaretes (torres).
Mundo islâmico
A civilização árabe desenvolveu-se na Península Arábica, localizada no sudoeste da Ásia. É uma região de clima quente e seco, onde desertos ocupam 80% do território. Observe no mapa a área compreendida pela Arábia no século . seis
Arábia: ocupação (século seis)
Até o século VII, os árabes não formavam um Estado único. Na Península Arábica, grupos de famílias (ou clãs) viviam sob a liderança de alguns homens mais velhos, chamados xeiques. Os diversos clãs compartilhavam laços culturais e de parentesco. Todos falavam o mesmo idioma (árabe), com variações regionais, e adoravam várias divindades.
O principal centro religioso da Península Arábica era a cidade de Meca, onde havia um templo chamado Caaba. Ali havia representações de divindades e objetos sagrados, como a Pedra Negra (que provavelmente é um pedaço de meteorito).
O templo da Caaba contribuiu para transformar Meca no maior centro cultural dos árabes. A cidade tornou-se movimentada, recebendo pessoas e mercadorias de muitos lugares.
Maomé e o islamismo
A construção de um Estado árabe ocorreu com a criação do islamismo. A religião islâmica é monoteísta e foi fundada por Maomé (570-632). Os seguidores do islamismo são chamados muçulmanos (do árabe muslim, que significa “entrega a Deus”).
Quando jovem, Maomé era um comerciante de Meca. Em suas viagens pela Península Arábica, ele entrou em contato com adeptos do cristianismo e do judaísmo.
Segundo a tradição muçulmana, o anjo Gabriel apareceu a Maomé e revelou que ele era um emissário de Alá (em árabe, “o Deus”). Maomé, então, iniciou suas pregações religiosas. Dizia que as várias divindades cultuadas na Caaba deveriam ser destruídas e que Alá era o único Deus.
Os sacerdotes e os comerciantes de Meca reagiram às pregações de Maomé. Em 622, houve um conflito que obrigou Maomé a deixar Meca e refugiar-se em Yatreb, posteriormente chamada de Medina, a “cidade do profeta”. Esse episódio marca o início do calendário muçulmano e é conhecido como Hégira, que significa “fuga” ou “emigração”.
Formação da Arábia islâmica
Em Medina, Maomé e seus seguidores difundiram o islamismo e construíram a primeira mesquita de que se tem notícia. Também organizaram um exército formado por fiéis.
Em 630, esse exército conquistou Meca e destruiu as representações das divindades na Caaba. Esse templo tornou-se um local de orações para Alá, e a Pedra Negra foi preservada e incorporada à tradição islâmica.
O islamismo difundiu-se por toda a Arábia, e seus habitantes foram se unificando em torno da nova religião. Foi por meio dessa identidade religiosa que surgiu o primeiro Estado muçulmano.
Fundamentos do islamismo
A religião islâmica prega a submissão dos fiéis a Alá. Em árabe, “islã” ou “islão” significa “submissão”. Daí surgiu a palavra “islamismo”.
Os fundamentos do islamismo encontram-se no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Esse livro também é chamado de Alcorão, que significa “a leitura”. O Corão apresenta Alá como Deus criador do Universo, bom e justo, a quem as pessoas devem obedecer.
Segundo o Corão, a recompensa para os bons e o castigo para os maus virão no dia do Juízo Final. Os maus irão para o inferno e os bons, para o paraíso, onde permanecerão por toda a eternidade.
De acordo com os ensinamentos do islamismo, todo fiel deve:
- crer em Alá e nos ensinamentos de Maomé, o grande profeta;
- fazer cinco orações diárias;
- ser generoso com os pobres e fazer caridade;
- ir em peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, se possível;
- jejuar durante o Ramadã, nono mês do calendário islâmico. Esse jejum religioso vai do nascer ao pôr do sol.
Há ainda outras normas que orientam a vida dos muçulmanos. Por exemplo, os fiéis são proibidos de comer carne de porco, consumir bebidas alcoólicas e praticar jogos de azar.
O Corão também proibiu os muçulmanos de escravizar outra pessoa da mesma religião. Por isso, a partir do século , os escravizados que se convertiam ao islamismo eram libertados. No entanto, a escravidão continuou a existir entre os árabes. Eles passaram a escravizar não muçulmanos, como os negros da África ao sul do Saara. sete
Sunitas e xiitas
Com a morte de Maomé, em 632, o Estado muçulmano passou a ser governado por califasglossário . Começaram a aparecer, então, desacordos entre alguns grupos muçulmanos, sendo os principais os sunitas e os xiitas.
Os sunitas defendem que o califa, chefe de Estado muçulmano, deve ser um homem honrado e respeitador das leis. Além do Corão, aceitam os atos e as palavras atribuídos a Maomé e seus companheiros como fonte de ensinamentos religiosos. Esses atos e palavras constituem as sunas, que foram registradas em narrativas chamadas radí ou radif.
Os xiitas defendem que o Estado muçulmano deve ser chefiado por um descendente legítimo ou aparentado de Maomé. Acreditam que o Corão é a única fonte sagrada da religião e afirmam que os aiatolás, chefes das comunidades islâmicas, são inspirados diretamente por Alá e, portanto, todos os fiéis devem obedecer a eles.
Atualmente, os xiitas vivem principalmente no Iraque, no Irã e no Iêmen. Nas outras regiões do mundo islâmico predominam os sunitas, que correspondem a aproximadamente 84% dos muçulmanos de hoje.
Expansão islâmica
Após a morte de Maomé, os árabes muçulmanos deram início à conquista de territórios fóra da Península Arábica. Sob a liderança dos califas, entraram em guerra com outros povos. Entre os motivos dessa expansão, podemos destacar: a busca de terras férteis; o interesse em ampliar o comércio; a luta contra os que não seguiam o islamismo (a chamada “guerra santa” ou jihad).
Territórios conquistados
Os exércitos muçulmanos guerrearam contra os habitantes do Império Bizantino e conquistaram a Síria, a Palestina, o Egito e outras regiões do norte da África. Depois, dirigiram-se para o Oriente e dominaram a Pérsia e parte da Índia, da China e da Ásia Central. Também avançaram sobre a Europa, dominando quase toda a Península Ibérica. Quando tentaram estender-se em direção ao Reino dos Francos, foram detidos pelos soldados comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.
No século VIII, o poder central já enfrentava crises internas nas várias áreas que tinham sido conquistadas. Uma das causas dessas crises foram as rivalidades entre os califas. Com o tempo, essas disputas levaram à divisão do Estado muçulmano, criado por Maomé e seus seguidores, em vários califados independentes, como o de Córdoba (Espanha) e o do Cairo (Egito). Isso, aos poucos, foi enfraquecendo o Império Islâmico.
Na Península Ibérica, região onde se encontram atualmente Portugal e Espanha, os árabes permaneceram durante aproximadamente 700 anos. Nesse período, muitos aspectos da cultura islâmica influenciaram os habitantes dessa região. Um dos principais centros dessa cultura foi Córdoba, cidade onde viviam entre 200 e 300 mil pessoas no século . dez
Mundo: expansão islâmica (632-850)
Responda no caderno
observando o mapa
Ao longo do século, oito os muçulmanos conquistaram territórios e expandiram seu império. Em que regiões se deu essa expansão?
Atividades econômicas
Os conquistadores árabes desenvolveram atividades econômicas nas regiões ocupadas, implantando suas técnicas e seus conhecimentos. Realizaram obras de irrigação que transformaram terras pobres e estéreis em áreas produtivas. A agricultura era variada: cultivavam trigo, algodão, arroz, linho, açúcar, café, azeitona e vários tipos de fruta, como laranja, tâmara, banana, figo e damasco.
Os árabes também expandiram o comércio, dominando, durante séculos, as rotas terrestres e marítimas que iam desde a Índia até a Espanha, passando pelo norte da África e pelo Mar Mediterrâneo.
Criaram recursos comerciais usados até hoje nos negócios: cheques, letras de câmbio, recibos e sociedades comerciais.
O artesanato também foi importante na economia árabe. Várias cidades destacaram-se pela produção de artigos como:
- joias, vidros, cerâmicas e sedas, confeccionados em Bagdá, no Iraque;
- armas, ferramentas de metal, tecidos de seda e de linho, feitos em Damasco, na Síria;
- espadas, que eram cobiçadas pelos cavaleiros medievais, produzidas em Toledo, na Espanha.
Produção cultural
Os árabes e os demais povos que se converteram ao islamismo assimilaram e reelaboraram elementos de diversas culturas. Desse modo, criaram uma cultura própria, rica e original.
Eles promoveram importantes trocas culturais entre o Oriente e o Ocidente. Aperfeiçoaram e levaram para a Europa inventos chineses, como a bússola e o papel, que ajudaram a impulsionar, respectivamente, a expansão marítima europeia e o desenvolvimento da imprensa. Observe algumas de suas produções culturais em outras áreas.
- Idioma – difundiram o árabe entre os povos conquistados durante a expansão islâmica. Assim, muitos termos da língua árabe foram incorporados ao vocabulário de distintos idiomas, como o português e o castelhano.
- Filosofia – traduziram para o árabe textos de pensadores gregos, como Platão e Aristóteles. Assim, os muçulmanos ajudaram a preservar e a desenvolver conhecimentos da Filosofia Clássica. Mais tarde, os textos em árabe foram traduzidos para o latim e difundiram-se pelo Ocidente cristão medieval.
- Arquitetura – construíram mesquitas, mausoléus e palácios e os decoraram com inscrições estilizadas de trechos do Corão e com arabescos (desenhos caracterizados pela repetição de fórmas geométricas, linhas e folhagens).
- Matemática – introduziram na Europa o numeral zero e os algarismos hindus, que ficaram conhecidos como indo-arábicos. Também desenvolveram a Álgebra e a Trigonometria.
- Medicina – descobriram novas técnicas de cirurgias, bem como as causas e as fórmas de contágio de doenças como varíola, tuberculose e sarampo. Preocuparam-se com anatomia e higiene e, ainda, com doenças infantis e mentais.
- Química – pesquisaram fórmas de transformar metais em ouro, a chamada “alquimia” – que hoje sabemos ser impossível. Mas, durante as pesquisas, os árabes descobriram outras substâncias, como o ácido sulfúrico, o salitre e o álcool, além de métodos de utilização de diversos elementos químicos.
- Astronomia – construíram observatórios planetários e aperfeiçoaram o astrolábio grego.
responda oralmente
para pensar
A Astronomia é uma área de estudo que se desenvolveu com base na observação do céu. Você costuma observar o céu? Já contemplou o nascer e o pôr do sol, as fases da Lua, eclipses solares ou lunares? Consegue identificar algum planeta ou constelação?
Versão adaptada acessível
A astronomia é uma área de estudo que se desenvolveu com base no estudo do céu. O que você sabe sobre o céu, o nascer e o pôr do sol, as fases da Lua, eclipses solares ou lunares? Conhece características de algum planeta ou constelação?
Nem todo muçulmano é árabe
Atualmente, o islamismo é a segunda maior religião do mundo em número de seguidores. São mais de 1 bilhão e 300 milhões de muçulmanos em cêrca de 75 países. Isso representa aproximadamente 20% da população mundial.
Muita gente pensa que todos os muçulmanos são árabes (habitantes da Península Arábica ou falantes da língua árabe), mas não é bem assim. Embora o islamismo tenha surgido na Península Arábica, atualmente apenas uma pequena parcela dos muçulmanos do mundo é árabe.
Segundo o í bê gê É (2010), existem 35 mil muçulmanos no Brasil, mas algumas entidades islâmicas afirmam que são 1,5 milhão. Entre eles, encontram-se imigrantes e seus descendentes de origem síria, libanesa e palestina.
Mundo: presença de muçulmanos (2009)
Responda no caderno
observando o mapa
Quais regiões do mundo atual apresentam o maior e o menor percentual de muçulmanos?
responda oralmente
para pensar
Você conhece contribuições árabes para a cultura brasileira? Dê exemplos.
responda NO CADERNO
OFICINA DE HISTÓRIA
Conferir e refletir
1. Identifique a frase incorreta e corrija-a em seu caderno.
- Justiniano organizou uma expansão militar com o objetivo de reconquistar territórios do antigo Império Romano do Ocidente.
- Cesaropapismo é a união dos poderes político (césar) e religioso (papa) nas mãos dos imperadores bizantinos, que eram considerados “representantes de Deus”.
- A Revolta de Nika foi, inicialmente, motivada por disputas esportivas, mas logo se transformou em uma manifestação popular contra o governo imperial.
- O Grande Cisma do Oriente unificou a Igreja Ortodoxa, com séde em Roma, e a Igreja Católica Romana, com séde em Constantinopla.
2. No caderno, preencha as lacunas do quadro, que compara as principais camadas sociais e as atividades econômicas nas áreas rurais e urbanas do Império Bizantino.
Campo |
Cidade |
|
---|---|---|
Principais atividades econômicas |
||
Elite |
||
Maioria da população |
3. Explique com suas palavras o que levou ao surgimento e, depois, à fragmentação do Estado muçulmano.
Interpretar texto e imagem
4. O Código de Justiniano influenciou as normas jurídicas de muitos países, inclusive o Brasil. Analisando os trechos a seguir, associe as normas do Código de Justiniano aos itens do artigo 5º da atual Constituição Federal brasileira.
Código de Justiniano
“a) Ninguém pode ser retirado à fôrça de sua própria casa.
b) Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa.
c) Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido ao acusador.”
CÓDIGO de Justiniano. In: HADAS, Moses. Roma imperial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. página178.
Constituição brasileira atual
“VIII. ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política [...].
XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador [...].
LV. reticênciasaos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa [...].”
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Distrito Federal: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://oeds.link/zYmmuE. Acesso em: 8 março 2022.
5. Leia o texto e faça o que se pede.
“Em sua permanência de quase oito séculos na Península Ibérica, os árabes contribuíram com centenas de vocábulos para o léxico da língua portuguesa [...].
Em português, é expressivo o número de palavras que começam pela letra ‘a’ e que têm origem árabe – entre muitas outras, alvará [...], alfaiate, açúcar, arroz, azeite, alface, alfândega, almofada, almôndega [...].”
FARAH, Paulo Daniel Elias. Da alface ao cafezinho: alicerces, recifes e acepipes. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, volume 4, número 46, página 28-30, 2009.
- De acordo com o texto, que sílaba é muito comum nas palavras de origem árabe? Você sabe o que significa, em árabe, essa sílaba? Por que ela faz parte dessas palavras da língua portuguesa?
- Você conhece outras palavras da língua portuguesa que têm origem árabe? Pesquise algumas delas e dê seus significados.
integrar com ARTE
6. Uma das expressões marcantes da arte bizantina foram os mosaicos. Retratos de pessoas ou de cenas variadas eram feitos usando esse tipo de composição. A seguir, observe a imagem e elabore hipóteses para responder às questões.
- Qual personagem é o imperador?
- Quem são as pessoas ao lado do imperador? Que funções elas desempenhavam na sociedade bizantina?
- Cite um elemento que simboliza a relação entre a figura do imperador e a religião.
Glossário
- Califa
- : palavra árabe que pode ser traduzida como “sucessor do profeta”. Era o título do chefe de Estado muçulmano, que tinha poderes religioso, político e militar. Esse título passou a ser adotado na época da expansão islâmica, a partir do século VII, após a morte de Maomé.
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