UNIDADE 4 SOCIEDADE E RELIGIÃO
CAPÍTULO 11 EUROPA MEDIEVAL
Você, provavelmente, já viu filmes inspirados em sociedades medievais europeias. Suas histórias mostram, por exemplo, castelos, reis, rainhas e duelos de guerreiros. Podem mostrar também perseguições religiosas, doenças (como a peste negra), batalhas das Cruzadas etcétera
No passado, a Idade Média foi chamada “Idade das Trevas”. Atualmente, os historiadores reagem a essa imagem anacrônica apontando que o período medieval não se resumiu a um momento tenebroso da história. Porém, nem tudo foi um “mar de rosas”.
responda oralmente
para começar
Você já assistiu a algum filme ambientado no período medieval? Cite e comente.
Idade Média
A expressão “Idade Média” é utilizada para se referir a um período da história europeia de aproximadamente mil anos. No entanto, os marcos exatos para determinar o início e o fim desse período variam de acordo com as interpretações dos historiadores.
Para os marcos iniciais, foram sugeridas datas como 476 (deposição do último imperador romano), 380 (oficialização do cristianismo) e 395 (divisão do Império Romano).
Para os marcos finais, foram apontados os anos de 1453 (tomada de Constantinopla) e 1492 (chegada de Colombo à América).
Além de se referir a um período da história europeia, a expressão Idade Média ganhou vários sentidos ao longo do tempo. Esse período já foi representado:
- de fórma negativa, como a “Idade das Trevas”, uma época obscura, marcada pela intolerância da Igreja, pelo atraso tecnológico e pelo declínio das atividades comerciais;
- de fórma positiva, como uma época de fé religiosa, de reis e rainhas poderosos, de castelos exuberantes e de nobres guerreiros.
Atualmente, os historiadores procuram não julgar, com critérios do presente, a Idade Média, mas, sim, compreender esse período, ou seja, entender da melhor maneira possível a história das sociedades daquela época.
responda oralmente
para pensar
Você já ouviu a expressão “Idade Média” ou “período medieval”? Com qual sentido?
dica livro
LE GOFF, Jacques. A Idade Média explicada aos meus filhos. São Paulo: Agir, 2007.
Com perguntas e respostas e um texto acessível, o livro apresenta as principais características da Idade Média.
fórmas de contato: migrações e invasões
O Império Romano do Ocidente enfrentou a pressão militar de diversos povos: germanos, hunos, celtas e eslavos. Entre os séculos dois e V, os germanos entraram no território do império por meio de migrações pacíficas e de invasões violentas. Isso contribuiu para desestruturar o Império Romano e, ao mesmo tempo, promoveu trocas culturais entre romanos e germanos.
Em um dos ataques a Roma, o imperador Rômulo Augústulo foi deposto por Odoacro, rei de um dos povos germânicos. De acordo com uma periodização tradicional, esse fim do Império Romano do Ocidente marca o início da Idade Média.
Migrações e invasões germânicas (séculos quatro- cinco)
integrar com Geografia
Responda no caderno
observando o mapa
O que os seguintes elementos da legenda do mapa indicam: amarelo-claro; laranja; linha preta tracejada; setas coloridas; e pontos pretos?
Povos germânicos
Chamamos “germanos” um grupo de povos que falavam línguas de mesma origem, entre eles, saxões, visigodos, ostrogodos, vândalos, francos, alanos, suevos, burgúndios, lombardos e hérulos. Mas cada povo tinha sua própria cultura.
Supõe-se que os povos germânicos surgiram na região do Mar Báltico e do Mar do Norte, que atualmente compreende a Suécia, a Noruega e a Dinamarca. Entre 3000 antes de Cristo e 2500 , antes de Cristo esses povos começaram a migrar para a Europa Central e Oriental. No final do século dois , antes de Cristo os germanos e os romanos, ambos em expansão, entraram em contato direto e travaram confrontos.
Inicialmente, os germanos não construíram cidades nem organizaram governos centralizados. As bases de sua sociedade eram a família e a comunidade. O pai era a figura central nas famílias germânicas, exercendo autoridade sobre a esposa e os filhos. Por isso, dizemos que essas famílias eram do tipo patriarcal, assim como as gregas e as romanas.
A reunião de várias famílias em uma região podia formar uma aldeia. Nas aldeias, as decisões eram tomadas pelas assembleias de homens livres, entre os quais se destacavam os guerreiros. Nessas assembleias, eram escolhidos líderes para chefiar os soldados. Foram esses líderes que deram origem aos reis e ao poder hereditário, que passa de pai para filho.
Como não dominavam a escrita, suas leis eram transmitidas oralmente entre os membros da comunidade. O direito entre os germanos era consuetudinário, isto é, com base nos costumes. Vários aspectos desse direito consuetudinário foram integrados ao Direito romano, principalmente durante a formação dos reinos germânicos.
Os povos germânicos viviam da criação de gado, da agricultura (plantando trigo, cevada, centeio e legumes), da caça e da pesca. Fabricavam carroças, embarcações, tijolos e armas de metal.
Os germanos eram politeístas. Seus deuses eram associados a fenômenos da natureza, como tempestades, céu, raios, trovão. Contudo, depois do século V, muitos germanos tornaram-se monoteístas ao se converterem ao cristianismo.
Reinos germânicos
A formação dos reinos germânicos foi um processo longo e complexo. Após o período das invasões violentas, os diferentes povos germânicos passaram a dominar regiões da Europa Ocidental. Por exemplo, os visigodos ocuparam parte da Península Ibérica; os ostrogodos, a Península Itálica; os francos, a região da Gália. Durante a formação desses reinos, houve uma mescla de elementos culturais germânicos e romanos.
A maioria dos reinos germânicos não durou muito. Alguns reinos foram dominados e outros acabaram se dissolvendo. Apenas o reino dos francos conseguiu se estruturar e expandir seus domínios. O mapa a seguir mostra os territórios dos reinos germânicos na Europa do século . seis
Reinos germânicos e Império Romano do Oriente (século seis)
Responda no caderno
observando o mapa
Quais reinos germânicos ocupavam regiões banhadas pelo Mar Mediterrâneo no século ? seis
Reino Franco
Os francos construíram um reino forte e duradouro. Os primeiros soberanos desse povo eram da dinastia merovíngia e governaram do século cinco ao século . oito O termo “merovíngio” vem de Meroveu, chefe de uma das tribos que deram início à unificação do reino dos francos.
O sucessor de Meroveu foi Clóvis, que fortaleceu o Reino Franco e expandiu seu território. Durante o reinado de Clóvis ( cêrca de 482-511), a maioria dos francos se converteu ao catolicismo, e o Reino Franco tornou-se importante aliado da Igreja Católica.
A partir de 639, a dinastia merovíngia entrou em crise, e as funções do rei passaram a ser exercidas por um alto funcionário da côrte – o prefeito do palácio, também chamado “mordomo do paço“. Um desses mordomos foi Carlos Martel, que governou de 714 a 741. Martel conquistou prestígio e poder, entre outros motivos, por ter comandado o exército cristão que, na Batalha de Poitiers (732), deteve o avanço dos muçulmanos na Europa. Por interromper esse avanço islâmico, Carlos Martel foi chamado de “salvador da cristandade”.
Após sua morte, Carlos Martel foi sucedido no cargo de mordomo do paço do Reino Franco por seu filho Pepino, conhecido como “o Breve”. Em 751, Pepino destronou o último rei merovíngio e fundou uma nova dinastia.
Formação do Império Carolíngio
A segunda dinastia dos francos chamou-se carolíngia, termo derivado de Carlos Magno, um dos reis de mais destaque dessa dinastia. Os soberanos carolíngios governaram entre os séculos oito e . nove
Em 754, Pepino foi reconhecido como rei dos francos pelo papa Estêvão segundo. Em troca desse reconhecimento, o papa recebeu terras na Península Itálica (inclusive a cidade de Roma), onde foram formados os Estados Pontifícios (territórios governados diretamente pelo papa).
Pepino foi sucedido por seu filho Carlos Magno, que governou durante 46 anos (768-814). Nesse período, os francos conquistaram territórios na Península Ibérica, no norte da Península Itálica, na Saxônia e na Bavária (ambas na atual Alemanha). Os povos que viviam nos territórios conquistados foram obrigados pelos francos a se converter ao cristianismo.
Quando tentaram alargar seus domínios além da Marca da Espanha (consulte o mapa a seguir), em 778, os comandados de Carlos Magno foram derrotados pelos muçulmanos. Apesar dessa derrota, as conquistas alcançadas pelos francos conferiram grande prestígio a Carlos Magno dentro do mundo cristão. Assim, no ano 800, o papa Leão terceiro concedeu ao soberano dos francos o título de imperador do Novo Império Romano do Ocidente.
Império Carolíngio (século nove)
Dessa forma, o papa pretendia escapar da dominação dos governantes do Império Romano do Oriente (ou Império Bizantino) e criar uma nova unidade na Europa Ocidental, agora sob o comando de um soberano franco e cristão aliado a ele.
Administração do Império Carolíngio
Para administrar o império, Carlos Magno contou com funcionários e nobres. Entre os nobres, destacamos:
- os condes: responsáveis por territórios conhecidos como condados;
- os marqueses: responsáveis por territórios conhecidos como marcas, que ficavam nas fronteiras do império;
- os missi dominiti: inspetores reais que fiscalizavam os administradores locais.
Como líder de um império guerreiro, Carlos Magno selecionou um grupo de 12 homens para formar seu conselho de guerra, conhecidos como os Doze Pares de França. Esses conselheiros participavam de batalhas contra os inimigos dos francos e acabaram se tornando uma lenda no mundo cristão, inspirando obras da literatura medieval e festas populares até mesmo no Brasil, como as cavalhadas.
Renascimento Carolíngio
Apesar de ter permanecido analfabeto até a vida adulta, Carlos Magno preocupou-se com o desenvolvimento das artes e da literatura. Durante seu governo, artistas e estudiosos receberam proteção e patrocínio. Além disso, foram construídos mosteiros e escolas.
Nos mosteiros, alguns monges se dedicavam a traduzir e copiar livros de antigos autores gregos e romanos. Assim, preservou-se uma parte da cultura da Antiguidade Clássica.
Em função desse desenvolvimento cultural, historiadores chamam essa época de Renascimento Carolíngio. Porém, a maioria da população permaneceu analfabeta e não teve acesso às obras que foram produzidas ou recuperadas. Essas obras ficaram restritas a uma elite de nobres e sacerdotes que viviam nos palácios e nos mosteiros.
responda oralmente
para pensar
A maioria das pessoas que você conhece são alfabetizadas? Elas frequentaram a escola? Em sua opinião, qual é a importância de saber ler e escrever?
OUTRAS HISTÓRIAS
Livros valiosos
De acordo com o historiador Kenneth Clark, Carlos Magno armazenou tesouros (joias, camafeus, marfins, sedas preciosas) provenientes de várias partes do império. Mas sua contribuição mais importante foram os livros, não só os textos como também as ilustrações e as encadernações.
Naquela época, os livros eram tão valiosos que recebiam as mais ricas e trabalhadas encadernações. Muitas delas consistiam em placas de marfim com bordas incrustradas de ouro e pedras preciosas. Algumas sobreviveram quase intactas, sobretudo as placas de marfim, já que o ouro e as pedras preciosas foram roubados.
Nunca houve livros tão valiosos quanto aqueles feitos para a biblioteca da côrte carolíngia ou aqueles que eram enviados de presente por toda a Europa Ocidental.
Responda no caderno
Atividades
- Por que os livros são uma herança importante do período carolíngio?
- O que demonstra que os livros eram considerados valiosos na época do Império Carolíngio?
Fragmentação do Império Carolíngio
Após a morte de Carlos Magno, em 814, seu filho Luís primeiro assumiu o poder. O império ainda se manteve unido, embora tenha enfrentado problemas políticos, como a excessiva influência do clero (sacerdotes da Igreja) sobre o monarca.
Após a morte de Luís , primeiro foi assinado o Tratado de Verdun (843), que dividiu o império entre seus filhos Carlos, Luís e Lotário. Observe no mapa a seguir a parte que coube a cada um.
Tratado de Vêrdun (843)
Essa divisão abriu caminho para que administradores locais (condes, marqueses, bispos) conquistassem mais poder e autonomia. Além disso, a partir do século , nove muçulmanos, hunos e vikings fizeram novas invasões à Europa Ocidental.
Entre o século dez e meados do século , quinze ocorreram diversas modificações no modo de vida das pessoas na Europa Ocidental. Com medo das invasões e das guerras, os povos dessa região reorganizaram-se em busca de segurança. Foi nesse período que muitos castelos foram construídos, pois ajudavam a proteger seus senhores dos inimigos externos.
Responda no caderno
para pensar
- Onde você mora é uma região segura ou violenta? Por que você acha que isso acontece? Argumente.
- Atualmente, como as pessoas procuram se proteger da violência e da insegurança?
- Em sua opinião, qual seria a melhor fórma de combater a violência? Justifique sua resposta expondo seus argumentos.
PAINEL
Castelo medieval
A grandiosidade de um castelo medieval representava o poder de seu senhor. Muitos deles foram construídos entre os séculos dez e . catorze
Os castelos abrigavam nobres, empregados e guerreiros. Serviam de fortaleza militar, moradia e centro administrativo.
Conheça, na representação a seguir, o esboço artístico de alguns elementos comuns a castelos medievais europeus.
1. Fosso
O fosso era feito ao redor dos muros do castelo para dificultar a entrada de inimigos.
2. Ponte levadiça
A ponte levadiça era feita de madeira e podia ser levantada em segundos, caso o castelo fosse atacado.
3. Calabouço
O calabouço era o local onde os prisioneiros eram mantidos.
4. Quarto principal
O quarto principal era o cômodo privativo do senhor e da senhora do castelo. Costumava ter as paredes e o teto pintados, uma lareira e uma cama confortável de madeira.
5. Banheiro
O banheiro era um cômodo simples. Nele, por meio de um buraco, os dejetos eram jogados em uma fossa.
6. Salão principal
O salão era o local de refeições e festas. Os primeiros a serem servidos eram o senhor e sua família, que se sentavam em uma mesa mais alta. Reis e príncipes contratavam homens para provar a comida antes e garantir que não estivesse envenenada.
7. Capela
A capela podia ter paredes pintadas e janelas com vitrais coloridos.
8. Muros de defesa
Os muros eram largos e, ao longo deles, existiam torres e corredores de vigilância. Nos corredores havia uma mureta com aberturas retangulares chamadas ameias. Dessas aberturas, os arqueiros podiam atirar flechas e, ao mesmo tempo, se proteger. Os arqueiros eram capazes de disparar, em média, de dez a quinze flechas por minuto.
9. Despensa
Na despensa, que costumava ficar no térreo, eram armazenados lenha, armas e alimentos, como trigo, queijos, carnes salgadas, feijões e farinha. Ela deveria estar abastecida para garantir a sobrevivência dos moradores em caso de ataques.
10. Cozinha
A cozinha ficava longe dos cômodos principais do castelo. Os cozinheiros salgavam carne para conservação, aqueciam caldeirões com legumes e verduras e preparavam molhos. As refeições do senhor do castelo e de sua família podiam durar de duas a três horas.
Feudalismo
O feudalismo é uma fórma de organização econômica, social e política que se desenvolveu na Europa Ocidental, sobretudo entre os séculos dez e . treze
Segundo historiadores, as sociedades feudais mesclavam elementos romanos e germânicos. A própria palavra feudo tem origem germânica e significa “coisa oferecida em troca de algo”. Um feudo podia ser, por exemplo, uma extensão de terra, um castelo ou uma quantia de dinheiro.
Apesar de não terem se desenvolvido do mesmo modo em todas as regiões da Europa, as sociedades feudais apresentavam algumas características em comum:
- o fortalecimento do poder dos senhores locais, que exerciam autoridade administrativa, judicial e militar em suas propriedades;
- a hierarquização social entre membros do clero, nobres e servos;
- o estabelecimento de vínculos de fidelidade entre nobres;
- o domínio dos senhores locais sobre um conjunto de servos que trabalhavam no campo;
- o declínio de atividades urbanas e a ampliação de atividades rurais como a agricultura e a criação de animais;
- a consolidação do poder religioso, político e econômico da Igreja Católica.
Divisões sociais
A sociedade feudal era comumente dividida em três ordensglossário ou grupos distintos:
- clero ou oratores (termo latino que significa “aqueles que oram”) – eram os membros da Igreja Católica. Lidavam com os temas religiosos, administravam os bens da Igreja e tinham muita influência sobre o restante da sociedade. No topo da hierarquia do clero estava o papa. Depois dele, vinham os altos dirigentes: o chamado alto clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades). Logo abaixo, estavam os sacerdotes e os monges, que formavam o chamado baixo clero;
- nobreza ou bellatores (termo latino que significa “aqueles que combatem”) – eram donos de terras e dedicavam-se, principalmente, às atividades políticas, administrativas e militares. Entre os nobres havia uma hierarquia: no topo, ficava o rei, seguido por príncipes, duques, marqueses e condes. Abaixo, estavam os cavaleiros. Em tempos de paz, a nobreza dedicava-se a caçar e a fazer torneios, que serviam de treino para guerras e batalhas;
- trabalhadores ou laboratores (termo latino que significa “aqueles que trabalham”) – eram a maioria da população, que sustentava a sociedade com seu trabalho. Entre os trabalhadores havia artesãos, comerciantes e camponeses. A maior parte dos camponeses eram servos, que não tinham liberdade. Um senhor feudal podia negociar seus servos com outro senhor – dar, emprestar ou trocar. O servo não podia testemunhar contra um homem livre ou nobre, não podia se tornar membro do clero (padre, bispo ou outro) e era obrigado a pagar muitos impostos. Mas tinha de ser protegido pelo senhor feudal, podia ter alguns bens e não podia ser vendido.
Mobilidade social
Nas sociedades medievais, era bem difícil uma pessoa sair de um grupo social e passar para outro, principalmente se fosse um camponês. Apenas os homens nobres podiam mudar de ordem, quando se tornavam sacerdotes.
No século onze, o bispo francês Adalbéron de Laon procurou justificar a existência das ordens sociais. Dizia ele que, enquanto uns rezam, alguns combatem e outros devem trabalhar. Assim, pelo argumento do bispo de Laon, se as partes cumprem suas obrigações, elas formam um conjunto que se apoia mutuamente.
Já no século , doze outro religioso francês, Estêvão de fugér, escreveu os seguintes versos, em tom de crítica, sobre a sociedade de sua época:
“Os clérigos devem por todos orar
Os cavaleiros sem demora
Devem defender e honrar
E os camponeses sofrer.
Cavaleiros e clero sem falha
Vivem de quem trabalha reticências ponto”
fugér, Estêvão de. In: DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. segunda edição Lisboa: Estampa, 1994. página 304-305.
Outro religioso, o bispo Eadmer de Canterbury, que viveu na mesma época, deixou evidente a diferença entre as ordens sociais ao comparar os clérigos a carneiros, os nobres a cães e os trabalhadores a bois:
“[...] a razão de ser dos carneiros é fornecer leite e lã, a dos bois trabalhar a terra, a dos cães defender os carneiros e os bois dos lobos.”
CANTERBURY, Eadmer. apud FRANCO JR., H. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1999. página 72.
Ao interpretar essa metáfora, podemos dizer que os religiosos seriam como carneiros porque faziam orações (leite) e forneciam proteção (lã). Os nobres seriam como cães porque defendiam a sociedade de seus inimigos (lobos). Já os trabalhadores seriam como bois porque trabalhavam por todos.
Suserania e vassalagem
No feudalismo, houve um fortalecimento do poder local dos nobres. Esses nobres tornaram--se senhores feudais porque detinham terras chamadas de feudos. O senhor feudal governava seu território, onde podia cobrar impostos, manter exércitos e julgar crimes.
Para manter o poder, a nobreza feudal estabeleceu, entre si, relações de fidelidade da seguinte maneira:
- aquele que tinha mais terras (chamado de suserano) concedia uma parte delas (um feudo) para outro nobre (denominado vassalo);
- em troca, o vassalo devia fidelidade ao suserano e, também, prestava-lhe diversos serviços.
Provavelmente essa prática se disseminou a partir da época carolíngia. Os reis francos (povo germânico) costumavam doar terras em troca de fidelidade, serviços e obrigações militares.
Trabalho nos feudos
Nos lugares onde predominou o feudalismo, as principais atividades econômicas eram a agricultura e a criação de animais. Outras atividades – como comércio, artesanato e serviços – também eram praticadas, mas não tiveram a mesma importância que o trabalho na terra.
Assim, o feudo era a principal unidade produtora da economia feudal. O tamanho de um feudo variava conforme a região. Mas, no geral, tinha em média de 200 a 250 hectaresglossário .
Nos feudos eram produzidos cereais, carnes, leite, roupas e utensílios domésticos para o consumo de quem nele vivia. Alguns produtos vinham de fora, como sal e ferramentas. De modo geral, os feudos eram divididos em três áreas principais: os campos abertos, as reservas senhoriais e os mansos servis.
Condição servil
As pessoas que viviam na condição de servos não podiam deixar as terras do senhor feudal. Tinham de trabalhar ali durante toda a vida para o próprio sustento e para manter as outras ordens sociais (nobreza e clero).
Os servos tinham uma série de obrigações que deviam ser pagas ao senhor feudal. Entre essas obrigações estavam:
- corveia – trabalho de alguns dias por semana nas reservas senhoriais;
- talha – entrega para o senhor feudal de parte dos produtos agrícolas que cultivavam ou dos animais que criavam;
- banalidade – taxa paga ao senhor pelo uso de celeiros, fornos, moinhos.
Analisando a situação dos servos, percebemos que eles eram explorados pelos senhores. Porém, naquela época, a relação servil tinha como base valores que faziam do senhor também um protetor, e não apenas um explorador. De qualquer modo, a exploração existiu e, por isso, houve uma série de rebeliões dos servos contra os senhores.
Responda no caderno
OFICINA DE HISTÓRIA
Conferir e refletir
1. Construa uma linha do tempo sobre o Reino Franco. Para isso, identifique as datas dos seguintes acontecimentos e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala.
- Assinatura do Tratado de Verdun, que dividiu o Império Carolíngio entre os filhos de Luís . primeiro ícone de altura
- Início do reinado de Carlos Magno, que conquistou territórios na atual Alemanha e nas penínsulas Ibérica e Itálica.
- Início do governo de Carlos Martel, prefeito do palácio franco que conquistou grande prestígio e poder.
- Início do reinado de Luís I, que manteve o Império Carolíngio unificado.
- Pepino, filho de Carlos Martel, destrona o último rei merovíngio e funda uma nova dinastia.
- Carlos Magno recebe o título de imperador do Novo Império Romano do Ocidente do papa Leão . terceiro
- Pepino é reconhecido como rei dos francos pelo papa Estêvão II, firmando aliança política entre o Reino Franco e a Igreja Católica.
Versão adaptada acessível
Construa uma linha do tempo tátil sobre o Reino Franco. Para isso, identifique as datas dos seguintes acontecimentos e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala.
• Assinatura do Tratado de Verdun, que dividiu o Império Carolíngio entre os filhos de Luís primeiro.
• Início do reinado de Carlos Magno, que conquistou territórios na atual Alemanha e nas penínsulas Ibérica e Itálica.
• Início do governo de Carlos Martel, prefeito do palácio franco que conquistou grande prestígio e poder. Início do reinado de Luís primeiro, que manteve o Império Carolíngio unificado.
• Pepino, filho de Carlos Martel, destrona o último rei merovíngio e funda uma nova dinastia.
• Carlos Magno recebe o título de imperador do Novo Império Romano do Ocidente do Papa Leão terceiro.
• Pepino é reconhecido como rei dos francos pelo papa Estêvão segundo, firmando aliança política entre o Reino Franco e a Igreja Católica.
- Cada sociedade cria explicações para justificar as divisões entre grupos sociais. Reúna-se com um colega para responder às questões.
- Como certas autoridades da Igreja Católica justificavam as “ordens sociais” na sociedade medieval? Vocês concordam com essas justificativas? Comentem.
- Na sociedade brasileira atual, existem divisões sociais? Na opinião de vocês, é possível superar essas desigualdades? Elaborem argumentos que justifiquem suas respostas.
- A palavra “vândalo” designa um povo germânico que, no século , cinco invadiu algumas regiões do Império Romano. Atualmente, esse termo ganhou um sentido depreciativo, referindo-se àqueles que estragam ou destroem bens públicos. Agora formem grupos e criem um painel sobre locais públicos que vocês gostariam de preservar no município onde vivem. Para isso, sigam as orientações a seguir.
- Pesquisem alguns locais públicos por meio de visitas guiadas.
- Depois, selecionem fotografias e vídeos ou criem desenhos representando os locais visitados que vocês gostariam que fossem preservados em seu município.
- Escrevam uma legenda sobre a história desse patrimônio.
- Apresentem as fotografias, os vídeos ou os desenhos com legendas na plataforma digital da escola.
Interpretar texto e imagem
4. Leia o texto a seguir e depois faça o que se pede.
“[Na Alta Idade Média], o esporte e a caça são aprendizados sempre internos à família. reticências desde a idade de catorze anos e até antes, nadar, correr, marchar e montar a cavalo são esportes que os meninos aprendem bem depressa [...]. Bem cedo, portanto, estabelecem-se vínculos particulares entre o homem e o animal doméstico. reticências
A caça continuava sendo o treinamento mais importante, atividade ideal para se aprender a matar animais de grande porte e agarrar presas pequenas. Instaurava-se uma dupla relação de familiaridade e amizade com os animais domésticos que ajudam a caçar, [como o cavalo, os cães, os pássaros treinados, e] de hostilidade e agressividade em relação ao mundo selvagem [javalis, lobos, ursos etc.]. A finalidade da caça não consiste apenas em abastecer as cozinhas, mas também em treinar para a guerra, para a arte de matar.”
DUBY, Georges; ARIÈS, Philippe (org.). História da vida privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. volume1. página 467-469.
- Procure no dicionário o significado das palavras que você não conhece.
- Por que era tão importante para a nobreza aprender a montar a cavalo e a caçar?
- Em sua opinião, o que é importante na educação dos jovens atualmente? O que deveria ser ensinado e aprendido em termos de valores, atitudes e conhecimentos? Por quê?
- O texto trata da educação dos rapazes, e não das moças. Naquela época, a educação era bem diferente para homens e para mulheres. Em sua avaliação, existem atualmente diferenças entre a educação dos homens e a das mulheres, até mesmo fóra da escola? Debata o tema, argumente e dê exemplos.
integrar com arte
5. Observe essa iluminura do século treze e responda às questões.
- O que é uma iluminura? Pesquise e escreva um breve texto sobre esse tema.
- Nessa iluminura, quais personagens representam o clero, a nobreza e os trabalhadores (artesãos, comerciantes e camponeses)? Justifique sua resposta com base em elementos da imagem.
Glossário
- Ordem
- : essa palavra pode ser entendida em dois sentidos complementares. No primeiro, significa um grupo social isolado e com suas próprias responsabilidades. No segundo sentido, diz respeito a uma organização que era considerada justa e necessária pela nobreza e pelo clero.
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- Hectare
- : unidade de medida que corresponde a .10000 metros quadrados. Uma área de 200 hectares é equivalente a .2000 quilômetros quadrados.
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