UNIDADE 4 SOCIEDADE E RELIGIÃO

CAPÍTULO 12 CRISTANDADE MEDIEVAL

A Europa medieval deixou importantes heranças culturais para as sociedades ocidentais. Foi nesse período, por exemplo, que surgiram os costumes do aperto de mãos, da utilização de colheres e garfos e do uso de calças compridas, camisas e óculos.

E quem não gosta de um dia de descanso? Saiba que grande parte dos feriados de nosso calendário oficial é de origem cristã e tem raízes nas festas celebradas pela cristandade medieval.

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para começar

A palavra burguesia surgiu no período medieval. Em sua interpretação, o que significa ser burguês? Argumente explicando sua resposta.

Fotografia. Vista aérea de uma cidade com casas brancas e uma extensa muralha de pedras nos arredores. No lado externo da muralha há vegetação densa.
Vista aérea de Óbidos, Portugal. Fotografia de 2020. Óbidos é uma vila fundada em 1195 e cercada por muralhas de proteção que existem até hoje. Todos os anos ocorre um evento turístico no local que procura recriar um ambiente medieval, com personagens como bobos, cuspidores de fogo, dançarinos e músicos.
Fotografia. Vista de uma cidade com prédios baixos e coloridos, construídos às margens de um rio. Sobre o rio há várias pequenas embarcações, com pessoas trajando roupas coloridas remando em direção a uma ponte. Nas margens do rio, uma multidão de pessoas observa. No céu há pequenos balões coloridos voando.
Carnaval de Veneza, Itália. Fotografia de 2018. Essa festa é celebrada em Veneza desde o século onze.
Fotografia. Destaque para duas pessoas com chapéu de tecido vermelho e dourado, vestindo luxuosa túnica vermelha com gola alta, e máscara branca e dourada no rosto. A pessoa à esquerda segura um cetro vermelho com uma esfera na ponta.
Foliões mascarados celebram o Carnaval em Veneza, Itália. Fotografia de 2020. O Carnaval é uma das heranças culturais deixadas pela Europa medieval.

Um novo cenário

Durante o predomínio do sistema feudal, a economia era basicamente agropastoril, o poder estava descentralizado e a sociedade dividia-se entre nobreza, clero e trabalhadores. No entanto, todo esse cenário foi sendo modificado aos poucos.

Iluminura. Representação de um grande terreno dividido em diferentes áreas nas quais pessoas praticam a agricultura e criam animais. Em primeiro plano, um homem com vestimentas simples manuseia um arado puxado por bois. Ao fundo, há um grande castelo de pedra com torres altas, cercado por uma muralha. Acima, um calendário em semicírculo, com a informação dos dias e meses do ano e a representação de dois peixes e um carneiro, em referência aos signos do zodíaco.
Iluminura dos irmãos Limbourg, que se encontra no livro Riquíssimas horas do duque de Berry, representando as atividades do mês de março, relativas à agricultura e ao pastoreio, século quinze.

Trabalho e práticas agrícolas

A partir do século onze, em diversas regiões da Europa, os servos conseguiram melhorar suas relações de trabalho. Às vezes, conseguiam aliviar o peso de obrigações como a talha e a corveia. Ocasionalmente, conseguiam contratos de arrendamento por meio dos quais os senhores cediam lotes de terra por preços e prazos determinados.

Nessa época, houve ampliação das áreas de plantação e foram introduzidos novos instrumentos e técnicas agrícolas. Entre eles, podemos destacar:

  • rotação de culturas – divisão da terra em três áreas; enquanto duas áreas eram cultivadas, a outra parte descansava. Essa prática permitia que o solo se recuperasse mais rapidamente;
  • charrua – tipo de arado grande puxado por bois ou cavalos, que permitia arranhar e revirar solos mais duros, trazendo para cima os nutrientes acumulados nas camadas mais profundas da terra;
Gravura. Homens vestindo roupas simples, trabalham no campo. À direita, um deles segura uma charrua puxada por bois. Atrás dele, outro homem deposita sementes sobre o solo revirado. À esquerda, um terceiro homem guia os bois pelo caminho.
Gravura representando camponeses usando charrua para arar a terra, século onze.
  • ferradura – peça de ferro colocada nos cascos dos cavalos que evitava que se machucassem ao andar;
  • moinho – equipamento utilizado para moer cereais, esmagar olivas, quebrar minérios etcétera Durante a Idade Média, os moinhos movidos pela fôrça da água ou do vento foram aperfeiçoados e difundidos. Em geral, eram mais eficientes do que os moinhos movidos pela fôrça animal.

Mais alimentos e mais gente

O desenvolvimento da agricultura proporcionou um aumento da produção de alimentos. Comendo melhor, a mortalidade diminuiu e as pessoas passaram a viver mais. Assim, entre os séculos onze e catorze, houve um significativo crescimento populacional. Observe os dados do quadro que se referem a áreas dos atuais países: Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, França, Reino Unido, Espanha e Portugal.

Europa Ocidental: estimativa de crescimento demográfico (séculos X-XIII)

Ano

Habitantes

1000

22.100.000

1100

25.850.000

1200

34.650.000

1300

50.350.000

Fonte: FRANCO JR., Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. Atlas de história geral. São Paulo: Scipione, 1993. p. 23.

Pintura. Representação do interior de um salão com mesas grandes e bancos de madeira. Há pessoas sentadas por todos os lados. Sobre a mesa há comida e jarros com bebida. À frente, dois homens seguram tábuas com pratos cheios de sopa.
Casamento camponês, pintura de píter bluréau, 1566-1569. Tanto na época de criação dessa obra como no período medieval, realizar banquetes era algo raro na vida de pessoas mais pobres. Por isso, essas refeições eram reservadas apenas para datas importantes.

Rotas comerciais

As atividades comerciais na Europa também se intensificaram sobretudo a partir do século onze. Para melhorar a circulação de mercadorias, desenvolveram-se rotas comerciais marítimas e terrestres.

As rotas marítimas do norte da Europa passavam pelo Mar do Norte e pelo Mar Báltico, abrangendo cidades como Londres, Lübeck e Hamburgo. Essas rotas eram controladas pela Liga Hanseática, criada em 1241 como uma associação de comerciantes e produtores de Hamburgo e Lübeck.

As rotas marítimas do sul passavam principalmente pelo Mar Mediterrâneo, tendo como portos de destaque Barcelona, Gênova, Veneza, Trípoli e Constantinopla. Os comerciantes mais ativos das rotas do sul eram os genoveses e os venezianos.

Essas redes de comércio marítimo eram interligadas por rotas terrestres. Elas aproveitavam, em boa parte, as antigas estradas construídas na época dos romanos. Mas novas vias de transporte também foram construídas.

Rotas comerciais europeias (século catorze)

Mapa. Rotas comerciais europeias (século catorze). Destaque para Europa e norte da África. Em verde, Flandres, pequena região no noroeste da Europa, próxima ao Mar do Norte, que compreende a cidade de Bruges. Em roxo, Champanhe, pequena região ao sul de Flandres. Linha roxa, Rotas marítimas do norte, atravessa o Mar do Norte e o Mar Báltico, ligando as cidades de Boston e Londres, na Ilha da Bretanha, às cidades de Bergen, Oslo, Estocolmo, Novgorod, Riga, Dantzig, Lübeck, Hamburgo e Bruges, na porção continental da Europa. Linha laranja, Rotas terrestres, interligando as cidades de: Bordéus, Paris, Marselha, Bruges, Colônia, Frankfurt, Gênova, Veneza, Leipzig, Hamburgo, Bremen e Lübeck. Linha verde, Rotas marítimas do sul, atravessando a costa do Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo, a fim de interligar as cidades de Bruges, La Rochelle, Lisboa, Cádiz, Barcelona, Marselha, Gênova, Nápoles, Veneza e Constantinopla, na Europa; e Túnis, Trípoli e Alexandria, na África. Círculos vermelhos indicam as Principais cidades da Liga Hanseática: Bruges, Colônia, Frankfurt, Bremen, Hamburgo, Lübeck, Dantzig, Estocolmo e Riga. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 310 quilômetros.
Fontes: KINDER, Hermann; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982. página 188; ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 29.

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Que rotas comerciais passavam pelas cidades de Constantinopla, Paris e Londres? Essas rotas estavam ligadas entre si?

Feiras

Desde o século doze, feiras eram organizadas nos arredores das rotas de comércio. Essas feiras podiam durar semanas e reuniam pessoas de várias regiões para vender e comprar produtos como especiarias, vinho, azeite, seda, perfume, sal, açúcar, madeira, couro e mel. Entre as grandes feiras, destacaram-se as de Champagne, Flandres, Veneza, Gênova, Colônia e Frankfurt. Posteriormente, importantes cidades se desenvolveram nesses locais.

Ao lado do comércio, cresceu a produção artesanal. Os artesãos organizaram-se em corporações de ofício, também conhecidas como guildas ou grêmios. Havia corporações de ferreiros, tecelões, carpinteiros, sapateiros, entre outros. As corporações regulamentavam o exercício da profissão e controlavam o fornecimento, a qualidade e o preço dos produtos.

Iluminura. Casas cinzas com telhados azuis e vermelhos. Entre as casas há criação de ovelhas, cavaleiros, pessoas conversando e bancas de mercadorias expostas. No centro da imagem, há uma  torre, destaque para um homem de coroa dourada, manto azul, segurando um cetro dourado.
Iluminura representando a feira de Saint-Denis, na França, século quinze. As feiras medievais eram locais onde ocorriam tanto as trocas comerciais de produtos originários de diversas regiões como o contato entre diferentes culturas.
Fotografia. Rua com calçamento de pedra, roupas expostas em araras e barracas com objetos diversos. Pessoas caminhando entre as barracas. Ao redor da rua há sobrados antigos com portas altas e janelas largas.
Feira de antiguidades no centro do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021. Atualmente, as feiras de rua ocorrem em diferentes países; no Brasil, são comuns aquelas que acontecem semanalmente.
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para pensar

Você já foi a uma feira? Como foi essa experiência? Pense em aspectos como organização do local, tipos de produto à venda, interação entre vendedores e fregueses e compartilhe com seus colegas.

As cidades e os burgueses

Durante a Idade Média, surgiram várias cidades cercadas por altas muralhas, formando um núcleo chamado de burgo. Do termo nasceu a palavra burguês, usada para se referir aos comerciantes ou artesãos que viviam no burgo. Com o aumento da população, os burgos estenderam seus limites para fóra das muralhas.

O crescimento do comércio e do artesanato contribuiu para que os burgueses ficassem mais independentes dos senhores feudais. A princípio, os burgueses pagavam tributos aos nobres ou ao clero, pois viviam em áreas dominadas por eles. Em troca desse pagamento, negociavam o direito de livre comércio, proteção militar e liberdade para administrar as cidades. Em diversas ocasiões, porém, a autonomia das cidades foi conquistada por meio de lutas.

As cidades que se tornaram independentes ficaram conhecidas na França como comunas e na Península Itálica como repúblicas. Os moradores dessas cidades elegiam um governo, que cuidava da administração e da defesa. Os burgueses mais influentes ocupavam os principais cargos administrativos, elaboravam leis, criavam tribunais e cobravam impostos.

Um antigo ditado alemão dizia que o ar da cidade torna o homem livre. A frase reflete o momento histórico em que as cidades medievais conquistavam autonomia em relação aos senhores feudais. Podemos dizer que esse ditado expressa o desejo de muitos trabalhadores de conquistar mais liberdade. A liberdade de escolher seu próprio trabalho e de viver onde quisessem. Tudo isso foi sendo conquistado, mas não de uma hora para outra, nem em todos os lugares.

Xilogravura. Representação  de uma cidade cercada por muralhas de pedra e torres. No interior das muralhas há casas e torres. A cidade está à beira do mar e há três embarcações grandes no porto. Ao fundo, montes com vegetação e um castelo.
Xilogravura representando o porto e a cidade de Nápoles, Itália, 1482. Observe a movimentação portuária e as muralhas que cercam a cidade.
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O que significa liberdade para você? Dê exemplos daquilo que, em sua opinião, uma pessoa livre pode fazer.

OUTRAS HISTÓRIAS

Cotidiano nas cidades

A partir do século treze, a vida ficou mais movimentada em várias cidades. Nelas existiam praças, feiras, igrejas, escolas, comércio e lazer.

Nas cidades havia festas religiosas, como a de Corpus Christi, ou não religiosas, como o Carnaval. De modo geral, festas e cerimônias religiosas eram controladas pela Igreja Católica e pela nobreza.

Já nas festas populares, as pessoas riam e debochavam dos costumes. Eram realizadas em ruas e praças com a presença de artistas como palhaços, malabaristas, mágicos etcétera Entre as festas populares, estavam as comédias e as paródiasglossário que, por vezes, recriavam trechos da Bíblia, orações e lendas.

Iluminura. Imagem dividida em três cenas. No centro e abaixo, multidão de pessoas dançando e tocando instrumentos musicais. Acima, uma pessoa deitada sobre uma cama e outra com máscara de cavalo no lugar da cabeça. Nas laterais, duas torres com pessoas observando a multidão.
Cena de Carnaval em iluminura que acompanha o poema Romance de Fauvel, de gervé du bus e Raoul Chaillou de Pesstain, século catorze.
Xilogravura. Representação de campo aberto, com pessoas de mãos dadas, dançando ao redor de um mastro. Em segundo plano, pessoas sentadas ao redor de mesas com comidas e bebidas. Ao fundo, grupos de pessoas, casas brancas de telhado vermelho e vegetação.
Xilogravura representando festival de dança medieval, de Nikolaus Medelmann, século dezesseis.

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Atividades

  1. Em sua cidade existem espaços de convívio e festas? Quais?
  2. Você frequenta algum desses espaços e festas? Comente.

Igreja Católica

A Igreja Católica surgiu no final do Império Romano. Mas ela se consolidou e se fortaleceu como instituição durante a Idade Média, principalmente depois que os francos se converteram ao catolicismo no século cinco. A partir daí, aos poucos, a Igreja Católica se transformou em uma instituição poderosa do ponto de vista religioso, político e econômico. Com isso, influenciou um conjunto de sociedades chamada de cristandade.

A Igreja conquistou grande número de fiéis em várias regiões da Europa, o que criou certa unidade cultural entre as sociedades medievais. Essa unidade se expressava, por exemplo, nos valores cristãos e no idioma latino. O latim (idioma oficial da Igreja) era utilizado principalmente por membros do clero e da nobreza.

Além disso, a Igreja Católica acumulou enorme riqueza, proveniente de doações de fiéis, concessões de reis e nobres. Assim, a Igreja tornou-se a maior detentora de terras da Europa Ocidental, chegando a controlar cêrca de um terço das áreas cultiváveis numa época em que as atividades agrícolas eram fundamentais para a economia.

Apesar da riqueza e da ostentação de alguns membros do clero, a Igreja Católica promoveu trabalhos sociais de extrema relevância. Entre esses trabalhos, destacaram-se a criação e a manutenção de orfanatos, escolas, asilos, hospitais, que atendiam principalmente grupos marginalizados da sociedade medieval.

Iluminura. Pessoas montadas sobre cavalos, vestindo túnicas em tons de vermelho e azul. No centro, a cavalo, um homem de cabelos e barbas grisalhos, vestindo túnica e manto bege. Ele usa uma coroa dourada na cabeça e segura um livro aberto. Ao redor de sua cabeça há uma auréola.
Iluminura representando Luís nono ou São Luís (ao centro), único monarca francês que se tornou santo, século catorze. Em seu reinado (1226-1270), conseguiu concentrar o poder real e, ao mesmo tempo, ser um representante do cristianismo.

O clero secular e o regular

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em dois ramos principais: o clero secular e o regular. No posto mais alto da Igreja estava o papa, considerado o sumo sacerdote.

O clero secular era formado por sacerdotes que viviam fóra dos mosteiros. Esse clero estava organizado de acordo com uma hierarquia, ou seja, um conjunto de funções ou cargos subordinados uns aos outros:

  • pároco – situado na base da hierarquia da Igreja. Era o padre responsável pela assistência espiritual em uma paróquia, isto é, uma comunidade que se reunia em um templo ou igreja;
  • bispo – situado acima dos párocos. Ele administrava um conjunto de paróquias, chamado de diocese;
  • arcebispo – cargo superior ao do bispo. Era responsável por um grupo de dioceses, chamado de província eclesiástica.

Durante a Idade Média foram fundadas várias ordens religiosasglossário , como a dos beneditinos, carmelitas, franciscanos, dominicanos. O clero regular era formado por monges que viviam nos mosteiros ou nos conventos e seguiam as regras de sua ordem religiosa.

Os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa, ao cultivo dos campos, ao artesanato e aos trabalhos intelectuais. Foram eles, em boa parte, que copiaram e conservaram importantes obras de autores gregos e romanos. Preservando a cultura da Antiguidade, os mosteiros medievais transformaram-se em centros de ensino, com escolas e bibliotecas.

Iluminura. Representação do interior de uma igreja com dez homens de túnica preta, sentados lado a lado, em duas fileiras de uma tribuna dourada.
Iluminura representando coro de frades, século quinze.

Escolas e universidades

Durante a Idade Média, a Igreja Católica exerceu forte influência na educação, fundando escolas junto aos mosteiros e às catedrais. Posteriormente, a partir do século XI, foram criadas universidades que também receberam a influência da Igreja. No entanto, algumas universidades conseguiram se desenvolver com relativa autonomia.

Uma universidade completa tinha cursos de Teologia (que incluía Filosofia), Artes (que incluía Ciências e Letras), Direito e Medicina. Entre as primeiras universidades europeias destacam-se as de Bolonha (Itália), Paris (França), Oxford (Reino Unido), Salamanca (Espanha) e Coimbra (Portugal).

Os estudos universitários eram privilégio de uma elite. Em geral, os cursos custavam caro e duravam muito tempo. Um jovem costumava iniciar seus estudos aos 15 anos e encerrá-los aos 30 anos.

Nas universidades existiam agitados grupos de estudantes. No século XII, alguns estudantes irreverentes ficaram conhecidos como goliardos. Eles faziam composições e cantavam canções críticas e satíricas. Celebravam o amor e os prazeres e, por isso, eram criticados e perseguidos pelas autoridades católicas.

Fotografia. Fachada com grandes paredes de pedra, uma cúpula lateral, diversas janelas e grandes portas vermelhas. À frente, pátio com calçamento de pedra e uma estátua de um homem, vestindo uma longa túnica.
Fachada da Universidade de Salamanca, Espanha, fundada oficialmente em 1218. Fotografia de 2021. Nessa universidade foram realizados estudos e debates sobre a expansão marítima espanhola e a viabilidade da viagem de Cristóvão Colombo às Índias.
Fotografia. Vista de uma grande edificação, com pátio central no interior. Na fachada, muro largo com abertura central e torres altas nas laterais. No centro, em frente ao pátio, duas grandes torres.
Universidade de Oxford, Reino Unido. Fotografia de 2021. Não se sabe com exatidão a data em que essa universidade foi fundada, mas estima-se que tenha sido por volta do século doze.
Ícone. Atividade oral.

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para pensar

  1. Quando terminar o Ensino Médio, você gostaria de estudar em uma universidade? Por quê? Você já começou a pensar em seu projeto de vida? Explique.
  2. Que curso universitário você acha interessante? Pense a respeito e troque informações com seus colegas.

Universidades medievais europeias (séculos XI-XIV)

Mapa. Universidades medievais europeias (séculos onze a catorze). Destaque para a Europa Ocidental com a divisão política atual. Ícones de livros coloridos indicam o período de Fundação das universidades. Em verde, Século onze: Bolonha, na atual Itália. Em preto, Século doze: Módena e Perúgia, na atual Itália; Paris, na atual França; e Oxford, na atual Grã-Bretanha. Em amarelo, Século treze: Salerno, Nápoles e Pádua, na atual Itália; Montpellier e Toulouse, na atual França; Cambridge, na atual Grã-Bretanha; e na Península Ibérica, onde hoje se localizam Espanha e Portugal: Lérida, Palência e Salamanca, na atual Espanha, e Lisboa e Coimbra, em Portugal atual;  Em roxo, Século catorze: Roma, Pisa e Florença, na atual Itália; Praga, na atual República Tcheca; Grenoble, Cahors e Orleans, na atual França; e Valladolid, na porção da Península Ibérica atualmente pertencente à Espanha. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 270 quilômetros.
Fontes: ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 123; DUBY, Georges. Atlas historique: l’histoire du monde en 317 cartes. Paris: Larousse, 1987. página 68.

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observando o mapa

  1. Qual é a universidade medieval mais antiga? Ela está localizada em que país atual?
  2. Que universidades estão localizadas na Península Ibérica? Quando elas foram fundadas?

Inquisição

Apesar do poder da Igreja, nem todas as pessoas seguiam rigorosamente seus dogmas. Algumas pessoas tinham crenças e costumes próprios, com frequência mais antigos que o cristianismo. Exemplo disso era o culto a certos animais, as práticas de adivinhações e de encantamentos.

As escolhas religiosas ou opções discordantes da Igreja eram chamadas de heresias. Aqueles que defendiam ou praticavam heresias eram considerados hereges ou heréticos. Para combatê-las, o papa Gregório nono criou, em 1233, os Tribunais da Inquisição, cuja função era descobrir e julgar os hereges.

O processo contra uma pessoa acusada de heresia podia demorar anos, e a investigação podia incluir tortura aos suspeitos. Os condenados pela Inquisição eram excluídos da comunidade dos católicos (excomungados) e entregues às autoridades do Estado para serem punidos. As penas iam desde a perda dos bens até a morte na fogueira.

A partir do final do século quinze, milhares de mulheres foram perseguidas pela Inquisição e acusadas de praticar feitiçaria. Estima-se que cêrca de 90 mil mulheres foram condenadas e queimadas na fogueira na Europa Ocidental.

A Inquisição atuou em várias regiões europeias, hoje correspondentes a países como França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Portugal e Espanha. A partir do século dezesseis, também agiu em outras regiões do mundo para as quais os europeus levaram o catolicismo, como a América e a Ásia.

Cruzadas

As Cruzadas foram expedições militares organizadas por autoridades da Igreja Católica e por poderosos nobres da Europa Ocidental. Além dos soldados treinados, as expedições eram acompanhadas por grupos não armados de monges, mulheres e crianças, que quase sempre morriam durante os combates ou pelo caminho, sofrendo com a fome e as doenças.

As Cruzadas mais importantes foram as que se dirigiram para o Oriente Médio, entre os séculos onze e treze. Seu objetivo declarado era libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados, combatendo aqueles que ameaçavam o catolicismo, o poder do clero ou o domínio dos nobres. Além das motivações religiosas e políticas, algumas expedições tiveram motivações econômicas, como a possibilidade de obter lucro com o saque de riquezas dos inimigos.

Cruzadas (séculos XI-XIII)

Mapa. Cruzadas (séculos onze a treze). Destaque para a Europa, parte da Ásia e norte da África. No sul da Europa, norte da África e parte da Ásia, em rosa, destaca-se os Territórios muçulmanos. No leste da Europa e oeste da Ásia, em verde, destaca-se o Império Bizantino. Na parte sudoeste da Ásia, em roxo, destaca-se os Estados cristãos no Oriente. Na região central da Europa Ocidental e parte da Península Ibérica destaca-se os Territórios católicos na Europa Ocidental. Ao longo do mapa, há linhas coloridas evidenciando a trajetória das Cruzadas: em vermelho, Primeira Cruzada (1095 – 1099): passando pelas cidades de Toulouse, Lyon, Chambery, Trieste, Gênova, Roma, Nápoles,  Durazzo, Verdun, Basileia, Ratisbona, Viena, Buda, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Konya, Cesareia, Adana, Edesa, Antioquia, Trípoli, Beirute e Jerusalém; em laranja, Segunda Cruzada (1148 – 1151): passando pelas cidades de Paris, Verdun, Metz, Wurtzburgo, Ratisbona, Viena, Peste, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Pérgamo, Sarges, Túnis e Antioquia; em verde, Terceira Cruzada (1189 – 1192): passando pelas cidades de Paris, Tours, Vézelav, Lyon, Gênova, Marselha, Ratisbona, Viena, Peste, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Konya, Siracusa, Messina, Chania, Cândia, Lárnaca, Nicósia e Acre, pela costa do Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo; em lilás, Quarta Cruzada (1202 – 1204): passando pelas cidades de Veneza, Trieste, Zara, Durazzo, Ition e Constantinopla; em azul claro, Quinta Cruzada (1217 – 1221): passando pelas cidades de Roma, Nápoles, Cândia, Antalvas, Lárnaca e Beirute; em rosa, Sexta Cruzada (1228 – 1229): passando pelas cidades de  Spalato, Chania, Cândia; Lárcana e Trípoli e pelo Mar Mediterrâneo; em azul escuro, Sétima Cruzada (1248-1254): passando pelas cidades de Vézelav, Aigues Mortes, Lárnaca, Damieta e Jaffa e pelo Mar Mediterrâneo; em roxo, Oitava Cruzada (1270): passando pelas cidades de Vézelav, Aigues Mortes, Túnis e Jaffa, pela costa do Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 330 quilômetros.
Fonte: HISTÓRIA VIVA. São Paulo: Duetto, ano I, número 2, página 20-21, dezembro 2003.
Iluminura. Destaque para dois homens imersos em uma fogueira no chão. Ao lado da fogueira, há um homem vestido uma camisa vermelha, calça branca, e botas marrons nos pés, levando um dos braços à frente de seu rosto, e com o outro segurando uma haste em direção às chamas. Ao redor, diversas pessoas observam a cena.
Iluminura do século catorze representando a execução de Jacques de Molay e Godofredo de Chamay na fogueira, acusados de heresia pelo rei francês Filipe, o Belo. Molay era o líder da Ordem dos Templários, fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa (Palestina) e Chamay era preceptor da Normandia.

Consequências das Cruzadas

Cada Cruzada teve suas próprias características e consequências. De modo geral, podemos dizer que as Cruzadas contribuíram para:

o empobrecimento de alguns senhores de terras, que tiveram suas economias arrasadas pelos custos das guerras;

Miniatura. Destaque para a representação do encontro de dois exércitos. À esquerda, homens vestindo armaduras coloridas e capacetes, portando espadas pontiagudas, sentados sobre o dorso de cavalos com tecidos coloridos sobre seus corpos. À direita, homens vestindo túnicas e lenços presos na cabeça, segurando escudos triangulares e espadas largas, sentados sobre o dorso de cavalos com tecidos coloridos. No solo, há cabeças decapitadas.
Miniatura do livro História do estrangeiro, de William de Tiro, século catorze, mostra cena de uma batalha entre cruzados e árabes “infiéis”.
  • o fortalecimento do poder real, que aumentou à medida que os senhores feudais perderam sua força;
  • o desenvolvimento do comércio entre certas regiões da Europa e do Oriente.

As conquistas cristãs no Oriente duraram pouco, pois os territórios foram sendo reconquistados pelos muçulmanos a partir do século treze. Esses conflitos geraram ressentimentos entre cristãos e muçulmanos que, de certo modo, permanecem até hoje e ainda são usados com objetivos políticos.

Iluminura. Destaque para cavaleiros agrupados sobre um pátio cercado de várias casas de pedras com telhados triangulares. Eles vestem roupas com o símbolo da cruz no peito e portam espadas. Ao fundo, pessoas ajoelhadas rezando e, pendurado em uma parede, um escudo vermelho com diversas cruzes.
Representação do século quinze mostra cavaleiros da Ordem de São João durante preparação para impedir que tropas do Império Otomano controlassem a Ilha de Rhodes, na atual Grécia. Observe as cruzes em suas roupas e no escudo da ordem.

Mulheres na Idade Média

Assim como na Grécia e na Roma antigas, predominava na Idade Média o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar os papéis de esposa e de mãe.

Porém, no dia a dia, havia mulheres que não ficavam limitadas à vida doméstica. Elas participavam de várias atividades nas ruas e praças, nos mercados, nas feiras e oficinas artesanais. Além disso, a condição das mulheres dependia de sua posição social: a opressão atingia de fórma diferente as nobres e as camponesas livres e servas.

De modo geral, durante a Idade Média, as mulheres eram menos valorizadas do que os homens, sendo consideradas frágeis, emotivas e instáveis. Esses julgamentos foram usados como justificativa para a dominação masculina. Eram os homens que controlavam importantes instrumentos de poder como a Igreja, a guerra e os feudos.

Em uma sociedade profundamente influenciada pela Igreja, alguns pensadores cristãos defendiam que Eva havia cometido o pecado original, trazendo a maldade e a imperfeição ao mundo. Entretanto, a partir do século onze, desenvolveu-se o culto à Maria, “mãe de Cristo”, considerada santa e redentora. Essas duas figuras contrastantes marcaram o imaginário ocidental acerca da mulher.

Protagonismo feminino

Apesar das dificuldades enfrentadas, houve mulheres que administraram feudos, oficinas artesanais, comércios e que se dedicaram a atividades intelectuais, atuando como bibliotecárias, professoras e copistas, sobretudo em mosteiros femininos.

Também houve figuras femininas que se destacaram na vida social:

  • Catarina de Siena (1347-1380): foi membro da ordem dominicana e desempenhou papel importante em sua época. Ela queria reformar a Igreja, promover a paz na Península Itálica e fortificar a Europa, ainda que fosse por meio das Cruzadas;
  • Cristina de Pisano (cêrca de 1364-1430): escreveu obras literárias e filosóficas, nas quais defendia os direitos das mulheres. No Livro da Cidade de Senhoras, por exemplo, a autora criou uma cidade fictícia habitada por mulheres famosas da história;
  • Joana Dárc (cêrca de 1412-1431): liderou uma tropa francesa na Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Sua tropa venceu a batalha de Orleans, feito decisivo para o fim da guerra. Por razões políticas e religiosas, foi acusada de praticar bruxaria e condenada à morte na fogueira em 1431, aos dezenove anos de idade. No século vinte, foi canonizada pela Igreja Católica e tornou-se padroeira da França.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

VERISSIMO, Erico. A vida de Joana Dárc. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Escrito em 1935, o livro conta a história da francesa Joana d’Arc, que aos dezessete anos liderou um exército na Guerra dos Cem Anos.

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Transcrição do áudio

Mulheres na Idade Média

[Apresentadora 1]

Olá, pessoal! Meu nome é Daniela e hoje, aqui no podcast, eu e Joana vamos conversar sobre as mulheres na Idade Média europeia.

[Apresentadora 2]

Olá, Daniela e ouvintes! Como será que as mulheres eram vistas pela sociedade medieval? Quais espaços ocupavam? Será que os papéis que desempenhavam eram parecidos com os das mulheres de hoje? Vamos descobrir juntos?

[Apresentadora 1]

Para começar, é importante lembrar a grande influência da Igreja Católica na cultura medieval e como isso afetou a visão que se tinha das mulheres no período. A partir de interpretações bíblicas, por exemplo, a imagem feminina foi associada à santidade da Virgem Maria ou aos pecados atribuídos à Eva.

[Apresentadora 2]

E como elas eram vistas na sociedade medieval, Daniela?

[Apresentadora 1]

Nessa sociedade, de modo geral, as mulheres eram menos valorizadas que os homens. Havia uma série de preconceitos sobre a natureza feminina, como ideias pré-concebidas sobre sua suposta fragilidade e necessidade de proteção masculina. Além disso, predominava o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar o papel de esposa e mãe.

[Apresentadora 2]

E todas as mulheres ocupavam os mesmos lugares na sociedade medieval?

[Apresentadora 1]

Não, Joana. Vamos entender melhor. Dividida em ordens, a sociedade medieval tinha pouca mobilidade social. Assim, a condição das mulheres também dependia da sua posição social. As mulheres que não pertenciam à nobreza, por exemplo, trabalhavam em casa, cozinhando e cuidando das crianças, e também fora dela, em atividades no campo e em atividades comerciais. Podiam ainda trabalhar para os nobres, cuidando da casa ou da roupa, por exemplo. Já as mulheres da nobreza, na maioria dos casos, se dedicavam apenas a atividades dentro do lar, como educar as crianças.

[Apresentadora 2]

Então esses papéis eram mesmo variados, Daniela!

[Apresentadora 1] Havia também as mulheres da nobreza que iam para os conventos. Lá, além de se dedicarem à vida religiosa, algumas delas podiam se aplicar nos estudos de filosofia, medicina e outras áreas do conhecimento. Nos conventos, há exemplos de mulheres que escreveram livros sobre teologia e filosofia. Ou seja, a Idade Média contou com uma importante produção intelectual feminina.

[Apresentadora 2]

Muito legal! Então, mesmo inseridas em uma sociedade com pouca mobilidade social, que conferia às mulheres uma posição social inferior, parte delas exerceu papéis que desafiavam a ordem estabelecida?

[Apresentadora 1] Isso mesmo! Uma história interessante é a de Cristina de Pisano, que nasceu por volta de1364, na Itália, e viveu na França desde a infância. Ela foi filósofa e poetisa, e com seus textos se sustentou após ficar viúva.

[Apresentadora 2]

Interessante mesmo! Conte-nos mais, Daniela!

[Apresentadora 1]

Cristina casou-se aos 15 anos, o que era comum na época. Dez anos depois, já com três filhos, ficou viúva, passando por problemas financeiros.

Nessa época, grande parte da população não sabia ler e escrever. Mas Cristina era uma exceção. Seu pai foi convidado para trabalhar como médico na corte francesa, quando ela ainda era criança. Ao conviver em um ambiente de letrados e intelectuais, como era a corte, Cristina foi alfabetizada e se interessou pela literatura. Na viuvez, ela passou a produzir textos e a viver da venda deles. Cristina é considerada por estudiosos como a primeira mulher a conseguir se sustentar financeiramente atuando como escritora.

 [Apresentadora 2]

Então, podemos dizer que Cristina de Pisano rompeu com padrões de sua época!

[Apresentadora 1]

Sim! Uma de suas principais obras é o Livro da Cidade de Senhoras. Nele, a autora valoriza a importância das mulheres na sociedade, desconstruindo visões que conferiam às mulheres uma posição social inferior.

[Apresentadora 2]

Explique mais, Daniela!

[Apresentadora 1]

Em Cidade de Senhoras, Pisano escreveu sobre uma cidade imaginária habitada apenas por mulheres. Essas mulheres são personagens importantes, que ocuparam lugar de destaque em diversos períodos da história, como a rainha de Sabá; Teodora, imperatriz bizantina; e a própria Virgem Maria. No livro, as mulheres possuem um papel tão importante quanto o dos homens para o desenvolvimento da humanidade.

[Apresentadora 2]

Podemos dizer, então, Daniela, que a vida e a obra de Cristina de Pisano são um dos exemplos que temos da diversidade do papel da mulher na Idade Média.

[Apresentadora 1]

Sim, Joana! Além disso, a atuação de várias mulheres como Cristina de Pisano, ao longo da história, contribuiu para que, com o tempo, as mulheres ocupassem diferentes posições sociais e conquistassem direitos.

[Apresentadora 2]

Isso mesmo, Daniela! Mas ainda há muito o que se conquistar para que os direitos das mulheres sejam respeitados e garantidos em todo o mundo. Até mais, pessoal!

[Apresentadora 1]

Com certeza! Até mais!

Produções culturais: pintura e religião

A pintura medieval foi dominada por temas religiosos. Muitas obras desse período tinham como tema a vida dos santos, de Cristo e de Nossa Senhora.

Nessa época, a pintura foi usada para ensinar a religião católica, pois a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever. No século seis, por exemplo, o papa Gregório explicou em poucas palavras como a pintura podia servir a esse propósito. Segundo ele, a pintura seria o “livro dos analfabetos”. Isso quer dizer que os quadros expostos nas igrejas deviam fazer com que homens, mulheres e crianças pudessem ver o que ouviam nos sermões e não conseguiam ler nos livros.

Além dos quadros, a pintura de murais, vitrais e miniaturas também teve grande importância. Entre os pintores mais destacados estavam os italianos Giotto (1266-1337) e Cimabue (1240-1302).

Pintura. Representação de um conjunto de seres com aspecto angelical, vestindo túnicas, com auréolas douradas ao redor de suas cabeças. À frente, um segura uma harpa, e outros dois tocam clarinetes.
Um dos painéis da obra A coroação da Virgem, pintado por Giotto, 1335. Nesse painel, são representados anjos tocando instrumentos musicais e saudando a coroação de Maria. Esse tema religioso aparece com frequência em pinturas europeias dos séculos treze a quinze.
Afresco. Representação de uma mulher vestindo uma túnica azul, sentada sobre um trono, segurando um bebê em seu colo. Ao redor, figuras com aspecto angelical, com asas nas costas, vestindo túnicas. À direita, um homem vestindo túnica marrom. Todos possuem auréolas ao redor de suas cabeças.
Afresco representando Maria e seu filho, Jesus, cercados por quatro anjos e São Francisco de Assis, à direita, pintado por Cimabue, 1278-1280.
Pintura. Representação de um homem vestindo uma túnica branca com capuz, em pé, apoiando seu corpo sobre um cavalo de pelagem marrom. Ele tem o olhar voltado a um jovem ajoelhado no chão, vestindo túnica branca e vermelha, segurando um pincel em contato com uma rocha. Ao lado do rapaz, há cabras.
Representação de Cimabue observando o jovem Giotto pintar uma cabra em uma rocha, pintura de Gaetano Sabatelli, século dezenove. Giotto teria sido discípulo do artista florentino Cimabue.

As catedrais

A arquitetura medieval do Ocidente é conhecida pela construção de catedrais imensas e monumentais. Essas obras pretendiam demonstrar a presença e o poder de Deus, bem como o poder e a riqueza da Igreja Católica. Entre os principais estilos arquitetônicos medievais, destacam-se o românico e o gótico.

Estilo românico

O estilo românico desenvolveu-se entre o final do século oito e o século XII. Entre as características desse estilo estão os traços simples e severos. As igrejas românicas foram construídas com paredes grossas, geralmente de pedra. A Igreja de São Martinho, na Espanha, é um exemplo desse estilo arquitetônico. Observe nas imagens alguns de seus elementos.

Fotografia. Fachada de uma igreja de tijolos, com torres laterais em formato arredondado, uma porta frontal com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 1. Na lateral, janelas com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 2.
Fachada da Igreja de São Martinho, na cidade de Frómista, Espanha, construída por volta do século onze. Fotografia de 2021.

1. Porta frontal.

2. Janelas estreitas, que permitiam a entrada de pouca luz externa.

Fotografia. Interior de uma igreja com bancos de madeira enfileirados e um corredor central. Possui um teto formado por arcos redondos sustentados por colunas e a indicação do número 3. No centro, um altar com a escultura de um homem crucificado e a indicação do número 4.
Interior da Igreja de São Martinho, na cidade de Frómista, Espanha, construída por volta do século onze. Fotografia de 2017.

3. Arcos redondos (em formato de semicírculo).

4. No interior, existiam imagens de santos nos espaços laterais e relíquias embaixo do altar principal.

Estilo gótico

O estilo gótico predominou entre os séculos doze e catorze. As igrejas construídas nesse estilo apresentam traços mais leves e paredes mais finas que os das românicas. A Catedral de Chartres, na França, é um exemplo de construção gótica. Ela foi erguida entre 1120 e 1170. Observe nas imagens alguns de seus elementos.

Fotografia. Interior de uma igreja com paredes muito altas, teto com diversos arcos simetricamente entrecruzados, e a marcação do número 1. Nas paredes, diversos pilares e a marcação do número 2. Na parte superior das paredes, janelas estreitas com vitrais coloridos e a marcação do número 3. No chão, sequências de cadeiras de madeira dispostas enfileiradas e algumas pessoas transitando pelo corredor.
Interior da Catedral de Chartres, França. Fotografia de 2021. Construída no século treze, essa catedral foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

1. Arcos em formato de ogivas.

2. Pilares para sustentar o teto e os terraços.

3. Janelas com vitrais coloridos, que permitem a passagem da luz.

Fotografia. Fachada de uma igreja com torres laterais altas, telhados pontudos com cruzes no ápice e a indicação do número 4.  No centro, um grande vitral redondo, com a indicação do número 5. Abaixo dele, três portas frontais com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 6.
Fachada da Catedral de Chartres, França. Fotografia de 2022.

4. Torres altas com extremidades em formato de agulha, apontando na direção do céu.

5. Rosácea, que é um vitral decorativo colocado acima das portas frontais da igreja.

6. Três portas frontais.

Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica: filme.

dica filme

O corcunda de Notre Dame (Estados Unidos). Direção de guéri trusdaiol e quir uáise, 1996. 91 minutos

Desenho animado inspirado no romance homônimo de Victor Hugo (1802-1855). Na Catedral de Notre Dame, o tocador de sinos Quasímodo vive sozinho e isolado. Certo dia ele decide sair da torre para participar de uma grande festa realizada nas ruas de Paris. Durante a festa, a população zomba de Quasímodo por causa de sua aparência, mas ele é ajudado pela cigana Esmeralda.

Crises medievais

A partir do século catorze, houve uma queda na produção agrícola, grandes epidemias, revoltas populares e longas guerras. Isso gerou uma crise na sociedade medieval.

Nesse período, as melhores terras já tinham sido ocupadas para a produção de alimentos e ficou difícil continuar a expansão agrícola. Muitos nobres, por exemplo, impediram que mais florestas fossem derrubadas para o cultivo, pois queriam preservar essas áreas para a caça e a extração de madeira, mel e frutas.

Além disso, os problemas na agricultura se agravaram em função de guerras, fatores climáticos (secas, geadas, inundações) e técnicas inadequadas de cultivo. Assim, iniciou-se um período de escassez de alimentos, que levou milhares de pessoas à fome.

Enfraquecidos pela fome ou pela subnutrição, muitos europeus ficaram vulneráveis a doenças. Algumas delas tornaram-se verdadeiras epidemias, como foi o caso da peste negra, nome dado a uma doença contagiosa e mortal que vitimou milhões de pessoas no século catorze.

Iluminura. Representação de um ser sombrio, de aspecto fúnebre, com asas pretas nas costas, segurando uma foice. O ser está em pé sobre o corpo de uma mulher deitada em um caixão carregado por um carro de boi. Ao redor, diversas pessoas deitadas sobre o solo, de olhos fechados, aparentando estar mortas.
Iluminura de Triunfos, de Frantchesco Petrarca, século dezesseis, representando a Morte.

Essa doença era provocada por um microrganismo encontrado com frequência em ratos e podia ser transmitida por pulgas que picavam esses animais e depois picavam os seres humanos ou pela tosse de pessoas contaminadas. Naquela época, não havia remédios para a peste negra. Em termos práticos, a melhor solução para evitar a doença era ficar isolado dos focos da epidemia.

Muitos acreditavam que a doença era um castigo de Deus e organizavam orações e procissões suplicando a misericórdia divina. Estudiosos calculam que cérca de um terço da população europeia tenha morrido em razão dessa doença.

Iluminura. Representação de um grupo de pessoas enfileiradas em procissão. Os homens estão descalços, sem camisa, com o pescoço e os ombros cobertos por tecidos coloridos, usando chapéus escuros, pontudos e com cruzes vermelhas. Eles seguram varas em direção às costas. À frente, um deles segura um crucifixo, enquanto crianças com roupas coloridas seguram hastes verticais com velas e uma bandeira.
Iluminura representando pessoas flagelando-se durante procissão para suplicar pelo fim da peste negra, século catorze.

Revoltas e guerras

Nos séculos catorze e quinze, ocorreram diversas revoltas de camponeses e guerras entre nobres, com destaque para a Guerra dos Cem Anos. Esses conflitos contribuíram ainda mais para agravar a crise medieval.

Diante do sofrimento causado pela fome e pelas mortes decorrentes da peste negra, os camponeses se revoltaram. Em 1358, milhares de camponeses franceses mataram nobres e destruíram castelos. Posteriormente, em 1381, camponeses ingleses exigiram do rei o fim da servidão e a diminuição de impostos. As duas revoltas camponesas foram severamente reprimidas pelos nobres, que, dispondo de armamentos e treinamento militar, massacraram os rebeldes.

A Guerra dos Cem anos (1337-1453) foi um conflito entre a França e a Inglaterra que, na verdade, durou cêrca de 116 anos com inúmeras interrupções. Esse conflito envolveu disputas pelo trono francês e por territórios na rica região de Flandres. Ao longo do conflito, houve vitórias importantes de ambos os lados. Porém, no final, o exército francês expulsou os ingleses de quase todos os territórios da França.

Iluminura. Imagem representando o confronto naval entre duas tropas. Os combatentes vestem capacetes e armaduras e portam espadas e lanças. Eles estão sobre navios de madeira, posicionados lado a lado no mar. Alguns combatentes estão em queda no mar.
Iluminura do século quinze representando a Batalha de Sluys, entre franceses e ingleses, que ocorreu em 24 de junho de 1340. Além desse e de outros conflitos navais, durante a Guerra dos Cem Anos aconteceram diversos embates por terra.

Responda no caderno

OFICINA DE HISTÓRIA

Conferir e refletir

  1. Explique como as autoridades da Igreja Católica exerciam seu poder na Idade Média.
  2. Explique o que você entendeu por heresia e hereges.
  3. Com base no que você estudou sobre a intolerância da Inquisição, reflita: a violência ainda é utilizada para combater as diferenças de pensamento entre as pessoas? Qual é sua opinião sobre isso? Argumente em defesa da convivência pacífica.
  4. O que foram as Cruzadas da Idade Média? Quais eram seus objetivos? Que grupos participaram delas?

integrar com ARTE

Interpretar texto e imagem

5. Grande parte das músicas e poesias dos goliardos é anônima, pois os autores escondiam seus nomes para se proteger de possíveis perseguições. Leia, a seguir, um pequeno trecho de uma cantiga atribuída aos goliardos:

“Se o sábio

tem o costume

de construir sua morada

sobre a rocha,

então sou um louco,

pois sou como a corrente que avança,

e cujo curso

jamais se detém.

Sigo adiante

como um barco sem piloto,

como um pássaro vagando

pelos ares;

nada me detém,

nem chave nem grilhõesglossário ;

procurando meus semelhantes,

junto-me aos miseráveis. reticências

Meu caminho é longo

como minha juventude;

lançar-me-ei aos víciosglossário ,

esquecido das virtudesglossário ,

desejando mais os prazeres

que a salvação;

minha alma está morta,

só me importa a carne.”

CARMINA Burana. In: PAIS, Marco Antônio de Oliveira. O despertar da Europa: a Baixa Idade Média. São Paulo: Atual, 1992. página 66.

  1. Essa cantiga é de autoria anônima? Isso era comum entre as obras dos goliardos? Por quê?
  2. Nos últimos versos, os pares de palavras vício e virtude, prazeres e salvação, alma e carne representam ideias opostas. Explique por que esses versos satirizam valores que predominavam na sociedade medieval.
  3. Nos dias atuais, há grupos de jovens que utilizam o humor para criticar autoridades, costumes e valores? Pense em seu cotidiano e dê exemplos.
  1. Observe com atenção a imagem a seguir e faça o que se pede.
    1. Em que época foi criada essa obra?
    2. A que fato histórico e a que época a iluminura se refere?
    3. Descreva detalhadamente o que você vê na imagem, em primeiro plano e ao fundo.
    4. Com base neste capítulo e no anterior, a quais grupos sociais pertenciam as pessoas representadas na iluminura?
    5. Explique quais interesses estavam em jogo no episódio representado na imagem.
Iluminura. Representação de uma multidão de pessoas. Em primeiro plano, ao centro, um homem de cabelos loiros, compridos, vestindo um manto azul e dourado e, na cabeça, uma coroa dourada. À frente dele, um homem vestindo uma túnica vermelha empunha uma cruz em sua direção. Ao redor, diversas pessoas vestindo diferentes túnicas nas cores azul, vermelho e ocre. Entre essas pessoas, à esquerda, um homem com capuz vermelho e outro com túnica branca, com as mãos juntas, em posição de oração. Atrás dessas pessoas, um exército de homens vestindo capacetes e portando lanças. Ao fundo, castelos e áreas verdes onde pessoas caminham e andam a cavalo.
Iluminura do século quinze, de autoria desconhecida, representando a preparação do rei Luís sétimo para a Segunda Cruzada, em 1146.

Glossário

Paródia
: imitação satírica de uma produção artística (teatro, livro, música etc.).
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Ordem religiosa
: instituição subordinada à Igreja Católica, cujos membros fazem determinados votos, isto é, promessas de cumprir uma série de normas de conduta (as regras). Existem diversas ordens religiosas, e cada uma delas tem regras próprias.
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Grilhão
: corrente de metal usada em prisioneiros.
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Vício
: costume moralmente reprovado.
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Virtude
: qualidade considerada moralmente boa.
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