UNIDADE 1  HISTÓRIA E NOSSAS ORIGENS

CAPÍTULO 2 ORIGENS DA HUMANIDADE

Qual é a origem da espécie humana cujo nome científico é Homo sapiens (do latim, “homem que sabe”)? Vários pesquisadores estudam essa questão e buscam pistas da existência dos primeiros grupos humanos.

Ao conhecer o passado desses primeiros humanos, podemos compreender melhor nossos modos de ser e de viver.

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para começar

O que você já pensou sobre a origem do ser humano? Como você imagina que viviam os primeiros grupos humanos? Comente.

Fotografia. Um grupo de pessoas vestindo camisas com mangas compridas e calças, sentados sobre uma área escavada, portando pincéis direcionados a ossadas cobertas de terra. Em segundo plano há mochilas, carriolas e ferramentas.
Arqueólogos trabalham na escavação de uma sepultura em um sítio arqueológico no distrito de Vã, na Turquia. Fotografia de 2021. Depois de analisados, os ossos fornecem pistas sobre os grupos humanos que viveram na região por volta de 750 antes de Cristo
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero seis agá ih zero dois
  • ê éfe zero seis agá ih zero três
  • ê éfe zero seis agá ih zero cinco

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, as origens da humanidade, e de assuntos correlatos, como explicações míticas, religiosas e científicas, o uso de fontes arqueológicas e paleantropológicas, a identificação dos vestígios humanos mais antigos no continente africano, uma classificação dos primeiros hominídeos, a produção e diversidade cultural do Homo sapiens e a caracterização dos períodos Paleolítico e Neolítico.

  • Apresentar algumas explicações para o surgimento da humanidade: a mitologia grega, o criacionismo judaico-cristão e a Teoria da Evolução.
  • Aprofundar a noção de fonte histórica e conhecer as fórmas de trabalho dos paleantropólogos e arqueólogos.
  • Identificar a África como provável continente de origem dos primeiros seres humanos.
  • Investigar dois grandes períodos da história humana: Paleolítico e Neolítico.Para começar
Fotografia. Vista do interior de uma moradia pré-histórica, construída em um buraco no solo, com paredes de pedras e diversos objetos de pedra. Ao redor, vegetação, pessoas e uma praia.
Moradia pré-histórica de Skaarah breí, localizada na Escócia, habitada por grupos humanos entre 3200 antes de Cristo e 2500 antes de Cristo Fotografia de 2017.
Fotografia. Um homem observa as paredes de uma caverna contendo pinturas representando seres humanos e animais.
Turista observa pinturas rupestres no sítio arqueológico Toca da Extrema dois, no Parque Nacional Serra da Capivara, no atual estado do Piauí, datadas de cêrca de 1300 antes de Cristo Fotografia de 2018. A análise das figuras e das cenas representadas fornece pistas sobre as fórmas de vida dos primeiros grupos humanos que habitaram o continente americano.
Orientações e sugestões didáticas

Para começar

Resposta pessoal. A cada novo assunto, é sempre importante mobilizar os conhecimentos prévios dos estudantes – especialmente sobre este tema (a origem do ser humano), pois se trata de uma questão em aberto, por vezes polêmica e que possui teor religioso. O importante é garantir aos estudantes que expressem livremente suas opiniões, curiosidades e dúvidas sobre o assunto. Após a leitura dos textos do capítulo, é interessante retomar a questão e solicitar aos estudantes que comparem suas respostas iniciais com o que aprenderam.

Explicações de nossas origens

Vários povos do mundo desenvolveram explicações para a questão da origem humana. Elas podem ser encontradas nos mitos, nas religiões e nas ciências. A seguir, vamos conhecer três delas.

Mitologia grega

A mitologia grega tem algumas histórias para explicar a origem dos seres humanos. Em uma delas, o titãglossário Prometeu criou os homens a partir do barro. Para terminar sua criação, ele decidiu roubar uma centelha do Sol (fogo divino) e entregá-la aos homens. De acordo com a mitologia grega, porém, o fogo celeste era privilégio apenas dos deuses, seres imortais. Zeus, soberano dos deuses, ficou então furioso, punindo Prometeu e os homens. Como punição, Prometeu foi acorrentado a um rochedo e ali uma águia devorava seu fígado, que, no entanto, se regenerava a cada dia. Depois de sofrer por muito tempo, Prometeu foi libertado.

Já os mortais foram punidos com a criação de Pandora, que representa a primeira mulher. Como muitos personagens da mitologia grega, Pandora era repleta de virtudes e defeitos. Ela foi criada por vários deuses e cada um deles lhe deu um talento especial. Ao final, Zeus confiou a Pandora uma caixa, recomendando que ela jamais a abrisse. Porém, um dia, Pandora decidiu abrir essa caixa e dela saíram todos os males do mundo. Assustada, ela fechou a caixa rapidamente, tendo restado ali dentro apenas o último consolo dos mortais: a esperança.

Pintura. Representação de um homem de cabelos e barbas grisalhos, vestindo uma túnica azul com o tronco a mostra, sentado sobre um trono de nuvens, segurando um raio em uma das mãos, e apontando para o céu com a outra. À sua frente, sob o solo, um grupo de pessoas com destaque para uma mulher de cabelos loiros, vestindo uma túnica clara, segurando um objeto longo e curvo com ambas as mãos, e flores na extremidade inferior. Abaixado ao lado dela, um ser com metade do corpo humano e patas de animal.
Júpiter e Pandora, pintura de Francesco Albani, elaborada por volta de 1660. Na tela, Zeus (Júpiter) ordena a expulsão de Pandora como fórma de punição pela liberação de todos os males da humanidade.
Cena de animação. Imagem representando uma mulher de vestido branco e um lenço, também branco, ao redor da cabeça, segurando uma haste vertical com uma das mãos, em pé sobre uma escadaria em direção a um trono de pedra, sob o qual está sentado um homem de túnica e um lenço branco sobre a cabeça, cobrindo parte de seu rosto. Em segundo plano há constelações de estrelas, nuvens, raízes e troncos de árvores e um planeta de coloração laranja.
Cena da animação brasileira Òrun Àiyé: a criação do mundo, dirigida por Jamile Coelho e Cintia Maria, 2015. A animação narra histórias da criação do mundo e da humanidade segundo a mitologia iorubáglossário , que atribui ao ser supremo Olorum a criação do mundo.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

ÉSQUILO. Prometeu acorrentado. Adaptação de Antonio Carlos Olivieri. São Paulo: éfe tê dê, 2005.

Por meio dessa narrativa podemos conhecer a história de Prometeu, acorrentado a um rochedo e condenado a ali permanecer por toda a eternidade.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O conteúdo desta dupla de páginas contribui para o desenvolvimento da habilidade cê gê dois e da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero três, pois trata dos significados dos mitos grego e judaico-cristão da fundação da humanidade, bem como da hipótese científica de seleção natural das espécies formulada por Charles Darwin.

Orientação didática

O professor pode comentar com os estudantes que, segundo a mitologia iorubá, foi Olorum, ser supremo, quem criou o mundo e os orixás (divindades), além de ordenar a separação entre o Orum (Céu) e o Ayê (Terra). Já a tarefa de criar os seres humanos teria sido confiada por Olorum ao orixá Oxalá. Para mais informações sobre a mitologia e a cultura iorubá, conferir: ALMEIDA, Maria Inez Couto de. Cultura iorubá: costumes e tradições. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2006. Disponível em: https://oeds.link/mepAiP. Acesso em: 27 abril 2022.

Orientação didática

No texto do capítulo, há três explicações sobre a origem do ser humano: a mitológica grega, a criacionista judaico-cristã e a Teoria da Evolução. Essas explicações devem ser comentadas, mas não qualificadas como “verdadeiras” ou “falsas”, pois são de naturezas distintas.

A Teoria da Evolução, como explicação científica, baseia-se em evidências empíricas, passíveis de comprovação, como os registros fósseis, por exemplo. Já a mitologia grega e o criacionismo judaico-cristão são explicações religiosas elaboradas por diferentes povos e cuja aceitação depende, sobretudo, de um ato de fé.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um mito de criação dos indígenas Munduruku, que vivem nos estados do Pará e do Amazonas.

Do mundo do centro da terra ao mundo de cima

No antigo tempo da criação do mundo com toda sua beleza, os Munduruku viviam dispersos, sem unidade e guerreando entre si. Era uma situação muito ruim que tornava a vida mais difícil e indócil. Foi aí que ressurgiu Karú-Sakaibê, o grande criador, que já havia criado tantas coisas boas para este povo.

Contam os velhos que foi ele quem criara as montanhas e as rochas [...]. Era também criação dele os rios, as árvores, os animais, as aves do céu e os peixes que habitam em todos os rios e igarapés. Karú-Sakaibê tendo percebido que o povo que ele criara não estava unido, decidiu voltar para unificá-lo e lembrá-lo como havia sido trazido do fundo da terra quando ele decidiu enfeitar a terra com gente que pudesse cuidar da obra que criara. reticências

reticências àqueles que não eram preguiçosos ele disse:

− Vocês serão o começo, o princípio dos novos tempos e seus filhos e os filhos de seus filhos serão valentes e fortes.

E para presenteá-los por sua lealdade, o grande herói preparou um campo, semeou e mandou chuva para regá-lo. E tão logo a chuva caiu nasceram a mandioca, o milho, o cará, a batata-doce, o algodão, as plantas medicinais e muitas outras que servem, até os dias de hoje, de alimento para essa gente. Ainda os ensinou a construir fornos para preparar a farinha.”

MUNDURUKU, Daniel. Contos indígenas brasileiros. São Paulo: Global, 2004. página 9-12.

Segundo especialistas, as histórias da criação dos seres humanos não ocupam um lugar de destaque na mitologia grega. Mas existem algumas narrativas sobre a criação humana, bem como mitos que mostram interações dos seres humanos com os deuses e os heróis. Na maioria dessas narrativas, os humanos são caracterizados como mortais, ambíguos e contraditórios, conscientes de suas limitações. E, por isso, eles reverenciam os deuses buscando ajuda e proteção.

Criacionismo judaico-cristão

Nas sociedades influenciadas pela tradição judaico-cristã, existe uma explicação para a origem do ser humano baseada em uma interpretação do livro do Gênesis, parte do Antigo Testamento da Bíblia. Observe trechos desse livro:

“No princípio, Deus criou o céu e a terra. reticências

Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra’. reticências

Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.”

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1989. Gênesis 1: 1, 3, 4, 5, 24, 26, 27.

Os trechos citados trazem a ideia de que o ser humano é uma criação especial de Deus, diferenciando-se dos outros animais por sua espiritualidade. Essa espiritualidade se revela, por exemplo, na consciência, na linguagem simbólica, na imaginação artística e no senso ético.

Teoria da Evolução

Em 1859, após anos de pesquisa, o cientista inglês Charles Dárvin (1809-1882) publicou o livro A origem das espécies, no qual propôs que os seres vivos compartilham um mesmo ancestral e que as espécies mudaram, evoluíram e se diferenciaram por meio de uma seleção natural. Essa explicação para a origem dos seres vivos foi chamada de Teoria da Evolução.

Para Dárvin, a Teoria da Evolução também se aplica à espécie humana. Isso significa que nós, como todos os seres vivos, somos resultado de um longo processo de seleção natural, no qual os indivíduos mais adaptados às condições do meio em que vivem obtêm melhores chances de produzir descendentes e, assim, transmitir suas características.

Nas sociedades cristãs do século dezenove, essa teoria provocou grandes polêmicas – Dárvin foi criticado por religiosos e cientistas cristãos. Na época, era difícil aceitar a ideia de que os seres humanos tinham um “parentesco” com outros animais.

Fotografia. Destaque para escultura em pedra branca, de um homem calvo e barba volumosa, sentado sobre uma cadeira, com as pernas cruzadas e apoiando as mãos sobre o seu colo.
Charles Dárvin, escultura de djósef édgar boem, 1885. A obra está exposta no Museu de História Natural de Londres, Reino Unido.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir o texto do biólogo inglês ríchar dáuquins sobre a Teoria da Evolução, desenvolvida por Dárvin

A lenta magia da evolução

“Darwin foi a primeira pessoa a compreender que reticências alguns indivíduos sobrevivem por tempo suficiente para se reproduzir enquanto outros não, e que os que sobrevivem são mais bem equipados para sobreviver do que os outros. Assim, seus filhos herdam os genes que ajudaram os pais a viver mais. reticências Se pernas compridas ajudarem (o sapo ou gafanhoto a saltar e fugir de um perigo, por exemplo, um guepardo caçar gazelas ou uma gazela fugir dos guepardos), os indivíduos com pernas mais longas terão menor probabilidade de morrer. E maior probabilidade de viver tempo suficiente para se reproduzir. reticências Desse modo, em cada geração haverá maior probabilidade de os genes para pernas mais compridas serem transmitidos à geração seguinte. Com o tempo, veremos que cada vez mais indivíduos dessa população possui genes para pernas compridas. Portanto, o efeito será exatamente o mesmo que veríamos caso um criador inteligente – um humano que gerenciasse essa reprodução, por exemplo – escolhesse os indivíduos de pernas compridas para se reproduzir. Só que esse criador não é necessário: tudo acontece por conta própria, naturalmente, como consequência automática de quais indivíduos sobrevivem o suficiente para se reproduzir e quais não. Por isso, o processo é chamado de seleção natural.”

DAWKINS, Richard. A magia da realidade: como sabemos o que é verdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. página 30.

A teoria e a polêmica

Algumas polêmicas ocorreram em virtude de interpretações incorretas da Teoria da Evolução, como a ideia de que os seres humanos descendem dos macacos. O que a Teoria da Evolução sugere é que humanos e demais primatas (macacos, chimpanzés, gorilas etcétera) compartilharam, em algum momento, um mesmo ancestral.

Mas atenção: não se deve pensar na evolução das espécies como um “aperfeiçoamento” em linha reta. A situação se parece mais com uma teia complexa.

Atualmente, a Teoria da Evolução é estudada nas ciências e, assim como todas as teorias científicas, é continuamente questionada, revista e aprimorada.

Quadrinho. História contada em um quadro. Quadro 1: uma fila de pessoas voltadas para um balcão com alimentos expostos em vitrines. Atrás do balcão há um atendente vestindo uma camisa vermelha e um avental branco. Ele possui um balão de fala: Quem chegou aqui primeiro?. Logo à frente, no início da fila, um homem de cabelos castanhos, longos e volumosos, caracterizado como um ser humanos pré-histórico por vestir apenas um pedaço de tecido marrom ao redor da cintura e segurar um pedaço de madeira com uma das mãos, levanta a outra mão para cima.
Frank & Ernest, tirinha de Bob Teivis, 2018.
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responda oralmente

para pensar

Por que a pergunta feita pelo atendente e a resposta, dada pelo personagem caracterizado como um ser humano pré-histórico, causam humor na tirinha?

Os pesquisadores e suas fontes

As investigações sobre os antepassados humanos costumam ser realizadas por pesquisadores das áreas de arqueologiaglossário e de paleantropologiaglossário . Essas investigações geralmente se baseiam em fontes como fósseisglossário humanos e outros vestígios das primeiras sociedades. Com base nessas fontes, os pesquisadores elaboraram hipóteses sobre o desenvolvimento dos seres humanos.

Na construção desse conhecimento, não há respostas definitivas para todas as questões. Trata-se de um conhecimento em constante elaboração, pois muitas perguntas sobre o passado ainda não têm resposta. A qualquer momento novas fontes podem ser encontradas e novas interpretações elaboradas.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Os pesquisadores e suas fontes” contribui para o desenvolvimento da competência cê ê agá seis e da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero dois, pois aborda aspectos sobre a construção do conhecimento histórico.

Outras indicações

Sugerimos a leitura dos seguintes livros que abordam o tema da origem do ser humano:

  • DAWKINS, Richard. A magia da realidade: como sabemos o que é verdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
  • OBEID, Cesar. Quando tudo começou: mitos da criação. São Paulo: Panda búks 2015.
  • TORT, Patrick. Dárvin e a ciência da evolução. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
  • HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2015.

Orientação didática

Ao abordar a Teoria da Evolução, o tema possibilita propor um trabalho interdisciplinar com o professor de Ciências. Vale ressaltar que, no componente curricular Ciências, o tema é desenvolvido no 9º ano, a partir da habilidade ê éfe zero nove cê ih um um(Discutir a evolução e a diversidade das espécies com base na atuação da seleção natural sobre as variantes de uma mesma espécie, resultantes de processo reprodutivo).

Para pensar

A resposta do personagem caracterizado como ser humano pré-histórico causa humor porque pode ser interpretada em duplo sentido, assim como a pergunta feita pelo personagem atendente. O personagem pré-histórico teria sido o primeiro a chegar à fila para comprar petiscos, bem como seria o ancestral dos demais personagens.

Na África, os vestígios mais antigos

Segundo alguns pesquisadores, os fósseis mais antigos de nossos ancestrais estão na África. Esses ancestrais teriam migrado para outros continentes: Ásia, Europa, Oceania e América.

O ser humano e seus “parentes” ancestrais fazem parte da família biológica chamada Hominidae. Entre os hominídeos, vamos destacar o gênero Australopithecus e o gênero Homo.

As espécies mais antigas de Australopithecus viveram na África há cêrca de 4,5 milhões de anos. Caminhavam em pé (bipedismo), em posição semiereta, e tinham estatura média de 1,20 metro e dentes molares relativamente resistentes. Supõe-se que a sua alimentação era à base de vegetais, como gramíneas, raízes, sementes e brotos. Algumas espécies, porém, também se alimentavam de lagartos, ovos e pequenos mamíferos. A maioria dos Australopithecus extinguiu-se há cêrca de 1 milhão de anos.

Fotografia. Destaque para a reconstituição do rosto de um hominídeo do sexo feminino visto de frente, com lábios finos, narinas abertas, bochechas volumosas e pelagem rala e amarronzada.
Reconstituição de uma fêmea da espécie Australopithecus afarensis, nomeada Lucy, feita com base em fósseis de aproximadamente 3,2 milhões de anos encontrados na Etiópia, África, em 1974.

Já as espécies mais antigas do gênero Homo viveram na África há aproximadamente 2 milhões de anos. Entre as principais espécies do gênero Homo estão: o Homo habilis, o Homo erectus, o Homo neanderthalensis e o Homo sapiens. Nesse ramo dos Homo, sobreviveu apenas a nossa espécie, Homo sapiens.

Fotografia. Destaque para sequência de crânios dispostos lado a lado sobre um balcão.
Da esquerda para a direita, réplica de fósseis de crânios das espécies: Australopithecus afarensis, Australopithecus africanus, Homo erectus, Homo neanderthalensis e Homo sapiens. Fotografia de 2018.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

SWINNEN, Colette. A Pré-História passo a passo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Arqueologia, paleontologia, fósseis, darwinismo, domínio do fogo, utensílios de pedra, desenvolvimento da linguagem, habitações, culinária: esses e outros temas são explorados no livro, em linguagem acessível e atraente.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A descoberta dos fósseis de Lucy foi de suma importância para os estudos sobre a evolução humana. Os paleantropólogos encontraram cêrca de 40% dos seus ossos, o que possibilitou ampliar os estudos sobre o gênero Australopithecus e a sua relação biológica com o gênero Homo. Os fósseis foram encontrados pelo paleantropólogo estadunidense donald djonson e o estudante tom grei durante escavações na Etiópia. Pode ser interessante comentar com os estudantes que a fêmea da espécie Australopithecus afarensis recebeu o nome Lucy pelo seguinte motivo: horas depois da escavação, enquanto os pesquisadores comemoravam a descoberta dos fósseis, tocava a canção Lucy in the sky with diamonds (“Lucy no céu com diamantes”) da banda britânica Beatles. Por essa razão, os pesquisadores começaram a chamá-la de Lucy.

Orientação didática

As datações indicadas no capítulo, referentes às espécies do gênero Australopithecus e do gênero Homo, foram retiradas de: LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade. São Paulo: Melhoramentos, 1982; e JOHANSON, Donald; SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

Outras indicações

LEAKEY, Richard. A origem da espécie humana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

Livro em que o arqueólogo queniano Richard Leakey apresenta descobertas importantes de fósseis realizadas no século vinte. Além disso, o autor explica o impacto do bipedismo, das hipóteses paleontológicas atuais, das pinturas rupestres e do desenvolvimento da consciência humana.

Pesquisa fapésp.

Página de divulgação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com diversos artigos, entrevistas, reportagens e vídeos sobre arqueologia. Disponível em: https://oeds.link/8BACCebr/?s=arqueologia. Acesso em: 27 abril 2022.

PAINEL

Gênero ômo

A seguir, observe algumas representações e características de espécies do gênero Homo.

Homo habilis (“homem habilidoso”)

Por que tem esse nome: segundo pesquisadores, esse hominídeo produziu os primeiros instrumentos de pedra e madeira.

Onde e quando viveu: há aproximadamente 2,2 milhões de anos no continente africano.

Outras informações: alimentava-se de vegetais e carne.

Fotografia. Destaque para a reconstituição de um Homo hábilis do sexo feminino, com o corpo coberto por pelagem fina e amarronzada, olhos e nariz pequenos e boca volumosa, segurando um objeto de pedra com as mãos.
Reconstituição representando uma mulher da espécie Homo habilis. A peça está exposta no Museu de Ciências de Barcelona, na Espanha.

Homo erectus (“homem ereto”)

Por que tem esse nome: foi a primeira espécie a ter a postura mais ereta, o que lhe permitia, por exemplo, enxergar a uma distância maior e ter as mãos livres para encontrar sua caça e se proteger de predadores.

Onde e quando viveu: há quase 2 milhões de anos até cêrca de 300 mil anos atrás em regiões dos continentes africano, europeu e asiático.

Outras informações: esse hominídeo aprimorou os instrumentos de pedra e passou a caçar de maneira mais organizada. Além disso, foi o primeiro a utilizar o fogo.

Fotografia. Destaque para a reconstituição de um Homo erectus do sexo masculino, com o corpo coberto de pelos, cabelos volumosos, lábios grossos e barba comprida, segurando uma lança de madeira atravessando o corpo de um peixe.
Reconstituição do Homem de Pequim, fóssil de Homo erectus encontrado na China nos anos 1920.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

A seguir, leia um texto sobre as diversas espécies do gênero Australopithecus e do gênero Homo.

Esqueletos no armário

“Os humanos surgiram na África Oriental há cêrca de 2,5 milhões de anos, a partir de um gênero anterior de primatas chamado Australopithecus, que significa macaco do Sul. Por volta de 2 milhões de anos atrás, alguns desses homens e mulheres arcaicos deixaram sua terra natal para se aventurar e se assentar em vastas áreas da África do Norte, da Europa e da Ásia. Como a sobrevivência nas florestas nevadas do norte da Europa requeria características diferentes das necessárias à sobrevivência nas florestas úmidas da Indonésia, as populações humanas evoluíram em direções diferentes. O resultado foram várias espécies distintas, a cada uma das quais os cientistas atribuíram um nome latino pomposo.

Os humanos na Europa e na Ásia Ocidental deram origem ao Homo neanderthalensis (homem do vale do Neander), popularmente conhecidos como neandertais. Os neandertais, mais robustos e mais musculosos do que nós, sapiens, estavam bem adaptados ao clima frio da Eurásia Ocidental da era do gelo. As regiões mais ocidentais da Ásia foram povoadas pelo Homo erectus, Homem ereto, que sobreviveu na região por quase 1,5 milhão de anos, sendo a espécie humana de maior duração. Esse recorde dificilmente será quebrado, mesmo por nossa própria espécie. É questionável se o Homo sapiens ainda existirá daqui a mil anos, de modo que 2 milhões de anos certamente está fóra do nosso alcance. reticências

Enquanto esses humanos evoluíam na Europa e na Ásia, a evolução na África Oriental não parou. O berço da humanidade continuou a nutrir numerosas espécies novas, como o Homo rudolfensis (homem do lago Rudolf), o Homo ergaster (homem trabalhador) e, finalmente, nossa própria espécie, que, sem modéstia alguma, denominamos Homo sapiens (homem sábio’). reticências

É uma falácia comum conceber essas espécies como dispostas em uma linha reta de descendência, com os ergaster dando origem aos erectus, os erectus dando origem aos neandertais e os neandertais dando origem a nós. Esse modelo linear dá a impressão equivocada de que, em determinado momento, apenas um tipo de humano habitou a Terra e de que todas as espécies anteriores foram meros modelos mais antigos de nós mesmos. A verdade é que, de aproximadamente 2 milhões de anos a 10 mil anos atrás, o mundo foi habitado por várias espécies humanas ao mesmo tempo. E por que não? Hoje há muitas espécies de raposas, ursos e porcos. O mundo de 100 mil anos atrás foi habitado por pelo menos seis espécies humanas diferentes. É nossa exclusividade atual, e não a multiplicidade de espécies em nosso passado, que é peculiar – e, talvez, incriminadora.”

rarari ipissilon êne Sapiens: uma breve história da humanidade. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2015. página 9-10.

Homo neanderthalensis (“homem de Neandertal”)

Por que tem esse nome: fósseis dessa espécie foram encontrados pela primeira vez na região do Vale de Neander, na Alemanha.

Onde e quando viveu: há aproximadamente 135 mil anos até cêrca de 34 mil anos atrás em partes da Europa, do Oriente Próximo e da Ásia.

Outras informações: esse hominídeo desenvolveu instrumentos de pedra, como facas, raspadores e pontas de lança. A construção desses instrumentos exigia muito contrôle nas mãos e uma ideia prévia mais exata do trabalho a ser realizado. Segundo pesquisadores, o Homo neanderthalensis já tinha linguagem falada, cuidava dos mais idosos e dos doentes, além de colocar flores e pedras nas sepulturas quando enterrava seus mortos.

Fotografia. Destaque para a reconstituição de um Homo neanderthalensis do sexo masculino, em pé, segurando uma lança com uma das mãos. Tem os cabelos e barba longos e lisos, lábios finos e veste uma pele de animal marrom ao redor da cintura.
Reconstituição do Homo nearderthalensis exposta no Museu da Evolução Humana, na cidade de Burgos, na Espanha.

Homo sapiens (“homem que sabe”)

Por que tem esse nome: recebeu esse nome por ter desenvolvido a consciência reflexiva, capaz de pensar sobre seu próprio pensar e agir.

Onde e quando viveu: há evidências arqueológicas que datam de cêrca de 200 mil anos atrás encontradas na África.

Outras informações: essa é a espécie da qual fazemos parte, é o ser humano moderno. Além da consciência reflexiva, os sapiens aprimoraram a linguagem falada e escrita, a produção de tecnologia e a capacidade de expressão artística. A partir de 10000 antes de Cristo, desenvolveu a agricultura e a criação de animais, a organização dos primeiros centros urbanos etcétera

Fotografia. Destaque para a reconstituição de um Homo sapiens do sexo masculino, em pé, com cabelos castanhos e longos, barba, lábios finos, vestindo peles de animais ao redor do corpo. Tem as mãos voltadas para a parede de uma caverna, contendo pinturas rupestres.
Reconstituição de crô magnón, um dos mais antigos Homo sapiens, exposta no Museu de História Natural de stutgart, na Alemanha.

Texto elaborado pelos autores com base em: LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade. São Paulo: Melhoramentos, 1982; JOHANSON, Donald; SHREEVE, James. O filho de Lucy. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

Sítios arqueológicos

Os locais onde são encontrados vestígios das atividades humanas são chamados de sítios arqueológicos. O continente africano apresenta muitos desses sítios. Um dos mais conhecidos é Maropeng, localizado na África do Sul, pois lá foram encontrados alguns dos fósseis mais antigos de hominídeos. A palavra “Maropeng”, na língua setisuana, significa “retorno ao local de origem”. Ali existem áreas de escavação que foram consideradas “berço da humanidade”.

Na região de Maropeng foi construído um moderno museu que expõe inúmeros fósseis de hominídeos. Entre esses fósseis, destaca-se um, conhecido como “Senhora Ples”, que consiste em um esqueleto de Australopithecus africanus de mais de 2 milhões de anos; outro, conhecido como “Pezinho”, é um exemplar de um ancestral com idade entre 3,1 e 4,1 milhões de anos.

Fotografia. Quatro pessoas ao redor de uma estrutura de formato arredondado, apoiada no chão por um tripé. Ao redor, artefatos expostos em balões circulares transparentes, pendurados em fios pendentes no teto.
Visitantes observam exposição no Centro de Maropeng, próximo a Johanesburgo, África do Sul. Fotografia de 2018.

Alguns sítios arqueológicos na África

Mapa. Alguns sítios arqueológicos na África. Destaque para o continente africano, com indicações de sítios arqueológicos localizados em seu território. Legenda: círculo vermelho: Australopithecus ramidus; círculo verde: Australopithecus afarensis; círculo rosa: Australopithecus africanus; círculo roxo: Australopithecus robustus; quadrado laranja: Homo habilis; quadrado verde escuro: Homo erectus; quadrado verde claro: Homo neanderthalensis; quadrado amarelo: Homo sapiens moderno; Área cinza: área (provável) de habitação dos primeiros hominídeos. A área cinza se estende do extremo sul até o nordeste do continente africano. Por toda essa área, há diferentes sítios, nessa ordem do sul ao nordeste: Klasies (quadrado amarelo), Blombos (quadrado amarelo), Maropeng (círculo rosa), Sterkfortein (círculo rosa), Swartkrans (quadrado laranja), Makapansgar (círculo verde), Kabwe (quadrado verde escuro), Laetoli (círculo verde), Ndutu (quadrado verde claro), Olduvai Gorge (quadrado laranja), Fort Ternan (círculo vermelho), Nariokotome (quadrado verde escuro), Koobi-Fora (quadrado laranja), Omo (círculo roxo) e Afar (círculo verde). Do centro do continente para o noroeste há os seguintes sítios: Yayo (quadrado verde escuro), Jebel Irhoud (quadrado verde claro), Salé (quadrado verde escuro) e Ternifine (quadrado amarelo). Na parte inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 780 quilômetros.
Fonte: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse, 2007. página 12.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

De acordo com a legenda do mapa, indique o que representam os círculos coloridos, os quadrados coloridos e a área na cor cinza.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Com base no texto “Sítios arqueológicos”, responda às questões a seguir.

1. Por que o sítio arqueológico de Maropeng, na África do Sul, é chamado “berço da humanidade”?

Resposta: É esperado que os estudantes digam que o sítio arqueológico de Maropeng é chamado “berço da humanidade” porque ali foram encontrados alguns dos mais antigos fósseis de hominídeos. De modo geral, diversos pesquisadores consideram que os primeiros ancestrais dos seres humanos surgiram há alguns milhões de anos no continente africano.

2. Que fósseis são exibidos no museu de Maropeng? Cite exemplos.

Resposta: Entre os fósseis em exposição no museu destacam-se a Senhora Ples, um esqueleto de Australopithecus africanus, e o Pezinho, um exemplar de ancestral que teria vivido entre 3,1 e 4,1 milhões de anos atrás. É possível comentar também que o sítio de Maropeng abriga treze áreas de escavação de onde saíram mais de mil fósseis de hominídeos com aproximadamente 7 milhões de anos.

Alerta ao professor

O boxe “Observando o mapa” favorece o desenvolvimento da competência cê ê cê agá seteponto

Observando o mapa

Os círculos coloridos representam os sítios arqueológicos nos quais existem vestígios das espécies do gênero Australopithecus. Os quadrados coloridos representam os sítios arqueológicos nos quais existem vestígios das espécies do gênero Homo. A área na cor cinza representa a provável região de habitação dos primeiros hominídeos.

Omo sápiens e diversidade cultural

Todos os seres humanos que vivem atualmente na Terra pertencem à mesma espécie: Homo sapiens. A diversidade de cor da pele ou cor dos olhos, dos tipos de cabelo ou de estatura diz respeito apenas à aparência física, pois não representa diferenças biológicas profundas.

Homo sapiens significa “homem que sabe”. Essa caracterização da espécie humana leva em conta, principalmente, nossa capacidade de saber tanto sobre as coisas do mundo quanto sobre nós mesmos. Além disso, os seres humanos desenvolveram uma linguagem elaborada, inventaram técnicas e criaram instrumentos, o que melhorou a condição de vida e de sobrevivência.

Combinando trabalho à criatividade, os seres humanos construíram um mundo próprio, que se manifesta por meio de bens materiais (habitações, vestimentas, obras de arte, meios de transporte) e bens não materiais (costumes, religião, ciência). O conjunto de todos esses bens compõe a cultura.

Fotografia. Cinco pessoas em posições de dança, com destaque para uma mulher, ao centro, saltando com um dos braços esticado para cima. Todos vestem roupas coloridas e seguram pequenas sombrinhas com faixas partindo do centro, nas cores amarelo, vermelho, verde e azul. Ao fundo, construções antigas e céu azul.
Dançarinos de frevo se apresentam em Recife. Fotografia de 2020. Com origem no estado de Pernambuco, o frevo é uma fórma de expressão musical considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco.
Fotografia. Vista aérea de uma área urbana formada por casarões coloniais, igrejas e casas. Ao redor, área bastante arborizada e montanhas ao fundo.
Vista do centro histórico da cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Fotografia de 2021. Fundada no século dezoito, Ouro Preto preserva parte da história colonial do Brasil, e suas construções são consideradas patrimônio cultural material da humanidade pela unêsco.

Analisemos, a seguir, por que o desenvolvimento de culturas é um dos traços distintivos dos Homo sapiens.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre bens materiais e imateriais publicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Bens materiais e imateriais

“Somente quando se sente parte integrante de uma cidade ou de uma comunidade é que o cidadão dá valor às suas referências culturais. Essas referências são chamadas de bens culturais e podem ser de natureza material ou imaterial. Os bens culturais materiais (também chamados de tangíveis) são paisagens naturais, objetos, edifícios, monumentos e documentos. Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, aos modos de ser das pessoas.

Assim, o ifãn trata de preservar o patrimônio cultural tanto de natureza material quanto imaterial. reticências Na preservação deste tipo de bem cultural [imaterial] importa cuidar dos processos e práticas, importa valorizar os saberes e os conhecimentos das pessoas. São os ofícios e saberes artesanais, as maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradias, as danças e as músicas, os modos de vestir e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relações sociais e familiares que revelam os múltiplos aspectos da cultura cotidiana de uma comunidade.

A Constituição Federal de 1988, artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial reticências. Nesses artigos da Constituição, reconhece-se também a necessidade de se incluir, no patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade, bens culturais que sejam referências dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.”

BRAYNER, Natália Guerra. Patrimônio cultural imaterial: para saber mais. Brasília: Iphan, 2007. p. 16.

Alerta ao professor

O texto “Homo Sapiens e diversidade cultural” contribui para o desenvolvimento de aspectos do tema contemporâneo transversal Diversidade cultural, ao apresentar como traço inerente à espécie humana a produção de múltiplos bens materiais e não materiais.

Cultura e diversidade

Nós, seres humanos, temos várias diferenças em relação aos outros animais. Nesse sentido, o arqueólogo australiano górdon childeapontou que não temos um couro peludo como o urso-polar para manter o calor corporal em ambiente frio. Não temos a capacidade de correr como uma lebre ou um avestruz. Não temos as garras, os dentes e a coloração protetora do tigre, tampouco a armadura defensiva da tartaruga ou da lagosta. Não temos asas para voar nem olhos semelhantes aos de um gavião, que ajudam a localizar melhor a caça.

Entretanto, o ser humano ajusta-se a um número maior de ambientes do que qualquer outro animal. Nós conseguimos, por exemplo, controlar o fogo e fazer casas e roupas. Assim, podemos viver em qualquer lugar, desde o polo norte até o polo sul da Terra, passando também pelas regiões mais quentes do planeta. Com automóveis, somos mais rápidos que a lebre ou o avestruz. Com aviões, voamos mais alto que a águia. Com telescópios, podemos ver mais longe que o gavião.

O conhecimento necessário para a produção de itens como fogo, casa, roupa, automóvel, avião e telescópio faz parte de nossa atividade cultural. Todos esses elementos estão relacionados a uma tradição desenvolvida por muitas gerações e transmitida por meio da linguagem (fala, gesto, escrita).

Com isso, podemos afirmar que somos seres culturais. Somos criaturas e criadores do mundo em que vivemos. Em muitos aspectos, transformamos a natureza mesmo fazendo parte dela. Nesse processo, criamos coisas extraordinárias, mas também destruímos de modo devastador.

Fotografia. Destaque para dois homens vestindo roupas grossas com pelos nas extremidades e capuzes ao redor da cabeça. Ambos estão em um terreno completamente coberto de neve, próximos a blocos de gelo, organizados em círculo.
Na fotografia, inuítesglossário cortam blocos de gelo para construir um tipo de habitação chamado iglu, em nunavut, Canadá. Fotografia de 2019. O gelo é um dos melhores isolantes térmicos encontrados na natureza. Esse tipo de habitação permite que alguns povos sobrevivam durante invernos muito rigorosos.

Responda no caderno

para pensar

Que criações humanas você considera extraordinárias? E devastadoras? Justifique sua resposta.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto do filósofo francês Edgar Morin sobre as relações entre cultura e natureza.

Complexidade humana

reticências O ser humano, ao mesmo tempo natural e supranatural, deve ser pesquisado na natureza viva e física, mas emerge e distingue-se dela pela cultura, pensamento e consciência. Tudo isso nos coloca diante do caráter duplo e complexo do que é humano: a humanidade não se reduz absolutamente à animalidade, mas, sem animalidade, não há humanidade. reticências

O ser humano nos é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural. O cérebro, por meio do qual pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão, com a qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente culturais. O que há de mais biológico – o sexo, o nascimento, a morte – é, também, o que há de mais impregnado de cultura. Nossas atividades biológicas mais elementares – comer, beber, defecar – estão estreitamente ligadas a normas, proibições, valores, símbolos, mitos, ritos, ou seja, ao que há de mais especificamente cultural; nossas atividades mais culturais – falar, cantar, dançar, amar, meditar – põem em movimento nossos corpos, nossos órgãos; portanto, o cérebro.

Morrã, Edigár. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2002. página 40-41.

Para pensar

Resposta pessoal. Tema para reflexão e debate. Esta atividade pode ser realizada em grupo. Em um primeiro momento, os estudantes podem simplesmente listar as invenções humanas que quiserem e acharem interessantes. Depois, eles podem classificá-las em “extraordinárias” e “devastadoras”, procurando justificar suas respostas. É importante ressaltar que uma não contradiz a outra, de modo que não é raro existirem invenções que sejam, ao mesmo tempo, extraordinárias e devastadoras.

O que é cultura?

Já utilizamos algumas vezes a palavra cultura. Vamos, agora, apresentar alguns de seus sentidos.

Os biólogos, por exemplo, quando se referem à criação de certos seres vivos, falam em cultura de peixes, rosas, milho, feijão etcétera

Na linguagem popular, é comum o uso da palavra cultura para designar um vasto conjunto de conhecimentos (repertório), desenvolvido por uma pessoa por meio de leituras, estudos e experiências de vida em geral.

Com frequência, também deparamos com expressões como casa de cultura, centro cultural e secretaria de cultura. Nesse caso, cultura se refere ao conjunto de atividades intelectuais e artísticas desenvolvido por determinada sociedade.

Assim, os diferentes sentidos da palavra cultura trazem consigo uma ideia básica: a noção de desenvolvimento, formação e realização. Essa noção também faz parte do uso mais amplo que os historiadores dão à palavra cultura.

Cultura são os modos de ser e de viver criados e transmitidos de uma geração para outra. Abrange elementos materiais e imateriais que constituem as artes, as ciências, as normas, os costumes etcétera Cultura envolve o que pensamos e fazemos como membros de um grupo social e engloba as modificações na natureza e na paisagem promovidas pela ação humana.

Fotografia. Quatro pessoas em um palco, vestindo roupas coloridas e compridas. À esquerda, um homem está sentado em frente a um instrumento musical circular com haste, chamado corá, e uma mulher está em pé, ao seu lado. Ao centro, um homem está sentado em frente a um tambor, e à direita, um homem está em pé, com os braços flexionados e uma haste de microfone em frente à boca, partindo de uma de suas orelhas. O palco é formado por uma cortina preta ao fundo, assentos, tapetes, e uma tela na parede com a imagem de um galo.
Contadores de história participam do Festival de contação de histórias em Nairóbi, Quênia. Fotografia de 2018. A transmissão de saberes por meio da tradição oral também faz parte do que chamamos de cultura.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Os textos “Cultura e diversidade”, incluindo o boxe “Para pensar” que o acompanha, e “O que é cultura?” contribuem para o desenvolvimento das competências cê ê cê agá três e cê ê cê agá cinco e da habilidade ê éfe zero seis agá ih zero cinco, pois tratam das modificações na natureza e das paisagens realizadas por diferentes tipos de sociedade, que buscaram se ajustar a ambientes variados e, com isso, produziram culturas.

Atividade complementar

Antes da leitura do texto “O que é cultura?”, formem grupos e expliquem, com suas palavras, o que vocês entendem por cultura.

Resposta pessoal. Esta atividade visa trabalhar os conhecimentos prévios dos estudantes e pode ser realizada oralmente. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, explique que a palavra “cultura possui diversos significados. Os estudantes podem comparar suas noções de cultura com as seguintes acepções dessa palavra:

  1. Conjunto de atividades voltadas para a criação de plantas e animais. exemplo cultivo de soja.
  2. Vasto repertório que uma pessoa ou grupo social adquiriu, sobretudo, por meio da leitura e de estudos. exemplo Clarice Lispector tem cultura.
  3. Modo de ser e de viver de uma sociedade, incluindo sua língua, técnicas, artefatos, alimentos, costumes, mitos etcétera exemplo cultura Tupi-guarani.
  4. Conjunto de atividades intelectuais e artísticas desenvolvidas por uma sociedade. exemplo Secretaria de Cultura.

Primeiras sociedades

Ao pesquisar a história das diferentes sociedades humanas que tiveram origem na África, arqueólogos e outros estudiosos encontram os mais variados vestígios que demonstram os hábitos e as habilidades desses povos. Entre esses hábitos e habilidades estão, por exemplo, a invenção das primeiras tecnologias, o contrôle do fogo, o desenvolvimento dos idiomas, das expressões artísticas e dos ritos religiosos. Todas essas transformações culturais, pioneiramente realizadas por diferentes povos africanos, foram promovendo mudanças na natureza e na paisagem e nas fórmas de relacionamento social.

Agora, investiguemos com mais detalhes alguns desses aspectos da história das primeiras sociedades humanas.

Fotografia. Destaque para um homem de cabelos escuros, curtos e lisos, vestindo uma camisa xadrez de cores vermelho, marrom e branco, e uma calça azul. Está em pé, com o olhar voltado para uma escultura de pedra exposta sobre um suporte, protegida por uma parede de vidro transparente.
Visitante observa escultura no Museu de Arqueologia de Sanliurfa, na cidade de Sanliurfa, Turquia. Fotografia de 2021. Artefatos encontrados em cararrantepe, um dos importantes sítios arqueológicos do Neolítico, período pré-histórico que vamos estudar a seguir, compõem o acervo do museu e demonstram habilidades artísticas dos primeiros grupos humanos.

Paleolítico: povos caçadores-coletores

As pesquisas indicam que os primeiros grupos humanos caçavam, pescavam e coletavam grãos, frutos e raízes para se alimentar, mas não cultivavam plantas nem criavam animais.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia o texto a seguir sobre a escultura paleolítica da Vênus de Willendorf. Esse texto apresenta conteúdo interdisciplinar, relacionando História e Arte.

Vênus de Willendorf

“Há mais ou menos 28 mil anos, alguém andava com uma imagenzinha de mulher, uma escultura de 11 centímetros, e a perdeu, ou perdeu-se com ela em Willendorf, na região de Wachau, na Áustria. Em 1908, um grupo de pesquisadores austríacos escavando uma área do vale do Danúbio a encontrou e revelou ao mundo. Intacta, ao ser lavada pela primeira vez, deixou correr com a água a cor vermelha que a coloria e que ainda resta, pouca, nas reentrâncias do corpo da imagem.

Muitas e muitas figuras femininas já foram encontradas: madeira, osso, pedra, barro. Mas nenhuma, dizem os arqueólogos, secundados pelos historiadores da arte, tão interessante, completa, perfeita, como a Vênus de Willendorf. Feita de calcário oolítico [tipo de calcário com grãos arredondados], ela foi encontrada em uma região onde essa pedra não existe. Ou seja, a figura viajou com seu dono por muitos quilômetros antes que se perdesse ali, esquecida por milhares de anos, até que o nosso tempo a encontrasse. Que importância teria essa escultura para quem a guardava?

Nenhum consenso sobre isso. As ideias clássicas de deusa da fertilidade e mãe terra submetem a imagem a uma adoração religiosa — e uma deusa da fertilidade suporia um grupo já ligado à agricultura, mas esse não era o caso. reticências

Representação divina ou erotismo paleolítico, claramente a escultura tinha alguma importância para quem a fez e para quem a guardou. Mesmo hoje os estudiosos ficam impressionados com o cuidado do acabamento, o refinamento dos contornos, a harmonia das proporções: uma mulher sem rosto, com uma espécie de grande capacete de tranças envolvendo toda a cabeça; ombros estreitos, braços frágeis usando braceletes e quadris muito largos, evidenciando as nádegas, e acompanhando o grande volume da barriga e das coxas; os seios fartos acolhem as mãozinhas postas confortavelmente sobre eles e o monte de Vênus, bem como a vulva, são bastante explícitos. Essa riqueza de detalhes é única no período e obviamente deu à estatuetinha uma repercussão sem precedentes.

E o próprio epíteto, Vênus, já foi também razão de disputas. O problema é que um marquês francês, no século dezenove, inventou de batizar uma escultura feminina pré-histórica (a primeira encontrada) de Vênus impudica, numa paráfrase às tradicionais Vênus chamadas de pudicas porque suas imagens as representam, sempre, cobrindo, ao menos um pouco, partes mais delicadas de seu corpo. Depois do marquês, todas as outras esculturas acabaram sendo chamadas também de Vênus, embora os historiadores da arte reclamem da relação de comparação estabelecida com o padrão clássico grego.”

STROPARO, Sandra M. Objeto arqueológico é uma obra de arte? Gazeta do Povo, 12 abril 2015. Disponível em: https://oeds.link/rMQ9KE. Acesso em: 27 abril 2022.

Muitos desses grupos paleolíticos eram nômades, isto é, não viviam em um local fixo. Consumiam alimentos que encontravam na natureza e, quando esses alimentos se tornavam escassos, mudavam-se para outros lugares. Por isso, foram chamados de caçadores-coletores nômades.

Fotografia. Parede de uma caverna, contendo pinturas rupestres representando animais como bisões, cavalos e cervos.
Pintura rupestre localizada nas cavernas de Lascaux, França. Fotografia de 2021. As pinturas dessa caverna foram produzidas no Paleolítico e são datadas de pelo menos 17.000 anos.

Aos poucos, esses grupos humanos desenvolveram os primeiros instrumentos para caçar, pescar, colher plantas comestíveis, cortar frutos ou mesmo para fazer outros instrumentos, como lanças, arcos, flechas, arpões, lâminas e anzóis. Na fabricação desses instrumentos eram utilizados materiais como madeira, ossos, chifres e pedras lascadas, motivo que levou esse período a ser chamado de Paleolítico (palaiós = antigo, primitivo; líthos = pedra), que significa “velha idade da pedra”.

Artefato. Instrumento de pedra, com base arredondada e extremidade afiada e pontiaguda, apresentando marcas de lascamento.
Instrumento de pedra com ponta afiada produzido no período Paleolítico e encontrado na atual República Tcheca.
Estátua. Objeto de pedra representando um corpo feminino, com seios fartos e abdome volumoso.
Vênus de Willendorf, estátua do período Paleolítico, que representa uma mulher com seios e abdome avolumados. Datada de cêrca de 25.000 anos, a estátua foi encontrada nas proximidades de Willendorf, Áustria, em 1908, e é um dos objetos mais importantes encontrados até hoje do período Paleolítico.

contrôle do fogo

Estudos revelam que, durante os milhões de anos do Paleolítico, nosso planeta passou por intensas mudanças climáticas. Assim, os povos das diferentes regiões do mundo tiveram que se adaptar a essas mudanças, criando ou aperfeiçoando maneiras de viver e sobreviver. Nesse período, uma das conquistas mais importantes dos grupos humanos foi o contrôle do fogo. Mas como esses grupos aprenderam a controlar o fogo?

Supõe-se que, no princípio, eles procuraram manter aceso o fogo provocado ocasionalmente pela natureza (por exemplo, as chamas nos galhos de uma árvore atingida por um raio). Depois, descobriram como produzir fogo pelo atrito entre pedaços de madeira ou lascas de pedra.

O fogo foi utilizado de várias maneiras, por exemplo: para combater o frio intenso; iluminar ambientes escuros; afastar animais predadores; cozinhar alimentos em fogueiras. Esses usos do fogo continuam importantes até hoje. Na iluminação, o fogo foi utilizado até a invenção da lâmpada elétrica em 1879.

Além do contrôle do fogo, os seres humanos começaram a construir abrigos utilizando madeira, peles e ossos. Também passaram a fazer roupas com peles de animais.

Ilustração. Imagem de um grupo de pessoas no interior de uma caverna, dispostos em um círculo, vestindo pedaços de pele de animais. Estão ao redor de uma fogueira contendo uma chama partindo de pedaços de madeira. Um círculo destaca a imagem da fogueira, com duas mãos humanas segurando um graveto fino de encontro a um pedaço de madeira grosso, e da região do contato a presença de uma chama de fogo.
Representação artística de grupo humano reunido em uma caverna ao redor do fogo. No recorte, é ilustrada a técnica de produzir fogo pelo atrito entre pedaços de madeira.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O excerto a seguir, do primatólogo e antropólogo britânico Richard Wrangham, defende a importância do contrôle do fogo e do cozimento de alimentos para o gênero Homo.

O fogo e o gênero Homo

“A pergunta é antiga: de onde viemos? Os gregos da Antiguidade diziam que as fórmas humanas tinham sido moldadas pelos deuses com argila. Hoje sabemos que nossos corpos foram moldados por seleção natural e que viemos da África. No passado distante, muito antes que as pessoas começassem a escrever, a lavrar o solo ou a usar barcos, nossos ancestrais viviam ali como caçadores-coletores. Ossos fossilizados revelam que temos parentesco com africanos que viveram um milhão de anos atrás, ou mais. E eram pessoas com uma aparência muito semelhante à que temos hoje. Nas rochas mais profundas, porém, os registros de nossa humanidade vão diminuindo até por volta de 2 milhões de anos atrás, quando dão lugar a ancestrais pré-humanos e nos deixam com uma questão que cada cultura responde de uma maneira diferente, mas somente a ciência pode verdadeiramente decidir: o que nos tornou humanos?

Este livro propõe uma nova resposta. Acredito que o momento da transformação que deu origem ao gênero Homo, uma das grandes transições na história da vida, brotou do contrôle do fogo e do advento de refeições cozidas. O cozimento aumentou o valor da comida. Ele mudou nossos corpos, nosso cérebro, nosso uso do tempo e nossas vidas sociais. Transformou-nos em consumidores de energia externa e assim criou um organismo com uma nova relação com a natureza, dependente de combustível. reticências

Que sorte a Terra ter fogo. Material vegetal quente e seco faz algo assombroso: queima. Em um mundo cheio de rochas, animais e plantas vivas, a madeira seca, combustível, nos dá calor e luz, sem os quais nossa espécie seria obrigada a viver como outros animais. É fácil esquecer como a vida teria sido sem o fogo. Mas as noites seriam frias, escuras e perigosas, forçando-nos a esperar impotentemente pelo sol. Todos os nossos alimentos seriam crus. reticências

Hoje, precisamos de fogo onde quer que estejamos. Manuais de sobrevivência nos dizem que, se estivermos perdidos na selva, uma de nossas primeiras ações deveria ser fazer uma fogueira. Além de calor e luz, o fogo nos dá comida quente, água mais segura, roupas secas, proteção contra animais perigosos, um sinal para amigos e até uma sensação de conforto interior. Na sociedade moderna, o fogo pode estar escondido de nossa vista, em uma caldeira instalada no porão, capturado no bloco do motor de um carro ou confinado em uma usina termelétrica, mas ainda dependemos completamente dele. Uma ligação semelhante é encontrada em todas as culturas. Para os ilhéus andamaneses caçadores-coletores da Índia, o fogo é ‘a primeira coisa que pensam em levar consigo quando empreendem uma viagem’, ‘o centro à cuja volta suas vidas sociais giram’, e a possessão que distingue os humanos dos animais. Estes precisam de comida, água e abrigo. Nós, humanos, precisamos de todas essas coisas, mas precisamos também de fogo.”

wregan richard. Pegando fogo: por que cozinhar nos tornou humanos. Rio de Janeiro: zarrár 2010. página 7-8; 13.

Outras indicações

A guerra do fogo (França/Canadá). Direção de jeãn jac anô, 1981. 97 minutosponto

O filme aborda a vida de dois grupos de seres humanos pré-históricos e suas principais diferenças: o desenvolvimento da linguagem e a tecnologia de domínio do fogo. Para a reprodução em sala de aula, no entanto, é necessário que o professor faça uma seleção prévia das cenas a serem exibidas, a fim de reproduzir as que forem adequadas para a faixa etária dos estudantes.

Neolítico: sociedades agrícolas e pastoris

A partir de 8000 antes de Cristo, aproximadamente, em algumas regiões do mundo, parte dos grupos humanos começou a polir as pedras para confeccionar instrumentos, como facas, foices e machados. Esses instrumentos cortavam melhor que os instrumentos de pedra lascada, utilizada no Paleolítico. Esse novo período foi classificado como Neolítico (do grego, neo = novo; líthos = pedra; que significa nova idade da pedra).

Artefatos. Dois instrumentos de pedra, ambos de base arredondada e extremidade pontuda e afiada, com superfície polida.
Pontas de pedra polida produzidas no Neolítico. 

Além dos instrumentos de pedra polida, considera-se que uma das principais inovações do Neolítico foi o cultivo de plantas (agricultura) e a criação de animais (pastoreio). Essas atividades se tornariam importantes fontes de obtenção de alimento, juntamente à caça, à pesca e à coleta de grãos e frutos silvestres.

O desenvolvimento da agricultura e da criação de animais ocorreu em várias regiões do mundo, mas em diferentes momentos. Por isso, não é possível utilizar uma data exata de término de um período e início do outro. Na África (região do atual Egito) e no Oriente Médio (região do atual Iraque), esse processo teve início por volta de 8000 antes de Cristo (cultivo do trigo e da cevada e criação de ovelhas, porcos e bois). Na América, alguns pesquisadores acreditam que o processo teve início por volta de 6000 antes de Cristo (cultivo de milho, abacate, pimenta, tomate, abóbora, feijão e criação de patos e perus).

Fotografia. Parede de uma caverna contendo pinturas rupestres, representando animais e pessoas portando diferentes instrumentos, como lanças  e arcos.
Pintura rupestre na caverna Magura, localizada na região da atual Bulgária, produzida em torno de 7000 antes de CristoFotografia de 2015. As cenas registradas nas paredes de rocha ofecerem, milhares de anos depois, indícios sobre a vida e o cotidiano dos primeiros grupos humanos.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Museu Nacional de Arqueologia de Portugal

Disponível em: https://oeds.link/mYUKe3. Acesso em: 18 fevereiro 2022.

O portal do museu reúne páginas com textos e imagens sobre o Paleolítico e o Neolítico.

Sedentarização e produção de alimentos

Durante o período Neolítico, a agricultura e a criação de animais forneceram alimentos para as comunidades humanas. No entanto, outra parte dos alimentos continuou vindo da coleta de frutos, da caça e da pesca.

As novas atividades de produção levaram certos grupos a morar por mais tempo nas terras que cultivavam. Criou-se, assim, um novo modo de vida, chamado sedentarismo, ou seja, certos povos passaram a habitar um mesmo local de fórma prolongada em função, por exemplo, da agricultura.

Os cultivos agrícolas desse período variaram de região para região, destacando-se os de trigo, centeio, cevada, milho, batata, mandioca e arroz. As criações mais comuns eram de carneiros, cabras, bois e porcos.

Aos poucos, com o domínio de técnicas agrícolas e pastoris, muitos grupos foram armazenando alimentos e se organizando em aldeias.

Apesar do enorme avanço tecnológico atual, é possível dizer que a maioria dos alimentos consumidos pela humanidade no século vinte e um derivam de plantas que foram domesticadas entre 8000 antes de Cristo e 3500 antes de Cristo, como trigo, milho, batata, feijão, arroz, centeio, cevada, entre outras. Isso demonstra nossos vínculos com os conhecimentos agrícolas e pastoris dos tempos neolíticos.

Ícone. Atividade oral.

Responda oralmente

para pensar

Você consome algum dos alimentos domesticados no Neolítico? Cite exemplos.

Fotografia. Um homem vestindo uma camisa branca, bermuda cinza e um chapéu com abas na cabeça, em pé sobre uma vala alagada, segurando uma enxada em contato com o solo. Ao redor, terreno com plantações divididas em lotes.
Agricultor manejando água para irrigação de plantação de feijão, em Paramirim, Bahia. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre as inovações técnicas desenvolvidas no Neolítico, com destaque para a produção agrícola.

O Neolítico e a aparição do cultivo e da criação

“Há aproximadamente 12 mil anos antes de nossa Era começa a se desenvolver um novo processo de fabricação de instrumentos, o polimento da pedra. reticências Além dos machados e enxadas que podem fabricar-se pelo polimento de todos os tipos de pedras duras e passíveis de serem afiadas várias vezes, essa época é marcada por outras inovações revolucionárias, como a construção de moradias duráveis, a cerâmica de argila cozida e os primeiros desenvolvimentos da agricultura e da criação.

Entre 10 mil e 5 mil anos antes de nossa Era, algumas dessas sociedades neolíticas tinham, com efeito, começado a semear plantas e manter animais em cativeiro, com vistas a multiplicá-los e utilizar-se de seus produtos. Nessa mesma época, após algum tempo, essas plantas e esses animais especialmente escolhidos e explorados foram domesticados e, dessa forma, essas sociedades de predadores se transformaram por si mesmas, paulatinamente, em sociedades de cultivadores. Desde então, essas sociedades introduziram e desenvolveram espécies domesticadas na maior parte dos ecossistemas do planeta, transformando-os, então, por seu trabalho, em ecossistemas cultivados, artificializados, cada vez mais distintos dos ecossistemas naturais originais. Essa passagem da predação à agricultura, ou seja, a revolução agrícola neolítica, foi sem dúvida, como enfatiza V. G. Childe (1983), “a primeira revolução que transformou a economia humana” (Man makes himself).

Desde seus primórdios, a agricultura humana é bem diferente daquela das formigas ou das térmitas. Cada espécie de formiga ou de térmita cultivadora ou criadora é efetivamente associada a uma única espécie doméstica, que ela cria ou cultiva sempre da mesma maneira, com a ajuda de instrumentos anatômicos (mandíbulas e patas anteriores) e segundo uma organização social imutável. À diferença dessas espécies cultivadoras ou criadoras, diretamente produzidas pela Evolução, o homem não nasceu agricultor: quando ele apareceu, o Homo sapiens sapiens era caçador-coletor. Quando ele começou a praticar o cultivo e a criação, ele não encontrou na natureza nenhuma espécie previamente domesticada, mas domesticou um grande número delas. Não dispunha também de instrumentos anatômicos adaptados ao trabalho agrícola, mas os fabricou de todas as maneiras e cada vez mais poderosos. Enfim, nenhum saber inato ou revelado lhe ditava a arte e a maneira de praticar a agricultura, e graças a isso, ele pôde ajustar livremente os sistemas de cultivo e de criação extraordinariamente variados e adaptados aos diferentes meios do planeta, transformando-os de acordo com suas necessidades e de acordo com suas ferramentas.”

mazoier marcel; roudart lorrãn. História das agriculturas no mundo: do Neolítico à crise contemporânea. São Paulo: Editora Unesp; Brasília: Nead, 2010. página 69-70.

Para pensar

Resposta pessoal. O objetivo desta atividade é aproximar os assuntos estudados das vivências dos estudantes e estabelecer relações entre o passado e o presente. É muito provável que os estudantes já tenham consumido a maioria dos alimentos cultivados citados no texto, como milho, arroz, feijão e trigo. Ressalte que, para satisfazer nossas necessidades nutricionais, é importante consumirmos alimentos variados de fórma equilibrada.

Inovações técnicas do Neolítico

Além da agricultura, da criação de animais e da sedentarização, outras transformações importantes aconteceram no período Neolítico. Muitas delas estavam ligadas a inovações técnicas na:

cerâmica – diversos grupos humanos começaram a produzir utensílios de cerâmica, modelando a argila e aquecendo-a no fogo. Supõe-se que foi a necessidade de cozinhar e de armazenar os alimentos que levou à confecção desses utensílios;

Cerâmica. Objeto de base arredondada, pescoço vertical reto e superfície amarronzada. Possui listras escuras e vermelhas padronizadas pela superfície.
Espécie de vaso de cerâmica encontrado na China, produzido aproximadamente entre 4300 antes de Cristo e 2400 antes de Cristo A produção de utensílios de cerâmica foi uma característica do Neolítico.
  • tecelagem – vários povos começaram a fiar e a tecer, utilizando as pelagens de animais e as fibras vegetais. Surgiram, então, as primeiras roupas de lã, linho e algodão. Antes disso, as vestimentas eram feitas principalmente do couro e de peles de animais;
  • moradia – os grupos humanos também começaram a construir casas mais duradouras, feitas de madeira, barro, pedra e folhagem seca. A edificação desses tipos de moradia está relacionada ao processo de sedentarização.
Ilustração. Imagem de uma área cercada por árvores, com diversas casas com paredes de barro e tetos formados por folhagem seca. À esquerda, um homem segura uma corda ao redor do pescoço de uma vaca em terreno cercado por troncos de madeira. Ao centro, uma mulher e uma criança estão sentados sobre troncos de madeira, voltados para um recipiente contendo um líquido. Pelo terreno há galinhas soltas.
Representação artística de cena do cotidiano de um grupo humano do período Neolítico.

Aldeias e primeiras cidades

As primeiras aldeias sedentárias foram surgindo à medida que as comunidades neolíticas se fixavam em um território. Essas comunidades dedicavam-se principalmente à criação de animais e ao cultivo agrícola.

De modo geral, estudiosos supõem que em muitas comunidades os homens mais jovens praticavam a caça e a pesca. Já as mulheres cuidavam da agricultura, cozinhavam os alimentos, produziam utensílios de cerâmica, teciam roupas e cuidavam das crianças.

Aos poucos, a divisão das tarefas se tornou mais especializada e as aldeias foram se organizando de maneira mais complexa. Isso teria contribuído para o surgimento das primeiras vilas e cidades. Estas incorporaram à sua organização social novos elementos: por exemplo, uma muralha protetora, um templo para cultuar um deus, grupos de sacerdotes: armazéns para guardar os alimentos, guerreiros para cuidar da defesa etcétera

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Em sua vida familiar, existe uma divisão de tarefas da casa? Como ela funciona? Quem cozinha, limpa, cuida das crianças menores, faz compras etcétera?

No Oriente Médio, surgiram algumas das primeiras sociedades urbanas. Entre as cidades mais antigas do mundo, podemos citar: Jericó, na região da atual Palestina; miêdirrá, na atual Jordânia; e xatál ruc, na atual Turquia. Elas se desenvolveram das vilas agrícolas entre 8000 antes de Cristo e 7000 antes de Cristo

Fotografia. Vista de ruínas de paredes de pedras, construídas em terreno irregular. Por toda a área há pedras espalhadas.
Vista das ruínas de uma aldeia neolítica, no sítio arqueológico de miêdirrá, na atual Jordânia. Fotografia de 2014.
Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

Resposta pessoal. Atividade que favorece o desenvolvimento de aspectos do tema contemporâneo transversal Vida familiar e social, ao solicitar que os estudantes identifiquem qual é a divisão de tarefas domésticas em seus cotidianos. Estimule-os a refletir sobre as razões dessa divisão comentando que ainda é comum que as mulheres sejam as principais responsáveis pelo trabalho doméstico. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, 146,7 milhões de pessoas de 14 anos ou mais realizaram algum trabalho doméstico no Brasil. Desse total, 92,1% eram mulheres e 78,6% eram homens (dados disponíveis em: https://oeds.link/9xggZP; acesso em: 27 abril 2022). Caso considere conveniente, verifique se essa distribuição desigual de tarefas ocorre na residência dos estudantes e questione-os sobre os motivos que levariam a essa desigualdade.

Para ajudar a pautar o debate, sugerimos a leitura da matéria “Tudo como antes”, publicada no Jornal da unicâmpi (disponível em: https://oeds.link/pEZRW1; acesso em: 27 abril 2022), que apresenta um estudo sobre a permanência das mulheres como as principais responsáveis pela realização das tarefas domésticas no Brasil.

Alerta ao professor

O texto “Aldeias e primeiras cidades”, incluindo o boxe “Para pensar” que o acompanha, favorece o desenvolvimento das competências cê ê cê agá três e cê ê agá umponto

Metalurgia e desenvolvimento técnico

Ao final do período Neolítico, em cêrca de 4000 antes de Cristo, em algumas das primeiras cidades do mundo, surgiu a metalurgia, técnica que permite a transformação de metais em objetos variados. Essa inovação costuma ser considerada um importante marco do desenvolvimento tecnológico humano.

Em geral, os metais são tão resistentes quanto as pedras, mas oferecem mais possibilidades de modelagem. Quando derretidos pela ação do calor (fusão), os metais assumem as fórmas mais ­variadas. No desenvolvimento inicial da metalurgia, foram utilizados três tipos de metal.

O primeiro metal a ser empregado em grande quantidade foi o cobre. Da mistura do cobre com o estanho, foi obtido o bronze. Por ser mais resistente que o cobre, o bronze tornou-se matéria-prima para a fabricação de espadas, escudos, lanças e martelos.

Artefatos. Dois instrumentos de metal lado a lado. O da esquerda tem base larga, corpo estreito e topo retilíneo com sinal de desgaste. O da direita tem base larga, corpo estreito e curvo, e topo quadrado.
Ponta e punhal de cobre do período Neolítico.

Por volta de 1500 antes de Cristo, povos que viviam na Ásia Menor (­região que atualmente pertence à Turquia) começaram a utilizar o ferro. Os instrumentos feitos de ferro, por sua maior resistência, favoreceram o aumento da produção agrícola e artesanal.

Os artesãos metalúrgicos foram capazes de produzir diversos tipos de objetos e instrumentos, como panelas, vasos, enxadas, machados, pregos, facas e lanças de metal. Instrumentos de pedra, como pontas de flechas e raspadeiras, continuaram sendo utilizados.

Fotografia. Destaque para um homem vestindo uniforme de camisa e calça azuis, capacete, máscara, óculos de proteção e um avental. Ele maneja uma alça conectada há um recipiente suspenso, o qual despeja uma substância líquida incandescente sobre uma fôrma retangular. Ao redor, diversas fôrmas semelhantes em uma linha de produção.
Metalúrgico despejando ferro fundido em moldes, em Cambé, Paraná. Fotografia de 2016.
Ícone. Atividade oral.

Responda no caderno

para pensar

Relacione alguns objetos de metal que existem em sua casa. Por que você acha que esses objetos são feitos de metal? Por que a metalurgia representou uma conquista tecnológica importante para a humanidade?

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Metalurgia e desenvolvimento técnico”, incluindo o boxe “Para pensar” que o acompanha, contribui para o desenvolvimento de aspectos do tema contemporâneo transversal Ciência e tecnologia, pois apresenta marcos do desenvolvimento tecnológico humano e estimula os estudantes a refletir sobre sua importância.

Para pensar

Resposta pessoal, em parte. O objetivo desta atividade é aproximar os assuntos estudados das vivências dos estudantes, estabelecendo relações entre o passado e o presente. Observando o interior de suas moradias, os estudantes podem citar: talheres, panelas, aparelhos eletrônicos, lustres, maçanetas e dobradiças das portas, as caixilharias etcétera Os objetos podem ser feitos de metal por várias razões, entre as quais a durabilidade, a resistência e a aparência desse material. Ressalte que a metalurgia foi uma conquista tecnológica que teve início no Neolítico.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta no caderno.

  1. As pesquisas sobre os antepassados humanos costumam ser realizadas por arqueólogos e paleantropólogos.
  2. Os fósseis mais antigos do gênero Homo foram encontrados na Europa.
  3. Entre todas as espécies do gênero Homo, apenas o Homo sapiens sobreviveu.
  4. Os sítios arqueológicos são locais onde ocorrem, principalmente, atividades como passeios a cavalo e pescaria.
  1. Relacione no caderno as palavras a seguir com suas explicações.
    1. Arqueologia.
    2. Homo sapiens.
    3. Homo erectus.
    4. Paleolítico.
    5. Neolítico.
    1. Período histórico conhecido como “nova idade da pedra”, que se estende de aproximadamente 8000 antes de Cristo até 4000 antes de Cristo
    2. Primeira espécie de hominídeo a ter uma postura mais ereta e a dominar o fogo.
    3. Período histórico conhecido como “velha idade da pedra”, que se estende do surgimento dos primeiros hominídeos até por volta de 8000 antes de Cristo
    4. Ciência que estuda as culturas de povos antigos por meio da análise de vestígios humanos, como instrumentos de pedra, metal, cerâmica.
    5. Espécie de hominídeo caracterizada pela consciência reflexiva, linguagem elaborada, instrumentos sofisticados e sensibilidade artística.
  2. Faça uma lista de algumas das práticas dos grupos humanos no Paleolítico e no Neolítico. Depois, pense na permanência dessas práticas nos dias atuais.
  3. Neste capítulo, você leu expressões como “cêrca de” (representada por “c.”), “aproximadamente” e “por volta de”. Essas expressões são usadas quando não temos certeza de datas, o que é muito comum no estudo do passado distante. No dia a dia, também usamos essas expressões. Reúna-se com um colega e escrevam pelo menos três frases em que elas sejam utilizadas.
  4. Leia o texto e em seguida responda à questão.

“É fantástico imaginar que um dia um homem pré-histórico teve a ideia de que era mais fácil comer a carne dos animais selvagens depois de assá-la no fogo. Ou será que foi uma mulher? Mas antes foi preciso alguém descobrir como fazer fogo. Você imagina o que isso significa? Fazer fogo! Você sabe fazer fogo? Sem usar fósforo, é claro... Fósforo ainda não existia. Com dois pedacinhos de madeira, que a gente esfrega bastante um no outro até eles se aquecerem muito e acabarem pegando fogo.”

gombrit érnést agá Breve história do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. página 23.

Como seria sua vida sem o contrôle do fogo? Responda na fórma de uma história em quadrinhos, de uma charge ou de um texto de diário.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção favorece o desenvolvimento das seguintes competências da BNCC:

cê gê um (atividade 3);

cê gê três (atividades 6 e 7);

cê gê quatro (atividade 5);

cê ê cê agá três (atividades 3 e 6);

cê ê cê agá cinco (atividade 3);

cê ê agá um (atividade 3);

cê ê agá três (atividades 5, 6 e 7).

Oficina de História

Conferir e refletir

1. Estão incorretas as frases b e d, que podem ser corrigidas da seguinte forma:

b) “Os fósseis mais antigos do gênero Homo foram encontrados na África.”

d) “Os sítios arqueológicos são locais onde são encontrados vestígios dos antepassados humanos” ou “Os sítios arqueológicos são locais que podem abrigar pinturas rupestres, fósseis, cerâmicas, ou seja, vestígios de atividades humanas do passado”.

    1. cinco; b) três; c) quatro; d) um e e) dois.
  1. As seguintes práticas do Paleolítico poderão ser apontadas pelos estudantes:
  • a caça, a pesca e a coleta de grãos, frutos e raízes;
  • a construção das primeiras ferramentas e abrigos;
  • o nomadismo e o contrôle do fogo;
  • a criação de pinturas e esculturas;
  • a cooperação e a divisão de tarefas entre membros do grupo.

Entre as práticas do Neolítico, que não existiam na vida dos povos do Paleolítico, podem ser apontadas:

  • a agricultura e a criação de animais;
  • o aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra polida;
  • a cerâmica, a tecelagem e a metalurgia do cobre, do bronze e do ferro;
  • o aparecimento das primeiras aldeias.

Analisando os exemplos citados, podemos perceber que grande parte dessas práticas, como a agricultura, a cerâmica, a pesca, o contrôle do fogo etcétera, é realizada até os dias de hoje.

  1. A atividade pode ser desenvolvida oralmente, remetendo a situações como uma festa (há cêrca de dois meses), um feriado (por volta da época do Carnaval), uma doença na família (aproximadamente há cinco anos), por exemplo.
  2. Resposta pessoal, em parte. O objetivo é desenvolver a criatividade e a capacidade de resolução de problemas dos estudantes, bem como aproximar os conteúdos de suas vivências cotidianas, levando-os a perceber a importância do domínio do fogo para a humanidade. Sem o contrôle do fogo pelos seres humanos, muitas atividades do dia a dia ficariam comprometidas. Podemos utilizar o fogo, por exemplo, para cozinhar alimentos, esquentar água, fundir metais, iluminar ambientes com velas etcétera É possível comentar que o fogo era amplamente utilizado para iluminação até, pelo menos, a invenção da lâmpada elétrica, que ocorreu em 1879. O professor pode recomendar a leitura de um trecho do livro A vantagem humana, da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, sobre o papel do cozimento de alimentos no processo evolutivo dos hominídeos (disponível em: https://oeds.link/AOYILx; acesso em: 27 abril 2022).

integrar com arte

Interpretar texto e imagem

6. Até hoje, encontramos pinturas e desenhos feitos pelos primeiros grupos humanos em diversas cavernas. São as chamadas inscrições rupestres. As cenas pintadas ou gravadas nas paredes de rocha nos permitem, milhares de anos depois, ter uma ideia do que foi viver na época em que elas foram feitas. Observe a cena representada nesta pintura rupestre e responda.

Fotografia. Parede de uma caverna contendo pinturas rupestres, representando cinco bovinos, ao centro, e cinco pessoas, no canto direito. Em destaque, uma figura humana, em pé, observa um dos animais.
Pintura rupestre em caverna do sítio arqueológico de tassilí nagér, na Argélia, produzida entre 4000 antes de Cristo e 2000 antes de Cristo
  1. Em sua interpretação, o que a cena representa?
  2. Ela se refere ao Paleolítico ou ao Neolítico? Justifique sua hipótese com elementos da imagem.

7. Miquelângelo (1475-1564), nascido em Florença (na atual Itália), expressou sua ideia da criação do ser humano em uma obra do século dezesseis.

Pintura. Representação de um homem de cabelos e barba volumosos e compridos, grisalhos, vestindo uma túnica rosa, levitando, com o corpo sustentado por seres de aspecto angelical, com os corpos desnudos. Um de seus braços está esticado para frente e seu dedo indicador indo ao encontro de outro homem, desnudo, de cabelos castanhos e claros, com o corpo apoiado sobre um morro de terra e grama. Seus dedos não se tocam.
Detalhe do afresco glossário A criação de Adão, pintado pelo artista florentino Miquelângelo entre 1508 e 1512 no teto da Capela Sistina, que fica na Cidade do Vaticano.
  1. Qual é o nome dessa obra? Pesquise em qual livro religioso ela foi inspirada.
  2. Essa pintura se relaciona com a concepção criacionista ou evolucionista do surgimento do ser humano? Justifique sua resposta.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

6. A atividade tem como objetivo incentivar a habilidade de observação e análise de fontes históricas.

  1. Na imagem é possível identificar, de maneira mais evidente, pelo menos cinco animais que se parecem com bois e vacas, além de cinco pessoas. A cena sugere que aquelas pessoas criavam os animais.
  2. A cena refere-se ao Neolítico, pois nela está representada a atividade pastoril.

7. a) A obra chama-se A criação de Adão e ela está localizada no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Espera-se que, em suas pesquisas, os estudantes descubram que essa obra foi produzida tendo como inspiração a narrativa bíblica apresentada no livro do Gênesis.

b) A obra se relaciona com a concepção criacionista do surgimento do ser humano. Isso pode ser justificado pela data em que a obra de Miquelângelo foi produzida (três séculos antes da divulgação das ideias evolucionistas); pelo local (teto de um templo cristão); e por elementos da própria pintura. Nela, observamos um homem mais velho (uma representação de Deus) prestes a tocar a mão de um homem mais jovem (representação dos seres humanos). Além disso, figuras de anjos compõem a pintura.

Glossário

Titã
: gigante que, segundo o mito grego, habitava a Terra antes da criação do homem.
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Iorubá
: um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África.
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Arqueologia
: ciência que estuda os vestígios produzidos pelas sociedades do passado, como instrumentos de pedra, peças de cerâmica e sepulturas.
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Paleantropologia
: ciência que estuda os fósseis humanos. Em geral, os fósseis comumente encontrados são as partes mais resistentes do corpo, como ossos e dentes.
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Fóssil
: refere-se a organismos, restos deles ou ainda vestígios de sua existência no ambiente, que se conservaram por milhares ou milhões de anos.
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Inuíte
: nome pelo qual são conhecidos os povos indígenas que vivem entre o Alasca e a Groenlândia.
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Afresco
: pintura feita em paredes, tetos ou muros, em geral em uma base de gesso ou de argamassa. Os afrescos utilizam tintas à base de água.
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