UNIDADE 4 SOCIEDADE E RELIGIÃO

CAPÍTULO 10 BIZÂNCIO E ISLAMISMO

Os bizantinos e os árabes fundaram duas importantes religiões monoteístas: o cristianismo ortodoxo e o islamismo.

Atualmente, calcula-se que existem mais de 200 milhões de cristãos ortodoxos ecêrcade 1,3 bilhão de seguidores do islamismo. Neste capítulo, vamos estudar aspectos das sociedades bizantina e árabe, bastante marcadas pela religiosidade.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para começar

Qual elemento cultural você considera marcante na sociedade em que vive? Pense em exemplos como música, esporte, lazer, trabalho, religiãoetcétera

Fotografia. Um grupo de homens em pé, enfileirados lado a lado. Destaque para um homem com barba volumosa e grisalha, vestindo um manto branco, azul e dourado e um chapéu preto, segurando uma bandeja com uma cruz, ao centro. Nas laterais, edifícios e construções.
Sacerdote ortodoxo carregando uma cruz durante a cerimônia do Dia da Epifania, comemorado em 6 de janeiro, na cidade de Tessalônica, Grécia. Fotografia de 2019. Essa cerimônia é celebrada todos os anos pelos cristãos ortodoxos e relembra o batismo de Jesus.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero seis agá ih um quatro
  • ê éfe zero seis agá ih um cinco

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, o Império Bizantino e o islamismo, e de assuntos correlatos, como as fórmas de contato, adaptação e exclusão entre os bizantinos e outros povos; aspectos e processos sociais, políticos, religiosos e econômicos do Império Bizantino; expressões artístico-culturais bizantinas; o surgimento, os fundamentos e a expansão do islamismo; as principais atividades econômicas e produções científicas e culturais das sociedades muçulmanas; e as dinâmicas de circulação de pessoas, produtos e culturas no Mar Mediterrâneo envolvendo bizantinos, muçulmanos e outras sociedades.

  • Estudar as interações entre diversos povos da África, Ásia e Europa na sociedade bizantina.
  • Conhecer aspectos da sociedade e da cultura bizantinas, com destaque para a vida religiosa.
  • Identificar a região da Arábia e caracterizar as sociedades que viviam ali antes do surgimento do islamismo.
  • Compreender, em linhas gerais, os fundamentos da religião muçulmana e seu papel na organização social e política dos povos da Arábia.
  • Analisar a expansão da cultura árabe por várias regiões do mundo, sobretudo no entorno do Mar Mediterrâneo.
  • Valorizar as produções culturais, científicas e artísticas dos muçulmanos.

Para começar

Resposta pessoal. Apontamos no texto de abertura do capítulo que a religião foi marcante na cultura bizantina e islâmica. Esta atividade propõe um exercício de autoconhecimento cujo objetivo é levar o estudante a expressar aquilo que considera importante na cultura do país no qual ele vive e tomar consciência da formação de seus valores e de sua visão de mundo.

Fotografia. Um grupo de rapazes de diferentes idades, todos vestindo roupas brancas rodadas e chapéus marrons sem abas, realizando posições de dança, com os braços cruzados sobre seus peitos. Sobre o chão, uma tapeçaria vermelha com detalhes dourados. Ao redor, pessoas sentadas em cadeiras observam.
Dervixes em cerimônia durante o mês do Ramadã, em Damasco, Síria. Fotografia de 2021. Os dervixes são adeptos do sufismo, uma corrente mística do islamismo. Entre seus rituais, há uma dança em que os praticantes rodopiam como fórma de adoração.
Fotografia. Uma multidão de homens ajoelhados no interior de um grande templo, lado a lado. Pendem do teto lustres iluminados e placas arredondadas com textos islâmicos.
Muçulmanos oram na Mesquita de Santa Sofia, em Istambul, Turquia. Fotografia de 2022.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A abertura de capítulo e o boxe “Para começar” favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê gê oito, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro e cê ê agá quatro.

Império Bizantino

A capital do Império Romano do Oriente era Constantinopla, que foi fundada no lugar onde existia a antiga colônia grega de Bizâncio, por isso o império ficou conhecido também como “Império Bizantino”.

Foi durante o governo de Justiniano (527-565) que o Império Bizantino se expandiu. Para reconquistar territórios que haviam pertencido ao Império Romano, Justiniano promoveu campanhas militares, combatendo germanos, persas e eslavos.

Império Bizantino: expansão territorial (século VI)

Mapa. Império Bizantino: expansão territorial (século seis). Destaque para parte da Europa, Ásia e África banhados pelos mares Mediterrâneo, Negro e Vermelho. Em verde claro, Império Bizantino, compreendendo áreas no leste da Ásia, no norte da África e no sul da Europa, abrangendo as cidades de Constantinopla, Tessalônica, Éfeso, Edessa, Atenas, Sinope, Selêucia, Trebizonda, Antioquia, Tarso, Jerusalém, Cairo, Alexandria, Cirene e Ptolemaida. Em verde listrado, Territórios do antigo Império Romano do Ocidente retomados pelos bizantinos no reinado de Justiniano, compreendendo áreas no norte da África e no sul da Europa, incluindo as cidades de Cartagena, Milão, Ravena, Roma, Cesareia, Cartago e Trípoli. No canto inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 420 quilômetros.
Fontes: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de êti ól Atlas histórico escolar.oitava edição Rio de Janeiro: FAE, 1986. página 96-97; rrérman, quínder; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982.página 144.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

  1. Cite algumas cidades que foram retomadas pelos bizantinos no século seis.
  2. Nessa época, em quais continentes o Império Bizantino tinha territórios?

Tantas guerras trouxeram grandes despesas: era preciso pagar os soldados, fornecer armas para o exército e sustentar seu abastecimento. Para cobrir esses gastos, os governantes cobravam altos impostos da população.

Além de suas conquistas militares, Justiniano se destacou por suas realizações no campo do Direito. Logo que assumiu o poder, ele encarregou importantes juristas de organizarem normas do Direito romano adaptando-as às necessidades do cristianismo. Esse trabalho resultou no Código de Justiniano e em outras obras jurídicas. Por meio delas, muitas instituições do Direito romano chegaram aos nossos dias.

A partir do governo de Justiniano, os imperadores bizantinos usaram a religiosidade cristã para consolidar o poder e manter a unidade do império. Adotando o título de basileu (do grego, “autoridade suprema”), os imperadores tinham poder para mandar nos assuntos do Estado e da Igreja. Essa união do poder político (césar) e do poder religioso (papa) nas mãos do imperador bizantino é chamada césaropapismo.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Império Bizantino”, incluindo o boxe “Observando o mapa” que o acompanha, favorece o desenvolvimento das compe tências cê ê cê agá sete, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco, na medida em que descreve as dinâmicas de circulação de pessoas, produtos e culturas no Mar Mediterrâneo visando à construção do Império Bizantino.

Observando o mapa

  1. No século seis, os bizantinos retomaram territórios do antigo Império Romano do Ocidente, que incluíam as cidades de Cartagena (ao sul da Península Ibérica), Roma, Milão e Ravena (na Península Itálica) e Cesareia, Cartago e Trípoli (ao norte do continente africano).
  2. O Império Bizantino tinha territórios na Europa, Ásia e África. Ressalte que, durante o século seis, esse império atingiu sua maior extensão territorial.

Orientação didática

Cesaropapismo indica um sistema de relações entre Estado e Igreja, em que o chefe do Estado é também o chefe supremo da Igreja. Portanto, uma característica central desse sistema é a subordinação da Igreja ao Estado, de tal maneira que, em certos casos, a instituição religiosa tornou-se um órgão da instituição estatal.

Comente com os estudantes que o cesaropapismo (“césar” designando o poder político, e “papa”, o poder religioso) não foi, em rigor, uma característica exclusiva do Império Bizantino. Em várias sociedades do mundo antigo (Egito, Mesopotâmia e Roma, por exemplo), o poder do governante estava ligado a atributos religiosos. No Egito, o faraó era o governante supremo e também considerado um deus vivo. Na Mesopotâmia, os governantes eram considerados representantes dos deuses. Em Roma, o imperador recebia culto religioso.

No ano de 380, o imperador romano Teodósio proclamou o cristianismo como religião oficial do Estado, abolindo as práticas politeístas. A partir daí, até a queda do Império Romano do Ocidente (476) e do Império Bizantino (1453), o cesaropapismo encontrou sua expressão histórica mais completa.

Posteriormente, não foram poucas as sociedades que atribuíam uma origem divina ao poder dos reis. A desvinculação entre autoridade religiosa e política foi um processo lento impulsionado pelo Iluminismo, que considerava que a religião constituía assunto privado, e não público. Portanto, não deveria haver uma religião oficial do Estado a ser imposta aos súditos ou cidadãos.

No Brasil, tanto no período colonial como durante o império, o catolicismo foi considerado a religião oficial do Estado e as relações entre essas instituições eram reguladas pelo padroado, que se expressava por meio de vínculos de subordinação da Igreja Católica ao Estado. No caso brasileiro, o fim do padroado somente ocorreu com a proclamação da República, que instituiu o Estado laico no país.

Economia

A agricultura e o pastoreio eram atividades fundamentais na economia bizantina. No entanto, a produção de alimentos não era suficiente para atender satisfatoriamente às necessidades da maioria da população.

Ao lado da produção agropastoril, o comércio bizantino era uma das principais atividades econômicas do império. Essa atividade era favorecida pela localização de Constantinopla, pois a cidade ficava no caminho de rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia. Os principais produtos comercializados no império incluíam:

  • artigos de luxo: perfumes, seda, porcelana e vidro, feitos por artesãos chineses, árabes, persas ou indianos e revendidos aos europeus ricos;
  • produtos agrícolas: trigo, especiarias, vinho e azeite, produzidos no norte da África, na Grécia e na Síria;
  • artesanato: joias, tecidos e artigos de ouro e marfim feitos em cidades bizantinas.

O comércio ativo e lucrativo contribuiu para o desenvolvimento da vida urbana. Constantinopla permaneceu como a principal cidade do império, atingindo cêrca de um milhão de habitantes no século onze. Mas existiram outras cidades importantes, como Tessalônica, Niceia, Trebizonda e Tarso.

Gravura. Uma cidade cercada por muros e torres de pedra em disposição circular. Em seu interior há casas, árvores, moinhos, templos e castelos. Ao redor há outras construções e ao fundo cadeias de montanhas.
Gravura do século quinzerepresentando Constantinopla na Idade Média.

Com o objetivo de controlar os preços e o abastecimento das cidades, o governo bizantino interferia nas atividades econômicas do império. Era dono de negócios de pesca e de produção de metais, armas e tecidos. Além disso, supervisionava a qualidade e a quantidade de mercadorias produzidas.

Moeda. Objeto circular de metal, contendo uma cruz no centro e inscrições ao redor.
Moeda de prata que circulava em Constantinopla, capital do Império Bizantino, cêrca de 720-741.
Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Uma interpretação da economia bizantina. Revista de História. [S. l.], número111, página 19-49, 1977.

Artigo que procura compreender como os bizantinos encaravam a economia em sua época.

Grupos sociais

A maioria da população do Império Bizantino era formada por servos e escravizados, que trabalhavam em grandes propriedades rurais (latifúndios). Os grandes proprietários rurais eram os mosteiros e os nobres.

Quase todo o trabalho nos latifúndios era feito pelos servos, que dependiam da terra para viver. Além da agricultura e da criação de animais, os servos e os escravizados do campo trabalhavam nos serviços domésticos, na mineração e na construção civil.

Já nas cidades bizantinas, a população era formada por diversos grupos sociais, como escravizados, artesãos, pequenos comerciantes e funcionários de médio e baixo escalão do governo. Os artesãos organizavam-se em corporações de ofício, formadas por quem trabalhava no mesmo ramo – como carpintaria, tecelagem ou sapataria.

Além desses grupos, havia uma elite urbana composta de grandes comerciantes, donos de oficinas de artesanato, membros do clero e altos funcionários do governo. Eles consumiam artigos de luxo, como roupas de lã e seda bordadas com fios de ouro e prata, vasos de porcelana e tapeçarias.

A vida em Constantinopla era considerada mais confortável do que em outras cidades bizantinas. No entanto, essa condição não era desfrutada por todos. Os trabalhadores livres que ganhavam pouco, por exemplo, nem sempre conseguiam comprar roupas e pagar por uma moradia. Muitos viviam pelas ruas de fórma miserável.

Ilustração. Pessoas vestindo diferentes trajes: 1 – Homem de cabelo curto e barba grisalha, vestindo túnica vermelha e roxa com manto azul; 2 – Homem de cabelo curto e barba curta castanho, vestindo túnica roxa e verde com manto vermelho; 3 – Homem de cabelo curto castanho, vestindo túnica verde e vermelha com manto roxo e dourado; 4 – Homem de cabelo curto e barba curta castanha e chapéu branco em formato cilíndrico, vestindo manto vermelho, dourado e azul; 5 – Homem de cabelo curto castanho e chapéu branco em formato cilíndrico, vestindo manto roxo; 6 – Homem de cabelo curto e barba longa branca, vestindo manto branco e azul com faixa branca e cruzes vermelhas, está segurando um livro dourado e vermelho; 7 e 8 – Dois homens de cabelo curto e barba curta castanha, chapéu vermelho, vestindo manto vermelho, dourado e azul; 9 – Homem de cabelo curto e barba média castanha, vestindo túnica vermelha e manto verde; 10 – Homem de cabelo curto e barba longa castanha, vestindo túnica branca e manto vermelho; 11 – Homem de cabelo curto castanho, vestindo túnica vermelha e manto verde; 12 – Em branco e preto, banco adornado com um manto. 13 – Ilustração em preto e branco de um homem calvo com cabelo lateral, vestindo túnica e um manto; 14 – ilustração em preto e branco de um homem de cabelo curto, vestindo túnica longa, sentado em um trono, segurando um cetro; 15 – castiçal longo com uma vela acesa; 16 – Homem de cabelo curto e barba longa branca, vestindo túnica azul e manto rosa e dourado, está segurando um livro vermelho e dourado; 17 – Ilustração em preto e branco de homem de chapéu cônico, vestindo túnica longa com faixa central com cruzes; 18 – Homem de cabelo curto e barba longa grisalha, vestindo túnica laranja e manto azul, está segurando um livro vermelho e dourado; 19 – Homem de cabelo curto grisalho, vestindo manto longo dourado e azul, está sentado em um trono; 20 – Homem de cabelo curto castanho, vestindo túnica azul e manto roxo, está sentado em um trono marrom e vermelho e usa uma coroa; 21 – Mulher de cabelo longo castanho, vestindo túnica verde com manto marrom, segurando um livro vermelho e dourado, está sentada em um banco azul e vermelho; 22 - Em branco e preto, trono adornado com um manto.
Ilustração de trajes civis e religiosos do Império Bizantino, entre os séculos cinco e onze, extraída do livro História da moda, do ilustrador Albert Racinet, 1876.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

BELTRÃO, Cláudia. O mundo bizantino. São Paulo: FTD, 2002. (Coleção Para conhecer melhor).

Obra sobre o mais duradouro império da Idade Média: aspectos geográficos, o governo de Justiniano, a economia, a sociedade, a religião, a administração e a vida cotidiana.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Museu Bizantino e Cristão

Disponível em: https://oeds.link/bgKaup. Acesso em: 4 janeiro 2022.

A página conta a história do Museu Bizantino e Cristão, em Atenas, descreve a arquitetura do edifício e seus jardins e apresenta o acervo.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir aborda aspectos da situação das mulheres na sociedade bizantina.

Mulheres bizantinas

No Império Bizantino, as mulheres eram responsáveis por cuidar dos filhos, preparar a comida, confeccionar roupas e manter a casa limpa.

As mulheres ricas e casadas raramente saíam de suas casas. Em geral, a chefia da família e o sustento da casa eram tarefas do marido. Para ir à igreja ou aos banhos públicos, elas cobriam a cabeça com um véu.

Já as mulheres pobres precisavam trabalhar fóra de casa para sobreviver. Elas atuavam na agricultura, na criação de animais, no artesanato (sobretudo de tecidos), no comércio (principalmente como vendedoras de alimentos). Algumas mulheres eram donas de lojas e oficinas de artesanato.

Havia também médicas e enfermeiras que tratavam da saúde das mulheres. Em um hospital de Constantinopla, as enfermeiras recebiam o mesmo salário que os enfermeiros. Porém, as médicas ganhavam cêrca de metade do que era pago aos médicos.

Muitas mulheres bizantinas viviam em mosteiros femininos. Ali, elas podiam alcançar certo grau de educação e conquistar posições de responsabilidade. Porém, eram limitadas pela autoridade masculina. Apenas homens, por exemplo, podiam celebrar missas.

Na sociedade também havia atrizes, bailarinas, cantoras, flautistas. Teodora (cêrca de 497-548) era atriz e bailarina. Em 525, ela se casou com Justiniano. Dois anos depois, seu marido se tornou imperador e Teodora recebeu o título de imperatriz.

Teodora tinha inteligência notável e perspicácia política, sendo uma importante conselheira de Justiniano. Segundo historiadores, ela foi uma das primeiras governantes a reconhecer o direito das mulheres, pois aprovou leis para proibir o tráfico de jovens mulheres e beneficiar as esposas que se divorciavam.

Texto elaborado pelos autores.

Revolta de Nika

O Hipódromo de Constantinopla era uma grande arena com capacidade para, aproximadamente, 50 mil pessoas. Lá eram realizados espetáculos teatrais, festas populares e corridas de cavalo. Era um dos poucos lugares públicos onde a multidão tinha certo contato com o imperador, que comparecia frequentemente aos espetáculos.

No hipódromo, dois grandes grupos rivais se reuniam e expressavam suas reivindicações ao imperador. Eram os Verdes, do qual participavam comerciantes e artesãos, e os Azuis, compostos sobretudo de aristocratas rurais. Esses grupos mantinham variadas disputas políticas, esportivas e religiosas. Segundo historiadores, eles se pareciam com as atuais “torcidas organizadas”.

Em 532, o hipódromo estava lotado de torcedores Verdes e Azuis. Após uma corrida de cavalos, houve dúvida sobre quem teria vencido a disputa. O imperador Justiniano estava presente e quis escolher o vencedor. Mas os grupos políticos, que estavam divididos entre os dois competidores, começaram a gritar: Nika! Nika! (“Vitória! Vitória!”, traduzido do grego). Cada grupo desejava que seu competidor favorito fosse o vitorioso.

A confusão do jogo tornou-se um violento protesto popular. Do hipódromo, o conflito foi para as ruas e se transformou em uma rebelião com saques, destruições e incêndios. Justiniano pensou em fugir, mas desistiu depois de ouvir os conselhos de sua esposa, Teodora. Ele mandou reprimir os revoltosos, massacrando cêrca de 35 mil pessoas.

O estopim da Revolta de Nika ocorreu durante um espetáculo esportivo. No entanto, as causas da revolta eram amplas e profundas. Quando analisadas, revelam, por exemplo, a insatisfação popular em relação aos altos impostos cobrados pelo governo.

Esculturas. Quatro cavalos metálicos em exposição. Estão lado a lado, com as patas em suportes no chão. Ao fundo, paredes de tijolos.
Cavalos de bronze de Constantino, também conhecidos como Cavalos de São Marcos ou Quadriga triunfal. Esculturas feitas no séculoquatroantes de Cristo, possivelmente pelo grego Lísipo, que teriam sido enviadas no século quatro Depois de Cristoa Constantinopla, para ornamentar o hipódromo.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a estabilidade e a longevidade do Império Bizantino.

A estabilidade do Império Bizantino

A Revolta de Nika foi um momento de conturbação política interna em Bizâncio. Porém, a vida bizantina, vista de um plano mais alto, foi marcada pela estabilidade institucional, apesar das guerras externas. Entre os elementos garantidores dessa estabilidade, podemos destacar a burocracia governamental. Essa burocracia contava com funcionários alfabetizados e educados nas técnicas da administração pública.

Para efeito de comparação, devemos lembrar que, a partir da queda do Império Romano do Ocidente, o analfabetismo foi dominante entre aqueles que não exerciam cargos religiosos. Isso dificultava a formação de funcionários públicos qualificados. Tal situação foi diferente em Bizâncio, onde o Estado valorizava a educação voltada para a preservação da cultura greco-romana.

Em Bizâncio, quase todas as práticas sociais dos súditos parecem ser assuntos de Estado. Desse modo, podemos dizer que a administração pública, exercida pelos funcionários, supervisionava instituições educacionais e religiosas, bem como controlava as atividades econômicas, regulando sua produção e distribuição, preços e salários, associações profissionais etcétera. Além disso, a burocracia estatal contribuía para a organização da atividade militar, jurídica e diplomática.

A burocracia e o comércio constituíam um sistema de relações recíprocas. De um lado, a burocracia governamental ajudou a estimular as atividades econômicas, especialmente o comércio. De outro, a pujança desse comércio sustentou a burocracia governamental.

Texto elaborado pelos autores.

Cisma do Oriente

Além das tensões sociais, ocorreram diversos conflitos religiosos e políticos entre autoridades do Império Bizantino e da Igreja Católica Romana. Ao longo dos séculos, esses conflitos resultaram no Grande Cisma do Oriente (1054), que dividiu o mundo cristão em duas Igrejas:

  • a Igreja Ortodoxa, com séde em Constantinopla e sob o comando do patriarca da cidade, indicado pelo imperador bizantino;
  • a Igreja Católica, com séde em Roma e sob o comando do papa.
Mosaico. Um homem de barba e cabelos castanhos, vestindo uma túnica azul ao centro, segurando um livro com uma das mãos contendo uma cruz cravejada na capa. Nas laterais, um homem e uma mulher, ambos vestindo túnicas coloridas e coroas cravejadas de pedras coloridas. Os três apresentam auréolas circulares ao redor de suas cabeças.
Mosaico do séculoonzeque mostra Jesus Pantocrator (“o criador de tudo”) entre o imperador Constantinonove e a imperatriz Zoe. Foi nessa época que ocorreu o Grande Cisma do Oriente.

Declínio do Império Bizantino

Ao longo de sua história, o Império Bizantino foi alvo de constantes ataques externos. Apesar disso, o império durou até a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453. Essa data é usada como marco tradicional para indicar o fim da Idade Média.

Uma das consequências do domínio turco foi o aumento dos preços e dos impostos cobrados dos comerciantes europeus que iam a Constantinopla comprar produtos asiáticos. Assim, esses produtos ficaram mais caros e mais difíceis de ser encontrados na Europa Ocidental.

O Império Bizantino chegou ao fim, mas aspectos de sua cultura foram preservados por diversas sociedades do Ocidente e do Oriente. Muitos sábios bizantinos mudaram-se para a Itália, levando seus conhecimentos da cultura greco-romana.

Pintura. Multidão de homens adentrando uma edificação com abertura em arco sobre muros de pedra. Eles vestem túnicas coloridas e lenços brancos ao redor da cabeça. Portam espadas, lanças e hastes com bandeiras. Destaque para um homem, ao centro, sobre o dorso de um cavalo de pelagem escura, utilizando uma coroa na cabeça e empunhando uma haste com tecido verde. Sobre o solo, corpos de pessoas amontoados. Em segundo plano nota-se fumaça escura.
Entrada de Maomé segundo em Constantinopla em 29 de maio de 1453, óleo sobre tela de Jean-Joséf Benjamin-Constant, 1876. Essa obra representa a conquista dos bizantinos pelo sultão do Império Otomano.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre o declínio do Império Bizantino.

Declínio do Império Bizantino

reticênciascom o advento da dinastia Macedônica (867-1056), o Império Bizantino conheceria seu apogeu. Retomou-se a ofensiva contra os árabes, coroada pela reconquista de Creta e Chipre, que davam novamente a Bizâncio o controle sobre o Mediterrâneo [e outras regiões]. reticênciasBaseada nesse extenso território, numa fôrça militar respeitada, numa agricultura produtiva com suas pequenas propriedades, num comércio intenso, Constantinopla era a mais brilhante cidade do mundo. Correspondentemente, a produção cultural naquele período foi bastante rica.

Mas todo esse poder e prestígio afastara Bizâncio do Ocidente, o que culminou em 1054 com a separação das suas Igrejas, e em 1204 com uma traiçoeira ocupação de Constantinopla por parte dos cruzados, teoricamente aliados contra os muçulmanos. Desta fórma, por mais de meio século os ocidentais dominaram a grande cidade e alguns outros territórios formando o Império Latino de Constantinopla (1204-1261). reticênciasPor fim, com a ajuda de Gênova,reticências os bizantinos reconquistaram Constantinopla.

reticências no Baixo Império (1261-1453) que começava, Bizâncio não foi nem sombra do período anterior. Muitos territórios tinham sido perdidos durante a ocupação latina e não havia mais condições de se recuperá-los. reticências O comércio tornara-se uma atividade totalmente dominada pelos ocidentais, primeiro venezianos depois genoveses. Diante desse quadro, não é de surpreender que a outrora poderosa Constantinopla reticências tenha caído em 1453 frente aos turcos. O império chegava ao fim, mas sua civilização continuou sobrevivendo em muitas regiões reticências.”

FRANCO JÚNIOR, Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. Império Bizantino. São Paulo: Brasiliense, 1985. página 45-47. (Coleção Tudo é História).

Cultura bizantina

No Império Bizantino, viviam pessoas de diferentes povos: egípcios, gregos, persas, eslavos, sírios e judeus. As trocas culturais entre esses povos resultaram na diversidade cultural bizantina, caracterizada por elementos de diversas origens, como a religião cristã, a língua grega, o Direito romano e a arquitetura de inspiração persa.

Religião cristã

O cristianismo era a religião oficial do império. O patriarca de Constantinopla era o chefe da Igreja Ortodoxa, mas ele estava subordinado, na prática, ao imperador bizantino, considerado representante de Deus.

Em Constantinopla, aconteciam diversos debates sobre doutrinas religiosas. Uma dessas doutrinas foi a iconoclastia, palavra que significa “quebra de imagens”. Os ícones eram representações de imagens sagradas, de santos ou de Jesus Cristo. Os adeptos da iconoclastia se opunham ao culto das imagens dos santos e pregavam a destruição das estátuas das igrejas.

A questão iconoclasta estava associada a disputas políticas entre o imperador e os sacerdotes dos mosteiros, que produziam imagens de santos às quais atribuíam poderes milagrosos. Para conter o poder dos mosteiros, o imperador Leão terceiro proibiu a adoração de imagens em 730. A proibição durou até 787 e foi retomada em 813, quando o imperador Leão quinto procurou novamente estabelecer a iconoclastia, que mais uma vez foi banida em 843.

Manuscrito. Sequência de textos e ilustrações de pessoas vestindo túnicas e mantos coloridos, algumas delas com auréolas ao redor das cabeças. Na lateral esquerda, dois homens seguram uma imagem do rosto de Cristo. Na parte inferior da imagem, os mesmos homens conversam com outro homem sentado sobre um trono. Ao lado deles, três homens destroem uma imagem do rosto de Cristo.
Página manuscrita do Salmo 25, escrita e ilustrada por Teodoro de Cesareia em 1066. Nela, Nicéforo, patriarca de Constantinopla, e Teodoro Estudita, monge bizantino, adversários dos iconoclastas, estão com uma imagem de Cristo. Abaixo, eles aparecem em discussão com o imperador Leão quinto, enquanto iconoclastas destroem a imagem.

Após o declínio do Império Bizantino, o cristianismo ortodoxo chegou a outras partes do mundo, inclusive ao Brasil, graças às migrações ocorridas nos séculos dezenove e vinte. Atualmente, calcula-se que existam no mundo cêrca de 250 milhões de cristãos ortodoxos, sendo uma das principais religiões de libaneses, sírios, gregos, russos, ucranianos, sérvios e outros povos da Ásia e da Europa Oriental.

Fotografia. Vista de fachada lateral de uma catedral com paredes brancas, torres laterais e tetos dourados formando cúpulas arredondadas. No ápice da cúpula central, maior, e das cúpulas das torres laterais, menores, há cruzes.
Cúpula da Catedral Metropolitana Ortodoxa, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Cultura bizantina” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê gê quatro, cê ê cê agá um, cê ê agá um, cê ê agá quatro e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco, ao identificar e analisar trocas culturais entre bizantinos, gregos, romanos, entre outros povos.

Orientação didática

Comente com os estudantes que a religião é um dos traços característicos das mais variadas culturas. Deriva da palavra latina religare (re + ligare) e significa a ação de “ligar novamente”, de “unificar”. As religiões desenvolvem rituais e costumes privados e públicos capazes de promover a vinculação do ser humano com um Ser Superior (Deus ou deuses).

Além das religiões oficiais sistematizadas, sempre existiram práticas diversificadas da religiosidade popular. No caso bizantino, podemos destacar a adoração de relíquias, que são objetos considerados sagrados. A cidade de Constantinopla era considerada um centro onde estavam guardadas inúmeras relíquias preciosas que marcavam momentos importantes do cristianismo. Exemplos dessas relíquias: os panos com os quais Maria recobriu o menino Jesus recém-nascido; as sandálias e as túnicas de Jesus Cristo; a coroa de espinhos colocada na cabeça de Cristo; pedaços de madeira da cruz na qual Jesus foi crucificado. Do Antigo Testamento da Bíblia, acreditava-se que tinham guardado a vara utilizada por Moisés para conduzir seu povo através do deserto; o manto do profeta Elias. Grande parte da população acreditava que essas relíquias tinham o poder de fazer milagres.

Língua grega e produção artística

Inicialmente, as obras literárias bizantinas eram escritas em latim, mas, com o tempo, a língua grega tornou-se a mais importante do império, sendo utilizada nos textos do governo e da Igreja. O grego era falado na capital e em outras regiões do império.

As obras literárias, em prosa ou poesia, eram manuscritas e recebiam ricas decorações, chamadas iluminuras. Além de escrever obras originais, muitos autores bizantinos também reuniram, copiaram e traduziram textos da Antiguidade greco-romana, ajudando a preservá-los.

Os bizantinos também se destacaram por suas pinturas, mosaicos e esculturas. Os afrescos representando anjos, santos e autoridades religiosas foram um tipo de pintura decorativa frequente no Império Bizantino. Grande parte dessas obras era encontrada nas igrejas e em casas mais luxuosas.

Afresco. Ao centro, um homem de cabelos castanhos compridos e rosto barbado, vestindo uma túnica branca, com uma auréola ao redor de sua cabeça. Está cercado de várias pessoas, algumas delas ajoelhadas ao seu lado.
Afresco bizantino na Igreja do Santo Salvador, em Istambul, Turquia, produzido no séculocatorze, representando a ressurreição de Jesus Cristo.

Os mosaicos bizantinos eram feitos geralmente com pedaços de pedras e vidros coloridos, colados sobre um vidro claro e recobertos por folhas de ouro. Os mosaicos bizantinos costumavam representar animais, plantas e figuras religiosas ou políticas.

Mosaico. Homem com cabelos castanhos, longos e lisos, o rosto barbado e uma auréola ao redor de sua cabeça. Veste uma túnica amarela e um manto azul.
Mosaico representando Jesus Cristo, séculotreze. A obra encontra-se na Igreja de Santa Sofia, em Istambul, Turquia.

Já as esculturas bizantinas serviram principalmente aos ideais religiosos. Feitas em ouro, marfim ou vidro e em baixo-relevo, essas obras podiam ser encontradas tanto em edifícios como em capas de livros.

Mosaico. Homem vestindo um manto roxo com pedrarias e uma coroa na cabeça cravejada com pedras coloridas. Ao redor de sua cabeça há um aro vermelho com círculos brancos.
Detalhe de mosaico representando o imperador Justiniano. Essa obra foi produzida no século seise está na Basílica de Santo Apolinário Novo, em Ravena, Itália.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a educação no Império Bizantino.

A educação no Império Bizantino

Uma das maiores preocupações do ensino bizantino era propagar a fé cristã e a cultura helenística – desenvolvida a partir da expansão dos macedônicos liderados por Alexandre Magno.

A cultura helenística integrava gregos, egípcios, persas e outros povos do Oriente. Os bizantinos acrescentaram ao helenismo elementos culturais romanos, como o cristianismo.

A boa formação educacional era alcançada, basicamente, pelos alunos cujos pais tinham recursos econômicos para sustentá-los. Desde os 6 anos de idade, esses meninos aprendiam a ler e a escrever. Logo começavam a comentar textos de autores gregos como Homero e Platão.

Mais tarde, os jovens tinham aulas de Retórica, Filosofia, Matemática e Música, entre outras. Em algumas escolas, os professores também ensinavam Direito, Medicina e Física. Os sacerdotes ensinavam os princípios religiosos.

As mulheres bizantinas, geralmente de famílias mais ricas, tinham acesso à educação, o que era raro no Ocidente cristão e no mundo islâmico. Normalmente, estudavam em casa, com professores particulares. Historiadores apontam a existência de mulheres bizantinas que dominavam a Literatura, a Medicina e a Filosofia grega. Em geral, os filhos de artesãos, de pequenos comerciantes e de famílias mais pobres estudavam só até se alfabetizar.

Texto elaborado pelos autores.

PAINEL

Santa Sofia

Na arquitetura bizantina, destacam-se as igrejas e os mosteiros, que expressavam o domínio do Estado sobre os assuntos religiosos. Um exemplo marcante é a Igreja de Santa Sofia (nome que, em grego, significa “sagrada sabedoria”).

  • O projeto arquitetônico da Igreja de Santa Sofia serviu de modelo para a construção de muitas igrejas no Ocidente e no Oriente.
  • Ela foi construída no séculoquatro e reconstruída entre 532 e 537, logo depois de ter sido incendiada durante a Revolta de Nika.
  • Foram utilizadas cêrca de 18 toneladas de ouro em sua decoração.
  • Quando foi transformada em mesquita, os mosaicos bizantinos foram cobertos com uma camada de cal. No século vinte, porém, esses mosaicos foram restaurados, assim como o restante do antigo templo ortodoxo, e a construção se tornou um museu. Em 2020, Santa Sofia foi reconvertida em mesquita.
Fotografia. Vista da fachada de um templo, com quatro torres verticais pontiagudas e uma cúpula central com teto azulado. Está cercada por árvores e flores. A fotografia foi numerada de 1 a 3.
Vista de Santa Sofia, em Istambul, Turquia. Fotografia de 2018.
  1. Suas fachadas são relativamente simples, como as da maioria dos templos bizantinos, mas toda a parte interna é luxuosamente decorada. Marfim, pedras preciosas e mosaicos cobrem paredes, teto e vitrais.
  2. A cúpula tem 34 metros de diâmetro, 56 metros de altura e parece flutuar sobre a base quadrada.
  3. Depois da conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos no século quinze, a Igreja de Santa Sofia foi transformada em uma mesquita muçulmana e recebeu a adição de quatro minaretes (torres).
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Painel” intitulada “Santa Sofia” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê gê quatro, cê ê cê agá um, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete e cê ê agá um, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco, ao identificar e analisar as trocas culturais entre os diferentes povos que viveram na atual cidade de Istambul, visando à compreensão da construção e da transformação do templo de Santa Sofia.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir uma matéria jornalística escrita em 2020 sobre a reconversão de Santa Sofia em mesquita.

Governo turco reconverte Santa Sofia em mesquita

“O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, assinou um decreto nesta sexta-feira (10/7[2020]) para que a antiga basílica bizantina de Santa Sofia seja entregue para autoridades religiosas muçulmanas, efetivamente abrindo caminho para que a construção de 15 séculos de existência seja reconvertida em mesquita.

O decreto foi divulgado logo depois que o Conselho de Estado, um tribunal superior administrativo alinhado ao governo turco, anunciou que havia decidido em favor de uma petição organizada por uma associação muçulmana. O grupo religioso pedia a anulação de um decreto de 1934 que havia tirado o status religioso do local.

O antigo edifício bizantino do século seis serviu por quase mil anos como uma catedral ortodoxa. Depois da conquista de Constantinopla pelos otomanos, em 1453, foi convertida em mesquita. Este último status só mudou 85 anos atrás, quando a construção passou a funcionar como museu. [...fecha colchete

Com a decisão, o local foi tirado da alçada do Ministério da Cultura e do Turismo e passa a ser administrado pelo Diretório de Assuntos Religiosos da Turquia. [...fecha colchete

A reconversão em mesquita também gera preocupações sobre a preservação do edifício, já que a transformação do local em museu nos anos 1930 permitiu que muitos dos elementos originais do prédio, como os mosaicos cristãos e o piso original, pudessem voltar a ser exibidos.”

GOVERNO turco reconverte Santa Sofia em mesquita. Deutsche Welle, 10 julho 2020. Disponível em: https://oeds.link/mfmuAd. Acesso em: 12 janeiro 2021.

Mundo islâmico

A civilização árabe desenvolveu-se na Península Arábica, localizada no sudoeste da Ásia. É uma região de clima quente e seco, onde desertos ocupam 80% do território. Observe no mapa a área compreendida pela Arábia no século seis.

Arábia: ocupação (século seis)

Mapa. Arábia: ocupação (século seis). Destaque para área do Oriente Médio. Em marrom, Arábia na época de Maomé, compreendendo grande parte da Península Arábica, banhada pelo Mar Vermelho, o Oceano Índico e o Golfo Pérsico. Compreende a cidade Yatreb (Medina) e uma cidade importante, representada por um quadrado escuro: Meca. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 650 quilômetros.
Fonte: Quínder, Rérmãn; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982.página 124.

Até o século VII, os árabes não formavam um Estado único. Na Península Arábica, grupos de famílias (ou clãs) viviam sob a liderança de alguns homens mais velhos, chamados xeiques. Os diversos clãs compartilhavam laços culturais e de parentesco. Todos falavam o mesmo idioma (árabe), com variações regionais, e adoravam várias divindades.

O principal centro religioso da Península Arábica era a cidade de Meca, onde havia um templo chamado Caaba. Ali havia representações de divindades e objetos sagrados, como a Pedra Negra (que provavelmente é um pedaço de meteorito).

O templo da Caaba contribuiu para transformar Meca no maior centro cultural dos árabes. A cidade tornou-se movimentada, recebendo pessoas e mercadorias de muitos lugares.

Fotografia. Três homens em um deserto, conduzindo camelos e dromedários em fila.
Árabes se deslocando pelo deserto de Rub’al-Khali, na província de Najran, Arábia Saudita. Fotografia de 2020. As jornadas pelo deserto, tendo camelos e dromedários como animais de carga e de transporte de pessoas, são uma herança que permaneceu ao longo dos séculos.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Mundo islâmico”, incluindo o mapa que o acompanha, contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá quatro e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um quatro, ao identificar e analisar fórmas de contato, adaptação e exclusão entre populações que viveram na Arábia.

Orientação didática

Comece a aula sobre o mundo islâmico comentando que, nessa sociedade, a religião tem importância fundamental. Com base na religião islâmica, entre outros fatores, os árabes unificaram-se, expandiram-se pela Ásia, África e Europa e organizaram sua sociedade, administração e política.

Além desses aspectos, é possível comentar com os estudantes que os muçulmanos medievais difundiram e preservaram muitos conhecimentos que foram transmitidos para o Ocidente, como a representação numérica na Matemática e os avanços na Química e na Medicina.

Maomé e o islamismo

A construção de um Estado árabe ocorreu com a criação do islamismo. A religião islâmica é monoteísta e foi fundada por Maomé (570-632). Os seguidores do islamismo são chamados muçulmanos (do árabe muslim, que significa “entrega a Deus”).

Quando jovem, Maomé era um comerciante de Meca. Em suas viagens pela Península Arábica, ele entrou em contato com adeptos do cristianismo e do judaísmo.

Segundo a tradição muçulmana, o anjo Gabriel apareceu a Maomé e revelou que ele era um emissário de Alá (em árabe, “o Deus”). Maomé, então, iniciou suas pregações religiosas. Dizia que as várias divindades cultuadas na Caaba deveriam ser destruídas e que Alá era o único Deus.

Os sacerdotes e os comerciantes de Meca reagiram às pregações de Maomé. Em 622, houve um conflito que obrigou Maomé a deixar Meca e refugiar-se em Yatreb, posteriormente chamada de Medina, a “cidade do profeta”. Esse episódio marca o início do calendário muçulmano e é conhecido como Hégira, que significa “fuga” ou “emigração”.

Fotografia. Destaque para uma edificação quadrada e preta, com ornamentos dourados, chamada Caaba, localizada em um pátio à céu aberto, de piso branco, no interior de um templo. Pessoas estão distribuídas ao redor da Caaba. Nas laterais, colunas em forma de arco.
Peregrinos visitando a Caaba, em Meca. Fotografia de 2021. Situadas na atual Arábia Saudita, as cidades sagradas do islamismo – Meca e Medina – recebem todos os anos, no mês do Ramadã, milhões de peregrinos muçulmanos.
Fotografia. Vista da fachada de uma mesquita, com paredes de tijolos, três portas centrais com estruturas em arco na parte superior, teto horizontal plano e duas estruturas laterais contendo projeções aéreas com linhas e losangos na superfície.
Fachada da Mesquita do Profeta, em Medina. Fotografia de 2019. Durante sua peregrinação a Meca, muitos muçulmanos costumam visitar Medina e a Mesquita do Profeta, onde fica o túmulo de Maomé.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir apresenta características do calendário muçulmano, que tem como marco inicial o ano da Hégira, quando ocorreu a fuga de Maomé para Medina.

Calendário muçulmano

O calendário muçulmano tem algumas semelhanças com o calendário cristão, que é o que utilizamos. Estabelecido a partir da fuga de Maomé, nele a semana também possui sete dias, e o ano, doze meses. O que muda é que os meses só têm 29 ou 30 dias, de tal maneira que o ano muçulmano totaliza 354 dias (o cristão tem 365 dias).

Essa diferença deve-se ao fato de o calendário muçulmano ser lunar (baseado nas fases da Lua).

Na tabela a seguir podemos observar os nomes e a quantidade de dias dos meses no calendário muçulmano, entre os quais o Ramadã ou Ramadhan (mês do jejum), especialmente importante na religião islâmica.

Nome dos meses

Significado

Número de dias

Muhharram

Mês sagrado

30

Sáfar

Mês da partida para a guerra

29

Rabiá-al-áual

Primeiro mês da primavera

30

Rabiá-a-Thâni

Segundo mês da primavera

29

Jumáda Al-Ula

Primeiro mês da seca

30

Jumáda A-Thânia

Segundo mês da seca

29

Rajáb

Mês do respeito e da abstinência

30

Xaaban

Mês da germinação

29

Ramadã

Mês do grande calor

30

Xauál

Mês do acasalamento dos animais

29

Dhu Al-Qaáda

Mês do descanso

30

Dhu Al-Hijja

Mês da peregrinação

29

Texto elaborado pelos autores.

Formação da Arábia islâmica

Em Medina, Maomé e seus seguidores difundiram o islamismo e construíram a primeira mesquita de que se tem notícia. Também organizaram um exército formado por fiéis.

Em 630, esse exército conquistou Meca e destruiu as representações das divindades na Caaba. Esse templo tornou-se um local de orações para Alá, e a Pedra Negra foi preservada e incorporada à tradição islâmica.

O islamismo difundiu-se por toda a Arábia, e seus habitantes foram se unificando em torno da nova religião. Foi por meio dessa identidade religiosa que surgiu o primeiro Estado muçulmano.

Fundamentos do islamismo

A religião islâmica prega a submissão dos fiéis a Alá. Em árabe, “islã” ou “islão” significa “submissão”. Daí surgiu a palavra “islamismo”.

Os fundamentos do islamismo encontram-se no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Esse livro também é chamado de Alcorão, que significa “a leitura”. O Corão apresenta Alá como Deus criador do Universo, bom e justo, a quem as pessoas devem obedecer.

Segundo o Corão, a recompensa para os bons e o castigo para os maus virão no dia do Juízo Final. Os maus irão para o inferno e os bons, para o paraíso, onde permanecerão por toda a eternidade.

De acordo com os ensinamentos do islamismo, todo fiel deve:

  • crer em Alá e nos ensinamentos de Maomé, o grande profeta;
  • fazer cinco orações diárias;
  • ser generoso com os pobres e fazer caridade;
  • ir em peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, se possível;
  • jejuar durante o Ramadã, nono mês do calendário islâmico. Esse jejum religioso vai do nascer ao pôr do sol.

Há ainda outras normas que orientam a vida dos muçulmanos. Por exemplo, os fiéis são proibidos de comer carne de porco, consumir bebidas alcoólicas e praticar jogos de azar.

O Corão também proibiu os muçulmanos de escravizar outra pessoa da mesma religião. Por isso, a partir do século sete, os escravizados que se convertiam ao islamismo eram libertados. No entanto, a escravidão continuou a existir entre os árabes. Eles passaram a escravizar não muçulmanos, como os negros da África ao sul do Saara.

Manuscrito. Página com textos escritos em árabe com letras douradas.
Reprodução de página manuscrita do Corão. A caligrafia destaca-se como uma fórma de arte entre os muçulmanos. O termo “caligrafia” deriva do grego cali = belo + grafia = escrita.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir, escrito pela historiadora Neuza Neif naban, afirma que as reflexões religiosas feitas com base no Corão contribuíram para o desenvolvimento dos estudos de Gramática e História entre os muçulmanos.

O pensamento do Islão

“A primeira atividade intelectual a que se entregaram os muçulmanos foi o esclarecimento literal do texto corânico e que resultou na reflexão da nova doutrina. Os diferentes planos de desenvolvimento doutrinal conformaram as ciências tradicionais em dois grupos: a religiosa e as auxiliares, que foram os pilares da vida intelectual do Islão.reticências

As ciências religiosas requisitaram como auxiliares a Gramática e a História, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento muçulmano.

Diante do questionamento sobre a origem da Gramática árabe, há um fato importante: a revelação do Islão foi em língua determinada e concreta. A Gramática árabe, portanto, está na própria cultura, sem a necessidade de interferência alheia. As escolas de Basra, Kufa, Bagdá, nas quais se encontram elementos gregos, foram as que consolidaram a Gramática árabe. O estudo da língua foi adquirindo importância e muitos filósofos árabes se interessaram em compreender a relação entre lógica e linguagem.

Quanto à História, esta nasceu com o propósito de considerar a vida de Maomé, as circunstâncias de sua predicação e as atividades que desenvolveu. Compreender e conhecer o período da origem do Islão ajudaria na intelecção do texto revelado e seu significado.

A História, como ciência, identificou a dualidade de objetivo: legitimou um poder e assinalou o caráter de aprendizado através dos acontecimentos passados.”

naban, Neuza Neif. Islamismo: de Maomé a nossos dias. São Paulo: Ática, 1996. página 49-50.

Sunitas e xiitas

Com a morte de Maomé, em 632, o Estado muçulmano passou a ser governado por califasglossário . Começaram a aparecer, então, desacordos entre alguns grupos muçulmanos, sendo os principais os sunitas e os xiitas.

Os sunitas defendem que o califa, chefe de Estado muçulmano, deve ser um homem honrado e respeitador das leis. Além do Corão, aceitam os atos e as palavras atribuídos a Maomé e seus companheiros como fonte de ensinamentos religiosos. Esses atos e palavras constituem as sunas, que foram registradas em narrativas chamadas radí ou radif.

Os xiitas defendem que o Estado muçulmano deve ser chefiado por um descendente legítimo ou aparentado de Maomé. Acreditam que o Corão é a única fonte sagrada da religião e afirmam que os aiatolás, chefes das comunidades islâmicas, são inspirados diretamente por Alá e, portanto, todos os fiéis devem obedecer a eles.

Atualmente, os xiitas vivem principalmente no Iraque, no Irã e no Iêmen. Nas outras regiões do mundo islâmico predominam os sunitas, que correspondem a aproximadamente 84% dos muçulmanos de hoje.

Fotografia. Homens ajoelhados no chão sobre tapetes coloridos. Estão posicionados lado a lado, em uma rua asfaltada. Suas mãos estão estendidas para frente. Ao fundo, edificação chamuscada, com marcas de explosão.
Homens sunitas e xiitas orando juntos em cerimônia realizada em local onde aconteceu um atentado terrorista, em Bagdá, no Iraque. Fotografia de 2016.
Fotografia. Destaque para uma mulher vestindo um lenço preto ao redor da cabeça e do pescoço e uma máscara preta à frente de seu nariz e boca. Ela segura um pôster com a imagem de dois homens em idade avançada, com barbas volumosas grisalhas e turbantes escuros na cabeça. No fundo do pôster, a imagem da bandeira do Irã.
Iraniana segura um pôster com a imagem de dois aiatolás iranianos: ruroláKhomeini (1902-1989), fundador da República Islâmica do Irã, em 1979, e Ali Khamenei (1939-), atual líder do país, em Teerã, no Irã. Fotografia de 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Como será que os muçulmanos ensinavam as crianças? Quais eram seus objetivos? Leia a seguir um documento escrito entre o final do séculocatorzee o início do séculoquinze.

“É sabido que o ensino do Corão às crianças é um símbolo do Islã. Os muçulmanos têm e praticam tal ensino em todas as cidades, porque ele imprime nos corações uma firme crença nos artigos da fé, os quais [derivam] dos versos do Corão e de certas tradições proféticas. O Corão tornou-se a base da educação, o fundamento de todos os hábitos que podem ser adquiridos mais tarde reticências. Os métodos de instruir as crianças no Corão variam de acordo com as diferenças de opinião quanto aos hábitos que devem resultar dessa instrução. O método do Maghreb [região no norte da África que inclui os atuais Marrocos, Argélia e Tunísia] restringe a educação das crianças à instrução no Corão e à prática da ortografia do Corão e nas suas questões reticências. Os [habitantes do Maghreb] não trazem para as suas aulas quaisquer outros assuntos reticências até o aluno se tornar hábil [no Corão] reticências. Consequentemente, [os habitantes do Maghreb] conhecem a ortografia do Corão e sabem-no de cor, melhor do que qualquer outro [grupo muçulmano].

O método hispânico [isto é, praticado na Península Ibérica] é instruir lendo e escrevendo. É a isso que prestam atenção ao educar [as crianças]. Todavia, visto que o Corão é a base e o fundamento de tudo isto e a fonte do Islã e de todas as ciências, fazem dele o ponto de partida da educação, mas não restringem exclusivamente a ele a instrução das crianças. Juntam-lhe também [outros assuntos] especialmente a poesia e a composição; dão às crianças um profundo conhecimento do árabe e ensinam-lhes uma boa caligrafia reticências.”

IBN-KHALDÛN. O mucadimá. In: PEDRERO-SÁNCHEZ, Maria Guadalupe. História da Idade Média: textos e testemunhos. São Paulo: Editora Unésp, 2000. página 62-63.

Quais são as diferenças e as semelhanças entre o método de ensino do Maghreb e o hispânico?

Resposta: O método do Maghreb restringe a educação das crianças à instrução do Corão e à ortografia, não abordando nenhum outro assunto até o estudante sabê-lo de cor. O método hispânico busca ensinar a leitura e a escrita tendo o Corão como ponto de partida, mas não restringe a instrução das crianças a ele, ensinando também outros assuntos, como poesia, composição e caligrafia.

Expansão islâmica

Após a morte de Maomé, os árabes muçulmanos deram início à conquista de territórios fóra da Península Arábica. Sob a liderança dos califas, entraram em guerra com outros povos. Entre os motivos dessa expansão, podemos destacar: a busca de terras férteis; o interesse em ampliar o comércio; a luta contra os que não seguiam o islamismo (a chamada “guerra santa” ou jihad).

Territórios conquistados

Os exércitos muçulmanos guerrearam contra os habitantes do Império Bizantino e conquistaram a Síria, a Palestina, o Egito e outras regiões do norte da África. Depois, dirigiram-se para o Oriente e dominaram a Pérsia e parte da Índia, da China e da Ásia Central. Também avançaram sobre a Europa, dominando quase toda a Península Ibérica. Quando tentaram estender-se em direção ao Reino dos Francos, foram detidos pelos soldados comandados por Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, em 732.

No século VIII, o poder central já enfrentava crises internas nas várias áreas que tinham sido conquistadas. Uma das causas dessas crises foram as rivalidades entre os califas. Com o tempo, essas disputas levaram à divisão do Estado muçulmano, criado por Maomé e seus seguidores, em vários califados independentes, como o de Córdoba (Espanha) e o do Cairo (Egito). Isso, aos poucos, foi enfraquecendo o Império Islâmico.

Na Península Ibérica, região onde se encontram atualmente Portugal e Espanha, os árabes permaneceram durante aproximadamente 700 anos. Nesse período, muitos aspectos da cultura islâmica influenciaram os habitantes dessa região. Um dos principais centros dessa cultura foi Córdoba, cidade onde viviam entre 200 e 300 mil pessoas no século dez.

Mundo: expansão islâmica (632-850)

Mapa. Mundo: expansão islâmica (632-850). Destaque para parte do território asiático, europeu e africano. Em amarelo com listras laranjas, Arábia até o século sete, compreendendo a maior parte da Península Arábica, banhada pelo Mar Vermelho, Oceano Índico e Golfo Pérsico, abrangendo a cidade de Yatreb (Medina) e a cidade importante de Meca, destacada por um quadrado preto. Em amarelo, Expansão árabe, compreendendo o restante da Península Arábica e territórios na Pérsia, Síria e Palestina, na Ásia, incluindo as cidades de Samarcanda, Basra, Bagdá, Damasco e Jerusalém; territórios de Egito, Líbia e Magreb, na África, incluindo as cidades de Fustat (Cairo), Alexandria, Barca, Trípoli, Cairuan, Cartago e Fez; e a Península Ibérica, na Europa, incluindo as cidades de Toledo, Córdoba e Barcelona. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 770 quilômetros.
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique: l’histoire du monde en 317 cartes. Paris: Larousse, 1987. página 206-207.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Ao longo do séculooito, os muçulmanos conquistaram territórios e expandiram seu império. Em que regiões se deu essa expansão?

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Expansão islâmica”, incluindo o boxe “Observando o mapa”, contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê gê quatro, cê ê cê agá um, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá quatro e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero seis agá ih um quatro e ê éfe zero seis agá ih um cinco, ao identificar, descrever e analisar as trocas culturais e econômicas realizadas entre os árabes e outros povos, sobretudo pelo Mar Mediterrâneo.

Observando o mapa

De acordo com o mapa, entre 632 e 850, os muçulmanos expandiram seus territórios a partir da Arábia para:

  • a região da Pérsia, na Ásia;
  • as regiões do Egito, da Líbia e do Magreb, no norte da África;
  • a região da Península Ibérica, onde se situam os atuais países de Portugal e Espanha, na Europa.

Atividades econômicas

Os conquistadores árabes desenvolveram atividades econômicas nas regiões ocupadas, implantando suas técnicas e seus conhecimentos. Realizaram obras de irrigação que transformaram terras pobres e estéreis em áreas produtivas. A agricultura era variada: cultivavam trigo, algodão, arroz, linho, açúcar, café, azeitona e vários tipos de fruta, como laranja, tâmara, banana, figo e damasco.

Fotografia. Destaque para uma árvore carregada de cachos com frutos vermelhos e alaranjados. Suspenso por cordas amarradas ao redor do tronco da árvore, um homem vestindo camisa verde e calça azul, segura uma bacia para a coleta dos frutos.
Tamareiras carregadas de frutos em Janabiya, no Barein. Fotografia de 2015. As tâmaras são fartamente cultivadas no Oriente Médio, norte da África e sul da Ásia.

Os árabes também expandiram o comércio, dominando, durante séculos, as rotas terrestres e marítimas que iam desde a Índia até a Espanha, passando pelo norte da África e pelo Mar Mediterrâneo.

Criaram recursos comerciais usados até hoje nos negócios: cheques, letras de câmbio, recibos e sociedades comerciais.

O artesanato também foi importante na economia árabe. Várias cidades destacaram-se pela produção de artigos como:

  • joias, vidros, cerâmicas e sedas, confeccionados em Bagdá, no Iraque;
  • armas, ferramentas de metal, tecidos de seda e de linho, feitos em Damasco, na Síria;
  • espadas, que eram cobiçadas pelos cavaleiros medievais, produzidas em Toledo, na Espanha.
Fotografia. Rua com calçamento de pedras retangulares, sobre a qual caminham diversas pessoas. Ao redor da rua, há estabelecimentos comerciais contendo objetos diversos, como vasos, recipientes dourados e espelhos.
Produtos à venda no mercado tradicional árabe (souk) da cidade de Marrakech, em Marrocos. Fotografia de 2020. Os souks de Marrakech existem desde a fundação da cidade pelos islâmicos, em 1062.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir permite aprofundar os estudos sobre as trocas culturais entre árabes e outros povos, sobretudo dos continentes europeu e asiático.

O encontro com outras culturas

“A difusão geográfica da comunidade muçulmana resultou na assimilação de diferentes valores. Os elementos culturais, com os quais se encontraram os árabes e que foram adotando, procediam principalmente da Grécia, da Pérsia e da Índia.

Tradicionalmente, pensou-se que o contato com o pensamento grego só ocorreu na segunda metade do século oito, depois das primeiras traduções de obras filosóficas e científicas que hoje conhecemos. Os árabes, no entanto, já se comunicavam com outros povos em séculos anteriores. reticências

O contato da cultura helênica com os povos do Oriente Próximo resultou das imigrações de sábios, fruto das discórdias religiosas que reinavam em Bizâncio. reticências

O Oriente, ávido de cultura, recolheu os emigrados e foi beneficiado com a presença dos sábios helênicos. reticências

O conhecimento que os árabes adquiriram da filosofia grega, por meio das traduções [de obras de autores da Grécia antiga], auxiliou na compreensão da originalidade do pensamento grego que se encontrava em Aristóteles, sendo este o autêntico mestre da filosofia árabe.

A ciência árabe na sua especificidade e significação não deve ser desvinculada daquilo que lhe determina os fins – a fé islâmica. A pesquisa científica é exaltada no Alcorão, encorajando o crente a aprender junto àqueles que não compartilham a fé muçulmana. É isso que explica o papel fecundador do Islão e a renovação científica que se propagou por toda parte, graças à sua expansão territorial.

O encontro das duas culturas – árabe e grega – contribuiu para a formação do pensamento do Islão e consequentemente observam-se duas tendências no desenvolvimento da ideologia árabe medieval.

Uma das correntes, do contexto muçulmano, foi representada pelo neoplatonismo básico. Para os seus representantes, o saber humano repousava na interpretação simbólica dos fenômenos físicos e das matemáticas. Essa corrente se uniu ao grupo dos chiís.

A outra corrente, chamada de falsafa (a filosofia propriamente dita), baseou-se no neoplatonismo aristotelizado. Seus seguidores sustentaram que o objetivo da ciência consistia em encontrar o lugar das coisas dentro de um sistema racional. O saber grego se mostrou como nova fórma de conceber o mundo, capaz de orientar o homem em sua vida individual, social e política. Tomando como ponto de partida as obras de Aristóteles, os muçulmanos entenderam que a lógica é um instrumento que proporciona regras e normas aplicáveis ao conhecimento humano, porque ela é o desdobramento da razão. Os filósofos do Islão concluíram que a religião era necessária para que os indivíduos alcançassem a verdade simbólica e reconheceram que o papel da razão era de autêntico guia do homem para identificar um sistema de explicação e compreensão do universo. reticências

O povo árabe do Islão, nos primeiros séculos de sua expansão, estava acostumado a ouvir e a contar histórias nos mercados e a ler ou ouvir as suratas do Alcorão nas mesquitas. A leitura do texto sagrado resultou na alfabetização de muitos muçulmanos e, com o aumento de obras em língua árabe, desenvolveu-se a autoconsciência cultural, um estudo e reflexão sobre a cultura acumulada e expressa em língua árabe.

O interesse pela leitura de textos em árabe foi o resultado da divulgação de obras a partir da difusão e da fabricação do papel de pasta, no século IX. Os árabes, na batalha de Samarcanda, em 704, aprenderam a técnica do papel dos chineses.”

naban, Neuza Neif. Islamismo: de Maomé a nossos dias. São Paulo: Ática, 1996. página 51-58.

Produção cultural

Os árabes e os demais povos que se converteram ao islamismo assimilaram e reelaboraram elementos de diversas culturas. Desse modo, criaram uma cultura própria, rica e original.

Eles promoveram importantes trocas culturais entre o Oriente e o Ocidente. Aperfeiçoaram e levaram para a Europa inventos chineses, como a bússola e o papel, que ajudaram a impulsionar, respectivamente, a expansão marítima europeia e o desenvolvimento da imprensa. Observe algumas de suas produções culturais em outras áreas.

  • Idioma – difundiram o árabe entre os povos conquistados durante a expansão islâmica. Assim, muitos termos da língua árabe foram incorporados ao vocabulário de distintos idiomas, como o português e o castelhano.
  • Filosofia – traduziram para o árabe textos de pensadores gregos, como Platão e Aristóteles. Assim, os muçulmanos ajudaram a preservar e a desenvolver conhecimentos da Filosofia Clássica. Mais tarde, os textos em árabe foram traduzidos para o latim e difundiram-se pelo Ocidente cristão medieval.
  • Arquitetura – construíram mesquitas, mausoléus e palácios e os decoraram com inscrições estilizadas de trechos do Corão e com arabescos (desenhos caracterizados pela repetição de fórmas geométricas, linhas e folhagens).
  • Matemática – introduziram na Europa o numeral zero e os algarismos hindus, que ficaram conhecidos como indo-arábicos. Também desenvolveram a Álgebra e a Trigonometria.
  • Medicina – descobriram novas técnicas de cirurgias, bem como as causas e as fórmas de contágio de doenças como varíola, tuberculose e sarampo. Preocuparam-se com anatomia e higiene e, ainda, com doenças infantis e mentais.
  • Química – pesquisaram fórmas de transformar metais em ouro, a chamada alquimia – que hoje sabemos ser impossível. Mas, durante as pesquisas, os árabes descobriram outras substâncias, como o ácido sulfúrico, o salitre e o álcool, além de métodos de utilização de diversos elementos químicos.
  • Astronomia – construíram observatórios planetários e aperfeiçoaram o astrolábio grego.
Ilustração. Representação de quatro homens. Um, ajoelhado no solo, vestindo uma túnica laranja e turbante branco na cabeça, segurando um livro sobre seu colo e tocando um globo terrestre. Ao seu lado, um homem em pé, vestindo uma túnica vermelha e uma capa amarela, segurando uma luneta em direção ao céu. Sobre uma torre, há dois homens, um, no andar intermediário, vestindo uma túnica laranja e turbante branco, apontando para cima, e o outro, na parte superior da torre, vestindo uma túnica azul e turbante branco, segurando uma luneta em direção ao céu. Em segundo plano nota-se um céu escuro, estrelado e com uma lua minguante.
Ilustração do século dezessete de astrônomos árabes observando as estrelas e a Lua.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

A Astronomia é uma área de estudo que se desenvolveu com base na observação do céu. Você costuma observar o céu? Já contemplou o nascer e o pôr do sol, as fases da Lua, eclipses solares ou lunares? Consegue identificar algum planeta ou constelação?

Versão adaptada acessível

A astronomia é uma área de estudo que se desenvolveu com base no estudo do céu. O que você sabe sobre o céu, o nascer e o pôr do sol, as fases da Lua, eclipses solares ou lunares? Conhece características de algum planeta ou constelação?

Orientação para acessibilidade

Incentive os estudantes a compartilhar seus conhecimentos sobre o céu e os corpos celestes como estrelas e planetas. Depois, proponha uma conversa sobre os elementos mencionados questionando o que mais chama a atenção deles a respeito desse assunto. Se for possível, separe para esse momento maquetes, esfera armilar ou outro maquinismo que represente os movimentos dos planetas e seus satélites em torno do Sol, facilitando a compreensão das efemérides astronômicas. Além disso, se julgar pertinente, utilize estrelas de plástico ou de qualquer outro material, dispondo-as de maneira a representar uma constelação, ou seja, um agrupamento de estrelas designados arbitrariamente para representar o céu noturno e facilitar a localização e o reconhecimento dos períodos do ano. Dessa forma, pode-se realizar uma grande roda de conversa sobre o assunto com todos os estudantes da sala.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir fala sobre a importância dos árabes na construção da cultura brasileira.

Árabes no Brasil

“Embora pouca gente saiba, pimenta, noz-moscada, cravo e canela, que ressaltam o sabor na culinária brasileira, o uso do azeite no lugar da banha de porco e até o sagrado cafezinho são marcas da cultura árabe, uma influência que vai muito além das esfihas e quibes, totalmente incorporados em nossa mesa. Os primeiros traços culturais árabes no Brasil chegaram com os portugueses, resultado da influência que absorveram em quase oito séculos de dominação árabe na Península Ibérica. ‘Junto com os colonizadores, no século dezesseis, desembarcaram heranças da língua, música, culinária, arquitetura e decoração, técnicas agrícolas e de irrigação, farmacologia e medicina’, escreveu Oswaldo Truzzi, em artigo para a Revista de História da Biblioteca Nacional.

‘Técnicas de construção como a taipa de pilão, largamente utilizada na arquitetura colonial brasileira, são de influência nitidamente árabe’, afirma Truzzi, professor da Universidade Federal de São Carlos. Os arcos em fórma de ferradura, cúpulas em fórma de gota e os mosaicos de azulejo também são elementos introduzidos por esses povos do Oriente Médio. O cavaquinho brasileiro é um descendente do alaúde, que em árabe significa ‘a madeira’.”

MARIUZZO, Patrícia. Riqueza cultural e capacidade de adaptação são suas marcas. Ciência e Cultura, São Paulo, volume63,número 3, página 58-59, julho 2011.

Alerta ao professor

O texto “Produção cultural” e o boxe “Para pensar” que o acompanha favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê gê quatro, cê ê cê agá sete e cê ê agá três, bem como trabalham o tema contemporâneo transversal Ciência e tecnologia, ao abordarem produções artísticas, culturais e científicas desenvolvidas pelos muçulmanos.

Para pensar

Resposta pessoal. Depois de ouvir as respostas, comente que diversas sociedades desenvolveram calendários, construções, crenças e outros saberes com base na observação do céu. Estimule os estudantes a observar o céu, de dia e à noite, procurando identificar corpos celestes como estrelas e planetas. Depois, proponha uma conversa sobre o sentimento que essa experiência despertou, os elementos que conseguiram identificar e o que mais chamou a atenção deles.

Nem todo muçulmano é árabe

Atualmente, o islamismo é a segunda maior religião do mundo em número de seguidores. São mais de 1 bilhão e 300 milhões de muçulmanos em cêrca de 75 países. Isso representa aproximadamente 20% da população mundial.

Muita gente pensa que todos os muçulmanos são árabes (habitantes da Península Arábica ou falantes da língua árabe), mas não é bem assim. Embora o islamismo tenha surgido na Península Arábica, atualmente apenas uma pequena parcela dos muçulmanos do mundo é árabe.

Segundo o í bê gê É (2010), existem 35 mil muçulmanos no Brasil, mas algumas entidades islâmicas afirmam que são 1,5 milhão. Entre eles, encontram-se imigrantes e seus descendentes de origem síria, libanesa e palestina.

Mundo: presença de muçulmanos (2009)

Mapa. Mundo: presença de muçulmanos (2009). Planisfério político com a indicação do percentual de muçulmanos por diferentes áreas. Em verde, Ásia Oriental e Sudeste Asiático: 972.537.000 – (61,9 por cento), compreendendo países como Índia, Irã, Paquistão, Bangladesh e Indonésia. Em vermelho, Oriente médio e Norte da África: 315.322.000 – (20,1 por cento), compreendendo países como Albânia e Níger. Em rosa, África Subsaariana: 240.632.000 – (15,3 por cento), compreendendo países como Etiópia, Tanzânia, Nigéria e Mali. Em laranja, Europa: 38.112.000 – (2,4 por cento), compreendendo países como França, Alemanha, parte da Rússia e o território do Kosovo. Em verde claro, América: 4.596.000 – (0,3 por cento), compreendendo países como Brasil, Argentina, México, Estados Unidos e Canadá. No canto inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 2480 quilômetros.
Fonte: QUASE 67% dos muçulmanos estão na Ásia. Folha de São Paulovírgula São Paulo, 8 outubro 2009. Disponível em: https://oeds.link/rMFgLk. Acesso em: 4 janeiro 2022.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Quais regiões do mundo atual apresentam o maior e o menor percentual de muçulmanos?

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Você conhece contribuições árabes para a cultura brasileira? Dê exemplos.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Os boxes “Observando o mapa” e “Para pensar” contribuem para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um e cê ê agá cinco. Além disso, o texto “Nem todo muçulmano é árabe” e o boxe “Para pensar” trabalham o tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras, ao identificar populações e contribuições muçulmanas fundamentais para a formação do Brasil.

Observando o mapa

Segundo o mapa, a maioria da população muçulmana vive atualmente na Ásia (cêrcade 61,9%). Já a América é a região do mundo onde vivem menos muçulmanos (0,3%). Se achar oportuno, comente que a Índia e a Indonésia, na Ásia, são os países com maior número de adeptos do islamismo.

Para pensar

Resposta pessoal. Estimule os estudantes a pesquisar e valorizar influências árabes na cultura brasileira. Na gastronomia, podemos citar contribuições como o quibe, a esfiha, o tabule e a coalhada segundoseca. Na literatura, escritores importantes como Milton Hatoum e Raduan Nassar têm ascendência árabe. Também é possível citar educadores e pesquisadores de ascendência árabe, como o geógrafo Aziz Ab’Sáber (1924-2012) e o filólogo Antônio Uáis (1915-1999), que criou e organizou o Dicionário Uáis da Língua Portuguesa. Recomendamos que o professor leia com os estudantes o texto de aprofundamento “Árabes no Brasil”.

responda NO CADERNO

OFICINA DE HISTÓRIA

Conferir e refletir

1. Identifique a frase incorreta e corrija-a em seu caderno.

  1. Justiniano organizou uma expansão militar com o objetivo de reconquistar territórios do antigo Império Romano do Ocidente.
  2. Cesaropapismo é a união dos poderes político (césar) e religioso (papa) nas mãos dos imperadores bizantinos, que eram considerados “representantes de Deus”.
  3. A Revolta de Nika foi, inicialmente, motivada por disputas esportivas, mas logo se transformou em uma manifestação popular contra o governo imperial.
  4. O Grande Cisma do Oriente unificou a Igreja Ortodoxa, com séde em Roma, e a Igreja Católica Romana, com séde em Constantinopla.

2. No caderno, preencha as lacunas do quadro, que compara as principais camadas sociais e as atividades econômicas nas áreas rurais e urbanas do Império Bizantino.

Império Bizantino

Campo

Cidade

Principais atividades econômicas

Elite

Maioria da população

3. Explique com suas palavras o que levou ao surgimento e, depois, à fragmentação do Estado muçulmano.

Interpretar texto e imagem

4. O Código de Justiniano influenciou as normas jurídicas de muitos países, inclusive o Brasil. Analisando os trechos a seguir, associe as normas do Código de Justiniano aos itens do artigo 5º da atual Constituição Federal brasileira.

Código de Justiniano

“a) Ninguém pode ser retirado à fôrça de sua própria casa.

b) Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa.

c) Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido ao acusador.”

CÓDIGO de Justiniano. In: HADAS, Moses. Roma imperial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.página178.

Constituição brasileira atual

“VIII. ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política [...].

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção favorece o desenvolvimento das seguintes competências da Bê êne cê cê:

  • cê gê um (atividades 3, 4 e 5);
  • cê gê dois (atividades 5 e 6);
  • cê gê três (atividades 5 e 6);
  • cê ê cê agá cinco (atividade 4);
  • cê ê cê agá seis (atividade 4);
  • cê ê agá um (atividades 3, 4 e 5);
  • cê ê agá três (atividades 4, 5 e 6).

Oficina de História

Conferir e refletir

1. A frase incorreta é a d, que pode ser corrigida da seguinte formare:

d) O Grande Cisma do Oriente dividiu o mundo cristão em duas igrejas: a Igreja Ortodoxa, com séde em Constantinopla, e a Igreja Católica Romana, com séde em Roma.

2. O quadro pode ser preenchido da seguinte maneira:

Império Bizantino

Campo

Cidade

Principais atividades econômicas

Agricultura pastoreio

Comércio

Elite

Grandes proprietários de terras (mosteiros e nobres)

Grandes comerciantes, donos de oficinas de artesanato, membros da cúpula do clero e altos funcionários do governo

Maioria da população

Trabalhadores pobres (servos e escravizados)

Escravizados, artesãos, pequenos comerciantes e funcionários do governo de médio e baixo escalão


3. A construção do Estado muçulmano está diretamente relacionada com a criação do islamismo. A religião, associada a outros elementos culturais, favoreceu a unificação política entre as diversas comunidades árabes. No entanto, após a morte de Maomé, as disputas de poder e as divergências de opiniões ficaram mais evidentes. Assim, líderes islâmicos fundaram califados independentes como o de Córdoba (Espanha) e o do Cairo (Egito). Além disso, surgiram dois importantes grupos entre os muçulmanos, os sunitas e os xiitas.

XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador [...].

LV. reticênciasaos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa [...].”

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,Distrito Federal: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://oeds.link/zYmmuE. Acesso em: 8 março 2022.

5. Leia o texto e faça o que se pede.

“Em sua permanência de quase oito séculos na Península Ibérica, os árabes contribuíram com centenas de vocábulos para o léxico da língua portuguesa [...].

Em português, é expressivo o número de palavras que começam pela letra a e que têm origem árabe – entre muitas outras, alvará [...], alfaiate, açúcar, arroz, azeite, alface, alfândega, almofada, almôndega [...].”

FARAH, Paulo Daniel Elias. Da alface ao cafezinho: alicerces, recifes e acepipes. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro,volume 4, número 46, página 28-30, 2009.

  1. De acordo com o texto, que sílaba é muito comum nas palavras de origem árabe? Você sabe o que significa, em árabe, essa sílaba? Por que ela faz parte dessas palavras da língua portuguesa?
  2. Você conhece outras palavras da língua portuguesa que têm origem árabe? Pesquise algumas delas e dê seus significados.

integrar com ARTE

6. Uma das expressões marcantes da arte bizantina foram os mosaicos. Retratos de pessoas ou de cenas variadas eram feitos usando esse tipo de composição. A seguir, observe a imagem e elabore hipóteses para responder às questões.

Mosaico. Ao centro, destaque para um homem vestindo um manto vermelho com detalhes dourados e adorno no ombro e uma coroa na cabeça, segurando uma bandeja dourada. Ao redor de sua cabeça há uma auréola. À direita, um homem de túnica branca com listra marrom e manto dourado segura um crucifixo dourado com pedras verdes; outro homem, de túnica branca com listra marrom, segura um livro de capa dourada e um terceiro, com a mesma vestimenta, carrega um incensário. À esquerda, há dois homens vestindo mantos brancos presos ao ombro e um grupo de homens vestindo roupas coloridas, segurando escudos e lanças pontiagudas.
Mosaico bizantino, aproximadamente do século seis, representando o imperador Justiniano e sua corte, localizado na Basílica de São Vital, em Ravena, Itália.
  1. Qual personagem é o imperador?
  2. Quem são as pessoas ao lado do imperador? Que funções elas desempenhavam na sociedade bizantina?
  3. Cite um elemento que simboliza a relação entre a figura do imperador e a religião.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

4. Esta atividade desenvolve a leitura inferencial, ao solicitar aos estudantes que associem normas do Código de Justiniano e da Constituição Federal brasileira. Os direitos estabelecidos nos artigos do Código de Justiniano e da Constituição Federal se referem à liberdade de pensamento, ao direito do indivíduo de não ter sua casa invadida e ao direito de ampla defesa jurídica. A correspondência entre os artigos pode ser feita da seguinte maneira:

Código de Justiniano

Constituição brasileira atual

a) Ninguém pode ser retirado à força de sua própria casa.

XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador [...].

b) Ninguém sofrerá penalidade pelo que pensa.

VIII. ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política [...].

c) Nada que não se permita ao acusado deve ser permitido ao acusador.

LV. [...] aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa [...].

5. a) A sílaba mencionada é o prefixo “al-” (ou apenas “a-”, se a letra que segue é “c”, “d”, “r” ou “z”), que em árabe corresponde ao nosso artigo definido “o”. Essa sílaba perdeu o caráter de artigo em nossa língua, pois este foi incorporado ao nome como um vocábulo só. Acredita-se que isso se deva ao fato de que o árabe sempre usa o artigo junto do substantivo, e os habitantes da Península Ibérica (portugueses e espanhóis), ao escutar o conquistador falar, aprenderam “de ouvido” sua língua. Por isso, muitas vezes esses ouvintes uniram o artigo ao substantivo como se fossem uma palavra única, pois eles sempre vinham juntos. Por exemplo: etimologicamente, alfinete significa “o alfinete”.

b) Resposta pessoal. São de origem árabe palavras como alfazema, açúcar, alecrim, alcova, Alcorão, almofada, almôndega, arroz, azulejo e muitas outras. Estimule os estudantes a pesquisar palavras de origem árabe presentes na língua portuguesa e a consultar um dicionário para verificar e parafrasear os significados desses termos.

6. a) No mosaico, o imperador Justiniano está no centro da imagem. Ele está usando uma coroa, um manto vermelho e, ao redor de sua cabeça, há uma espécie de auréola divina.

  1. Estimule os estudantes a analisar os trajes das pessoas representadas ao lado do imperador e os objetos que cada uma delas carrega. Assim, é possível afirmar que à direita estão membros da Igreja, pois eles carregam objetos como crucifixo e incensário. Já à esquerda estão membros da administração imperial e um grupo de soldados, que seguram escudos e lanças.
  2. O elemento é a auréola ao redor da cabeça do imperador. Esse símbolo geralmente aparece em representações de figuras religiosas como santos e o próprio Cristo. Nesse sentido, podemos afirmar que ela indica a relação entre o poder temporal e espiritual do imperador (cesaropapismo).

Glossário

Califa
: palavra árabe que pode ser traduzida como “sucessor do profeta”. Era o título do chefe de Estado muçulmano, que tinha poderes religioso, político e militar. Esse título passou a ser adotado na época da expansão islâmica, a partir do século VII, após a morte de Maomé.
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