UNIDADE 4 SOCIEDADE E RELIGIÃO

CAPÍTULO 12 CRISTANDADE MEDIEVAL

A Europa medieval deixou importantes heranças culturais para as sociedades ocidentais. Foi nesse período, por exemplo, que surgiram os costumes do aperto de mãos, da utilização de colheres e garfos e do uso de calças compridas, camisas e óculos.

E quem não gosta de um dia de descanso? Saiba que grande parte dos feriados de nosso calendário oficial é de origem cristã e tem raízes nas festas celebradas pela cristandade medieval.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para começar

A palavra burguesia surgiu no período medieval. Em sua interpretação, o que significa ser burguês? Argumente explicando sua resposta.

Fotografia. Vista aérea de uma cidade com casas brancas e uma extensa muralha de pedras nos arredores. No lado externo da muralha há vegetação densa.
Vista aérea de Óbidos, Portugal. Fotografia de 2020. Óbidos é uma vila fundada em 1195 e cercada por muralhas de proteção que existem até hoje. Todos os anos ocorre um evento turístico no local que procura recriar um ambiente medieval, com personagens como bobos, cuspidores de fogo, dançarinos e músicos.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero seis agá ih um cinco
  • ê éfe zero seis agá ih um seis
  • ê éfe zero seis agá ih um oito
  • ê éfe zero seis agá ih um nove

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, a cristandade medieval, e de assuntos correlatos, como as transformações ocorridas na Europa durante a Baixa Idade Média, o papel da Igreja Católica ao longo de toda a Idade Média e a situação das mulheres nesse período.

  • Analisar as principais transformações ocorridas na Europa durante a Baixa Idade Média.
  • Identificar o papel exercido pela Igreja Católica como instituição que reunia poderes religiosos e políticos durante a Idade Média na Europa ocidental.
  • Compreender a situação das mulheres no período medieval, destacando figuras como Catarina de Siena, Cristina de Pisano e Joana d’Arc.
  • Conhecer aspectos da crise da Idade Média, com destaque para a escassez de alimentos, as epidemias e as guerras.

Para começar

Esta atividade exercita a argumentação dos estudantes ao solicitar-lhes que identifiquem e expliquem sentidos com que é utilizada atualmente a palavra “burguês”. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, explique que no período medieval a palavra “burguês” designava pessoas que moravam ou haviam nascido em um burgo. Os burgos foram cidades fortificadas que se desenvolveram perto de rotas comerciais. Por isso, nos burgos, viviam muitos comerciantes. Ao longo do tempo, a palavra “burguês” passou a denominar uma elite econômica do sistema capitalista. Comente também que hoje é comum usar essa palavra com o sentido pejorativo de pessoa apegada aos bens materiais, aos lançamentos da última moda, à ostentação consumista.

Alerta ao professor

Esta abertura de capítulo, incluindo o boxe “Para começar”, contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá cinco e cê ê agá um, ao abordar as heranças culturais encontradas nos dias de hoje, cujas origens remontam à Idade Média.

Fotografia. Vista de uma cidade com prédios baixos e coloridos, construídos às margens de um rio. Sobre o rio há várias pequenas embarcações, com pessoas trajando roupas coloridas remando em direção a uma ponte. Nas margens do rio, uma multidão de pessoas observa. No céu há pequenos balões coloridos voando.
Carnaval de Veneza, Itália. Fotografia de 2018. Essa festa é celebrada em Veneza desde o século onze.
Fotografia. Destaque para duas pessoas com chapéu de tecido vermelho e dourado, vestindo luxuosa túnica vermelha com gola alta, e máscara branca e dourada no rosto. A pessoa à esquerda segura um cetro vermelho com uma esfera na ponta.
Foliões mascarados celebram o Carnaval em Veneza, Itália. Fotografia de 2020. O Carnaval é uma das heranças culturais deixadas pela Europa medieval.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A Igreja Católica foi fundamental na preservação dos hábitos e da cultura na Europa ao longo da Idade Média. Durante esse período, a Igreja se fortaleceu como instituição e conquistou grande poder espiritual e material. Havia uma crença popular generalizada na existência do Deus cristão. Em larga medida, era esse fator que legitimava o poder do clero na sociedade medieval. Porém, isso não significava que o poder dos religiosos estivesse livre de contestações, e o estudo das heresias medievais se presta bem à análise desse processo.

Numa época em que a maioria da população era analfabeta e o latim era a língua utilizada nas cerimônias católicas (idioma diferente das línguas faladas nas diversas partes da Europa), os templos eram lugares privilegiados para a divulgação da mensagem religiosa e social da Igreja.

Outras indicações

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2001.

O historiador Hilário Franco Júnior apresenta em seu livro os principais aspectos da Idade Média e aponta heranças desse período que podem ser observadas até os dias de hoje.

Um novo cenário

Durante o predomínio do sistema feudal, a economia era basicamente agropastoril, o poder estava descentralizado e a sociedade dividia-se entre nobreza, clero e trabalhadores. No entanto, todo esse cenário foi sendo modificado aos poucos.

Iluminura. Representação de um grande terreno dividido em diferentes áreas nas quais pessoas praticam a agricultura e criam animais. Em primeiro plano, um homem com vestimentas simples manuseia um arado puxado por bois. Ao fundo, há um grande castelo de pedra com torres altas, cercado por uma muralha. Acima, um calendário em semicírculo, com a informação dos dias e meses do ano e a representação de dois peixes e um carneiro, em referência aos signos do zodíaco.
Iluminura dos irmãos Limbourg, que se encontra no livro Riquíssimas horas do duque de Berry, representando as atividades do mês de março, relativas à agricultura e ao pastoreio, século quinze.

Trabalho e práticas agrícolas

A partir do século onze, em diversas regiões da Europa, os servos conseguiram melhorar suas relações de trabalho. Às vezes, conseguiam aliviar o peso de obrigações como a talha e a corveia. Ocasionalmente, conseguiam contratos de arrendamento por meio dos quais os senhores cediam lotes de terra por preços e prazos determinados.

Nessa época, houve ampliação das áreas de plantação e foram introduzidos novos instrumentos e técnicas agrícolas. Entre eles, podemos destacar:

  • rotação de culturas – divisão da terra em três áreas; enquanto duas áreas eram cultivadas, a outra parte descansava. Essa prática permitia que o solo se recuperasse mais rapidamente;
  • charrua – tipo de arado grande puxado por bois ou cavalos, que permitia arranhar e revirar solos mais duros, trazendo para cima os nutrientes acumulados nas camadas mais profundas da terra;
Gravura. Homens vestindo roupas simples, trabalham no campo. À direita, um deles segura uma charrua puxada por bois. Atrás dele, outro homem deposita sementes sobre o solo revirado. À esquerda, um terceiro homem guia os bois pelo caminho.
Gravura representando camponeses usando charrua para arar a terra, século onze.
  • ferradura – peça de ferro colocada nos cascos dos cavalos que evitava que se machucassem ao andar;
  • moinho – equipamento utilizado para moer cereais, esmagar olivas, quebrar minérios etcétera Durante a Idade Média, os moinhos movidos pela fôrça da água ou do vento foram aperfeiçoados e difundidos. Em geral, eram mais eficientes do que os moinhos movidos pela fôrça animal.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Um novo cenário”, incluindo seus subitens, favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um seis, pois caracteriza e compara as dinâmicas de abastecimento e do trabalho durante a Idade Média.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um trecho do livro Cocanha: a história de um país imaginário, no qual Hilário Franco Júnior analisa uma fábula medieval europeia.

A terra da abundância

“Como toda sociedade pré-industrial, também a do Ocidente medieval cristão via na fome uma das maiores ameaças à sua sobrevivência. Ameaça concreta, pois na Alta Idade Média os períodos de escassez alimentar ocorriam com frequência, atingindo áreas mais ou menos extensas. São conhecidos diversos casos de canibalismo, antropofagia, coprofagia, ingestão de terra, de insetos e de animais imundos, tentativas desesperadas de fugir aos tormentos da fome. Mesmo após o ano 1000, apesar dos progressos nas técnicas agrícolas e da melhora das condições climáticas, as carestias não desapareceram. É verdade que as fomes generalizadas, que anteriormente atingiam grande parte da Europa cristã, cederam lugar a fomes regionalizadas, que afetavam áreas mais restritas.

Ainda assim, elas foram trinta e sete nos séculos doze e treze – período de claros avanços econômicos e de relativa estabilidade político-social – ou seja, a intervalos de, em média, cinco anos, alguma região ocidental conhecia sérias dificuldades alimentares. O folclore e a literatura forneceram diversos testemunhos dessa presença constante do fantasma da fome. O exemplo mais claro e cronologicamente mais próximo ao Fabliau de Cocagne talvez seja o célebre Roman de Renart, elaborado entre 1170, no qual a maior parte das aventuras do personagem-título envolve a busca de comida.

Mas, além de alimentos em quantidade suficiente e regular, a sociedade medieval carecia ainda de vários outros bens de consumo. O desenvolvimento da vida urbana e do artesanato, a partir do século onze, não supriu aquele deficit produtivo. O setor manufatureiro, cartelizado pelas corporações de ofício, forçava a adequação do consumo à produção, não o inverso, mantendo a escassez e os preços altos. richardi rú notou com razão que, devido às limitações produtivas, tanto as fontes históricas quanto os trabalhos historiográficos sempre privilegiaram a oferta nas relações econômicas medievais. No entanto, ao se estudar aquele quadro em que a maioria da população vivia no limiar da fome, a demanda precisaria ser mais bem considerada. reticências

Diante disso, entende-se as várias utopias surgidas para superar imaginariamente aquela deficiência. Entre elas, a mais explicitamente dedicada ao tema foi a Cocanha.”

FRANCO JÚNIOR, Hilário. Cocanha: a história de um país imaginário. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. página56-57.

Mais alimentos e mais gente

O desenvolvimento da agricultura proporcionou um aumento da produção de alimentos. Comendo melhor, a mortalidade diminuiu e as pessoas passaram a viver mais. Assim, entre os séculos onze e catorze, houve um significativo crescimento populacional. Observe os dados do quadro que se referem a áreas dos atuais países: Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, França, Reino Unido, Espanha e Portugal.

Europa Ocidental: estimativa de crescimento demográfico (séculos X-XIII)

Ano

Habitantes

1000

22.100.000

1100

25.850.000

1200

34.650.000

1300

50.350.000

Fonte: FRANCO JR., Hilário; ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. Atlas de história geral. São Paulo: Scipione, 1993. p. 23.

Pintura. Representação do interior de um salão com mesas grandes e bancos de madeira. Há pessoas sentadas por todos os lados. Sobre a mesa há comida e jarros com bebida. À frente, dois homens seguram tábuas com pratos cheios de sopa.
Casamento camponês, pintura de píter bluréau, 1566-1569. Tanto na época de criação dessa obra como no período medieval, realizar banquetes era algo raro na vida de pessoas mais pobres. Por isso, essas refeições eram reservadas apenas para datas importantes.

Rotas comerciais

As atividades comerciais na Europa também se intensificaram sobretudo a partir do século onze. Para melhorar a circulação de mercadorias, desenvolveram-se rotas comerciais marítimas e terrestres.

As rotas marítimas do norte da Europa passavam pelo Mar do Norte e pelo Mar Báltico, abrangendo cidades como Londres, Lübeck e Hamburgo. Essas rotas eram controladas pela Liga Hanseática, criada em 1241 como uma associação de comerciantes e produtores de Hamburgo e Lübeck.

As rotas marítimas do sul passavam principalmente pelo Mar Mediterrâneo, tendo como portos de destaque Barcelona, Gênova, Veneza, Trípoli e Constantinopla. Os comerciantes mais ativos das rotas do sul eram os genoveses e os venezianos.

Essas redes de comércio marítimo eram interligadas por rotas terrestres. Elas aproveitavam, em boa parte, as antigas estradas construídas na época dos romanos. Mas novas vias de transporte também foram construídas.

Rotas comerciais europeias (século catorze)

Mapa. Rotas comerciais europeias (século catorze). Destaque para Europa e norte da África. Em verde, Flandres, pequena região no noroeste da Europa, próxima ao Mar do Norte, que compreende a cidade de Bruges. Em roxo, Champanhe, pequena região ao sul de Flandres. Linha roxa, Rotas marítimas do norte, atravessa o Mar do Norte e o Mar Báltico, ligando as cidades de Boston e Londres, na Ilha da Bretanha, às cidades de Bergen, Oslo, Estocolmo, Novgorod, Riga, Dantzig, Lübeck, Hamburgo e Bruges, na porção continental da Europa. Linha laranja, Rotas terrestres, interligando as cidades de: Bordéus, Paris, Marselha, Bruges, Colônia, Frankfurt, Gênova, Veneza, Leipzig, Hamburgo, Bremen e Lübeck. Linha verde, Rotas marítimas do sul, atravessando a costa do Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo, a fim de interligar as cidades de Bruges, La Rochelle, Lisboa, Cádiz, Barcelona, Marselha, Gênova, Nápoles, Veneza e Constantinopla, na Europa; e Túnis, Trípoli e Alexandria, na África. Círculos vermelhos indicam as Principais cidades da Liga Hanseática: Bruges, Colônia, Frankfurt, Bremen, Hamburgo, Lübeck, Dantzig, Estocolmo e Riga. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 310 quilômetros.
Fontes: KINDER, Hermann; HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982. página 188; ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 29.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Que rotas comerciais passavam pelas cidades de Constantinopla, Paris e Londres? Essas rotas estavam ligadas entre si?

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Os textos “Rotas comerciais” e “Feiras” favorecem o desenvolvimento das competências cê ê cê agá cinco e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um cinco, visto que abordam as dinâmicas de circulação de pessoas, produtos e culturas no Mar Mediterrâneo e seu significado, promovendo a interação das sociedades mediterrânicas.

Alerta ao professor

O boxe “Observando o mapa” contribui para o desenvolvimento das competências cê ê cê agá sete e cê ê agá cinco.

Observando o mapa

A cidade de Constantinopla fazia parte das rotas marítimas do sul, Paris fazia parte das rotas terrestres e Londres participava das rotas marítimas do norte. Essas rotas estavam interligadas entre si.

Feiras

Desde o século doze, feiras eram organizadas nos arredores das rotas de comércio. Essas feiras podiam durar semanas e reuniam pessoas de várias regiões para vender e comprar produtos como especiarias, vinho, azeite, seda, perfume, sal, açúcar, madeira, couro e mel. Entre as grandes feiras, destacaram-se as de Champagne, Flandres, Veneza, Gênova, Colônia e Frankfurt. Posteriormente, importantes cidades se desenvolveram nesses locais.

Ao lado do comércio, cresceu a produção artesanal. Os artesãos organizaram-se em corporações de ofício, também conhecidas como guildas ou grêmios. Havia corporações de ferreiros, tecelões, carpinteiros, sapateiros, entre outros. As corporações regulamentavam o exercício da profissão e controlavam o fornecimento, a qualidade e o preço dos produtos.

Iluminura. Casas cinzas com telhados azuis e vermelhos. Entre as casas há criação de ovelhas, cavaleiros, pessoas conversando e bancas de mercadorias expostas. No centro da imagem, há uma  torre, destaque para um homem de coroa dourada, manto azul, segurando um cetro dourado.
Iluminura representando a feira de Saint-Denis, na França, século quinze. As feiras medievais eram locais onde ocorriam tanto as trocas comerciais de produtos originários de diversas regiões como o contato entre diferentes culturas.
Fotografia. Rua com calçamento de pedra, roupas expostas em araras e barracas com objetos diversos. Pessoas caminhando entre as barracas. Ao redor da rua há sobrados antigos com portas altas e janelas largas.
Feira de antiguidades no centro do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021. Atualmente, as feiras de rua ocorrem em diferentes países; no Brasil, são comuns aquelas que acontecem semanalmente.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Você já foi a uma feira? Como foi essa experiência? Pense em aspectos como organização do local, tipos de produto à venda, interação entre vendedores e fregueses e compartilhe com seus colegas.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Depois de ler com os estudantes o texto “Feiras”, o professor pode mostrar imagens de algumas feiras que existem no Brasil e explicar que elas são importantes manifestações culturais. Por isso, muitas delas estão sendo valorizadas e protegidas pelos órgãos oficiais de proteção ao patrimônio artístico, histórico e cultural. Um exemplo interessante é a feira de Caruaru, considerada patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn). Esse tema pode estimular a turma a estabelecer relações entre passado e presente.

A seguir, confira alguns exemplos de feiras que ocorrem no Brasil.

  • São Paulo: Feira do Bixiga, Feira do Vão Livre do maspi, Feira da Liberdade, Feira da Praça Benedito Calixto etcétera
  • Rio de Janeiro: Feira de São Cristóvão, Feira de Copacabana, Feira da Praça quinze, Feira do Rio Antigo etc.
  • Goiânia: Feira do Cerrado, Feira Cora Coralina, Feira do Sol etcétera
  • Belo Horizonte: Feira das Flores, Feira Tom Jobim, Pampulharte etcétera
  • Belém: Feira do Ver-o-Peso, Feira de Artesanato na Praça da República etcétera
  • Recife: Feira do Bom Jesus, Feira de Caruaru etcétera

Para pensar

Resposta pessoal. Estimule os estudantes a investigar a região onde moram e a analisar seu espaço social. Existem muitas feiras pelo Brasil e nelas são comercializados vários tipos de produto, como frutas, legumes, peixes, flores, pinturas, objetos decorativos, redes, livros etcétera Muitas feiras são semanais, outras ocorrem todos os dias. Ou seja, em geral, as feiras são intermitentes, não são permanentes. A interação entre vendedores e fregueses pode ser mais pessoal, diferente das relações de um cliente que vai ao hipermercado.

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar”, ao propor aos estudantes que compartilhem uma experiência, favorece o desenvolvimento das competências cê gê seis, cê gê nove e cê ê cê agá um.

As cidades e os burgueses

Durante a Idade Média, surgiram várias cidades cercadas por altas muralhas, formando um núcleo chamado de burgo. Do termo nasceu a palavra burguês, usada para se referir aos comerciantes ou artesãos que viviam no burgo. Com o aumento da população, os burgos estenderam seus limites para fóra das muralhas.

O crescimento do comércio e do artesanato contribuiu para que os burgueses ficassem mais independentes dos senhores feudais. A princípio, os burgueses pagavam tributos aos nobres ou ao clero, pois viviam em áreas dominadas por eles. Em troca desse pagamento, negociavam o direito de livre comércio, proteção militar e liberdade para administrar as cidades. Em diversas ocasiões, porém, a autonomia das cidades foi conquistada por meio de lutas.

As cidades que se tornaram independentes ficaram conhecidas na França como comunas e na Península Itálica como repúblicas. Os moradores dessas cidades elegiam um governo, que cuidava da administração e da defesa. Os burgueses mais influentes ocupavam os principais cargos administrativos, elaboravam leis, criavam tribunais e cobravam impostos.

Um antigo ditado alemão dizia que o ar da cidade torna o homem livre. A frase reflete o momento histórico em que as cidades medievais conquistavam autonomia em relação aos senhores feudais. Podemos dizer que esse ditado expressa o desejo de muitos trabalhadores de conquistar mais liberdade. A liberdade de escolher seu próprio trabalho e de viver onde quisessem. Tudo isso foi sendo conquistado, mas não de uma hora para outra, nem em todos os lugares.

Xilogravura. Representação  de uma cidade cercada por muralhas de pedra e torres. No interior das muralhas há casas e torres. A cidade está à beira do mar e há três embarcações grandes no porto. Ao fundo, montes com vegetação e um castelo.
Xilogravura representando o porto e a cidade de Nápoles, Itália, 1482. Observe a movimentação portuária e as muralhas que cercam a cidade.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

O que significa liberdade para você? Dê exemplos daquilo que, em sua opinião, uma pessoa livre pode fazer.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “As cidades e os burgueses”, ao abordar a formação dos burgos e o fortalecimento da burguesia, contribui para o desenvolvimento da competência cê ê agá cinco. Já o boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê dois, cê gê nove, cê gê dez, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá quatro, cê ê cê agá seis e cê ê agá um.

Para pensar

Resposta pessoal. Tema para debate e reflexão. É possível estimular o debate indicando alguns caminhos. Por exemplo, pode-se verificar em que situações e com que sentidos os estudantes utilizam as palavras “liberdade” e “livre”. Depois, é interessante indicar a eles a existência de liberdades fundamentais na Constituição Federal brasileira, como a liberdade de pensamento, expressão, crença, reunião etcétera. Ressalte que, em sociedades democráticas, a liberdade deve conviver com a responsabilidade.

OUTRAS HISTÓRIAS

Cotidiano nas cidades

A partir do século treze, a vida ficou mais movimentada em várias cidades. Nelas existiam praças, feiras, igrejas, escolas, comércio e lazer.

Nas cidades havia festas religiosas, como a de Corpus Christi, ou não religiosas, como o Carnaval. De modo geral, festas e cerimônias religiosas eram controladas pela Igreja Católica e pela nobreza.

Já nas festas populares, as pessoas riam e debochavam dos costumes. Eram realizadas em ruas e praças com a presença de artistas como palhaços, malabaristas, mágicos etcétera Entre as festas populares, estavam as comédias e as paródiasglossário que, por vezes, recriavam trechos da Bíblia, orações e lendas.

Iluminura. Imagem dividida em três cenas. No centro e abaixo, multidão de pessoas dançando e tocando instrumentos musicais. Acima, uma pessoa deitada sobre uma cama e outra com máscara de cavalo no lugar da cabeça. Nas laterais, duas torres com pessoas observando a multidão.
Cena de Carnaval em iluminura que acompanha o poema Romance de Fauvel, de gervé du bus e Raoul Chaillou de Pesstain, século catorze.
Xilogravura. Representação de campo aberto, com pessoas de mãos dadas, dançando ao redor de um mastro. Em segundo plano, pessoas sentadas ao redor de mesas com comidas e bebidas. Ao fundo, grupos de pessoas, casas brancas de telhado vermelho e vegetação.
Xilogravura representando festival de dança medieval, de Nikolaus Medelmann, século dezesseis.

Responda no caderno

Atividades

  1. Em sua cidade existem espaços de convívio e festas? Quais?
  2. Você frequenta algum desses espaços e festas? Comente.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” intitulada “Cotidiano nas cidades”, ao explorar o cotidiano das cidades medievais, principalmente as atividades culturais, favorece o desenvolvimento da competência cê gê três. Já as atividades propostas na seção contribuem para o desenvolvimento das competências cê gê oito, cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro e cê ê cê agá cinco.

Outras histórias

1. e 2. Respostas pessoais. Estimule os estudantes a investigar a região onde moram e a analisar seu espaço social. São espaços de convívio e lazer: cinemas, museus, centros esportivos, praças, parques, bibliotecas, mercados e, em muitos casos, as próprias ruas e calçadas. Aliás, até em grandes centros urbanos como a cidade de São Paulo, há interesse de recuperar as ruas como espaços de convívio e lazer. Um exemplo desse interesse é a abertura da Avenida Paulista para pedestres aos domingos e feriados.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir permite aprofundar os estudos sobre cidades medievais.

Cidades medievais

“A cidade da Idade Média é uma sociedade abundante, concentrada em um pequeno espaço, um lugar de produção e de trocas em que se mesclam o artesanato e o comércio alimentados por uma economia monetária. É também o cadinho de um novo sistema de valores nascido da prática laboriosa e criadora do trabalho, do gôsto pelo negócio e pelo dinheiro. É assim que se delineiam, ao mesmo tempo, um ideal de

igualdade e uma divisão social da cidade, na qual os judeus são as primeiras vítimas. Mas a cidade concentra também os prazeres, os da festa, os dos diálogos na rua, nas tabernas, nas escolas, nas igrejas e mesmo nos cemitérios. Uma concentração de criatividade de que é testemunha a jovem universidade que adquire rapidamente poder e prestígio, na falta de uma plena autonomia.

Em 1300, menos de 20% da população do Ocidente reside em cidades e a maior aglomeração é, de longe, Paris, com... 200 mil habitantes, não mais.”

LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Editora Unésp, 1988. página 25-26.

Igreja Católica

A Igreja Católica surgiu no final do Império Romano. Mas ela se consolidou e se fortaleceu como instituição durante a Idade Média, principalmente depois que os francos se converteram ao catolicismo no século cinco. A partir daí, aos poucos, a Igreja Católica se transformou em uma instituição poderosa do ponto de vista religioso, político e econômico. Com isso, influenciou um conjunto de sociedades chamada de cristandade.

A Igreja conquistou grande número de fiéis em várias regiões da Europa, o que criou certa unidade cultural entre as sociedades medievais. Essa unidade se expressava, por exemplo, nos valores cristãos e no idioma latino. O latim (idioma oficial da Igreja) era utilizado principalmente por membros do clero e da nobreza.

Além disso, a Igreja Católica acumulou enorme riqueza, proveniente de doações de fiéis, concessões de reis e nobres. Assim, a Igreja tornou-se a maior detentora de terras da Europa Ocidental, chegando a controlar cêrca de um terço das áreas cultiváveis numa época em que as atividades agrícolas eram fundamentais para a economia.

Apesar da riqueza e da ostentação de alguns membros do clero, a Igreja Católica promoveu trabalhos sociais de extrema relevância. Entre esses trabalhos, destacaram-se a criação e a manutenção de orfanatos, escolas, asilos, hospitais, que atendiam principalmente grupos marginalizados da sociedade medieval.

Iluminura. Pessoas montadas sobre cavalos, vestindo túnicas em tons de vermelho e azul. No centro, a cavalo, um homem de cabelos e barbas grisalhos, vestindo túnica e manto bege. Ele usa uma coroa dourada na cabeça e segura um livro aberto. Ao redor de sua cabeça há uma auréola.
Iluminura representando Luís nono ou São Luís (ao centro), único monarca francês que se tornou santo, século catorze. Em seu reinado (1226-1270), conseguiu concentrar o poder real e, ao mesmo tempo, ser um representante do cristianismo.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Igreja Católica”, incluindo seus subitens, ao abordar a consolidação e o fortalecimento da Igreja Católica durante a Idade Média, permite analisar o papel do cristianismo na cultura e na organização social durante o período medieval, contribuindo para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero seis agá ih um oito.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir foi escrito por volta de 1075 pelo papa Gregório sétimo (1073-1085), que sintetizou em vinte e sete pontos suas ideias a respeito do poder papal no campo religioso e político. Destacamos alguns desses pontos, que demonstram o poder da Igreja Católica no período medieval.

O supremo poder do papa

“1. A Igreja Romana foi fundada, exclusivamente, por Deus.

2. Só o Sumo Pontífice Romano é, de pleno direito, designado ‘Universal’.

3. Só ele tem o poder de nomear ou depor os bispos reticências

6. É proibido manter relações ou permanecer na mesma casa de qualquer pessoa que tenha sido excomungada por ele. reticências

8. Só ele pode usar as insígnias do império.

9. Os príncipes só ao papa devem beijar os pés. reticências

11. O seu título é único no mundo.

12. Ele tem o poder de depor o imperador. reticências

19. Ninguém tem o poder de o julgar. reticências

22. A Igreja de Roma nunca se enganou e jamais se enganará, tal como está escrito nas Sagradas Escrituras.

23. O Soberano Pontífice, ordenado após eleições do concílio, é investido dos poderes de S. Pedro. reticências

GREGÓRIO sete. Dictatus papae. Apud: DELOUCHE, F. (organizador). História da Europa. Coimbra: Minerva, 1992. página 141.

O clero secular e o regular

Os sacerdotes da Igreja dividiam-se em dois ramos principais: o clero secular e o regular. No posto mais alto da Igreja estava o papa, considerado o sumo sacerdote.

O clero secular era formado por sacerdotes que viviam fóra dos mosteiros. Esse clero estava organizado de acordo com uma hierarquia, ou seja, um conjunto de funções ou cargos subordinados uns aos outros:

  • pároco – situado na base da hierarquia da Igreja. Era o padre responsável pela assistência espiritual em uma paróquia, isto é, uma comunidade que se reunia em um templo ou igreja;
  • bispo – situado acima dos párocos. Ele administrava um conjunto de paróquias, chamado de diocese;
  • arcebispo – cargo superior ao do bispo. Era responsável por um grupo de dioceses, chamado de província eclesiástica.

Durante a Idade Média foram fundadas várias ordens religiosasglossário , como a dos beneditinos, carmelitas, franciscanos, dominicanos. O clero regular era formado por monges que viviam nos mosteiros ou nos conventos e seguiam as regras de sua ordem religiosa.

Os monges dedicavam seu tempo à vida religiosa, ao cultivo dos campos, ao artesanato e aos trabalhos intelectuais. Foram eles, em boa parte, que copiaram e conservaram importantes obras de autores gregos e romanos. Preservando a cultura da Antiguidade, os mosteiros medievais transformaram-se em centros de ensino, com escolas e bibliotecas.

Iluminura. Representação do interior de uma igreja com dez homens de túnica preta, sentados lado a lado, em duas fileiras de uma tribuna dourada.
Iluminura representando coro de frades, século quinze.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir trata da influência da Igreja Católica na difusão de ideias sobre a morte durante a Idade Média.

Vivos e mortos na sociedade medieval

reticências a influência religiosa e material da Igreja e dos clérigos sobre a sociedade leiga aumentou sensivelmente depois do ano 1000. Ela permitiu inculcar nos fiéis uma moral religiosa centrada nas noções de pecado, de penitência, de salvação, que culminou, no fim do século doze, no ‘nascimento do purgatório’. Doravante todo cristão podia esperar ser salvo, mas com a condição de sofrer depois da morte castigos reparadores cuja duração e intensidade dependiam, de um lado, de seus méritos pessoais (suas boas e más ações e seu arrependimento no momento da morte) e, de outro lado, dos sufrágios (missas, preces e esmolas) de que seus parentes e amigos lançavam mão para sua salvação. Na falta deles, o morto podia aparecer a um parente ou amigo para reclamar-lhe os sufrágios de que tinha a maior necessidade e pedir-lhe que cumprisse em seu lugar as obras pias necessárias à sua salvação. Preocupada em afiançar e organizar a solidariedade dos vivos e dos mortos, a Igreja deu então ampla repercussão aos relatos de fantasmas.”

chimit jean clôde. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. página 18-19.

Escolas e universidades

Durante a Idade Média, a Igreja Católica exerceu forte influência na educação, fundando escolas junto aos mosteiros e às catedrais. Posteriormente, a partir do século XI, foram criadas universidades que também receberam a influência da Igreja. No entanto, algumas universidades conseguiram se desenvolver com relativa autonomia.

Uma universidade completa tinha cursos de Teologia (que incluía Filosofia), Artes (que incluía Ciências e Letras), Direito e Medicina. Entre as primeiras universidades europeias destacam-se as de Bolonha (Itália), Paris (França), Oxford (Reino Unido), Salamanca (Espanha) e Coimbra (Portugal).

Os estudos universitários eram privilégio de uma elite. Em geral, os cursos custavam caro e duravam muito tempo. Um jovem costumava iniciar seus estudos aos 15 anos e encerrá-los aos 30 anos.

Nas universidades existiam agitados grupos de estudantes. No século XII, alguns estudantes irreverentes ficaram conhecidos como goliardos. Eles faziam composições e cantavam canções críticas e satíricas. Celebravam o amor e os prazeres e, por isso, eram criticados e perseguidos pelas autoridades católicas.

Fotografia. Fachada com grandes paredes de pedra, uma cúpula lateral, diversas janelas e grandes portas vermelhas. À frente, pátio com calçamento de pedra e uma estátua de um homem, vestindo uma longa túnica.
Fachada da Universidade de Salamanca, Espanha, fundada oficialmente em 1218. Fotografia de 2021. Nessa universidade foram realizados estudos e debates sobre a expansão marítima espanhola e a viabilidade da viagem de Cristóvão Colombo às Índias.
Fotografia. Vista de uma grande edificação, com pátio central no interior. Na fachada, muro largo com abertura central e torres altas nas laterais. No centro, em frente ao pátio, duas grandes torres.
Universidade de Oxford, Reino Unido. Fotografia de 2021. Não se sabe com exatidão a data em que essa universidade foi fundada, mas estima-se que tenha sido por volta do século doze.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Quando terminar o Ensino Médio, você gostaria de estudar em uma universidade? Por quê? Você já começou a pensar em seu projeto de vida? Explique.
  2. Que curso universitário você acha interessante? Pense a respeito e troque informações com seus colegas.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento das competências cê gê seis, cê gê nove, cê gê dez, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois e cê ê cê agá quatro.

Para pensar

1 e 2. Respostas pessoais. Muitos estudantes têm o interesse de estudar em universidades. Assim, estimule-os a pesquisar cursos e a visitar universidades e faculdades. Além disso, incentive-os a conversar com pessoas que já frequentaram instituições de ensino superior. Essa pesquisa e troca de experiências poderá contribuir para que os estudantes amadureçam suas opiniões.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir complementa os estudos sobre as universidades medievais.

Universidades medievais

“Uma universidade é, para uma cidade, um bom negócio, primeiro porque fornece um mercado e inquilinos para as casas: durante muito tempo, as universidades não têm seus próprios edifícios e, quando os tiverem, serão sobretudo destinados ao ensino, embora já se desenvolva o sistema dos colégios para bolsistas – o mais célebre, em Paris, é aquele fundado pelo amigo de São Luís, o cônego Robert de Sorbon, a futura Sorbonne. Os universitários, os estudantes, mesmo aqueles que se dizem pobres, dispõem, apesar de tudo, de um poder de compra. Há estudantes de origem camponesa, mas são raros. A maior parte deles vem, com mais frequência, da pequena nobreza e representa, portanto, consumidores que interessam à cidade e ao ambiente burguês. Mas, como órgão da Igreja, protegido por ela, a universidade coloca restrições à liberdade urbana. Aí entra a taxação, por exemplo, a taxação dos alojamentos. Os burgueses veem-se obrigados a alugar diversos alojamentos na cidade a um preço fixo.

reticências os estudantes representam, na cidade, um corpo estranho e frequentemente encarado com hostilidade. Curiosamente, talvez sejam eles, entre os imigrantes vindos para a cidade

reticências, os mais malquistos. Faz-se a eles a mesma censura que hoje se faz àqueles que vêm das periferias: perturbam a vida dos bons burgueses, dos bons cidadãos.

reticências São portanto, em geral, malvistos. Na verdade, a atitude das cidades com respeito aos universitários, e sobretudo os estudantes, é ambígua ou, antes, ambivalente. De um lado, as cidades celebram suas universidades e seus universitários porque encontram nisso prestígio e mesmo lucros, mas, de outro, não se aplaca a hostilidade que se experimenta a seu respeito. Os estudantes constituem um mundo de jovens, e os jovens da Idade Média – talvez isto não tenha mudado tanto são agitadores.”

LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades. São Paulo: Editora Unésp, 1988. página 63, 66-67.

Universidades medievais europeias (séculos XI-XIV)

Mapa. Universidades medievais europeias (séculos onze a catorze). Destaque para a Europa Ocidental com a divisão política atual. Ícones de livros coloridos indicam o período de Fundação das universidades. Em verde, Século onze: Bolonha, na atual Itália. Em preto, Século doze: Módena e Perúgia, na atual Itália; Paris, na atual França; e Oxford, na atual Grã-Bretanha. Em amarelo, Século treze: Salerno, Nápoles e Pádua, na atual Itália; Montpellier e Toulouse, na atual França; Cambridge, na atual Grã-Bretanha; e na Península Ibérica, onde hoje se localizam Espanha e Portugal: Lérida, Palência e Salamanca, na atual Espanha, e Lisboa e Coimbra, em Portugal atual;  Em roxo, Século catorze: Roma, Pisa e Florença, na atual Itália; Praga, na atual República Tcheca; Grenoble, Cahors e Orleans, na atual França; e Valladolid, na porção da Península Ibérica atualmente pertencente à Espanha. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 270 quilômetros.
Fontes: ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 123; DUBY, Georges. Atlas historique: l’histoire du monde en 317 cartes. Paris: Larousse, 1987. página 68.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

  1. Qual é a universidade medieval mais antiga? Ela está localizada em que país atual?
  2. Que universidades estão localizadas na Península Ibérica? Quando elas foram fundadas?

Inquisição

Apesar do poder da Igreja, nem todas as pessoas seguiam rigorosamente seus dogmas. Algumas pessoas tinham crenças e costumes próprios, com frequência mais antigos que o cristianismo. Exemplo disso era o culto a certos animais, as práticas de adivinhações e de encantamentos.

As escolhas religiosas ou opções discordantes da Igreja eram chamadas de heresias. Aqueles que defendiam ou praticavam heresias eram considerados hereges ou heréticos. Para combatê-las, o papa Gregório nono criou, em 1233, os Tribunais da Inquisição, cuja função era descobrir e julgar os hereges.

O processo contra uma pessoa acusada de heresia podia demorar anos, e a investigação podia incluir tortura aos suspeitos. Os condenados pela Inquisição eram excluídos da comunidade dos católicos (excomungados) e entregues às autoridades do Estado para serem punidos. As penas iam desde a perda dos bens até a morte na fogueira.

A partir do final do século quinze, milhares de mulheres foram perseguidas pela Inquisição e acusadas de praticar feitiçaria. Estima-se que cêrca de 90 mil mulheres foram condenadas e queimadas na fogueira na Europa Ocidental.

A Inquisição atuou em várias regiões europeias, hoje correspondentes a países como França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Portugal e Espanha. A partir do século dezesseis, também agiu em outras regiões do mundo para as quais os europeus levaram o catolicismo, como a América e a Ásia.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Observando o mapa” contribui para o desenvolvimento da competência cê ê cê agá sete.

Observando o mapa

  1. A universidade medieval mais antiga indicada no mapa é a de Bolonha, localizada na atual Itália.
  2. Estão localizadas na Península Ibérica as universidades de Coimbra, Lisboa, Palência, Valladolid, Salamanca e Lérida. Todas essas universidades foram fundadas no século treze, exceto a de Valladolid, criada no século catorze.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir complementa os estudos sobre a Inquisição.

Inquisição

“A fundação da inquisição papal pode ser diretamente atribuída ao papa Gregório nono que, em sua bula Excommunicamus, estipulou procedimentos pelos quais inquisidores profissionais seriam enviados para localizar hereges e persuadi-los a se retratarem. As ações de Gregório nono ocorreram ao final de um longo período de lutas contra a heresia por parte da Igreja institucionalizada. Vários decretos papais e conciliares (1139, 1179, 1184 e 1199) tentaram regulamentar a detecção de heresia e impedir seu crescimento através da instituição de inquisições episcopais. Gregório nono tentou introduzir um certo grau de racionalidade legal nos procedimentos inquisitoriais: seriam instalados tribunais presididos por dois juízes locais nomeados pelo papa; os processos exigiam o depoimento de duas testemunhas que permaneciam no anonimato e não podiam ser diretamente impugnadas; o suspeito fazia seu depoimento sob juramento. Em 1252, Inocêncio quarto permitiu o uso da tortura para obter uma confissão. Se a confissão era feita, o indivíduo podia abjurar e recebia uma penitência canônica; se ele se mantivesse relapso, era entregue ao poder secular que habitualmente executava os hereges na fogueira.”

anrí luaion (organizador). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: zarrár, 1991. página 208-209.

Cruzadas

As Cruzadas foram expedições militares organizadas por autoridades da Igreja Católica e por poderosos nobres da Europa Ocidental. Além dos soldados treinados, as expedições eram acompanhadas por grupos não armados de monges, mulheres e crianças, que quase sempre morriam durante os combates ou pelo caminho, sofrendo com a fome e as doenças.

As Cruzadas mais importantes foram as que se dirigiram para o Oriente Médio, entre os séculos onze e treze. Seu objetivo declarado era libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados, combatendo aqueles que ameaçavam o catolicismo, o poder do clero ou o domínio dos nobres. Além das motivações religiosas e políticas, algumas expedições tiveram motivações econômicas, como a possibilidade de obter lucro com o saque de riquezas dos inimigos.

Cruzadas (séculos XI-XIII)

Mapa. Cruzadas (séculos onze a treze). Destaque para a Europa, parte da Ásia e norte da África. No sul da Europa, norte da África e parte da Ásia, em rosa, destaca-se os Territórios muçulmanos. No leste da Europa e oeste da Ásia, em verde, destaca-se o Império Bizantino. Na parte sudoeste da Ásia, em roxo, destaca-se os Estados cristãos no Oriente. Na região central da Europa Ocidental e parte da Península Ibérica destaca-se os Territórios católicos na Europa Ocidental. Ao longo do mapa, há linhas coloridas evidenciando a trajetória das Cruzadas: em vermelho, Primeira Cruzada (1095 – 1099): passando pelas cidades de Toulouse, Lyon, Chambery, Trieste, Gênova, Roma, Nápoles,  Durazzo, Verdun, Basileia, Ratisbona, Viena, Buda, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Konya, Cesareia, Adana, Edesa, Antioquia, Trípoli, Beirute e Jerusalém; em laranja, Segunda Cruzada (1148 – 1151): passando pelas cidades de Paris, Verdun, Metz, Wurtzburgo, Ratisbona, Viena, Peste, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Pérgamo, Sarges, Túnis e Antioquia; em verde, Terceira Cruzada (1189 – 1192): passando pelas cidades de Paris, Tours, Vézelav, Lyon, Gênova, Marselha, Ratisbona, Viena, Peste, Belgrado, Sófia, Constantinopla, Niceia, Konya, Siracusa, Messina, Chania, Cândia, Lárnaca, Nicósia e Acre, pela costa do Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo; em lilás, Quarta Cruzada (1202 – 1204): passando pelas cidades de Veneza, Trieste, Zara, Durazzo, Ition e Constantinopla; em azul claro, Quinta Cruzada (1217 – 1221): passando pelas cidades de Roma, Nápoles, Cândia, Antalvas, Lárnaca e Beirute; em rosa, Sexta Cruzada (1228 – 1229): passando pelas cidades de  Spalato, Chania, Cândia; Lárcana e Trípoli e pelo Mar Mediterrâneo; em azul escuro, Sétima Cruzada (1248-1254): passando pelas cidades de Vézelav, Aigues Mortes, Lárnaca, Damieta e Jaffa e pelo Mar Mediterrâneo; em roxo, Oitava Cruzada (1270): passando pelas cidades de Vézelav, Aigues Mortes, Túnis e Jaffa, pela costa do Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 330 quilômetros.
Fonte: HISTÓRIA VIVA. São Paulo: Duetto, ano I, número 2, página 20-21, dezembro 2003.
Iluminura. Destaque para dois homens imersos em uma fogueira no chão. Ao lado da fogueira, há um homem vestido uma camisa vermelha, calça branca, e botas marrons nos pés, levando um dos braços à frente de seu rosto, e com o outro segurando uma haste em direção às chamas. Ao redor, diversas pessoas observam a cena.
Iluminura do século catorze representando a execução de Jacques de Molay e Godofredo de Chamay na fogueira, acusados de heresia pelo rei francês Filipe, o Belo. Molay era o líder da Ordem dos Templários, fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa (Palestina) e Chamay era preceptor da Normandia.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir trata dos preconceitos raciais e religiosos construídos e reiterados durante as Cruzadas.

O preconceito nas Cruzadas

“Entre finais do século onze e finais do século treze, as Cruzadas proporcionaram um contato renovado e intensivo entre a Europa Ocidental e o Oriente Médio. Implicaram a emigração de cêrca de 200 mil pessoas do Ocidente para o Oriente, promoveram o comércio no Mediterrâneo e produziram trocas políticas e confrontos militares entre as potências muçulmanas e cristãs, tanto europeias como bizantinas. Com esse deslocamento humano em massa, entremeado de guerras, a identificação religiosa e étnica tornou-se essencial para a sobrevivência diária. Tipos físicos, modos de vestir ebarraou penteados associados a crenças religiosas tornaram-se os critérios óbvios para a identificação, o primeiro passo na avaliação dos diferentes povos. Num mundo perigoso e em constante mudança, os estereótipos visuais serviam para identificar ameaças e para ajudar os indivíduos a se sentirem seguros. A projeção de características psicológicas permanentes em diferentes povos e seus descendentes fazia parte do processo de criação de alianças e de definição de inimigos.

Assim, as Cruzadas estabeleceram as condições para a renovação dos preconceitos étnicos em contexto de guerra. No entanto, algumas fórmas de identificação, e até mesmo certos estereótipos primários, tinham já uma longa história. As Cruzadas adaptaram pressupostos étnicos desenvolvidos nos diferentes contextos da Antiguidade Clássica, das invasões bárbaras e da expansão muçulmana.”

bitencur, Francisco. Racismos: das Cruzadas ao século vinte. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. página 19.

Consequências das Cruzadas

Cada Cruzada teve suas próprias características e consequências. De modo geral, podemos dizer que as Cruzadas contribuíram para:

o empobrecimento de alguns senhores de terras, que tiveram suas economias arrasadas pelos custos das guerras;

Miniatura. Destaque para a representação do encontro de dois exércitos. À esquerda, homens vestindo armaduras coloridas e capacetes, portando espadas pontiagudas, sentados sobre o dorso de cavalos com tecidos coloridos sobre seus corpos. À direita, homens vestindo túnicas e lenços presos na cabeça, segurando escudos triangulares e espadas largas, sentados sobre o dorso de cavalos com tecidos coloridos. No solo, há cabeças decapitadas.
Miniatura do livro História do estrangeiro, de William de Tiro, século catorze, mostra cena de uma batalha entre cruzados e árabes “infiéis”.
  • o fortalecimento do poder real, que aumentou à medida que os senhores feudais perderam sua força;
  • o desenvolvimento do comércio entre certas regiões da Europa e do Oriente.

As conquistas cristãs no Oriente duraram pouco, pois os territórios foram sendo reconquistados pelos muçulmanos a partir do século treze. Esses conflitos geraram ressentimentos entre cristãos e muçulmanos que, de certo modo, permanecem até hoje e ainda são usados com objetivos políticos.

Iluminura. Destaque para cavaleiros agrupados sobre um pátio cercado de várias casas de pedras com telhados triangulares. Eles vestem roupas com o símbolo da cruz no peito e portam espadas. Ao fundo, pessoas ajoelhadas rezando e, pendurado em uma parede, um escudo vermelho com diversas cruzes.
Representação do século quinze mostra cavaleiros da Ordem de São João durante preparação para impedir que tropas do Império Otomano controlassem a Ilha de Rhodes, na atual Grécia. Observe as cruzes em suas roupas e no escudo da ordem.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir começa com um trecho narrado pela historiadora bizantina Ana Comnena a respeito da Primeira Cruzada (1095-1099).

A presença de mulheres nas Cruzadas

“‘Ocorreu então um movimento conjunto de homens e mulheres tal como ninguém se lembra de ter algum dia visto semelhante: as pessoas mais simples sentiam-se realmente impelidas pelo desejo de venerar o Sepulcro do Senhor e de visitar os Lugares Santos... Esses homens tinham tanto ardor e impulso que todos os caminhos ficaram cobertos deles; os soldados celtas eram acompanhados por uma multidão de gente desarmada mais numerosa do que os grãos de areia e do que as estrelas, carregando palmas e cruzes nos ombros. Alguém que a visse diria que eram rios que afluíam de todos os lugares... A nação dos celtas é, aliás, muito ardente e fogosa; quando toma impulso, é impossível detê-la.’ É uma mulher que se exprime, Ana Comnena, filha do imperador Aleixo. Portanto, uma princesa bizantina, que é a primeira historiadora, e a mais completa, do que chamamos a Primeira Cruzada (1095-1099). Foi uma mulher quem primeiro contou essa grande agitação que abalou de maneira tão profunda o Ocidente e o Oriente Médio; e essa mulher assinala, desde as primeiras linhas de sua narrativa, a presença de mulheres.”

régine pernue. A mulher nos tempos das Cruzadas. Campinas: Papirus, 1993. página19-20.

Mulheres na Idade Média

Assim como na Grécia e na Roma antigas, predominava na Idade Média o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar os papéis de esposa e de mãe.

Porém, no dia a dia, havia mulheres que não ficavam limitadas à vida doméstica. Elas participavam de várias atividades nas ruas e praças, nos mercados, nas feiras e oficinas artesanais. Além disso, a condição das mulheres dependia de sua posição social: a opressão atingia de fórma diferente as nobres e as camponesas livres e servas.

De modo geral, durante a Idade Média, as mulheres eram menos valorizadas do que os homens, sendo consideradas frágeis, emotivas e instáveis. Esses julgamentos foram usados como justificativa para a dominação masculina. Eram os homens que controlavam importantes instrumentos de poder como a Igreja, a guerra e os feudos.

Em uma sociedade profundamente influenciada pela Igreja, alguns pensadores cristãos defendiam que Eva havia cometido o pecado original, trazendo a maldade e a imperfeição ao mundo. Entretanto, a partir do século onze, desenvolveu-se o culto à Maria, “mãe de Cristo”, considerada santa e redentora. Essas duas figuras contrastantes marcaram o imaginário ocidental acerca da mulher.

Protagonismo feminino

Apesar das dificuldades enfrentadas, houve mulheres que administraram feudos, oficinas artesanais, comércios e que se dedicaram a atividades intelectuais, atuando como bibliotecárias, professoras e copistas, sobretudo em mosteiros femininos.

Também houve figuras femininas que se destacaram na vida social:

  • Catarina de Siena (1347-1380): foi membro da ordem dominicana e desempenhou papel importante em sua época. Ela queria reformar a Igreja, promover a paz na Península Itálica e fortificar a Europa, ainda que fosse por meio das Cruzadas;
  • Cristina de Pisano (cêrca de 1364-1430): escreveu obras literárias e filosóficas, nas quais defendia os direitos das mulheres. No Livro da Cidade de Senhoras, por exemplo, a autora criou uma cidade fictícia habitada por mulheres famosas da história;
  • Joana Dárc (cêrca de 1412-1431): liderou uma tropa francesa na Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Sua tropa venceu a batalha de Orleans, feito decisivo para o fim da guerra. Por razões políticas e religiosas, foi acusada de praticar bruxaria e condenada à morte na fogueira em 1431, aos dezenove anos de idade. No século vinte, foi canonizada pela Igreja Católica e tornou-se padroeira da França.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

VERISSIMO, Erico. A vida de Joana Dárc. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Escrito em 1935, o livro conta a história da francesa Joana d’Arc, que aos dezessete anos liderou um exército na Guerra dos Cem Anos.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

Mulheres na Idade Média

[Apresentadora 1]

Olá, pessoal! Meu nome é Daniela e hoje, aqui no podcast, eu e Joana vamos conversar sobre as mulheres na Idade Média europeia.

[Apresentadora 2]

Olá, Daniela e ouvintes! Como será que as mulheres eram vistas pela sociedade medieval? Quais espaços ocupavam? Será que os papéis que desempenhavam eram parecidos com os das mulheres de hoje? Vamos descobrir juntos?

[Apresentadora 1]

Para começar, é importante lembrar a grande influência da Igreja Católica na cultura medieval e como isso afetou a visão que se tinha das mulheres no período. A partir de interpretações bíblicas, por exemplo, a imagem feminina foi associada à santidade da Virgem Maria ou aos pecados atribuídos à Eva.

[Apresentadora 2]

E como elas eram vistas na sociedade medieval, Daniela?

[Apresentadora 1]

Nessa sociedade, de modo geral, as mulheres eram menos valorizadas que os homens. Havia uma série de preconceitos sobre a natureza feminina, como ideias pré-concebidas sobre sua suposta fragilidade e necessidade de proteção masculina. Além disso, predominava o ideal de que as mulheres deveriam desempenhar o papel de esposa e mãe.

[Apresentadora 2]

E todas as mulheres ocupavam os mesmos lugares na sociedade medieval?

[Apresentadora 1]

Não, Joana. Vamos entender melhor. Dividida em ordens, a sociedade medieval tinha pouca mobilidade social. Assim, a condição das mulheres também dependia da sua posição social. As mulheres que não pertenciam à nobreza, por exemplo, trabalhavam em casa, cozinhando e cuidando das crianças, e também fora dela, em atividades no campo e em atividades comerciais. Podiam ainda trabalhar para os nobres, cuidando da casa ou da roupa, por exemplo. Já as mulheres da nobreza, na maioria dos casos, se dedicavam apenas a atividades dentro do lar, como educar as crianças.

[Apresentadora 2]

Então esses papéis eram mesmo variados, Daniela!

[Apresentadora 1] Havia também as mulheres da nobreza que iam para os conventos. Lá, além de se dedicarem à vida religiosa, algumas delas podiam se aplicar nos estudos de filosofia, medicina e outras áreas do conhecimento. Nos conventos, há exemplos de mulheres que escreveram livros sobre teologia e filosofia. Ou seja, a Idade Média contou com uma importante produção intelectual feminina.

[Apresentadora 2]

Muito legal! Então, mesmo inseridas em uma sociedade com pouca mobilidade social, que conferia às mulheres uma posição social inferior, parte delas exerceu papéis que desafiavam a ordem estabelecida?

[Apresentadora 1] Isso mesmo! Uma história interessante é a de Cristina de Pisano, que nasceu por volta de1364, na Itália, e viveu na França desde a infância. Ela foi filósofa e poetisa, e com seus textos se sustentou após ficar viúva.

[Apresentadora 2]

Interessante mesmo! Conte-nos mais, Daniela!

[Apresentadora 1]

Cristina casou-se aos 15 anos, o que era comum na época. Dez anos depois, já com três filhos, ficou viúva, passando por problemas financeiros.

Nessa época, grande parte da população não sabia ler e escrever. Mas Cristina era uma exceção. Seu pai foi convidado para trabalhar como médico na corte francesa, quando ela ainda era criança. Ao conviver em um ambiente de letrados e intelectuais, como era a corte, Cristina foi alfabetizada e se interessou pela literatura. Na viuvez, ela passou a produzir textos e a viver da venda deles. Cristina é considerada por estudiosos como a primeira mulher a conseguir se sustentar financeiramente atuando como escritora.

 [Apresentadora 2]

Então, podemos dizer que Cristina de Pisano rompeu com padrões de sua época!

[Apresentadora 1]

Sim! Uma de suas principais obras é o Livro da Cidade de Senhoras. Nele, a autora valoriza a importância das mulheres na sociedade, desconstruindo visões que conferiam às mulheres uma posição social inferior.

[Apresentadora 2]

Explique mais, Daniela!

[Apresentadora 1]

Em Cidade de Senhoras, Pisano escreveu sobre uma cidade imaginária habitada apenas por mulheres. Essas mulheres são personagens importantes, que ocuparam lugar de destaque em diversos períodos da história, como a rainha de Sabá; Teodora, imperatriz bizantina; e a própria Virgem Maria. No livro, as mulheres possuem um papel tão importante quanto o dos homens para o desenvolvimento da humanidade.

[Apresentadora 2]

Podemos dizer, então, Daniela, que a vida e a obra de Cristina de Pisano são um dos exemplos que temos da diversidade do papel da mulher na Idade Média.

[Apresentadora 1]

Sim, Joana! Além disso, a atuação de várias mulheres como Cristina de Pisano, ao longo da história, contribuiu para que, com o tempo, as mulheres ocupassem diferentes posições sociais e conquistassem direitos.

[Apresentadora 2]

Isso mesmo, Daniela! Mas ainda há muito o que se conquistar para que os direitos das mulheres sejam respeitados e garantidos em todo o mundo. Até mais, pessoal!

[Apresentadora 1]

Com certeza! Até mais!

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir complementa os estudos sobre a história das mulheres na Idade Média.

Mulheres no período medieval

“Elas emergem das fontes medievais com múltiplas aparências. Uma imagem duradoura é a grande dame adorada à distância por seu cavaleiro, conforme descrita do século doze em diante nas novelas de cavalaria. Sua antítese é a imagem das mulheres em pactos matrimonias, como mercadorias a serem avaliadas de acordo com a herança ou o dote que traziam com elas. O culto da Virgem Maria, popular em toda a sociedade desde o século onze, era um equivalente eclesiástico do amor cortesão, o qual destacava a mãe do Cristo como figura simultaneamente divina e maternal. Seu oposto era a forte tradição misógina herdada de São Paulo e dos escritores patrísticos, que retratavam a mulher como Eva, a suprema tentadora e obstáculo para a salvação; era melhor casar do que se consumir – mas não muito melhor – e um homem decidido a levar uma vida santa deveria ingressar em uma ordem religiosa. Essas ideias variáveis e frequentemente contraditórias sobre as mulheres são sintomáticas da natureza complexa e multiforme de seu status e funções na sociedade medieval.

A grande maioria das mulheres vivia e morria totalmente sem história, quando trabalhava no campo, na lavoura e no lar. É provável que, no início da Idade Média, em grande parte da Europa Ocidental, a expectativa de vida para mulheres fosse muito inferior à dos homens, e as mulheres como trabalhadoras e geradoras de filhos podiam ser, portanto, uma valiosa mercadoria. No século onze, entretanto, o desequilíbrio inverteu-se. Movimentos religiosos populares foram uma saída para os excedentes femininos, mas a maioria das mulheres trabalhava para sustentar-se. Muitas delas na Idade Média eram trabalhadoras agrícolas e a rudeza de suas vidas é captada no Piers Plowman, de lãnglend. reticências. Outras trabalhavam em comércio como a venda de víveres e bebidas, confecção de roupas ou em artesanatos. As esposas de mercadores e comerciantes estavam frequentemente envolvidas nos negócios dos maridos, e podiam optar por prosseguir neles quando viúvas. As mulheres de burgueses ricos, de cavaleiros e da nobreza eram responsáveis pela organização não só do funcionamento de suas casas, mas também da economia doméstica, o que podia ser uma pesada responsabilidade. reticências

No topo da sociedade, porém, algumas mulheres lograram exercer enorme poder e umas poucas se tornaram [sic] imperatrizes ou rainhas por suas prerrogativas legítimas.

reticências ocasionalmente, mulheres comandaram exércitos ou, como Joana d’Arc, forneceram inspiração e direção. O resultado foi terem sido descritas por autores contemporâneos em termos nada lisonjeiros reticências.”

LOYON, Henry R. organização. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. página264-266.

Alerta ao professor

O texto “Mulheres na Idade Média”, incluindo seu subitem, ao mostrar o cotidiano das mulheres na Idade Média e destacar casos de protagonismo feminino nesse período, permite descrever e analisar os diferentes papéis sociais das mulheres nas sociedades medievais, favorecendo o desenvolvimento das competências cê gê nove e cê ê cê agá um, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um nove.

Outras indicações

dubí jórj. As damas do século doze. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Trilogia do historiador francês Gêórge Dubí apresenta diferentes aspectos sobre a vida das mulheres na Idade Média.

Produções culturais: pintura e religião

A pintura medieval foi dominada por temas religiosos. Muitas obras desse período tinham como tema a vida dos santos, de Cristo e de Nossa Senhora.

Nessa época, a pintura foi usada para ensinar a religião católica, pois a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever. No século seis, por exemplo, o papa Gregório explicou em poucas palavras como a pintura podia servir a esse propósito. Segundo ele, a pintura seria o “livro dos analfabetos”. Isso quer dizer que os quadros expostos nas igrejas deviam fazer com que homens, mulheres e crianças pudessem ver o que ouviam nos sermões e não conseguiam ler nos livros.

Além dos quadros, a pintura de murais, vitrais e miniaturas também teve grande importância. Entre os pintores mais destacados estavam os italianos Giotto (1266-1337) e Cimabue (1240-1302).

Pintura. Representação de um conjunto de seres com aspecto angelical, vestindo túnicas, com auréolas douradas ao redor de suas cabeças. À frente, um segura uma harpa, e outros dois tocam clarinetes.
Um dos painéis da obra A coroação da Virgem, pintado por Giotto, 1335. Nesse painel, são representados anjos tocando instrumentos musicais e saudando a coroação de Maria. Esse tema religioso aparece com frequência em pinturas europeias dos séculos treze a quinze.
Afresco. Representação de uma mulher vestindo uma túnica azul, sentada sobre um trono, segurando um bebê em seu colo. Ao redor, figuras com aspecto angelical, com asas nas costas, vestindo túnicas. À direita, um homem vestindo túnica marrom. Todos possuem auréolas ao redor de suas cabeças.
Afresco representando Maria e seu filho, Jesus, cercados por quatro anjos e São Francisco de Assis, à direita, pintado por Cimabue, 1278-1280.
Pintura. Representação de um homem vestindo uma túnica branca com capuz, em pé, apoiando seu corpo sobre um cavalo de pelagem marrom. Ele tem o olhar voltado a um jovem ajoelhado no chão, vestindo túnica branca e vermelha, segurando um pincel em contato com uma rocha. Ao lado do rapaz, há cabras.
Representação de Cimabue observando o jovem Giotto pintar uma cabra em uma rocha, pintura de Gaetano Sabatelli, século dezenove. Giotto teria sido discípulo do artista florentino Cimabue.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Produções culturais: pintura e religião”, incluindo seus subitens, contribui para o desenvolvimento das competências cê gê dois e cê gê três, bem como da habilidade ê éfe zero seis agá ih um oito, sobretudo por analisar a influência do cristianismo na pintura e na arquitetura durante o período medieval.

As catedrais

A arquitetura medieval do Ocidente é conhecida pela construção de catedrais imensas e monumentais. Essas obras pretendiam demonstrar a presença e o poder de Deus, bem como o poder e a riqueza da Igreja Católica. Entre os principais estilos arquitetônicos medievais, destacam-se o românico e o gótico.

Estilo românico

O estilo românico desenvolveu-se entre o final do século oito e o século XII. Entre as características desse estilo estão os traços simples e severos. As igrejas românicas foram construídas com paredes grossas, geralmente de pedra. A Igreja de São Martinho, na Espanha, é um exemplo desse estilo arquitetônico. Observe nas imagens alguns de seus elementos.

Fotografia. Fachada de uma igreja de tijolos, com torres laterais em formato arredondado, uma porta frontal com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 1. Na lateral, janelas com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 2.
Fachada da Igreja de São Martinho, na cidade de Frómista, Espanha, construída por volta do século onze. Fotografia de 2021.

1. Porta frontal.

2. Janelas estreitas, que permitiam a entrada de pouca luz externa.

Fotografia. Interior de uma igreja com bancos de madeira enfileirados e um corredor central. Possui um teto formado por arcos redondos sustentados por colunas e a indicação do número 3. No centro, um altar com a escultura de um homem crucificado e a indicação do número 4.
Interior da Igreja de São Martinho, na cidade de Frómista, Espanha, construída por volta do século onze. Fotografia de 2017.

3. Arcos redondos (em formato de semicírculo).

4. No interior, existiam imagens de santos nos espaços laterais e relíquias embaixo do altar principal.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir aprofunda os estudos sobre arte gótica.

A arte gótica

“Ao princípio, cêrca de 1150, a região do Gótico era assaz limitada. Correspondia apenas à província conhecida por Île-de-France (isto é, Paris e os arredores), o patrimônio dos reis da França. Um século volvido já a maior parte da Europa ficara gótica, da Sicília à Islândia, com exceção de algumas ilhotas românicas, aqui e acolá; o novo estilo alcançara mesmo o Próximo Oriente, levado pelos Cruzados. Mais ou menos por 1450, a área do Gótico começara a diminuir, a Itália já se encontrava de fóra e em meados do século dezesseis ficara reduzida a quase nada. Por isso, o estrato gótico tem um aspecto complicador: a sua espessura varia desde 400 anos em alguns lugares, até a um mínimo de 150, noutros. Esta configuração, porém, não se define com a mesma clareza em todas as artes visuais. O termo Gótico foi cunhado para a arquitetura e é nesta que as características do estilo podem ser reconhecidas com maior facilidade. Só nos últimos cem anos se tornou corrente falar da pintura e da escultura góticas e, por enquanto, ainda há alguma incerteza acerca dos limites exatos do estilo gótico nesses campos. Esta evolução do nosso conceito corresponde à maneira como o novo estilo se desenvolveu: começou pela arquitetura e durante um século – de c. 1150 a 1250, na época das grandes catedrais – esta manteve o seu lugar dominante. A escultura gótica, de início estritamente arquitetural pelo espírito, ficou a sê-lo cada vez menos passado 1200: as suas obras mais notáveis situam-se entre 1220 e 1420. A pintura, por seu turno, atingiu o apogeu criador entre 1300 e 1350, na Itália central; ao norte dos Alpes cabe-lhe o predomínio a partir de 1400. Constatamos assim, encarando a época gótica como um todo, uma deslocação progressiva do centro de interesse, da arquitetura para a pintura ou, dizendo melhor, dos caracteres arquitetônicos para os picturais (é característico que a primeira escultura e pintura góticas reflitam ambas a disciplina do seu contexto monumental, enquanto a arquitetura e a escultura do Gótico Final se esforçaram mais para obter pitorescos que fórmas límpidas e sólidas). Acima deste esquema geral, afirma-se um outro: o da difusão internacional em face da independência regional. Elaborada localmente na Île-de-France, a Arte Gótica alastra pela França e irradia para toda a Europa, onde ficou a ser conhecida por opus modernum ou fancigenum – ‘trabalho moderno ou francês. No decurso do século treze, o novo estilo perde gradualmente o seu carácter importado e as variedades regionais voltam a afirmar-se. Pelos meados do século catorze, nota-se uma tendência crescente para o aumento das influências mútuas desses regionalismos, até que, c. 1400, um Gótico Internacional, estilo surpreendentemente homogêneo, prevalece em quase toda a parte.”

JANSON, H. W. História da arte. Lisboa: Fundação caluste golbekiân, 1982. página 283.

Estilo gótico

O estilo gótico predominou entre os séculos doze e catorze. As igrejas construídas nesse estilo apresentam traços mais leves e paredes mais finas que os das românicas. A Catedral de Chartres, na França, é um exemplo de construção gótica. Ela foi erguida entre 1120 e 1170. Observe nas imagens alguns de seus elementos.

Fotografia. Interior de uma igreja com paredes muito altas, teto com diversos arcos simetricamente entrecruzados, e a marcação do número 1. Nas paredes, diversos pilares e a marcação do número 2. Na parte superior das paredes, janelas estreitas com vitrais coloridos e a marcação do número 3. No chão, sequências de cadeiras de madeira dispostas enfileiradas e algumas pessoas transitando pelo corredor.
Interior da Catedral de Chartres, França. Fotografia de 2021. Construída no século treze, essa catedral foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

1. Arcos em formato de ogivas.

2. Pilares para sustentar o teto e os terraços.

3. Janelas com vitrais coloridos, que permitem a passagem da luz.

Fotografia. Fachada de uma igreja com torres laterais altas, telhados pontudos com cruzes no ápice e a indicação do número 4.  No centro, um grande vitral redondo, com a indicação do número 5. Abaixo dele, três portas frontais com a parte superior em formato de arco e a indicação do número 6.
Fachada da Catedral de Chartres, França. Fotografia de 2022.

4. Torres altas com extremidades em formato de agulha, apontando na direção do céu.

5. Rosácea, que é um vitral decorativo colocado acima das portas frontais da igreja.

6. Três portas frontais.

Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica: filme.

dica filme

O corcunda de Notre Dame (Estados Unidos). Direção de guéri trusdaiol e quir uáise, 1996. 91 minutos

Desenho animado inspirado no romance homônimo de Victor Hugo (1802-1855). Na Catedral de Notre Dame, o tocador de sinos Quasímodo vive sozinho e isolado. Certo dia ele decide sair da torre para participar de uma grande festa realizada nas ruas de Paris. Durante a festa, a população zomba de Quasímodo por causa de sua aparência, mas ele é ajudado pela cigana Esmeralda.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Comente que os templos construídos em estilo gótico tinham dimensões impressionantes: suas torres imensas e pontiagudas levavam os fiéis a observar o céu; a fachada quase sempre era decorada com vitrais representando cenas da vida de Jesus e dos santos; e cenas semelhantes eram retratadas nas pinturas e nas estátuas dos altares central e laterais. O ambiente interno, isolado da luz direta, convidava os fiéis à meditação. Enfim, as igrejas eram lugares de peregrinação e adoração a Deus, materializando o poder da Igreja Católica.

Muitos elementos dessa proposta pedagógica na construção dos templos ainda estão presentes nos dias de hoje. Em boa parte das cidades do Brasil, as igrejas católicas estão localizadas em um lugar de destaque no centro das cidades ou nos bairros. Nelas ainda é possível encontrar representações da vida dos santos, tanto nas estátuas como nas pinturas.

Uma visita monitorada ao templo católico mais próximo da escola pode ser uma oportunidade interessante de observação e análise do espaço, com destaque para aspectos tradicionais, mantidos desde a época em que a Igreja Católica tinha papel preponderante na sociedade europeia. Entretanto, é preciso cuidado ao abordar a questão do catolicismo, pois no Brasil são professadas muitas outras religiões, além de muitas pessoas não professarem religião alguma.

O papel pedagógico da arquitetura também está presente nas edificações de templos evangélicos, muçulmanos, ortodoxos e afro-brasileiros, por exemplo. Portanto, seria oportuno analisar esses templos com as mesmas intenções e, se possível, compará-los quanto aos seus detalhes e disposição do espaço.

Crises medievais

A partir do século catorze, houve uma queda na produção agrícola, grandes epidemias, revoltas populares e longas guerras. Isso gerou uma crise na sociedade medieval.

Nesse período, as melhores terras já tinham sido ocupadas para a produção de alimentos e ficou difícil continuar a expansão agrícola. Muitos nobres, por exemplo, impediram que mais florestas fossem derrubadas para o cultivo, pois queriam preservar essas áreas para a caça e a extração de madeira, mel e frutas.

Além disso, os problemas na agricultura se agravaram em função de guerras, fatores climáticos (secas, geadas, inundações) e técnicas inadequadas de cultivo. Assim, iniciou-se um período de escassez de alimentos, que levou milhares de pessoas à fome.

Enfraquecidos pela fome ou pela subnutrição, muitos europeus ficaram vulneráveis a doenças. Algumas delas tornaram-se verdadeiras epidemias, como foi o caso da peste negra, nome dado a uma doença contagiosa e mortal que vitimou milhões de pessoas no século catorze.

Iluminura. Representação de um ser sombrio, de aspecto fúnebre, com asas pretas nas costas, segurando uma foice. O ser está em pé sobre o corpo de uma mulher deitada em um caixão carregado por um carro de boi. Ao redor, diversas pessoas deitadas sobre o solo, de olhos fechados, aparentando estar mortas.
Iluminura de Triunfos, de Frantchesco Petrarca, século dezesseis, representando a Morte.

Essa doença era provocada por um microrganismo encontrado com frequência em ratos e podia ser transmitida por pulgas que picavam esses animais e depois picavam os seres humanos ou pela tosse de pessoas contaminadas. Naquela época, não havia remédios para a peste negra. Em termos práticos, a melhor solução para evitar a doença era ficar isolado dos focos da epidemia.

Muitos acreditavam que a doença era um castigo de Deus e organizavam orações e procissões suplicando a misericórdia divina. Estudiosos calculam que cérca de um terço da população europeia tenha morrido em razão dessa doença.

Iluminura. Representação de um grupo de pessoas enfileiradas em procissão. Os homens estão descalços, sem camisa, com o pescoço e os ombros cobertos por tecidos coloridos, usando chapéus escuros, pontudos e com cruzes vermelhas. Eles seguram varas em direção às costas. À frente, um deles segura um crucifixo, enquanto crianças com roupas coloridas seguram hastes verticais com velas e uma bandeira.
Iluminura representando pessoas flagelando-se durante procissão para suplicar pelo fim da peste negra, século catorze.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Este conteúdo refere-se ainda à página 237. Em grupo, analisem o filme O corcunda de Notre Dame, indicado no boxe “Dica”. Para isso, sigam as orientações.

  • Assistam ao filme e elaborem uma ficha técnica com os dados da obra: nome, ano em que foi produzido, época retratada, diretor, atores principais etcétera.
  • Qual é o tema do filme? Escrevam um resumo da história descrevendo também, por exemplo, cenários e personagens.
  • Vocês aprenderam alguma coisa com o filme? O quê?
  • Do que vocês mais gostaram no filme? E do que não gostaram?
  • Vocês contariam essa história de outra maneira?

Trata-se de uma atividade que favorece o desenvolvimento da competência cê gê três e é interdisciplinar com Arte. O professor pode encontrar orientações sobre o trabalho com filmes no tópico 5.5., Filmes, deste manual.

Revoltas e guerras

Nos séculos catorze e quinze, ocorreram diversas revoltas de camponeses e guerras entre nobres, com destaque para a Guerra dos Cem Anos. Esses conflitos contribuíram ainda mais para agravar a crise medieval.

Diante do sofrimento causado pela fome e pelas mortes decorrentes da peste negra, os camponeses se revoltaram. Em 1358, milhares de camponeses franceses mataram nobres e destruíram castelos. Posteriormente, em 1381, camponeses ingleses exigiram do rei o fim da servidão e a diminuição de impostos. As duas revoltas camponesas foram severamente reprimidas pelos nobres, que, dispondo de armamentos e treinamento militar, massacraram os rebeldes.

A Guerra dos Cem anos (1337-1453) foi um conflito entre a França e a Inglaterra que, na verdade, durou cêrca de 116 anos com inúmeras interrupções. Esse conflito envolveu disputas pelo trono francês e por territórios na rica região de Flandres. Ao longo do conflito, houve vitórias importantes de ambos os lados. Porém, no final, o exército francês expulsou os ingleses de quase todos os territórios da França.

Iluminura. Imagem representando o confronto naval entre duas tropas. Os combatentes vestem capacetes e armaduras e portam espadas e lanças. Eles estão sobre navios de madeira, posicionados lado a lado no mar. Alguns combatentes estão em queda no mar.
Iluminura do século quinze representando a Batalha de Sluys, entre franceses e ingleses, que ocorreu em 24 de junho de 1340. Além desse e de outros conflitos navais, durante a Guerra dos Cem Anos aconteceram diversos embates por terra.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia o trecho a seguir, em que o historiador Hilário Franco Júnior caracteriza aspectos da Guerra dos Cem Anos.

Guerra dos Cem Anos

“Apesar das transformações políticas dos séculos onze-treze, na Baixa Idade Média os vínculos feudais continuavam a tensionar as relações entre vários Estados: o rei da Inglaterra era vassalo francês, o Reino Português surgira de uma secessão de Castela, a Escócia estava ligada à Inglaterra, e Flandres à França. Todas essas questões pendentes, ou mal resolvidas, vieram à tona com o grande conflito nacionalista da Idade Média, a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Mas esta também envolveu questões feudais internas, pois cada vez mais se restringia o papel social da nobreza, que era cumprido através de guerras locais, proibidas pelas monarquias, daí a necessidade de guerras mais amplas, entre os Estados. Na perspectiva das monarquias, guerras nacionais significariam, entre outras coisas, a submissão e o controle definitivos da nobreza feudal. Na perspectiva desta, as guerras monárquicas poderiam ser o caminho para restabelecer seu poder e controlar o próprio Estado. Deste duplo ponto de vista, a Guerra dos Cem Anos foi também o grande conflito feudal da Idade Média.”

FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. página 66.

Responda no caderno

OFICINA DE HISTÓRIA

Conferir e refletir

  1. Explique como as autoridades da Igreja Católica exerciam seu poder na Idade Média.
  2. Explique o que você entendeu por heresia e hereges.
  3. Com base no que você estudou sobre a intolerância da Inquisição, reflita: a violência ainda é utilizada para combater as diferenças de pensamento entre as pessoas? Qual é sua opinião sobre isso? Argumente em defesa da convivência pacífica.
  4. O que foram as Cruzadas da Idade Média? Quais eram seus objetivos? Que grupos participaram delas?

integrar com ARTE

Interpretar texto e imagem

5. Grande parte das músicas e poesias dos goliardos é anônima, pois os autores escondiam seus nomes para se proteger de possíveis perseguições. Leia, a seguir, um pequeno trecho de uma cantiga atribuída aos goliardos:

“Se o sábio

tem o costume

de construir sua morada

sobre a rocha,

então sou um louco,

pois sou como a corrente que avança,

e cujo curso

jamais se detém.

Sigo adiante

como um barco sem piloto,

como um pássaro vagando

pelos ares;

nada me detém,

nem chave nem grilhõesglossário ;

procurando meus semelhantes,

junto-me aos miseráveis. reticências

Meu caminho é longo

como minha juventude;

lançar-me-ei aos víciosglossário ,

esquecido das virtudesglossário ,

desejando mais os prazeres

que a salvação;

minha alma está morta,

só me importa a carne.”

CARMINA Burana. In: PAIS, Marco Antônio de Oliveira. O despertar da Europa: a Baixa Idade Média. São Paulo: Atual, 1992. página 66.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção favorece o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

  • cê gê um (atividades 3 e 5);
  • cê gê dois (atividades 5 e 6);
  • cê gê três (atividades 5 e 6);
  • cê gê sete (atividade 3);
  • cê gê dez (atividades 3 e 5);
  • cê ê cê agá um (atividade 3);
  • cê ê cê agá dois (atividades 3 e 5);
  • cê ê cê agá quatro (atividade 3);
  • cê ê cê agá cinco (atividades 3 e 5);
  • cê ê cê agá seis (atividade 3);
  • cê ê agá um (atividades 3 e 5);
  • cê ê agá três (atividades 5 e 6);
  • cê ê agá quatro (atividade 5);
  • ê éfe zero seis agá ih um seis (atividade 6);
  • ê éfe zero seis agá ih um oito (atividades 1, 2, 4 e 6).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. A Igreja Católica procurou implantar a unidade religiosa na Europa difundindo o cristianismo e combatendo outras religiões e crenças. Além de se impor pela fé, a Igreja Católica detinha poder econômico e muitas vezes disputava o poder temporal com os reis. Também é possível mencionar que muitos professores das universidades medievais eram membros do clero e constituíam uma elite intelectual.
  2. Um dos sentidos da palavra “heresia” se refere à adoção de doutrinas e práticas religiosas diferentes do dogma católico. O herege é aquele que pratica uma heresia.
  3. Tema para debate e reflexão. Infelizmente, existem casos em que a violência ainda é utilizada para combater as diferenças de pensamento, sobretudo em regimes políticos autoritários. No entanto, em uma sociedade democrática, as divergências de pensamento devem ser resolvidas por meio da argumentação, e não da violência (física ou simbólica). A violência simbólica é um conceito criado pelo sociólogo Pierre Bourdieu para caracterizar processos que impõem certos valores culturais causando danos psicológicos e morais em suas vítimas. A liberdade de pensamento determina que cada pessoa pode, por si mesma, formar e defender as próprias ideias. A pluralidade de ideias é um dos pilares das sociedades democráticas, integrando aceitação e acolhimento da diferença, do outro. Essa liberdade se desenvolveu principalmente a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França (1789). Portanto, mais de dois séculos após o fim da Idade Média.
  4. As Cruzadas foram expedições que tinham objetivos religiosos, políticos e econômicos. Elas pretendiam combater ameaças ao catolicismo e ao poder do clero católico e dos nobres, libertar cristãos e lugares considerados sagrados e, em muitos casos, conquistar riquezas. Os principais confrontos ocorreram no Oriente Médio, entre católicos e muçulmanos. Participaram das Cruzadas soldados treinados, monges, mulheres e crianças.
  1. Essa cantiga é de autoria anônima? Isso era comum entre as obras dos goliardos? Por quê?
  2. Nos últimos versos, os pares de palavras vício e virtude, prazeres e salvação, alma e carne representam ideias opostas. Explique por que esses versos satirizam valores que predominavam na sociedade medieval.
  3. Nos dias atuais, há grupos de jovens que utilizam o humor para criticar autoridades, costumes e valores? Pense em seu cotidiano e dê exemplos.
  1. Observe com atenção a imagem a seguir e faça o que se pede.
    1. Em que época foi criada essa obra?
    2. A que fato histórico e a que época a iluminura se refere?
    3. Descreva detalhadamente o que você vê na imagem, em primeiro plano e ao fundo.
    4. Com base neste capítulo e no anterior, a quais grupos sociais pertenciam as pessoas representadas na iluminura?
    5. Explique quais interesses estavam em jogo no episódio representado na imagem.
Iluminura. Representação de uma multidão de pessoas. Em primeiro plano, ao centro, um homem de cabelos loiros, compridos, vestindo um manto azul e dourado e, na cabeça, uma coroa dourada. À frente dele, um homem vestindo uma túnica vermelha empunha uma cruz em sua direção. Ao redor, diversas pessoas vestindo diferentes túnicas nas cores azul, vermelho e ocre. Entre essas pessoas, à esquerda, um homem com capuz vermelho e outro com túnica branca, com as mãos juntas, em posição de oração. Atrás dessas pessoas, um exército de homens vestindo capacetes e portando lanças. Ao fundo, castelos e áreas verdes onde pessoas caminham e andam a cavalo.
Iluminura do século quinze, de autoria desconhecida, representando a preparação do rei Luís sétimo para a Segunda Cruzada, em 1146.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

  1. Atividade interdisciplinar com Arte.
    1. Essa cantiga é de autoria anônima. Isso era comum entre os goliardos, pois era uma fórma de proteção. Essas cantigas apresentam críticas e sátiras que possivelmente comprometeriam seus autores.
    2. Na poesia, o personagem diz que prefere o vício, deseja os prazeres e que sua alma está morta. Essas palavras são a antítese dos valores que predominavam na sociedade medieval e que estavam profundamente relacionados ao cristianismo. Nesse período, a Igreja Católica defendia o exercício da virtude e a busca pela salvação da alma.
    3. Esta atividade possibilita reflexões sobre as culturas juvenis, principalmente sobre seu caráter contestador e transformador em diferentes sociedades. Sim, existem diversos grupos que utilizam o humor para criticar autoridades, costumes e valores. Antes da apresentação dos exemplos, recomenda-se que o professor analise com os estudantes o material pesquisado por eles, como textos, músicas ou poesias.
    1. Essa obra foi produzida no século quinze.
    2. Refere-se à preparação do rei Luís sétimo para a Segunda Cruzada e à época medieval, mais precisamente o ano de 1146.
    3. Em primeiro plano, é possível ver o rei, os nobres e algumas autoridades da Igreja Católica. Atrás deles, podemos observar muitos soldados com suas armas. Ao fundo, veem-se castelos e pessoas em suas atividades cotidianas. Nessa iluminura, os tons de azul, de vermelho, de verde e de ocre são predominantes.
    4. Na iluminura estão representados nobres (nobreza), clérigos (clero) e soldados.
    5. O objetivo oficial das Cruzadas era libertar os cristãos e os lugares considerados sagrados pelo catolicismo do domínio de povos vistos como uma ameaça ao poder da Igreja ou da nobreza. Além dessas motivações, as Cruzadas envolveram interesses econômicos, como a possibilidade de lucrar com saques de riquezas dos inimigos.

Glossário

Paródia
: imitação satírica de uma produção artística (teatro, livro, música etc.).
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Ordem religiosa
: instituição subordinada à Igreja Católica, cujos membros fazem determinados votos, isto é, promessas de cumprir uma série de normas de conduta (as regras). Existem diversas ordens religiosas, e cada uma delas tem regras próprias.
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Grilhão
: corrente de metal usada em prisioneiros.
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Vício
: costume moralmente reprovado.
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Virtude
: qualidade considerada moralmente boa.
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