UNIDADE 1CONSTRUÇÃO DA MODERNIDADE

CAPÍTULO 2 RENASCIMENTO E REFORMA

A partir do século quinze, houve na Europa Ocidental transformações relevantes nas mentalidades. Vamos destacar dois movimentos que ocorreram mais ou menos no mesmo período: o Renascimento e a Reforma.

O Renascimento representou uma renovação nas artes e nas ciências, e as reformas religiosas levaram ao surgimento de novas Igrejas cristãs.

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para começar

Em sua interpretação, o que significam “renascer” e “renascimento”? Troque ideias com os colegas.

Pintura. Em uma praia, sob um céu azul e um mar de águas claras e calmas, destaque no centro da pintura, para uma mulher em pé sobre uma concha de tonalidade clara sobre as águas azuis. Ao redor dela, há três figuras de feições humanas, duas à esquerda e uma à direita. A mulher no centro tem cabelos loiros e muito longos, e o corpo desnudo. Ela é vista de frente e está em pé sobre uma concha gigantesca em formato de vieira, com um dos braços flexionados com a mão recostada sobre o peito e o outro braço ao longo do corpo, com a mão na frente da pelve segurando as pontas de seus longos cabelos, com os quais cobre a frente de seu corpo. À esquerda, flutuando sobre as águas, vistos de lado, dois seres de formas humanas, um de formas masculinas, à esquerda, outro, à direita, de formas femininas. A figura de formas masculinas tem cabelo longo, cacheado e escuro, asas escuras nas costas, o quadril coberto por faixas de tecido azul claro; a figura de formas femininas tem cabelos loiros e longos ao vento, está abraçada ao ser com asas e usa uma túnica de tom verde, amarrada na altura de seu ombro com um nó. Ambos tem o peito desnudo e de suas bocas saem sopros de ar. Ao redor deles, há rosas brancas voando em diferentes direções. À direita, em pé, sobre uma área gramada na praia, há uma mulher, vista de lado, com o corpo voltado para a esquerda.  Ela tem os cabelos loiros, longos e ondulados, presos por uma trança; usa um vestido de mangas longas branco com estampa de flores pequenas e segura com as duas mãos um grande tecido rosa estampado com flores, voltado em direção à outra mulher, no centro. Em segundo plano, contornando às águas pelo lado direito, uma faixa de terra com árvores de troncos finos e altos.
O nascimento de Vênus, pintura de Sandro Botitcheli, século quinze. Essa pintura é considerada uma das obras-primas do Renascimento.
Fotografia. Sob um céu azul sem nuvens, a fachada de uma grande igreja vista de lado. A construção tem paredes claras, janelas em formato de arco muito altas e com vitrais acompanhando toda a altura do edifício, e pilares verticais de tijolos marrons. No telhado de duas águas, à esquerda, há uma torre estreita, de cor azulada, com um relógio mecânico com números romanos e ponteiros dourados. No centro da edificação, uma porta de cor preta em formato de arco tem detalhes dourados acima dela e um frontão de pedra. À esquerda, o edifício tem uma torre alta, de formato circular, com pequenas janelas em formato de arco. A base da torre, na altura da igreja, é de cor bege clara e o restante, acima da linha do telhado, em tijolos marrons. No topo da torre, há uma cúpula arredondada de cor azulada encimada por uma pequena cruz. Em frente a igreja, há um calçamento de pedra por onde caminham algumas pessoas: um homem com uma máquina fotográfica, uma mulher segurando papeis, um homem passeando com um cachorro, entre outros. As pessoas parecem minúsculas dado o tamanho da igreja.
Igreja-castelo de Schlosskirche, na cidade de Wittenberg, atual Alemanha. Fotografia de 2020. Em 1517, Martinho Lutéro (1483-1546) afixou nas portas dessa igreja uma carta com suas 95 teses criticando a Igreja Católica. Atualmente, o local é considerado patrimônio mundial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Humanismos e Renascimentos

Entre os séculos quinze e dezesseis, desenvolveu-se na Europa Ocidental um movimento intelectual conhecido como Humanismo. Foram conhecidos como humanistas vários profissionais cultos, como escritores, artistas, professores universitários e médicos. Geralmente, os humanistas estavam ligados à burguesia.

O Humanismo expandiu-se pelos centros urbanos da Europa Ocidental e, em grande medida, deu origem ao Renascimento. Em cada região, esse humanismo renascentista teve características próprias. Por causa dessa diversidade, os historiadores costumam falar em Renascimentos e Humanismos, no plural.

O Renascimento ocorreu principalmente nos séculos quinze e dezesseis. Porém, o termo Renascimento se difundiu entre os historiadores europeus apenas no século dezenove.

Apesar de admirarem elementos da cultura greco-romana, os renascentistas não queriam que a Antiguidade pudesse “nascer de novo”, isto é, não queriam um simples retorno à Antiguidade. Afinal, não é possível fazer uma cultura renascer fóra de seu contexto histórico. Além disso, quase todos os renascentistas estavam influenciados pelos princípios cristãos, mesmo que desejassem renová-los.

Visão humanista

Os humanistas se incomodavam com os excessos da religião guiando todas as esferas da vida. Muitos deles criticavam, por exemplo, a visão dualista de que somos compostos de duas partes: espírito e corpo. Nesse dualismo, o espírito era considerado a parte superior e melhor, e o corpo era a parte inferior e pior. Por isso, o espírito deveria governar o corpo. Os humanistas procuravam recompor a integridade do ser humano, relacionando corpo e espírito com igual dignidade.

Gravura. Sobre um fundo branco, em uma área com vegetação baixa e uma construção com arcos, em ruínas, há uma figura humana masculina de grandes proporções. A figura não tem pele.  Destacam-se os conjuntos musculares, pintados de vermelho claro. Em pé, vista de lado, a figura está voltada para a esquerda com os braços esticados para frente, um braço para o alto, o outro para baixo. Uma das pernas está estendida e a outra flexionada, em posição de caminhada.  Todos os feixes de músculos da figura estão marcados com letras dos alfabetos romano e grego.
Xilogravura representando os músculos do corpo humano que está na obra Da organização do corpo humano, escrita pelo humanista belga Andreas Vessalius (1514-1564) e publicada em 1543. A obra apresenta parte das pesquisas sistemáticas sobre a anatomia humana feitas por Vezálius, considerado fundador dos estudos modernos na área.

De modo geral, os humanistas defendiam um modo de ver o mundo com base nas seguintes características:

  • antropocentrismo – o papel do ser humano na escolha dos rumos da própria vida era enaltecido. Alguns humanistas, como Píco Déla Mirândola (1463-1494), argumentavam que Deus criou o homem dando-lhe liberdade para construir a si mesmo. Isso entrava em choque com a cultura teocêntrica (centrada em Deus) que predominava desde a Idade Média. Assim, se antes a humildade cristã recomendava “desconfie sempre de si mesmo”, os humanistas cultivavam outra atitude: “confie em si e amplie suas potencialidades”;
  • conhecimento racional – a pesquisa experimental, o estudo da natureza e os cálculos matemáticos eram valorizados. Isso se chocava com a supervalorização da fé (verdades reveladas pela religião) em todos os campos do conhecimento. Assim, se antes predominava o princípio do “crer para compreender”, os humanistas buscavam “compreender para crer”;
  • valorização da Antiguidade Clássica – os humanistas resgataram saberes e artes greco-romanos em diversos campos, como na filosofia, literatura, escultura, arquitetura, objetos de decoração etc.;
  • individualidade – a curiosidade intelectual, a vontade de fazer ciência, o desejo de aventura e a expansão da criatividade foram estimulados. Expressando admiração pelo ser humano, Xêiquispíer (1564-1616) escreveu: “Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio, tão infinito em capacidade”. Essa valorização do indivíduo se opunha ao coletivismo da cristandade, ou seja, à ideia de que os seres humanos pertenciam a um mesmo rebanho de Deus, ao qual deviam submissão, obediência e mansidão.
Fotografia. Sob um céu azul com poucas nuvens, vista frontal do Coliseu romano. A construção tem formato circular e cor de areia. No centro, seu tom é um pouco mais rosado. Os últimos andares da construção, sobretudo à direita, estão destruídos. À esquerda, há três andares formados por arcos ladeados por colunas, simétricos e dispostos lado a lado, e um quarto andar com pequenas janelas em formato de arco e tijolos cor de areia. À direita, há apenas dois andares de pilares e arcos, e um terceiro andar, em ruínas, com pequenas janelas em formado de arco. No centro da imagem, por algumas das aberturas em arco, é possível observar grupos de pessoas; por outras aberturas, no terceiro andar, o céu. Ao redor da construção, há muitas pessoas em fila. Em primeiro plano, há uma árvore à esquerda, um caminho de pedras no centro e um gramado à direita.
Ruínas do Coliseu, construído pelos romanos no século primeiro Depois de Cristo, em Roma, Itália. Fotografia de 2019. A arquitetura dessa e de outras construções romanas foi estudada pelos renascentistas.
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Você admira alguma cultura do passado? Qual? Explique por que você a admira.

Renascimento italiano

O Renascimento surgiu na Península Itálica, com destaque para as cidades de Florença, Bolonha, Gênova, Veneza e Roma, a partir do século catorze. Contribuíram para isso a presença, nessa região, de obras de arte da Roma antiga, bem como a circulação de textos da Antiguidade Clássica, como os de Aristóteles, Platão e Sêneca. Esses textos chegaram à Península Itálica com os bizantinos e os muçulmanos, povos com quem os italianos mantinham relações comerciais e culturais.

Além disso, o Renascimento italiano foi estimulado por ricos comerciantes e banqueiros chamados de mecenas, que, em busca de prestígio, financiavam artistas, intelectuais e cientistas. A atividade dos mecenas recebe o nome de mecenato. Uma das famílias que se destacou no mecenato foi a dos Méditchi, em Florença, no século quinze.

Pintura. Em um espaço interno, sobre uma parte elevada, feita de mármore, com esculturas em relevo e inscrições com texto em latim, há um grupo de homens, em pé, dispostos ao redor de  um homem sentado, ao centro. Atrás deles, há uma estrutura retangular de mármore, com duas portas laterais e colunas douradas, uma à esquerda, outra à direita, e, em segundo plano, uma paisagem retratando uma área montanhosa coberta por vegetação. O homem no centro tem cabelos castanhos na altura dos ombros, e está sentado sobre uma cadeira de madeira com apoio para os braços. Ele veste uma túnica azul de mangas compridas coberta por uma capa vermelha, usa meias vermelhas cobrindo suas pernas, tamancos vermelhos e um adereço de tecido vermelho sobre a cabeça, com faixas de tecido cobrindo as laterais da cabeça. Ele olha para a direita, na direção de uma escultura apoiada sobre um pedestal de madeira, tem um papel em uma das mãos, que está sobre seu colo, e a outra mão aponta para a direita. À direita, há uma escultura representando o busto de um fauno, figura masculina de feições humanas e animais, com orelhas pontudas, barba comprida e cabelos cacheados. Ao redor do homem sentado, há dez homens em pé, alguns portando pergaminhos, abertos, outros com pergaminhos fechados em rolo; um segurando uma escultura vermelha representando uma mulher de costas, outro com uma das mãos sobre o pedestal que ampara o busto esculpido do fauno. Todos esses homens usam vestes coloridas (em amarelo, azul e verde) e meias em contraste com suas vestes (nas cores amarela, roxa, azul e vermelha). Os três homens mais à frente também estão cobertos por túnicas coloridas (nas cores vermelha, verde e marrom). Alguns deles usam chapéus coloridos.
Afresco do século dezessete pintado por Ottavio Vannini representando Lourenço de Méditchi junto aos artistas que patrocinava. Lourenço de Méditchi (1449-1492) foi um dos principais mecenas do Renascimento.

Da Península Itálica, o Renascimento difundiu-se por outras regiões da Europa. Assim, surgiram movimentos renascentistas em lugares como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Alemanha.

Europa: Renascimento e Humanismo

Mapa. Europa: Renascimento e Humanismo. Destaque para o ocidente do continente europeu. Círculos de cor lilás indicam: 'Centros de difusão do Humanismo'; bolinhas verdes indicam: 'Centros de impressão' e quadradinhos vermelhos indicam: 'Universidades'. Com círculos roxos, estão destacados os 'Centros de difusão do Humanismo' em: Alcalá de Henares, Montpellier, Lyon, Genebra, Paris, Lovaina, Antuérpia, Cambridge, Wittenberg, Erfurt, Ingolstadt, Estrasburgo, Basileia, Veneza, Bolonha, Florença e Roma. Com bolinhas verdes, estão destacados os 'Centros de impressão' em:  Sevilha, Zaragoza, Lérida, Barcelona, Valência, Toulousse, Lyon, Genebra, Basileia, Estrasburgo, Paris, Nantes, Leiden, Antuérpia, Lovaina, Oxford, Londres,  Heidelberg, Nuremberg, Colônia, Erfurt, Franeker, Rostock, Cracóvia, Praga, Budapeste, Veneza, Roma, Nápoles, Bolonha, Pisa, Pádua, Milão entre outros. Com quadrados vermelhos, estão destacadas as 'Universidades' em: Lisboa, Coimbra, Salamanca, Alcalá de Henares, Valladolid, Zaragoza, Lérida, Barcelona, Valência, Toulouse, Nantes, Lyon, Perpignan, Avignon, Turin, Genebra, Basileia, Estrasburgo, Paris, Mainz, Leiden, Cambridge, Oxford, Dublin, Glasgow, San Andrews, Aberdeen, Copenhague, Uppsala, Vilnus, Königsberg, Cracóvia, Viena, Budapeste, Bolonha, Gênova, Roma, Pádua, Nápoles, Salerno, Catânia, Frankfurt, Erfurt, Leipzig, Praga, entre outras. Na parte central, à esquerda, rosa dos ventos e escala de 0 a 400 quilômetros.
Fonte: dubí jórj. Atlas histórico mundial. Madri: Editorial Debate, 1992. página 68.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica. Livro.

dica livro

CRUZ, Xosé A. Neira. O arminho dorme. São Paulo: Edições SM, 2009. (Coleção Comboio de corda).

Livro que mistura ficção e realidade ao tratar da família Méditchi, na Florença do século quinze. Na história, a jovem Bianca de Méditchi se apaixona por Giulio, um rapaz que não concorda com o domínio dos Méditchi sobre a cidade.

Artes plásticas

As obras renascentistas apresentam algumas características em comum, sobretudo nas artes plásticas. Os artistas renascentistas, por exemplo, representavam temas da mitologia clássica e da religiosidade cristã, paisagens e cenas do cotidiano. Além disso, eles se destacaram pelo interesse no mundo à sua volta e no estudo da natureza.

Os artistas renascentistas preocuparam-se também em realizar obras duradouras. Era a busca da perenidade, isto é, daquilo que permanece por longo tempo. Para isso, desenvolveram novos materiais, como a tinta a óleo, que, quando seca, é mais resistente às mudanças de temperatura e umidade.

Além disso, os pintores renascentistas desenvolveram a técnica da perspectiva para conferir uma aparência tridimensionalglossário aos personagens e aos objetos representados. A perspectiva dá ao observador a ideia de que as figuras representadas têm altura, largura e profundidade, parecendo mais reais aos olhos humanos.

Pintura. Em um campo aberto, sob um céu azul com algumas nuvens, à beira de um penhasco com vista para o mar, há, à direita, um grupo de pessoas seguindo uma carruagem puxada por dois leopardos sobre a qual há um homem em pé, nu, que usa uma coroa de folhas de uva; e à esquerda, uma mulher, vista de costas. A mulher à esquerda, está em pé sobre o solo. Ela tem cabelos castanhos e longos, colocados ao lado da cabeça. Veste uma túnica azul com detalhes brancos que deixa um dos ombros e parte das costas à mostra; tem uma faixa de tecido vermelho sobre os ombros e ao redor do corpo. Ela está descalça. Um dos braços está flexionado à frente do corpo, a mão com a palma espalmada em direção às nuvens; o outro braço está atrás de seu corpo, a mão sobre a parte de trás de sua túnica, segurando-a. No centro da imagem, sobre a carruagem puxada por dois leopardos, há um homem nu, em pé, com o corpo flexionado em direção a mulher à esquerda. Sua cabeça também está flexionada para a esquerda. Um de seus pés está sobre o assento da carruagem; o outro, está no ar, diante de uma das rodas, que é feita de madeira. Esse homem veste apenas um tecido cor de rosa ao redor de sua cintura, passando pelo alto de suas costas e esvoaçando em direção ao céu. Ele tem cabelos cacheados, claros e longos, olhos claros e usa uma coroa feita de folhas de uva ao redor de sua cabeça. Atrás dele, à direita, uma multidão de pessoas, homens, mulheres, sátiros. Eles estão em pé, dançando em diferentes posições. À frente do grupo, há um pequeno sátiro, um menino com pernas e cauda de bode, cabelos curtos, coroa de flores brancas sobre a cabeça, vestindo apenas um tecido vermelho sobre suas costas e arrastando uma cabeça de animal, que puxa com uma corda. Logo atrás dele, um homem de cabelos castanhos, curtos e cheios, com barba comprida, nu, com serpentes verdes enroladas ao redor de seu corpo. Atrás do homem, duas mulheres: uma mulher com os cabelos castanhos soltos, usando uma veste azul, marrom e branca, com uma parte do peito, um ombro, as pernas e os braços à mostra. Ela toca um címbalo: em uma de suas mãos, há um prato elevado acima de sua cabeça; o outro prato, é segurado por ela na altura do quadril. A outra mulher, mais ao fundo, tem os cabelos em tranças enroladas ao redor da cabeça e usa uma veste azul clara, com o peito nu. Ela toca um pandeiro, que segura no alto com uma das mãos, ao lado da cabeça. Ao fundo, mais figuras compõem o grupo: à frente, um homem visto de lado. Ele tem cabelos curtos e castanhos cobertos por folhas de uva verdes. Usa um cinto feito de folhas de uva, tem pelos de animal, longos e brancos sobre as coxas, segura uma haste de madeira com ramos de videira enrolados em uma das mãos, e uma pata de animal, elevada acima de sua cabeça com a outra. Ao fundo, um homem nu, com uma coroa de vinhas sobre a cabeça, montado sobre um burro e amparado por um homem ao seu lado. Ao lado dele, uma figura tocando uma espécie de corneta, e um homem curvado carregando um barril em suas costas. No centro da pintura, na parte inferior, há um cachorrinho preto, visto de lado, observando o grupo. À esquerda, sobre um tecido claro no chão, uma taça grande e dourada gravada com o nome do pintor: Ticiano. Em segundo plano, o mar, à esquerda, e uma paisagem montanhosa com densa vegetação, à direita.
Baco e Ariadne, pintura de Ticiano, cêrca de 1520. Ticiano (cêrca de 1490-1576) foi um pintor italiano que produziu quadros dos mais diferentes gêneros (paisagens, retratos etcétera e temas (religiosos ou mitológicos). Ele trabalhou para os governantes de Veneza.

Durante o Renascimento, muitos artistas passaram a assinar suas próprias obras para marcar que elas eram uma criação autoral e individual. Além disso, pintaram autorretratos ou se representaram como um dos personagens da obra. O autorretrato era uma maneira de o artista estudar feições humanas e aperfeiçoar sua técnica. Os pintores alemães Albrechi Durrár (1471-1528) e Rans Rúlbaim (cêrca de 1497-1543) fizeram vários retratos e autorretratos que são considerados obras-primas nesse gênero de pintura.

Pintura. Sobre um fundo preto, detalhe do retrato de um homem visto de frente. Ele tem cabelos castanhos, cacheados, na altura do ombro, o rosto estreito e barbado, lábios cerrados e olhos claros.
Detalhe de Autorretrato, pintura a óleo de Albrechi Durrár, 1500.
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  1. Você tem uma assinatura para representar seu nome? Caso não tenha, que tal criar uma agora?
  2. Que características suas você considera importantes? Como você se representaria em um autorretrato?

A importância dos artistas italianos

Os artistas italianos ocuparam lugar de destaque no Renascimento. De acordo com o historiador Nicolau SEVITCHENCO (1952-2014), a obra dos grandes pintores italianos serviu de base para o estilo renascentista e teve enorme influência na arte ocidental até o início do século vinte. Entre os principais artistas italianos, destacam-se:

Leonardo da vinti (1452-1519) foi considerado um grande humanista. Sua obra se estende a diversos campos: anatomia, engenharia, mecânica, física, escultura, pintura etcétera Pintou poucas telas e afrescosglossário , mas suas criações são consideradas obras-primas, como A última ceia, Mona Lisa (ou Djiocônda) e A virgem dos rochedos;

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado, no centro de um quadrado envolto em um círculo, a figura de um homem nu de cabelos ondulados na altura dos ombros. Ele é visto de frente, com os braços e pernas esticados em duas posições diferentes. Uma, com os braços esticados horizontalmente, as pontas dos dedos encontrando as linhas verticais do quadrado, e as pernas esticadas completamente na vertical, com os pés e a cabeça encontrando as linhas horizontais do quadrado. Para representar a outra posição, os braços e as pernas do homem estão desenhados esticados para as diagonais, encontrando, acima, os ângulos do quadrado e, abaixo, a linha inferior do círculo.
O homem vitruviano, gravura de Leonardo da vinti, 1490. Para fazer esse desenho, Da vinti calculou as proporções do corpo humano de acordo com Vitrúvio, arquiteto romano do século primeiro antes de Cristo O famoso desenho de Da vinti, feito a caneta e tinta sobre papel, está preservado na Galleria dell'Accademia, em Veneza, e ilustra sua atenção às proporções.
Pintura. Retrato de uma mulher sentada, com o corpo ligeiramente voltado para a esquerda e o rosto para a frente. Ela tem cabelos castanhos, longos, cacheados, divididos ao meio. Usa um véu escuro, muito fino e transparente sobre a cabeça, cobrindo os cabelos. Tem as sobrancelhas apagadas, os olhos fundos, um sorriso muito discreto nos lábios. Veste um vestido escuro de mangas longas, decote quadrado, deixando o colo à mostra, e tem um tecido escuro sobre os ombros. Um de seus braços está cruzado à frente do corpo, segurando o punho do braço oposto, que está sobre o apoio da cadeira. Em segundo plano uma paisagem formada por uma estrada sinuosa e um rio cercado de árvores em desfoque.
A Mona Lisa, de Leonardo da vinti, foi produzida entre 1503 e 1505 e, hoje em dia, é uma das principais atrações do Museu do Louvre, em Paris, onde está exposta. Foi o próprio Da vinti quem levou o quadro para a França, em 1516, quando foi trabalhar na côrte do rei Francisco primeiro, que comprou o retrato. Ao pintar a Mona Lisa, Da vinti utilizou a técnica da perspectiva.

miquelângelo buonarôti (1475-1564) foi pintor, escultor e arquiteto. Pintou afrescos na Capela Sistina, em Roma (mais tarde integrada ao Vaticano). Como escultor, produziu obras-primas, como Moisés, Pietà e Davi. Como arquiteto, projetou a cúpula da Basílica de São Pedro, também no Vaticano;

Fotografia. Sobre um pedestal de mármore vermelho, uma escultura em mármore branco representando uma mulher sentada com um homem desfalecido em seu colo. A mulher veste uma longa túnica, com muitas camadas de tecido cobrindo suas pernas e pés, e usa um véu sobre a cabeça, cobrindo os cabelos. Ela está cabisbaixa, com o rosto levemente inclinado para a esquerda, uma das mãos apoiada nas costas do homem, segurando-o, a outra mão com a palma virada para o alto, na linha de sua cintura. Sobre suas pernas, está deitado, desfalecido, um homem de peito desnudo, usando uma faixa de tecido ao redor da cintura. Ele tem a cabeça caída para trás, um dos braços, solto, caído sobre os joelhos da mulher, o outro flexionado, apoiado sobre seu próprio corpo.
Pietà (que significa, em português, piedade), escultura de miquelângelo buonarôti,1499. Essa obra representa Maria com Jesus morto em seus braços.

Rafael Sanzio (1483-1520) foi outro mestre da pintura influenciado por Leonardo da vinti e Miquelângelo. Esse artista produziu afrescos para decorar o Palácio Apostólico, projetou partes da Basílica de São Pedro (a partir de 1514) e pintou representações da Virgem Maria com o Menino Jesus. A seguir, na seção Painel, destacamos uma das mais importantes pinturas de Rafael, chamada Escola de Atenas.

Fotografia. Vista do interior de uma basílica. Destaque para duas naves, corredores demarcados pela estrutura em colunas, uma à esquerda, outra à direita, com uma grande estrutura de cor marrom escura no centro. No centro da imagem, encontra-se o baldaquino, uma estrutura alta, feita de bronze, com quatro colunas dispostas em formato de quadrado, coberta por uma espécie de dossel também feito de bronze. Sobre o baldaquino, em cada uma das pontas, existem esculturas em formato de anjo. Há também uma escultura sobre o centro da peça. Todas elas têm detalhes dourados. As colunas são esculpidas em formato retorcido, espiralado, têm detalhes dourados e estão dispostas sobre pedestais de mármore com esculturas. Sob a estrutura, há um grande altar, o altar papel: um bloco de mármore branco em formato retangular. À direita e à esquerda, nas naves, o teto é formado por abóbadas, estruturas em formato de arco, com pinturas douradas. Elas são sustentadas por colunas de pedra decoradas com esculturas e frisos. À direita, há um retábulo com esculturas com formas humanas e um friso dourado tem palavras ilegíveis gravadas. No fundo da nave à esquerda, há uma grande peça dourada, em formato de trono, com um vitral redondo rodeado por esculturas de anjos. À direita, um grande arco sustentado por colunas ao lado das quais há esculturas de santos e santas. No fundo da nave à direita, em mármore, há um conjunto de três arcos menores, dispostos em semicírculo, com colunas em mármore vermelho e retábulos com pinturas. No alto, um friso dourado tem palavras ilegíveis gravadas. À esquerda, outro grande arco sustentado por colunas ao lado das quais há esculturas representando santos e santas. Há algumas pessoas dentro da basílica, tirando fotografias com celulares e observando. Na fotografia, as pessoas estão desfocadas.
Turistas visitam a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Fotografia de 2020. Essa construção é considerada uma das mais importantes do cristianismo católico e foi projetada por diversos arquitetos renascentistas, como miquelângelo buonarôti e Donato Bramante (1444-1516).
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Capela Sistina

Disponível em: https://oeds.link/rt58h0. Acesso em: 15 março 2022.

No site é possível fazer um passeio virtual pela Capela Sistina, no Vaticano. Basta mover o mouse pela página e visualizar os afrescos nas paredes e no teto.

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PAINEL

Escola de Atenas

Rafael Sanzio pintou o afresco Escola de Atenas (1509-1511) para decorar uma sala do Palácio do Vaticano. Cada parede dessa sala foi pintada com um tema relacionado às seguintes áreas do conhecimento: Teologia, Poesia, Direito e Filosofia.

Nesse afresco, Rafael representou pensadores que viveram em épocas diferentes em um mesmo espaço. É provável que ele estivesse sugerindo que as fórmas de pensar mudaram ao longo do tempo, pois cada filósofo representa uma época da história da Filosofia.

Pintura. Interior de um salão em formato de arco. Em primeiro plano, um arco decorado com frisos e pinturas na cor dourada. No salão, há dois patamares que estão conectados por quatro andares de degraus de mármore. O salão tem colunas decoradas com frisos e esculturas. Espalhados pelo salão, tanto no patamar superior como no inferior, há pessoas reunidas. O grupo é formado majoritariamente homens. A maioria veste túnica, com diferentes cores (vermelho claro, azul claro, branco, laranja, verde claro, entre outras) e está descalça. O grupo está subdividido em grupos menores. Muitos homens estão em pé, apenas alguns estão sentados ou encostados nos pilares que sustentam as colunas. Há dois homens lado a lado, no centro da pintura. Um, à esquerda, tem o topo da cabeça calvo, cabelos longos brancos nas laterais da cabeça, longa barba comprida branca, aponta o dedo indicador para o alto, com uma mão, e com a outra, segura um grande livro, fechado, encostado junto à lateral de seu corpo. O outro, à direita, tem cabelos cacheados, castanhos, cheios, barba espessa e cheia da mesma cor. Tem uma das mãos à frente de seu corpo, com a palma voltada para baixo, e com a outra, segura um grande livro fechado, apoiado em sua coxa. Logo abaixo deles, há um homem de túnica azul sentado nos degraus, lendo uma folha de papel. No patamar inferior, à direita, há um grupo de doze pessoas, entre os quais duas crianças. Alguns estão escrevendo sobre grandes livros ou folhas soltas de papel. Um está sentado, apoiando um dos cotovelos sobre um bloco de mármore, uma folha de papel sobre o bloco, o olhar voltado para baixo, pensativo. No patamar superior à esquerda, há um grupo com cerca de dezesseis pessoas, a maior parte, homens vestindo túnicas coloridas. Entre eles, há uma figura usando armadura metálica e capacete militar dourado, e mais à esquerda, uma figura com o peito nu, usando apenas um tecido de cor marrom ao redor do quadril e sobre seus ombros, carregando uma pilha de pergaminhos enrolados. No patamar superior à direita, há cerca de dezoito pessoas, algumas olhando para os dois homens no centro, outras em postura pensativa. Há uma figura masculina vestindo túnica vermelha, curvada, apoiando-se sobre a base de uma coluna, com as pernas cruzadas e escrevendo sobre um caderno apoiado em seu joelho. No patamar inferior à direita, há um grupo de nove pessoas. Cinco delas, em torno de uma pequena lousa que está sobre o chão. Um homem calvo está curvado, traçando uma figura com um compasso na lousa sobre o chão. Outro, jovem, de túnica azul, está ajoelhado no chão observando. Mais à direita, um grupo de quatro homens em pé. Um deles, visto de costas, segura um globo terrestre; outro, visto de frente, segura uma esfera celeste. Ao fundo, em perspectiva, há três grupos de arcos. As estruturas são sustentadas por colunas e ocupam o centro da imagem. Ao fundo, os arcos revelam o céu azul com poucas nuvens. Sobre a pintura, foram inseridos quatro destaques com um contorno de cor preta na forma de quatro peças de quebra-cabeça, indicando os números de 1 a 4. No centro da imagem, englobando os dois homens no centro, o destaque do quebra-cabeças numerado como um. No centro da imagem, no alto,  englobando as estruturas em forma de arco ao fundo, o destaque do quebra-cabeças numerado como dois. À direita, englobando o grupo de quatro homens no patamar inferior direito, dois dos quais seguram, respectivamente, um globo terrestre e uma esfera celeste, o destaque do quebra-cabeças numerado como três. À esquerda, englobando o grupo em torno do homem que usa capacete e armadura no patamar superior esquerdo, o destaque do quebra-cabeças numerado como quatro.
Escola de Atenas, afresco de Rafael Sanzio, 1509-1511. Palácio Apostólico, Vaticano.
Ilustração. Peça de quebra-cabeça com reprodução do detalhe do afresco Escola de Atenas numerado como 1. Destaque para os dois homens no centro da pintura, lado a lado. Um, à esquerda, tem o topo da cabeça calvo, cabelos longos e brancos nas laterais da cabeça, usa uma longa barba, comprida e branca. Ele veste uma túnica roxa e usa um manto laranja, que cobre um de seus ombros e a parte inferior de seu corpo. Está descalço. Com o braço flexionado, aponta o dedo indicador para o alto, com uma mão e, com a outra, segura um grande livro de capa azul, fechado, encostado junto à lateral de seu corpo. O outro homem, à direita, mais jovem, tem cabelos cacheados, castanhos e cheios, barba espessa e cheia da mesma cor. Veste uma túnica marrom e usa um manto azul, que cobre seus ombros, peito e braços, e a parte inferior de seu corpo. Usa uma sandália marrom do tipo gladiador. Tem uma das mãos à frente de seu corpo, com a palma voltada para baixo, e com a outra, segura um grande livro de capa marrom fechado, apoiado em sua coxa

O foco da obra está em dois personagens principais: os filósofos gregos Platão (cêrca de 428 antes de Cristo-347 antes de Cristo) e Aristóteles (384 antes de Cristo-322 antes de Cristo). Platão foi representado apontando o dedo para cima. Aristóteles é aquele que tem a palma da mão voltada para baixo. A representação refere-se às ideias centrais desses filósofos: Platão é considerado defensor do pensamento abstrato e teórico (mundo das ideias) e Aristóteles é considerado defensor da Filosofia natural e prática (mundo concreto).

Ilustração. Peças de quebra-cabeça espalhadas por toda a página, as peças têm reproduções de fragmentos do afresco Escola de Atenas com destaque para diferentes personagens em diferentes posições.
Ilustração. Peça de quebra-cabeça com reprodução do detalhe do afresco Escola de Atenas numerado como 2. Destaque para a arquitetura do salão, com foco no grupo de estruturas em forma de arco sustentadas por colunas decoradas, que ocupam o centro da pintura, com os arcos revelando, ao fundo o céu azul com poucas nuvens.

Nesse cenário, a aparência de volume e profundidade foi criada pelo uso da técnica da perspectiva. Para representar o cenário, Rafael inspirou-se na arquitetura greco-romana.

Ilustração. Peças de quebra-cabeça espalhadas por toda a página, as peças têm reproduções de fragmentos do afresco Escola de Atenas com destaque para diferentes personagens em diferentes posições.
Ilustração. Peça de quebra-cabeça com reprodução do detalhe do afresco Escola de Atenas numerado como 3. Destaque para o grupo de quatro homens no patamar inferior direito do salão. Um deles, esquerda, visto de costas, tem cabelos curtos, castanhos e lisos, usa uma coroa dourada sobre a cabeça,  veste uma túnica amarela com mangas longas azuis e um detalhe azul com uma faixa dourada sobre as costas. Com as duas mãos, ele segura um globo terrestre. À frente dele, ainda à esquerda, um homem de cabelos cobertos por um chapéu sem abas cor de vinho com detalhes dourados, barba longa e espessa na cor castanha. Ele veste uma túnica branca e segura uma esfera celeste, azul com pontos prateados, com uma das mãos. À direita, à frente do arco que engloba o salão, com suas esculturas de formas humanas e seus detalhes pintados em azul e dourado, visto de lado, há um homem de cabelos grisalhos até o ombro, a cabeça coberta por um chapéu branco sem abas. Ele veste uma túnica branca, sobre uma veste preta, e tem os braços cruzados. Atrás dele, ainda à direita, um homem jovem, de cabelos cacheados e castanhos até a altura do ombro, usando uma boina de cor escura. Ele veste uma túnica cor de vinho. e encara o observador da pintura.

Rafael foi convidado a criar Escola de Atenas quando tinha 25 anos de idade. Nesse afresco, ele representou a si mesmo como um dos personagens (autorretrato), de boina escura, olhando para o observador da pintura.

Ilustração. Peças de quebra-cabeça espalhadas por toda a página, as peças têm reproduções de fragmentos do afresco Escola de Atenas com destaque para diferentes personagens em diferentes posições.
Ilustração. Peça de quebra-cabeça com reprodução do detalhe do afresco Escola de Atenas numerado como 4. Destaque para  o grupo em torno do homem que usa capacete e armadura no patamar superior esquerdo da pintura. Em um pequeno grupo de homens, à frente, à esquerda, um homem de cabelos claros, cacheados e longos, vestindo uma armadura metálica com detalhes dourados e um capacete dourado com detalhes vermelhos no topo sobre sua cabeça. Sobre a armadura, ele usa um manto de cor clara com detalhes dourados em torno do quadril e carrega uma espada na cintura; calça uma espécie de bota marrom, com tecido amarrado em laços nos tornozelos e os dedos dos pés à mostra. Visto de lado, tem uma das mãos apoiada no cabo da espada à sua cintura, e a outra, está sobre sua cintura com os dedos fechados. Ele tem a boca entreaberta, e os olhos fixos no homem à sua frente. O homem à frente, à direita, é calvo na parte superior da cabeça, com cabelos escuros, lisos e curtos nas laterais da cabeça; tem uma barba espessa sobre seu rosto. Ele veste uma túnica verde musgo longa e de mangas compridas. Visto de lado, tem os braços flexionados à frente do corpo; em uma das mãos, três dedos estão estendidos, o anelar flexionado, em posição de quem faz uma conta mental ou uma enumeração. Com a a outra mão, ele segura a ponta do dedo anelar. Suas sobrancelhas estão franzidas, a expressão sisuda, e ele olha fixamente para o homem de armadura à sua frente. Atrás deles, há alguns outros homens: à esquerda, três homens ao lado daquele que veste armadura. Um idoso, vestindo chapéu preto com aba curta branca, e manto vermelho, com o rosto enrugado e a expressão carrancuda. Outro, de cabelos crespos, cheios, grisalhos e barba longa grisalha, com vestes na cor preta. Outro, mais atrás, de cabelos cheios, cacheados, castanhos e  barba de mesma cor, usando um traje dourado e curto, com mangas longas na cor vermelha. Ele está com o braço estendido para a esquerda e tem o tronco flexionado para esse mesmo lado. No centro, há um homem de cabelos curtos, cacheados e loiros, que veste uma túnica e um manto, ambos azuis. Ele está com o cotovelo apoiado na base de uma das colunas, a mão na lateral da cabeça, em gesto pensativo. Atrás do homem de túnica verde, à direita, há um homem idoso, calvo, com uma longa barba branca, os olhos voltados para o chão, as mãos escondidas dentro do manto roxo que cobre todo seu corpo.

Alexandre Magno (356 antes de Cristo-323 antes de Cristo), rei da Macedônia, foi representado no afresco ouvindo atentamente o filósofo Sócrates (470 antes de Cristo-399 antes de Cristo).

lustração. Quatro peças de quebra-cabeça que têm reproduções de fragmentos do afresco Escola de Atenas, com destaque para diferentes personagens em diferentes cenas.

Expansão do Renascimento

Da Península Itálica, o movimento renascentista expandiu-se por várias regiões da Europa e, durante esse processo, foi adquirindo novas características e especificidades.

A seguir, vamos conhecer três grandes escritores renascentistas: o inglês Uíliam Xêiquispíer, o espanhol Miguel de Cervantes e o português Luís Vaz de Camões, que produziram obras de alcance universal, em sintonia com os ideais do Humanismo.

Uíliam Xêiquispíer (1564-1616) ficou famoso por peças de teatro como Romeu e Julieta (1595), Hamlet (1601), Otelo (cêrca de 1603) e Macbeth (cêrca de 1607). Romeu e Julieta é uma história de amor entre dois jovens que são impedidos de vivê-lo por causa da rivalidade entre suas famílias.

Fotografia. Cena de filme. Diante de uma coluna escura, em um salão de baile com pessoas desfocadas ao fundo, uma mulher jovem, à esquerda, e um homem jovem, à direita. A mulher é tem cabelos castanhos, longos e lisos, arrumados em um penteado com uma trança fixada atrás de sua cabeça, alguns fios de franja soltos na frente do rosto. Ela usa um vestido branco de alças, com uma faixa branca com pregas horizontais na cintura e uma saia de pregas. Ao redor do pescoço, usa uma corrente fina, prateada, com um pingente em forma de cruz com pequenos brilhantes. Atrás dela, há um par de asas brancas, feitas de penas. Ela tem um dos braços atrás do corpo, o outro, flexionado, com a mão estendida. O jovem ao lado direito segura sua mão. A mulher tem o rosto voltado para o jovem à direita, e olha para ele, um pouco espantada. À direita, um homem de cabelos loiros, lisos, com fios na altura da nuca, vestindo uma armadura metálica sobre o corpo e uma blusa de malha metálica. Ele usa uma espada presa à cintura. Visto de lado, tem as costas curvadas e o rosto erguido na direção da jovem à esquerda. Com um dos braços flexionados, segura a mão dela próxima de seu rosto. Tem a boca entreaberta e os olhos suplicantes.
Cena do filme Romeu + Julieta (Estados Unidos), dirigido por Báz Lúrmãn, 1996. O filme é uma recriação moderna da obra de Xêiquispíer, considerado um dos maiores dramaturgos de língua inglesa de toda a história. As obras de Xêiquispíer são continuamente representadas e interpretadas em diferentes países do mundo.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica. Livro.

dica livro

Xêiquispíer, Uilian. A megera domada. Tradução e adaptação de Flavio de Souza. São Paulo: éfe tê dê, 2018.

Comédia escrita por Xêiquispíer no século dezesseis, adaptada nesse livro para o público jovem, narra a história de Catarina, uma moça geniosa e mal-humorada, e seu marido, Petrúquio, que tem uma maneira muito peculiar de “domar sua esposa.

Miguel de Cervantes (1547-1616) se destacou pela obra Dom Quixote de la Mancha (1605), que satiriza os ideais da cavalaria medieval. Seus protagonistas são Dom Quixote e Sancho Pança. Dom Quixote é um sonhador fascinado por histórias em que heroicos cavaleiros defendem injustiçados e desamparados. Sancho Pança é mais realista e preso a valores materiais.

Gravura. Sob uma luz de crepúsculo, com o céu em tons de amarelo claro, azul e rosa, em uma área aberta, com árvores e uma estalagem ao fundo, há, no centro da imagem, em primeiro plano, dois homens vistos de lado, voltados para a direita: um, à esquerda, está montado sobre o dorso de um burro de pelagem marrom. O outro, à direita, montado sobre o dorso de um cavalo de pelagem marrom. O homem à esquerda tem um bigode grisalho, cabelos grisalhos cobertos por um chapéu de abas preto. Veste um manto cinza sobre seu corpo, calças curtas de mesma cor, meias de cor clara até os joelhos e calça sapatos pretos. Ele tem um saco branco amarrado às costas e com uma das mãos, segura uma espécie de lança. À direita, montado à cavalo, um homem alto, magro, com barba grisalha. Há uma bacia metálica sobre sua cabeça (usada no lugar de elmo). Ele usa uma armadura metálica que cobre todo seu corpo. Sobre seu peito, uma das peças da armadura parece estar de ponta cabeça, com uma grande ponta metálica diante de seu rosto. Usando luvas, ele segura as rédeas do cavalo com uma das mãos. Seu outro braço está voltado para trás, em direção ao homem montado no burro. Em segundo plano, à esquerda, pessoas com armaduras lutando com espadas diante de uma árvore; à direita, uma construção de dois andares com duas janelas retangulares e abertas, uma no pavimento inferior, outra no pavimento superior. Em cada uma das janelas, há uma mulher. Diante da porta, também aberta, há quatro pessoas: dois homens, um menino e uma mulher.
Dom Quixote e Sancho Pança, gravura do artista francês denominado métre dê cortége, século dezessete.

Luís Vaz de Camões (1524-1580) ficou conhecido por sua obra Os lusíadas (1572), que narra de fórma heroica a história de Portugal, desde sua origem até a época das Grandes Navegações, no século quinze. A palavra “lusíadas” significa “portugueses” e deriva de Lusitânia, nome dado pelos antigos romanos para a região de Portugal.

Pintura. Pintura sobre azulejos quadrados, emoldurada por um friso composto de motivos marinhos, como aves marinhas, peixes e conchas. No centro da pintura, há um ser de feições humanas e de grandes proporções, cujo corpo é feito de água do mar. Ao fundo, embarcações sobre ondas agitadas. Exceto pelo friso, em tons de verde, rosa e amarelo claro, a pintura é composta apenas por diferentes tons de azul. Em primeiro plano, sobre o mar agitado, na crista de uma onda e apoiado sobre algumas pedras, o corpo de uma criatura gigantesca, com feições de homem. Seu torso, nu, está acima da linha da água; a figura tem cabelos longos, lisos e brancos e uma longa barba branca, que esvoaça para a direita, mesma direção para a qual se volta seu olhar enfurecido. Atrás dele, há um bando de aves marinhas voando sobre o mar. À direita, em segundo plano, há uma frota composta por três embarcações à vela adernando sobre o mar agitado. A primeira delas, mais à frente, tem velas brancas com uma cruz no centro.
Representação elaborada por Jorge Colaço em 1907, em azulejos, de um episódio de Os lusíadas. Trata-se do Gigante Adamastor, um monstro mítico que representaria as fôrças da natureza e os medos que os portugueses enfrentaram para realizar a expansão marítima.

Ciências

No Renascimento, muitos cientistas dedicaram-se a observar fenômenos naturais, fazer experimentos, propor hipóteses, testá-las e reavaliá-las. O próprio Leonardo da vinti defendia que repetir ensinamentos do passado sem uma verificação pessoal significava apenas valorizar a memória, e não o entendimento verdadeiro dos fenômenos do mundo. A seguir, vamos conhecer cientistas daquela época que contribuíram para o desenvolvimento da astronomia.

O astrônomo e sacerdote polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) propôs a teoria heliocêntrica, segundo a qual a Terra e outros planetas se movem em torno do Sol. Essa teoria contrariava a interpretação bíblica da época, segundo a qual o Sol se movia em torno da Terra (teoria geocêntrica). Copérnico evitou divulgar suas ideias porque temia a reação das autoridades católicas. Seu livro Da revolução de esferas celestes foi publicado no ano de sua morte, provocando indignação entre os religiosos.

Gravura. A gravura tem formato quadrado, com quatro figuras em cada uma das pontas, sobre um fundo composto de nuvens e de azul celeste, há, no centro do quadrado um círculo com borda clara e fundo bege. No centro do círculo, em dourado, o Sol, representado com dois olhos, uma boca e um nariz, cercado de quatro globos terrestres: um acima, um à direita, um abaixo e outro à esquerda do Sol. Ao redor, tendo o Sol como centro, há linhas contínuas ovaladas, em elipse, com textos em latim, representando a órbita dos planetas: Saturno, Júpiter, Marte, Terra e Mercúrio. Pequenos círculos contendo estrelas de oito pontas coloridas representam os planetas, (exceto pela terra representada pelos quatro globos). Em torno das órbitas dos planetas, há uma faixa com ilustrações coloridas representando os signos do zodíaco: no alto, câncer (com a ilustração de um caranguejo), gêmeos (com a ilustração de dois homens), touro (com a ilustração da parte superior do corpo de um touro) e áries (com a ilustração de um carneiro). Na parte inferior, libra, escorpião (com a ilustração de um escorpião), sagitário (com a ilustração de um centauro) e capricórnio (com a ilustração de uma criatura com a parte superior do corpo de cabra e a parte inferior de dragão). No globo acima do Sol, a porção norte da Terra está coberta por sombra, e a porção sul, representada pela América Central e do Sul e pela África, iluminada. No globo à direita do Sol, a porção leste da Terra está coberta por sombra, e a porção oeste, representada pela América, iluminada. No globo abaixo do Sol, a região do Círculo Polar Ártico está iluminada, e o restante do planeta está coberto por sombra. No globo à esquerda do Sol, a porção oeste da Terra está coberta por sombra, e a porção leste, representada pela Ásia e pela África, iluminada. No quatro cantos da obra há diferentes representações. Nos dois superiores há seres de aspecto angelical, com asas, segurando faixas com textos em latim. No inferior esquerdo, há uma mulher sentada, com uma coroa sobre a cabeça, vendada, com um globo terrestre à sua frente e duas crianças à seus pés, sentadas no chão brincando com um relógio mecânico. À direita, há uma mulher sentada, segurando uma tocha e mostrando livros para três crianças que estão ao redor dela, lendo.
Representação da teoria heliocêntrica, idealizada por Nicolau Copérnico, publicada na obra Atlas celestial ou harmonia do universo, de 1660.

Posteriormente, analisando a teoria de Copérnico, cientistas como o alemão iorrânes quépler(1571-1630) e o italiano Galileu Galilei (1564-1642) passaram a defendê-la. Por isso, Galileu foi acusado de heresia pelas autoridades católicas. No entanto, para livrar-se das acusações e da pena de morte, ele negou publicamente suas convicções.

Fotografia. No centro da sala de um museu, com painéis explicativos (ao lado) e outras peças expostas (ao fundo), destaque, no centro da imagem, para uma grande esfera armilar dourada. Sobre um pedestal dourado ornamentado com esculturas com formas humanas, uma grande peça em forma de globo, que não é maciça, mas sim, composta do entrelaçamento de diversos aros dourados. Cada aro dourado representa a órbita de um corpo celeste. No centro da peça, há uma pequena esfera maciça. Sobre o topo da esfera, uma cruz.
Grande esfera do século dezesseis representando a teoria geocêntrica, à qual Galileu se opunha. Fotografia de 2021. A representação está no Museu Galileu, Florença, Itália. Galileu Galilei foi um dos maiores astrônomos da história. Em 1992, o papa João Paulo segundo reconheceu que a Igreja Católica errou ao condená-lo.

Atualmente, a religião não tem mais a influência que exerceu no passado sobre as pesquisas científicas. Mesmo assim, algumas pesquisas geram polêmicas no campo religioso. É o caso, por exemplo, daquelas feitas com células-tronco, que podem ajudar no tratamento de pessoas afetadas por doenças cardíacas, leucemia, trombose etcétera No Brasil, as pesquisas com células-tronco foram autorizadas pela Justiça em 2008, mas esse assunto continua dividindo opiniões.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

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Em sua opinião, existe diferença entre memorizar e entender um assunto? Responda utilizando argumentos consistentes.

Reforma Protestante

Atualmente, os cristãos representam cêrca de 30% da população mundial, porém não formam um grupo homogêneo. Existem vários ramos do cristianismo, sendo mais numerosos os formados por católicos, ortodóquissos e protestantes.

Os católicos são seguidores da Igreja Católica Romana, que tem suas origens no século primeiro Depois de Cristo, sediada em Roma, no atual Estado do Vaticano. Chefiada pelo papa, essa Igreja é a maior instituição cristã do mundo, reunindo cêrca de 1,3 bilhões de fiéis.

Fotografia. Vista aérea de uma grande basílica revestida de tijolinhos cor de terra avermelhada,com telhado na cor azul, uma cúpula esverdeada no centro, uma grande torre alta, à direita. Com dezesseis andares, a torre é revestida de tijolinhos, tem pequenas janelas em todos os andares e um relógio redondo, azul, com ponteiros dourados, no topo. Há duas entradas em formato de arco, uma voltada para a direita, outra voltada para a parte central da fotografia. Ao fundo, um rio, uma área verde com árvores, uma estrada de ferro, e algumas casas (à esquerda e à direita). À frente da basílica, um caminho asfaltado e algumas árvores.
Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, no município de Aparecida, São Paulo. Fotografia de 2019. Segundo o Censo demográfico de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É), cêrca de 123 milhões de católicos vivem no Brasil.

Os ortodóquissos surgiram no século onze com a separação entre a Igreja Católica do Ocidente (com séde em Roma) e a Igreja Católica do Oriente (com séde em Constantinopla). Atualmente, a Igreja ortodóquissa possui cêrca de 250 milhões de seguidores em diferentes países, sobretudo da Europa Oriental e da Ásia – como Romênia e Rússia.

Os protestantes surgiram no século dezesseis, após cristãos da Europa Ocidental romperem com a Igreja Católica Romana.

A seguir, vamos conhecer os principais motivos que provocaram essa ruptura do cristianismo ocidental, a chamada Reforma Protestante.

Fotografia. Vista aérea de uma catedral de formato quadrado, com duas torres laterais, na entrada - que tem o formato de um grande arco com três portas também em arco. Acima das portas, duas fileiras de janelas em formato de arco. A construção é pintada de cor clara, e tem uma cúpula dourada em formato de meio círculo sobre a entrada, que é mais baixa que o restante da catedral.  Há uma grande cúpula dourada circular sobre a parte central do edifício, que é mais alta que o restante. Em torno da catedral, há alguns prédios de altura média nas laterais, e prédios altos atrás dela.
Catedral ortodóquissa Antioquina, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2021. Segundo o Censo de 2010, cêrca de 131 mil cristãos ortodóquissos vivem no Brasil.

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Quais são os significados das palavras “reformar” e “protestar”? Crie frases utilizando essas palavras.

Crítica ao clero

Durante a modernidade, o clero católico foi alvo de diversas críticas, entre as quais destacamos:

  • vida luxuosa: a Igreja Católica acumulou grande riqueza e poder, o que proporcionou uma vida luxuosa, sobretudo para o papa e os membros do alto clero. A riqueza ostentada pelo clero contrastava com a miséria da maioria dos fiéis e com alguns valores católicos, como a simplicidade e a humildade;
  • comércio de falsas relíquias: vários sacerdotes enganavam os fiéis vendendo-lhes objetos falsificados como se fossem relíquias sagradas, por exemplo: “espinhos da coroa de Cristo”, “pedaços de madeira da cruz em que Jesus morreu”, “pedaços do tecido do manto sagrado” etcétera;
Fotografia. Relicário dourado com base retangular e topo em forma de trapézio, decorado com pedras azuis e brancas cravejadas por toda a peça. No centro da base retangular, sobre um círculo azul escuro de pedra, em relevo de cor dourada, há a figura de uma mulher com uma túnica, os cabelos cobertos por um véu e uma auréola em torno da cabeça. Ela está sentada sobre um banco retangular, segurando um cetro com uma das mãos e abraçando um menino com a outra. O menino está em pé sobre o banco, abraçando a mulher. Ele tem os cabelos cacheados e uma auréola dourada em torno da cabeça. Ao redor desse círculo, a peça é trabalhada em relevos com figuras de árvores e círculos com flores.  Sobre o topo em formato de trapézio, há um círculo, em relevo, com a representação de uma ave de pescoço longo com as asas abertas bicando o próprio peito. O relicário é sustentado por quatro pés de metal escuro, em formato de haste, terminados por bolinhas.
Relicário italiano do século catorze decorado com imagens de Cristo e de santos católicos. Nos relicários eram guardados objetos utilizados para a veneração de santos, as relíquias. A adoração de imagens de santos era uma prática condenada pelos críticos da Igreja Católica.
  • venda de indulgências: a Igreja vendia indulgências, isto é, o perdão dos pecados em troca de dinheiro ou artigos de luxo. Desse modo, os fiéis poderiam comprar sua “entrada para o reino do céu”;
  • despreparo intelectual: apesar de a Igreja Católica afirmar que os sacerdotes eram intermediários entre Deus e os fiéis, muitos deles não tinham boa formação religiosa nem escolar.

Ética da burguesia

A Igreja Católica recomendava aos comerciantes a prática de preços justos, evitando os lucros desenfreados. Além disso, a Igreja condenava a usura, que é a prática de cobrar jurosglossário sobre empréstimos. Isso porque alguns teólogos católicos consideravam que o “tempo” pertencia a Deus e, por isso, não se podia cobrar juros sobre o tempo em que o dinheiro permanecia emprestado.

A atitude da Igreja Católica de condenar a cobrança de juros e controlar os preços das mercadorias incomodava os burgueses, que se preocupavam basicamente em expandir seus negócios e aumentar seus lucros. Por isso, muitos burgueses passaram a apoiar uma nova ética que valorizasse suas práticas econômicas ao invés de criticá-las.

Pintura. Em uma sala fechada, com uma estante com livros amontoados, dispostos horizontalmente ao fundo, há quatro homens, dois deles sentados lado a lado, à frente de uma mesa sobre a qual há alguns objetos: uma pilha de moedas prateadas e uma pilha de moedas douradas (à esquerda), um livro aberto e um saco de tecido marrom apoiado sobre a mesa e segurado por um dos homens (no centro), uma pilha pequena de moedas prateadas e duas pilhas pequenas de moedas douradas (à direita). À esquerda, um homem calvo, de olhos escuros, com a cabeça inclinada para a direita, o nariz franzido, os lábios finos apertados e a boca curvada para baixo. Ele usa uma faixa de tecido vermelho sobre a cabeça, cobrindo-a, estendendo-se até a frente de seu peito. Veste uma blusa escura de mangas compridas com punhos de pelo. Usa um anel com uma pedra no dedo indicador, que aponta para a grande pilha de moedas douradas à sua frente, e tem os punhos apoiados sobre a mesa. Ao lado dele, à direita, abraçando o homem à esquerda, há um homem calvo, de olhos escuros, com o rosto redondo e a testa franzida. Sua cabeça está levemente inclinada para a esquerda e ele olha para o homem à esquerda. Usa uma faixa de tecido vermelho sobre a cabeça, cobrindo-a e estendendo-se até a seus ombros. Usa um colete de cor escura sobre uma blusa de cor avermelhada, com punhos de pelo. Tem um anel no dedo indicador. Uma de suas mãos está apoiada no ombro do homem à esquerda. A outra, segura a abertura do saco de tecido marrom, fechando-a, com o punho apertado. À direita deles, há dois homens, um, de olhos claros, cabelos ralos e curtos, castanhos, cobertos por uma boina preta. Ele olha para os dois homens à esquerda e, com uma das mãos, coça a lateral de sua cabeça. O outro tem olhos claros, cabelos claros e curtos, a pele do rosto enrugada, a boca entreaberta deixando à mostra seus dentes inferiores. Ele veste uma blusa cinza, olha os dois homens à esquerda, tem a palma de uma das mãos voltada para frente e, com a outra mão, segura um pequeno saquinho de tecido marrom de ponta cabeça, vazio. Ao lado da estante, ao fundo, há uma porta de madeira, aberta, revelando uma construção baixa cor de rosa, algumas árvores e o céu.
Os usurários, pintura de Cuêntin Méticis, 1520. A pintura representa como sombrios e gananciosos os profissionais que cobravam juros sobre empréstimos.

Estados nacionais

Com a consolidação dos Estados nacionais, alguns príncipes e reis passaram a encarar o papa e outras autoridades católicas como “estrangeiros” que interferiam em assuntos de seu país. Isso aconteceu, por exemplo, em regiões da Europa que atualmente correspondem a Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Inglaterra e Escócia.

Na época, a Igreja Católica divulgava suas doutrinas em latim, possuía grandes propriedades de terras e enviava o dinheiro que recebia dos fiéis para sua séde em Roma. Entretanto, os novos monarcas tinham interesse em ampliar seus territórios, exercer sua autoridade, impedir que recursos saíssem de seus reinos e fortalecer a língua nacional de seu Estado. Assim, a ruptura com a Igreja Católica e as mudanças nas doutrinas religiosas favoreceriam os interesses de alguns monarcas.

Interpretações da Bíblia

Durante o período medieval, a Bíblia (livro sagrado do cristianismo) era escrita em latim e interpretada, principalmente, por sacerdotes católicos. Além disso, existiam poucos exemplares da Bíblia, que eram copiados à mão e custavam caro.

A partir do século quinze, isso foi mudando devido a dois fatores principais: a invenção da imprensa e as traduções da Bíblia, que passaram a ser escritas também nos idiomas nacionais dos Estados.

A imprensa que utilizava tipos móveis de metal foi inventada pelo alemão Iorrãn gutembérgue(1398-1468). Essa invenção facilitou a reprodução gráfica, aumentando a produção de livros e barateando seus preços.

Alguns reformadores, que estudaremos a seguir, traduziram a Bíblia para as línguas nacionais. Desse modo, não era mais necessário saber latim para entender os textos sagrados.

Com essas inovações, a Bíblia chegou a um número maior de leitores, que fizeram novas interpretações, às vezes diferentes dos ensinamentos dos sacerdotes católicos.

Fotografia. Sobre um fundo branco, destaque, no centro da imagem para uma mão humana, branca, tocando um livro de capa preta com o título: 'Bíblia Sagrada', escrito com letras douradas.  O livro está sendo retirado de uma prateleira de madeira, à direita, com diversas outras obras dispostas verticalmente, com o título na lombada desfocado.
Capa da Bíblia. Atualmente, calcula-se que a Bíblia seja o livro mais vendido do mundo, com mais de 5 bilhões de cópias.
Página de livro. Sobre um fundo de papel amarelado, há, no alto, um título em caracteres góticos, originalmente em uma variação da língua alemã: 'Santo Evangelho'. 'Primeiro'. Na linha de baixo, o nome, 'Mateus'.  Logo abaixo, há uma gravura colorida, retangular,  tomando metade da página. A gravura representa um jardim, com uma sebe à esquerda e, no centro, uma mesa retangular coberta por toalha verde e protegida por uma pérgula com folhas verdes. À sentado a mesa, à esquerda, um homem de cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo um traje vermelho, um manto azul, disposto ao redor da parte inferior de seu corpo,  meias vermelhas e um tamanco marrom. Ele segura um livro aberto entre as mãos e tem uma auréola circular e amarela sobre a cabeça. Atrás dele há o tronco de uma árvore com um tecido vermelho estampado e uma ampulheta dourada. À esquerda, diante do homem, um ser de aspecto angelical, com um par de asas com listras horizontais de três cores (azul, branca e vermelha), e um traje vermelho com detalhes azuis. Ele lê um livro aberto, que está apoiado sobre a mesa à sua frente. Acima deles, no centro da gravura, uma pomba branca cercada por uma auréola circular dourada sobrevoa a mesa. Ao fundo, há um muro baixo de pedras cor de rosa e um castelo. Abaixo dessa ilustração, inicia-se o texto, escrito com tinta preta. Há uma gravura na letra capitular 'D', inicial da palavra alemã 'Das', que abre o capítulo. Um quadrado de bordas vermelhas e fundo azul envolve a letra d, ornamentada, em amarelo; a haste vertical da letra está gravada no formato de uma coluna. No centro da letra, há várias crianças de aspecto angelical, todas contendo asas vermelhas nas costas.
Reprodução de página da Bíblia luterana, publicada pela primeira vez em 1522. Os protestantes providenciaram traduções da Bíblia do latim para as línguas nacionais, facilitando a divulgação de seu conteúdo.

Reforma Luterana

No século dezesseis, o monge Martinho Lutéro(1483-1546) iniciou um movimento de ruptura com a Igreja Católica. Lutéro nasceu na cidade de Eisleben (atual Alemanha) e faleceu nessa mesma cidade. Aos 22 anos, entrou para a ordem dos agostinianos, um grupo religioso católico inspirado pelas ideias de Santo Agostinho (354-430).

Em seus estudos, Lutéro encontrou na Bíblia frases que lhe pareceram fundamentais:

O justo viverá da fé.

Bíblia sagrada. São Paulo: Escala, 2014. Romanos Capítulo 1, versículo 17.

Concluímos reticências que o homem é justificado pela fé, sem as obras da Lei.

Idem. Romanos Capítulo 3, versículo 28.

Interpretando essas frases, Lutéro argumentava que homens e mulheres, corrompidos pelo pecado original, só poderiam se salvar pela fé em Deus. Assim, o único instrumento de salvação seria a fé, e não as obras.

Em 1527, Lutéro publicou um manifesto (95 teses) condenando as práticas da Igreja Católica. Entre os princípios da doutrina luterana, destacam-se:

  • o direito dos fiéis ao livre exame das Escrituras Sagradas (Bíblia);
  • a fé cristã como único caminho para a salvação eterna;
  • a Bíblia como a única fonte para a fé;
  • o batismo e a eucaristia como os dois únicos sacramentos;
  • não aceitação do culto aos santos católicos, da adoração de imagens e da autoridade universal do papa.
Fotografia. Cena de filme. Diante de uma porta alta feita de madeira escura, com diversos papeis afixados. À esquerda, visto de costas, olhando para trás, um homem de olhos escuros, com os cabelos raspados no topo da cabeça; o restante do cabelo, liso e castanho, forma um anel em torno de sua cabeça. Ele veste uma túnica preta com mangas compridas e de aspecto aveludado. Uma das mãos dele está apoiada sobre uma grande folha branca afixada na porta de madeira.  Na folha branca, há um texto em tópicos disposto em duas colunas. Ao redor dela, há outras folhas de papel afixadas na porta. Elas são menores; algumas contém textos, outras ilustrações; em uma delas, à esquerda, há uma ilustração da crucificação de Cristo.
Cena do filme Lutéro, dirigido por Eric Till, 2003. Nessa cena, o personagem de Lutero fixa suas 95 teses na Igreja de Wittenberg, atual Alemanha.

Reação católica

Os líderes católicos reagiram à doutrina luterana e decidiram expulsar Lutéro da Igreja Católica. Fugindo de perseguições, Lutéro refugiou-se no castelo de um príncipe, onde traduziu a Bíblia para o alemão.

As ideias de Lutéro ganharam seguidores entre camponeses, trabalhadores urbanos, burgueses e nobres do norte da Europa. Em 1529, nobres alemães luteranos protestaram contra as medidas da Igreja Católica que impediam cada Estado de escolher a própria religião. A partir daí, o nome protestante passou a designar os cristãos não católicos seguidores das novas igrejas que surgiram nesse período.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Você já assistiu a algum ato de protesto? Comente.
  2. Contra o que você protestaria hoje? Por quê?
Fotografia. Sob um céu azul com poucas nuvens, vista da fachada de uma igreja em formato retangular, com paredes brancas, uma entrada central marrom, um teto plano levemente inclinado para a direita. À esquerda uma torre alta contendo um relógio com ponteiros de horas e minutos na cor preta. No alto da torre, vista de lado, uma cruz. Na parte inferior da imagem, um caminho de cor marrom cercado por faixas laterais de grama com algumas árvores.
Igreja luterana na cidade de Timbó, Santa Catarina. Segundo o Censo de 2010, cêrca de 1 milhão de luteranos vivem no Brasil. Fotografia de 2022.

Reforma Calvinista

João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon, na França. Era católico e estudou teologia e direito. Durante a juventude, recebeu a influência dos reformadores protestantes de sua época, como Lutéro. Mas, posteriormente, criou seu próprio movimento reformista, chamado de calvinismo.

Calvino pregava que somente a fé traz a salvação e defendia a existência de uma predestinação ao céu. Explicava que algumas pessoas eram eleitas por Deus para serem salvas e ninguém poderia interferir no plano divino. Em razão de sua doutrina, Calvino foi perseguido pelas autoridades católicas francesas e fugiu para a Suíça, onde se tornou líder do governo da cidade de Genebra, de 1541 a 1560.

Pintura. Retrato de um homem, visto de corpo inteiro, em uma sala de estudos escura. No cômodo, à esquerda, há uma janela alta de madeira clara, com uma cortina escura. Em frente à janela, há uma mesa coberta por uma toalha vermelha. Sobre a mesa, um livro aberto, uma vela apagada em um castiçal, dois livros apoiados verticalmente, três livros empilhados e, atrás deles, parte de uma ampulheta dourada. No centro da imagem, há um homem em pé. Ele tem uma barba grisalha e comprida até o peito e veste uma longa túnica preta com colarinho branco e mangas compridas, que terminam em punhos muito largos cobertos de pelo marrom. Usa uma estola de tecido marrom, de aspecto aveludado, ao redor de seu pescoço. Sobre a cabeça, usa um chapéu preto com abas laterais cobrindo as orelhas. Ele segura um livro de capa vermelha, aberto, e o folheia com uma das mãos.  Atrás dele, à direita, em segundo plano, uma cadeira de madeira com o encosto vermelho preso por tachas metálicas, e uma prateleira de madeira com vários livros grandes. À frente do homem, em primeiro plano, à direita, uma pequena banqueta de madeira, com dois livros apoiados verticalmente.
Pintura francesa de autoria desconhecida representando João Calvino, século dezesseis.

Em Genebra, o governo calvinista exigiu dos habitantes um comportamento moral rigoroso, incluindo a proibição do jogo, do culto às imagens de santos, das danças, do uso de roupas luxuosas e de joias. Assim, os calvinistas pregavam que os cristãos deveriam trabalhar muito, evitar gastos desnecessários e orar a Deus. O trabalho intenso, recompensado com o sucesso econômico, era interpretado como um sinal da salvação predestinada.

O calvinismo espalhou-se por regiões da França, Inglaterra e Escócia, dando origem a outras correntes religiosas que ficaram conhecidas, respectivamente, como huguenotes, puritanos e presbiterianos.

No livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, o sociólogo Máquis Vêber (1864-1920) argumentou que os ideais calvinistas favoreciam os interesses da burguesia e do capitalismo, pois estimulavam o trabalho e o acúmulo de riquezas, além de defenderem o lucro.

Vêber é considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu trabalho destacou-se por analisar dimensões do capitalismo na modernidade, como a preocupação com a eficiência dos resultados, baseada em cálculos e planejamentos para a redução de riscos.

Reforma Anglicana

No século dezesseis também ocorreu uma reforma religiosa na Inglaterra, conduzida pelo rei Henrique oitavo (1509-1547). Dessa reforma surgiu a Igreja Anglicana.

Um dos principais motivos da ruptura entre o rei inglês e a Igreja Católica foi a disputa pelo poder. O monarca pretendia limitar a influência da Igreja Católica, que também era proprietária de muitas terras na Inglaterra. Além disso, Henrique oitavo queria anular seu casamento com Catarina de Aragão (1485-1536). O rei alegava que Catarina não conseguia ter um filho homem para sucedê-lo no trono. Assim, solicitou ao papa a anulação de seu matrimônio para poder se casar com Ana Bolena (cêrca de 1501-1536). Mas o pedido do rei foi negado pelo papa.

Gravura em preto e branco. Em um salão, com duas janelas altas em forma de arco e frisos em relevo decorando as paredes, destaque para uma mulher e um homem, no centro. Ela, à esquerda, é vista de lado. Uma mulher de cabelos escuros presos em um coque, trajando um vestido longo de mangas compridas e bufantes decoradas com laços, a saia armada, com uma cauda que é carregada por uma criança, um chapéu com penas sobre a cabeça, um véu cobrindo o coque. Ela segura a saia de seu vestido com uma das mãos, a outra está à frente de seu corpo e é segurada pelo homem à direita. Ele, à direita, é visto de frente. É um homem de barba escura, com um chapéu com penas sobre a cabeça. Veste um manto comprido até os joelhos, usado sobre uma blusa bordada com uma faixa de tecido amarrada à cintura, e uma calça justa. Com uma das mãos, o homem segura a mão da mulher à esquerda. A outra mão está apoiada sobre sua barriga. À esquerda, sobre um patamar com três degraus, há um trono vazio, coberto por um dossel. Ao lado do trono vazio, sentado, há um homem com um traje escuro de mangas compridas, com punho e colarinho branco, um chapéu sem abas escuro na cabeça e um crucifixo sobre o peito. Ele apoia a cabeça em uma de suas mãos, o cotovelo flexionado, apoiado sobre o braço do trono. Ao fundo, em segundo plano, há uma mulher sentada em um trono. Ela tem os cabelos presos em um penteado com faixas de tecidos, usa um vestido longo com a saia armada. A mulher olha para o lado direito, onde há um homem em pé usando um chapéu decorado com penas e um colar, que ele segura com uma das mãos. Ele veste uma blusa larga de mangas longas.
Gravura do ilustrador inglês uíliãm rôgártrepresentando Ana Bolena e Henrique oitavo, 1778.

Rompimento com a Igreja Católica

Diante da recusa do papa, Henrique oitavo rompeu com a Igreja Católica e casou-se novamente com a aprovação do Parlamento inglês. Posteriormente, o mesmo Parlamento aprovou uma lei (o Ato de Supremacia) que tornava Henrique oitavo o chefe supremo de uma nova Igreja na Inglaterra, denominada Igreja Anglicana. Em seguida, o rei confiscou os bens da Igreja Católica.

O papa Paulo terceiro (1468-1549) reagiu, excomungando o rei inglês. Porém, não conseguiu impedir a criação da Igreja Anglicana, que não era muito diferente da Católica em termos de doutrina e de culto.

Desse modo, o anglicanismo tornou-se a religião oficial do Estado. Houve perseguições aos fiéis e às autoridades católicas. Porém, muitos católicos continuaram a viver no reino, embora não pudessem praticar livremente sua religião.

Reforma Católica

A reação da Igreja Católica ao protestantismo ficou conhecida como Contrarreforma ou Reforma Católica e incluiu medidas como:

  • repressão aos protestantes: na França, por exemplo, ocorreu o episódio conhecido como a Noite de São Bartolomeu (1572), quando milhares de huguenotes foram massacrados pelos católicos;
  • criação da Ordem dos Jesuítas: o militar e religioso espanhol Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus (1534), também chamada de Ordem dos Jesuítas. Os jesuítas consideravam-se “soldados da Igreja” com a missão principal de combater o protestantismo e expandir o catolicismo na Europa e em outras partes do mundo. Para cumprir sua missão, os jesuítas criaram escolas religiosas e catequizaram povos dos continentes americano, asiático e africano;
  • convocação do Concílioglossário de Trento (1545-1563): o papa Paulo terceiro convocou um concílio, reunido na cidade de Trento, na Península Itálica. O objetivo era promover uma reforma no catolicismo e fazer frente às críticas que a Igreja Católica enfrentava. Depois de anos de trabalho, os membros do concílio reafirmaram pontos básicos da doutrina católica, como os sete sacramentosglossário , a autoridade do papa e as fontes da fé cristã católica, sendo a Bíblia a principal fonte da doutrina religiosa e sua interpretação correta atribuída ao clero católico;
Gravura. Em um grande salão com arcos sustentados por colunas nas laterais, esculturas com formas humanas nas paredes e um altar ao fundo, há diversos homens dispostos em quatro fileiras formando um semicírculo, sentados lado a lado. Eles são brancos e vestem trajes de cor preta, têm um tecido branco sobre o colo e usam chapéus sem abas; alguns, à direita, com chapéus na cor preta; outros, à esquerda, com chapéus na cor vermelha. No centro da gravura, há um homem vestido com um traje preto com faixas douradas e um chapéu preto, em pé, diante de um púlpito branco, logo baixo dele, sete homens estão sentados em cadeiras formando uma linha horizontal. Eles usam trajes coloridos (da esquerda para a direita: azul, amarelo, vermelho, preto, vermelho, azul, amarelo), exceto pelo homem sentado ao centro, com um traje preto com detalhes amarelos no peito e um chapéu vermelho. À esquerda, há um grupo de homens sentados em uma espécie de arquibancada com duas fileiras. Os da fileira de baixo usando um traje vermelho, chapéu preto e um tecido branco sobre o colo.  Os da fileira de cima com trajes pretos, chapéus pretos e um tecido branco sobre o colo. Na parte inferior da gravura, há uma mesa coberta por uma toalha vermelha, há dois homens sentados em cadeiras altas e douradas, Um deles, sentado de frente para a mesa, usa um traje e um chapéu preto, e segura uma pena, com a qual escreve em um livro aberto apoiado sobre a mesa. O outro, sentado de costas para a mesa, veste um traje azul, com meias altas na cor branca, um chapéu preto, alto, decorado com uma pluma vermelha. Ele tem as mãos apoiadas nas laterais da cadeira. Ao lado da mesa há um crucifixo dourado.
Gravura italiana de autoria desconhecida representando o Concílio de Trento, século dezoito.

volta da Inquisição: os inquisidores tinham o objetivo de julgar e punir pessoas acusadas de crimes contra a fé católica, recebendo do papa autorização para utilizar até mesmo a tortura como fórma de obter a confissão dos acusados. Além disso, a Igreja Católica elaborou, em 1559, o Índequis librórum proibitórum, uma lista de livros proibidos aos católicos. Dessa lista constavam, por exemplo, obras de Galileu Galilei, Nicolau Copérnico e todas as obras de autores protestantes.

Difusão das reformas religiosas

O protestantismo se difundiu rapidamente pelo continente europeu, conquistando vários seguidores. Em aproximadamente 50 anos, cêrca de 40% dos europeus ocidentais se tornaram protestantes.

Observe o alcance do protestantismo no mapa a seguir.

Europa: difusão das reformas religiosas (século dezesseis)

Mapa. Europa: difusão das reformas religiosas. Século dezesseis. Destaque para parte do continente europeu, com áreas delimitadas por cores e padrões visuais, indicando a religião que prevalecia em cada região no século dezesseis e a difusão de religiões em diferentes áreas naquele período. Em amarelo, indicação de 'Católicos', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem Portugal, Espanha, o noroeste, o nordeste, o sudoeste e o sul da França, Bélgica, Países Baixos, o noroeste e o sul da Alemanha, parte do leste e o sudeste da Polônia, o norte da Lituânia, o oeste de Belarus, parte do oeste da Rússia, o oeste e o leste da Ucrânia, o noroeste da Romênia, o litoral da Croácia,  Eslovênia, Áustria, o norte, o leste e o sul da Suíça, Irlanda e Itália, com destaque para as cidades de Veneza, Gênova, Roma e Nápoles. Em laranja, indicação de 'Anglicanos', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem a Inglaterra e o País de Gales. Em rosa, 'Calvinistas', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem a Escócia, parte do leste da França e o centro da Suíça. Em roxo, indicação de 'Ortodoxos', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem o leste da Croácia, parte do sul da Hungria, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Macedônia, Albânia, Grécia, Bulgária, Sérvia, Romênia, Moldávia e a parte europeia e parte do nordeste do território asiático da Turquia, que naquele período faziam parte do Império Turco Otomano, além do Sul da Ucrânia e da Rússia e, na Ásia, parte da Geórgia e do Azerbaijão. Em verde, indicação de 'Luteranos', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem parte do leste da França, o cento e o leste da Alemanha, o oeste e o nordeste da Polônia, o sul da Lituânia, Letônia, Estônia, Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca. Em linhas vermelhas cruzadas, indicação de 'Difusão muçulmana', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem  o sul da Espanha, o litoral russo do Mar Negro, o sul da Ucrânia, o sul da Moldávia, o leste da Romênia, o leste da  Bósnia-Herzegovina, o leste da Croácia, parte da Sérvia, Bulgária, Macedônia, a parte continental da Grécia, Albânia e a parte europeia da Turquia. Em bolinhas roxas, indicação de 'Difusão calvinista', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem o norte e o centro da França, o leste da Áustria, o sudeste da Polônia, o oeste da Ucrânia, o norte da Romênia, parte da Hungria e da Eslováquia, Inglaterra e País de Gales. Em listras verdes horizontais, indicação de 'Difusão Ortodoxa', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem o centro e o Leste de Belarus, o centro da Ucrânia e parte do oeste da Rússia. Em listras verdes diagonais, indicação de 'Difusão Luterana', estendendo-se pelos territórios que hoje compreendem parte do sudeste da Alemanha, parte do norte da Áustria, o noroeste da Eslováquia, o centro e o sul da Polônia e a República Tcheca. Na parte inferior direita, rosa dos ventos e escala de 0 a 330 quilômetros.
Fontes: ATLAS da história do mundo. São Paulo: Folha de São Paulo/Times Books, 1985. página 179; Quínder, Rérmãn; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982. página 256.

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Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Identifique e escreva o nome dos países que hoje correspondem às regiões em que o catolicismo, o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo predominaram no século dezesseis.

No atual Brasil, o protestantismo ganhou novos ramos com as Igrejas evangélicas, que se baseiam nos poderes do Espírito Santo para fazer milagres, como curar doenças, promover a prosperidade e expulsar o mal da vida dos fiéis.

Segundo levantamento estatístico realizado em 2020 pelo Instituto Datafolha, cêrca de 31% dos brasileiros se declaram evangélicos, enquanto por volta de 50% da população se declara católica.

OUTRAS HISTÓRIAS

Inquisição espanhola

Em 1478, o papa Sisto quarto (1414-1484) permitiu a fundação da Inquisição espanhola, a pedido dos reis Fernando e Isabel. Nomeados pelos reis, os inquisidores passaram a julgar as heresias. A grande diferença com relação à Inquisição medieval era justamente o poder que os reis teriam, a partir do final do século quinze, na nomeação dos inquisidores, misturando a ação do Estado com as práticas religiosas.

A primeira cidade espanhola a ter um tribunal da Inquisição foi Sevilha, lugar onde tradicionalmente havia grandes comunidades de católicos, judeus e muçulmanos. A tolerância deixou de existir e passou a vigorar uma forte repressão a todos os que não fossem católicos.

Mais tarde, durante a colonização da América pelos espanhóis, foram criados tribunais na Cidade do México e em Lima (no Peru) em meados do século dezesseis, e em Cartagena (em Nova Granada, atual Colômbia) no começo do século dezoito.

Até sua extinção, em 1834, a Inquisição espanhola condenou cêrca de trezentas mil pessoas a diversas penas.

Pintura. Em uma sala ampla e pouco iluminada, com uma coluna e dois arcos com vértices no topo, a representação de um julgamento. À esquerda, em um patamar mais alto, há um homem cabisbaixo sentado com as costas curvadas e as mãos entrelaçadas à frente do corpo. Ele veste um traje escuro sobre o qual há um colete branco com detalhes dourados e muitas manchas vermelhas; o colete cobre seu torso. Sobre a cabeça, ele usa um chapéu branco em forma de cone, comprido e pontudo, também coberto de manchas vermelhas. No canto inferior esquerdo, no patamar elevado, há um homem sentado em uma cadeira alta de madeira. Ele tem cabelos brancos, longos e cacheados, veste um casaco preto, aberto, calças pretas e meias pretas até os joelhos. Sobre o peito, leva uma estola de tecido branco. Calça sapatos pretos com fivelas metálicas. Está sentado com um tornozelo cruzado sobre o outro. Tem uma das mãos apoiadas em seu quadril. Há outro homem de cabelos brancos e trajes de cor preta em pé, atrás da cadeira alta. Em segundo plano, no patamar mais baixo, há dezenas de homens sentados, assistindo à cena. A maior parte deles tem os cabelos raspados no topo da cabeça, o cabelo restante formando um anel em torno da cabeça. Alguns usam vestes pretas com capuzes abaixados, com forro branco. Outros, ainda, usam túnicas inteiramente brancas. Há um homem sentado que usa um chapéu sem abas cobrindo o topo da cabeça e tem uma corrente dourada no pescoço, com um pingente com um grande crucifixo. À direita, em primeiro plano, no patamar mais baixo, há outros três homens curvados, sentados com as mãos unidas e os dedos entrelaçados em frente ao corpo, vestindo trajes escuros cobertos por um colete branco com detalhes dourados e manchas vermelhas, além de chapéus brancos em forma de cone, compridos e pontudos, também cobertos de manchas vermelhas.
Cena da Inquisição (também conhecida como Tribunal da Inquisição), pintura de Francisco Goya, 1808-1812.

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Atividade

A Inquisição espanhola durou quantos anos? Nesse período, a Inquisição também atingiu as colônias da Espanha na América? Explique.

OFICINA DE HISTÓRIA

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Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas sobre o Renascimento. Depois, reescreva-as de fórma correta.

  1. O Humanismo e o Renascimento compartilharam características como antropocentrismo, racionalismo, individualismo e valorização da cultura clássica.
  2. Os renascentistas romperam definitivamente com a Igreja Católica para aderir ao paganismo greco-romano.
  3. O Renascimento foi um movimento cultural que ficou restrito à Península Itálica.
  4. O movimento renascentista está relacionado a uma mudança de mentalidade e de valores que contribuíram para o desenvolvimento da ciência.
  5. Ao desenvolverem suas pesquisas, os cientistas do Renascimento receberam total apoio da Igreja Católica.
  1. Relacione os itens a seguir aos itens numerados em algarismo romano.
    1. Iorrãn gutembérgue (1398-1468).
    2. Ordem dos Jesuítas.
    3. Igreja Anglicana.
    4. Martinho Lutéro (1483-1546).
    5. João Calvino (1509-1564).
    1. No século quinze, desenvolveu uma tipografia que aumentou a produção de livros, entre os quais a Bíblia.
    2. Foi fundada na Inglaterra pelo rei Henrique oitavo com um culto e uma doutrina semelhantes aos da Igreja Católica.
    3. Pregava que somente a fé trazia a salvação e defendia a existência de uma predestinação ao céu.
    4. Tinha como principal missão combater o protestantismo e expandir o catolicismo.
    5. Em 1517, publicou um manifesto com 95 teses contra as práticas da Igreja Católica, sendo considerado o iniciador da Reforma Protestante.

Interpretar texto e imagem

3. Leia o texto a seguir, escrito por Leonardo da vinti (1452-1519), e faça o que se pede.

“Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso [particular] uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos.”

DA VINCI, Leonardo. carnês. In: FEITOSA, Elisa Geralda êti ól Filosofia: alguns de seus caminhos no Ocidente. São Paulo: Baraúna, 2014. página 275.

  1. Qual é a comparação estabelecida na primeira frase? Explique-a.
  2. Segundo o texto, como um caso particular pode ser considerado uma regra geral?
  3. Relacione o texto com as novas práticas adotadas pelos cientistas do Renascimento.

4. A seguir, você lerá um texto do escritor, teólogo e filósofo holandês Erasmo de Roterdã, que viveu de 1469 a 1536. Em sua obra Elogio da Loucura, quem fala em seu nome é a Loucura, o que lhe permite criticar os costumes e as pessoas da época, colocando-se em uma posição inatacável.

reticências as armas dos papas não consistem todas naquelas doces bênçãos de que fala São Paulo (95) e das quais são eles tão avaros. Consistem elas em interdições, suspensões, gravames, anátemas, pinturas vingadoras e naquele terribilíssimo castigo pelo qual um beatíssimo padre pode mandar à vontade qualquer alma para o inferno. Os nossos Santíssimos Pais de Cristo e o seus vigários gerais nunca empregam com maior zelo esse espantoso castigo do que no caso daqueles que, à instigação do demônio, tentam diminuir ou danificar o patrimônio de São Pedro. Dizia este bom apóstolo ao seu Mestre: — Deixamos tudo para te seguir. — Entendeis que imenso sacrifício fez o pobre pescador! Ele conseguiu a fortuna em razão dessa renúncia; é por esse motivo que Sua Santidade glorificada [o papa] possui terras, cidades, domínios reticências. E é sobretudo para defender e conservar essa rica aquisição que os pontífices romanos costumam condenar as almas. É verdade que nem ao menos poupam os corpos, e, inflamados pelo zelo de Jesus Cristo, reticências sem piedade, empregam o ferro e o fogo para sustentar as suas razões.”

ROTERDÃ, Erasmo de. Elogio da Loucura. página 56. Disponível em: https://oeds.link/yJORAY. Acesso em: 16 maio 2022.

  1. Qual é a crítica à ideia de salvação presente no texto?
  2. Dê sua opinião sobre o enriquecimento material de diversas Igrejas atualmente.

5. Observe as obras a seguir e responda às questões.

Pintura. Em um suporte cujo formato corresponde a um retângulo, na base, e um triângulo, no topo, pintada sobre um fundo dourado, há a representação de uma mulher sentada em um trono de madeira esculpida com uma criança no colo. Nas laterais da pintura, menores que as figuras centrais, três seres de cada lado, com aspecto angelical e asas nas costas, seguram partes do trono em que está sentada a mulher. Esses anjos têm cabelos castanhos, longos e cacheados. Vestem túnicas de mangas compridas coloridas (em rosa, verde, lilás e azul) e sobre elas, cruzados sobre seus ombros, mantos também coloridos (em rosa, azul e lilás), Representada no centro, a mulher está sentada em um trono de madeira entalhada com detalhes em tecidos rosa e azul. Ela tem os cabelos e o corpo cobertos por um manto espesso na cor azul, com detalhes na barra em dourado e duas estrelas douradas: uma sobre a testa, outra sobre o ombro. Sob o manto, ela usa um longo vestido de mangas compridas na cor rosa, com os punhos e o colarinho dourados. Apenas a barra do vestido e os punhos aparecem sob o manto. Ela segura uma criança pequena no colo e tem um grande círculo dourado, uma auréola, ao redor de sua cabeça. A criança tem cabelos claros e cacheados; veste uma túnica longa, branca, de mangas compridas, com detalhes dourados, e há um tecido rosa cobrindo suas pernas. Ao redor de sua cabeça, há um grande círculo dourado.
Madôna Rutchelái, pintura de Duccio di Buoninsegna, cêrca de 1285.
Pintura. Sobre um fundo escuro, uma mulher, em pé, segurando um bebê no colo. Ela é representada até a altura das pernas. A mulher  tem os cabelos claros cobertos por um manto azul com um barrado verde. O manto se estende do topo de sua cabeça ao longo do corpo, por ombros, braços, quadris e pernas. Sob o manto, ela usa um vestido vermelho, com um decote quadrado com detalhe em cor de vinho e uma faixa da mesma cor sobre a cintura. Seus olhos estão baixos, a expressão serena. Ao redor de sua cabeça há um aro dourado.  O bebê em seus braços tem cabelos ralos e claros, e tem apenas uma fralda de tecido branco amarrada em torno de sua cintura. Ele se apoia com as duas mãos sobre o ombro e o peito da mulher e tem o olhar baixo, distante. Ao redor da cabeça do bebê há um aro dourado.
Madôna dél grãndúca, pintura de Rafael Sanzio, cêrca de 1504.
  1. Quem é o autor de cada obra? Quando elas foram produzidas?
  2. Qual dessas obras pode ser considerada renascentista? Que características do Renascimento artístico ela apresenta?
  3. De que obra você mais gosta? Por quê?

Glossário

Tridimensional
: aquilo que tem ou é representado pelas três dimensões (altura, largura e profundidade).
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Afresco
: tipo de pintura feita em paredes, tetos ou muros, em geral numa base de  gesso ou de argamassa. Neles são utilizadas tintas à base  de água. Os afrescos têm grande durabilidade.
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Juros
: diferença no valor entre a quantia emprestada e a quantia cobrada por aquele que empresta dinheiro. Nessa situação, quem toma o dinheiro emprestado (o devedor) paga uma determinada quantia a mais pelo empréstimo ao credor (aquele que empresta o dinheiro).
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Concílio
: reunião de autoridades da Igreja (por exemplo, bispos), presidida ou sancionada pelo papa, para discutir e decidir questões ligadas à fé, à doutrina ou aos costumes eclesiásticos.
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Sete sacramentos
: batismo, crisma, eucaristia, matrimônio, penitência, ordem e extrema-unção.
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