UNIDADE 2CONTATOS E CONFRONTOS

CAPÍTULO 5 CONQUISTA DA AMÉRICA

A chegada dos europeus à América provocou impacto tanto para os povos indígenas como para os europeus. Foi um choque cultural que gerou contatos e confrontos entre duas sociedades diferentes. As consequências desse encontro repercutem até nossos dias, por exemplo, com a permanência da luta indígena pela posse de suas terras.

Diversos povos indígenas protestam contra as comemorações do “descobrimento” da América e afirmam: o continente americano não foi descoberto, mas, sim, invadido.

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para começar

Imagine como foram os primeiros encontros entre indígenas e europeus. O que será que eles sentiram ou pensaram uns sobre os outros? Troque ideias com os colegas.

Fotografia. Vista de uma praça com áreas gramadas. Em primeiro plano, ruínas de construções com escadarias direcionando para pátios de pedra. Em segundo plano, um templo com duas torres laterais e uma entrada frontal em formato de arco. Ao fundo, um edifício moderno horizontal.
Praça das Três Culturas, na Cidade do México, México. Fotografia de 2021. A praça recebe esse nome porque contém vestígios de pirâmides astecas, um edifício moderno e o Templo de Santiago, erguido em 1521 pelos espanhóis.
Fotografia. Uma mulher sentada a frente de um tear, vestindo um casaco vermelho e uma capa com detalhes coloridos, e um chapéu sem abas sobre a cabeça, de tecido preto e franjas amarelas laterais. Sobre o tear, um tecido com listras verticais paralelas em diferentes cores, como vermelho, branco, amarelo e preto.
Indígena quíchua tece uma colcha utilizando lã de alpaca em Arequipa, Peru. Fotografia de 2019.
Fotografia. Uma multidão de homens e mulheres indígenas, utilizando cocares com penas coloridas e colares sobre seus peitos, lado a lado, segurando faixas com textos.
Manifestação dos povos indígenas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Distrito Federal, contra alteração na política de demarcação de terras indígenas no Brasil. Fotografia de 2021.

Novo Mundo

Com as Grandes Navegações, a expressão “Novo Mundo” foi utilizada para se referir à América. Em contraste, “Velho Mundo” passou a denominar as áreas banhadas pelo Mar Mediterrâneo, incluindo a Europa.

A expressão “Novo Mundo” popularizou-se graças às cartas do navegador florentino Américo Vespúcio (1454-1512). Essas cartas, publicadas em 1503, fizeram um sucesso enorme e ajudaram a divulgar a “descoberta” de um novo continente. Depois disso, foi publicado pela primeira vez na Europa um mapa-múndi que mostrava a América. O novo continente recebeu o nome de América para homenagear Américo Vespúcio.

Em suas cartas, Vespúcio descreveu o “Novo Mundo” como uma terra de natureza exuberante repleta de animais selvagens e homens e mulheres nus. Influenciado por ideias renascentistas e cristãs, o navegador comparou o continente americano ao paraíso. Segundo Vespúcio, os habitantes da América viviam muitos anos, da mesma maneira que os antigos homens descritos na Bíblia, na parte do Velho Testamento.

Gravura. Um homem de cabelos e barba escuros, vestindo uma touca e capa vermelhas. Ele segura um compasso sobre as páginas de um livro aberto, ao lado de uma bússola redonda. Em segundo plano nota-se uma embarcação sobre águas azuis. Ao redor de seu retrato há imagens de seres marinhos com olhos vermelhos e escamas pelo corpo, barbatanas e uma longa cauda.
Américo Vespúcio em gravura de John Ogilby, século dezessete.
Planisfério. Mapa representando os continentes com formas distorcidas, destacando a América, África, Europa, Ásia e Oceania, cercados por águas oceânicas.
Cosmografia universal, planisfério do cartógrafo alemão MártinValdissimíler, 1507. Esse mapa foi o primeiro a incluir o nome “América.

O “Novo Mundo” era, ao mesmo tempo, estranho e familiar aos europeus. Acreditava-se que nele haveria monstros e animais peçonhentos dignos do inferno. Mas também havia liberdade, inocência e fartura dignas do paraíso. O bem e o mal, o paraíso e o inferno foram projetados sobre a América e seus habitantes.

A ideia da América como um “Novo Mundo” deve ser entendida em seu contexto. Isso porque a América era uma novidade para os europeus, que tinham acabado de “descobrir” esse continente. Mas não era uma terra nova para os indígenas, que viviam aqui há milhares de anos.

Depois do contato entre europeus e indígenas, houve permanências e rupturas nos saberes e nas práticas desses povos, o que marcou profundamente a formação do mundo moderno.

Gravura. Um homem vestindo uma capa vermelha e um chapéu de mesma cor sobre uma embarcação em águas azuis, e ao redor, seres marinhos diversos, entre eles seres humanoides, metade homem metade peixe, e tartarugas. Ao fundo, extensa faixa de terra densamente vegetada.
Representação alegórica da chegada de Américo Vespúcio à América, em gravura de Adriânus Colértcolorizada por iorrânes istradânus, cêrca de 1585. Na imagem, notam-se elementos do imaginário europeu sobre o continente americano.
Gravura. Representação de confronto entre povos indígenas, portando arcos e flechas, e homens não indígenas sobre barcos e caravelas, portando lanças, espadas e armas de fogo. De algumas embarcações partem explosões em direção ao solo.
Encontro de Américo Vespúcio com nativos em gravura colorizada de têodóre de bri, cêrca de 1590. Essa representação permite refletir sobre as diferentes fórmas da resistência indígena à colonização europeia.

População indígena

Quantas pessoas viviam na América no final do século quinze, pouco antes da chegada dos europeus? Não há uma resposta exata para essa pergunta. O que existem são várias estimativas feitas pelos pesquisadores do assunto, que apontam entre 50 e 100 milhões de pessoas, distribuídas de fórma desigual pelo continente.

Estimativas da população indígena para a América (final do século XV)

P. Chaunu

W. Denevan

H. J. Spinden

80 a 100 milhões(1)

57,3 milhões(2)

50 a 75 milhões(3)

FONTES: (1)choní, piérre. Conquista e exploração dos novos mundos (século dezesseis). São Paulo: Pioneira, 1984. p. 406; (2)chuarts, ésse bê; lóquirrarti, jota A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 57; (3)STEWARD, J. H. A população nativa da América do Sul. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, n. 10, p. 303, 2000.

Estudaremos, neste capítulo, alguns aspectos das sociedades Tupi, maia, inca e asteca.

Tupi-guarani

Por volta de 1500, quando os portugueses chegaram ao atual território brasileiro, as terras eram habitadas por povos indígenas que podem ser divididos em quatro grupos de línguas principais: Tupi-guarani, Jê, Caraíba e Aruaque. Apesar das diferenças, pode-se dizer que esses povos viviam em aldeias autônomas e tinham profundo conhecimento sobre a flora e a fauna locais. Calcula-se que cêrca de 60% das drogas medicinais de origem vegetal do mundo atual foram criadas com base no conhecimento dos povos ameríndios.

Os Tupi-guarani formavam uma população de, aproximadamente,1 milhão de pessoas. Estavam divididos em dezenas de grupos, com certa rivalidade: Tupinambá, Tupiniquim, Guarani, Caeté, Potiguar etcétera De norte a sul, ocupavam trechos do litoral e partes do interior do território.

As áreas mais populosas do Brasil atual ficam no antigo território Tupi-guarani. Ali, surgiram cidades como Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e muitas outras. No entanto, a população indígena tornou-se minoria. Em consequência do impacto da conquista europeia, calcula-se que essa população foi reduzida para menos de 200 mil indivíduos no final do século dezesseis.

Território Tupi-guarani (século dezesseis)

Mapa. Território Tupi-guarani (século dezesseis). Destaque para território do Brasil dividido em estados nos seus limites atuais. Em laranja, indicação de território 'Tupi-guarani', compreendendo áreas na faixa litorânea dos estados atuais: Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; incluindo as capitais atuais: São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. No interior, destaque para território Tupi-guarani entre os limites atuais dos estados do Amazonas, do Pará e de Mato Grosso; em porção no centro do Maranhão; em áreas do sul ao norte da Bahia; do sudoeste ao norte de Minas Gerais (incluindo a capital Belo Horizonte); do oeste ao nordeste de São Paulo; no oeste do Paraná; do oeste ao sul de Santa Catarina; do centro ao norte do Rio Grande do Sul e do sul ao norte de Mato Grosso do Sul (incluindo a capital Campo Grande). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 580 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti áli. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 12.

Os Tupi-guarani viviam perto de rios e do mar, por isso eram pescadores habilidosos e desenvolveram embarcações, como a canoa e a jangada. Tinham uma alimentação variada, pois comiam frutas, peixes, mariscos, animais de caça, mel, caranguejos e ovos.

Além da caça e da coleta, os Tupi-guarani praticavam a agricultura de mandioca, milho, algodão, tabaco, batata-doce, feijão, amendoim, abóbora, pimenta, abacaxi, mamão, erva-mate e guaraná, entre outras culturas.

Na preparação do solo, usavam um sistema chamado coivara. Os homens derrubavam árvores com machados de pedra e limpavam o terreno com queimadas. As mulheres dedicavam-se ao plantio e à colheita.

Graças a suas técnicas agrícolas, os Tupi-guarani produziam alimentos suficientes para estocar. Nos séculos quinze e dezesseis, enquanto muitas sociedades europeias enfrentavam o drama da fome, os povos originários da América desfrutavam de certa abundância de alimentos.

Vasilha de cerâmica. Objeto com base larga e abertura irregular no topo.
Vasilha de cerâmica Tupi-guarani pré-histórica, utilizada para armazenar e servir líquidos.
Fotografia. Destaque para dois homens em pé, sobre uma área escavada, com destaque para uma urna contendo uma ossada humana.
Escavação em sítio arqueológico Tupi-guarani onde foi encontrada uma urna funerária, possivelmente de um sepultamento pré-colonial, em Salvador, Bahia. Fotografia de 2020.

Grafia dos nomes dos povos indígenas

Nos livros desta coleção, os nomes dos povos indígenas do Brasil foram escritos de acordo com a Convenção para a Grafia dos Nomes Tribais, aprovada na Primeira Reunião Brasileira de Antropologia, em 1953.

Com inicial maiúscula, quando usados como substantivo, e opcional, quando usados como adjetivo.

Sem flexão de número ou de gênero.

Não estendemos esse padrão para os demais povos indígenas americanos e povos africanos.

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para pensar

Na região onde você mora, existem locais que receberam nomes de origem indígena? Pense em nomes de ruas, praças e cidades. Se necessário, pesquise e, depois, compartilhe essas informações com os colegas.

Farinha de mandioca

A mandioca (mânirrôt esculenta) é uma planta nativa da América, provavelmente da Amazônia brasileira. Era cultivada pelos Tupi-guarani muito tempo antes da conquista europeia. Existem duas grandes variedades de mandioca: a mansa e a brava. Essas duas variedades são bem parecidas. A diferença entre elas está na concentração de uma substância tóxica chamada ácido cianídrico.

Pintura. Uma planta de mandioca, com folhas verdes afiladas, e as raízes grossas e volumosas, de superfície irregular.
Mandioca, pintura de âubert équirráut, 1654.

Pouco ácido cianídrico

A mandioca-mansa, também chamada mandioca de mesa, aipim ou macaxeira, apresenta quantidades baixas de ácido cianídrico. De modo geral, ela pode ser consumida após um curto período de cozimento e seu sabor é levemente adocicado. Pode ser usada em saladas, purês, assados, entre outros.

Muito ácido cianídrico

A mandioca-brava, também chamada mandioca amarga ou industrial, apresenta alta concentração de ácido cianídrico. Para retirar esse veneno, as mulheres Tupi-guarani ralavam a raiz da mandioca e a espremiam em um tipiti, que é um trançado de palha em fórma de cilindro. Depois de espremida no tipiti, a mandioca ralada era cozida lentamente no fogo. Por fim, a planta podia ser usada para fazer polvilho, tapioca, tucupi ou farinha.

Fotografia. Destaque para um homem visto parcialmente, segurando um espremedor trançado de palha em forma cilíndrica, contendo uma massa branca.
Massa de mandioca ralada e escorrida sendo retirada do tipiti em Barreirinhas, Maranhão. Fotografia de 2017.
Fotografia. Destaque para duas mulheres e um homem em pé, ao redor de uma grande vasilha metálica sobre as chamas de uma fogueira. Sobre a vasilha há uma farinha amarela. As mulheres, à esquerda, manuseiam uma peneira. O homem, à direita, utiliza um instrumento para tocar a farinha.
A farinha de mandioca difundiu-se dos Tupi-guarani para outros povos. Na imagem, vemos um grupo que peneira e torra mandioca-brava durante produção de farinha de mandioca na comunidade quilombola Mangabeira, em Mocajuba, Pará. Fotografia de 2020.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica. Livro

dica LIVRO

MUNDURUKU, Daniel. Coisas de índio: um guia de pesquisa. São Paulo: Callis, 2010.

Organizado pelo escritor indígena Daniel Munduruku, o livro traz informações sobre as várias comunidades indígenas do Brasil.

Por ser um alimento nutritivo e muito durável, a farinha de mandioca foi utilizada pelos portugueses para alimentar a tripulação dos navios nas longas travessias marítimas pelo Atlântico. Eles também levaram a mandioca para a África e a Ásia, onde ela foi incorporada à alimentação de diversos povos.

Atualmente, a mandioca é produzida em mais de cem países na América, na Ásia e na África, alimentando cêrca de 800 milhões de pessoas. Os saberes e sabores indígenas fazem parte da culinária brasileira e se espalharam pelo mundo.

Fotografia. Destaque para uma mulher indígena vestindo uma blusa laranja, com os braços esticados em direção a uma grande bacia metálica contendo farinha branca amontoada em um círculo.
A farinha de mandioca tornou-se conhecida de vários povos indígenas. Na imagem, indígena da etnia Macuxi prepara beiju com farinha de mandioca, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia, Roraima. Fotografia de 2021.
Fotografia. Um conjunto de mandiocas empilhadas expostas sobre uma superfície plana. Possuem o formato arredondado, o interior branco e a casca marrom. Em segundo plano, algumas pessoas em desfoque.
Mandioca-mansa à venda no Mercado do Porto, em Cuiabá, Mato Grosso. Fotografia de 2019.
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para pensar

Você consome comidas feitas à base de mandioca? Quais? Converse com os colegas sobre o assunto.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica INTERNET

Índio Educa

Disponível em: https://oeds.link/NcCikt. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

O site traz conteúdo didático sobre história, tradições e lutas de diversos povos indígenas brasileiros; o material todo é produzido por indígenas.

Povos indígenas do Brasil Mirim

Disponível em: https://oeds.link/lxaGfh. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

O portal apresenta informações importantes para contextualizar o modo de vida dos povos indígenas brasileiros no presente.

Maias, incas e astecas

Além dos povos Tupi-guarani, vamos destacar alguns saberes e algumas técnicas de três outros povos americanos: os maias, os astecas e os incas.

No mapa a seguir, você pode observar que os maias e os astecas viviam em uma área chamada Mesoamérica, que corresponde atualmente a Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá e parte sul do México.

Os incas viviam nas regiões andinas da América do Sul, entre a Cordilheira dos Andes e o litoral do Oceano Pacífico, desde as atuais cidades de Quito, no Equador, até os arredores de Santiago, capital do Chile.

Dessas três civilizações, os maias tiveram seu apogeu entre 300 e 900 e, a partir daí, entraram em declínio. Por isso, não foram propriamente conquistados, no século dezesseis, pelos europeus. Já os astecas e os incas foram alvos da conquista espanhola da América.

Mesoamérica antes de 1519

Mapa. Mesoamérica antes de 1519. Destaque para o sul da América do Norte e parte da América Central, com os territórios divididos em fronteiras atuais. Em roxo, área relativa ao Império Asteca, compreendendo faixa de terra na porção sul da América do Norte, no atual México, banhado pelo Oceano Pacífico, ao sul, e Mar dos Caraíbas, ao norte, e parte da América Central. Destaques para sítios maias, indicados por quadrados escuros: Tikal e Uaxactum (à leste do Império Asteca) Uxmal, Tulum, Mayapan e Chichén-Itzá (à nordeste do Império Asteca). No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala 0 a 200 quilômetros.
Fonte: Betell, Leslie (organizador). América Latina colonial. São Paulo: êduspi, 1998. página 56. (História da América Latina, volume 1).

Nessas três civilizações americanas, predominava a economia agrícola. Um dos principais alimentos cultivados por maias e astecas era o milho. Os incas cultivavam, sobretudo, a batata. Para escolher a melhor época de plantar e colher, esses povos usaram seus conhecimentos matemáticos e astronômicos e criaram calendários próprios. Os maias, por exemplo, tinham um sistema numérico, desenvolveram o conceito do número zero e um símbolo para identificá-lo.

Maias, astecas e incas produziram saberes em diversos campos, como engenharia, arquitetura, matemática, astronomia, escrita, tecelagem, cerâmica, carpintaria, esculturas, pinturas e tantas outras artes e ofícios. A religião estava presente nas várias dimensões da vida social e, por vezes, incluía cerimônias com sacrifícios humanos.

Essas sociedades fundaram e desenvolveram importantes centros urbanos e comerciais. A parte central das cidades funcionava como local para as cerimônias religiosas e o comércio. Sacerdotes, reis e funcionários mais graduados do governo viviam nos centros urbanos. Já a maioria da população habitava as regiões periféricas ao redor desses centros e as áreas rurais.

Algumas dessas cidades tornaram-se grandes e populosas, como Tenochtitlán, a capital da civilização asteca, e Cuzco, capital do Império Inca. Antes da conquista espanhola, alguns estudiosos calculam que Tenochtitlán tinha cêrca de 500 mil habitantes, mais do que Sevilha, a maior cidade da Espanha na época.

Mural. Pintura representando a vista de uma vasta cidade, formada por porções de terras contendo casas e construções, cortadas por caminhos fluviais. Destaque para uma área reunindo várias pessoas, algumas desnudas, outras vestindo túnicas coloridas. Há alguns palanques com cestas contendo objetos e produtos.
Detalhe do mural A grande cidade de Tenochtitlán, de Diego Rivera, 1945.

Principais povos originários da América (séculos dez a dezesseis)

Mapa. Principais povos originários da América (séculos dez a dezesseis). Destaque para o continente americano. Na América do Sul, destaque para os povos Guarani (na porção sudeste do território), Jê (na porção leste e nordeste) e Tupi (na costa nordeste e porção centro-leste).  Na costa oeste, Araucanos, Incas e Chibchas, povo que também se estende ao sul da América Central. Definido por uma linha pontilhada, 'Extensão do Império Inca no século dezesseis', compreendendo extensa porção territorial na costa oeste da América do Sul. Na porção norte do território sul-americano, destaque para Caribes e Aruaques. Na porção sul, a indicação 'Outras populações'. Na América Central, destaque para Maias e Aruaques. No sul da América do Norte, destaque para Astecas. Na porção central da América do Norte, destaque para Apaches, Shoshonis, Sioux, Algonquinos, Iroqueses e outras populações. No extremo norte, Atapascos, Inuítes e outras populações. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.250 quilômetros.
Fonte: ATLAS histórico integral. Barcelona: Biblograf, 1993. página 39.

Chocolate

Antes de os europeus conquistarem a América, o cacau já era cultivado pelos maias e astecas. O cacaueiro tem origem na América Central e na América do Sul. Seu nome científico é Teobroma cacau, que em grego quer dizer “alimento dos deuses”.

Maias e astecas torravam e moíam as sementes do cacau para produzir uma bebida conhecida como chocolate. O chocolate preparado por eles podia incluir água, mel, pimenta e baunilha, entre outros ingredientes. Usada em cerimônias, a bebida tinha efeito estimulante ou medicinal, dependendo do preparo.

Escultura em pedra. Representação de um homem segurando com as mãos um fruto ovalado e com listras verticais.
Escultura asteca de homem segurando fruto do cacau, cêrca de 1440-1521.

Em 1585, os espanhóis levaram um grande carregamento de cacau para a Europa. Aos poucos, o chocolate passou a ser muito apreciado pelas elites europeias, que o bebiam preparado com leite e açúcar. Virou moda, por exemplo, as aristocratas europeias tomarem uma caneca de chocolate durante o lanche.

Entre 1830 e 1900, a produção mundial de cacau aumentou de 10 mil para 115 mil toneladas. Em 2019, foram produzidas cêrca de 5,6 milhões de toneladas de cacau no mundo inteiro. Os maiores produtores desse fruto são Costa do Marfim, Gana, Indonésia, Nigéria, Equador, Camarões e Brasil. Aqui, o cacau é cultivado principalmente no Pará, na Bahia e no Espírito Santo.

Atualmente, o cacau é um produto valorizado no comércio internacional, sendo consumido em bebidas, barras e como ingrediente de vários doces.

Fotografia. Vista superior de dois homens sentados em cadeiras, com os corpos voltados para uma carriola contendo muitas sementes. Ao redor, amontoados de uma única variedade de fruto, de aspecto longo, ovalado, com estrias verticais de coloração amarela e alaranjada.
Trabalhadores extraem sementes de frutos de cacau em fazenda de Itajuípe, Bahia.Fotografia de 2019.

Conquista ou descobrimento?

Durante muito tempo, a chegada dos europeus à América foi chamada de descobrimento. Os historiadores, porém, criticam o uso desse termo, pois ele considera apenas o ponto de vista do colonizador. A América não era um espaço vazio ou escondido da humanidade. Há milhares de anos o continente americano tem sido habitado por diversas sociedades. Assim, para os indígenas, a chegada dos europeus à América no século dezesseis representou mais precisamente uma invasão ou conquista.

A discussão sobre os termos descobrimento ou conquista é antiga. Em 1556, o rei da Espanha, Felipe segundo, proibiu o uso da palavra “conquista” e incentivou o emprego do termo “descobrimento”. O objetivo dessa troca de palavras era valorizar as realizações dos europeus e esconder a violência utilizada na conquista da América.

Após a chegada dos europeus ao continente americano, milhões de indígenas morreram ou tiveram seus modos de vida destruídos. Os primeiros cinquenta anos da conquista foram devastadores. Alguns estudiosos calculam que cêrca de 50% da população indígena tenha morrido nesse período.

A seguir, vamos estudar algumas faces da conquista da América e seus impactos nas sociedades indígenas (ameríndias) e europeias.

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Você já viu uma palavra ser trocada por outra para atenuar uma situação? Cite exemplos cotidianos em que uma palavra ou expressão é utilizada para disfarçar ou amenizar uma situação.

Fotografia. Destaque para uma escultura de um homem sobre o dorso de um cavalo, derrubada sobre o solo de uma praça, com uma placa de cimento desprendida do chão. Ao redor, algumas pessoas. Em segundo plano, uma vasta cidade com casas, edifícios e árvores.
Estátua do conquistador espanhol Sebastián de Belalcázar derrubada na cidade de Popayan, Colômbia, após protestos de grupos indígenas. Fotografia de 2020. Estátuas e monumentos de figuras vinculadas à colonização dos territórios do Novo Mundo e à escravidão dos povos originários são alvo de protestos no mundo contemporâneo.

Guerras e doenças

Os conquistadores europeus tinham equipamentos militares mais eficientes do que os dos povos americanos. Utilizavam cavalos, armas de aço (como espadas, lanças, punhais e escudos) e de fogo (como mosquete, arcabuz e canhão). Essas armas eram desconhecidas pelos indígenas, que utilizavam arcos, flechas envenenadas, pedras, lanças, machados e atiradeiras.

Litografia. Representação de uma batalha, com destaque para homens indígenas vestindo cocares de penas, portando escudos, arcos e flechas, e homens vestindo armaduras, portando espadas, sentados sobre o dorso de cavalos. Sobre o chão, há um homem indígena desmembrado, e ao fundo um homem indígena enforcado. Sobrevoa a área uma ave de penas douradas e pontas verdes.
Litografia colorida de ilustração do Códice Lienzo de tlaquiscála, século dezesseis. Na imagem, o espanhol Nuño de Guzmán e seus aliados atacam nativos em michoacán, região do atual México.

Segundo historiadores, as doenças trazidas pelos europeus se transformaram em epidemias que mataram mais do que as armas. Milhares de indígenas morreram por não terem resistência contra a varíola, o sarampo, o tifo e a coqueluche. Sem imunização contra essas doenças, uma simples gripe foi capaz de matar populações inteiras da América.

As epidemias provocavam também impacto psicológico, pois muitas vezes os indígenas imaginavam que essas doenças fossem castigos dos deuses e, assim, ficavam apáticos e aflitos diante dos invasores.

Gravura. Uma sequência de eventos em cinco repartições, representando um homem sentado sobre uma cadeira, enrolado em um tecido, com o corpo coberto por manchas vermelhas e bolhas. Na primeira repartição, há um homem vestindo uma túnica azul à sua frente. Nas demais, ele se encontra sozinho, deitado sobre uma superfície coberta.
Gravura do livro História geral das coisas da Nova Espanha, também conhecido como Códice Florentino, do século dezesseis, mostra nativos que contraíram varíola, transmitida por colonizadores espanhóis.

Imposição religiosa

Após chegar às terras do Novo Mundo, os conquistadores fincaram a cruz cristã na América. Esse ato simbolizava a posse da terra em nome dos reis europeus e marcava o início de uma dominação religiosa sobre os povos originários. Os espanhóis, por exemplo, construíram igrejas católicas sobre os antigos templos indígenas e obrigaram os nativos a associar suas antigas divindades ao deus cristão e aos personagens da Bíblia.

A conversão dos indígenas ao cristianismo foi chamada de ação evangelizadora. Essa tarefa incluía batizar os indígenas e ensinar-lhes o catolicismo (catequese). Para tornar esse esforço mais eficiente, a partir de 1550, os religiosos católicos reuniram os nativos da América em locais denominados aldeamentos ou missões.

Os principais aldeamentos foram fundados e dirigidos por jesuítas, que eram sacerdotes da Companhia de Jesus. Nos aldeamentos, além de aprender a doutrina católica, os costumes e a língua dos europeus, os nativos eram obrigados a trabalhar para a Coroa e para os colonos.

Vários grupos não aceitaram viver nos aldeamentos. Eles promoveram fugas individuais e coletivas e resistiram ao trabalho que os colonizadores e os missionários lhes impunham.

Fotografia. Em primeiro plano, vista de ruínas de uma construção com muros de pedras. Em segundo plano, uma catedral, com várias torres, tetos em formato de cúpula e crucifixos no ápice. Há uma entrada frontal, com uma porta em formato de arco, e uma fachada com detalhes entalhados.
Ao fundo, Catedral Metropolitana da Cidade do México, construída sobre as ruínas do Templo Maior (em primeiro plano), antigo templo asteca. Fotografia de 2019.

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Transcrição do áudio

Resistência indígena à dominação espanhola

[Apresentador]

Olá! Meu nome é Moacir. Estou aqui com a Maíra para falarmos sobre a dominação da América pelos espanhóis e a resistência indígena.

[Apresentadora]

Olá, pessoal!

[Apresentadora]

Quando os espanhóis chegaram ao continente americano, havia aqui culturas e sociedades estruturadas há séculos, como a dos astecas e a dos incas. Esses povos tinham suas tradições, sua religião e sua forma de ver o mundo. Eles eram, por exemplo, politeístas, ou seja, adoravam a vários deuses.

[Apresentador]

A dominação espanhola se deu, entre outros meios, pela violência física e pela dominação cultural. Ou seja, os europeus impuseram sua cultura aos nativos.

Uma das formas utilizadas pelos colonizadores foi a catequese. Por meio dela, os povos originários da América deveriam ser convertidos ao catolicismo, deixando de lado suas crenças.

Os conquistadores tentaram apagar, inclusive, símbolos dessa religiosidade, construindo igrejas católicas sobre os antigos templos indígenas.

[Apresentadora]

Isso mesmo! Não só suas crenças, mas seus hábitos, costumes, festas e celebrações deviam ser descartados.

[Apresentador]

Mas os povos indígenas não abandonaram sua cultura. Houve várias formas de resistência a essa dominação.

[Apresentadora]

Pois é. Uma das formas de resistência ocorreu por meio do que chamamos de “sincretismo religioso”. Ou seja, os indígenas combinaram elementos de suas religiosidades com o catolicismo. Isso possibilitou que eles continuassem praticando alguns ritos de suas crenças sem sofrer punições.

[Apresentador]

Como assim?

[Apresentadora]

Um ótimo exemplo é a festa do Dia dos Mortos no México. Essa celebração, hoje bastante popular, tem origem em rituais realizados por povos como os astecas e os maias, que cultuavam os mortos e celebravam a vida dos ancestrais.

[Apresentador]

Fale mais sobre isso.

[Apresentadora]

Anteriormente, a celebração de culto aos mortos acontecia na época da colheita, seguindo o calendário agrícola ameríndio. Após a colonização, ela passou a ocorrer nos dias de Todos os Santos e de Finados, datas comemoradas no calendário cristão nos dias 1º e 2 de novembro.  

[Apresentador]

Então quer dizer que, com a influência religiosa cristã, a data foi alterada, mas a tradição de celebrar os mortos continuou?

[Apresentadora]

Isso mesmo! E apesar da influência do catolicismo, essa celebração manteve muitos elementos da cultura ameríndia.

[Apresentador]

Puxa, que interessante!

[Apresentadora]

A celebração do Dia dos Mortos acontece em várias partes do México. É uma festividade muito alegre e enfeitada com diversos símbolos, entre eles, caveiras coloridas. Há oferendas de comida, bebidas, flores, incensos e velas aos ancestrais. Acredita-se que, nesses dias, eles visitam os vivos, sendo recebidos com festa. Essa celebração foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade e como uma das expressões culturais mais antigas e de maior força entre os grupos indígenas do México.

[Apresentador]

Que interessante!

E olha, houve resistência também por meio da língua. Por exemplo, apesar de o espanhol ter sido imposto como língua padrão, o quíchua, língua inca, sobrevive até hoje. No Peru, ela não só é falada por parte da população, como foi reconhecida como língua oficial pelo governo.

Ou seja, por meio da permanência da língua, os povos indígenas mantiveram vivas as suas culturas.

[Apresentadora]

Isso mesmo. Além dessa resistência cultural, houve resistência física. Alguns povos indígenas também guerrearam contra os espanhóis para resistir à dominação. Além disso, para evitar a imposição cultural e a exploração do trabalho a que eram submetidos, os indígenas também promoveram fugas individuais e coletivas dos aldeamentos.

[Apresentador]

Puxa! Eles realmente lutaram muito contra a dominação espanhola!

[Apresentadora]

Sim! A resistência aconteceu, como podemos ver, de muitas formas. A permanência cultural e a ressignificação de alguns símbolos foram maneiras de manter viva a história, os ritos, a língua, enfim… os diversos elementos que constituem a cultura ameríndia.

[Apresentador]

É importante lembrar, ainda, que a conquista e a colonização europeias foram processos violentos e com consequências que repercutem ainda hoje. Diferentes populações indígenas da América lutam no século XXI, por exemplo, pelo reconhecimento e posse de suas terras, pela garantia de seus direitos e pela manutenção da sua cultura.

[Apresentadora]

Isso mesmo! A luta segue viva até hoje!

E aqui terminamos o nosso podcast. Espero que tenham gostado!

Até a próxima!

[Apresentador]

Até a próxima!

Conflitos internos e escravidão

Havia rivalidades entre os povos indígenas da América, e os conquistadores europeus souberam tirar proveito desses conflitos. Incas e astecas, por exemplo, exploravam povos vizinhos, o que gerava ressentimento dessas populações. Os europeus se aproveitaram desses choques internos e estabeleceram alianças com alguns grupos indígenas.

Além disso, os europeus submeteram os nativos a fórmas de trabalho forçado como a escravidão e o repartimiento, que estudaremos no próximo capítulo. Populações inteiras foram retiradas à fôrça do lugar onde viviam e foram obrigadas a trabalhar para os conquistadores. Esses deslocamentos forçados provocaram mudanças na fórma de alimentação e no ritmo de trabalho dos povos indígenas, afetando suas estruturas produtivas e seus modos de viver.

Europa depois da conquista

A conquista da América aprofundou transformações que estavam ocorrendo na vida europeia desde o século quinze. O contato com terras e povos até então desconhecidos pelos europeus teve repercussão nas artes e nas ciências da Europa.

A burguesia comercial, formada por grandes comerciantes e banqueiros, obteve altos lucros com a conquista e a colonização da América, sobretudo por meio da exploração de riquezas minerais (ouro, prata) e agrícolas (cana-de-açúcar). A economia europeia, antes concentrada no Mar Mediterrâneo, deslocou-se para portos do Oceano Atlântico como Lisboa (em Portugal) e Sevilha (na Espanha), que mantinham comércio direto com as colônias americanas.

Os países que participaram da expansão marítima, nos séculos quinze e dezesseis, tornaram-se poderosos. Portugal e Espanha destacaram-se pelo pioneirismo. Posteriormente, sobressaíram a França, a Inglaterra e a Holanda. Disputando mercados, lucros e riquezas, os comerciantes desses países entraram num período de grande enriquecimento, concorrência e rivalidade.

Pintura. Uma cidade contornada por um caminho de água, contendo diversas embarcações. Uma estrada une as margens do rio, conectando os territórios. Nas margens do rio, há diversas pessoas circulando.
Vista de Sevilha, pintura de Alonso Sánchez Coello, 1576-1600. O artista mostrou a movimentação no Porto de Sevilha com navios voltando do continente americano.

PAINEL

Trocas alimentares entre América e Europa

Ilustração. Desenho de um mapa representando parcialmente América, Europa e África. Uma seta parte da Europa em direção à América, contendo as imagens de frutos como maçã, pêra, limão, laranja, banana, legumes e vegetais como cebola, alho, alface, e animais, como vaca, porco, galinha, cavalo e ovelha. Outra seta parte da América em direção à Europa, contendo as imagens de um peru, porquinho da Índia, frutos e raízes como abacate, abacaxi, abóbora, batata, mandioca, caju, feijão, goiaba, milho, pimenta e tomates.
Representação artística das trocas entre metrópoles e colônias.

A conquista e a exploração da América impulsionaram certas áreas da ciência e da tecnologia. Para as longas viagens marítimas, novos conhecimentos foram desenvolvidos. Caravelas, mapas, bússolas, astrolábios e outros equipamentos náuticos são resultado desse processo, como estudamos no capítulo 3. Além disso, também houve trocas culturais entre europeus e indígenas americanos. A seguir, confira alguns exemplos dessas trocas no campo da alimentação.

Animais

Plantas

Alguns animais e plantas originários da América levados para outros continentes pelos europeus

Peru, porquinho-da-índia.

Abacate, abacaxi, abóbora, amendoim, batata, batata-doce, baunilha, cacau, caju, feijão, goiaba, girassol, mandioca, milho, pimentas, tomate.

Alguns animais e plantas de outros continentes introduzidos na América pelos europeus

Carneiro, cavalo, galinha, ovelha, porco, vaca.

Alface, alho, banana, cebola, café, cana-de-açúcar, cevada, laranja, limão, maçã, pera, pêssego, repolho, trigo.

FONTE: NEVES, Eduardo G. In: SILVA, Aracy L. da; GRUPIONE, Luis Donisete B. (organizador). A temática indígena na escola. Brasília: MEC/Mari/Unesco, 1995. página 197.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.

  1. Os saberes e técnicas dos indígenas americanos incluíam o preparo da farinha de mandioca e do chocolate.
  2. A palavra “descobrimento” foi utilizada para valorizar o ponto de vista indígena sobre a chegada dos europeus à América.
  3. Durante a colonização da América, os indígenas foram submetidos a fórmas de exploração do trabalho como a escravidão e o repartimiento.
  4. Durante o processo de conquista, os espanhóis foram tolerantes em relação às religiões dos Tupi-guarani, incas e astecas.
  5. Durante a colonização da América, os contatos entre europeus e indígenas foram sempre violentos e, por isso, não ocorreram trocas culturais entre esses povos.
  1. Cite exemplos de fórmas de violência praticadas contra os nativos durante o processo de conquista da América.
  2. Comente algumas transformações que a conquista da América provocou:
    1. na vida dos povos nativos;
    2. na vida dos europeus.
  3. Em duplas, pesquisem o significado do termo genocídio e, em seguida, reflitam: na conquista da América, houve genocídio? Argumentem justificando suas respostas.

Interpretar texto e imagem

5. Bartolomeu de Las Casas (cêrca de 1474-1566) foi um religioso espanhol que participou das primeiras expedições para a América. Em 1502, mudou-se para a Ilha Hispaniola e, em 1510, tornou-se padre. Após presenciar a violência e a crueldade que marcaram a conquista, Las Casas assumiu a defesa dos povos indígenas, ficando conhecido como “apóstolo e protetor dos índios”.

No texto a seguir, Las Casas conta a história do cacique rártuei, que vivia fugindo com seu povo das crueldades praticadas pelos espanhóis. Por fim, ele acabou sendo preso e queimado vivo. Leia o diálogo que o cacique teve com um religioso espanhol pouco antes de morrer.

“E como estava atado ao tronco, um religioso reticências lhe disse algumas coisas de Deus e de nossa Fé, que lhe pudessem ser úteis, no pequeno espaço de tempo que os carrascos lhe davam. Se ele quisesse crer no que lhe dizia, iria para o céu reticências e se não acreditasse iria para o inferno reticências. Esse cacique, após ter pensado algum tempo, perguntou ao religioso se os espanhóis iam para o céu; o religioso respondeu que sim desde que fossem bons. O cacique disse reticências, sem mais pensar, que não queria absolutamente ir para o céu; queria ir para o inferno a fim de não se encontrar reticências [com os espanhóis].”

LAS CASAS, Frei Bartolomé de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias. Porto Alegre: Ele e Pê ême, 2001. página 44.

  1. Quem é o autor do documento citado? Explique por que ele ficou conhecido como “apóstolo e protetor dos índios”.
  2. Antes de morrer, o cacique Harthuey se converteu ao cristianismo?
  3. Qual foi o argumento utilizado pelo cacique para não querer “ir para o céu”?
  4. A morte e o que acontece depois dela sempre foram questões pensadas por diferentes povos e civilizações, como vimos no exemplo do diálogo entre Las Casas e Harthuey. Para analisar a importância disso no tempo presente e colocar-se como sujeito em perspectiva histórica, faça o que se pede.
    • Escolha uma pessoa mais velha, de sua família ou entre seus amigos, para realizar uma entrevista cujo tema será a morte de entes queridos.
    • Elabore um roteiro de perguntas. As primeiras perguntas devem identificar o entrevistado: nome, idade, lugar onde mora. As demais questões devem se referir à pessoa falecida: nome, idade, data e causa da morte, atividade da pessoa em vida, relação de parentesco ou amizade, sentimentos envolvidos, como essa pessoa é lembrada hoje. Essa fase da pesquisa deve ser gravada, com o consentimento do entrevistado, que precisa ser avisado sobre essa condição desde o primeiro contato. Ao longo da entrevista, faça anotações sobre as reações do entrevistado diante das perguntas.
    • Realizadas a entrevista e as anotações, escreva um relatório com as suas impressões de pesquisador. Primeiramente, narre a história que você ouviu com suas próprias palavras. Em seguida, conte como você se sentiu ao entrevistar, como foi a reação do entrevistado, se teve dificuldade para escolher o entrevistado e o que mais chamou sua atenção ao longo do processo de entrevista, tomada de notas e narrativa da história que você ouviu.
    • Para expressar a importância da memória sobre as pessoas que morreram, traduza o resultado de sua pesquisa em uma ação em formato de homenagem. Pode ser um desenho, um verso ou uma postagem em uma rede social, por exemplo, destinado à pessoa escolhida ou ao familiar falecido.

integrar com arte

6. Observe a obra e faça o que se pede.

Mural. Pintura representando uma multidão de pessoas aglomeradas. Estão cercados por soldados sobre cavalos, portando lanças e espadas. Ao fundo, nota-se indígenas exercendo atividades, como carregamento de troncos, transporte de produtos e escavação de terra. Ao fundo, alguns deles estão enforcados sob árvores. Há homens sobre cavalos segurando chicotes direcionados aos homens indígenas. Em segundo plano, no canto superior esquerdo, há uma cruz de madeira e, ao seu lado, um homem com trajes eclesiásticos segurando um livro aberto. Ao redor da cruz, dois personagens indígenas, um, em pé,  segurando um crucifixo e, o outro, ajoelhado, com as mãos ao chão. À frente da cruz, um homem empunhando uma espada. Em primeiro plano, no canto inferior esquerdo, um homem indígena ajoelhado, sendo segurado por dois homens. Um deles, vestindo armadura metálica, segura um objeto perfurante em direção ao rosto do indígena. No canto inferior direito há um conjunto de diferentes animais, como cavalos, porcos, ovelhas, cabras e um burro, que tem as orelhas e o olhar direcionados para baixo. Em primeiro plano, no centro da imagem, dois homens não indígenas um de frente para o outro, posicionados como em uma negociação.
Detalhe do mural Chegada de Hernán Cortez a Vera Cruz, de Diego Rivera, feito em 1951 nas paredes do Palácio Nacional, na Cidade do México, México, atual séde do governo mexicano.
  1. Essa obra exalta ou critica a conquista europeia? Explique.
  2. Associe esse mural de Rivera com a frase do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973): “A espada, a cruz e a fome foram dizimando a família indígena”. Quais são as diferenças e semelhanças entre essas expressões artísticas?
  3. O que chamou mais sua atenção nesse mural? Por quê?