UNIDADE 3 COLONIZAÇÃO DO BRASIL

CAPÍTULO 9 AÇÚCAR, ENGENHO E GUERRAS

A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil há quase 500 anos. Hoje, nosso país é o maior produtor do mundo. Desde os tempos da colonização até os dias atuais, a produção açucareira passou por transformações modernizadoras.

A colheita, que era manual, tornou-se mecanizada. A cana, da qual se extraía açúcar e se obtinha aguardente, agora também serve para produzir etanol (álcool), que é um biocombustível.

No período colonial, a principal mão de obra utilizada na produção canavieira era a escrava. Atualmente, os trabalhadores são livres e recebem remuneração.

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para começar

Que alimentos você consome que contêm açúcar? O consumo exagerado de açúcar pode causar problemas à saúde? Quais? Discuta essas questões com os colegas.

Pintura. Representação de um engenho com um telhado triangular e vigas verticais pelo perímetro, em uma paisagem com densa vegetação, e algumas construções ao redor. Há pessoas nas áreas circundantes, executando diferentes tarefas. Algumas estão próximas à carros de bois, outras carregam caixas pelo terreno e cestos sobre a cabeça. À direita, no interior de uma construção, uma moenda e pessoas em seu entorno. Em segundo plano, um rio por entre a mata.
Engenho, pintura de frãns pôst, século dezessete. No quadro, notamos africanos escravizados trabalhando na produção de açúcar.
Fotografia. Destaque para um homem visto de costas, ao lado de uma carroça guiada por um boi, em um campo gramado com árvores ao fundo. A carroça possui cana-de-açúcar.
Trabalhador rural conduzindo carro de boi carregado de cana-de-açúcar em Silveira Martins, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2021.
Fotografia. Vista superior de uma plantação de cana-de-açúcar, em que um trator porta carroças, e ao seu lado, um trator que está no meio das plantas, com uma coluna partindo da sua traseira em direção à carroça.
Colheita mecanizada de cana-de-açúcar em Mirassol, São Paulo. Fotografia de 2021.

Açúcar e colonização

Durante a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, foi instalado o primeiro engenho de cana-de-açúcar do Brasil na vila de São Vicente (1532). Depois disso, muitos outros engenhos foram construídos no litoral brasileiro. A produção açucareira superou a extração de pau-brasil, que continuou a ser explorado intensamente até o século dezessete.

Conheça alguns motivos que contribuíram para o desenvolvimento da produção de açúcar no Nordeste:

  • condições naturais favoráveis ao cultivo de cana, como clima quente, quantidade adequada de chuvas e solo de massapêglossário ;
  • experiência portuguesa bem-sucedida com o cultivo de cana na Ilha da Madeira e no Arquipélago dos Açores;
  • perspectiva de obter lucros com a produção de açúcar, que era considerado um artigo de luxo no mercado europeu.

Os portugueses dominavam a produção de açúcar no Brasil e os holandeses controlavam a distribuição comercial (transporte, refino e venda na Europa). Distribuir o açúcar dava mais lucro, portanto o negócio era mais vantajoso para os holandeses.

Gravura em preto e branco. Destaque para navios e embarcações sobre as águas. Em segundo plano, uma passarela se estendendo por cima da água.
Porto de Recife, Pernambuco, em gravura de carél alárd, 1698. A maior parte da produção açucareira do Brasil era escoada por esse porto.

Engenhos

Durante o período colonial, a maioria das pessoas vivia no campo e trabalhava em propriedades rurais dedicadas à agricultura e à pecuária. Entre essas propriedades, destacavam-se os engenhos, que eram importantes núcleos econômicos, sociais, administrativos e culturais.

Os engenhos eram grandes propriedades de terra onde se plantava cana e se produziam açúcar e aguardente. Vários engenhos também tinham áreas para a plantação de alimentos, a criação de animais e a extração de madeira e de outros recursos naturais. Tudo isso dava lucro, poder e prestígio a seus donos, que eram chamados de senhores de engenho. A autoridade desses senhores geralmente ia além de suas propriedades, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos. De modo geral, a mulher do senhor de engenho cuidava da educação dos filhos e das tarefas domésticas.

Nos engenhos existiam diversas instalações, entre as quais, destacamos:

  1. casa-grande – casarão onde viviam o senhor de engenho e sua família, além dos empregados de confiança, que cuidavam das tarefas da casa e da segurança. O engenho era administrado a partir da casa-grande;
  2. senzala – habitação construída para os escravizados. Era um alojamento bem rústico e precário;
  3. capela – espaço onde um padre realizava as cerimônias religiosas. Servia também como local de reunião da comunidade aos domingos e para eventos como batizados, casamentos e funerais;
  4. casa do engenho – local formado pela moenda, onde se moía a cana-de-açúcar e se extraía seu caldo, e pelas fornalhas, que serviam para ferver e purificar o caldo em tachos de cobre, transformando-o em melaço;
  5. casa de purgar – local onde o melaço era resfriado, condensado (endurecido) e branqueado;
  6. galpões – armazéns onde os blocos de açúcar eram quebrados e moídos.
Ilustração. Destaque para várias construções em um terreno gramado. Ao fundo e à esquerda, identificada pelo número '1', uma casa com duas torres laterais, paredes brancas, cômodos acessórios e janelas distribuídas. Em meio ao terreno, identificada pelo número '2', uma construção de paredes amarelas, formato em 'L', com telhado triangular e portas retangulares distribuídas de forma homogênea. Em segundo plano, à direita, identificada pelo número '3', uma igreja com uma torre lateral e uma cruz no topo, e uma entrada central retangular. À frente, identificada com os números '4' (à esquerda) e '5' e '6' (à direita) uma construção em 'L', com telhado triangular, vigas verticais, contendo em seu interior uma moenda, bacias, tanques e caixas contendo produtos. Ao redor, homens, vestindo faixas de tecido ao redor da cintura, e mulheres, trajando vestidos simples, desempenham diferentes atividades, como carregar caules, baldes e cestos. Na extremidade da construção, em contato com a água de um rio lateral, uma roda de água circular.
Representação artística de instalações de um engenho do século dezessete.

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fórmas de trabalho

No Brasil colonial, havia trabalhadores livres e escravizados. Os livres podiam trabalhar como barqueiros, vaqueiros, pescadores, padres, funcionários do rei, médicos, advogados, engenheiros etcétera Os escravizados, por sua vez, eram obrigados a realizar tarefas exaustivas e não remuneradas.

Nos engenhos, por exemplo, podiam ser livres os feitores, os mestres de açúcar e os purgadores. Já os escravizados, que eram a maioria, trabalhavam nos canaviais, nas moendas, nas fornalhas etcétera

No início da colonização, durante o século dezesseis, a maioria dos escravizados que trabalhavam nos engenhos era indígena. Mas, no século seguinte, os africanos escravizados tornaram-se mais numerosos. Isso se explica por alguns motivos:

  • a diminuição da população indígena, por causa das epidemias e das guerras de extermínio;
  • a decisão da Coroa portuguesa de ampliar o comércio de africanos escravizados, pois esse negócio era muito lucrativo para os traficantes de escravizados e para a Coroa, que cobrava tributos sobre a atividade;
  • a determinação da Coroa portuguesa, a partir de 1570, de que somente os indígenas capturados em guerra justaglossário seriam escravizados.
Pintura. Indígenas, a maioria mulheres, desnudos sobre um caminho de terra cercado por densa vegetação. Entre eles, um homem em pé, visto de costas, vestindo uma camisa e calça brancas, um chapéu preto na cabeça com uma pena vermelha, portando uma espada atada à cintura. Algumas mulheres indígenas seguram bebês em seus colos. Ao fundo, uma cabana de pedaços de madeira e teto com folhas secas.
Índios atravessando um riacho, pintura de Agostino Brunias, século dezoito. A tela mostra a mão de obra de indígenas escravizados.

Trabalho escravo africano

A partir do século dezessete, a principal mão de obra utilizada na produção de açúcar era de africanos escravizados. Nessa época, o comércio de africanos escravizados chegou a dar tanto lucro para a Coroa portuguesa quanto o próprio açúcar.

Nos engenhos, os escravizados eram obrigados a trabalhar cêrca de 12 a 14 horas por dia. Eles acordavam com um toque de sino, lavavam-se e rezavam rapidamente. Depois, recebiam as ordens do dia.

Sempre havia muito trabalho a fazer: limpar o terreno, coletar lenha, pescar, plantar, colhêr, transportar, cuidar dos canaviais e de tudo o que havia na propriedade, como estradas, construções e animais.

Cada escravizado tinha que cultivar uma área determinada. No tempo da colheita, tinham de cortar certa quantidade de cana-de-açúcar e amarrar tudo em feixes. Os homens trabalhavam, sobretudo, nas tarefas ligadas à cana-de-açúcar. As mulheres, em geral, cuidavam do roçado de subsistênciaglossário , dos animais, dos afazeres da casa-grande e cumpriam, até mesmo, o papel de amas de leiteglossário .

No começo do século dezoito, o jesuíta Antonil escreveu: “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho reticências (ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. terceira edição Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1982. página 89).

Gravura. Quatro homens em um cômodo, dois em pé, segurando as extremidades de uma mesma haste horizontal de madeira, em sentidos contrários, e dois sentados, um a frente do outro, interpostos por moendas contendo caules de cana-de-açúcar. O cômodo possui chão de madeira, uma janela na parede à esquerda e uma porta à direita.
Pequena moenda de cana portátil, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1834-1839. A obra representa escravizados trabalhando em pequena moenda de açúcar movida a tração humana.

Mercado interno colonial

As grandes propriedades de terras (latifúndios) foram uma das bases da colonização portuguesa até o início da exploração de metais preciosos, no século dezoito. Os latifúndios concentravam-se nas mãos de poucas pessoas.

A maioria dos latifúndios desenvolvia atividades agrícolas para exportação. Em geral, essas atividades utilizavam trabalho escravo e visavam ao cultivo de um único produto (monocultura), como no caso da cana-de-açúcar. As grandes propriedades exportadoras, monocultoras e escravistas receberam o nome inglês plantation.

Além das plantations, a economia colonial abrangia pequenos agricultores e pecuaristas, comerciantes varejistas e atacadistas e artesãos. Produziam-se fumo, algodão, aguardente, couro, charque, arroz, milho, cacau, feijão e drogas do sertão (guaraná, cravo, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais). Havia, portanto, uma economia diversificada, o que confirma a existência e a importância do mercado interno colonial.

No século dezessete, destaca-se, por exemplo, a importância da criação de gado. Os bois forneciam carne, couro e serviam de meio de transporte e fórça para as moendas. Também existia a criação de outros animais, como aves e porcos.

Economia colonial (século dezessete)

Mapa. Economia colonial (século dezessete). Destaque para o território brasileiro em seus limites atuais. Em verde, 'Pau-brasil, compreendendo a costa e parte do interior das porções sudeste e nordeste do território. Em laranja, 'Cana-de-açúcar', compreendendo pequenas áreas da costa sudeste, leste e nordeste do território. Em amarelo, 'Pecuária', compreendendo áreas dispersas nas porções nordeste e sul do território, e pequenas áreas na porção sudeste. Em roxo, 'Mineração', compreendendo pequenas áreas na porção sudeste do território. Em rosa, 'Drogas do sertão', compreendendo grandes áreas na porção norte e noroeste do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 560 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 24.

Entre os séculos dezessete e dezoito, diversas regiões se especializaram na pecuária bovina, como o sertão da Bahia, o sul de Minas Gerais e as planícies do Rio Grande do Sul. Assim, a colonização avançava para o interior do território.

Economia colonial (século dezoito)

Mapa. Economia colonial (século dezoito). Destaque para o território brasileiro em seus limites atuais. Em verde, 'Pau-brasil, compreendendo a costa e parte do interior das porções sudeste e nordeste do território. Em laranja, 'Cana-de-açúcar', compreendendo pequenas áreas da costa sudeste, leste e nordeste do território. Em amarelo, 'Pecuária', compreendendo territórios diversos nas porções nordeste, sudeste, centro-oeste, sul e extremo norte do território. Em roxo, 'Mineração', compreendendo áreas no interior da porção sudeste, centro-oeste e nordeste do território. Em rosa, 'Drogas do sertão', compreendendo grandes áreas na porção norte e noroeste do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 560 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 28.
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para pensar

A propriedade da terra ainda é um privilégio de poucos no Brasil? Elabore argumentos para debater esse tema com os colegas.

Disputas colonialistas

No século dezessete, os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil. Essas invasões ocorreram durante a União Ibérica e a independência da Holanda. Elas estão relacionadas com disputas de poder entre Espanha, Portugal e Holanda. Esse é o tema que estudaremos a seguir.

União Ibérica

No final do século dezesseis, a monarquia portuguesa enfrentou um problema de sucessão dinástica: o rei de Portugal, dom Henrique, morreu sem deixar herdeiros diretos. Terminava ali, em 1580, a dinastia de Avis. Por isso, houve disputas entre os pretendentes ao trono português.

O vencedor dessas disputas foi Filipesegundo, rei da Espanha e parente da família real portuguesa. Seus exércitos invadiram e conquistaram Portugal. Assim, a partir de 1580, Filipe tornou-se rei de Espanha e Portugal, inaugurando o período conhecido como União Ibérica, que se refere à união política dos dois países localizados na Península Ibérica.

A União Ibérica durou 60 anos (1580-1640). Durante esse período, Portugal manteve certa autonomia na gestão direta de seu povo e de suas colônias. A administração colonial do Brasil praticamente não sofreu alterações: os funcionários do governo lusitano foram mantidos e o idioma oficial continuou sendo o português.

Domínios ibéricos (1580)

Mapa. Domínios ibéricos (1580). Planisfério com indicação dos continentes banhados por oceanos. Em verde, 'Territórios sob domínio de Filipe II', compreendendo a América do Sul, a América Central, o sul da América do Norte, Portugal, Espanha, Países Baixos, as cidades Milão, Veneza e Nápoles, as ilhas Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde, Ascensão e Santa Helena; territórios no sudoeste, sudeste e oeste do continente africano, incluindo a feitoria São Jorge da Mina; pequenas áreas no Oriente Médio; áreas em partes da Índia, incluindo as cidades Diu e Goa, e ilhas do Sudeste Asiático. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 2.330 quilômetros.
Fontes: Quínder, Rérmãn; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982. página 258; ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 155.

Independência da Holanda

A União Ibérica ocorreu na mesma época em que os holandeses lutavam para se libertar do domínio espanhol. Depois de muitas lutas, em 1581, a Holanda proclamou sua independência em relação à Espanha, que reagiu declarando guerra aos holandeses.

O conflito entre holandeses e espanhóis continuou até a segunda metade do século dezessete, afetando o comércio entre Holanda e Portugal. Lembre-se de que Portugal estava sob o domínio do rei espanhol Filipe segundo desde 1580.

Como reação à independência da Holanda, Filipe segundo proibiu os comerciantes holandeses de atuarem nas áreas dominadas pela Espanha, entre elas, o Brasil. Essa proibição ficou conhecida como embargo espanhol (1598). Isso trouxe prejuízos para os holandeses, pois não puderam mais participar do comércio de açúcar, pau-brasil e couros vindos do Brasil.

Gravura em preto e branco. Um homem visto de frente, vestindo uma armadura e uma coroa ornamentada sobre a sua cabeça.
Gravura representando o rei Filipe segundo(1527-1598), século dezessete. O monarca espanhol governou no início da União Ibérica e enfrentou as revoltas holandesas que culminaram na independência do país em 1581.
Pintura. Uma mulher sobre um cômodo de paredes verdes, com um quadro no canto superior direito e um armário de madeira, ao fundo, ambos vistos parcialmente. Ela está de perfil, trajando um longo vestido e um gorro sobre sua cabeça, ambos de cor acizentada, sentada em uma cadeira, ao redor de uma mesa redonda contendo uma taboa com xícaras, bule e uma pequena tigela.
Jovem holandesa tomando café da manhã, pintura de jãn êtiêne liotárd, cêrca de 1756. Até o século dezesseis, os holandeses foram responsáveis pelo refino, pelo transporte e pela distribuição do açúcar para toda a Europa. Com o embargo espanhol, tiveram que buscar dominar as regiões produtoras de cana-de-açúcar.

Reação holandesa

Revoltados com as proibições espanholas, os holandeses saquearam navios ibéricos, contrabandearam produtos e fundaram companhias de comércio. Essas ações provocaram conflitos com a Espanha.

Em 1602, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Orientais, com o objetivo de fazer negócios com o Oriente, sobretudo com a Índia. Em 1621, fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, com o objetivo de ocupar, com o apoio do governo holandês, a mais próspera região açucareira do mundo: o Nordeste brasileiro. Além disso, entre 1623 e 1626, os holandeses capturaram cêrca de cem navios carregados com milhares de caixas de açúcar produzido na América portuguesa. No período, isso representou um terço de todo o açúcar comercializado pelo Brasil.

A primeira tentativa holandesa de ocupar o Brasil ocorreu em 1624, com a invasão de Salvador, capital da colônia. Apesar de terem conquistado a cidade, os holandeses não conseguiram manter seu domínio. Diante da invasão, os homens-bons organizaram uma resistência militar, com o apoio de povos Tupi. Essa resistência foi fortalecida por uma grande frota naval enviada pelos espanhóis, que contava com cêrca de 52 navios e 12 mil homens. Assim, os holandeses foram derrotados em 1625.

A derrota holandesa prejudicou os sócios da Companhia das Índias Ocidentais. Porém, o fracasso financeiro foi compensado em 1628, quando navios holandeses assaltaram uma frota espanhola carregada de ouro e prata. Com esse dinheiro, a companhia organizou outro ataque.

Com muitos navios, soldados e canhões, os holandeses atacaram Pernambuco em fevereiro de 1630. Sem condições de resistir, o governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, retirou-se para o interior e fundou o Arraial do Bom Jesus. Ali foram organizadas guerrilhas para lutar contra os holandeses. Porém, após uma série de derrotas, Albuquerque desistiu de comandar a resistência luso-brasileira. Então, começou o domínio holandês em Pernambuco.

Gravura em sépia. Uma cidade vista de cima. Ao fundo, porções extensas de terra contendo árvores, rios, estradas e assentamentos, cercadas por águas. Em primeiro plano, diversos navios e embarcações se aproximam em direção à costa.
A cidade de Olinda de Pernambuco conquistada pelos holandeses em fevereiro de 1630, gravura holandesa de autoria desconhecida, século dezessete. A obra mostra o ataque dos holandeses ao Forte de São Francisco da Barra. Observe a desproporção de fôrças que favoreceu os holandeses na invasão de Pernambuco.

Holandeses em Pernambuco

A ocupação holandesa em Pernambuco pode ser dividida em três momentos principais: a guerra de conquista (1630-1637); o governo de Maurício de nassáu (1637-1644); e a restauração pernambucana (1645-1654).

A guerra de conquista

Durante a guerra, os holandeses incendiaram áreas de lavoura de cana para obrigar os senhores de engenho a fazer acordos e manter a produção; caso contrário, os senhores de engenho corriam o risco de perder suas propriedades. Essa estratégia abriu caminho para as conquistas holandesas em direção à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e a Alagoas.

Em cinco anos de luta, os holandeses não conseguiram dominar totalmente a região dos engenhos de açúcar. A guerrilha luso-brasileira estava dando bons resultados, até que Domingos Fernandes Calabar (profundo conhecedor da região) passou a ajudar os holandeses, fornecendo-lhes informações.

Em 1635, após uma série de derrotas, Matias de Albuquerque desistiu da luta. Fugiu para Alagoas, conquistou a cidade de Porto Calvo, que era controlada por holandeses, e ali prendeu Calabar, que foi condenado por traição e enforcado.

A história tradicional dizia que Calabar era um traidor, mas esse julgamento provocou debates. Afinal, que Brasil Calabar traiu? O Brasil que antes era dominado pela Coroa portuguesa e que, naquele momento, estava sob o domínio espanhol? Além disso, vários outros luso-brasileiros (senhores de engenho, lavradores) também contribuíram com os holandeses.

Aliança com os tapuias

Para ocupar Pernambuco e as capitanias próximas, os holandeses contaram com suas fôrças militares e alianças estabelecidas com os indígenas. Essas alianças foram feitas principalmente com os tapuias (termo que designava os povos que não falavam a língua Tupi e, geralmente, habitavam o interior).

Nas disputas entre portugueses e holandeses, os indígenas procuraram defender seus próprios interesses e não se submeteram facilmente à vontade dos europeus.

Pintura. Em destaque, um grupo de homens indígenas desnudos, alguns com um adereço de penas vermelhas e azuis sobre a cabeça, segurando lanças nas mãos, em posição de dança. À direita, duas mulheres indígenas observam a cena. Elas estão com uma das mãos sobre a boca. Em segundo plano, árvores e plantas.
Dança Tarairiú, pintura de âubert équirráut, 1640-1644. Dança guerreira dos indígenas da etnia Tarairiú, que eram considerados tapuias.
Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica. Filme.

dica filme

Calabar (Brasil). Direção de Hermano Figueiredo, 2007. 52 minutos

Documentário feito com base em depoimentos de estudiosos e com o uso de imagens artísticas e da arquitetura. Discute as diferentes visões sobre o personagem que dá título ao filme.

Governo de nassáu

A guerra prejudicou a produção de açúcar e o contrôle sobre os escravizados. Nesse período, o Quilombo dos Palmares se fortaleceu com as fugas de escravizados dos engenhos de Pernambuco.

Com o fim da guerra de conquista, a Companhia das Índias Ocidentais passou a administrar a região. Para isso, nomeou o conde João Maurício de nassáu zíguen(1604-1679) governador do Brasil holandês. nassáu chegou a Pernambuco em 1637.

Gravura. Um homem de cabelos castanhos, médios e cacheados, vestindo uma armadura metálica, sentado sobre uma superfície coberta em tecido rosa. Em segundo plano, um capacete metálico visto parcialmente, com abertura frontal e plumas coloridas em cima.
Maurício de nassáu, gravura de têodór matãnreproduzida em obra de Gaspar Barléu, publicada em 1647.

Durante seu governo, a Companhia das Índias Ocidentais emprestou dinheiro aos senhores de engenho para que pudessem recuperar os canaviais, comprar escravizados e consertar moendas e outros equipamentos da produção açucareira.

O calvinismo tornou-se a religião oficial de Pernambuco, mas o governo tolerou a prática do catolicismo e do judaísmo. O principal objetivo dos holandeses era fazer negócios, e não expandir sua fé calvinista.

A produção artística foi estimulada e a cidade de Recife recebeu grandes melhorias com a construção de novas casas, pontes e obras sanitárias. Artistas e estudiosos europeus viveram em Recife a convite de nassáu. Entre os pintores, podemos citar frãns pôst (1612-1680) e âubert équirráut (1610-1665). Entre os estudiosos, destacaram-se gueórgi marquigrêive (1610-1644), que pesquisou a flora e a fauna do Brasil, e Guilherme Piso (1611-1678), que pesquisou doenças e plantas medicinais usadas por quem já vivia na região, como indígenas e portugueses.

Pintura. Uma cidade contendo uma faixa de terra com casas e construções, cercada de densa vegetação, e pessoas por todo o território. À direita, uma longa faixa de água banhando a costa do local. Ao fundo, outra porção de terra com construções.
Vista da cidade Maurícia e de Recife, pintura de frãns pôst, 1657. Em 1644, foi inaugurada uma ponte de madeira para ligar as duas regiões, onde atualmente fica a Ponte Maurício de nassáu.

Saída de nassáu

Ao final do governo de nassáu, os luso-brasileiros foram recuperando alguns de seus domínios. Ao mesmo tempo, nassáu recebeu ordens da Companhia das Índias Ocidentais para cobrar com rigor as dívidas dos senhores de engenho. A tolerância religiosa diminuiu e o catolicismo foi proibido. Discordando da nova postura da companhia, nassáu deixou Pernambuco em 1644.

Após a saída de nassáu, a administração holandesa ficou mais severa. Para ampliar seus lucros, a Companhia das Índias Ocidentais pressionou os senhores de engenho a aumentar a produção de açúcar, pagar mais impostos e quitar dívidas atrasadas. Os holandeses ameaçavam confiscar as terras dos senhores de engenho que não cumprissem essas exigências.

Insurreição Pernambucana

Em 1645, grupos de luso-brasileiros reagiram às novas medidas do governo holandês e iniciaram uma série de lutas, que foi chamada de Insurreição Pernambucana. Essas lutas reuniram diferentes setores da sociedade colonial, como senhores de engenho, indígenas e africanos escravizados.

Foi nesse período que ocorreram vários conflitos. Entre eles, podemos destacar as duas batalhas dos Guararapes (em 1648 e 1649), nas quais os holandeses foram derrotados. Após diversas outras derrotas, os holandeses se renderam em 1654. Essa rendição foi oficializada por meio de acordos entre os governos de Portugal e da Holanda. Pelo Acordo da Paz de Haia (1661), Portugal pagou uma elevada indenização em troca do Nordeste brasileiro e de possessões na África. Na época, essa indenização equivalia ao preço de 63 toneladas de ouro.

Pintura. Representação de um conflito entre dois exércitos. À esquerda, homens bradando lanças, espadas e armas de fogo, e à direita, homens armados e portando hastes com bandeiras contendo três listras horizontais: vermelho, branco e azul, de cima para baixo, nesta ordem. Muitos dos soldados estão sobre o dorso de cavalos. No canto superior esquerdo, entre as nuvens, uma mulher vestindo um manto e uma túnica, segurando uma criança de colo em seus braços. No canto inferior esquerdo, alegoria de uma criança apontando para textos ao redor de uma moldura de lados arredondados.
Batalha dos Guararapes, pintura de autoria desconhecida, 1758.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Angolano relembra domínio brasileiro

Disponível em: https://oeds.link/nhrg2k. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

Entrevista com um pesquisador angolano a respeito do domínio exercido pelo Brasil sobre Angola entre 1648 e 1740, após o envio de uma armada financiada por comerciantes brasileiros para reconquistar a região, que na época estava sob o domínio dos holandeses.

Indígenas e mulheres nas batalhas

Entre os nativos que lutaram contra os holandeses estava o indígena Felipe Camarão. Ele comandou parte do exército na Primeira Batalha dos Guararapes, recebendo o título de capitão-mor de todos os indígenas do Brasil. Sua esposa, Clara Felipa Camarão, também era indígena e participou dos combates.

Pintura. Um homem em pé, de cabelos castanhos, longos e lisos, vestindo um casaco azul escuro, calça branca, um crucifixo sobre seu peito, e apoiando suas mãos sobre a base de uma espada.
Felipe Camarão, pintura de autoria desconhecida, século dezessete.

Em 1646, durante os combates, os holandeses sofreram com a constante falta de alimentos. Tentaram, então, encontrar comida atacando pequenos povoados, como Tejucupapo. Os homens e as mulheres do povoado lutaram para impedir os ataques holandeses.

Na atualidade, em festas em Recife e Tejucupapo (no município de Goiana), atrizes encenam um espetáculo para homenagear as mulheres que lutaram naquela ocasião.

Fotografia. Um conjunto de mulheres em pé sobre um campo gramado, próximas umas às outras, cada uma delas utilizando um vestido longo com cores diferentes, apoiando objetos sobre suas cabeças, como cestas, bacias e tigelas. Ao fundo, árvores e plantas.
Batalha das heroínas de Tejucupapo, espetáculo teatral encenado em Goiana, Pernambuco. Fotografia de 2019.

PAINEL

Batalha dos Guararapes

O artista brasileiro Vítor Meirelles (1832-1903) produziu obras representando acontecimentos da história do Brasil. Entre elas, destaca-se a pintura Batalha dos Guararapes, concluída em 1879. A obra foi encomendada pelo governo imperial para exaltar a vitória dos luso-brasileiros sobre os holandeses nos Montes Guararapes. Para criá-la, o artista visitou o local das batalhas e pesquisou modelos de armas e roupas da época. Na pintura, os holandeses podem ser identificados por seus capacetes de metal, e os luso-brasileiros, por seus chapéus com penas. Identifique, a seguir, alguns personagens dessa obra.

Pintura. Uma cena de batalha, com vários homens amontoados, bradando espadas, lanças e escudos. Indicado pelo número 1, em destaque, um homem sobre o dorso de um cavalo, vestindo uma camisa amarela, um chapéu azul com penas, segurando uma espada. O cavalo se apoia apenas sobre as patas traseiras, e seu corpo se inclina para cima. Indicado pelo número 2, um homem com o corpo estatelado no chão, caindo de um cavalo de pelagem branca, que também está caído sobre o solo. Ao redor deles, um grupo de homens portando lanças e usando capacetes. Indicado pelo número 3, no canto direito, um homem de cabelos castanhos e lisos, vestindo um chapéu com penas coloridas sobre sua cabeça e portando uma espada. Ao seu lado, um grupo de homens, afastados da batalha ao centro. Eles possuem escudos e lanças nas mãos. Indicado pelo número 4, um homem em pé, vestindo um chapéu com penas sobre a cabeça, portando um escudo redondo em uma das mãos e uma espada fina na outra, em posição inclinada para frente. Ao fundo, um campo aberto e vegetação.
Batalha dos Guararapes, pintura de Vítor Meirelles, 1875-1879.
  1. André Vidal de Negreiros aparece empinando seu cavalo e sua espada. Filho de senhor de engenho, o luso-brasileiro Negreiros ficou famoso por participar de diversas batalhas contra os holandeses.
  2. Pedro quivír, uma das lideranças holandesas, foi retratado em clara desvantagem, caindo de seu cavalo branco, atirado no chão.
  3. Felipe Camarão, cujos olhos estão saltados e o rosto enfurecido, ergue sua espada. Nascido no Rio Grande do Norte, Camarão era um indígena Potiguar que estudou com os jesuítas e tornou-se uma das principais lideranças indígenas do Nordeste. Ele lutou em muitas batalhas importantes contra os holandeses. Porém, morreu em 1648, antes da última vitória portuguesa. É importante lembrar que muitos indígenas, inclusive os Potiguar, aliaram-se aos holandeses.
  4. Henrique Dias levanta o escudo e a espada, inclinando seu corpo para a frente, em posição de avanço. Ele comandou um exército de negros, e sua participação foi decisiva na expulsão dos holandeses. Depois da guerra, viajou a Portugal, onde pediu a libertação dos negros que lutaram ao seu lado. Seu pedido foi atendido.

OUTRAS HISTÓRIAS

Legados do Brasil holandês

A seguir, conheça alguns patrimônios históricos que abrigam tesouros arqueológicos relacionados ao Brasil holandês.

O Parque Histórico Nacional dos Guararapes, no município de Jaboatão dos Guararapes, ocupa uma área onde aconteceram lutas contra os invasores holandeses. Em 1970, foi encontrado ali um cemitério com esqueletos de soldados luso-brasileiros mortos nas batalhas dos Guararapes. Atualmente são realizadas no parque manifestações culturais, como a Festa da Pitomba (fruto típico da região).

Fotografia. Vista da fachada de uma igreja com duas torres laterais, cruzes no ápice da construção, janelas pelas paredes e entradas centrais em formato de arco. À frente, sobre um palanque de cimento, uma cruz.
Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Fotografia de 2021.

O Forte do Brum foi originalmente construído em Recife pelos holandeses e, posteriormente, reconstruído pelos portugueses. Atualmente, o forte possui uma capela, restaurantes e o Museu Militar.

Fotografia. Vista aérea de uma construção com casas agrupadas, cercadas por muros de cimento. Ao redor, vias pavimentadas e vegetação exuberante. Em segundo plano, um rio de águas escuras.
Vista aérea do Museu Militar do Forte do Brum, em Recife, Pernambuco. Fotografia de 2017.

O Forte Orange foi construído pelos holandeses na Ilha de Itamaracá. Nos dias atuais, esse forte possui um museu cujo acervo foi deixado por portugueses e holandeses. O valor histórico do forte e as belezas naturais que o cercam fizeram desse local um dos cartões-postais da região.

Fotografia. Uma construção de pedra em ruínas, com destaque para arcos com aberturas ao centro.
Vista interna do Forte Orange, na Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Fotografia de 2021.

Responda no caderno

Atividades

  1. Os locais mencionados no texto ganharam novos usos ao longo do tempo? Quais?
  2. No município ou no estado onde você vive, existem patrimônios históricos? Quais? Você já os visitou? Pesquise sua história.

Fim da União Ibérica

Em 1640, os portugueses reconquistaram sua independência, pondo fim à União Ibérica ao derrotar a Espanha na Guerra da Restauração. Com a independência, foi coroado um novo rei português: dom João quarto. Ele deu início à dinastia dos Bragança.

Fotografia. Um monumento de um homem vestindo uma armadura, segurando uma arma de fogo, sobre o dorso de um cavalo, exposto sobre um palanque de altura superior ao solo. Em segundo plano, à esquerda, um edifício com três andares e janelas retangulares distribuídas pela fachada de forma simétrica.
Monumento em homenagem a dom João quarto (1604-1656), líder da Guerra da Restauração contra a União Ibérica e primeiro rei da dinastia de Bragança. Fotografia de 2021. Esse monumento está na região do alentêjo, Portugal.

Em Portugal, a nova dinastia e os grandes comerciantes entenderam que, para a manutenção do reino, era mais vantajoso fazer comércio com Brasil e Angola do que com o Oriente. Dessa fórma, na época, os portugueses negociaram um acordo de paz com os holandeses, que ainda ocupavam o Brasil. Entretanto, o acordo foi rompido antes do tempo combinado.

Com o fim da União Ibérica, uma grave crise econômica tomou conta de Portugal. A economia dependia do comércio colonial, e os portugueses tinham perdido parte de suas colônias para os holandeses. Mas o Brasil mantinha-se como importante colônia de Portugal.

Para enfrentar a crise econômica, o governo português assinou vários tratados com os ingleses. Entre esses tratados, destacamos o de Methuen (1703), também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos. Pelo acordo, os portugueses comprariam tecidos fabricados pelos ingleses e estes comprariam vinhos de Portugal.

Na época, o tratado satisfazia os interesses dos dois lados. Mas, com o tempo, a situação mudou, e os ingleses foram beneficiados. A fabricação de tecidos em Portugal foi praticamente paralisada e, para honrar o acordo, parte do ouro do Brasil foi enviada à Grã-Bretanha como pagamento pelos produtos que os portugueses compravam.

Açúcar das Antilhas

Após a expulsão dos holandeses, a Coroa portuguesa procurou aumentar a produção do açúcar no Brasil. Mas ocorreu um evento que atrapalhou esses planos.

Os holandeses levaram mudas de cana para suas colônias nas Antilhas (grupo de ilhas do Caribe). Ali passaram a produzir açúcar, acabando com o monopólio português.

Com a concorrência holandesa e, mais tarde, a dos franceses e ingleses, o preço do açúcar caiu pela metade nos mercados internacionais entre 1650 e 1700. Só no final do século dezoito o açúcar brasileiro recuperaria parte da importância que teve no passado.

Ilustração. Representação de um homem sobre um campo, vestindo um casaco azul, um tecido vermelho em torno da cintura sobre uma calça branca na altura dos joelhos e um turbante branco, descalço, segurando um podão de lâmina curva contra o caule de ramos de cana-de-açúcar.
Ilustração de autoria desconhecida que representa africano escravizado cortando cana-de-açúcar nas Antilhas, século dezoito.

Guerra dos Mascates

Até o final do século dezessete, a principal cidade de Pernambuco era Olinda, onde viviam senhores de engenho, cuja riqueza diminuiu com a queda do preço do açúcar.

Já em Recife havia um porto movimentado onde comerciantes, muitos deles portugueses, enriqueciam com as atividades de importação e exportação.

Os senhores de Olinda pediam dinheiro emprestado aos comerciantes de Recife, que cobravam juros altos. Os olindenses apelidaram os comerciantes de Recife de mascates, para desqualificá-los. Mas os recifenses revidaram, chamando de pés-rapados os senhores de Olinda.

Os comerciantes recifenses pediram ao rei de Portugal que seu povoado fosse transformado em vila, pois não queriam mais obedecer às ordens da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, o rei dom João quinto atendeu ao pedido e concedeu autonomia a Recife. A decisão contrariou os senhores de Olinda, que organizaram uma rebelião. Liderados por Bernardo Vieira de Melo (1658-1718), eles invadiram Recife. A luta ficou conhecida como Guerra dos Mascates.

Em 1711, o governo português combateu os revoltosos olindenses, prendendo seus líderes e confiscando seus bens. Porém, decretou o perdão das dívidas que os senhores de engenho de Olinda tinham com os comerciantes de Recife.

Fotografia. Vista da fachada de várias casas dispostas lado a lado, cada uma delas com cores diferentes, janelas e portas retangulares.
Centro Histórico de Olinda, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco. Fotografia de 2020. Recife e Olinda são duas importantes cidades brasileiras. Nelas, casas, fortes militares, ruas e pontes ainda mostram aspectos da presença holandesa.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.

  1. Os engenhos de açúcar se transformaram em importantes núcleos econômicos, sociais e culturais do Brasil colonial.
  2. O poder de muitos senhores de engenho extrapolava os limites de suas fazendas, chegando até as vilas e os povoados vizinhos.
  3. A principal mão de obra utilizada nos engenhos era livre, com trabalhadores bem remunerados.
  4. O Brasil colonial pode ser resumido em apenas uma palavra: plantation.
  1. No caderno, construa uma linha do tempo sobre os temas estudados neste capítulo. Para isso, identifique as datas dos acontecimentos a seguir e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala. Depois, responda à seguinte questão: por quanto tempo os holandeses ocuparam Pernambuco?
    • Início da União Ibérica.
    • Fim da União Ibérica.
    • Independência da Holanda.
    • Invasão de Pernambuco pelos holandeses.
    • Expulsão dos holandeses do Brasil.
Versão adaptada acessível

2.  Construa uma linha do tempo tátil usando materiais com diferentes texturas e espessuras para representar os temas estudados neste capítulo. Para isso, identifique as datas dos acontecimentos a seguir e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala. Depois, responda à seguinte questão: por quanto tempo os holandeses ocuparam Pernambuco?

• Início da União Ibérica.

Fim da União Ibérica.

Independência da Holanda.

Invasão de Pernambuco pelos holandeses.

Expulsão dos holandeses do Brasil.

  1. Qual foi a reação da Holanda diante do embargo espanhol? Esse bloqueio econômico foi respeitado? Explique.
  2. Qual era a situação econômica de Portugal após a União Ibérica? Que medidas o Reino Português tomou para enfrentar a crise?

Interpretar texto e imagem

5. O texto a seguir faz parte de um relatório sobre o Brasil. Nesse relatório, Maurício de nassáu aconselha seus sucessores sobre como administrar o Brasil holandês. Em dupla, leiam o texto e respondam às questões.

“Seria conforto para os senhores de engenho e para os portugueses esgotados de dívidas conceder-lhes a Companhia alguma folga de tempo para refazerem o patrimônio arruinado pelas guerras e outras calamidades imprevistas reticências. Se isto não for possível, aconselharia eu cobrarem-se as dívidas com maior brandura, mediante a venda dos açúcares, reticências joias e outros bens móveis, mas não dos escravos e dos utensílios necessários ao fabrico do açúcar, nem dos bois, sem os quais não podem trabalhar os engenhos reticências.”

nassáu, Maurício de. citado por: BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1974. página 337-338.

  1. Quem é o autor desse relatório? Com que objetivo o texto foi elaborado?
  2. Qual era a situação dos senhores de engenho de Pernambuco após a invasão holandesa?
  3. Diante dessa situação, o que nassáu recomendava a seus sucessores?
  4. As recomendações de nassáu foram cumpridas por seus sucessores?

6. Leia o texto do historiador Boris Fausto sobre o Brasil holandês e responda às questões.

“Uma pergunta que sempre surge quando se estuda a presença holandesa no Brasil é a seguinte: o destino do país seria diferente se tivesse ficado nas mãos da Holanda e não de Portugal?

Não há uma resposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjectura, uma possibilidade que não se tornou real. Quando se compara o governo de nassáu com a rudeza lusa e a natureza muitas vezes predatória de sua colonização, a resposta parece ser positiva. Mas convém lembrar que nassáu representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais outra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial português. Vista a questão sob esse ângulo, e quando se constata o que aconteceu nas colônias holandesas da Ásia e das Antilhas, as dúvidas crescem. A colonização dependeu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de colonização implantado.

Os ingleses, por exemplo, estabeleceram colônias bem diversas nos Estados Unidos e na Jamaica. Nas mãos de portugueses ou holandeses, com matizes certamente diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colônia de exploração integrada no sistema colonial.”

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: êduspi, 1995. página 89-90.

  1. É possível dar uma resposta segura para a questão apresentada no início do texto? Por quê? O que é uma conjectura? Pesquise.
  2. É possível concluir que o discurso de Boris Fausto defende que o Brasil seria mais desenvolvido se fosse colonizado pelos holandeses? Explique.
  3. Em sua opinião, muitos dos problemas atuais do Brasil decorrem do fato de termos sido uma colônia de Portugal? Reflita, argumente e debata esse assunto com os colegas.

integrar com Geografia

7. O cartógrafo holandês djôan jóta blêu produziu um mapa da capitania de Pernambuco em 1647. Esse mapa apresenta uma ilustração feita pelo artista frãns pôst. Em grupo, observem a imagem no mapa e, em seguida, respondam às questões.

Mapa. Parte da costa terrestre de uma área, com indicações de caminhos fluviais, cercados por oceano contendo embarcações e navios. No canto superior direito, imagem de um campo com diversas construções sustentadas por vigas verticais, moinhos de água, carroças, animais e pessoas escravizadas desempenhando diferentes tarefas.
Mapa das capitanias de Pernambuco e Itamaracá, mapa de djôan jóta blêu, publicado em livro de Gaspar Barléu, em 1647.
  1. Que elementos vocês conseguem identificar no mapa?
  2. Esses elementos estão relacionados aos motivos da conquista holandesa de Pernambuco? Justifiquem a resposta.
  3. Os mapas servem apenas para localizar um território? Utilizem elementos desse mapa para explicar a resposta.

Glossário

Massapê
: solo argiloso e fértil, de cor escura.
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Guerra justa
: guerra realizada contra indígenas que resistiam à colonização portuguesa ou que criavam obstáculos para o desenvolvimento da catequese; por isso, era autorizada pela Coroa.
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Roçado de subsistência
: pequena plantação destinada ao consumo da família.
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Ama de leite
: mulher que amamenta filho de outra mulher quando esta não pode amamentar ou não quer exercer essa tarefa.
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