UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL

CAPÍTULO 11 CONQUISTAS E FRONTEIRAS

O território do Brasil sofreu modificações ao longo da história. Isso significa que, nos últimos quinhentos anos, as fronteiras do Brasil passaram por transformações devido a guerras, acordos e tratados internacionais. Essas modificações também promoveram deslocamentos populacionais que contribuíram para o intercâmbio entre povos de várias origens.

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para começar

Que países fazem fronteira com o atual Brasil? Entre esses países, qual tem o maior território? E o menor território? Se necessário, faça uma pesquisa.

Mapa. Representação do território da América do Sul, banhado por oceanos à leste e à oeste. Sobre a área terrestre há nomes de cidades e caminhos fluviais. Pelo oceano, há imagens de embarcações, navios e animais marinhos.
América do Sul, mapa de Guerardus Mêrcator e Ióducus Rondius, 1623. O território sul-americano passou por diversas transformações ao longo do tempo.
Fotografia. Destaque para rebanho de gado bovino em um campo gramado e cercado. Ao centro, um homem sobre o dorso de um cavalo. Ao fundo, árvores plantadas.
Peão de estância conduzindo gado em Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2017. A pecuária contribuiu para o povoamento do interior da América portuguesa nos séculos dezessete e dezoito.
Fotografia. Destaque para um carro alegórico com esculturas douradas retratando homens em pé, lado a lado, acorrentados, com manchas vermelhas escorrendo sobre suas cabeças. Ao redor, pessoas vestindo fantasias e usando adereços de penas coloridas na cabeça. À frente delas, escultura de um homem e de uma mulher indígena. A mulher, à direita, tem um adesivo colado em formato de 'X' sobre a boca. Ao fundo, plateia com pessoas.
Desfile do carro alegórico O sangue retinto por trás do herói emoldurado, da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, no carnaval da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2019. No desfile, a alegoria denunciava a violência dos bandeirantes na colonização do Brasil.

Expansão territorial e povoamento

A conquista espanhola da América começou pelas ilhas do Caribe. Porém, os espanhóis não ocuparam todas elas, concentrando-se na Ilha de Hispaniola (onde hoje estão a República Dominicana e o Haiti), Cuba, Porto Rico e Jamaica.

Já no início do século dezesseis, com a diminuição da população indígena devido às doenças e ao trabalho forçado, os espanhóis começaram a levar africanos escravizados para as ilhas caribenhas. Lá, eles trabalharam, por exemplo, nas minas de ouro na Ilha de Hispaniola e nos primeiros engenhos de cana-de-açúcar de Cuba. Porém, a maior parte das minas de ouro e prata que os espanhóis dominaram estava localizada nas regiões dos antigos impérios asteca e inca. Por isso, os conquistadores investiram na invasão e na exploração do continente.

As maiores cidades coloniais espanholas, como Cuzco, Potosí, Cidade do México, Guanajuato e Zacatecas, ficavam distantes do litoral. Essa distância contribuiu para proteger esses núcleos urbanos de ataques de estrangeiros que chegavam pelo mar.

Na América portuguesa, entre os séculos dezesseis e dezessete, a colonização concentrou-se nas áreas costeiras, banhadas pelo Oceano Atlântico. Durante muitos anos os portugueses não exploraram as regiões mais distantes do mar, que chamavam de “sertão”. Um escritor dessa época afirmou, em 1627, que eles contentavam-se em ficar no litoral, “arranhando ao longo do mar como caranguejos” (SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1982. página 59). Estar próximo ao mar facilitava o transporte e a comunicação dos povoados coloniais com Portugal. No litoral também aconteciam negociações, como o tráfico de africanos escravizados.

Fotografia. Vista aérea de um porto contendo contêineres empilhados lado a lado, às margens de um oceano. À lateral da pista do porto há uma grande embarcação contendo contêineres empilhados. Ao fundo, área urbana com edifícios, casas e árvores pela paisagem.
Vista aérea do porto de Salvador, Bahia. Fotografia de 2022. Durante a colonização da América portuguesa, este foi um dos principais portos para o escoamento de mercadorias e desembarque de africanos escravizados.

Distribuição da população

A população litorânea da América portuguesa vivia em locais como Olinda, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de Janeiro, Santos e São Vicente. Nesse período, os povoados do interior eram exceções, como era o caso de Piratininga, futura cidade de São Paulo.

No entanto, a partir de meados do século dezessete, a ocupação do território começou a avançar em várias direções, indo além dos limites definidos no Tratado de Tordesilhas. A conquista avançou para o oeste, seguindo o curso de rios como o Amazonas, o São Francisco e o Tietê. Na direção sul, seguiram o curso do Rio Paraná, encontrando colonos espanhóis que habitavam áreas próximas aos rios Paraguai e Uruguai.

A expansão territorial se deu por meio de vários agentes, como missionários jesuítas, bandeirantes, militares, mineradores e criadores de gado.

Cada um desses grupos desempenhava funções específicas, voltadas para aspectos religiosos, de ampliação do território colonial ou ligados às atividades econômicas. A seu modo, todos eles foram agentes da conquista e da colonização da América portuguesa.

Pintura. Uma porção de terra às margens de águas contendo canoas e embarcações com bandeiras. Sobre a terra, acampamento com barracas e grupos de diferentes pessoas reunidas. Alguns indivíduos estão envolta de fogueiras com panelas, próximos à produtos ou sentados no chão.
Encontro de monções no sertão, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1920. No período colonial, as monções foram expedições fluviais organizadas pelos colonizadores para explorar o território, suas riquezas naturais e seus povos originários, especialmente em Mato Grosso.

Povoamento e urbanização

Mesmo com a dispersão pelo território, a população se distribuiu de fórma desigual. Durante todo o período, a faixa litorânea concentrou cêrca de 70% da população e havia poucos núcleos urbanos no interior do território.

Mas quantas pessoas viviam no Brasil Colônia? Não existe uma resposta exata para essa questão, apenas estimativas. Os historiadores afirmam que, até o final do primeiro século de colonização, havia cêrca de 100 mil habitantes entre os chamados luso-brasileiros (descendentes de portugueses nascidos no Brasil). Já no final do século dezoito, os números variam entre 3,25 milhões e 4 milhões de habitantes.

No final da época colonial, calcula-se que, nos núcleos urbanos, pessoas brancas de origem europeia chegavam a 30% da população total da América portuguesa, sendo a maior parte da população composta de indígenas, negros e mestiços. Observe os mapas de povoamento e de colonização no período colonial.

A marcha do povoamento e a urbanização (século dezessete)

Mapa. A marcha do povoamento e a urbanização (século dezessete). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Em verde, 'Áreas provavelmente sob a influência das cidades e vilas', restritas à costa norte e leste do país, concentrando diversas vilas (identificadas por bolinhas vermelhas) e cidades (identificadas por bolinhas pretas) como Rio de Janeiro (1565), Salvador (1549), Paraíba (1585), São Luís (1612) e Belém (1616). Em amarelo, 'Áreas conhecidas e povoadas de maneira relativamente estável, mas sem nenhuma vila ou cidade', envolvendo o interior das porções sul, sudeste, nordeste e norte do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e a escala de 0 a 520 quilômetros.

A marcha do povoamento e a urbanização (século dezoito)

Mapa. A marcha do povoamento e a urbanização (século dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Em verde, 'Áreas provavelmente sob a influência das cidades e vilas', compreendendo a costa norte e leste do território e seu interior, em áreas das porções sudeste, centro-oeste, nordeste e norte, concentrando diversas vilas (identificadas por bolinhas vermelhas) e cidades (identificadas por bolinhas pretas) como São Paulo (1711), Rio de Janeiro (1565), Mariana (1745), Salvador (1549), Paraíba (1585), Oeiras (1761), São Luís (1612) e Belém (1616). Em amarelo, 'Áreas conhecidas e povoadas de maneira relativamente estável, mas sem nenhuma vila ou cidade', envolvendo o interior das porções sul, sudeste, nordeste, centro-oeste e sobre parte considerável do norte do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 520 quilômetros.
Fontes: HOLANDA, Sérgio Buarque de (organizador). História geral da civilização brasileira. quarta edição São Paulo: Difel, 1995. tomo um, volume um, página 293-371; í bê gê É Cidades. Disponível em: https://oeds.link/EmfSKk. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

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Responda no caderno

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observando o mapa

Compare os dois mapas e identifique as localidades que foram elevadas à categoria de cidade nos séculos dezesseis, dezessete e dezoito.

Expedições militares

Várias expedições militares foram organizadas pelo governo colonial e pela Coroa portuguesa para ocupar e defender as terras ameaçadas por franceses e espanhóis, no litoral e no interior. Combatendo os estrangeiros e os indígenas que resistiam à ocupação portuguesa, algumas expedições ergueram fortificações militarizadas. Esse processo deu origem a cidades importantes, como Natal, Fortaleza, João Pessoa, Belém e Manaus.

Fotografia. Vista aérea de uma fortaleza com paredes brancas, em formato de estrela com cinco pontas, com uma torre central, sobre um solo de areia, em uma praia banhada por águas esverdeadas.
Fortaleza da Barra do Rio Grande, também conhecida como Forte dos Reis Magos, construída em 1598 e localizada na atual cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Fotografia de 2021.
Fotografia. Ao fundo, à esquerda, uma construção horizontal, com paredes brancas, janelas e portas distribuídas de forma homogênea. À direita, uma construção de dois andares, com paredes brancas e vigas verticais unidas no topo em formato de arcos na entrada térrea. Em primeiro plano, um campo gramado com algumas pessoas circulando.
Forte de Santa Catarina, construído em 1597, em Cabedelo, na Paraíba. Fotografia de 2019.
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para pensar

O que você sabe sobre a história da fundação do município onde mora? Existe nele algum monumento relacionado ao período colonial?

Bandeirismo

Além das expedições militares oficiais, havia expedições organizadas por colonos com fins particulares. De modo geral, elas foram chamadas de bandeiras e seus membros ficaram conhecidos como bandeirantes.

Captura de indígenas ou apresamento

As bandeiras que se dedicavam à captura de indígenas e à procura de metais preciosos partiam geralmente de São Paulo e das vilas vizinhas.

Entre 1637 e 1654, os holandeses dominaram capitanias ao norte do Brasil, como Pernambuco. Nessa época, escravizar indígenas tornou-se um negócio muito lucrativo para os paulistas. Uma das razões é que os holandeses dominaram grande parte das regiões da África onde se fazia o tráfico de escravizados, favorecendo a vinda de cativos para as áreas sob seu domínio no Brasil. Assim, faltavam escravizados para a agricultura em várias regiões sob domínio português. Então, capturar indígenas foi uma maneira de compensar a falta de africanos escravizados.

Principais bandeiras (séculos dezessete-dezoito)

Mapa. Principais bandeiras (séculos dezessete a dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Setas laranjas indicam 'Apresamento'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de São Paulo em direção à porção sul do território: A. R. Tavares, A. Fernandes e Fernão Dias Pais. Em direção à porção sudoeste: Manoel Pereira e A.R. Tavares. Em direção à Santiago do Xarez, na porção oeste do território: A.R. Tavares. Em direção à Gurupa (na porção norte): Antônio Raposo Tavares. Setas verdes indicam 'Prospecção'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de São Paulo em direção à Cuiabá: Pascoal Moreira Cabral). Em direção à Vila Boa, na porção centro-oeste do território: Bartolomeu B. da Silva. Em direção à Belém: Silva Braga. Partindo de Taubaté para a porção nordeste do território: Fernão Dias Pais. Setas roxas indicam 'Sertanismo de contrato'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de Santos para Salvador, e daí para o interior da porção nordeste: Estevam B. Parente; Domingos B. Calheiros; Domingos A. Mafreuse. Partindo de Recife, Olinda e Paraíba para o interior da região, estão respectivamente: Domingos J. Velho, Morais Navarro e Bernardo V. de Melo; Domingos J. Velho e M. C. Almeida. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 410 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de et alponto Atlas histórico escolar. oitavaedição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 22.

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  1. Identifique no mapa as bandeiras que alcançaram a região Norte do atual Brasil.
  2. O que as setas indicam no mapa? Qual é o significado de suas cores?

Até meados do século dezessete, os paulistas atacaram aldeamentos fundados pelos jesuítas espanhóis no Guairá, na região oeste do atual estado do Paraná. Reagindo aos ataques, os jesuítas conseguiram autorização do rei da Espanha para dar armas de fogo aos indígenas e defender as missões jesuíticas. Assim, as missões puderam resistir aos bandeirantes por algum tempo.

Mesmo assim, os paulistas massacraram milhares de indígenas, além de despovoarem amplas áreas do interior, muitas das quais foram ocupadas depois por fazendas de gado, especialmente nas capitanias do Sul e no sertão do Nordeste.

Sertanismo de contrato

Após adquirir experiência na luta contra populações indígenas, os bandeirantes foram contratados por autoridades governamentais, senhores de engenho e pecuaristas para reprimir rebeliões indígenas e capturar escravizados fugitivos. Esse tipo de serviço foi chamado pelos historiadores de sertanismo de contrato.

Busca por metais

Depois de muita procura por ouro, alguns bandeirantes encontraram pequenas quantidades desse metal precioso nas regiões das atuais cidades de São Paulo, Guarulhos, Curitiba e Paranaguá. Em 1674, uma expedição liderada por Fernão Dias Pais partiu de São Paulo em direção ao sertão de Minas Gerais, onde encontrou pedras de turmalina.

Posteriormente, o mesmo caminho de Fernão Dias foi seguido por outros bandeirantes. Entre o final do século dezessete e início do dezoito, essas expedições encontraram muito ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. A partir dessas descobertas, que atraíram milhares de pessoas de várias regiões do Brasil e de Portugal, o interior da América portuguesa começou a ser ocupado pelos colonizadores de fórma mais intensa.

Fotografia. Vista aérea de uma área com densa vegetação cortada por uma rodovia com duas vias de sentido.
Vista da rodovia Fernão Dias, que liga as cidades de Belo Horizonte, Minas Gerais, e São Paulo, São Paulo, inaugurada em 1959. Fotografia de 2016. Seu nome é uma referência ao bandeirante paulista; no entanto, homenagens como essa são questionadas na atualidade.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Museu da Cidade – Casa do Bandeirante e Casa Sertanista

Disponível em: https://oeds.link/8QJyh6 e https://oeds.link/l6skcH. Acessos em: 16 fevereiro 2022.

Páginas do Museu da Cidade (São Paulo) sobre supostas residências de membros das expedições de conquista do interior da América portuguesa.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: Bandeirantes e a escravidão na América portuguesa

[LOCUTOR 2]: Quais eram as atividades e funções dos bandeirantes? Qual era o seu papel com relação à escravidão implementada na América portuguesa? Não por acaso, a imagem dos bandeirantes foi associada à conquista do território brasileiro. É importante destacar que o território, que hoje identificamos como América do Sul, era ocupado por muitos povos indígenas. A maioria desses povos conservava seus costumes, seus territórios, seus deslocamentos. Em algumas regiões da América, desde o século XVI, religiosos como os jesuítas, estabeleceram missões, nas quais administravam os indígenas e promoviam a sua conversão ao cristianismo. Além de se deslocar pelo interior da América em busca de metais e pedras preciosas, os bandeirantes atacavam aldeias e aprisionavam integrantes de povos indígenas para escravizá-los.

[LOCUTOR 2]: O apresamento de indígenas também acontecia em algumas áreas no sul e no norte do Brasil, onde havia missões religiosas, gerando conflitos entre os bandeirantes e os religiosos, fato que resultou na expulsão dos jesuítas de determinadas localidades.

[LOCUTOR 2]: Hoje, na cidade de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, por exemplo, podemos encontrar as ruínas de São Miguel Arcanjo, povoado fundado por jesuítas, que recebeu nativos expulsos de suas terras em razão dos ataques bandeirantes no século XVII. A ação dos bandeirantes provocou resistências armadas de povos indígenas a conflitos registrados ao longo do período colonial. Além de tentar escravizar os indígenas, os bandeirantes também atacavam quilombos, com o objetivo de reconduzir à escravidão os negros africanos que haviam fugido do cativeiro. Os quilombos abrigavam ex-escravizados e até grupos indígenas que resistiam à escravidão cujas histórias estão ligadas à ocupação da terra. Ainda hoje, muitos descendentes de quilombolas lutam pelo direito ao reconhecimento de suas terras. A expansão territorial realizada pelos bandeirantes foi, portanto, marcada pela violência contra parte da população que então habitava o território brasileiro. E os efeitos disso podem ser percebidos até hoje.

[LOCUTOR 1]: Estúdio CCDB.

Expedições de comércio

Quando os bandeirantes encontraram ouro, a notícia se espalhou rapidamente. Muita gente, atraída pelo desejo de enriquecer, migrou para as regiões mineradoras.

Para atender às necessidades dos novos habitantes de Mato Grosso e Goiás entre a década de 1720 e a primeira metade do século dezenove, foram organizadas expedições fluviais chamadas monções.

As canoas subiam e desciam os rios de São Paulo e de Mato Grosso, saindo de Porto Feliz e de Itu (São Paulo) e chegando até Cuiabá (Mato Grosso). Elas iam carregadas de alimentos, roupas e outras mercadorias. Partiam entre os meses de março e maio, pois nessa época os rios tinham maior volume de água devido às chuvas. Na volta, traziam ouro e pedras preciosas retirados das regiões mineradoras.

A viagem era repleta de dificuldades. Havia muitas corredeiras e animais perigosos no percurso, além da resistência dos povos originários, que atacavam constantemente as canoas. Os portugueses aprenderam o método de construção das canoas e de navegação fluvial com os indígenas. As rotas comerciais conhecidas como monções contribuíram para abastecer as vilas coloniais de Mato Grosso e facilitar a comunicação entre elas.

Pintura. Um grupo de pessoas em pequenas embarcações sobre rios às margens de uma porção de terra, contendo diferentes cargas e produtos, em caixas ou sacolas. Sobre a terra, há pessoas em pé, algumas portam produtos diversos. Em segundo plano, áreas com vegetação.
Partida da monção, pintura de José Ferraz de Almeida Júnior, 1897. Essa pintura representa o transporte de cargas pelos monçoeiros, que levavam diversos tipos de mercadorias para o interior do Brasil.

Jesuítas na América

Os jesuítas são sacerdotes da Companhia de Jesus ou Ordem Jesuítica, fundada na Europa por Inácio de Loyola, em 1534. Entre os objetivos desses religiosos estava a conversão de novos fiéis à religião católica. A América foi o seu principal campo de ação.

Catequização e conquista

Em busca de fiéis para a religião católica, os jesuítas promoviam ações religiosas, educacionais e militares. Para evangelizar os indígenas, os jesuítas os reuniam em reduções, missões ou aldeamentos.

Como estudamos no capítulo 8, em 1549, desembarcou na Bahia um grupo de jesuítas, acompanhando o primeiro governador-geral. A partir daí, eles criaram missões pelo território dominado pelos portugueses.

Do mesmo modo, na América espanhola, religiosos dessa Ordem criaram diversas missões ou reduções, destacando-se as da Flórida, Texas e Califórnia (na América do Norte) e as do Paraguai, da Bolívia e da Argentina (na América do Sul).

Nas áreas de colonização francesa, os jesuítas tiveram atuação destacada a partir do início do século dezessete. Os primeiros contatos foram feitos com os algonquinos, iroqueses e povos indígenas do atual Canadá. Os jesuítas franceses concentraram suas missões em Montreal e Quebec, enfrentando a resistência dos indígenas e a concorrência de colonos ingleses protestantes, com quem disputavam territórios na América do Norte.

Ilustração em preto e branco. Representação de um grupo de pessoas em um confronto. Em primeiro plano, dois homens segurando cruzes e crucifixos tem lanças transpassando seus corpos, enquanto são golpeados por outros dois homens. Em segundo plano, ao fundo, um homem à direita, sentado sobre um trono, usando uma coroa e segurando um cetro com uma das mãos. E outro, à esquerda, vestindo uma túnica e erguendo um dos braços para cima, enquanto é golpeado com uma espada próxima à costela. Saem da boca de ambos, faixas com textos em latim. Em segundo plano, à esquerda e ao fundo, homens segurando lanças.
Ilustração de livro de Alonso de Ovalle, de 1648, mostra os chamados “mártires de Elicura”, três jesuítas que foram mortos em um ataque de indígenas mapuches ao Forte de Paicavi, no Chile, em 1612, durante uma das várias rebeliões desse povo contra os estrangeiros. A colonização europeia, incluindo a evangelização, que era uma estratégia de conquista, enfrentou a resistência indígena por toda a parte.

Trabalho, cotidiano e religião

Nas missões jesuíticas de toda a América, os indígenas aprendiam o catolicismo, alguns ofícios e os costumes europeus. Em geral, a rotina começava com uma missa e, depois, os indígenas trabalhavam nas plantações ou no artesanato.

Enquanto os adultos trabalhavam, as crianças aprendiam a ler, escrever e contar. Por meio delas, os jesuítas às vezes conseguiam converter os adultos.

Além disso, nas missões da Amazônia, os jesuítas faziam com que indígenas trabalhassem na extração de produtos naturais como guaraná, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais, as chamadas drogas do sertão. A venda desses produtos dava bons lucros aos padres da Companhia de Jesus.

Pintura. Interior de uma cabana com paredes de barro e madeira. Um grupo de homens indígenas com os peitos desnudos, descalços, em pé, vestindo tangas e adereços na cabeça com penas coloridas, em frente a dois homens, um em pé, vestindo uma longa túnica escura, com um de seus braços esticados para cima, e outro ajoelhado a frente de um altar com velas e um crucifixo, segurando um livro aberto à frente de seu rosto.
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, pintura de Benedito calísto, 1920. Nessa representação notam-se a pregação dos padres jesuítas aos indígenas, o altar, as velas e o crucifixo, elementos da liturgia católica.
Fotografia. Destaque para frutos de guaraná, com cascas vermelhas, e interior arredondado branco e preto.
Guaraná, fruto de planta originária da Amazônia. Fotografia de 2018. Atualmente, o guaraná é utilizado para fabricação de xaropes, refrigerantes e pela indústria farmacêutica.

Jesuítas e colonos

As missões jesuíticas na América portuguesa e no Paraguai tornaram-se o alvo predileto das bandeiras de apresamento. Nessas missões, os colonos encontravam indígenas que conheciam as línguas dos portugueses e espanhóis e tinham aprendido os ofícios que interessavam aos compradores de escravizados.

Nos séculos dezesseis e dezessete, houve conflitos entre jesuítas e colonos para definir quem tinha direito de explorar o trabalho dos indígenas. Enquanto muitos colonos queriam escravizar os nativos, os jesuítas queriam mantê-los nas missões.

Um desses conflitos foi a chamada Revolta de Bécman, no Maranhão, em 1684, liderada pelos irmãos Tomás e Manuel Bécman.

Desde 1650, após a saída dos holandeses do Brasil, a capitania do Maranhão passava por uma grave crise econômica. Os preços do açúcar haviam caído muito e os produtores alegavam não conseguir comprar africanos escravizados.

Em busca de mão de obra, os senhores de engenho armaram homens para capturar indígenas nos aldeamentos jesuíticos e escravizá-los. Os jesuítas protestaram e o governo português proibiu a escravização dos indígenas.

Para contornar a crise, a Coroa criou a Companhia Geral de Comércio do Maranhão, em 1682. Os sócios da empresa se comprometeram a trazer 500 africanos escravizados por ano, durante vinte anos. Entretanto, não cumpriram o compromisso e o descontentamento dos colonos aumentou.

A revolta dos colonos começou em fevereiro de 1684. Eles prenderam autoridades do governo, destruíram os armazéns da Companhia de Comércio e expulsaram os jesuítas do Maranhão. Os rebeldes formaram um governo provisório e Tomás Bécman foi a Lisboa expor a situação ao rei. No entanto, ele acabou preso e, em seguida, o rei enviou um novo governador ao Maranhão para reprimir os rebeldes. Ao chegar ali, o novo governador mandou enforcar Manuel Bécman e outros líderes.

Apesar das punições aos rebeldes, a Coroa mudou sua política para a região. Os jesuítas puderam retornar ao Maranhão, a Companhia de Comércio foi extinta e a escravização dos indígenas foi autorizada em algumas situações.

Gravura em preto e branco. Em primeiro plano, ao centro, um homem vestindo uma longa túnica, rodeado por homens portando lanças. Um deles está com uma das mãos sobre o ombro do homem de túnica em posição de movimento. Ao fundo, sobre águas do mar rodeando a terra, um navio e uma pequena canoa com duas pessoas em seu interior.
Gravura do século dezoito que representa o jesuíta Antônio Vieira sendo expulso do Maranhão. Os jesuítas foram obrigados a deixar o Maranhão e o Grão-Pará em 1684.

Pecuária

Ao contrário da produção de açúcar nos engenhos coloniais, que estava voltada para o mercado externo, a pecuária atendia principalmente ao mercado interno.

Em 1701, para incentivar a produção açucareira no litoral, a administração portuguesa proibiu a criação de gado em regiões próximas à costa. Assim, os pecuaristas montaram fazendas de gado no interior, em áreas que não serviam para plantar cana. Escravizados e homens livres, muitos deles mestiços, trabalhavam nessas fazendas.

Pecuária nordestina

A área de criação de gado mais antiga ficava no sertão do Nordeste da colônia. Os vaqueiros avançavam pelo interior, quase sempre seguindo o curso dos rios. Foi o que aconteceu, por exemplo, ao longo dos rios Parnaíba e São Francisco, este último chamado de rio dos currais.

Os pecuaristas forneciam carne fresca e carne-sêca, que é salgada e sêca ao Sol. A carne-sêca conservava-se por mais tempo, o que facilitava a venda em lugares distantes.

Outro produto da pecuária era o couro. Parte dele era exportada e outra parte era usada para fazer camas, cordas, bolsas e roupas.

Fotografia. Destaque para três homens vestindo jaquetas e calças compridas de couro, sentados sobre o dorso de cavalos, em um terreno arenoso com árvores secas com galhos retorcidos ao redor.
Vaqueiros usando roupas de couro na comunidade de Muquém, em Petrolina, Pernambuco. Fotografia de 2021. Essa vestimenta não é muito utilizada pelos vaqueiros nordestinos nos dias atuais, mas a produção de couro continua sendo uma importante atividade econômica na região.

Indígenas resistem no sertão

A expansão da pecuária no Nordeste não foi pacífica. Muitos indígenas que viviam no sertão resistiram para não perder suas terras. Os portugueses se queixavam de que os indígenas capturavam o gado e causavam prejuízos aos fazendeiros.

Gravura. Uma ilha cercada de água, contendo diversas pessoas, algumas desnudas, outras vestindo armaduras, portando armas de fogo. Ao redor, sobre as águas que cercam a ilha, indígenas em canoas, com arcos e flechas apontando para o centro.
Gravura de têodóre de bri, de 1593, representa indígenas Tupinambá capturando Rans Stáden (no barco, à esquerda), um viajante alemão que estava com os portugueses na ocasião. A cena retrata um episódio da resistência indígena aos colonizadores europeus.

No confronto com os indígenas, os fazendeiros armaram tropas e contrataram sertanistas de São Paulo. Depois de muitas lutas, vários povos foram massacrados nos episódios conhecidos como Guerra dos Bárbaros e Guerra do Açu, no final do século dezessete e início do dezoito.

Gravura. Um grupo de indígenas dispersos por entre a mata densamente vegetada, alguns caídos ao chão, outros portando lanças, arcos e flechas. Entre eles, homens vestindo camisas, calças e chapéus, portando lanças e armas.
Guerrilhas, gravura colorizada de iôrram mórritis ruguendás, 1835. Nota-se na imagem uma representação da resistência indígena à colonização por meio do combate.

Pecuária no Sul

Nas áreas onde ficam atualmente o Rio Grande do Sul e o Uruguai, criava-se gado desde a época das missões jesuíticas. Os pecuaristas conquistaram essas terras no início do século dezoito. No Sul, as propriedades onde se criava gado eram chamadas estâncias.

Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, o comércio aumentou entre o sul da colônia e a região mineradora. Foi preciso produzir mais carne e fornecer mais bois e mulas para o transporte de carga na região do ouro.

No final do século dezoito, surgiram as charqueadas, propriedades onde se produzia o charque. Para produzir o charque, também chamado carne-sêca, a carne bovina é cortada em grandes tiras, salgada e sêca ao Sol. Desse modo, o produto conserva-se por muito mais tempo. O charque foi uma das principais mercadorias da região, sendo vendida para outras áreas da colônia ou consumida no próprio local.

Gravura. Um homem em pé sobre um campo terroso, descalço, vestindo uma camisa vermelha, uma bermuda clara e um chapéu com largas abas na cabeça, portando uma lança e uma arma de fogo, guiando uma fila de mulas carregando pacotes contendo pedras escuras.
Transporte de carvão para o Rio de Janeiro, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1822. A gravura representa o transporte de mercadorias no lombo de mulas.

Fronteiras e tratados internacionais

Desde o início da colonização, as fronteiras das colônias europeias na América foram constantemente modificadas. Isso aconteceu por vários motivos: assinaturas de tratados, invasões de territórios e expedições militares, ou ainda pela ação dos criadores de gado e dos religiosos.

Nos séculos dezoito e dezenove, foram assinados tratados internacionais entre os governos europeus que tinham colônias na América para evitar novos conflitos e oficializar a ocupação dos territórios. Conheça, a seguir, alguns desses tratados.

Em 1713, foi assinado um tratado entre portugueses e franceses na cidade holandesa de utréchiti. O Rio Oiapoque passou a ser o limite entre o Brasil, no atual estado do Amapá, e a Guiana Francesa.

  • Em 1750, em Madri, foi assinado um tratado entre os representantes de Espanha e Portugal. A colônia do Sacramento passaria aos espanhóis, e os Sete Povos das Missões, no oeste do atual Rio Grande do Sul, pertenceriam aos portugueses. O Tratado de Madri não foi cumprido, pois os jesuítas espanhóis e os Guarani da região não aceitaram o domínio português.
  • Em 1777, em Santo Ildefonso, foi assinado outro tratado entre Portugal e Espanha. Os espanhóis ficariam com Sacramento e Sete Povos das Missões, mas devolveriam aos portugueses as terras que eles haviam ocupado no atual Rio Grande do Sul. O Tratado de Santo Ildefonso foi considerado desvantajoso pelos portugueses, pois eles perdiam Sacramento e recebiam poucas terras em troca.
  • Em 1801, o Tratado de Badajós definiu a questão. Os Sete Povos das Missões ficariam com os portugueses e a colônia do Sacramento com os espanhóis. Depois de muita luta, confirmaram-se quase as mesmas fronteiras definidas em Madri, em 1750.

O mapa a seguir mostra os limites estabelecidos pelos tratados citados e também o território atual do Brasil.

Tratados de limites (séculos dezoito e dezenove)

Mapa. Tratados de limites (séculos dezoito a dezenove). Destaque para o território do Brasil. Uma linha vertical vermelha divide o território em duas partes, leste e oeste, indicando em vermelho “Meridiano de Tordesilhas'”. Uma linha roxa, no extremo norte do território, indica “Tratado de Utrecht (1713)”. Uma linha verde, contornando os limites no oeste do território, indica “Tratado de Madri (1750)”. Uma linha laranja, no sul do território, indica “Tratado de Santo Ildefonso (1777)”. Em verde, “Área incorporada ao Brasil pelo Tratado de Badajós (1801)”, envolvendo “Sete povos das Missões”, no oeste do atual estado do Rio Grande do Sul. Em amarelo e verde, “Território atual do Brasil”. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 330 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 30.

Disputas de fronteiras entre portugueses e espanhóis na América

A maior parte das questões de fronteiras na América do Sul na época colonial colocou portugueses e espanhóis em disputa. Desde o início da conquista e colonização europeia, acordos de limites foram feitos e desfeitos. Uma das características principais desses tratados era a ausência total dos povos indígenas nessas negociações.

As fronteiras coloniais eram decididas na Europa por homens do governo. Aos colonos, indígenas e africanos que viviam na América portuguesa restava aceitar as demarcações ou lutar em guerras coloniais que muitas vezes levavam à perda de vidas e propriedades.

Exemplo disso foi a demarcação das fronteiras no sul da colônia, onde hoje se situa o Rio Grande do Sul. De 1752 a 1756, uma expedição foi enviada à região para marcar os limites entre as terras ocupadas pelos espanhóis e pelos portugueses, definidos no Tratado de Madri (1750). Era o início da Guerra Guaranítica (1753-1756).

Os colonos acabaram formando núcleos muito próximos uns aos outros. Sinal disso é a existência, hoje, de cidades onde praticamente não se percebe a linha de fronteira. Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), por exemplo, fundadas em áreas ocupadas nos primeiros anos do século dezenove, são divididas apenas por uma rua.

Fotografia. Uma jovem, uma mulher e uma criança, em pé sobre uma praça, à frente de um monumento longo e vertical, cujas laterais apresentam duas hastes com as bandeiras do Brasil e Uruguai. Às laterais, áreas arborizadas.
Bandeiras do Brasil e do Uruguai na Praça Internacional, na chamada “Fronteira da Paz”, divisa entre Santana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai. Fotografia de 2021.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

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para pensar

Atualmente, existem conflitos nas fronteiras das nações americanas? Faça uma pesquisa em jornais atuais e compartilhe o resultado com os colegas.

Brasil: a formação do país

O Brasil é o quinto maior país do mundo, com ..8547403 quilômetros quadrados, atrás apenas de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Da lista dos cinco maiores países do mundo, três estão situados na América.

Ao longo da história, a conquista desses territórios envolveu conflitos e desafios. A expulsão dos povos originários de suas terras, as dificuldades da colonização e os tratados de limites entre os impérios coloniais são parte desse longo processo.

No caso do Brasil, um país grande foi criado. Mas a história não se encerrou. Os brasileiros continuam lutando para transformar o “país grande” num “grande país” para a maioria dos cidadãos.

Charge. Na parte superior, o texto 'Desigualdade na pandemia' e a representação de um homem de cabelos curtos, vestindo uma camisa e um par de óculos no rosto, segurando uma xícara contendo um líquido fumegante, em pé sobre um cômodo com cadeira e estante com livros, com o olhar voltado para uma paisagem em sua janela, com destaque para o Sol no horizonte. Na parte inferior, um grupo de pessoas, entre adultos e crianças, e um cachorro, no interior de um cômodo com paredes de tijolos à mostra, com os olhares voltados para uma abertura indicando um vírus visto parcialmente, de coloração verde, formato redondo e pequenas hastes laterais com bolinhas.
Desigualdade na pandemia, charge de Jan Galvão, 2020. O Brasil é um dos países com maior índice de desigualdade social e econômica do mundo. Na charge, essa questão é relacionada à pandemia de covid-19.
Fotografia. Vista aérea de uma área urbana contendo uma manifestação de pessoas cercadas por avenidas e edifícios. Há uma longa faixa azul estendida sobre os manifestantes, com o texto: 'O Brasil se une pela Educação'.
Vista de manifestação em apoio e defesa da educação pública na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

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para pensar

Em sua opinião, o que é necessário para tornar o Brasil um grande país? Dialogue sobre o assunto com os colegas.

OUTRAS HISTÓRIAS

Kaingang, as riquezas de nossas terras

A partir dos séculos dezoito e dezenove, o povo Caingângue, da família linguística Jê, passou a conviver com diversas pressões e conflitos por territórios. Os tropeiros no Sul, a construção de ferrovias no Oeste paulista e o avanço das fazendas sobre os seus territórios tradicionais modificaram a fórma de viver desse povo. Hoje, com uma população de 30 mil pessoas, os Caingângue vivem em terras indígenas nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A seguir, leia o trecho de um texto que trata dessas transformações.

“Antes de tudo acabar, antes destes ferroviários invadirem nossas terras, elas eram de uma beleza... reticências as árvores de copas grandes e escuras, pareciam uma onda do mar... Montanhas cobertas de árvores, tudo era verde, tudo era mata, tudo era vida.

Nestas terras habitavam variedades de animais mamíferos, aves... grande variedade de cobras, lagartos e abelhas silvestres. Nas matas habitavam macacos de espécies variadas, onças, veados, antas, capivaras, catetos, ariranhas, etcétera reticências.

Suas terras, nossas terras, nossas muitas terras... Hoje tudo acabou. A maior parte de nossas riquezas se foi por causa de um sentimento chamado ambição. Este foi um dos grandes destruidores de nossas riquezas, que hoje será difícil recuperar do modo como foram antes.”

NAIM, Lidiane Damasceno de Oliveira; KELO, Maurício Pedro Campos. As riquezas de nossas terras. In: MACEDO, Ana Vera (organizador). Uma história Caingângue de São Paulo: trabalho a muitas mãos. Brasília: Méquibarra Coordenação-Geral de Apoio às Escolas Indígenas, 2001. página 15-16.

Aquarela. Um campo gramado com destaque para homens vestindo casacos, camisas, chapéus e botas, portando armas de fogo, em contato com pessoas desnudas, portando arcos e flechas. Ao redor há diversos cachorros pelo terreno.
Aquarela do século dezoito atribuída a Joaquim José de Miranda, membro de uma expedição militar portuguesa que entrou em conflito com o povo Caingângue nos campos de Guarapuava (no atual Paraná), entre 1771 e 1772. Seus desenhos documentam a expansão dos colonizadores sobre as terras indígenas e a redefinição das fronteiras.
Fotografia. Uma exposição em um grande salão, com utensílios indígenas, como bolsas, cestas, baldes e colares sobre uma mesa retangular de superfície plana. Ao fundo, sobre vários balcões há outros objetos. No teto, há vários lustres com focos de luz.
Exposição de acervo da etnia indígena Caingângue no Museu Paranaense, em Curitiba, Paraná. Fotografia de 2005.
Fotografia. Um grupo de indígenas, entre homens e mulheres, lado a lado, dispostos em um círculo, sobre um pátio de uma praça. A maioria é vista de costas. Os homens estão com o peito desnudo e vestem bermudas escuras com um desenho vermelho e branco na lateral. Alguns usam adereços sobre a cabeça. A maioria das mulheres veste top, saia e bermuda.
Indígenas da etnia Caingângue fazendo apresentação no centro da cidade de Londrina, Paraná. Fotografia de 2021.

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Atividades

  1. De que ponto de vista o texto apresenta a expansão sobre os territórios do Sudeste e do Sul?
  2. Como os autores do texto tratam dessa expansão?

OFICINA DE HISTÓRIA

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Conferir e refletir

1. Diferentes iniciativas contribuíram para o avanço da conquista e colonização portuguesa no interior do território colonial. Aponte a iniciativa que você considera mais importante e argumente em defesa de sua escolha.

  1. Um dos principais objetivos dos jesuítas era converter os indígenas à fé cristã, por julgarem que só dessa fórma eles seriam salvos. Pesquise em livros da biblioteca da escola ou da cidade onde você vive e em sites confiáveis da internet e discuta com os colegas e professor.
    1. Quais eram as religiões dos indígenas?
    2. Você acha que em nossa sociedade as diferentes crenças são respeitadas?
  2. Como os pecuaristas contribuíram para a expansão portuguesa no território colonial?
  3. O Brasil é, atualmente, o quinto maior país do mundo em extensão territorial. Sobre isso, o historiador brasileiro Evaldo Cabral de Mello afirmou de fórma provocativa:

“Eu acho que seria ótimo se tivéssemos respeitado a linha de Tordesilhas. O país hoje seria bem menor e os problemas, talvez, mais administráveis.”

GASPARI, Elio. A fala de Evaldo Cabral de Mello. Folha de São Paulo, 14 julho 1999. Caderno Brasil, página 7.

Forme um grupo e debata essa frase argumentando e ouvindo os argumentos dos colegas. Depois, escreva sua opinião sobre o assunto.


5. Leia o texto a seguir e responda às questões.

Educação brasileira

A partir do século dezesseis até meados do século dezoito, os jesuítas fundaram e administraram missões e colégios no Brasil. As missões tinham como propósito alfabetizar e catequizar os indígenas. Já os colégios pretendiam educar os filhos dos colonos por meio de aulas de Latim, Gramática, Filosofia, Música e Teologia.

Da colonização aos dias atuais, muita coisa mudou na educação brasileira. O ensino deixou de ter um caráter religioso e se tornou laico. Além disso, mais pessoas passaram a ter acesso à escola. No Brasil atual, existem aproximadamente 47 milhões de estudantes matriculados em cêrca de 178 mil escolas básicas. A maioria dessas escolas (cêrca de 77%) é pública. Aos poucos o país está superando a questão da falta de vagas nas escolas. Agora, devemos lutar por uma educação de qualidade.

Texto elaborado pelos autores.

  1. A educação só pode ser desenvolvida em escolas? Em que outros lugares e situações também podemos aprender?
  2. Entreviste pessoas de seu convívio, perguntando: qual é a importância da escola nos dias atuais? Em seguida, compartilhe as respostas das entrevistas com os colegas.
  3. O que você gostaria de aprender na escola onde você estuda? Em sua opinião, o que é uma educação de qualidade? Debata com os colegas.

6. Os bandeirantes ficaram conhecidos como homens corajosos que ajudaram a aumentar o território do país. Ou como homens violentos, que prendiam e escravizavam pessoas. Afinal, eles foram heróis ou vilões? Talvez nem uma coisa nem outra. A seguir, apresentamos duas fontes que fazem referência aos bandeirantes. A primeira é um texto do século dezessete, escrito pelo padre Antônio Vieira. A segunda fonte é um monumento histórico do século vinte, criado pelo artista Victor brêchêrê, localizado na cidade de São Paulo.

“E, perguntando eu a um dos cabos desta entrada [expedição], como se haviam com eles [com os indígenas], me respondeu com reticências paz de alma: ‘A esses dávamos-lhes uma carga cerrada, caíam uns, fugiam outros reticências.’ Isto me respondeu este capitão como se contara uma ação muito louvável; e assim fala toda esta gente nos tiros que fizeram, nos que lhe fugiram, nos que alcançaram, nos que lhe escaparam, e nos que mataram reticências.

Todos estes homicídios e latrocínios se toleram em um reino tão católico como Portugal reticências. Por que são concedidos aos sertanistas de São Paulo estes privilégios? Declaram reticências que [devido ao] ouro que se tira nas minas de São Paulo reticências ficam tanto em sua graça que dos seus pecados lhe fazem virtudes.”

AZEVEDO, João Lúcio de (organizador). Cartas do padre Antônio Vieira, tomo um. Coimbra: Imprensa de Universidade, 1925. página 414 e 415. (Trecho de carta escrita em 1653 pelo jesuíta, político e diplomata Antônio Vieira).

Fotografia. Destaque para um monumento de pedra retratando um grupo de homens enfileirados, puxando uma canoa, atrás de um homem sobre o dorso de um cavalo.
Monumento às bandeiras, obra de Victor brêchêrê, 1953, que está localizado na entrada do Parque Ibirapuera, em São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2021.
  1. Como o padre Antônio Vieira avalia as atitudes dos bandeirantes?
  2. Como os bandeirantes foram representados na obra de brêchêrê?

7. A maior parte dos monumentos públicos é feita para fixar a memória de pessoas e acontecimentos. Vamos fazer uma pesquisa de campo e produzir um relatório sobre eles. Para isso, a classe deve ser dividida em grupos, e cada grupo vai acompanhar as etapas a seguir.

  1. Escolham um monumento público da cidade e façam uma visita a ele.
  2. No local, tomem notas sobre o monumento:
    • qual é a altura aproximada dele?
    • existe um pedestal e uma estátua ou é constituído de uma peça única?
    • de que materiais o monumento é feito?
  1. Transcrevam suas anotações sobre o monumento e escrevam um relatório sobre ele. Além dos dados coletados na visita, o relatório deve apresentar uma reflexão sobre a memória que esse monumento pretende fixar.
  2. Divulguem o relatório em um site ou blog da classe ou da escola.