UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL

CAPÍTULO 12 SOCIEDADE MINERADORA

A descoberta de ouro no Brasil, no século dezoito, nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás levou muita gente a sonhar em ficar rica da noite para o dia. Por isso, houve grande corrida em direção às minas. No entanto, na sociedade do ouro, a riqueza brilhou para poucos.

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para começar

O que você entende pela frase: “Sonhar com ouro, viver sem tesouro”? Comente.

Fotografia. Vista de uma praça com chão de pedras, cercada por casas de paredes brancas e janelas nas fachadas, distribuídas de forma simétrica. Ao fundo, uma igreja com uma torre central, contendo um relógio de ponteiros, escadarias laterais e duas entradas frontais em formato de arcos.
Vista da Praça Tiradentes em Ouro Preto, Minas Gerais, o principal núcleo urbano na área de mineração no Brasil colonial. Fotografia de 2020. A descoberta de metais preciosos foi importante para o enriquecimento da metrópole portuguesa e para o povoamento e o desenvolvimento do interior da colônia. Marcas dessa época podem ser encontradas até hoje na arquitetura das cidades mineradoras, as quais constituem valioso patrimônio histórico e cultural da humanidade.
Fotografia. Vista aérea de uma paisagem de densa mata e morros cercando um vilarejo com pequenas casas e uma igreja central, com uma torre.
Vista de área de extração de minério de ferro em Itabira, Minas Gerais. Fotografia de 2021. A mineração é ainda uma importante atividade econômica em Minas Gerais, embora não se trate mais da extração de ouro e provoque forte impacto ambiental, como nos desastres ocorridos em Mariana (em 2015) e em Brumadinho (2019).
Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes brancas, duas torres laterais com tetos em formato de cúpula, uma cruz central, muros a circundando e um portão frontal. Sobre os muros, diversas esculturas.
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, Minas Gerais. Fotografia de 2020. As esculturas em pedra-sabão, feitas em tamanho natural entre 1796 e 1805, representam os doze profetas e são de autoria de Aleijadinho (1730-1814), principal expoente do Barroco brasileiro.

Produção de ouro

A produção de ouro no Brasil colonial foi imensa. A quantidade de metal extraída em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia correspondeu à metade de toda a produção mundial entre os séculos quinze e dezoito.

Minas Gerais

Entre 1693 e 1695, grandes quantidades de ouro foram encontradas em uma área que passou a ser chamada de Minas Gerais. Em busca de ouro, pessoas de diferentes localidades deslocaram-se para a região das minas. Além da população colonial, o ouro atraiu também os portugueses que moravam no reino (reinóis).

Durante os primeiros 60 anos do século dezoito, calcula-se que, a cada ano, de 8 a 10 mil reinóis partiam em direção às minas. Era muita gente saindo de Portugal. Por isso, em 1720, o governo português limitou as emigrações para a América portuguesa.

De acordo com o jesuíta Antonil, o sonho de ficar rico era tão grande que várias pessoas faziam enormes sacrifícios para chegar até as minas. Para lá foram brancos, mestiços, indígenas e negros. Eram homens e mulheres, idosos e jovens, nobres e pessoas do povo. Muitos que chegaram a essa região inóspitaglossário montaram barracas improvisadas e, sem alimentos suficientes, sofreram fome e morreram à míngua.

Com a chegada de toda essa gente, a região transformou-se rapidamente. Surgiram arraiaisglossário , vilas e cidades; em 1786, quase quatrocentas mil pessoas viviam em Minas Gerais. Isso representava cêrca de 15% da população de toda a América portuguesa.

Gravura. Vista de uma paisagem com montanhas, morros e vegetação densa, e entre a mata e os morros, vilarejos com casas pequenas e próximas. À frente, um grupo de pessoas próximas a um riacho.
Vila Rica, gravura de iôrram mórritis ruguendás, 1835. Vila Rica é a atual Ouro Preto.
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para pensar

  1. A descoberta de ouro despertou o sonho de ficar rico em muitas pessoas que se dirigiram a Minas Gerais. Em sua opinião, o desejo de enriquecer é um “grande sonho” das pessoas? Com os colegas, organize um diálogo sobre o tema. Cada um deve argumentar e também ouvir os argumentos dos demais.
  2. Que sonhos você gostaria de realizar durante sua vida? Quais são seus planos para conseguir realizá-los?

Guerra dos Emboabas

Os paulistas que descobriram o ouro em Minas Gerais queriam o direito exclusivo de explorá-lo. Porém, os reinóis e moradores de outras capitanias também pretendiam se apropriar dessa riqueza. Ocorreram, então, disputas pelo direito de exploração do ouro.

O conflito mais violento durou de 1707 a 1709 e ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. Os paulistas chamavam os portugueses de emboabas, que em Tupi significa “aves de pés cobertos ou emplumados”, por causa das botas que os reinóis usavam. Os paulistas também chamavam emboaba quem vinha de outras capitanias. Nos dois casos, era um tratamento desrespeitoso.

O fim da Guerra dos Emboabas foi desfavorável aos paulistas. Após dois anos e meio de lutas, muitos combatentes morreram e os paulistas não conseguiram a tão sonhada exclusividade na exploração das minas.

Procurando evitar novos conflitos, o governo português interveio na região para controlar as minas com mais rigor. Além disso, a Coroa elevou a vila de São Paulo à categoria de cidade e criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Posteriormente, em 1720, a capitania foi desmembrada em duas partes: São Paulo e Minas Gerais.

Pintura. Representação com diversas imagens. À esquerda, uma igreja com torres laterais e uma cruz central no teto, e homens vestindo túnicas à frente. À direita, um grupo de homens ao redor de uma árvore, alguns com o peito desnudo; outros vestindo casacos e chapéus. Também à direita, um homem ajoelhado sobre o chão, vestindo uma túnica escura, com as palmas das mãos unidas ao centro do corpo, e rosto voltado para cima. Ao centro, uma casa com janelas e uma entrada central, telhado triangular e homens portando armas de fogo pelas laterais. No canto superior esquerdo, um vilarejo com casas e construções entre matas e árvores. No canto superior direito, entre nuvens, uma mulher vestindo uma túnica azul, segurando uma criança em seu colo.
esvóto sobre a Guerra dos Emboabas, pintura de autoria desconhecida, 1749, encomendada pelo português Agostinho Pereira da Silva, que, vindo ao Brasil em busca de ouro, aqui chegou durante a Guerra dos Emboabas.

Mato Grosso e Goiás

Depois da Guerra dos Emboabas, os paulistas continuaram procurando metais preciosos em outras regiões. Em 1718, acharam jazidas de ouro no atual estado de Mato Grosso. Com essa descoberta, no ano seguinte, foi fundado o arraial de Cuiabá, elevado em 1727 à condição de vila, denominada Vila Real de Cuiabá. Mais tarde, Cuiabá tornou-se capital de Mato Grosso. Em 1725, foi encontrado ouro no atual estado de Goiás. Ali, em 1726, foi fundado o arraial de Santana, denominado, a partir de 1736, Vila Boa de Goiás, que deu origem à cidade de Goiás. Além de explorar o ouro, outro objetivo da Coroa portuguesa era ocupar a região, pois Mato Grosso e Goiás estavam mais perto das minas de prata exploradas pelos espanhóis, onde hoje ficam o Peru e a Bolívia.

Principais regiões mineradoras (século dezoito)

Mapa. Principais regiões mineradoras (século dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual, dividido entre estados. Em roxo, 'Regiões mineradoras', compreendendo as vilas e cidades: Cananéia, Santos, Iguape, São Paulo e Taubaté (no atual estado de São Paulo); São João del-Rei, Vila Rica, Sabará, Diamantina, Ribeirão do Carmo e São José del-Rei (Tiradentes) (no atual estado de Minas Gerais); Vila Boa (no atual estado de Goiás); Cuiabá e Vila Bela (no atual estado de Mato Grosso); Jacobina e a Chapada Diamantina (no atual estado da Bahia). No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 360 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 38.

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Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

De acordo com a divisão política atual em estados, onde se situavam as principais áreas mineradoras na época colonial?

PAINEL

Goiás Velho

Goiás tornou-se capitania em meados do século dezoito, quando foi desmembrada da capitania de São Paulo. A cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, foi séde administrativa da capitania, da província e do estado de Goiás, de 1748 a 1937. O local reúne um importante patrimônio histórico-cultural.

Fotografia. Destaque para uma rua de pedra estreita, cercada por pequenas casas, lado a lado, com janelas retangulares na fachada, e uma igreja com uma torre central ao fundo.
Habitada por cêrca de 23 mil pessoas, Goiás Velho tem ruas estreitas pavimentadas de pedras e com o mesmo traçado do século dezoito. Fotografia de 2021.
Fotografia. Destaque para a fachada de uma igreja, com paredes rosas, janelas no piso superior e uma entrada central retangular. No topo da construção, uma cruz. Às laterais, pequenas casas lado a lado.
O patrimônio histórico de Goiás Velho inclui várias igrejas católicas, como a de Nossa Senhora da Boa Morte. Fotografia de 2021. Sua construção foi concluída em 1779. Atualmente, funciona ali o Museu de Arte Sacra.
Fotografia. Fachada de um edifício de dois andares, com paredes brancas, diversas janelas retangulares e uma porta central. Ao redor, árvores com volumosas copas.
O Museu das Bandeiras é um imponente edifício do século dezoito construído em taipa de pilãoglossário . Fotografia de 2021. Ali já funcionaram a Câmara Municipal, a cadeia e a casa da fundição, onde era derretido o ouro extraído das minas de Goiás.
Fotografia. Destaque para uma casa de paredes brancas, telhado triangular e uma pequena ponte de madeira com cercados metálicos de cor branca.
Casa onde viveu Cora Coralina (1889-1985), no centro histórico da cidade de Goiás, às margens do Rio Vermelho. Fotografia de 2018. Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e é reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras. A casa da poetisa é hoje um museu, e o centro histórico da cidade é considerado patrimônio mundial da humanidade pela unêsco desde 2001.

contrôle e exploração das minas

O ouro encontrado na colônia pertencia ao Reino de Portugal, que cedia lotes de terra a quem pudesse explorá-los. O trabalho era feito por trabalhadores escravizados em locais chamados lavras ou datas. No século dezoito, grande parte do ouro extraído era de aluviãoglossário , ou seja, encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado a areia, cascalho e argila. Com o avanço da exploração de ouro, o comércio de africanos escravizados também aumentou na região mineradora. Lá eles eram forçados a extrair ouro dos rios, permanecendo o dia inteiro com as pernas dentro da água, atoladas no barro.

A Coroa portuguesa, que enfrentava dificuldades econômicas desde a Restauração em 1640, via no ouro uma solução para seus problemas. Com o interesse em aumentar a arrecadação, fiscalizava a exploração das minas, cobrando impostos sobre o ouro encontrado.

Fotografia. Destaque para o interior de uma igreja, com paredes douradas, afrescos no teto, lustres pendendo do teto e das laterais do salão, e um altar ao fundo.
Interior da Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto, Minas Gerais. Fotografia de 2019. Considerada uma das igrejas mais ricas do país, toda a pintura de seu interior é folheada a ouro.

Montanha de impostos

No início do século dezoito, foram criadas as Intendências das Minas, uma em cada capitania onde houvesse exploração de pedras ou metais preciosos. Esses órgãos tinham várias funções: estimular a produção, distribuir terras para exploração dos metais, fiscalizar o trabalho dos mineradores, evitar o contrabando e cobrar impostos.

Um dos impostos era chamado de quinto, pois correspondia à cobrança de 20% (quinta parte) de todo o metal extraído. No entanto, havia casos de sonegação e de contrabando, principalmente de ouro em pó. Para tentar impedir essas ilegalidades, o governo português determinou que o imposto fosse cobrado de acordo com o número de escravizados que os mineradores possuíam. Esse imposto foi chamado de capitação (pago por cabeça).

Com o objetivo de escapar da capitação, muitos mineradores libertavam (alforriavam) seus escravizados e, depois, contratavam alguns deles para trabalhar nas minas em troca de salário ou de parte do ouro explorado. Para os senhores, esse era um jeito de manter seu patrimônio e não gastar com alimentação, roupas e moradia dos cativos. Para os ex-escravizados, a alforria podia significar a miséria. Embora conquistassem a liberdade, era difícil conseguir se sustentar e manter suas famílias.

A cobrança desse imposto vigorou, aproximadamente, de 1735 a 1750, quando o quinto foi restabelecido. A capitação havia sido considerada muito rigorosa, pois obrigava os mineradores a pagar o imposto mesmo que não achassem ouro.

Fotografia. Destaque para uma escultura, vista de frente e por trás. Pela frente, nota-se uma mulher vestindo uma longa túnica marrom, com uma coroa na cabeça, segurando uma criança em seus braços. Aos seus pés, rosto de várias crianças lado a lado. Por trás, nota-se uma abertura para o interior da escultura.
Escultura de madeira com interior oco, feita no século dezoito, pertencente ao Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, Minas Gerais. Esse tipo de escultura muitas vezes foi usado para guardar o ouro em pó ou pedras preciosas contrabandeados das minas. Dessa prática, surgiu a expressão “santo do pau oco”, que significa “alguém que aparenta ser o que não é”.

Responda no caderno

para pensar

Qual é o significado de contrabando, impostos e sonegação? Depois de pesquisar e anotar o significado desses termos no caderno, reflita com os colegas: essas práticas ainda ocorrem na sociedade de hoje? Argumente.

Casas de fundição

Para facilitar a cobrança do quinto, o governo português criou as casas de fundição em 1719 (que foram extintas durante a cobrança da capitação e retomadas em 1750). Nesses locais, todo o ouro seria fundido e transformado em barras.

Ao receber o ouro, os funcionários das casas de fundição retiravam um quinto do total, derretiam, transformavam em barras e as marcavam com um selo da Coroa portuguesa. Esse selo comprovava o pagamento do imposto à Fazenda Real. Somente o ouro quintado podia ser negociado legalmente.

Quem carregasse pepitas, ouro em pó ou barras não quintadas poderia sofrer penas severas, como a perda de todos os bens ou mesmo a prisão perpétua.

As medidas tomadas pela Coroa para evitar a sonegação de impostos e o contrabando de ouro podem deixar a impressão de que somente os colonos praticavam contrabando. Mas os funcionários do rei também desviavam ouro e pedras preciosas.

Fotografia. Uma pequena barra de ouro, estreita e achatada, com inscrições. Entre elas, um selo à esquerda, e indicações numéricas à direita.
Barra de ouro feita na Casa de Fundição de Sabará, restabelecida em 1751. As casas de fundição foram criadas para melhor contrôle da produção de ouro e para facilitar a cobrança do quinto pela Coroa portuguesa.

Revolta de Vila Rica

Em 1720, colonos de Vila Rica, em Minas Gerais, se revoltaram contra a instalação das casas de fundição. A vila foi tomada por cêrca de duas mil pessoas, sob o comando do tropeiro (condutor de tropas de mulas e cavalos) Filipe dos Santos (1680-1720). Além de mineradores, o grupo era composto de centenas de escravizados armados por seus senhores.

Os revoltosos exigiam que o governador de Minas Gerais suspendesse a instalação das casas de fundição e reduzisse os impostos. O governador fingiu aceitar as exigências. Com isso, ganhou tempo para organizar suas fôrças e reagir à revolta. Pouco depois, os líderes da revolta foram presos, Filipe dos Santos foi executado e seu corpo foi exposto em praça pública.

Pintura. No centro da tela, em uma área iluminada, dois homens estão sendo imobilizados. Um deles, tem postura altiva e os punhos cerrados, está ferido e veste uma camisa branca com rasgos e uma calça amarela puída. À esquerda, um cavalo de pelagem branca, com a cabeça voltada para baixo. Também à esquerda, um homem de vestes simples estendendo o braço à sua frente, em direção a um outro homem, sentado no chão, com o peito desnudo, cabeça inclinada para baixo e as mãos esticadas para frente. À direita, sobre a escada de uma edificação, um homem em trajes nobres, sentado, vestindo um casaco verde com detalhes dourados, ladeado por outros homens, em pé, que o acompanham. Ao fundo, uma multidão de pessoas. Ao redor, edifícios, uma igreja e casas.
Julgamento de Filipe dos Santos, pintura de Antônio Parreiras, cêrca de 1923.

Exploração de diamantes

A exploração de diamantes começou em 1729, no Arraial do Tijuco (atual Diamantina) e Serro do Frio ou Vila do Príncipe (atual Sêrro). Calcula-se que, entre 1730 e 1830, tenham sido extraídos cêrca de 160 quilogramas de diamantes dessa região.

Gravura. Uma área rochosa, de terreno acidentado, pelo qual homens trabalham.  Ao fundo, um fluxo de água por entre as rochas e o solo. Os homens vestem roupas simples e executam diferentes tarefas. Alguns erguem picaretas em direção ao solo, outros carregam bacias sobre suas cabeças. Ao fundo, observando o trabalho, um homem vestindo casaco, camisa, botas e chapéu, apoiando com uma das mãos um instrumento longo sobre o solo.
Pintura mostrando a exploração de diamantes no Distrito Diamantino, feita pelo artista e engenheiro italiano Carlos Julião, século dezoito.

Diante das dificuldades para controlar a exploração de diamantes, o governo português decidiu entregar a extração das pedras a exploradores particulares que tivessem condições de assumir o negócio.

A partir de 1740, teve início um contrato entre a Coroa portuguesa e um contratador, pessoa responsável pela exploração dos diamantes e pela entrega de parte deles à Fazenda Real. Essa fórma de exploração durou até 1771, quando a Coroa decidiu criar a Junta da Administração dos Diamantes.

Os fiscais da Junta tinham poderes sobre a população que vivia na região de exploração de diamantes, chamada de Distrito Diamantino. Podiam, entre outras coisas, confiscar bens e controlar a entrada e a saída de pessoas. Mas nem assim o contrabando de diamantes acabou.

Gravura. Homens com os peitos desnudos, sentados sobre bancos de madeira, segurando bacias em direção a um pequeno rio com água. Ao redor deles, três homens vestindo chapéus, camisas e casacos. Um deles, sentado, à esquerda, observa os trabalhadores e apoia uma arma de cano longo ao chão. Em segundo plano, terreno acidentado e montanhoso.
Gravura que representa trabalhadores lavando diamantes em Minas Gerais sob a vigilância constante de capatazes, feita com base na obra de gótlíbi tobías uíláime, produzida em 1840.

Chica da Silva, vida e contexto

Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796), ou simplesmente Chica da Silva, tornou-se uma famosa personagem da sociedade mineradora colonial. Ela era filha de uma escravizada minaglossário e de um homem branco. Nasceu escravizada, mas conquistou sua alforria em 1753. Sua liberdade foi concedida por seu proprietário, o contratador do Distrito Diamantino João Fernandes de Oliveira (1720-1779).

Entre 1753 e 1770, Chica e João Fernandes moraram juntos e constituíram uma família. Porém, foram impedidos de se casar devido às leis e aos costumes da época. Nessa união, eles tiveram treze filhos.

João Fernandes reconheceu a paternidade de todos os filhos e garantiu que eles fossem seus legítimos herdeiros. Chica cuidou para que suas filhas estudassem na melhor instituição religiosa da região, o Recolhimento de Macaúbas.

Chica da Silva morreu em 1796, sendo enterrada com honras na Igreja de São Francisco de Assis. Assim terminou a trajetória de uma mulher forraglossário que, mesmo vivendo em uma sociedade profundamente desigual, conquistou uma posição social importante e se inseriu na elite mineradora.

Fotografia. Fachada de uma casa com dois andares, com paredes brancas, janelas retangulares verdes e uma porta central amarela. À frente, na rua, uma mulher, uma jovem e uma menina, caminham pela rua feita com pedras.
Casa em que Chica da Silva viveu com o contratador João Fernandes de Oliveira, provavelmente entre 1755 e 1770, em Diamantina, Minas Gerais. Fotografia de 2015. A cidade de Diamantina é considerada patrimônio mundial pela Unesco desde 1999.

Sociedade mineradora

Em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, a exploração de ouro e diamantes estimulou a formação de arraiais que levaram à fundação de vilas e, posteriormente, cidades. Pela primeira vez na história colonial, vários núcleos urbanos foram criados longe do litoral. Observe alguns exemplos no quadro.

Núcleos urbanos em regiões mineradoras no século XVIII

Localidade

Nome atual

Data da fundação

Vila Rica

Ouro Preto (MG)

1711

Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo

Mariana (MG)

1711

Vila do Príncipe

Serro (MG)

1714

Vila de São José do Rio das Mortes

Tiradentes (MG)

1718

Vila Real de Cuiabá

Cuiabá (MT)

1727

Vila Boa de Goiás

Goiás (GO)

1736


Em Minas Gerais, desenvolveu-se uma sociedade urbana, composta de comerciantes, funcionários públicos, profissionais liberais, artesãos, religiosos e milhares de escravizados. A riqueza do ouro, porém, concentrava-se nas mãos de poucos senhores que exploravam minas. A situação econômica da maioria da sociedade era de pobreza, e não de riqueza.

O crescimento de cidades em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás movimentou o mercado interno da colônia. Comerciantes de outras capitanias e de Portugal abasteciam as regiões mineradoras com alimentos, couro, roupas, ferramentas e outros produtos. A produção local também aumentou. Em Minas Gerais, por exemplo, fabricavam-se tecidos, criava-se gado e produziam-se derivados de leite, como o queijo.

A mineração transforma a colônia

No século dezoito, as minas atraíram muitas pessoas para o interior, favorecendo a conquista do território e o aumento da população no Brasil colonial. Calcula-se que a população cresceu aproximadamente 11 vezes, passando de trezentas mil (1700) para mais de 3,25 milhões de pessoas (1800). Além disso, o abastecimento da área mineradora ajudou a integrar as capitanias brasileiras, que antes ficavam mais isoladas.

Em 1763, a capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. O porto do Rio, próximo das áreas de mineração, facilitava a comunicação com Portugal. Até então, o ouro das minas era levado para Salvador, na Bahia, ou Paraty, no Rio de Janeiro, onde navios e marinheiros embarcavam a preciosa mercadoria, o que levava mais tempo. Pelo porto do Rio de Janeiro também chegaram, a partir do século dezoito, a maioria dos africanos escravizados.

Fotografia. Diferentes tipos de instrumentos, como um prato metálico, pequenos recipientes, um baú e três recipientes retangulares com cabos finos.
Equipamentos utilizados no Brasil colonial para extração, fundição, aferição e transporte do ouro.

OUTRAS HISTÓRIAS

Queijo artesanal de Minas

Durante a época da exploração do ouro e diamante, começou a ser produzido o queijo artesanal de Minas, com técnicas trazidas de Portugal e adaptadas às condições naturais e sociais das serras mineiras. Desde então, essa comida se tornou um símbolo ligado à cultura e à memória dos mineiros.

Atualmente, o queijo artesanal é fabricado em várias regiões de Minas Gerais. Cada região produz queijos com sabores, consistências e aparências diferentes, sempre tendo como base o leite cru, recém-tirado da vaca. Em geral, a produção é organizada por famílias que vivem em pequenas propriedades rurais. Para essas famílias, fazer queijo é, além de uma fonte de renda, uma tradição.

No dia a dia dos mineiros, o queijo costuma ser consumido com café ou usado para preparar pão de queijo, queijo com goiabada, broas, farofas, entre outros salgados e doces. Além disso, há referências ao queijo em expressões e ditados populares. Por exemplo, quando uma pessoa tem tudo o que é necessário para resolver um problema, é dito que ela está “com a faca e o queijo na mão”.

Em 2006, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ifã declarou o modo de fazer queijo artesanal de Minas um patrimônio imaterial do Brasil.

Fotografia. Destaque para uma mulher vista por uma janela retangular, segurando uma rodela de queijo entre suas mãos. Ela veste uma camiseta preta e um boné sobre sua cabeça.
Moradora de pequena propriedade rural exibe queijo produzido artesanalmente na Serra da Canastra, em São Roque de Minas, Minas Gerais. Fotografia de 2021.

Responda no caderno

Atividade

De quais comidas você se lembra quando pensa na cidade onde mora? Por que acha que isso acontece?

Artes plásticas, arquitetura e música

Na Europa, entre os séculos dezesseis e dezoito, o Barroco surgiu como manifestação artística. Na América portuguesa, o estilo predominou na arquitetura, nas artes plásticas e na música até o começo do século dezenove. Todos os edifícios barrocos das cidades da região mineradora foram construídos por africanos escravizados ou seus descendentes.

A arte barroca é marcada pela sensação de movimento, pela expressão de emoções e pela grandiosidade. Registros barrocos podem ser encontrados nos estados da Bahia, de Pernambuco, da Paraíba, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais e de Mato Grosso.

Na arquitetura e na escultura, destacou-se Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido como Aleijadinho, filho de um arquiteto português com uma mulher escravizada. Mesmo sofrendo de uma doença que deformou suas mãos e seus pés, fez projetos e obras de igrejas em Ouro Preto, Congonhas e São João del-Rei, além de centenas de imagens religiosas em madeira e pedra-sabão.

Fotografia. Destaque para uma escultura de um homem de cabelos compridos, vestindo uma túnica, e ao fundo, a fachada de uma igreja vista parcialmente, com destaque para uma torre lateral e uma cruz ao centro.
Escultura do profeta Jeremias que compõe o conjunto de estátuas do adroglossário do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, uma das obras-primas de Aleijadinho, em Congonhas, Minas Gerais. Fotografia de 2021.

Na pintura, destacou-se Manuel da Costa Ataíde (1762-cêrca de 1830), mais conhecido como Mestre Ataíde. Pintou o interior de igrejas de Ouro Preto, Mariana e do Colégio do Caraça e lecionou arquitetura e pintura.

Pintura. Uma mulher vestindo uma longa túnica azul, ao centro, rodeada de nuvens e seres com aspecto angelical, com asas em suas costas. De sua cabeça, partem feixes de luz.
Detalhe de Assunção da Virgem, pintura de Mestre Ataíde no forro da nave da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, 1801-1812. Note que a Virgem Maria (ao centro) foi representada com traços afrodescendentes.

Na música barroca, destacaram-se José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1746-1808) e Inácio Parreiras Neves (1730-1794). A música era uma expressão cultural muito apreciada, sendo comum a formação de corais de crianças que cantavam nas festas religiosas. Havia também bandas de jovens que se apresentavam em público ou nas casas dos ricos mineradores.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Que estilo de música você gosta de ouvir? Por quê?
  2. Você gostaria de aprender a cantar ou a tocar algum instrumento musical? Comente.
  3. Você ouve música em rádio, internet, CD ou frequenta chôus? Como você acha que as pessoas dos séculos dezessete e dezoito ouviam música?

Patrimônio histórico

Patrimônio histórico é o conjunto de bens naturais e culturais considerados significativos para a humanidade. A Unesco, órgão da ONU para questões de educação, ciência e cultura, adota procedimentos e métodos científicos para avaliar e definir patrimônios históricos mundiais.

O Brasil possui 14 locais que figuram na lista oficial da Unesco. Isso significa que as obras de arte, os edifícios ou mesmo uma cidade inteira que recebem essa designação merecem cuidados especiais para que as gerações futuras possam conhecer e valorizar sua história.

Desse conjunto, dez são referências históricas do Brasil colonial.

  • Cidade Histórica de Ouro Preto Minas Gerais;
  • Centro Histórico de Olinda Pernambuco;
  • Missões Jesuíticas Guarani, nas ruínas de São Miguel das Missões Rio Grande do Sul;
  • Centro Histórico de Salvador Bahia ;
  • Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo Minas Gerais;
  • Centro Histórico de São Luís Maranhão ;
  • Centro Histórico de Diamantina (Minas Gerais);
  • Centro Histórico de Goiás Goiás ;
  • Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão Sergipe;
  • Sítio Arqueológico Cais do Valongo Rio de Janeiro.

Existem também os patrimônios imateriais, como a fórma tradicional de produzir queijo na Serra da Canastra e a fórma de fazer o acarajé na Bahia. Preservar valores, memórias e tradições faz parte de nossas vivências históricas.

Valorizar esse legado cultural e ambiental é um exercício de cidadania, que envolve conhecer e respeitar a memória coletiva dos grupos que construíram o país.

Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes brancas e detalhes em tijolos, duas torres laterais, uma cruz, ao centro, e uma entrada frontal retangular.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de inspiração barroca, no Centro Histórico de Ouro Preto, Minas Gerais. Fotografia de 2021. A cidade foi considerada patrimônio mundial pela Unesco em 1980.
Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes de tijolos, duas torres laterais com tetos triangulares e janelas, e uma cruz ao centro. Possui entradas centrais e laterais, em coloração verde.
Igreja de São Francisco, também construída em estilo barroco, no Largo do Cruzeiro, em Salvador, Bahia. Fotografia de 2021. O Centro Histórico de Salvador foi considerado patrimônio mundial pela Unesco em 1985.

Responda no caderno

para pensar

  1. Explique por que o queijo da Serra da Canastra e o acarajé da Bahia são considerados patrimônios imateriais do Brasil.
  2. Como podemos contribuir para a preservação dos patrimônios históricos?
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica INTERNET

Igreja de São Francisco em Salvador, Bahia

Disponível em: https://oeds.link/TABhgu. Acesso em: 17 fevereiro2022.

O site disponibiliza uma visita virtual de 360° pelo interior da Igreja de São Francisco, em Salvador, Bahia.

  Escravidão e sobrevivência nas minas

De modo geral, a extração de pedras e metais preciosos exigia investimentos (dinheiro, equipamentos e mão de obra) mais baixos do que a produção de açúcar. Assim, para uma pequena parcela da população, a atividade mineradora foi um negócio atraente. No entanto, para a grande maioria, a sociedade mineradora foi tão excludente e cruel quanto a açucareira.

No final do século dezoito, cêrca de 80% da população de Minas Gerais era negra ou mestiça. Os escravizados podiam ser castigados de fórma privada ou pública. Espancamentos, chibatadas e outras crueldades podiam ser aplicados de modo privado. Mas, quando a falta era grave, como o assassinato de senhores, o cativo era punido publicamente pelo governo. A pena mais severa aplicada aos cativos era a sentença de morte, com a exposição do corpo do réu em praça pública.

Diante dos abusos da escravidão, homens e mulheres cativos lutaram contra os maus-tratos e a exploração de seu trabalho. Entre as fórmas de resistência destacam-se as fugas, a formação de quilombos e as revoltas.

Pintura. No centro, representação artística do continente americano, em tons de marrom, com destaque para a América do Sul. Setas, direcionadas a diferentes sentidos, foram representadas sobre um fundo branco partindo da porção oeste do território sul-americano. Na porção leste, nota-se o termo 'Brasil'. À direita, representação artística do continente africano, onde se lê a palavra 'África', os anos de '1534' e de'1870' e a palavra 'diáspora'. Na parte superior esquerda, uma rosa dos ventos amarela, representada em grande proporção, com as letras 'N', 'L', 'S' e 'W' em quatro das oito pontas. Na parte inferior, um oceano de águas azuis com embarcações.
Atlântico, pintura de Arjan Martins, 2016. A obra tem como foco a migração forçada de africanos pelo Oceano Atlântico para várias partes do mundo.

OUTRAS HISTÓRIAS

Irmandades negras

Em diversos locais da América portuguesa, a reunião de pessoas escravizadas era proibida pela administração colonial. Nesse contexto, as irmandades religiosas – criadas para aproximar a população de origem africana do catolicismo – eram, muitas vezes, o único meio de associação permitido aos negros e aos escravizados. Sobre essas organizações, leia o texto a seguir.

“Entre as instituições em torno das quais os negros se agregaram de fórma mais ou menos autônoma, destacam-se as confrarias ou irmandades religiosas, dedicadas à devoção de santos católicos. Elas funcionavam como sociedades de ajuda mútua. Seus associados contribuíam com reticências taxas anuais, recebendo em troca assistência quando doentes, quando presos, quando famintos ou quando mortos. Quando mortos porque uma das principais funções das irmandades era proporcionar aos associados funerais solenes reticências. A irmandade representava um espaço de relativa autonomia negra, no qual seus membros reticências construíam identidades sociais significativas no interior de um mundo às vezes sufocante e sempre incerto. A irmandade era uma espécie de família ritual, em que africanos desenraizados de suas terras viviam e morriam solidariamente. Idealizadas pelos brancos como um mecanismo de domesticação do espírito africano, através da africanização da religião dos senhores, elas vieram a constituir um instrumento de identidade e solidariedade coletivas.”

REIS, João José. Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão. Tempo, Rio de Janeiro, volume 2, número 3, página 7-33, 1996.

Fotografia. Fachada de uma igreja, com paredes brancas, vigas verticais de tijolos, uma cruz central no teto e uma entrada retangular. À frente da entrada, uma mulher vista de costas.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, erguida entre 1740 e 1770, em estilo barroco, pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Tiradentes, Minas Gerais. Fotografia de 2018.

Responda no caderno

Atividades

  1. De acordo com o texto, com que objetivos foram criadas as irmandades religiosas negras?
  2. Que funções essas organizações tinham para a comunidade? Explique.

Queda na produção de ouro

O auge da produção de ouro ocorreu entre 1733 e 1748. Mas a riqueza produzida não beneficiava a todos. A maioria dos habitantes das regiões mineiras era pobre.

Na segunda metade do século dezoito, a produção do ouro foi diminuindo. O governo português atribuía o fato ao desleixo dos mineiros e ao contrabando do ouro. Por isso, tornou mais rígido o contrôle das minas para obrigar os mineiros a pagar os impostos atrasados. Por exemplo, em 1750, o rei português ordenou o pagamento de 100 arrobas de ouro por ano (ou 1500 quilos). Os mineiros não conseguiam pagar tantos impostos e as dívidas se acumulavam.

Para receber os impostos atrasados, a Coroa decretou, em 1765, a primeira derrama, que era a cobrança forçada de impostos em atraso. Quem não tivesse condições de pagar teria seus bens confiscados pela Coroa. Ao executar a derrama, as autoridades não pouparam ninguém. Isso piorou a vida de muita gente e fez surgir revoltas, como a Conjuração ou Inconfidência Mineira, em 1789.

Produção de ouro no Brasil (século dezoito)

Gráfico. Produção de ouro no Brasil (século dezoito). Barras indicando toneladas em diferentes períodos. No eixo vertical, “Toneladas”. No eixo horizontal, “Anos”. De 1701 a 1710: dois degraus, de 0 a menos de 5.  De 1710 a 1720: um degrau pouco mais que 5. De 1720 a 1730: dois degraus entre 5 e 10. De 1730 a 1740: dois degraus, um abaixo de 10, e um próximo de 15. De 1740 a 1750: dois degraus próximos de 15. De 1750 a 1760: dois degraus, um acima de 15 e um entre 15 e 10. De 1760 a 1770: dois degraus, um acima de 10 e outro pouco abaixo de 10. De 1770 a 1780: dois degraus, ambos abaixo de 10. De 1780 a 1790: dois degraus, um pouco acima de 5 e outro pouco abaixo de 5. De 1790 a 1800: dois degraus, ambos abaixo de 5.
Fonte: PINTO, Virgílio Noya. In: SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século dezoito. quarta edição Rio de Janeiro: Graal, 2004. página 75.

Com quem ficou o ouro?

A produção do ouro contribuiu para o crescimento econômico e artístico da região das minas. Contudo, a maior parte desse ouro não ficou no Brasil, mas serviu aos interesses de outros países.

Os comerciantes e a família real de Portugal lucraram com o ouro extraído do Brasil, sobretudo na primeira metade do século dezoito. Nesse período, as finanças portuguesas ficaram equilibradas. Mas, logo depois, os portugueses voltaram a depender do comércio com os ingleses, em razão do Tratado de Methuen ou Tratado dos Panos e Vinhos, de 1703.

Pelo tratado, o governo português exportava vinhos para a Inglaterra e importava dos ingleses produtos manufaturados, como tecidos. Como os produtos ingleses eram mais caros, os portugueses acabaram ficando em dívida com seus parceiros. Para pagar essa dívida, os portugueses utilizaram o ouro brasileiro.

Gravura. Diferentes tipos de minerais. Indicado pelo número '1', no canto superior esquerdo, uma rocha representada com partes verdes e detalhes vermelhos em seu interior. Indicado pelo número '2', no canto superior direito, uma rocha escura com detalhes amarelos.  Indicado pelo número '3', na parte superior, centralizado, três blocos de cubos de ouro. Indicado pelo número '4', ao centro, uma rocha com a borda avermelhada e, em seu interior, detalhes brancos e alaranjados. Indicado pelo número '5', no canto inferior esquerdo, um mineral de cor preta. Indicado pelo número '6', no canto inferior direito, rocha avermelhada com minerais amarelos e brancos.
Gravura extraída do livro de djôn máuêViagens pelo interior do Brasil, de 1812, representando os minerais coletados por ele: 1. cromo de chumbo, 2. ouro em clorito, 3. ouro em cubo, 4. hidrogilita, 5. óxido vermelho de titânio, 6. massa conglomerada contendo ouro e diamante.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

  1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.
    1. A exploração do ouro promoveu grandes migrações para o interior do Brasil colonial.
    2. Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas conquistaram o direito exclusivo de explorar o ouro de Minas Gerais.
    3. Aleijadinho e Mestre Ataíde são expoentes da arte barroca brasileira.
    4. O governo português conseguiu impedir completamente o contrabando e a sonegação nas regiões mineradoras durante o período colonial.
    5. O tropeiro Filipe dos Santos liderou uma revolta contra a instalação das casas de fundição.
  2. Neste capítulo, abordamos alguns aspectos da mineração durante o período colonial. Agora, vamos investigar características da atividade extrativa mineradora nos dias atuais. Para isso, pesquise e reflita sobre as questões a seguir.
    • Ainda existe atividade mineradora no Brasil? Em que estados?
    • Quais são os principais minérios explorados?
    • A atividade mineradora pode causar problemas ambientais? Quais?
    • Pedras e metais preciosos são tão valiosos hoje quanto eram no período colonial? Justifique sua resposta.
    • O que consideramos “ouro” nos dias atuais? Por quê?

Interpretar texto e imagem

3. Leia o texto do historiador Uóren Dian (1932-1994) sobre a extração do ouro no século dezoito e faça o que se pede a seguir.

“A princípio, a extração de ouro era feita por lavagem na bateiaglossário . As turmas de escravos trabalhavam com água pelos joelhos nos leitos dos riachos e recolhiam cascalho e água em bacias reticências de madeira, que eram agitadas e novamente cheias até restar apenas os flocos de ouro mais pesados.

Foram africanos da Costa do Ouro que ensinaram seus proprietários a batearglossário e se mostraram peritos em localizar minas. Esses trabalhadores alcançavam preços mais elevados porque, acreditava-se, eram especialmente afortunados ou praticantes de uma espécie de bruxaria para encontrar ouro.

Nos anos de 1730, a trabalhosa e insalubreglossário atividade de batear reticências não era mais lucrativa em diversas minas. Os arrendatários agora dragavamglossário os riachos maiores com caçambas primitivas e desviavam riachos menores para pesquisar reticências seus leitos. Feito isso, empreendia-se a lavagem dos aluviões reticências.

A degradação provocada pela mineração foi mais intensa nas planícies reticências e nos fundos dos rios. Registrou-se que os rios Sabará e das Velhas começavam a tornar-se lamacentos devido à lavagem de aluviões.”

dín Uóren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. página 113.

  1. De acordo com o texto, quem introduziu a técnica de batear na exploração do ouro encontrado na colônia brasileira?
  2. A exploração do ouro provocou danos ambientais à região das minas? Explique.

integrar com matemática

4. Observe novamente o gráfico da página 237 e responda às questões.

  1. Em que período houve maior produção de ouro?
  2. Quantos anos durou o auge da extração de ouro?

integrar com arte

5. A seguir, observe uma gravura do artista iôrram mórritis ruguendás (1802-1858) que representa o trabalho de extração do ouro de aluvião realizado pelos africanos escravizados. O ouro de aluvião era aquele encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado à areia, ao cascalho e à argila. Nos garimpos, esses materiais eram separados do ouro por meio de peneiras e bateias.

Gravura. Uma área rochosa e de terreno acidentado, com um fluxo de água por entre as pedras e o solo, pelo qual homens e mulheres circulam. Ao fundo, duas mulheres com vestidos simples, uma descendo e a outra subindo a área rochosa, carregando bacias sobre suas cabeças. Os homens, em maioria, estão descalços, com o peito desnudo, vestem bermudas e desempenham diferentes tarefas. Alguns deles estão no interior das águas, segurando lonas de tecidos e peneiras. Também há no local, homens vestindo calça, camisa e chapéu, fiscalizando o trabalho.
Detalhe de Lavagem do minério do ouro nas proximidades da Montanha do Itacolomi, gravura de iôrram mórritis ruguendás, 1835.
  1. Qual é o tema dessa gravura?
  2. Quem é o autor dessa gravura?
  3. Quando ela foi elaborada?
  4. Que pessoas foram representadas? O que elas estão fazendo?
  5. Crie outro título para essa obra.

Glossário

Inóspito
: lugar em que é difícil viver.
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Arraial
: pequeno povoado.
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Taipa de pilão
: técnica árabe de construção, adotada pelos portugueses na Idade Média e trazida para o Brasil. A taipa de pilão é uma mistura de terra, pequenas pedras e fibras. A mistura era socada em fôrmas de madeira retangulares, as taipas.
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Aluvião
: depósito de cascalho, areia, argila etcétera que se acumula nos leitos e nas margens dos rios.
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Escravizado mina
: pessoa escravizada nascida na Costa da Mina, uma região do Golfo da Guiné, de onde veio grande parte dos escravizados embarcados para as Américas.
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Forro
: alforriado, liberto da escravidão.
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Adro
: pátio externo localizado em frente ou ao lado de uma igreja.
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Bateia
: vasilha usada para garimpar ouro e diamante.
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Batear
: lavar na bateia.
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Insalubre
: que não é saudável.
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Dragar
: retirar areia ou lama do fundo do mar, de rios, canais, lagos etcétera.
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