UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL
CAPÍTULO 12 SOCIEDADE MINERADORA
A descoberta de ouro no Brasil, no século dezoito, nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás levou muita gente a sonhar em ficar rica da noite para o dia. Por isso, houve grande corrida em direção às minas. No entanto, na sociedade do ouro, a riqueza brilhou para poucos.
responda oralmente
para começar
O que você entende pela frase: “Sonhar com ouro, viver sem tesouro”? Comente.
Produção de ouro
A produção de ouro no Brasil colonial foi imensa. A quantidade de metal extraída em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia correspondeu à metade de toda a produção mundial entre os séculos quinze e dezoito.
Minas Gerais
Entre 1693 e 1695, grandes quantidades de ouro foram encontradas em uma área que passou a ser chamada de Minas Gerais. Em busca de ouro, pessoas de diferentes localidades deslocaram-se para a região das minas. Além da população colonial, o ouro atraiu também os portugueses que moravam no reino (reinóis).
Durante os primeiros 60 anos do século dezoito, calcula-se que, a cada ano, de 8 a 10 mil reinóis partiam em direção às minas. Era muita gente saindo de Portugal. Por isso, em 1720, o governo português limitou as emigrações para a América portuguesa.
De acordo com o jesuíta Antonil, o sonho de ficar rico era tão grande que várias pessoas faziam enormes sacrifícios para chegar até as minas. Para lá foram brancos, mestiços, indígenas e negros. Eram homens e mulheres, idosos e jovens, nobres e pessoas do povo. Muitos que chegaram a essa região inóspitaglossário montaram barracas improvisadas e, sem alimentos suficientes, sofreram fome e morreram à míngua.
Com a chegada de toda essa gente, a região transformou-se rapidamente. Surgiram arraiaisglossário , vilas e cidades; em 1786, quase quatrocentas mil pessoas viviam em Minas Gerais. Isso representava cêrca de 15% da população de toda a América portuguesa.
responda oralmente
para pensar
- A descoberta de ouro despertou o sonho de ficar rico em muitas pessoas que se dirigiram a Minas Gerais. Em sua opinião, o desejo de enriquecer é um “grande sonho” das pessoas? Com os colegas, organize um diálogo sobre o tema. Cada um deve argumentar e também ouvir os argumentos dos demais.
- Que sonhos você gostaria de realizar durante sua vida? Quais são seus planos para conseguir realizá-los?
Guerra dos Emboabas
Os paulistas que descobriram o ouro em Minas Gerais queriam o direito exclusivo de explorá-lo. Porém, os reinóis e moradores de outras capitanias também pretendiam se apropriar dessa riqueza. Ocorreram, então, disputas pelo direito de exploração do ouro.
O conflito mais violento durou de 1707 a 1709 e ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. Os paulistas chamavam os portugueses de emboabas, que em Tupi significa “aves de pés cobertos ou emplumados”, por causa das botas que os reinóis usavam. Os paulistas também chamavam emboaba quem vinha de outras capitanias. Nos dois casos, era um tratamento desrespeitoso.
O fim da Guerra dos Emboabas foi desfavorável aos paulistas. Após dois anos e meio de lutas, muitos combatentes morreram e os paulistas não conseguiram a tão sonhada exclusividade na exploração das minas.
Procurando evitar novos conflitos, o governo português interveio na região para controlar as minas com mais rigor. Além disso, a Coroa elevou a vila de São Paulo à categoria de cidade e criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Posteriormente, em 1720, a capitania foi desmembrada em duas partes: São Paulo e Minas Gerais.
Mato Grosso e Goiás
Depois da Guerra dos Emboabas, os paulistas continuaram procurando metais preciosos em outras regiões. Em 1718, acharam jazidas de ouro no atual estado de Mato Grosso. Com essa descoberta, no ano seguinte, foi fundado o arraial de Cuiabá, elevado em 1727 à condição de vila, denominada Vila Real de Cuiabá. Mais tarde, Cuiabá tornou-se capital de Mato Grosso. Em 1725, foi encontrado ouro no atual estado de Goiás. Ali, em 1726, foi fundado o arraial de Santana, denominado, a partir de 1736, Vila Boa de Goiás, que deu origem à cidade de Goiás. Além de explorar o ouro, outro objetivo da Coroa portuguesa era ocupar a região, pois Mato Grosso e Goiás estavam mais perto das minas de prata exploradas pelos espanhóis, onde hoje ficam o Peru e a Bolívia.
Principais regiões mineradoras (século dezoito)
Responda no caderno
observando o mapa
De acordo com a divisão política atual em estados, onde se situavam as principais áreas mineradoras na época colonial?
PAINEL
Goiás Velho
Goiás tornou-se capitania em meados do século dezoito, quando foi desmembrada da capitania de São Paulo. A cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, foi séde administrativa da capitania, da província e do estado de Goiás, de 1748 a 1937. O local reúne um importante patrimônio histórico-cultural.
contrôle e exploração das minas
O ouro encontrado na colônia pertencia ao Reino de Portugal, que cedia lotes de terra a quem pudesse explorá-los. O trabalho era feito por trabalhadores escravizados em locais chamados lavras ou datas. No século dezoito, grande parte do ouro extraído era de aluviãoglossário , ou seja, encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado a areia, cascalho e argila. Com o avanço da exploração de ouro, o comércio de africanos escravizados também aumentou na região mineradora. Lá eles eram forçados a extrair ouro dos rios, permanecendo o dia inteiro com as pernas dentro da água, atoladas no barro.
A Coroa portuguesa, que enfrentava dificuldades econômicas desde a Restauração em 1640, via no ouro uma solução para seus problemas. Com o interesse em aumentar a arrecadação, fiscalizava a exploração das minas, cobrando impostos sobre o ouro encontrado.
Montanha de impostos
No início do século dezoito, foram criadas as Intendências das Minas, uma em cada capitania onde houvesse exploração de pedras ou metais preciosos. Esses órgãos tinham várias funções: estimular a produção, distribuir terras para exploração dos metais, fiscalizar o trabalho dos mineradores, evitar o contrabando e cobrar impostos.
Um dos impostos era chamado de quinto, pois correspondia à cobrança de 20% (quinta parte) de todo o metal extraído. No entanto, havia casos de sonegação e de contrabando, principalmente de ouro em pó. Para tentar impedir essas ilegalidades, o governo português determinou que o imposto fosse cobrado de acordo com o número de escravizados que os mineradores possuíam. Esse imposto foi chamado de capitação (pago por cabeça).
Com o objetivo de escapar da capitação, muitos mineradores libertavam (alforriavam) seus escravizados e, depois, contratavam alguns deles para trabalhar nas minas em troca de salário ou de parte do ouro explorado. Para os senhores, esse era um jeito de manter seu patrimônio e não gastar com alimentação, roupas e moradia dos cativos. Para os ex-escravizados, a alforria podia significar a miséria. Embora conquistassem a liberdade, era difícil conseguir se sustentar e manter suas famílias.
A cobrança desse imposto vigorou, aproximadamente, de 1735 a 1750, quando o quinto foi restabelecido. A capitação havia sido considerada muito rigorosa, pois obrigava os mineradores a pagar o imposto mesmo que não achassem ouro.
Responda no caderno
para pensar
Qual é o significado de “contrabando”, “impostos” e “sonegação”? Depois de pesquisar e anotar o significado desses termos no caderno, reflita com os colegas: essas práticas ainda ocorrem na sociedade de hoje? Argumente.
Casas de fundição
Para facilitar a cobrança do quinto, o governo português criou as casas de fundição em 1719 (que foram extintas durante a cobrança da capitação e retomadas em 1750). Nesses locais, todo o ouro seria fundido e transformado em barras.
Ao receber o ouro, os funcionários das casas de fundição retiravam um quinto do total, derretiam, transformavam em barras e as marcavam com um selo da Coroa portuguesa. Esse selo comprovava o pagamento do imposto à Fazenda Real. Somente o ouro quintado podia ser negociado legalmente.
Quem carregasse pepitas, ouro em pó ou barras não quintadas poderia sofrer penas severas, como a perda de todos os bens ou mesmo a prisão perpétua.
As medidas tomadas pela Coroa para evitar a sonegação de impostos e o contrabando de ouro podem deixar a impressão de que somente os colonos praticavam contrabando. Mas os funcionários do rei também desviavam ouro e pedras preciosas.
Revolta de Vila Rica
Em 1720, colonos de Vila Rica, em Minas Gerais, se revoltaram contra a instalação das casas de fundição. A vila foi tomada por cêrca de duas mil pessoas, sob o comando do tropeiro (condutor de tropas de mulas e cavalos) Filipe dos Santos (1680-1720). Além de mineradores, o grupo era composto de centenas de escravizados armados por seus senhores.
Os revoltosos exigiam que o governador de Minas Gerais suspendesse a instalação das casas de fundição e reduzisse os impostos. O governador fingiu aceitar as exigências. Com isso, ganhou tempo para organizar suas fôrças e reagir à revolta. Pouco depois, os líderes da revolta foram presos, Filipe dos Santos foi executado e seu corpo foi exposto em praça pública.
Exploração de diamantes
A exploração de diamantes começou em 1729, no Arraial do Tijuco (atual Diamantina) e Serro do Frio ou Vila do Príncipe (atual Sêrro). Calcula-se que, entre 1730 e 1830, tenham sido extraídos cêrca de 160 quilogramas de diamantes dessa região.
Diante das dificuldades para controlar a exploração de diamantes, o governo português decidiu entregar a extração das pedras a exploradores particulares que tivessem condições de assumir o negócio.
A partir de 1740, teve início um contrato entre a Coroa portuguesa e um contratador, pessoa responsável pela exploração dos diamantes e pela entrega de parte deles à Fazenda Real. Essa fórma de exploração durou até 1771, quando a Coroa decidiu criar a Junta da Administração dos Diamantes.
Os fiscais da Junta tinham poderes sobre a população que vivia na região de exploração de diamantes, chamada de Distrito Diamantino. Podiam, entre outras coisas, confiscar bens e controlar a entrada e a saída de pessoas. Mas nem assim o contrabando de diamantes acabou.
Chica da Silva, vida e contexto
Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796), ou simplesmente Chica da Silva, tornou-se uma famosa personagem da sociedade mineradora colonial. Ela era filha de uma escravizada minaglossário e de um homem branco. Nasceu escravizada, mas conquistou sua alforria em 1753. Sua liberdade foi concedida por seu proprietário, o contratador do Distrito Diamantino João Fernandes de Oliveira (1720-1779).
Entre 1753 e 1770, Chica e João Fernandes moraram juntos e constituíram uma família. Porém, foram impedidos de se casar devido às leis e aos costumes da época. Nessa união, eles tiveram treze filhos.
João Fernandes reconheceu a paternidade de todos os filhos e garantiu que eles fossem seus legítimos herdeiros. Chica cuidou para que suas filhas estudassem na melhor instituição religiosa da região, o Recolhimento de Macaúbas.
Chica da Silva morreu em 1796, sendo enterrada com honras na Igreja de São Francisco de Assis. Assim terminou a trajetória de uma mulher forraglossário que, mesmo vivendo em uma sociedade profundamente desigual, conquistou uma posição social importante e se inseriu na elite mineradora.
Sociedade mineradora
Em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, a exploração de ouro e diamantes estimulou a formação de arraiais que levaram à fundação de vilas e, posteriormente, cidades. Pela primeira vez na história colonial, vários núcleos urbanos foram criados longe do litoral. Observe alguns exemplos no quadro.
Localidade |
Nome atual |
Data da fundação |
---|---|---|
Vila Rica |
Ouro Preto (MG) |
1711 |
Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo |
Mariana (MG) |
1711 |
Vila do Príncipe |
Serro (MG) |
1714 |
Vila de São José do Rio das Mortes |
Tiradentes (MG) |
1718 |
Vila Real de Cuiabá |
Cuiabá (MT) |
1727 |
Vila Boa de Goiás |
Goiás (GO) |
1736 |
Em Minas Gerais, desenvolveu-se uma sociedade urbana, composta de comerciantes, funcionários públicos, profissionais liberais, artesãos, religiosos e milhares de escravizados. A riqueza do ouro, porém, concentrava-se nas mãos de poucos senhores que exploravam minas. A situação econômica da maioria da sociedade era de pobreza, e não de riqueza.
O crescimento de cidades em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás movimentou o mercado interno da colônia. Comerciantes de outras capitanias e de Portugal abasteciam as regiões mineradoras com alimentos, couro, roupas, ferramentas e outros produtos. A produção local também aumentou. Em Minas Gerais, por exemplo, fabricavam-se tecidos, criava-se gado e produziam-se derivados de leite, como o queijo.
A mineração transforma a colônia
No século dezoito, as minas atraíram muitas pessoas para o interior, favorecendo a conquista do território e o aumento da população no Brasil colonial. Calcula-se que a população cresceu aproximadamente 11 vezes, passando de trezentas mil (1700) para mais de 3,25 milhões de pessoas (1800). Além disso, o abastecimento da área mineradora ajudou a integrar as capitanias brasileiras, que antes ficavam mais isoladas.
Em 1763, a capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. O porto do Rio, próximo das áreas de mineração, facilitava a comunicação com Portugal. Até então, o ouro das minas era levado para Salvador, na Bahia, ou Paraty, no Rio de Janeiro, onde navios e marinheiros embarcavam a preciosa mercadoria, o que levava mais tempo. Pelo porto do Rio de Janeiro também chegaram, a partir do século dezoito, a maioria dos africanos escravizados.
OUTRAS HISTÓRIAS
Queijo artesanal de Minas
Durante a época da exploração do ouro e diamante, começou a ser produzido o queijo artesanal de Minas, com técnicas trazidas de Portugal e adaptadas às condições naturais e sociais das serras mineiras. Desde então, essa comida se tornou um símbolo ligado à cultura e à memória dos mineiros.
Atualmente, o queijo artesanal é fabricado em várias regiões de Minas Gerais. Cada região produz queijos com sabores, consistências e aparências diferentes, sempre tendo como base o leite cru, recém-tirado da vaca. Em geral, a produção é organizada por famílias que vivem em pequenas propriedades rurais. Para essas famílias, fazer queijo é, além de uma fonte de renda, uma tradição.
No dia a dia dos mineiros, o queijo costuma ser consumido com café ou usado para preparar pão de queijo, queijo com goiabada, broas, farofas, entre outros salgados e doces. Além disso, há referências ao queijo em expressões e ditados populares. Por exemplo, quando uma pessoa tem tudo o que é necessário para resolver um problema, é dito que ela está “com a faca e o queijo na mão”.
Em 2006, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ifã declarou o modo de fazer queijo artesanal de Minas um patrimônio imaterial do Brasil.
Responda no caderno
Atividade
De quais comidas você se lembra quando pensa na cidade onde mora? Por que acha que isso acontece?
Artes plásticas, arquitetura e música
Na Europa, entre os séculos dezesseis e dezoito, o Barroco surgiu como manifestação artística. Na América portuguesa, o estilo predominou na arquitetura, nas artes plásticas e na música até o começo do século dezenove. Todos os edifícios barrocos das cidades da região mineradora foram construídos por africanos escravizados ou seus descendentes.
A arte barroca é marcada pela sensação de movimento, pela expressão de emoções e pela grandiosidade. Registros barrocos podem ser encontrados nos estados da Bahia, de Pernambuco, da Paraíba, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais e de Mato Grosso.
Na arquitetura e na escultura, destacou-se Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido como Aleijadinho, filho de um arquiteto português com uma mulher escravizada. Mesmo sofrendo de uma doença que deformou suas mãos e seus pés, fez projetos e obras de igrejas em Ouro Preto, Congonhas e São João del-Rei, além de centenas de imagens religiosas em madeira e pedra-sabão.
Na pintura, destacou-se Manuel da Costa Ataíde (1762- cêrca de 1830), mais conhecido como Mestre Ataíde. Pintou o interior de igrejas de Ouro Preto, Mariana e do Colégio do Caraça e lecionou arquitetura e pintura.
Na música barroca, destacaram-se José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1746-1808) e Inácio Parreiras Neves (1730-1794). A música era uma expressão cultural muito apreciada, sendo comum a formação de corais de crianças que cantavam nas festas religiosas. Havia também bandas de jovens que se apresentavam em público ou nas casas dos ricos mineradores.
responda oralmente
para pensar
- Que estilo de música você gosta de ouvir? Por quê?
- Você gostaria de aprender a cantar ou a tocar algum instrumento musical? Comente.
- Você ouve música em rádio, internet, CD ou frequenta ? Como você acha que as pessoas dos séculos chôus dezessete e dezoito ouviam música?
Patrimônio histórico
Patrimônio histórico é o conjunto de bens naturais e culturais considerados significativos para a humanidade. A Unesco, órgão da ONU para questões de educação, ciência e cultura, adota procedimentos e métodos científicos para avaliar e definir patrimônios históricos mundiais.
O Brasil possui 14 locais que figuram na lista oficial da Unesco. Isso significa que as obras de arte, os edifícios ou mesmo uma cidade inteira que recebem essa designação merecem cuidados especiais para que as gerações futuras possam conhecer e valorizar sua história.
Desse conjunto, dez são referências históricas do Brasil colonial.
- Cidade Histórica de Ouro Preto ; Minas Gerais
- Centro Histórico de Olinda Pernambuco;
- Missões Jesuíticas Guarani, nas ruínas de São Miguel das Missões Rio Grande do Sul;
- Centro Histórico de Salvador Bahia ;
- Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo Minas Gerais;
- Centro Histórico de São Luís Maranhão ;
- Centro Histórico de Diamantina (); Minas Gerais
- Centro Histórico de Goiás Goiás ;
- Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão Sergipe;
- Sítio Arqueológico Cais do Valongo Rio de Janeiro.
Existem também os patrimônios imateriais, como a fórma tradicional de produzir queijo na Serra da Canastra e a fórma de fazer o acarajé na Bahia. Preservar valores, memórias e tradições faz parte de nossas vivências históricas.
Valorizar esse legado cultural e ambiental é um exercício de cidadania, que envolve conhecer e respeitar a memória coletiva dos grupos que construíram o país.
Responda no caderno
para pensar
- Explique por que o queijo da Serra da Canastra e o acarajé da Bahia são considerados patrimônios imateriais do Brasil.
- Como podemos contribuir para a preservação dos patrimônios históricos?
dica INTERNET
Igreja de São Francisco em Salvador, Bahia
Disponível em: https://oeds.link/TABhgu. Acesso em: 17 fevereiro2022.
O site disponibiliza uma visita virtual de 360° pelo interior da Igreja de São Francisco, em Salvador, Bahia.
Escravidão e sobrevivência nas minas
De modo geral, a extração de pedras e metais preciosos exigia investimentos (dinheiro, equipamentos e mão de obra) mais baixos do que a produção de açúcar. Assim, para uma pequena parcela da população, a atividade mineradora foi um negócio atraente. No entanto, para a grande maioria, a sociedade mineradora foi tão excludente e cruel quanto a açucareira.
No final do século dezoito, cêrca de 80% da população de Minas Gerais era negra ou mestiça. Os escravizados podiam ser castigados de fórma privada ou pública. Espancamentos, chibatadas e outras crueldades podiam ser aplicados de modo privado. Mas, quando a falta era grave, como o assassinato de senhores, o cativo era punido publicamente pelo governo. A pena mais severa aplicada aos cativos era a sentença de morte, com a exposição do corpo do réu em praça pública.
Diante dos abusos da escravidão, homens e mulheres cativos lutaram contra os maus-tratos e a exploração de seu trabalho. Entre as fórmas de resistência destacam-se as fugas, a formação de quilombos e as revoltas.
OUTRAS HISTÓRIAS
Irmandades negras
Em diversos locais da América portuguesa, a reunião de pessoas escravizadas era proibida pela administração colonial. Nesse contexto, as irmandades religiosas – criadas para aproximar a população de origem africana do catolicismo – eram, muitas vezes, o único meio de associação permitido aos negros e aos escravizados. Sobre essas organizações, leia o texto a seguir.
“Entre as instituições em torno das quais os negros se agregaram de fórma mais ou menos autônoma, destacam-se as confrarias ou irmandades religiosas, dedicadas à devoção de santos católicos. Elas funcionavam como sociedades de ajuda mútua. Seus associados contribuíam com reticências taxas anuais, recebendo em troca assistência quando doentes, quando presos, quando famintos ou quando mortos. Quando mortos porque uma das principais funções das irmandades era proporcionar aos associados funerais solenes reticências. A irmandade representava um espaço de relativa autonomia negra, no qual seus membros reticências construíam identidades sociais significativas no interior de um mundo às vezes sufocante e sempre incerto. A irmandade era uma espécie de família ritual, em que africanos desenraizados de suas terras viviam e morriam solidariamente. Idealizadas pelos brancos como um mecanismo de domesticação do espírito africano, através da africanização da religião dos senhores, elas vieram a constituir um instrumento de identidade e solidariedade coletivas.”
REIS, João José. Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão. Tempo, Rio de Janeiro, volume 2, número 3, página 7-33, 1996.
Responda no caderno
Atividades
- De acordo com o texto, com que objetivos foram criadas as irmandades religiosas negras?
- Que funções essas organizações tinham para a comunidade? Explique.
Queda na produção de ouro
O auge da produção de ouro ocorreu entre 1733 e 1748. Mas a riqueza produzida não beneficiava a todos. A maioria dos habitantes das regiões mineiras era pobre.
Na segunda metade do século , a produção do ouro foi diminuindo. O governo português atribuía o fato ao desleixo dos mineiros e ao contrabando do ouro. Por isso, tornou mais rígido o dezoito contrôle das minas para obrigar os mineiros a pagar os impostos atrasados. Por exemplo, em 1750, o rei português ordenou o pagamento de 100 arrobas de ouro por ano (ou 1500 quilos). Os mineiros não conseguiam pagar tantos impostos e as dívidas se acumulavam.
Para receber os impostos atrasados, a Coroa decretou, em 1765, a primeira derrama, que era a cobrança forçada de impostos em atraso. Quem não tivesse condições de pagar teria seus bens confiscados pela Coroa. Ao executar a derrama, as autoridades não pouparam ninguém. Isso piorou a vida de muita gente e fez surgir revoltas, como a Conjuração ou Inconfidência Mineira, em 1789.
Produção de ouro no Brasil (século dezoito)
Com quem ficou o ouro?
A produção do ouro contribuiu para o crescimento econômico e artístico da região das minas. Contudo, a maior parte desse ouro não ficou no Brasil, mas serviu aos interesses de outros países.
Os comerciantes e a família real de Portugal lucraram com o ouro extraído do Brasil, sobretudo na primeira metade do século dezoito. Nesse período, as finanças portuguesas ficaram equilibradas. Mas, logo depois, os portugueses voltaram a depender do comércio com os ingleses, em razão do Tratado de Methuen ou Tratado dos Panos e Vinhos, de 1703.
Pelo tratado, o governo português exportava vinhos para a Inglaterra e importava dos ingleses produtos manufaturados, como tecidos. Como os produtos ingleses eram mais caros, os portugueses acabaram ficando em dívida com seus parceiros. Para pagar essa dívida, os portugueses utilizaram o ouro brasileiro.
OFICINA DE HISTÓRIA
Responda no caderno
Conferir e refletir
- Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.
- A exploração do ouro promoveu grandes migrações para o interior do Brasil colonial.
- Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas conquistaram o direito exclusivo de explorar o ouro de Minas Gerais.
- Aleijadinho e Mestre Ataíde são expoentes da arte barroca brasileira.
- O governo português conseguiu impedir completamente o contrabando e a sonegação nas regiões mineradoras durante o período colonial.
- O tropeiro Filipe dos Santos liderou uma revolta contra a instalação das casas de fundição.
- Neste capítulo, abordamos alguns aspectos da mineração durante o período colonial. Agora, vamos investigar características da atividade extrativa mineradora nos dias atuais. Para isso, pesquise e reflita sobre as questões a seguir.
- Ainda existe atividade mineradora no Brasil? Em que estados?
- Quais são os principais minérios explorados?
- A atividade mineradora pode causar problemas ambientais? Quais?
- Pedras e metais preciosos são tão valiosos hoje quanto eram no período colonial? Justifique sua resposta.
- O que consideramos “ouro” nos dias atuais? Por quê?
Interpretar texto e imagem
3. Leia o texto do historiador Uóren Dian (1932-1994) sobre a extração do ouro no século dezoito e faça o que se pede a seguir.
“A princípio, a extração de ouro era feita por lavagem na bateiaglossário . As turmas de escravos trabalhavam com água pelos joelhos nos leitos dos riachos e recolhiam cascalho e água em bacias reticências de madeira, que eram agitadas e novamente cheias até restar apenas os flocos de ouro mais pesados.
Foram africanos da Costa do Ouro que ensinaram seus proprietários a batearglossário e se mostraram peritos em localizar minas. Esses trabalhadores alcançavam preços mais elevados porque, acreditava-se, eram especialmente afortunados ou praticantes de uma espécie de bruxaria para encontrar ouro.
Nos anos de 1730, a trabalhosa e insalubreglossário atividade de batear reticências não era mais lucrativa em diversas minas. Os arrendatários agora dragavamglossário os riachos maiores com caçambas primitivas e desviavam riachos menores para pesquisar reticências seus leitos. Feito isso, empreendia-se a lavagem dos aluviões . reticências
A degradação provocada pela mineração foi mais intensa nas planícies reticências e nos fundos dos rios. Registrou-se que os rios Sabará e das Velhas começavam a tornar-se lamacentos devido à lavagem de aluviões.”
. dín Uóren A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. página 113.
- De acordo com o texto, quem introduziu a técnica de batear na exploração do ouro encontrado na colônia brasileira?
- A exploração do ouro provocou danos ambientais à região das minas? Explique.
integrar com matemática
4. Observe novamente o gráfico da página 237 e responda às questões.
- Em que período houve maior produção de ouro?
- Quantos anos durou o auge da extração de ouro?
integrar com arte
5. A seguir, observe uma gravura do artista iôrram mórritis ruguendás (1802-1858) que representa o trabalho de extração do ouro de aluvião realizado pelos africanos escravizados. O ouro de aluvião era aquele encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado à areia, ao cascalho e à argila. Nos garimpos, esses materiais eram separados do ouro por meio de peneiras e bateias.
- Qual é o tema dessa gravura?
- Quem é o autor dessa gravura?
- Quando ela foi elaborada?
- Que pessoas foram representadas? O que elas estão fazendo?
- Crie outro título para essa obra.
Glossário
- Inóspito
- : lugar em que é difícil viver.
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- Arraial
- : pequeno povoado.
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- Taipa de pilão
- : técnica árabe de construção, adotada pelos portugueses na Idade Média e trazida para o Brasil. A taipa de pilão é uma mistura de terra, pequenas pedras e fibras. A mistura era socada em fôrmas de madeira retangulares, as taipas.
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- Aluvião
- : depósito de cascalho, areia, argila etcétera que se acumula nos leitos e nas margens dos rios.
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- Escravizado mina
- : pessoa escravizada nascida na Costa da Mina, uma região do Golfo da Guiné, de onde veio grande parte dos escravizados embarcados para as Américas.
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- Forro
- : alforriado, liberto da escravidão.
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- Adro
- : pátio externo localizado em frente ou ao lado de uma igreja.
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- Bateia
- : vasilha usada para garimpar ouro e diamante.
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- Batear
- : lavar na bateia.
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- Insalubre
- : que não é saudável.
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- Dragar
- : retirar areia ou lama do fundo do mar, de rios, canais, lagos etcétera.
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