UNIDADE 2 CONTATOS E CONFRONTOS

CAPÍTULO 4 POVOS AFRICANOS

Milhões de africanos foram forçados a trabalhar no Brasil entre os séculos dezesseis e dezenove. A maioria desses africanos era proveniente de povos que se desenvolveram ao sul do deserto do Saara. Esse processo tornou o Brasil o país que tem a maior população negra fóra da África.

A cultura brasileira é profundamente marcada por saberes e técnicas africanos. Por isso, estudar culturas da África contribui para compreender nossa própria cultura.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

Quando você pensa na África, que imagens vêm à sua mente? Por que esses pensamentos acontecem?

Fotografia. Um grupo de pessoas, entre homens e mulheres, vestindo camisetas coloridas, com figuras geométricas laranjas, amarelas e contornos pretos, segurando diferentes instrumentos musicais, como surdos, tambores, caixas de percussão, e baquetas.
Ensaio do bloco Ilê aiê em rua de Salvador, Bahia. Fotografia de 2019. Fundado em 1974, o Ilê aiê foi o primeiro bloco afro do país e tem como objetivo valorizar e expandir a cultura afro-brasileira.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero sete agá ih zero dois
  • ê éfe zero sete agá ih zero três
  • ê éfe zero sete agá ih um quatro

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, povos africanos, e de assuntos correlatos, como a diversidade geográfica e cultural existente na África; a variedade de fontes históricas sobre as sociedades do continente; os processos e as fórmasegundo de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas específicos das sociedades africanas antes da chegada dos europeus; e as complexas interações entre africanos, americanos e europeus, com destaque para o tráfico transatlântico.

  • Combater preconceitos sobre o continente africano, valorizando sua diversidade geográfica e cultural.
  • Identificar a variedade de fontes utilizadas para o estudo da história africana.
  • Conhecer algumas civilizações que se desenvolveram ao sul do Saara, como os reinos de Gana, do Mali, de Ifé, do Daomé e do Congo.
  • Introduzir a temática do tráfico transatlântico de africanos escravizados.

Para começar

Resposta pessoal. O objetivo da atividade é levantar os conhecimentos prévios dos estudantes e combater preconceitos e estereótipos a respeito das sociedades africanas. Entre esses estereótipos, está a ideia de que a África se resume a um continente coberto de florestas e savanas e marcado apenas por graves problemas sociais. É importante problematizar e desmistificar tais ideias, mostrando que a África é um extenso continente onde vivem povos de diversas culturas e onde há diversas paisagens naturais.

Fotografia. Um conjunto de mulheres, com cabelos escuros, longos e trançados. A maioria trajando vestidos brancos, com faixas de tecidos diferentes, marrons, vermelhos, beges e amarelos. Elas usam adornos sobre suas cabeças, pedrarias e pinturas em seus rostos. Algumas seguram instrumentos musicais com as mãos.
Apresentação do bloco IIú Obá De Min no carnaval de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2018. O bloco afro-paulistano, cujo nome em iorubá significa mãos femininas que tocam tambor para Xangô – um dos orixás cultuados nas religiões de origem africana –, foi criado em 2004.
Fotografia. Em primeiro plano, um conjunto de mulheres lado a lado, trajando vestidos brancos, turbantes de mesma cor ao redor de suas cabeças e colares de cores diferentes. Ao centro, destaque para algumas pessoas carregando cestas com rosas brancas.
Devotos de religiões afro-brasileiras fazem oferenda de flores no Dia de Iemanjá, em praia de Vitória, Espírito Santo. Fotografia de 2020.

A diversidade da África

Atualmente, a África é formada por 54 países, onde vivem cêrca de 1,3 bilhão de pessoas, que falam mais de duas mil línguas diferentes. A África é o segundo continente mais populoso do mundo, atrás apenas da Ásia. Tanto hoje como no passado, esse continente sempre se caracterizou pela diversidade de paisagens, sociedades e culturas. Ao descrever o território africano, o historiador Alberto da Costa e Silva afirmou:

“A África é um continente enorme, com uma grande diversidade geográfica. Nela há de tudo: altas montanhas – algumas, como Kilimanjaro, com os picos permanentemente cobertos de neve; grandes desertos, como o Saara; florestas que parecem sem fim, como a do Congo; grandes extensões de matas baixas e estepes reticências. cêrca de metade do continente é formada, porém, por savanas, uma paisagem na qual o relvadoglossário é interrompido por árvores baixas afastadas umas das outras.”

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. página 11-12.

Fotografia. Vista de uma paisagem natural, destacando elefantes sobre uma área de densa vegetação, e pássaros de penas brancas sobrevoando. Ao fundo, um monte elevado com o ápice em tons esbranquiçados.
Fauna na Savana do Santuário Kimana, no Quênia. Ao fundo, o Monte Kilimanjaro. Fotografia de 2021.

Superando preconceitos

A partir do século quinze, foram difundidos muitos preconceitos sobre a África que repercutem até os dias atuais. Desde o século vinte, pesquisas históricas vêm contribuindo para superar essas ideias, ampliando a compreensão da cultura africana.

Algumas ideias estereotipadasglossário afirmavam que o continente africano seria um lugar desolado, onde existiriam somente florestas tropicais e desertos áridos, habitados por animais selvagens e povos primitivos.

De acordo com essas ideias, os povos africanos seriam atrasados, não teriam história nem cultura. Nada mais incorreto que isso: como todos os grupos humanos, as sociedades africanas desenvolveram suas culturas. No Egito antigo, por exemplo, nasceu um dos primeiros sistemas de escrita conhecidos. Muito antes da chegada dos europeus àquele continente, os africanos ergueram grandes reinos, poderosos impérios e imensas cidades, com uma agitada vida urbana. Também já realizavam trocas culturais e econômicas entre si e com povos da Europa, do Oriente Médio e da Ásia.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A respeito do continente africano, o professor pode comentar também que:

  • na África foram encontrados os mais antigos registros da existência de seres humanos. Ali se desenvolveram importantes civilizações antigas, como os egípcios e os cuxitas;
  • a partir do século quinze, a África foi intensamente explorada por potências europeias, que escravizaram milhões de africanos e extraíram diversos recursos naturais do continente;
  • a África é o segundo continente mais populoso do mundo, com cêrca de 1,3 bilhão de habitantes. Porém, também é o continente mais pobre, tendo produzido apenas cêrca de 2,7% do Píbi mundial em 2010;
  • a atual África apresenta duas regiões bem distintas: a África setentrional e a subsaariana. Os países setentrionais têm características semelhantes às nações do Oriente Médio, com prevalência de populações árabes, religião islâmica e clima desértico. Já a África subsaariana é bem mais extensa, reunindo a maior parte da população do continente, que é majoritariamente negra.

Alerta ao professor

O texto “Superando preconceitos” contribui para o desenvolvimento das competências cê ê cê agá um e cê ê agá quatro.

Outras indicações

SILVA, Alberto da Costa eorganização. Imagens da África: da Antiguidade ao século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

O livro reúne textos de mais de oitenta autores sobre o continente africano e suas sociedades.

Homenagem ao ator Sotigui cuiatê no Arte do Artista (Brasil). TV Brasil, 26 minutos Disponível em: https://oeds.link/kesdtH. Acesso em: 13 maio 2022.

Conversa com o griôbarradjéli Toumani cuiatê, de Burkina Faso, sobre a arte de contar histórias tradicionais da África Ocidental. Ele presta uma homenagem ao grande mestre griô/djéli Sotigui cuiatê.

Fontes da história da África

Para estudar a história africana, pesquisadores podem utilizar fontes escritas e não escritas. A seguir, conheça algumas delas:

  • fontes escritas – textos de viajantes que passaram pelo continente, como Íbini Batuta (1304-1369), que escreveu Presente oferecido aos observadores (mais conhecido como Viagens de Íbini Batuta), e Leão Africano (1494-1554), cuja obra intitula-se Descrição da África e das coisas notáveis que ali existem;
  • fontes não escritas – obras de arte, construções, vestimentas, tradições orais, costumes etcétera. Exemplos de fontes como essas podem ser observados nas imagens deste capítulo.

Entre as fontes não escritas, destacam-se as histórias contadas pelos griôs ou djélis, pessoas originárias da África Ocidental e responsáveis pela transmissão das tradições orais por várias gerações. Eles se especializaram em recitar as histórias de diversos povos africanos em longas narrativas faladas ou cantadas, que podem ser acompanhadas por instrumentos de corda ou percussão.

O conhecimento transmitido oralmente é fundamental para estudar a história dos povos da África, uma vez que muitas informações não foram registradas em papel, permanecendo apenas na memória das pessoas. Essas memórias permitem, por exemplo, conhecer os conflitos sociais, as tradições das famílias dominantes, a vida cotidiana das pequenas famílias e comunidades.

Até os dias atuais, os griôs ou djélis continuam guardando e transmitindo histórias de vários povos africanos. Suas narrativas são transmitidas por rádios e também gravadas por pesquisadores interessados na preservação da memória.

Fotografia. Em meio a um círculo de pessoas lado a lado, a maioria crianças, destaque para uma mulher, em pé, de cabelos longos e cacheados, trajando uma saia branca e uma blusa colorida. Ela está com um dos braços estendidos à frente. Atrás dela, uma mesa coberta por uma toalha laranja com estampas coloridas. Sobre a mesa, há alguns objetos.
Artista Juliana Correia contando histórias a um grupo de pessoas, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2022.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Você escuta histórias contadas por pessoas mais velhas? O que aprende com essas histórias?

Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica. Livro

dica livroS

curúma amadú. Homens da África. São Paulo: Edições SM, 2009.

O autor descreve os traços culturais da África por meio de quatro personagens: o griô ou djéli (contador de histórias), o caçador, o príncipe e o ferreiro.

PIRES LIMA, Heloisa; guinêca, jorge; LEMOS, Mário. A semente que veio da África. São Paulo: Salamandra, 2005.

O livro reúne relatos sobre a importância de uma árvore – chamada de embondeiro, baobá ou adansônia – para diferentes povos africanos, em especial os da Costa do Marfim e de Moçambique.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre os preconceitos que existiam em relação às fontes não escritas e à história da África.

Qual é a importância da história africana?

Muitos povos desenvolveram fórmas de escrita, como a escrita cuneiforme mesopotâmica, os hieróglifos egípcios e o alfabeto fenício. Mas outros viveram processos diferentes e não utilizaram registros escritos. Nesses casos, os vestígios arqueológicos e as tradições orais transmitidas de uma geração para outra são as principais fontes de conhecimento sobre a história desses povos.

No entanto, até meados do século vinte, alguns estudiosos julgavam que povos que não desenvolveram escrita não tinham história. Atualmente, entende-se que essa visão é preconceituosa e eurocêntrica, pois considera a formação das sociedades europeias como modelo de desenvolvimento.

Assim, estudar a história da África pode ser uma maneira de combater e superar essas visões preconceituosas que perpetuam fórmas de dominação cultural.

A partir da segunda metade do século vinte, os historiadores expandiram seus campos de estudo e passaram a utilizar diversos tipos de fontes. Surgiram então muitas produções sobre a história da África, que analisavam as tradições orais, a música, a dança, os rituais religiosos, as festas, a culinária, os objetos da cultura material etcétera.

Ao realizar esse trabalho, os historiadores se aproximaram de outras áreas de conhecimento, como a Arqueologia e a Antropologia, que já desenvolviam pesquisas utilizando fontes não escritas.

Texto elaborado pelos autores

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê nove, cê ê cê agá um e cê ê cê agá quatro.

Para pensar

Resposta pessoal. Esta atividade trabalha o tema contemporâneo transversal Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso, ao abordar o papel das pessoas mais velhas na transmissão intergeracional de conhecimentos e valores. Depois de ouvir as respostas, comente que as pessoas mais velhas podem transmitir visões de mundo diferentes e relatar modos de viver que as gerações mais recentes desconhecem. Ressalte que o diálogo entre pessoas de diferentes gerações contribui para a ampliação do conhecimento.

Civilizações ao sul do Saara

O Deserto do Saara ocupa uma longa faixa ao norte do continente africano. Como outros desertos, o Saara não é um lugar fácil de ser habitado. Ali há pouca água e os solos são arenosos. Isso dificulta a prática da agricultura e da pecuária. Porém, no deserto, existem regiões conhecidas como oásis, que têm água e solos férteis.

Os muçulmanos que viviam e circulavam em oásis nas regiões desérticas da Arábia e do norte da África mantinham relações comerciais e culturais com os povos da África Equatorial, situada ao sul do Saara. A partir do século onze, em função das conquistas militares e da conversão religiosa, a presença dos árabes muçulmanos se consolidou na região. Grande parte dos habitantes da África Equatorial foi islamizada, ou seja, convertida à religião islâmica.

Os árabes chamavam a África Equatorial de “terra dos negros”, região onde se desenvolveram várias civilizações. A seguir, vamos estudar as dinâmicas do funcionamento de algumas sociedades africanas.

Reinos africanos (séculos três-dezenove)

Mapa. Reinos africanos (séculos três a dezenove). Continente africano. Em verde, 'Reino de Gana (séculos três a treze)', compreendendo uma área na porção noroeste do continente. Em laranja, 'Reino do Mali (séculos treze a quinze)', se estendendo por áreas ao redor dos rios Senegal, Gâmbia e Níger, na porção noroeste do continente. Em rosa, 'Reinos iorubás (séculos treze a catorze)', compreendendo pequena área na porção oeste do continente, ao redor do Rio Benue, envolvendo as cidades de Oyó e Ifé. Em roxo, 'Reino do Daomé (séculos dezessete a dezenove)', a oeste dos Reinos iorubás. Em amarelo, 'Reino do Congo (séculos catorze a dezessete)', em área na porção sudoeste do continente, próximo ao Rio Congo. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 710 quilômetros.
Fontes: kízêrbô, joséf. História da África negra. Lisboa: Publicações Europa-América, sem data. página. 137; NASCIMENTO, Elisa Larkin (organizador). A matriz africana no mundo. São Paulo: Selo Negro, 2008. página 111; SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 15 e 39.

Integrar com Geografia

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Que reino africano representado no mapa é percorrido pelo maior número de rios?

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Civilizações ao sul do Saara” contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três, pois aborda aspectos e processos específicos de importantes reinos africanos antes da chegada dos europeus ao continente. O boxe “Observando o mapa” favorece o desenvolvimento da competência cê ê cê agá sete.

Observando o mapa

Esta é uma atividade interdisciplinar com Geografia. Reino do Mali: rios Gâmbia, Senegal e Níger.

Outras indicações

ramapatê bãn, amadú. amculél, o menino fula. São Paulo: Palas Athena, 2003.

Esta é uma obra autobiográfica em que Amadou relata sua vida desde a primeira infância até a juventude. ramapatê bãn dedicou-se à coleta de narrativas e tornou-se um mestre da transmissão oral e especialista no estudo das sociedades africanas das savanas.

Reino de Gana

O Reino de Gana foi um dos primeiros Estados formados ao sul do Saara. Localizado na região das nascentes dos rios Senegal e Níger, esse reino conquistou grande poder político e econômico entre os séculos quatro e doze. Havia diversas atividades econômicas, mas o ouro era a principal fonte da riqueza de Gana. Por isso, esse reino ficou conhecido como “terra do ouro”.

A maioria da população ganense dedicava-se à agricultura, ao comércio e ao artesanato (marcenaria, cestaria, tecelagem, metalurgia etcétera. Por meio da metalurgia, eram fabricados objetos como armas, utensílios agrícolas, máscaras e adornos.

No comércio, era comum os ganenses trocarem ouro por diversos produtos. Entre eles, destaca-se o sal, que era raro e muito apreciado. As trocas comerciais eram feitas com povos vizinhos e com comerciantes que cruzavam o Deserto do Saara.

A sociedade era organizada com base em uma rígida hierarquia. O chefe do governo era o rei, também chamado gana, que significa “senhor da guerra”. O poder dos reis apoiava-se em exércitos que chegaram a ter 200 mil soldados equipados com armas de ferro e bronze.

Os reis ganenses eram considerados autoridades políticas, militares e religiosas, intermediários entre os humanos e os deuses. Entre os membros da elite, podemos citar: os sacerdotes das religiões politeístas tradicionais, os nobres e os altos funcionários do governo.

A partir do século onze, a influência muçulmana se intensificou na região. Isso pode ser observado pela construção de mesquitas e pela conversão de muitos ganenses ao islamismo. No século doze, o Reino de Gana se desestruturou após ser conquistado por tropas do Reino do Mali.

Fotografia. Destaque para a mão de uma pessoa com anéis e braceletes dourados. Os anéis, possuem formatos de conchas e de tartaruga. Os braceletes contornam o pulso.
Anéis e braceletes tradicionais de ouro, feitos por artesãos do povo axântiglossário . Fotografia de 2012.
Fotografia. Vista da fachada de uma casa com paredes brancas, vigas verticais com bases laranja sustentando tetos triangulares cobertos por palha. As paredes possuem janelas e portas de madeira.
Construções tradicionais axântis em êjisú, Gana, que utilizam terra, madeira e palha como materiais e, por isso, têm de ser constantemente reconstruídas. Fotografia de 2018. Construções feitas com essa técnica foram reconhecidas como patrimônio cultural da humanidade pela Unesco em 1980.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Reino de Gana” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três ao abordar aspectos da população, da economia e da organização da sociedade ganense antes da chegada dos europeus ao continente africano.

Outras indicações

MACEDO, José Rivair (organizador). Desvendando a história da África. Porto Alegre: u éfe érre gê ésse, 2008.

O livro reúne trabalhos sobre a história de diferentes sociedades africanas.

Reino do Mali

O Reino do Mali desenvolveu-se às margens dos rios Níger e Senegal, onde vestígios indicam a existência de uma sociedade organizada desde o século três. As águas desses rios fertilizavam o solo e também eram usadas como via de transporte. O solo fértil favorecia a produção agrícola que alimentava a população do reino.

No século treze, esse reino se fortaleceu sob a liderança de Sundiata Keita (1217-1255), que se converteu ao islamismo. Nessa época, o Reino do Mali iniciou a conquista de territórios vizinhos. O Mali tornou-se um império influente na região e sua expansão prosseguiu até o século catorze, sobre áreas do Reino de Gana e dos atuais Senegal e Gâmbia.

Uma das mais importantes cidades do mundo muçulmano na época, Tombuctu, pertencia ao Império do Mali. Nessa cidade, foi construída a Universidade de Sankore, criada por volta do século doze e frequentada por milhares de estudantes.

Até hoje há várias bibliotecas em Tombuctu. Em algumas delas, é possível encontrar mais de 20 mil manuscritos antigos e livros ilustrados com ouro, que tratam de temas como medicina, gramática do árabe, poesia, religião e tratados jurídicos. Atualmente, o centro dessa cidade é considerado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (unêsco).

Fotografia. Destaque para um pedaço de papel retangular, contendo diversas escritas, e imagem semelhante a de uma árvore com cinco ramos, cada um deles contendo diferentes textos nas extremidades.
Manuscrito do século quinze encontrado em uma biblioteca islâmica em Tombuctu, Mali.
Fotografia. Um grupo de pessoas ao redor de quatro mesas expositoras, com bordas de madeira, tampas de vidro e fundos vermelhos, dispostas ao centro, pelas quais se observam diferentes papéis retangulares contendo escritos.
Visitantes observam manuscritos que remontam à história e à cultura malinesas do século onze na biblioteca al imãn essaúti, em Tombuctu, Mali. Fotografia de 2015.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Reino do Mali” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três, na medida em que identifica características e processos específicos de uma sociedade africana antes da chegada dos europeus, destacando suas fórmas de organização social, seus saberes e suas técnicas.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto do estudioso brasileiro Alberto da Costa e Silva que traz informações sobre cidades malinesas, sua antiguidade e importância.

Fontes não escritas de cidades que pertenceram ao Império do Mali

“Tombuctu despontou como cidade no século doze, a partir provavelmente de um acampamento de tuaregues [povos nômades do Saara] reticências. Djenê (ou Dijenê) vinha de muito antes. Desde pelo menos o século nove.

A arqueologia revelou, a três quilômetros da atual Djenê, em Zoboro ou Djenê Jêno (‘antiga Djenê’, em songai), restos de uma cidade que teria origem no século três antes de Cristo. Desde o início, seus habitantes conheciam o ferro. Criavam bois. E há evidências de que já praticavam uma agricultura de vazante, no século primeiro de nossa era, de quando datam os sinais de arroz reticências ali encontrados reticências. O comércio deve ter sido, desde o início, atividade importante em Djenê Jêno e nas outras cidades e aldeias da região – só no raio de um quilômetro havia 25 delas –, pois iam buscar a boa distância o minério de ferro de que careciam. E no mercadejo do arroz, do peixe seco e do óleo de peixe reticências assentou-se o desenvolvimento da área reticências.”

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. quintaedição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.página 241.

Além de Tombuctu, destacavam-se outras cidades malinesas, como Dijenê. Na cidade de Dijenê, foi construída uma mesquita que é considerada a maior construção em adobeglossário do mundo.

Entre as principais atividades econômicas do Mali, estavam a produção de tecidos, cestas, barcos, objetos de ferro e ouro. Praticavam-se ainda o cultivo de cereais, a pesca fluvial e a criação de bois, camelos e cabras.

O Mali manteve-se como um império poderoso até o século quinze. A partir desse período, o reino sofreu invasões de grupos vindos do atual Marrocos e enfrentou rebeliões dos povos que havia conquistado.

O povo do Mali também era chamado de mandinga, nome pelo qual ficaram conhecidos homens e mulheres escravizados e enviados dessa região para o Brasil. Hoje, os territórios do antigo Império Malinês correspondem ao Mali e a Burkina Faso, entre outros países.

Fotografia. Vista de uma mesquita com torres frontais e tetos triangulares, e muros formados por altas vigas verticais. Ao redor, pessoas transitam por estradas de terra, a pé ou sobre carroças puxadas por burros.
Mesquita de Dijenê, Mali. Fotografia de 2019. A construção data do final do século treze, embora pareça recém-inaugurada. Essa impressão se deve ao fato de que, todos os anos, no período da seca, os moradores da cidade se reúnem e fazem a manutenção do edifício de adobe, reforçando os laços sociais nessa comunidade muçulmana.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Os manuscritos de Tombuctu, produzidos entre 1200 e 1600, durante o período de maior atividade na Universidade de Sankore, foram preservados e hoje passam por um processo de digitalização. Sobre esse material, leia a seguir o comentário da pesquisadora Bruna Baldini de Miranda, da úspi.

A importância dos manuscritos de Tombuctu

reticências os manuscritos têm o papel de reavivar a memória coletiva e fazer lembrar que o presente, sempre que necessário e conveniente, muda suas conclusões a respeito de tempos pretéritos. Exemplos clássicos seriam a Espanha Islâmica e a existência de um passado cultural escrito na África, uma vez que se acreditava que [esse passado] tivesse sido estritamente oral. Já a Espanha Islâmica se configura como um verdadeiro tabu quando consideramos aspectos históricos determinantes entre Ocidente e Oriente, aspectos esses raramente tangenciados na atualidade: um passado intelectual árabe construído sobre os territórios ibérico e africano. reticências Evidentemente o simples fato de esses manuscritos existirem corrobora uma verdade inconveniente: a construção do conhecimento no Ocidente simplesmente ignorou a existência de outras fórmas de saber. Tão concentrado estava o Ocidente em perpetuar a própria memória reticências, como se esse mesmo Ocidente não tivesse se formado em raízes e bases do Oriente.”

MIRANDA, Bruna Baldini de. Manuscritos do Timbuktu: a escrita enquanto técnica perene. Humanidades Digitais, São Paulo, 28 março 2013. Disponível em: https://oeds.link/5ZhF2G. Acesso em: 4 fevereiro 2022.

OUTRAS HISTÓRIAS

Viagens e memórias

Leia, a seguir, um texto da historiadora Marina de Mello e Souza sobre dois viajantes que relataram suas impressões sobre o Mali.

“Muito do que sabemos sobre o Império do Mali foi contado por Íbini Batuta, nascido em Tânger, mas que passou a maior parte da vida circulando entre o Oriente e a África. Esteve no Mali em torno de 1350, depois de ter viajado por todo o Norte da África, pela costa oriental, onde visitou as cidades suaílis, pela Arábia, Pérsia e Turquia. Na África saelinaglossário ele percebeu a convivência e mistura entre o islã e as religiões tradicionais, e admirou o alto nível de segurança e o sistema de aplicação da justiça no Mali. reticências Parece que já nessa época [a compra e venda de] escravos começavam a ser tão importantes quanto o ouro reticências.

Outro viajante que deixou relatos sobre a região do delta interior do Níger foi Leão Africano, nascido em Granada, capturado por piratas a caminho de Fez em 1518 e dado de presente como escravo ao papa Leão décimo. A este, que o estimulou a escrever suas memórias, relatou suas viagens, publicadas em Roma em 1525. Leão Africano descreveu a riqueza do mansa [imperador] do Mali, que quando ele esteve em Tombuctu possuía enorme quantidade de ouro, grande infantaria armada de arcos e trezentos cavaleiros. Ficou muito impressionado como as pessoas da cidade davam valor ao conhecimento, e disse que lá os livros manuscritos valiam tanto quanto o sal, que valia tanto quanto o ouro.”

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 34.

Gravura. Em primeiro plano, dois homens, ambos acima de uma estrutura rochosa elevada. Um, à esquerda, com o peito desnudo, descalço, trajando um tecido branco envolto na cintura e outro sobre a cabeça. Ele está de costas, com o rosto em perfil, um dos braços estendidos e mão apontando para a frente. Ao seu lado, outro homem, trajando uma túnica amarela e um turbante preto sobre a cabeça. Seu rosto, de perfil, está voltado para o segundo plano da imagem, onde há uma construção de colunas verticais unidas no topo, dispostas sobre um chão arenoso, e algumas pessoas circulando. Ao fundo, céu azul e pássaros sobrevoando.
Íbini Batuta no Egito, gravura de Pôl dumuzá para ilustrar a obra As grandes viagens e os grandes viajantes, de Júlio Verne, publicada em 1878. Êbnú Batuta, viajante e erudito marroquino, nasceu em Tânger em 1304 e morreu no Marrocos entre 1368 e 1369.

Responda no caderno

Atividade

Que características do Império do Mali foram apresentadas por Íbini Batuta e Leão Africano?

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” contribui para o desenvolvimento das competências cê ê agá três e cê ê agá cinco.

Outras histórias

Íbini Batuta ressaltou a convivência e mistura entre o islã e as religiões tradicionais, admirou o alto nível de segurança e o sistema de aplicação da justiça no Mali. Percebeu também a importância do comércio de escravos. Já Leão Africano destacou a riqueza do mansa do Mali e a grande infantaria armada de arcos e trezentos cavaleiros. Também ficou muito impressionado com o valor que as pessoas da cidade davam ao conhecimento, onde livros manuscritos valiam tanto quanto o sal, que valia tanto quanto o ouro.

Outras indicações

Casa das Áfricas. Disponível em: https://oeds.link/MhRRV1. Acesso em: 4 fevereiro. 2022.

Instituição destinada aos estudos das sociedades africanas. No site é possível acessar textos e imagens.

Reinos de Ifé e do Daomé

Nas regiões das atuais Nigéria, Benin e Togo, viviam povos como os iorubás e os jejês.

Os iorubás fundaram diversos reinos que se fortaleceram entre os séculos treze e catorze. Um deles foi o Reino de Ifé, que era governado por um soberano intitulado oni. O poder do oni era sobretudo político e religioso. Os demais reinos iorubás eram governados por chefes chamados obás. Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza:

“Todos os obás dos reinos iorubás diziam que seus antepassados haviam saído de Ifé, sendo membros de uma mesma família real. O oni reticências tinha ascendênciaglossário espiritual sobre quase todos os reinos iorubás reticências e era ele quem distribuía os símbolos reais.”

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 37.

Os jejês formaram o Reino do Daomé. Esse reino desenvolveu-se entre os séculos dezessete e dezenove e possuía um exército poderoso, sendo parte dele formado por mulheres. Viajantes europeus que estiveram na região associaram essas mulheres guerreiras às lendárias amazonas da Antiguidade. Os daometanos as chamavam de arrôsi, palavra que significa “esposas do rei”, pois eram mulheres treinadas militarmente para serem guardiãs do rei do Daomé.

As mulheres guerreiras do Daomé eram nascidas no próprio reino ou capturadas em conflitos com os povos vizinhos. Como as guerras eram constantes nesse período, as fôrças militares masculinas e femininas aumentaram bastante nesse reino.

Fotografia em preto e branco. Uma mulher vista de frente, com cabelos escuros e trançados, vestindo uma camisa clara e colares sobre o peito e ao redor do pescoço, segurando uma lança com uma das mãos.
Guerreira arrôsi, do Daomé, cêrca de 1890. Essas mulheres treinavam combates corpo a corpo, com lanças, facões e armas de fogo. No final do século dezenove, causaram inúmeras baixas ao exército francês durante a guerra franco-daometana.

Tráfico de escravizados

Uma das principais fontes de riqueza do Daomé era o tráfico de pessoas escravizadas. A escravidão marcou a história de vários Estados africanos, principalmente depois da conquista europeia.

Entre os séculos dezesseis e dezenove, milhares de iorubás e jejês foram escravizados e trazidos para o Brasil, Cuba e outras partes da América, enriquecendo os reis do Daomé e os traficantes europeus.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Reinos de Ifé e do Daomé” contribui para o desenvolvimento das competências cê ê cê agá cinco e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois, ê éfe zero sete agá ih zero três e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois identifica aspectos e processos específicos dessas sociedades africanas antes da chegada dos europeus e identifica também conexões e interações entre o Reino do Daomé e sociedades americanas e europeias, no contexto das Grandes Navegações e do capitalismo mercantil.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir trata das mulheres guerreiras de Daomé e favorece a discussão sobre o papel feminino nas sociedades africanas estudadas.

Mulheres guerreiras do Daomé

“África não é só famosa por suas rainhas, mas também por suas guerreiras. reticências. O continente tem uma história de luta das mulheres que eram combatentes assim como os homens.

As guerreiras do Daomé, também conhecidas como as guerreiras Mino, são um exemplo disso. Foram soldadas valentes e disciplinadas. reticências. Este exército de mulheres foi criado no início do século dezessete, e por quase 200 anos dominou e prevaleceu invicto. As Amazonas do Daomé são um dos poucos exércitos de mulheres documentados da história moderna.

reticências Elas eram educadas e treinadas para a luta. Não podiam ter filhos ou se casar e suas habilidades físicas vieram para superar os guerreiros homens. reticências.

Algumas fontes indicam que o número de guerreiras Mino chegou a quatro mil, e [outras] dizem que elas chegaram a seis mil mulheres guerreiras. Durante dois séculos, essas tropas foram poderosas na África Ocidental até que [desapareceram] em 15 de janeiro de 1894. O reino do Daomé perdeu a batalha contra a França e tornou-se uma colônia, agora Benin.”

QUIROZ, Sandra. As guerreiras africanas do Daomé estão nas ruas do Senegal. Geledés, São Paulo, 9 fevereiro 2015. Disponível em: https://oeds.link/zjXrY0. Acesso em: 4 fevereiro 2022.

Reino do Congo

Em meados do século treze, um dos povos bantos (bacongos) formou o Reino do Congo. Esse reino desenvolveu-se nos territórios dos atuais Estados do Congo, da República Democrática do Congo e de Angola.

As atividades econômicas mais importantes do reino eram a agricultura, a criação de animais, o comércio e o artesanato. No Reino do Congo, as trocas comerciais eram facilitadas pelo uso de conchas, que serviam como dinheiro para aquisição de produtos agrícolas, gado e objetos de uso cotidiano.

Na monarquia congolesa, o rei era chamado manicongo (“senhor do Congo”) e concentrava os poderes político e econômico. Ele atribuía poderes a funcionários de destaque, como o chefe de palácio, chefes das províncias, coletores de impostos, juiz supremo e sacerdote principal.

A capital do reino era imbânza Congo, uma cidade grande, cercada por muralhas e que existia antes da chegada dos portugueses. Historiadores consideram que imbânza Congo (situada na atual Angola) era uma cidade tão grande quanto as maiores cidades da Europa no mesmo período. Atualmente seus vestígios são considerados patrimônio cultural da humanidade pela unêsco.

Na capital, o rei e sua côrte viviam em belas construções que se destacavam das demais por sua arquitetura imponente e pela decoração sofisticada. Além da elite, vivia na cidade uma numerosa população que se dedicava às mais variadas atividades e que pagava impostos ao manicongo por meio de alimentos, tecidos de ráfia, sal e cobre.

imbânza Congo era o ponto de encontro de rotas comerciais que ligavam diversas aldeias do reino. A população dessas aldeias estava submetida ao governo central, a quem devia fidelidade e, em troca, recebia proteções terrena e espiritual.

Gravura. Um homem com o peito desnudo, vestindo uma longa faixa de tecido azul ao redor da cintura, pendendo até o chão, e um longo chapéu pontudo e colorido na cabeça, de onde parte, pelo ápice, um longo cabelo escuro. Ele possui braceletes dourados nos braços e adornos nas pernas, além de segurar uma lança com uma das mãos.
Representação de João primeiro (Nzinga-a-Nkuwu), manicongo do Reino do Congo entre 1470 e 1506. Gravura de Pierre Duflos, século dezenove.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Reino do Congo” contribui para o desenvolvimento das competências cê ê cê agá cinco e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois, ê éfe zero sete agá ih zero três e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois identifica aspectos e processos específicos dessa sociedade africana antes da chegada dos europeus, além de apresentar conexões e interações entre o Reino do Congo, Portugal e Holanda, no contexto das Grandes Navegações e do capitalismo mercantil.

Orientação didática

Não se sabe ao certo a data de fundação de Mubanza Congo, mas sabemos que ela já existia antes da chegada dos portugueses e que a cidade era a capital do Reino do Congo, governado pela mesma dinastia desde o final do século catorze. O centro histórico da cidade, situada ao norte de Angola, foi declarado patrimônio mundial da humanidade pela Unesco em julho de 2017. A área tombada inclui ruínas que foram escavadas por arqueólogos, abrangendo o espaço do antigo palácio real, a missão católica, casas e o cemitério dos reis do Congo.

Congoleses e portugueses

Em 1483, os portugueses chegaram ao Reino do Congo. Depois dos primeiros contatos, portugueses e congoleses estabeleceram relações amistosas e parcerias comerciais.

Consolidando a aliança com os portugueses, o rei congolês Nzinga-a-Nkuwu (1440-1506) abandonou sua religião tradicional e converteu-se ao cristianismo em 1491. Rebatizou a cidade de imbânza Congo com o nome de São Salvador do Congo e adotou para si o nome de dom João primeiro. Em 1506, o trono do Congo foi ocupado por seu filho imbêmba a inzinga, rebatizado de Afonso primeiro.

Afonso primeiro (1456-1543) continuou o projeto de criar um reino cristão no Congo. Enviou seu filho Henrique para estudar em Portugal. Em 1518, o papa Leão décimo nomeou dom Henrique bispo de Útica, cidade na região da atual Tunísia. No entanto, a conversão ao cristianismo ficou limitada à família real e aos nobres. A maioria da população congolesa manteve a religião que praticava anteriormente, politeísta e com a presença de elementos da natureza.

Crucifixo metálico. Na parte central do objeto, destaque para um homem representado com os braços esticados para os lados, na horizontal, e as pernas unidas ao centro, na vertical.
Crucifixo do Reino do Congo, cêrca de séculos dezesseis-dezessete. Crucifixos e outros símbolos cristãos foram trazidos para o Congo pelos missionários europeus depois da conversão de parte da elite local ao cristianismo no final do século quinze.

O Reino do Congo sobreviveu até as primeiras décadas do século dezessete, quando foi destruído pelas disputas entre portugueses e holandeses pelo tráfico de pessoas escravizadas.

Fotografia. Vista da fachada de uma construção em ruínas, com paredes de pedra, formato triangular e uma abertura central em forma de arco, indicando um pequeno altar.
Ruínas da Catedral de São Salvador do Congo, em imbânza Congo, Angola. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O Reino do Congo e as áreas vizinhas foram descritos no final do século dezesseis por Filippo Pigafetta e Duarte Lopes. Leia a seguir um fragmento do texto desses cronistas.

O Reino do Congo pelo olhar dos europeus

“O reino divide-se em seis províncias: Bamba, Sogno, Sundi, Pango, Batia e Pemba. A província de Bamba, a mais extensa e rica, é governada por dom Sebastião Mani Bamba, primo do rei dom Álvaro, que faleceu recentemente; está situada na costa do Rio Ambrize, em direção ao sul, até o Rio Coanza; nela há muitos senhores dependentes reticências. Todos esses senhores exercem sua autoridade sobre as partes litorâneas do reino. No interior, para o lado de Angola, ouvimos falar dos Ambundo reticências. Observai que a palavra mani quer dizer senhor e a segunda parte do nome indica a região ou senhoria. Assim, por exemplo, Mani Bamba quer dizer senhor da região de Bamba e Mani Corimba, senhor de Corimba reticências. Bamba, como dissemos, é a principal província do Congo; ela é a chave do reino, seu escudo e espada, sua defesa, seu bastião contra o inimigo reticências. Seus habitantes são corajosos e estão sempre dispostos a tomar armas e a repelir os inimigos que lhes vêm de Angola reticências. Em caso de necessidade, pode-se reunir um exército de quatrocentos mil homens.”

LOPES, Duarte; PIGAFETTA, Filippo. Relação do Reino de Congo e das terras circunvizinhas. citado por: NIANE, D. T. História geral da África: África do século doze ao século dezesseis. Brasília: Unesco, 2010. volume 4, página 649.

OUTRAS HISTÓRIAS

Bantos

A palavra “banto”, que significa “pessoas” ou “povo”, é também o nome dado a um conjunto de cêrca de 400 idiomas do mesmo tronco linguístico, composto de línguas como o quimbundo, o quicongo e o umbundu. Atualmente, elas são faladas por mais de 300 milhões de pessoas em países como Gabão, Congo, Angola, entre outros.

As pessoas que vivem nesses países podem compreender palavras usadas por habitantes de países vizinhos. Algo semelhante ocorre com os brasileiros, que conseguem entender diversas palavras faladas por argentinos, paraguaios e bolivianos.

A maioria dos africanos escravizados que vieram para o Brasil eram bantos. Várias palavras da língua portuguesa são de origem banta, como: axé, batucada, banguela, caçula, carimbo, encafifar, fubá, gangorra, lenga-lenga, moleque, quilombo e quitute.

Origem dos principais grupos de africanos escravizados no Brasil (séculos dezesseis a dezenove)

Mapa. Origem dos principais grupos de africanos escravizados no Brasil (séculos dezesseis a dezenove). Destaque para América do Sul e África. Em verde claro, área na África referente ao território de sudaneses, compreendendo porção do centro à costa oeste do continente, envolvendo a cidade ou feitoria Cabo Verde e São Jorge da Mina. Em lilás, território referente aos bantos, compreendendo porção do centro à costa sudoeste e à costa sudeste do continente, envolvendo a cidade ou feitoria Benguela, Moçambique e Mombaça. Setas verdes contínuas indicam 'Tráfico de escravizados para o Brasil', da África ao Brasil, partindo de Cabo Verde para São Luís e Olinda, de São Jorge da Mina para Olinda e Salvador, de Benguela para Salvador e Rio de Janeiro, e de Moçambique e Mombaça para Rio de Janeiro. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.120 quilômetros.
Fonte: CAMPOS, Flavio de; dounicóf, Miriam. Atlas da história do Brasil. São Paulo: Scipione, 1994. página 9.

Responda no caderno

Atividades

  1. Você já ouviu pessoas falando espanhol? Conseguiu compreender o que elas diziam? Dê exemplos de palavras semelhantes e diferentes entre o idioma português e o espanhol.
  2. O português que falamos hoje é idêntico ao que é falado em Portugal? Por quê?
  3. Por que o estudo das línguas pode ser útil para quem estuda a história dos povos?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê dois, cê ê cê agá cinco e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero dois e ê éfe zero sete agá ih zero três, na medida em que identifica características e processos específicos dos bantos antes da chegada dos europeus e a complexidade das interações entre América, Europa e África.

Outras histórias

  1. Resposta pessoal, em parte. As principais semelhanças estão em palavras do vocabulário, mas talvez os estudantes tenham percebido diferenças na entonação das palavras ou na estrutura das frases.
  2. Não, mesmo com o acordo ortográfico assinado por diversos países de língua portuguesa, continuam existindo diferenças no significado de várias palavras. No caso do português falado no Brasil, trata-se do resultado do contato mais intenso e direto com povos indígenas e africanos e seus respectivos idiomas.
  3. Incentive os estudantes a levantar hipóteses e, depois, destaque que a língua é uma das bases da cultura de um povo e, por isso, constitui uma rica fonte para pesquisas históricas. Analisando uma língua, é possível perceber, por exemplo, o valor que uma sociedade dá a certas coisas e como ela constrói relações de poder.

Culturas africanas no Brasil

Entre os séculos dezesseis e dezenove, milhões de africanos foram forçados a vir para o Brasil. Eles enfrentaram dificuldades e vários tipos de violência.

Apesar de tudo, não abandonaram seu modo de viver, mas o transformaram. Por isso, a presença cultural dos africanos permanece viva no cotidiano dos brasileiros.

Essa presença é vigorosa em áreas como literatura, música, artes, dança, ciência, alimentação, religião, vestuário e conhecimentos técnicos. Espalhadas por todas as regiões do país, as culturas africanas fazem parte do modo de ser, de pensar e de viver dos brasileiros.

Fotografia. Um conjunto de mulheres em posição de dança, dispostas lado a lado, em um círculo. Elas vestem trajes brancos, faixas de tecidos coloridos e bandanas ou turbantes em suas cabeças. Ao fundo, destaque para uma mulher com um tambor de madeira.
Apresentação de jongo em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Fotografia de 2019. O jongo é uma manifestação artística afro-brasileira, que envolve música e dança, praticada por escravizados nas fazendas de café e até hoje presente em comunidades rurais do Sudeste. Foi declarado patrimônio imaterial brasileiro.
Escultura. Um homem vestindo uma armadura, segurando um arco em suas mãos, e um cachorro sentado aos seus pés.
Escultura criada por Valentim da Fonseca e Silva (cêrca de 1745-1813) ou Mestre Valentim. Filho de um português e de uma escravizada, ele foi um dos principais artistas do Brasil entre o fim do século dezoito e início do século dezenove.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

O que você sabe sobre a influência dos africanos no Brasil? Converse sobre esse assunto com os colegas e o professor.

Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica. Filme.

dica filme

Série Nova África (Brasil). Direção: Henry Daniel ágil e Luiz Carlos Azenha. 2009.

Série exibida pela televisão entre 2009 e 2010. Os 32 episódios mostram o cotidiano da população de diferentes países da África na atualidade. Você pode assistir aos episódios no link: https://oeds.link/5xxvXK. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Museu Afro Brasil

Disponível em: https://oeds.link/e8XAUL. Acesso em: 3 fevereiro 2022.

Conheça o sáite do Museu Afro Brasil, situado na cidade de São Paulo e dedicado à cultura africana e afro-brasileira.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Culturas africanas no Brasil” e o boxe “Para pensar” favorecem o desenvolvimento das competências cê gê três e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero dois, na medida em que identificam as complexas conexões e interações entre a sociedade brasileira e as africanas do sul do Saara.

Para pensar

Resposta pessoal. Esta atividade desenvolve o tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras, ao solicitar que os estudantes identifiquem a presença das culturas africanas na formação da cultura brasileira. O professor pode comentar que os africanos influenciaram profundamente a construção do Brasil. Assim, é possível sugerir que os estudantes montem um quadro organizando as influências por categorias ou áreas, como:

  • população: no Brasil, de acordo com dados do í bê gê É de 2019, 9,4% da população se autodeclara preta e 46,8% da população se autodeclara parda (mestiça);
  • literatura: um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos é Machado de Assis, que tem ascendência negra;
  • música: Pixinguinha é considerado um dos maiores nomes da música popular brasileira e um dos criadores do gênero musical choro. Elizeth Cardoso é uma das maiores cantoras e intérpretes do Brasil. Ambos os artistas são afrodescendentes;
  • alimentação: pratos típicos da culinária nacional são criações de afrodescendentes, tais como a feijoada e o acarajé;
  • linguagem: palavras como “cafuné”, “dengo” e “moleque” foram criadas a partir de línguas africanas;
  • mineração e metalurgia: saberes e técnicas de extração de ouro e fundição de ferro foram trazidos por africanos escravizados, sobretudo bantos e populações da Costa da Mina;
  • agricultura e botânica: saberes e técnicas envolvidos no cultivo da cana-de-açúcar e do café também foram trazidos por africanos escravizados, que já conheciam e cultivavam essas plantas muito antes de sua introdução no Brasil;
  • tecelagem e estamparias: saberes e técnicas africanos de confecção e pintura de tecidos foram aplicados no Brasil para a produção de redes de dormir, velas de embarcações e sacos para embalar produtos agrícolas.

PAINEL

Tecidos africanos

A tecelagem no continente africano começou a ser desenvolvida há mais de mil anos. As sociedades africanas produziram belos tecidos usando diversos tipos de instrumentos e matérias-primas. A seguir, conheça um pouco das técnicas artesanais de produção dos tecidos no continente africano e observe alguns exemplares.

Adire

Os iorubás decoram seus tecidos com uma técnica chamada adire. No adire, uma substância impermeabilizante (geralmente amido) é usada para desenhar sobre o tecido. Assim, durante o banho de tintura, as partes desenhadas ficam protegidas e permanecem na cor original.

Fotografia. Duas mulheres, lado a lado, em pé sobre um palco, ambas trajando túnicas semelhantes, com cores escuras e detalhes formados por linhas e figuras geométricas.
Mulheres vestindo roupas feitas com a técnica adire em um festival em abeôkutá, Nigéria. Fotografia de 2019.

Adinkra

Em Gana, o povo axânti decora tecidos com uma técnica de impressão que utiliza carimbos chamada adíncra. Cada figura na padronagem do tecido tem um significado na cultura axânti. A região próxima à cidade de Ntonso, em Gana, é considerada um dos principais centros de produção de tecidos com essa técnica.

Além de estampados em tecidos e adereços, os símbolos utilizados na técnica adíncra são esculpidos em madeira ou moldados em peças de ferro.

Fotografia. Destaque para a mão de uma pessoa segurando um pequeno objeto com marcação de linhas entrelaçadas sobre um tecido vermelho estendido com detalhes e contornos pintados em preto.
Um artesão carimba tecido com a técnica adíncra na cidade de Ntonso, região axânti, em Gana. Fotografia de 2012.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Painel” contribui para o desenvolvimento da competência cê gê três, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero três, pois identifica saberes e técnicas desenvolvidos por sociedades africanas antes da chegada dos europeus.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a história dos axântis (ou ashanti) e os tecidos quentê.

O tecido quentê dos ashanti

“O mais famoso tecido produzido pelos ashanti é o chamado quentê, um termo que advém da palavra fânte kênten, que significa “cesta”. Historicamente, o tecido quentê era um símbolo da realeza. Durante séculos era a figura do rei (ashanterrêne) quem controlava a sua produção e utilização, até este adquirir, ao longo do tempo, um uso mais generalizado. Viajantes que estiveram no reino ashanti observaram que havia uma diferenciação hierárquica entre membros da côrte, através do tipo de roupa e de tecido, bem como o hábito de enterrar os chefes utilizando esses panos, tradição, aliás, ainda viva nos dias de hoje. Além de sua utilização como vestimenta, o tecido quentê também aparece em muitas outras importantes fórmas de regalia entre os ashanti, incluindo tambores, escudos e guarda-sóis. Os variados motivos geométricos presentes nesses tecidos são produzidos tanto em algodão quanto em seda. Alguns padrões são feitos exclusivamente para homenagear pessoas socialmente importantes, como governantes, reis, rainhas, artistas e suas famílias, entre outros. Outros padrões se referem a plantas, animais ou objetos cotidianos, bem como a temas como riqueza, paz e bem-estar. E, finalmente, outros motivos são baseados em algum evento ou ocasião particular. No que diz respeito às cores, a azul, a verde, a amarela, a vermelha e a magenta são típicas dos tecidos usados pelos homens. Já as mulheres usam tecidos menores, mas com um padrão geométrico que se assemelha ao masculino. O tecido quentê ficou conhecido em outras partes do mundo através da figura do presidente cuâme nicrúma, que governou Gana entre 1957 e 1966 e contribuiu para tornar o tecido símbolo da identidade panafricana. Atualmente, releituras contemporâneas utilizando esse tipo de pano podem ser encontradas numa infinidade de modelos de chapéus, bolsas, roupas, dentre outros artigos.”

beviláqua, Juliana Ribeiro da Silva. O tecido quentê dos ashanti. São Paulo: Museu Afro Brasil, 2012. página 2. Disponível em: https://oeds.link/WvLMEZ. Acesso em: 4 fevereiro 2022.

quentê

Os axântis também fabricam tecidos chamados quentê, feitos de fios de algodão e seda que formam figuras geométricas com intensos contrastes de cor.

Os tecidos quentê eram originalmente reservados à realeza axânti, sendo usados apenas em ocasiões especiais. Atualmente, esses tecidos se popularizaram e são utilizados em desfiles de moda pelo mundo. São um dos símbolos da identidade de Gana.

Fotografia. Destaque para o rosto de um homem, de cabelos curtos, com os dentes à mostra, e uma faixa de tecido colorido estendido a sua frente.
Vendedor mostrando tecido quentê em Accra, Gana. Fotografia de 2020.

bogolanfíni

No Mali, os bambaras desenham sobre tecidos usando pigmentos amarelos e banhos de argila. Essa técnica, conhecida como bogolanfíni, é um símbolo da cultura do Mali.

Com a modernização dessa técnica, atualmente, os tecidos bogolanfíni são produzidos em quantidades maiores e exportados para diversas regiões do mundo, sendo usados na moda, na arte e na decoração.

Fotografia. Tecido contendo desenho de uma mesquita ao fundo, com torres verticais, tetos triangulares e muros altos. Ao redor, diversas pessoas carregando cestas, caules de árvores e alguns sobre o dorso de cavalos.
Tecido de algodão tingido com argila (método bogolanfíni) representando a Mesquita de Dijenê exposto na feira de beledugú, Mali. Fotografia de 2021. Esses tecidos abastecem o mercado interno e são exportados para outros países.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Em seu caderno, relacione as frases com uma das sociedades africanas.

  1. Fundado pelos iorubás, era governado por um rei chamado oni, que detinha poder político e religioso.
  2. Formado por um povo banto no século treze, sua capital era imbânza Congo, que passou a se chamar São Salvador do Congo após a conversão do rei ao cristianismo.
  3. Formado pelos jejês entre os séculos dezessete e dezenove, possuía um poderoso exército, composto de guerreiros homens e mulheres.
  4. Tombuctu era um de seus centros comerciais e culturais, onde havia uma importante universidade e várias bibliotecas.
  5. Tornou-se poderoso entre os séculos seis e doze, chegando a ter um exército de 200 mil soldados. Ficou conhecido como “terra do ouro”.
    1. Reino de Gana.
    2. Reino do Mali.
    3. Reino de Ifé.
    4. Reino do Daomé.
    5. Reino do Congo.

Interpretar texto e imagem

integrar com Língua Portuguesa

2. Em grupo, leia a frase do escritor malinês Tiérno Bocár Salíf Tal(1875-1940): “A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si”.

  1. Ao fazer distinção entre escrita e saber, o autor utilizou uma metáfora. Pesquisem o que é “metáfora” e expliquem como ela foi utilizada na frase.
  2. Vários historiadores antigos afirmavam que a invenção da escrita marcava o início da História. Antes da escrita, havia a Pré-história. Tendo em vista o contexto africano, escrevam sobre a importância de destacar que escrita e saber são coisas distintas.
  3. A frase aplica-se aos povos africanos anteriores à conquista europeia? Justifiquem.

Integrar com Arte

3. Em 1938, foram descobertas treze cabeças de latão no palácio real em Ifé, atual Nigéria. Essa descoberta provocou uma revisão na História da Arte, explicada pelo professor de arte nigeriano Babatunde Lawal:

“Dar-se conta de que seus antepassados não eram tão atrasados como se costuma retratar foi uma dupla fonte de alegria para [muitos nigerianos]. A descoberta despertou neles um novo tipo de nacionalismo, e eles começaram a andar com confiança, orgulhosos de seu passado.

Lauál, Babatúnde. citado por: meecgrigor nil. A história do mundo em 100 objetos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. página 457.

Escultura. Destaque para a cabeça de um homem, utilizando um chapéu com detalhes laterais e uma pequena haste na frente, com uma ponta de base arredondada.
Cabeça de Ifé, encontrada na Nigéria, cêrca de séculos doze a catorze
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção contribui para o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

  • cê gê um (atividade 4);
  • cê gê três (atividades 3 e 5);
  • cê gê dois (atividades 2 e 4);
  • cê gê quatro (atividade 5);
  • cê gê sete (atividades 2 e 4);
  • cê ê cê agá um (atividade 3);
  • cê ê cê agá quatro (atividade 2);
  • cê ê cê agá seis (atividades 2 e 4);
  • cê ê agá um (atividade 1);
  • cê ê agá três (atividades 2, 3, 4 e 5);
  • cê ê agá quatro (atividade 3);
  • cê ê agá seis (atividades 2 e 3);
  • ê éfe zero sete agá ih zero dois (atividade 5);
  • ê éfe zero sete agá ih zero três (atividades 1, 3 e 5).

Oficina de História

Conferir e refletir

    1. cinco; b. quatro; c. um; d. três; e ê dois.

Interpretar texto e imagem

  1. Atividade interdisciplinar com Língua Portuguesa que busca promover a leitura inferencial para interpretar uma metáfora (“A escrita é a fotografia do saber”).
    1. Metáfora é uma figura de linguagem que utiliza uma palavra por outra e estabelece certa semelhança entre seus significados. A metáfora utilizada no texto compara a escrita com a fotografia: “A escrita é a fotografia do saber”.
    2. Os povos africanos, ao longo de sua história, desenvolveram variadas fórmas de saber que foram expressas em suas obras culturais. No entanto, nem todos esses povos desenvolveram registros escritos. Muitos autores ocidentais julgaram preconceituosamente que a ausência de escrita era indício de uma “deficiência”, um “atraso”, um saber “primitivo”.
    3. Resposta pessoal, em parte. O objetivo é fazer os estudantes perceberem que a escrita é apenas uma das fórmas de registro e transmissão do saber, que pode ocorrer também por meio da oralidade, dos gestos, da arte, da dança, da culinária e dos costumes em geral. A existência de uma civilização, enfim, não depende apenas do advento e/ou do desenvolvimento da escrita. É interessante ressaltarque a relação entre o desenvolvimento da escrita e a noção de civilização foi construída e utilizada por intelectuais europeus, sobretudo a partir do século dezenove. No entanto, esse entendimento é cada vez mais problematizado e flexibilizado.
  1. Segundo o texto, qual foi a importância da descoberta das esculturas de Ifé?
  2. Escolha um objeto pessoal que tenha valor para você. Escreva uma história explicando o significado desse objeto em sua vida. Depois, compartilhe sua história com os colegas e ouça as experiências deles.

4. Leia o texto do historiador Alberto da Costa e Silva e responda às questões.

“Nos filmes, nas histórias em quadrinhos, nos seriados de TV, nos romances, a África é sempre um continente misterioso e mágico, onde são possíveis todas as aventuras. A imagem que nos transmitem diariamente os jornais e os noticiários de rádio e televisão é outra: a de uma parte do mundo assolada por secas, fomes, epidemias, guerras e tiranos.

Uma visão não desmente a outra, e ambas são incompletas. Se uma região da África foi atacada por nuvens de gafanhotos reticências, e nela há fome, nas outras a colheita se fez normalmente, os celeiros estão repletos e há abundância de comida. Se em determinado lugar há uma feroz luta armada, noutros as crianças vão regularmente à escola, de roupa limpa e sapatos lustrados. E a vida familiar transcorre normalmente, sem faltar alegria.”

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. página 11.

  1. De acordo com o texto, quais visões sobre a África são veiculadas nos meios de comunicação?
  2. Em sua interpretação, por que essas visões são incompletas? Elabore hipóteses.

Integrar com Arte

5. No Reino do Benin, por volta dos séculos dezesseis a dezessete, foram criadas placas de latão que revelam um grande talento artístico e um conhecimento técnico sofisticado de fundição de metais. Embora africanos e europeus trocassem diversos produtos entre si, essas placas não podiam ser vendidas. Elas eram utilizadas na decoração do palácio do rei do Benin.

Em geral, essas placas exaltam o governante e sua côrte (imagem 1), mas também existem algumas representações de povos estrangeiros, como os portugueses (imagem 2). Observe as imagens e responda às questões.

Escultura sobre placa. Ao fundo, guerreiros vestindo armaduras, portando escudos, lanças, e capacetes em suas cabeças. Em primeiro plano, ao centro, destaque para um homem, de capacete e peito desnudo, com os braços semi abertos lateralmente, segurando com uma das mãos uma espada voltada para cima e com a outra uma lança voltada para baixo.
Placa de latão representando o rei do Benin em trajes de batalha com seus assistentes, cêrca de séculos dezesseis-dezessete.
Escultura sobre placa. Representação de um guerreiro visto de lado, em pé, vestindo uma armadura, botas e um capacete na cabeça. Ele segura um armamento com as duas mãos e possui uma faca atada à sua cintura. Aos seus pés há um cachorro.
Placa de latão do Palácio de Obá, em Benin, mostra soldado português, cêrca de século dezesseis.
  1. Em sua interpretação, que personagem representa o rei na imagem 1? Argumente.
  2. Que elementos da imagem 2 identificam o soldado português?
Orientações e sugestões didáticas
  1. Atividade interdisciplinar com Arte, que promove leitura e interpretação de um texto historiográfico e uma ação protagonizada pelo estudante.
    1. A descoberta das esculturas de Ifé foi importante porque os nigerianos perceberam que seus antepassados não eram “atrasados”, como se costumava afirmar. A descoberta despertou neles um novo tipo de nacionalismo, aumentando sua autoconfiança e orgulho.
    2. Resposta pessoal. Esta atividade visa exercitar nos estudantes a empatia e a comunicação, ao solicitar que eles expliquem o significado do objeto que escolheram e ouçam as justificativas de escolha dos colegas. Debata com eles sobre a importância das fontes não escritas para a construção do conhecimento histórico. Além disso, estimule-os a reconhecer e valorizar os objetos que fazem parte de sua própria história.
  2. Atividade que promove leitura e interpretação de um texto, bem como uma reflexão sobre representações da África. Esta atividade está associada à sondagem de conhecimentos prévios proposta no boxe Para começar, na abertura do capítulo. Verifique, por exemplo, se as imagens que os estudantes tinham acerca da África se modificaram após o contato com processos, fórmas de organização, saberes e técnicas das sociedades que viviam naquele continente.
    1. A África é comumente representada como um continente misterioso e mágico nos filmes, nas histórias em quadrinhos, nos seriados de TV e nos romances, em que todas as aventuras são possíveis. Já a imagem que nos transmitem diariamente os jornais e os noticiários de rádio e televisão é outra: a de uma parte do mundo assolada por secas, fome, epidemias, guerras e tiranos.
    2. Incentive os estudantes a perceber que o continente africano é múltiplo e nele existem diferentes realidades sociais.
  3. Atividade interdisciplinar com Arte, que promove a leitura inferencial de imagens.
    1. A figura do rei pode ser identificada por sua posição central na imagem, sendo protegido e servido pelos outros personagens.
    2. O soldado português pode ser identificado pelo vestuário e armamento (capacete, botas etcétera.).

Glossário

Relvado
: terreno coberto de relva, que é um tipo de vegetação rala e rasteira.
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Estereotipado
: algo ou alguém que carrega um estereótipo, uma ideia preconcebida, fruto de prejulgamento ou generalizações.
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Axânti
: povo que construiu um reino poderoso entre os séculos dezoito e dezenove na região onde atualmente se situa Gana. Hoje, os axântis se destacam no comércio e no artesanato de ouro e marfim.
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Adobe
: tijolos feitos de argila e palha secos ao sol.
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África saelina
: o mesmo que Sahel, área situada na transição entre o Saara e as áreas mais úmidas ao sul do continente.
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Ascendência
: significa, no texto, poder que alguém tem sobre outra pessoa.
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