UNIDADE 3 COLONIZAÇÃO DO BRASIL

CAPÍTULO 9 AÇÚCAR, ENGENHO E GUERRAS

A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil há quase 500 anos. Hoje, nosso país é o maior produtor do mundo. Desde os tempos da colonização até os dias atuais, a produção açucareira passou por transformações modernizadoras.

A colheita, que era manual, tornou-se mecanizada. A cana, da qual se extraía açúcar e se obtinha aguardente, agora também serve para produzir etanol (álcool), que é um biocombustível.

No período colonial, a principal mão de obra utilizada na produção canavieira era a escrava. Atualmente, os trabalhadores são livres e recebem remuneração.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

Que alimentos você consome que contêm açúcar? O consumo exagerado de açúcar pode causar problemas à saúde? Quais? Discuta essas questões com os colegas.

Pintura. Representação de um engenho com um telhado triangular e vigas verticais pelo perímetro, em uma paisagem com densa vegetação, e algumas construções ao redor. Há pessoas nas áreas circundantes, executando diferentes tarefas. Algumas estão próximas à carros de bois, outras carregam caixas pelo terreno e cestos sobre a cabeça. À direita, no interior de uma construção, uma moenda e pessoas em seu entorno. Em segundo plano, um rio por entre a mata.
Engenho, pintura de frãns pôst, século dezessete. No quadro, notamos africanos escravizados trabalhando na produção de açúcar.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero sete agá ih zero nove
  • ê éfe zero sete agá ih um zero
  • ê éfe zero sete agá ih um um
  • ê éfe zero sete agá ih um dois
  • ê éfe zero sete agá ih um quatro

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, a produção açucareira no Brasil colonial e a ocupação holandesa, e de assuntos correlatos, como a estrutura e implantação dos engenhos; a escravização de indígenas e africanos; o mercado interno e as plantations; os impactos da União Ibérica e da ocupação holandesa; e a presença de indígenas, mulheres e negros nas lutas contra os holandeses.

  • Reconhecer os motivos que contribuíram para o início da produção açucareira no Brasil colonial.
  • Identificar as estruturas que formavam o engenho de açúcar.
  • Conhecer as principais formas de trabalho presentes na América portuguesa, com destaque para a escravização de indígenas e africanos.
  • Compreender as dinâmicas mercantis do Brasil colonial, ressaltando a importância das plantations e do mercado interno.
  • Analisar as causas e as consequências da União Ibérica e do governo instalado pelos holandeses em Pernambuco.
  • Destacar o papel dos indígenas, das mulheres e dos negros nas guerras contra os holandeses no Brasil colonial.

Para começar

Este boxe contribui para o desenvolvimento dos temas contemporâneos transversais Saúde e Educação alimentar e nutricional. Provavelmente, os estudantes responderão que consomem alimentos que contêm açúcares, como sacarose e frutose. Esses açúcares são encontrados no mel, em frutas, cereais, pães, refrigerantes etcétera Além disso, a sacarose, conhecida como açúcar de mesa, é usada para fazer doces, bolos e adoçar bebidas. Oriente que, em casa, eles verifiquem a embalagem de alguns dos produtos que consomem e identifiquem os ingredientes informados pelo fabricante.

Comente que o consumo exagerado de açúcar pode causar problemas de saúde, sobretudo quando as pessoas não têm uma alimentação balanceada e não praticam exercícios físicos regularmente. Embora os açúcares sejam importantes fontes de carboidratos, indispensáveis para a produção de energia, “o consumo excessivo de açúcar aumenta o risco de cárie dental, de obesidade e de várias outras doenças crônicas” (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. segunda edição Brasília: Ministério da Saúde, 2014. página 35).

Fotografia. Destaque para um homem visto de costas, ao lado de uma carroça guiada por um boi, em um campo gramado com árvores ao fundo. A carroça possui cana-de-açúcar.
Trabalhador rural conduzindo carro de boi carregado de cana-de-açúcar em Silveira Martins, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2021.
Fotografia. Vista superior de uma plantação de cana-de-açúcar, em que um trator porta carroças, e ao seu lado, um trator que está no meio das plantas, com uma coluna partindo da sua traseira em direção à carroça.
Colheita mecanizada de cana-de-açúcar em Mirassol, São Paulo. Fotografia de 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Em grupos, leiam o texto de abertura deste capítulo e respondam às questões. Se necessário, pesquisem.

1. Como a cana-de-açúcar é cultivada atualmente? Pensem em aspectos como mão de obra, instrumentos, técnicas etcétera

Resposta: No Brasil atual, o cultivo de cana envolve o uso de máquinas (mecanização), pesticidas e pesquisas genéticas. Ao mesmo tempo, persiste o uso de técnicas antigas, como a queimada, para facilitar a colheita. Calcula-se que hoje existam cêrca de 1,4 milhão de pessoas trabalhando diretamente com cana-de-açúcar no Brasil. São trabalhadores de usinas e lavouras, como técnicos, engenheiros, cientistas, administradores e cortadores. Entre esses profissionais, os cortadores são os menos valorizados, recebendo baixa remuneração para longas e exaustivas jornadas de trabalho.

2. Que produtos são fabricados a partir da cana-de-açúcar?

Resposta: Entre os produtos fabricados a partir da cana estão o açúcar, a aguardente, o caldo de cana, o melaço e o etanol, utilizado principalmente como combustível para os automóveis. Além disso, o bagaço da cana tem sido usado como biocombustível (biomassa) para a geração de energia elétrica.

3. Qual é a importância econômica da produção de cana-de-açúcar no Brasil atual?

Resposta: O Brasil é hoje o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (conábi), entre 2020 e 2021, a produção brasileira foi estimada em 654,5 milhões de toneladas. Nesse período, o setor ocupou posição de destaque na pauta de exportação do país, com participação de 9,9%.

4. Quais são as principais diferenças entre o cultivo da cana-de-açúcar no período colonial e nos dias de hoje?

Resposta: Entre as principais diferenças, podemos citar a mecanização da produção, o emprego de trabalhadores livres e assalariados e o crescente uso de tecnologias de ponta, como pesquisas genéticas e produção de biomassa.

Açúcar e colonização

Durante a expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza, foi instalado o primeiro engenho de cana-de-açúcar do Brasil na vila de São Vicente (1532). Depois disso, muitos outros engenhos foram construídos no litoral brasileiro. A produção açucareira superou a extração de pau-brasil, que continuou a ser explorado intensamente até o século dezessete.

Conheça alguns motivos que contribuíram para o desenvolvimento da produção de açúcar no Nordeste:

  • condições naturais favoráveis ao cultivo de cana, como clima quente, quantidade adequada de chuvas e solo de massapêglossário ;
  • experiência portuguesa bem-sucedida com o cultivo de cana na Ilha da Madeira e no Arquipélago dos Açores;
  • perspectiva de obter lucros com a produção de açúcar, que era considerado um artigo de luxo no mercado europeu.

Os portugueses dominavam a produção de açúcar no Brasil e os holandeses controlavam a distribuição comercial (transporte, refino e venda na Europa). Distribuir o açúcar dava mais lucro, portanto o negócio era mais vantajoso para os holandeses.

Gravura em preto e branco. Destaque para navios e embarcações sobre as águas. Em segundo plano, uma passarela se estendendo por cima da água.
Porto de Recife, Pernambuco, em gravura de carél alárd, 1698. A maior parte da produção açucareira do Brasil era escoada por esse porto.

Engenhos

Durante o período colonial, a maioria das pessoas vivia no campo e trabalhava em propriedades rurais dedicadas à agricultura e à pecuária. Entre essas propriedades, destacavam-se os engenhos, que eram importantes núcleos econômicos, sociais, administrativos e culturais.

Os engenhos eram grandes propriedades de terra onde se plantava cana e se produziam açúcar e aguardente. Vários engenhos também tinham áreas para a plantação de alimentos, a criação de animais e a extração de madeira e de outros recursos naturais. Tudo isso dava lucro, poder e prestígio a seus donos, que eram chamados de senhores de engenho. A autoridade desses senhores geralmente ia além de suas propriedades, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos. De modo geral, a mulher do senhor de engenho cuidava da educação dos filhos e das tarefas domésticas.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Açúcar e colonização” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um quatro, ao abordar a produção açucareira no Brasil durante a colonização portuguesa e a participação de holandeses no refino, no transporte e na venda para a Europa, mostrando como se deu sua produção e comercialização.

Outras indicações

Museu da Cana. Disponível em: https://oeds.link/7qGQpq. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

No site do Museu da Cana, instalado no antigo Engenho Central e localizado na região de Sertãozinho, no estado de São Paulo, é possível conhecer o acervo da instituição.

Outras indicações

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. terceira ediçãoBelo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:êduspi, 1982.

Livro do jesuíta italiano André João Antonil que trata da produção do açúcar, do funcionamento dos engenhos, da relação entre senhores e escravizados, entre outros temas.

Nos engenhos existiam diversas instalações, entre as quais, destacamos:

  1. casa-grande – casarão onde viviam o senhor de engenho e sua família, além dos empregados de confiança, que cuidavam das tarefas da casa e da segurança. O engenho era administrado a partir da casa-grande;
  2. senzala – habitação construída para os escravizados. Era um alojamento bem rústico e precário;
  3. capela – espaço onde um padre realizava as cerimônias religiosas. Servia também como local de reunião da comunidade aos domingos e para eventos como batizados, casamentos e funerais;
  4. casa do engenho – local formado pela moenda, onde se moía a cana-de-açúcar e se extraía seu caldo, e pelas fornalhas, que serviam para ferver e purificar o caldo em tachos de cobre, transformando-o em melaço;
  5. casa de purgar – local onde o melaço era resfriado, condensado (endurecido) e branqueado;
  6. galpões – armazéns onde os blocos de açúcar eram quebrados e moídos.
Ilustração. Destaque para várias construções em um terreno gramado. Ao fundo e à esquerda, identificada pelo número '1', uma casa com duas torres laterais, paredes brancas, cômodos acessórios e janelas distribuídas. Em meio ao terreno, identificada pelo número '2', uma construção de paredes amarelas, formato em 'L', com telhado triangular e portas retangulares distribuídas de forma homogênea. Em segundo plano, à direita, identificada pelo número '3', uma igreja com uma torre lateral e uma cruz no topo, e uma entrada central retangular. À frente, identificada com os números '4' (à esquerda) e '5' e '6' (à direita) uma construção em 'L', com telhado triangular, vigas verticais, contendo em seu interior uma moenda, bacias, tanques e caixas contendo produtos. Ao redor, homens, vestindo faixas de tecido ao redor da cintura, e mulheres, trajando vestidos simples, desempenham diferentes atividades, como carregar caules, baldes e cestos. Na extremidade da construção, em contato com a água de um rio lateral, uma roda de água circular.
Representação artística de instalações de um engenho do século dezessete.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a escolha da localização dos engenhos na América portuguesa e o impacto dessa escolha no tipo de energia empregado para fazê-los funcionar.

A localização estratégica dos engenhos

“Na análise da arquitetura dos antigos engenhos considera-se não só a forma de cada edifício ao longo do tempo, como também a sua disposição relativa ao conjunto e a situação deste no espaço geográfico. O tipo de energia utilizada para mover as moendas determinou em muitos casos a escolha do sítio para instalação dos primeiros engenhos. Sabe-se que quatro tipos de energia foram empregados nos engenhos brasileiros: a energia eólica, a hidráulica, a tração humana e a tração animal.

reticências Das quatro formas de energia, a preferida foi a hidráulica, por ser a mais econômica e eficaz. Mas, para utilizá-la, os engenhos deviam localizar-se nas proximidades de um curso-d’água; desviando-o parcialmente, construía-se um açude cujas comportas, quando abertas, movimentavam rodas que, por meio de engrenagens, transmitiam o movimento às moendas.

Os primeiros senhores de engenho tiveram o privilégio de escolher o sítio onde se instalariam e, com certeza, optaram pelas rodas hidráulicas. Além de fornecer a energia, os cursos-d’água serviam como vias de transporte do açúcar até os portos de onde este seria levado para a Europa. reticências Quando o engenho ficava distante de cursos-d’água, tinha-se de usar a fôrça animal, quase sempre de bois e cavalos.

Outro fator determinante da localização dos primeiros engenhos foi a proximidade de matas de onde se extraía lenha para alimentar as fornalhas. A falta de outro combustível trouxe como resultado um progressivo desmatamento. Essas circunstâncias só seriam modificadas no início do século dezenove, com a utilização do bagaço de cana como combustível e com a introdução dos mecanismos a vapor. No entanto, em pleno século vinte, muitos engenhos ainda persistiam no uso da energia hidráulica e de tração animal.”

GOMES, Geraldo. A arquitetura dos engenhos. In: PIRES, Fernando Tasso Fragoso; GOMES, Geraldo. Antigos engenhos de açúcar no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. página 32-33.

fórmas de trabalho

No Brasil colonial, havia trabalhadores livres e escravizados. Os livres podiam trabalhar como barqueiros, vaqueiros, pescadores, padres, funcionários do rei, médicos, advogados, engenheiros etcétera Os escravizados, por sua vez, eram obrigados a realizar tarefas exaustivas e não remuneradas.

Nos engenhos, por exemplo, podiam ser livres os feitores, os mestres de açúcar e os purgadores. Já os escravizados, que eram a maioria, trabalhavam nos canaviais, nas moendas, nas fornalhas etcétera

No início da colonização, durante o século dezesseis, a maioria dos escravizados que trabalhavam nos engenhos era indígena. Mas, no século seguinte, os africanos escravizados tornaram-se mais numerosos. Isso se explica por alguns motivos:

  • a diminuição da população indígena, por causa das epidemias e das guerras de extermínio;
  • a decisão da Coroa portuguesa de ampliar o comércio de africanos escravizados, pois esse negócio era muito lucrativo para os traficantes de escravizados e para a Coroa, que cobrava tributos sobre a atividade;
  • a determinação da Coroa portuguesa, a partir de 1570, de que somente os indígenas capturados em guerra justaglossário seriam escravizados.
Pintura. Indígenas, a maioria mulheres, desnudos sobre um caminho de terra cercado por densa vegetação. Entre eles, um homem em pé, visto de costas, vestindo uma camisa e calça brancas, um chapéu preto na cabeça com uma pena vermelha, portando uma espada atada à cintura. Algumas mulheres indígenas seguram bebês em seus colos. Ao fundo, uma cabana de pedaços de madeira e teto com folhas secas.
Índios atravessando um riacho, pintura de Agostino Brunias, século dezoito. A tela mostra a mão de obra de indígenas escravizados.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Formas de trabalho” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois descreve aspectos das dinâmicas do comércio de africanos escravizados na América portuguesa.

Orientação didática

Ao falar de trabalho escravo no período colonial, comente que essa realidade ainda existe em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, no Brasil atual, submeter uma pessoa a formas de trabalho análogas à escravidão constitui crime, conforme descrito no Artigo 149 do Código Penal Brasileiro.

Artigo 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.”

BRASIL. Lei nº .10803, de 11 de dezembro de 2003. Brasília: Presidência da República, 2003. Disponível em: https://oeds.link/fgyboB. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

Trabalho escravo africano

A partir do século dezessete, a principal mão de obra utilizada na produção de açúcar era de africanos escravizados. Nessa época, o comércio de africanos escravizados chegou a dar tanto lucro para a Coroa portuguesa quanto o próprio açúcar.

Nos engenhos, os escravizados eram obrigados a trabalhar cêrca de 12 a 14 horas por dia. Eles acordavam com um toque de sino, lavavam-se e rezavam rapidamente. Depois, recebiam as ordens do dia.

Sempre havia muito trabalho a fazer: limpar o terreno, coletar lenha, pescar, plantar, colhêr, transportar, cuidar dos canaviais e de tudo o que havia na propriedade, como estradas, construções e animais.

Cada escravizado tinha que cultivar uma área determinada. No tempo da colheita, tinham de cortar certa quantidade de cana-de-açúcar e amarrar tudo em feixes. Os homens trabalhavam, sobretudo, nas tarefas ligadas à cana-de-açúcar. As mulheres, em geral, cuidavam do roçado de subsistênciaglossário , dos animais, dos afazeres da casa-grande e cumpriam, até mesmo, o papel de amas de leiteglossário .

No começo do século dezoito, o jesuíta Antonil escreveu: “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho reticências (ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. terceira edição Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1982. página 89).

Gravura. Quatro homens em um cômodo, dois em pé, segurando as extremidades de uma mesma haste horizontal de madeira, em sentidos contrários, e dois sentados, um a frente do outro, interpostos por moendas contendo caules de cana-de-açúcar. O cômodo possui chão de madeira, uma janela na parede à esquerda e uma porta à direita.
Pequena moenda de cana portátil, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1834-1839. A obra representa escravizados trabalhando em pequena moenda de açúcar movida a tração humana.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a preferência do colonizador pelo trabalho escravo africano.

Por que os colonizadores portugueses escravizaram os africanos?

Há diversas razões para explicar o aumento da escravidão de africanos na América em comparação com a escravidão dos indígenas a partir da primeira metade do século dezessete. Vamos conhecer algumas dessas razões.

Para o historiador Sérgio Buarque de Holanda, os homens indígenas não se adaptavam ao trabalho na lavoura, pois, na cultura deles, esse era um trabalho de mulheres. Assim, o colonizador teve dificuldade para obrigá-los a cultivar a terra.

Ainda de acordo com o historiador, o contato entre brancos e indígenas nas aldeias, nos aldeamentos e nos engenhos transmitiu várias doenças europeias aos nativos. As epidemias matavam milhares de indivíduos. Por isso, muitos senhores evitavam investir dinheiro na compra de trabalhadores indígenas como escravizados.

O mesmo autor lembra que, além das epidemias, as fugas, a proteção dos jesuítas e as leis que garantiam a liberdade dos indígenas tornaram a escravização deles menos lucrativa para os colonos. Em várias situações, a Igreja e a Coroa ficaram contra a escravização dos nativos, mas não contra a dos africanos, porque entendiam que os indígenas não tinham religião e podiam se transformar em bons cristãos. Muitos africanos vinham de culturas que sabiam fazer a metalurgia e a criação de gado, atividades úteis na colônia americana.

Destacamos ainda a interpretação de Fernando Novais. Para esse historiador, escravizar africanos pode ser compreendido como um elemento do sistema colonial português. Os lucros com o comércio dos indígenas capturados ficavam na própria colônia, nas mãos dos colonos. Mas o comércio de africanos enchia os bolsos dos traficantes negreiros e da Coroa, que cobrava impostos sobre essa atividade. Por isso, a escravidão dos africanos foi incentivada, enquanto a dos indígenas foi até mesmo proibida em certos lugares e períodos.

Talvez você esteja se perguntando por que os reis e os donatários não enviaram portugueses e portuguesas para trabalhar nas terras da colônia. Afinal, essas pessoas tinham experiência no trabalho rural. O historiador Caio Prado Júniordiscutiu essa questão e afirmou que existiam muitas diferenças entre as populações europeias. Na Inglaterra, por exemplo, muita gente não tinha emprego e acabou se tornando colono ou trabalhador forçado na América do Norte. Em Portugal e na Espanha, a situação era outra: até os séculos quinze e dezesseis, faltava gente para povoar e cultivar as terras. Por isso, não havia tantos trabalhadores disponíveis para ocupar e cultivar os imensos territórios conquistados na América. Assim, os portugueses escravizaram os nativos e os africanos.

Texto elaborado pelos autores.

Atividade complementar

Pesquisem notícias recentes de jornais e revistas que envolvam denúncias sobre trabalhos análogos à escravidão.

Resposta: Comente que, frequentemente, empresas são denunciadas por manterem seus funcionários em condições precárias, expostos a longas jornadas de trabalho e com baixíssima ou nenhuma remuneração. Após a pesquisa, os estudantes deverão compartilhar suas descobertas com os colegas. Nesse debate, é importante que eles sejam orientados a pensar em possíveis soluções para o problema, ressaltando a importância da fiscalização e do cumprimento da lei para quem for flagrado submetendo pessoas a essas formas de trabalho.

Mercado interno colonial

As grandes propriedades de terras (latifúndios) foram uma das bases da colonização portuguesa até o início da exploração de metais preciosos, no século dezoito. Os latifúndios concentravam-se nas mãos de poucas pessoas.

A maioria dos latifúndios desenvolvia atividades agrícolas para exportação. Em geral, essas atividades utilizavam trabalho escravo e visavam ao cultivo de um único produto (monocultura), como no caso da cana-de-açúcar. As grandes propriedades exportadoras, monocultoras e escravistas receberam o nome inglês plantation.

Além das plantations, a economia colonial abrangia pequenos agricultores e pecuaristas, comerciantes varejistas e atacadistas e artesãos. Produziam-se fumo, algodão, aguardente, couro, charque, arroz, milho, cacau, feijão e drogas do sertão (guaraná, cravo, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais). Havia, portanto, uma economia diversificada, o que confirma a existência e a importância do mercado interno colonial.

No século dezessete, destaca-se, por exemplo, a importância da criação de gado. Os bois forneciam carne, couro e serviam de meio de transporte e fórça para as moendas. Também existia a criação de outros animais, como aves e porcos.

Economia colonial (século dezessete)

Mapa. Economia colonial (século dezessete). Destaque para o território brasileiro em seus limites atuais. Em verde, 'Pau-brasil, compreendendo a costa e parte do interior das porções sudeste e nordeste do território. Em laranja, 'Cana-de-açúcar', compreendendo pequenas áreas da costa sudeste, leste e nordeste do território. Em amarelo, 'Pecuária', compreendendo áreas dispersas nas porções nordeste e sul do território, e pequenas áreas na porção sudeste. Em roxo, 'Mineração', compreendendo pequenas áreas na porção sudeste do território. Em rosa, 'Drogas do sertão', compreendendo grandes áreas na porção norte e noroeste do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 560 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 24.

Entre os séculos dezessete e dezoito, diversas regiões se especializaram na pecuária bovina, como o sertão da Bahia, o sul de Minas Gerais e as planícies do Rio Grande do Sul. Assim, a colonização avançava para o interior do território.

Economia colonial (século dezoito)

Mapa. Economia colonial (século dezoito). Destaque para o território brasileiro em seus limites atuais. Em verde, 'Pau-brasil, compreendendo a costa e parte do interior das porções sudeste e nordeste do território. Em laranja, 'Cana-de-açúcar', compreendendo pequenas áreas da costa sudeste, leste e nordeste do território. Em amarelo, 'Pecuária', compreendendo territórios diversos nas porções nordeste, sudeste, centro-oeste, sul e extremo norte do território. Em roxo, 'Mineração', compreendendo áreas no interior da porção sudeste, centro-oeste e nordeste do território. Em rosa, 'Drogas do sertão', compreendendo grandes áreas na porção norte e noroeste do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 560 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 28.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

A propriedade da terra ainda é um privilégio de poucos no Brasil? Elabore argumentos para debater esse tema com os colegas.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Mercado interno colonial” favorece o desenvolvimento das competências cê gê dois, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá seteêcê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um um, pois analisa a ocupação do território da América portuguesa em função do desenvolvimento do mercado interno colonial, por meio de mapas históricos.

Outras indicações

Para subsidiar o debate sobre mercado interno e a economia colonial entre os séculos dezessete e dezoito, sugerimos os seguintes trabalhos:

FARIAS, Sheila Castro. Colônia sem pacto. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, número 34, julho 2008.

Artigo que revisa as teses clássicas de Caio Prado Júnior sobre a colonização.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985.

Obra clássica que mescla análise econômica e histórica, abrangendo desde a ocupação do território brasileiro pelos portugueses até a crise da cafeicultura e a industrialização.

PRADO Júnior, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: Colônia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

Obra que analisa as relações entre metrópole e colônia no processo histórico que originou o Brasil.

Para pensar

Esta atividade desenvolve o exercício da argumentação, ao solicitar que os estudantes reflitam sobre as razões da concentração de terras no Brasil, que envolveram decisões políticas realizadas ao longo da história do país. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente que o acesso a terras é, ainda hoje, um privilégio de poucos. Segundo pesquisas recentes realizadas pela organização não governamental ócsfã Brasil, apenas 1% das propriedades ocupam metade da área rural utilizada para agricultura e pecuária. Ressalte que a estrutura fundiária brasileira atual está relacionada a decisões políticas tomadas desde o início da colonização, como a adoção do modelo de colonização (capitanias e sesmarias) e a aprovação da Lei de Terras de 1850. De modo geral, essas escolhas dificultaram a distribuição de terras para a maioria da população e geraram profundas desigualdades sociais.

Disputas colonialistas

No século dezessete, os holandeses invadiram o Nordeste do Brasil. Essas invasões ocorreram durante a União Ibérica e a independência da Holanda. Elas estão relacionadas com disputas de poder entre Espanha, Portugal e Holanda. Esse é o tema que estudaremos a seguir.

União Ibérica

No final do século dezesseis, a monarquia portuguesa enfrentou um problema de sucessão dinástica: o rei de Portugal, dom Henrique, morreu sem deixar herdeiros diretos. Terminava ali, em 1580, a dinastia de Avis. Por isso, houve disputas entre os pretendentes ao trono português.

O vencedor dessas disputas foi Filipesegundo, rei da Espanha e parente da família real portuguesa. Seus exércitos invadiram e conquistaram Portugal. Assim, a partir de 1580, Filipe tornou-se rei de Espanha e Portugal, inaugurando o período conhecido como União Ibérica, que se refere à união política dos dois países localizados na Península Ibérica.

A União Ibérica durou 60 anos (1580-1640). Durante esse período, Portugal manteve certa autonomia na gestão direta de seu povo e de suas colônias. A administração colonial do Brasil praticamente não sofreu alterações: os funcionários do governo lusitano foram mantidos e o idioma oficial continuou sendo o português.

Domínios ibéricos (1580)

Mapa. Domínios ibéricos (1580). Planisfério com indicação dos continentes banhados por oceanos. Em verde, 'Territórios sob domínio de Filipe II', compreendendo a América do Sul, a América Central, o sul da América do Norte, Portugal, Espanha, Países Baixos, as cidades Milão, Veneza e Nápoles, as ilhas Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde, Ascensão e Santa Helena; territórios no sudoeste, sudeste e oeste do continente africano, incluindo a feitoria São Jorge da Mina; pequenas áreas no Oriente Médio; áreas em partes da Índia, incluindo as cidades Diu e Goa, e ilhas do Sudeste Asiático. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 2.330 quilômetros.
Fontes: Quínder, Rérmãn; Ríguelmãn, Vérner. Atlas histórico mundial: de los orígenes a la Revolución Francesa. Madri: Istmo, 1982. página 258; ATLAS Hachette: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1987. página 155.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia o texto a seguir sobre o início da União Ibérica.

União Ibérica e a posse das regiões ultramar

reticências a chamada União Ibérica ocorre após a crise dinástica iniciada com a morte do rei dom Sebastião de Portugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis, dom Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono feita pelo rei espanhol Felipe segundo reticências, bem respaldado por seu exército sob o comando do duque de Alba reticências, tem início a maior ‘união de reinos’ da história moderna. Durante 60 anos, Portugal e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica, controlando, além das possessões europeias, grandes áreas ultramarinas na América, África e Ásia. Assim, nas primeiras duas décadas do século dezessete o objetivo central da burocracia hispano-lusa era assegurar a posse das imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França, Inglaterra, e principalmente Holanda.”

CARDOSO, Alírio. A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-1626). Revista Brasileira de História, São Paulo, volume 31, número 61, página 318-319, 2011.

Outras indicações

Se necessário, recomendamos ao professor subsidiar o debate sobre a questão agrária no Brasil com base nos textos a seguir.

  • ALCANTARA FILHO, José Luiz; FONTES, Rosa Maria Olivera. A formação da propriedade e a concentração de terras no Brasil. Revista de História Econômica e Economia Regional Aplicada, Juiz de fóra, volume 4, número 7, julho a dezembro2009. Disponível em: https://oeds.link/VU8svK. Acesso em: 10 fevereiro2022.
  • REIS, Rossana Rocha. O direito à terra como um direito humano: a luta pela reforma agrária e o movimento de direitos humanos no Brasil. Lua Nova, São Paulo, número 86, página 89-122, 2012.

Independência da Holanda

A União Ibérica ocorreu na mesma época em que os holandeses lutavam para se libertar do domínio espanhol. Depois de muitas lutas, em 1581, a Holanda proclamou sua independência em relação à Espanha, que reagiu declarando guerra aos holandeses.

O conflito entre holandeses e espanhóis continuou até a segunda metade do século dezessete, afetando o comércio entre Holanda e Portugal. Lembre-se de que Portugal estava sob o domínio do rei espanhol Filipe segundo desde 1580.

Como reação à independência da Holanda, Filipe segundo proibiu os comerciantes holandeses de atuarem nas áreas dominadas pela Espanha, entre elas, o Brasil. Essa proibição ficou conhecida como embargo espanhol (1598). Isso trouxe prejuízos para os holandeses, pois não puderam mais participar do comércio de açúcar, pau-brasil e couros vindos do Brasil.

Gravura em preto e branco. Um homem visto de frente, vestindo uma armadura e uma coroa ornamentada sobre a sua cabeça.
Gravura representando o rei Filipe segundo(1527-1598), século dezessete. O monarca espanhol governou no início da União Ibérica e enfrentou as revoltas holandesas que culminaram na independência do país em 1581.
Pintura. Uma mulher sobre um cômodo de paredes verdes, com um quadro no canto superior direito e um armário de madeira, ao fundo, ambos vistos parcialmente. Ela está de perfil, trajando um longo vestido e um gorro sobre sua cabeça, ambos de cor acizentada, sentada em uma cadeira, ao redor de uma mesa redonda contendo uma taboa com xícaras, bule e uma pequena tigela.
Jovem holandesa tomando café da manhã, pintura de jãn êtiêne liotárd, cêrca de 1756. Até o século dezesseis, os holandeses foram responsáveis pelo refino, pelo transporte e pela distribuição do açúcar para toda a Europa. Com o embargo espanhol, tiveram que buscar dominar as regiões produtoras de cana-de-açúcar.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Com o embargo espanhol, os holandeses buscaram dominar regiões produtoras de cana-de-açúcar, entre elas o Nordeste brasileiro. No texto a seguir, o historiador Evaldo Cabral de Mello indica alguns dos motivos que contribuíram para que a América portuguesa se tornasse alvo dos holandeses.

Holandeses e a América portuguesa

“A América portuguesa constituiria o elo frágil do sistema imperial castelhano, em vista da sua condição de possessão lusitana, o que conferia à sua defesa uma posição subalterna na escala das prioridades militares do governo de Madri. Contava-se também com a obtenção de lucros fabulosos a serem proporcionados pelo açúcar e pelo pau-brasil, calculando-se que, uma vez conquistada a um custo máximo de 2,5 milhões de florins, a colônia renderia anualmente cêrca de 8 milhões de florins. Outro argumento favorável ao ataque contra o Brasil dizia respeito ao fato de que, enquanto os centros do poder espanhol no Novo Mundo estavam concentrados no altiplano, o que tornaria a ocupação tarefa complexa e onerosa, os núcleos de população portuguesa situavam-se ao longo do litoral, ao alcance do poder naval batavo. Por fim, o Brasil poderia proporcionar excelente base de operação contra a navegação espanhola no Caribe, contra a navegação portuguesa com o Oriente, sem falar na proximidade das minas de prata do Peru, cuja distância da costa brasileira era então subestimada pela cartografia.”

MELLO, Evaldo Cabral de (organizador). O Brasil holandês. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. página29.

Reação holandesa

Revoltados com as proibições espanholas, os holandeses saquearam navios ibéricos, contrabandearam produtos e fundaram companhias de comércio. Essas ações provocaram conflitos com a Espanha.

Em 1602, os holandeses fundaram a Companhia das Índias Orientais, com o objetivo de fazer negócios com o Oriente, sobretudo com a Índia. Em 1621, fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, com o objetivo de ocupar, com o apoio do governo holandês, a mais próspera região açucareira do mundo: o Nordeste brasileiro. Além disso, entre 1623 e 1626, os holandeses capturaram cêrca de cem navios carregados com milhares de caixas de açúcar produzido na América portuguesa. No período, isso representou um terço de todo o açúcar comercializado pelo Brasil.

A primeira tentativa holandesa de ocupar o Brasil ocorreu em 1624, com a invasão de Salvador, capital da colônia. Apesar de terem conquistado a cidade, os holandeses não conseguiram manter seu domínio. Diante da invasão, os homens-bons organizaram uma resistência militar, com o apoio de povos Tupi. Essa resistência foi fortalecida por uma grande frota naval enviada pelos espanhóis, que contava com cêrca de 52 navios e 12 mil homens. Assim, os holandeses foram derrotados em 1625.

A derrota holandesa prejudicou os sócios da Companhia das Índias Ocidentais. Porém, o fracasso financeiro foi compensado em 1628, quando navios holandeses assaltaram uma frota espanhola carregada de ouro e prata. Com esse dinheiro, a companhia organizou outro ataque.

Com muitos navios, soldados e canhões, os holandeses atacaram Pernambuco em fevereiro de 1630. Sem condições de resistir, o governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, retirou-se para o interior e fundou o Arraial do Bom Jesus. Ali foram organizadas guerrilhas para lutar contra os holandeses. Porém, após uma série de derrotas, Albuquerque desistiu de comandar a resistência luso-brasileira. Então, começou o domínio holandês em Pernambuco.

Gravura em sépia. Uma cidade vista de cima. Ao fundo, porções extensas de terra contendo árvores, rios, estradas e assentamentos, cercadas por águas. Em primeiro plano, diversos navios e embarcações se aproximam em direção à costa.
A cidade de Olinda de Pernambuco conquistada pelos holandeses em fevereiro de 1630, gravura holandesa de autoria desconhecida, século dezessete. A obra mostra o ataque dos holandeses ao Forte de São Francisco da Barra. Observe a desproporção de fôrças que favoreceu os holandeses na invasão de Pernambuco.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Reação holandesa” contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois o tema das invasões holandesas se relaciona com as dinâmicas comerciais das sociedades americanas e africanas.

Outras indicações

Para saber mais sobre as invasões holandesas, sugerimos a leitura de algumas publicações do historiador Evaldo Cabral de Mello, considerado um dos mais importantes pesquisadores sobre o período de dominação holandesa no Nordeste do século dezessete. Entre suas obras, destacamos:

  • MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates, Pernambuco, 1666-1715. segunda edição São Paulo: Editora 34, 2003.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês 1630-1654. ars, São Paulo, volume 7, número 13, página 160-171, janeiro até junho 2009.
  • MELLO, Evaldo Cabral de (organizador). O Brasil holandês. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. O negócio do Brasil: Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. O nome e o sangue. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. Olinda restaurada. São Paulo: Editora 34, 2007.
  • MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio. São Paulo: Alameda, 2008.

Holandeses em Pernambuco

A ocupação holandesa em Pernambuco pode ser dividida em três momentos principais: a guerra de conquista (1630-1637); o governo de Maurício de nassáu (1637-1644); e a restauração pernambucana (1645-1654).

A guerra de conquista

Durante a guerra, os holandeses incendiaram áreas de lavoura de cana para obrigar os senhores de engenho a fazer acordos e manter a produção; caso contrário, os senhores de engenho corriam o risco de perder suas propriedades. Essa estratégia abriu caminho para as conquistas holandesas em direção à Paraíba, ao Rio Grande do Norte e a Alagoas.

Em cinco anos de luta, os holandeses não conseguiram dominar totalmente a região dos engenhos de açúcar. A guerrilha luso-brasileira estava dando bons resultados, até que Domingos Fernandes Calabar (profundo conhecedor da região) passou a ajudar os holandeses, fornecendo-lhes informações.

Em 1635, após uma série de derrotas, Matias de Albuquerque desistiu da luta. Fugiu para Alagoas, conquistou a cidade de Porto Calvo, que era controlada por holandeses, e ali prendeu Calabar, que foi condenado por traição e enforcado.

A história tradicional dizia que Calabar era um traidor, mas esse julgamento provocou debates. Afinal, que Brasil Calabar traiu? O Brasil que antes era dominado pela Coroa portuguesa e que, naquele momento, estava sob o domínio espanhol? Além disso, vários outros luso-brasileiros (senhores de engenho, lavradores) também contribuíram com os holandeses.

Aliança com os tapuias

Para ocupar Pernambuco e as capitanias próximas, os holandeses contaram com suas fôrças militares e alianças estabelecidas com os indígenas. Essas alianças foram feitas principalmente com os tapuias (termo que designava os povos que não falavam a língua Tupi e, geralmente, habitavam o interior).

Nas disputas entre portugueses e holandeses, os indígenas procuraram defender seus próprios interesses e não se submeteram facilmente à vontade dos europeus.

Pintura. Em destaque, um grupo de homens indígenas desnudos, alguns com um adereço de penas vermelhas e azuis sobre a cabeça, segurando lanças nas mãos, em posição de dança. À direita, duas mulheres indígenas observam a cena. Elas estão com uma das mãos sobre a boca. Em segundo plano, árvores e plantas.
Dança Tarairiú, pintura de âubert équirráut, 1640-1644. Dança guerreira dos indígenas da etnia Tarairiú, que eram considerados tapuias.
Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica. Filme.

dica filme

Calabar (Brasil). Direção de Hermano Figueiredo, 2007. 52 minutos

Documentário feito com base em depoimentos de estudiosos e com o uso de imagens artísticas e da arquitetura. Discute as diferentes visões sobre o personagem que dá título ao filme.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Aliança com os tapuias” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove, ao abordar a aliança entre tapuias e holandeses contra os portugueses.

Orientação didática

Uma das fontes para o estudo do Brasil holandês é a iconografia produzida por pintores que acompanharam Maurício de Nassau a Pernambuco, a chamada “missão holandesa”. Essa iconografia tinha como finalidade documentar paisagens, construções civis e militares e mostrar tipos humanos, tendo sido produzida por artistas como âubert équirráut, frãns pôst e Zarrarías Váguena.

Outras indicações

chicangâna-baionáos, iobênji aucárdo. Os Tupis e os tapuias de équirráut : o declínio da imagem renascentista do índio. Varia Historia, Belo Horizonte, volume 24, número 40, página 591-612, julho a dezembro 2008.

Artigo que explora as representações iconográficas dos indígenas do período, especificamente dos Tupi e dos tapuias.

Governo de nassáu

A guerra prejudicou a produção de açúcar e o contrôle sobre os escravizados. Nesse período, o Quilombo dos Palmares se fortaleceu com as fugas de escravizados dos engenhos de Pernambuco.

Com o fim da guerra de conquista, a Companhia das Índias Ocidentais passou a administrar a região. Para isso, nomeou o conde João Maurício de nassáu zíguen(1604-1679) governador do Brasil holandês. nassáu chegou a Pernambuco em 1637.

Gravura. Um homem de cabelos castanhos, médios e cacheados, vestindo uma armadura metálica, sentado sobre uma superfície coberta em tecido rosa. Em segundo plano, um capacete metálico visto parcialmente, com abertura frontal e plumas coloridas em cima.
Maurício de nassáu, gravura de têodór matãnreproduzida em obra de Gaspar Barléu, publicada em 1647.

Durante seu governo, a Companhia das Índias Ocidentais emprestou dinheiro aos senhores de engenho para que pudessem recuperar os canaviais, comprar escravizados e consertar moendas e outros equipamentos da produção açucareira.

O calvinismo tornou-se a religião oficial de Pernambuco, mas o governo tolerou a prática do catolicismo e do judaísmo. O principal objetivo dos holandeses era fazer negócios, e não expandir sua fé calvinista.

A produção artística foi estimulada e a cidade de Recife recebeu grandes melhorias com a construção de novas casas, pontes e obras sanitárias. Artistas e estudiosos europeus viveram em Recife a convite de nassáu. Entre os pintores, podemos citar frãns pôst (1612-1680) e âubert équirráut (1610-1665). Entre os estudiosos, destacaram-se gueórgi marquigrêive (1610-1644), que pesquisou a flora e a fauna do Brasil, e Guilherme Piso (1611-1678), que pesquisou doenças e plantas medicinais usadas por quem já vivia na região, como indígenas e portugueses.

Pintura. Uma cidade contendo uma faixa de terra com casas e construções, cercada de densa vegetação, e pessoas por todo o território. À direita, uma longa faixa de água banhando a costa do local. Ao fundo, outra porção de terra com construções.
Vista da cidade Maurícia e de Recife, pintura de frãns pôst, 1657. Em 1644, foi inaugurada uma ponte de madeira para ligar as duas regiões, onde atualmente fica a Ponte Maurício de nassáu.
Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

No Brasil, três museus possuem em seus acervos exemplares de obras de âubert équirráut, frãns pôst e Zarrarías Váguena: o Instituto Ricardo brenãn (Recife), o Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro) e a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano (São Paulo). Assim, algumas dessas obras podem ser visitadas tanto presencialmente como por meio dos sites dessas instituições.

Além disso, algumas reproduções de pinturas feitas pelos artistas holandeses frãns pôst e âubert équirráut também estão disponíveis no seguinte site:

Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em: https://oeds.link/2tPCrO. Acesso em: 16 maio 2022.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir texto de Evaldo Cabral de Mello sobre as fases da ocupação de Pernambuco e das capitanias vizinhas pelos holandeses.

Ocupação holandesa em Pernambuco: período de tensão

“Uma fase inicial (1630-1637) de conquista para os holandeses, de resistência para os luso-brasileiros; um período de paz (1638-1645), associado comumente ao governo nassoviano [relativo ao governo de Maurício de Nassau]; e uma etapa final de guerra (1645-1654), de restauração na perspectiva luso-brasileira, de repressão do levante restaurador na ótica neerlandesa. Em 24 anos de domínio holandês, nada menos de 16 de luta contínua. Mesmo o período intermediário, uma espécie de Idade de Ouro do Brasil holandês, conheceu apenas uma paz relativa, pois, até a trégua luso-holandesa de 1641, sucederam-se as incursões campanhistas deflagradas da Bahia contra o interior do Nordeste, atacando os engenhos, saqueando as povoações e incendiando os canaviais, para não mencionar o momento, especialmente difícil, da chegada da armada do conde da Torre, que surpreenderia Nassau numa situação de dramático despreparo naval.”

MELLO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês 1630-1654. ars, São Paulo, volume 7, número 13, página 162, janeiro até junho 2009.

Saída de nassáu

Ao final do governo de nassáu, os luso-brasileiros foram recuperando alguns de seus domínios. Ao mesmo tempo, nassáu recebeu ordens da Companhia das Índias Ocidentais para cobrar com rigor as dívidas dos senhores de engenho. A tolerância religiosa diminuiu e o catolicismo foi proibido. Discordando da nova postura da companhia, nassáu deixou Pernambuco em 1644.

Após a saída de nassáu, a administração holandesa ficou mais severa. Para ampliar seus lucros, a Companhia das Índias Ocidentais pressionou os senhores de engenho a aumentar a produção de açúcar, pagar mais impostos e quitar dívidas atrasadas. Os holandeses ameaçavam confiscar as terras dos senhores de engenho que não cumprissem essas exigências.

Insurreição Pernambucana

Em 1645, grupos de luso-brasileiros reagiram às novas medidas do governo holandês e iniciaram uma série de lutas, que foi chamada de Insurreição Pernambucana. Essas lutas reuniram diferentes setores da sociedade colonial, como senhores de engenho, indígenas e africanos escravizados.

Foi nesse período que ocorreram vários conflitos. Entre eles, podemos destacar as duas batalhas dos Guararapes (em 1648 e 1649), nas quais os holandeses foram derrotados. Após diversas outras derrotas, os holandeses se renderam em 1654. Essa rendição foi oficializada por meio de acordos entre os governos de Portugal e da Holanda. Pelo Acordo da Paz de Haia (1661), Portugal pagou uma elevada indenização em troca do Nordeste brasileiro e de possessões na África. Na época, essa indenização equivalia ao preço de 63 toneladas de ouro.

Pintura. Representação de um conflito entre dois exércitos. À esquerda, homens bradando lanças, espadas e armas de fogo, e à direita, homens armados e portando hastes com bandeiras contendo três listras horizontais: vermelho, branco e azul, de cima para baixo, nesta ordem. Muitos dos soldados estão sobre o dorso de cavalos. No canto superior esquerdo, entre as nuvens, uma mulher vestindo um manto e uma túnica, segurando uma criança de colo em seus braços. No canto inferior esquerdo, alegoria de uma criança apontando para textos ao redor de uma moldura de lados arredondados.
Batalha dos Guararapes, pintura de autoria desconhecida, 1758.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

No texto a seguir, o historiador Evaldo Cabral de Mello ressalta que a restauração pernambucana ocupou um lugar central no imaginário de Pernambuco, tema que sugerimos ao professor problematizar com os estudantes.

A restauração no imaginário dos pernambucanos

“No imaginário de Pernambuco, a restauração ocupou um lugar central, a função de uma matriz ideológica. A memória estamental apresentou-a como a gesta de determinados grupos sociais; na recordação popular, ela assumiu as cores de um tempo fabuloso e quase mítico. Ao longo de dois séculos decorridos da expulsão dos holandeses, ainda se podiam ver os vestígios físicos dos monumentos civis, religiosos e militares, deixados pela ocupação. As gerações que se sucederam comemoraram regularmente, nos montes Guararapes, na Estância ou em Olinda, os principais feitos bélicos. A iconografia fixou em painéis as batalhas decisivas. A medíocre produção literária do período colonial procurou uma e outra vez celebrar os heróis.”

MELLO, Evaldo Cabral de. Imagens do Brasil holandês 1630-1654. ars, São Paulo, volume 7, número 13, página 169, janeiro até junho 2009.

Outras indicações

Doce Brasil holandês (Brasil). Direção e produção de Monica chimíti, 2010. 52 minutos

Documentário que discute o legado dos holandeses no Brasil e o imaginário sobre esse período, principalmente entre a população nordestina. Apresenta entrevistas com historiadores especializados no assunto e com recifenses que possuem o sobrenome Vanderlei, herança direta dos Van Der Ley, sobrenome holandês do período de invasão no Brasil.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Angolano relembra domínio brasileiro

Disponível em: https://oeds.link/nhrg2k. Acesso em: 11 fevereiro 2022.

Entrevista com um pesquisador angolano a respeito do domínio exercido pelo Brasil sobre Angola entre 1648 e 1740, após o envio de uma armada financiada por comerciantes brasileiros para reconquistar a região, que na época estava sob o domínio dos holandeses.

Indígenas e mulheres nas batalhas

Entre os nativos que lutaram contra os holandeses estava o indígena Felipe Camarão. Ele comandou parte do exército na Primeira Batalha dos Guararapes, recebendo o título de capitão-mor de todos os indígenas do Brasil. Sua esposa, Clara Felipa Camarão, também era indígena e participou dos combates.

Pintura. Um homem em pé, de cabelos castanhos, longos e lisos, vestindo um casaco azul escuro, calça branca, um crucifixo sobre seu peito, e apoiando suas mãos sobre a base de uma espada.
Felipe Camarão, pintura de autoria desconhecida, século dezessete.

Em 1646, durante os combates, os holandeses sofreram com a constante falta de alimentos. Tentaram, então, encontrar comida atacando pequenos povoados, como Tejucupapo. Os homens e as mulheres do povoado lutaram para impedir os ataques holandeses.

Na atualidade, em festas em Recife e Tejucupapo (no município de Goiana), atrizes encenam um espetáculo para homenagear as mulheres que lutaram naquela ocasião.

Fotografia. Um conjunto de mulheres em pé sobre um campo gramado, próximas umas às outras, cada uma delas utilizando um vestido longo com cores diferentes, apoiando objetos sobre suas cabeças, como cestas, bacias e tigelas. Ao fundo, árvores e plantas.
Batalha das heroínas de Tejucupapo, espetáculo teatral encenado em Goiana, Pernambuco. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

O texto a seguir trata das heroínas de Tejucupapo e da reconstituição teatral desse episódio na contemporaneidade.

As heroínas de Tejucupapo

“O território pesqueiro de Tejucupapo está inscrito na história de Pernambuco como um local de expulsão dos holandeses pelas mulheres heroínas. reticências Os moradores do lugar relembram essa história anualmente em um espetáculo de teatro ao ar livre que resgata a identidade das mulheres reticências que contribuíram na luta pela defesa do território.

Reconstituir essa história vai revelando os primórdios do lugar, as dificuldades, as atividades produtivas seculares, a memória oral secular e o sentido dessa resistência do presente, como capital político por melhores condições de vida, por uma maior igualdade de gênero para uma população relegada à invisibilidade num território pesqueiro do Nordeste brasileiro. reticências

As mulheres de Tejucupapo reticências vendo o seu território invadido pelos holandeses e o iminente perigo de morte dos seus filhos e maridos atacaram os holandeses reticências. Não defendiam a permanência portuguesa no Brasil nem a saída dos holandeses, estavam defendendo o território, a sobrevivência. reticências. A bravura dessas mulheres deixou como herança um significado de bravura das mulheres que foi transmitido pela tradição oral, de geração a geração, sendo o evento histórico ressignificado na contemporaneidade e rememorado pelas mulheres de Tejucupapo reticências.”

OLIVEIRA, Valéria Costa Aldeci de. De marisqueiras a operárias: experiências de trabalho e gênero nos territórios pesqueiros de Goiana/Pernambuco. 2017. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, João Pessoa, 2017. página 48-49.

PAINEL

Batalha dos Guararapes

O artista brasileiro Vítor Meirelles (1832-1903) produziu obras representando acontecimentos da história do Brasil. Entre elas, destaca-se a pintura Batalha dos Guararapes, concluída em 1879. A obra foi encomendada pelo governo imperial para exaltar a vitória dos luso-brasileiros sobre os holandeses nos Montes Guararapes. Para criá-la, o artista visitou o local das batalhas e pesquisou modelos de armas e roupas da época. Na pintura, os holandeses podem ser identificados por seus capacetes de metal, e os luso-brasileiros, por seus chapéus com penas. Identifique, a seguir, alguns personagens dessa obra.

Pintura. Uma cena de batalha, com vários homens amontoados, bradando espadas, lanças e escudos. Indicado pelo número 1, em destaque, um homem sobre o dorso de um cavalo, vestindo uma camisa amarela, um chapéu azul com penas, segurando uma espada. O cavalo se apoia apenas sobre as patas traseiras, e seu corpo se inclina para cima. Indicado pelo número 2, um homem com o corpo estatelado no chão, caindo de um cavalo de pelagem branca, que também está caído sobre o solo. Ao redor deles, um grupo de homens portando lanças e usando capacetes. Indicado pelo número 3, no canto direito, um homem de cabelos castanhos e lisos, vestindo um chapéu com penas coloridas sobre sua cabeça e portando uma espada. Ao seu lado, um grupo de homens, afastados da batalha ao centro. Eles possuem escudos e lanças nas mãos. Indicado pelo número 4, um homem em pé, vestindo um chapéu com penas sobre a cabeça, portando um escudo redondo em uma das mãos e uma espada fina na outra, em posição inclinada para frente. Ao fundo, um campo aberto e vegetação.
Batalha dos Guararapes, pintura de Vítor Meirelles, 1875-1879.
  1. André Vidal de Negreiros aparece empinando seu cavalo e sua espada. Filho de senhor de engenho, o luso-brasileiro Negreiros ficou famoso por participar de diversas batalhas contra os holandeses.
  2. Pedro quivír, uma das lideranças holandesas, foi retratado em clara desvantagem, caindo de seu cavalo branco, atirado no chão.
  3. Felipe Camarão, cujos olhos estão saltados e o rosto enfurecido, ergue sua espada. Nascido no Rio Grande do Norte, Camarão era um indígena Potiguar que estudou com os jesuítas e tornou-se uma das principais lideranças indígenas do Nordeste. Ele lutou em muitas batalhas importantes contra os holandeses. Porém, morreu em 1648, antes da última vitória portuguesa. É importante lembrar que muitos indígenas, inclusive os Potiguar, aliaram-se aos holandeses.
  4. Henrique Dias levanta o escudo e a espada, inclinando seu corpo para a frente, em posição de avanço. Ele comandou um exército de negros, e sua participação foi decisiva na expulsão dos holandeses. Depois da guerra, viajou a Portugal, onde pediu a libertação dos negros que lutaram ao seu lado. Seu pedido foi atendido.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Painel” intitulada “Batalha dos Guararapes” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê três, cê ê cê agá quatro e cê ê agá três, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero, ao analisar por meio de documento pictórico a vitória dos luso-brasileiros sobre os holandeses na Batalha dos Guararapes.

Orientação didática

Diante da obra Batalha dos Guararapes, o professor pode apresentar aos estudantes alguns elementos introdutórios de análise documental (sensibilização para a análise do discurso), indicando, por exemplo, a época em que a obra foi concluída por Victor Meirelles e quem a encomendou; o objetivo do discurso (exaltar a vitória dos luso-brasileiros sobre os holandeses); e elementos da pintura que sugerem a “união” de três grupos (luso-brasileiros, indígenas e negros) na luta contra os holandeses.

Texto de aprofundamento

Para aprofundar as reflexões sobre a Primeira Batalha dos Guararapes, sugerimos a leitura a seguir, em que o autor expõe as etapas dessa disputa.

A Primeira Batalha dos Guararapes

“A Primeira Batalha dos Guararapes ocorreu nos dias 18 e 19 de abril, com esmagadora vitória luso-brasileira. Vale dizer que o efetivo luso-brasileiro não passava de .2200 homens, contra .4500 neerlandeses. O saldo da guerra: .1200 holandeses mortos, entre eles 180 oficiais e sargentos. Do lado vitorioso, apenas 84 mortos. O combate intenso durou aproximadamente cinco horas, e no campo de batalha tombaram holandeses, ingleses, franceses, poloneses, luso-brasileiros, negros africanos e índios Tupi e tapuias. reticências

A primeira derrota holandesa em Guararapes parecia o prenúncio do que estava por vir. reticências Para se vingar da derrota na Primeira Batalha dos Guararapes, as tropas holandesas fizeram muitos estragos na Bahia, queimaram e destruíram mais de vinte engenhos e saquearam muitos moradores. reticências Os saques na Bahia deram aos holandeses novo ânimo para voltar a enfrentar os inimigos, afastando o peso da derrota. A contraofensiva já era esperada pelos luso-brasileiros, que dispunham de informações secretas obtidas por espiões e prisioneiros. Estava próximo o derradeiro enfrentamento nos Montes Guararapes.

Seguindo ordens do oficial Francisco Barreto de Meneses, as tropas locais começaram a se movimentar. O objetivo era reunir toda a infantaria no Arraial Novo do Bom Jesus, na freguesia da Várzea. Ali foram se confessar todos os combatentes. Em todas as freguesias de Pernambuco que estavam em seu poder foram rezadas missas, ladainhas, e realizadas procissões por mais de dois dias. A resistência se preparava espiritualmente para o inferno da guerra contra os ‘hereges’ holandeses.

reticências Tendo à frente o oficial Francisco de Figueiroa, 300 soldados partiram na direção do exército holandês. Na retaguarda, João Fernandes Vieira vinha com mais .1350. Foi ele quem propôs como estratégia que o ataque se desse pela retaguarda do inimigo, que ocupava o topo de um dos montes. reticências

Os luso-brasileiros mataram quase 2 mil inimigos e perderam apenas 47 homens. A notícia da derrota holandesa na segunda batalha dos Guararapes provocou no coronel Sigismundo van chicôpi, que ainda mancava, uma sensação de descrença no destino da ocupação holandesa no Brasil. Ele estava certo: era o início do fim.”

NASCIMENTO, Rômulo. Descendo a ladeira: as violentas batalhas nos Montes Guararapes foram o fim da ocupação holandesa no Brasil. Revista de História, Niterói: úfi, junho 2008. Disponível em: https://oeds.link/R2O5DM. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

OUTRAS HISTÓRIAS

Legados do Brasil holandês

A seguir, conheça alguns patrimônios históricos que abrigam tesouros arqueológicos relacionados ao Brasil holandês.

O Parque Histórico Nacional dos Guararapes, no município de Jaboatão dos Guararapes, ocupa uma área onde aconteceram lutas contra os invasores holandeses. Em 1970, foi encontrado ali um cemitério com esqueletos de soldados luso-brasileiros mortos nas batalhas dos Guararapes. Atualmente são realizadas no parque manifestações culturais, como a Festa da Pitomba (fruto típico da região).

Fotografia. Vista da fachada de uma igreja com duas torres laterais, cruzes no ápice da construção, janelas pelas paredes e entradas centrais em formato de arco. À frente, sobre um palanque de cimento, uma cruz.
Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Fotografia de 2021.

O Forte do Brum foi originalmente construído em Recife pelos holandeses e, posteriormente, reconstruído pelos portugueses. Atualmente, o forte possui uma capela, restaurantes e o Museu Militar.

Fotografia. Vista aérea de uma construção com casas agrupadas, cercadas por muros de cimento. Ao redor, vias pavimentadas e vegetação exuberante. Em segundo plano, um rio de águas escuras.
Vista aérea do Museu Militar do Forte do Brum, em Recife, Pernambuco. Fotografia de 2017.

O Forte Orange foi construído pelos holandeses na Ilha de Itamaracá. Nos dias atuais, esse forte possui um museu cujo acervo foi deixado por portugueses e holandeses. O valor histórico do forte e as belezas naturais que o cercam fizeram desse local um dos cartões-postais da região.

Fotografia. Uma construção de pedra em ruínas, com destaque para arcos com aberturas ao centro.
Vista interna do Forte Orange, na Ilha de Itamaracá, Pernambuco. Fotografia de 2021.

Responda no caderno

Atividades

  1. Os locais mencionados no texto ganharam novos usos ao longo do tempo? Quais?
  2. No município ou no estado onde você vive, existem patrimônios históricos? Quais? Você já os visitou? Pesquise sua história.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” intitulada “Legados do Brasil holandês” favorece o desenvolvimento das competências cê gê trêse cê ê agá umponto

Outras histórias

  1. Sim. Atualmente, no Parque Histórico Nacional dos Guararapes são realizadas manifestações culturais, como a Festa da Pitomba, e espetáculos turísticos, com o objetivo de promover o turismo e preservar a memória da região. No Forte do Brum, existem uma capela, restaurantes e o Museu Militar. Essas instalações e a proximidade com a séde da Prefeitura de Recife atraem muitos visitantes. Já o Forte órangi possui um museu que guarda um acervo deixado por portugueses e holandeses. O valor histórico do forte e as belezas naturais que o cercam contribuíram para que se tornasse um dos cartões-postais da região.
  2. Esta atividade promove a aproximação dos conteúdos às vivências dos estudantes, por meio de atividades de sondagem de conhecimentos prévios e de pesquisa. Comente que os patrimônios históricos contribuem para a preservação da memória, da identidade e da criatividade de um povo. Os patrimônios podem ser classificados em materiais e imateriais. Entre os patrimônios materiais estão as cidades históricas, pinturas, cerâmicas, esculturas etcétera Entre os patrimônios imateriais estão as canções, as festas, os saberes etcétera Ressalte que muitos patrimônios brasileiros são protegidos por órgãos oficiais como o ifãn e a unêsco. Existem também muitos outros patrimônios que não possuem essa proteção oficial, mas que são preservados e valorizados pela sociedade.

Fim da União Ibérica

Em 1640, os portugueses reconquistaram sua independência, pondo fim à União Ibérica ao derrotar a Espanha na Guerra da Restauração. Com a independência, foi coroado um novo rei português: dom João quarto. Ele deu início à dinastia dos Bragança.

Fotografia. Um monumento de um homem vestindo uma armadura, segurando uma arma de fogo, sobre o dorso de um cavalo, exposto sobre um palanque de altura superior ao solo. Em segundo plano, à esquerda, um edifício com três andares e janelas retangulares distribuídas pela fachada de forma simétrica.
Monumento em homenagem a dom João quarto (1604-1656), líder da Guerra da Restauração contra a União Ibérica e primeiro rei da dinastia de Bragança. Fotografia de 2021. Esse monumento está na região do alentêjo, Portugal.

Em Portugal, a nova dinastia e os grandes comerciantes entenderam que, para a manutenção do reino, era mais vantajoso fazer comércio com Brasil e Angola do que com o Oriente. Dessa fórma, na época, os portugueses negociaram um acordo de paz com os holandeses, que ainda ocupavam o Brasil. Entretanto, o acordo foi rompido antes do tempo combinado.

Com o fim da União Ibérica, uma grave crise econômica tomou conta de Portugal. A economia dependia do comércio colonial, e os portugueses tinham perdido parte de suas colônias para os holandeses. Mas o Brasil mantinha-se como importante colônia de Portugal.

Para enfrentar a crise econômica, o governo português assinou vários tratados com os ingleses. Entre esses tratados, destacamos o de Methuen (1703), também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos. Pelo acordo, os portugueses comprariam tecidos fabricados pelos ingleses e estes comprariam vinhos de Portugal.

Na época, o tratado satisfazia os interesses dos dois lados. Mas, com o tempo, a situação mudou, e os ingleses foram beneficiados. A fabricação de tecidos em Portugal foi praticamente paralisada e, para honrar o acordo, parte do ouro do Brasil foi enviada à Grã-Bretanha como pagamento pelos produtos que os portugueses compravam.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Fim da União Ibérica” favorece o desenvolvimento das competências cê gê dois, cê ê cê agá cinco e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois analisa as interações comerciais entre a América e a Europa em relação à produção de açúcar e também identifica a presença de indígenas, africanos e portugueses na região ocupada pelos holandeses.

Açúcar das Antilhas

Após a expulsão dos holandeses, a Coroa portuguesa procurou aumentar a produção do açúcar no Brasil. Mas ocorreu um evento que atrapalhou esses planos.

Os holandeses levaram mudas de cana para suas colônias nas Antilhas (grupo de ilhas do Caribe). Ali passaram a produzir açúcar, acabando com o monopólio português.

Com a concorrência holandesa e, mais tarde, a dos franceses e ingleses, o preço do açúcar caiu pela metade nos mercados internacionais entre 1650 e 1700. Só no final do século dezoito o açúcar brasileiro recuperaria parte da importância que teve no passado.

Ilustração. Representação de um homem sobre um campo, vestindo um casaco azul, um tecido vermelho em torno da cintura sobre uma calça branca na altura dos joelhos e um turbante branco, descalço, segurando um podão de lâmina curva contra o caule de ramos de cana-de-açúcar.
Ilustração de autoria desconhecida que representa africano escravizado cortando cana-de-açúcar nas Antilhas, século dezoito.

Guerra dos Mascates

Até o final do século dezessete, a principal cidade de Pernambuco era Olinda, onde viviam senhores de engenho, cuja riqueza diminuiu com a queda do preço do açúcar.

Já em Recife havia um porto movimentado onde comerciantes, muitos deles portugueses, enriqueciam com as atividades de importação e exportação.

Os senhores de Olinda pediam dinheiro emprestado aos comerciantes de Recife, que cobravam juros altos. Os olindenses apelidaram os comerciantes de Recife de mascates, para desqualificá-los. Mas os recifenses revidaram, chamando de pés-rapados os senhores de Olinda.

Os comerciantes recifenses pediram ao rei de Portugal que seu povoado fosse transformado em vila, pois não queriam mais obedecer às ordens da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, o rei dom João quinto atendeu ao pedido e concedeu autonomia a Recife. A decisão contrariou os senhores de Olinda, que organizaram uma rebelião. Liderados por Bernardo Vieira de Melo (1658-1718), eles invadiram Recife. A luta ficou conhecida como Guerra dos Mascates.

Em 1711, o governo português combateu os revoltosos olindenses, prendendo seus líderes e confiscando seus bens. Porém, decretou o perdão das dívidas que os senhores de engenho de Olinda tinham com os comerciantes de Recife.

Fotografia. Vista da fachada de várias casas dispostas lado a lado, cada uma delas com cores diferentes, janelas e portas retangulares.
Centro Histórico de Olinda, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco. Fotografia de 2020. Recife e Olinda são duas importantes cidades brasileiras. Nelas, casas, fortes militares, ruas e pontes ainda mostram aspectos da presença holandesa.
Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

ALENCAR, José de. Guerra dos mascates. Disponível em: https://oeds.link/9Qit0l. Acesso em: 10 fevereiro 2022.

Romance histórico publicado em 1873 e escrito por José de Alencar, um dos maiores representantes do Romantismo no Brasil. Por meio de trechos da obra ou de sua leitura integral, é possível problematizar as representações sobre esse evento histórico e discutir os limites entre história e literatura.

CARDOSO, José Luís et al. O Tratado de Methuen (1703): diplomacia, guerra, política e economia. Lisboa: Livros Horizonte, 2003.

Livro que permite aprofundar as reflexões sobre o Tratado de Methuen e suas consequências para Portugal, Inglaterra e Brasil.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.

  1. Os engenhos de açúcar se transformaram em importantes núcleos econômicos, sociais e culturais do Brasil colonial.
  2. O poder de muitos senhores de engenho extrapolava os limites de suas fazendas, chegando até as vilas e os povoados vizinhos.
  3. A principal mão de obra utilizada nos engenhos era livre, com trabalhadores bem remunerados.
  4. O Brasil colonial pode ser resumido em apenas uma palavra: plantation.
  1. No caderno, construa uma linha do tempo sobre os temas estudados neste capítulo. Para isso, identifique as datas dos acontecimentos a seguir e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala. Depois, responda à seguinte questão: por quanto tempo os holandeses ocuparam Pernambuco?
    • Início da União Ibérica.
    • Fim da União Ibérica.
    • Independência da Holanda.
    • Invasão de Pernambuco pelos holandeses.
    • Expulsão dos holandeses do Brasil.
Versão adaptada acessível

2.  Construa uma linha do tempo tátil usando materiais com diferentes texturas e espessuras para representar os temas estudados neste capítulo. Para isso, identifique as datas dos acontecimentos a seguir e organize-os em ordem cronológica. Não é necessário utilizar escala. Depois, responda à seguinte questão: por quanto tempo os holandeses ocuparam Pernambuco?

• Início da União Ibérica.

Fim da União Ibérica.

Independência da Holanda.

Invasão de Pernambuco pelos holandeses.

Expulsão dos holandeses do Brasil.

Orientação para acessibilidade

Caso possível, proponha a construção de uma linha do tempo tátil composta de materiais de diferentes texturas. Uma aula antes, oriente os estudantes a respeito dos materiais que eles devem levar à sala de aula para realizar a atividade. Contrastes do tipo liso e áspero, fino e espesso, tendem a favorecer a percepção tátil dos estudantes. Dessa forma, podem ser utilizados material emborrachado, diversos tipos de papéis e tecidos, palitos, linhas, botões, entre outros. Auxilie os estudantes durante a seleção e a organização dos materiais. Para facilitar a percepção em alto-relevo, sugerimos que linha principal seja feita com materiais mais espessos, como o material emborrachado. Já os marcos temporais podem ser representados por materiais mais finos, como fios de linha ou pequenos palitos. Após a montagem dessa estrutura, oriente os estudantes a registrar os acontecimentos indicados próximos aos marcos temporais. A transposição de uma representação visual para uma representação tátil tende a favorecer a ampliação do processo de ensino-aprendizagem.  Se considerar pertinente, adapte o nível de complexidade da atividade. Os estudantes também podem destacar a cronologia dos acontecimentos em forma de texto ou oralmente, desde que as relações de anterioridade e posterioridade sejam evidenciadas.

  1. Qual foi a reação da Holanda diante do embargo espanhol? Esse bloqueio econômico foi respeitado? Explique.
  2. Qual era a situação econômica de Portugal após a União Ibérica? Que medidas o Reino Português tomou para enfrentar a crise?

Interpretar texto e imagem

5. O texto a seguir faz parte de um relatório sobre o Brasil. Nesse relatório, Maurício de nassáu aconselha seus sucessores sobre como administrar o Brasil holandês. Em dupla, leiam o texto e respondam às questões.

“Seria conforto para os senhores de engenho e para os portugueses esgotados de dívidas conceder-lhes a Companhia alguma folga de tempo para refazerem o patrimônio arruinado pelas guerras e outras calamidades imprevistas reticências. Se isto não for possível, aconselharia eu cobrarem-se as dívidas com maior brandura, mediante a venda dos açúcares, reticências joias e outros bens móveis, mas não dos escravos e dos utensílios necessários ao fabrico do açúcar, nem dos bois, sem os quais não podem trabalhar os engenhos reticências.”

nassáu, Maurício de. citado por: BARLÉU, Gaspar. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1974. página 337-338.

  1. Quem é o autor desse relatório? Com que objetivo o texto foi elaborado?
  2. Qual era a situação dos senhores de engenho de Pernambuco após a invasão holandesa?
  3. Diante dessa situação, o que nassáu recomendava a seus sucessores?
  4. As recomendações de nassáu foram cumpridas por seus sucessores?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção contribui para o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

cê gê dois (atividades 4, 5 e 6);

cê gê três (atividades 5 e 7);

cê ê cê agá sete (atividades 6 e 7);

cê ê agá um (atividade 6);

cê ê agá dois (atividade 2);

cê ê agá três (atividades 6 e 7);

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividades 5, 6 e 7);

ê éfe zero sete agá ih um um (atividade 7);

ê éfe zero sete agá ih um quatro (atividade 3).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. Estão incorretas as frases c e d. Para escrevê-las corretamente, os estudantes poderão chegar às seguintes sentenças:
  1. A principal mão de obra utilizada nos engenhos era de africanos escravizados.
  2. O Brasil colonial não pode ser resumido apenas na palavra plantation, pois aqui também se desenvolveu um pulsante mercado interno.
  1. Os acontecimentos citados devem ficar na seguinte ordem cronológica:
  • 1580: Início da União Ibérica
  • 1581: Independência da Holanda
  • 1630: Invasão de Pernambuco pelos holandeses
  • 1640: Fim da União Ibérica
  • 1654: Expulsão dos holandeses do Brasil

Os holandeses ocuparam Pernambuco entre 1630 e 1654, permanecendo no Brasil por 24 anos.

  1. Os holandeses não aceitaram passivamente o embargo espanhol. Com o objetivo de furar esse bloqueio econômico, os holandeses saquearam navios ibéricos, contrabandearam produtos, fundaram companhias de comércio e dominaram regiões produtoras de açúcar no Nordeste do Brasil. Essas ações acirraram os conflitos com a Espanha.
  2. Após a União Ibérica, Portugal enfrentou uma crise econômica relacionada, entre outros aspectos, à perda de parte de suas colônias. Para contornar a crise, a Coroa decidiu fortalecer o domínio sobre Brasil e Angola, bem como estabelecer tratados com os ingleses, entre os quais, o Tratado de Methuen (também conhecido como o Tratado dos Panos e Vinhos).

Interpretar texto e imagem

    1. O autor do relatório é Maurício de Nassau, que o elaborou com o objetivo de aconselhar seus sucessores sobre como administrar o Brasil holandês.
  1. Os senhores de engenho ficaram com muitas dívidas e com o patrimônio arruinado pelas guerras e outras calamidades imprevistas.
  2. Nassau recomendava a seus sucessores que cobrassem as dívidas de forma branda “mediante a venda dos açúcares, reticências joias e outros bens móveis, mas não dos escravos e dos utensílios necessários ao fabrico do açúcar, nem dos bois, sem os quais não podem trabalhar os engenhos”, a fim de não comprometer a produção açucareira.
  3. Não, as recomendações de Nassau não foram cumpridas por seus sucessores. Após a saída de Nassau, a Companhia das Índias Ocidentais pressionou os senhores de engenho a aumentar a produção de açúcar, pagar mais impostos e quitar dívidas atrasadas. Os senhores que não cumprissem tais exigências poderiam perder suas terras.

6. Leia o texto do historiador Boris Fausto sobre o Brasil holandês e responda às questões.

“Uma pergunta que sempre surge quando se estuda a presença holandesa no Brasil é a seguinte: o destino do país seria diferente se tivesse ficado nas mãos da Holanda e não de Portugal?

Não há uma resposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjectura, uma possibilidade que não se tornou real. Quando se compara o governo de nassáu com a rudeza lusa e a natureza muitas vezes predatória de sua colonização, a resposta parece ser positiva. Mas convém lembrar que nassáu representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais outra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial português. Vista a questão sob esse ângulo, e quando se constata o que aconteceu nas colônias holandesas da Ásia e das Antilhas, as dúvidas crescem. A colonização dependeu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de colonização implantado.

Os ingleses, por exemplo, estabeleceram colônias bem diversas nos Estados Unidos e na Jamaica. Nas mãos de portugueses ou holandeses, com matizes certamente diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colônia de exploração integrada no sistema colonial.”

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: êduspi, 1995. página 89-90.

  1. É possível dar uma resposta segura para a questão apresentada no início do texto? Por quê? O que é uma conjectura? Pesquise.
  2. É possível concluir que o discurso de Boris Fausto defende que o Brasil seria mais desenvolvido se fosse colonizado pelos holandeses? Explique.
  3. Em sua opinião, muitos dos problemas atuais do Brasil decorrem do fato de termos sido uma colônia de Portugal? Reflita, argumente e debata esse assunto com os colegas.

integrar com Geografia

7. O cartógrafo holandês djôan jóta blêu produziu um mapa da capitania de Pernambuco em 1647. Esse mapa apresenta uma ilustração feita pelo artista frãns pôst. Em grupo, observem a imagem no mapa e, em seguida, respondam às questões.

Mapa. Parte da costa terrestre de uma área, com indicações de caminhos fluviais, cercados por oceano contendo embarcações e navios. No canto superior direito, imagem de um campo com diversas construções sustentadas por vigas verticais, moinhos de água, carroças, animais e pessoas escravizadas desempenhando diferentes tarefas.
Mapa das capitanias de Pernambuco e Itamaracá, mapa de djôan jóta blêu, publicado em livro de Gaspar Barléu, em 1647.
  1. Que elementos vocês conseguem identificar no mapa?
  2. Esses elementos estão relacionados aos motivos da conquista holandesa de Pernambuco? Justifiquem a resposta.
  3. Os mapas servem apenas para localizar um território? Utilizem elementos desse mapa para explicar a resposta.
Orientações e sugestões didáticas

6. Atividade que apresenta noções introdutórias de análise documental (sensibilização para análise do discurso), pois situa o discurso como uma conjectura; analisa o objetivo do discurso; e relaciona o tema do discurso com as concepções de seus intérpretes.

  1. Não há uma resposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjectura, uma possibilidade que não se tornou real, tratando-se apenas de hipóteses.
  2. Segundo o texto, “quando se compara o governo de Nassau com a rudeza lusa e a natureza muitas vezes predatória de sua colonização, a resposta [para essa pergunta] parece ser positiva. Mas convém lembrar que Nassau representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias Ocidentais outra, mais próxima do estilo do empreendimento colonial português”. Portanto, a colonização dependeu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de colonização implantada. Assim, nas mãos de portugueses ou holandeses, com matizes certamente diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colônia de exploração integrada no sistema colonial.
  3. Resposta pessoal. É importante que o professor estimule a argumentação e a reflexão sobre como a condição colonial (não necessariamente portuguesa) representou, em certa medida, uma herança negativa para o país. Muitos dos nossos problemas atuais decorrem desse período. Entre eles, a desigualdade social e racial, a exploração dos recursos naturais e a concentração de terras nas mãos de poucos.
  1. Atividade interdisciplinar com Geografia.
  1. No mapa da capitania é possível observar um trecho da costa de Pernambuco, alguns navios no mar e um engenho de açúcar, que utiliza mão de obra de escravizados africanos.
  2. Sim, o engenho representado no mapa denota a importância da produção açucareira para a economia holandesa.
  3. Não, os mapas podem ter diversas finalidades. No caso do mapa de djôan blêu, além da localização de territórios, também foi apresentada a principal atividade econômica desenvolvida em Pernambuco: a produção de açúcar. O professor pode comentar que mapas são representações da realidade e, como tais, devem ser interpretados levando em consideração: autoria, data, técnicas utilizadas, interesses, objetivos etcétera

Glossário

Massapê
: solo argiloso e fértil, de cor escura.
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Guerra justa
: guerra realizada contra indígenas que resistiam à colonização portuguesa ou que criavam obstáculos para o desenvolvimento da catequese; por isso, era autorizada pela Coroa.
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Roçado de subsistência
: pequena plantação destinada ao consumo da família.
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Ama de leite
: mulher que amamenta filho de outra mulher quando esta não pode amamentar ou não quer exercer essa tarefa.
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