UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL

CAPÍTULO 10 ESCRAVIDÃO, COMÉRCIO E RESISTÊNCIA

Calcula-se que 11 milhões de africanos escravizados foram trazidos para a América entre os séculos dezesseis e dezenove. Desse total, cêrca de 4 milhões chegaram ao Brasil.

Atualmente, cêrca de 56% da população brasileira se autodeclara preta ou parda. Isso significa que mais da metade da população brasileira atual é composta de descendentes de africanos, que trabalharam e criaram importantes raízes culturais no país.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

Você já ouviu falar de escritores como Machado de Assis, Lima Barreto, Carolina de Jesus e Conceição Evaristo? E dos compositores musicais Pixinguinha, Cartola, Gilberto Gil e Paulinho da Viola? Reflita e debata com os colegas sobre a importância dos afrodescendentes para a cultura brasileira.

Fotografia. Sob um céu azul com nuvens, diante de um campo, um morro e árvores ao fundo, destaque para cinco estátuas, lado a lado, representando diferentes pessoas. À esquerda, um homem com um colar dourado sobre o pescoço, uma tornozeleira dourada, o peito nu e uma longa tira de tecido vermelho atada à cintura. Ele segura uma lança e um escudo de fundo amarelo gravado com o nome 'Zumbi'. À direita dele, uma mulher com os cabelos cobertos por um chapéu branco sem abas, uma gargantilha dourada no pescoço, uma blusa tomara que caia branca e uma saia longa estampada nas cores verde, vermelho e amarelo. À direita dela, um homem de cabelos brancos, crespos e curtos, barba branca sobre o rosto, vestido com uma blusa vermelha e uma calça branca. Ele segura uma lança com uma das mãos e, na outra, um escudo amarelo gravado com o nome 'Ganga Zumba'. À esquerda dele, uma mulher com uma tiara amarela, azul e vermelha sobre a cabeça, uma gargantilha dourada no pescoço, uma túnica longa vermelha e uma saia longa azul. À direita dela, uma mulher com uma tiara dourada sobre a cabeça, uma pintura em forma de ípsilon invertido na cor dourada sobre o rosto, uma gargantilha e diversos colares dourados sobre o peito, aros dourados enfeitando a parte superior de seus braços, tornozeleiras douradas. Usa um vestido tomara que caia com a parte superior vermelha e a inferior azul, com estampas. Há um cinto dourado atado em sua cintura. Ela segura uma lança. Todos estão descalços.
Estátuas de integrantes do Quilombo dos Palmares, no município de União dos Palmares, Alagoas. Fotografia de 2022. Da esquerda para a direita, estão Zumbi dos Palmares, Dandara, Ganga Zumba, Acotinere e Aqualtune. Acotirene foi uma das primeiras mulheres a habitar o quilombo e, como conselheira dos palmarinos, exerceu grande influência sobre eles.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero sete agá ih um zero
  • ê éfe zero sete agá ih um dois
  • ê éfe zero sete agá ih um quatro
  • ê éfe zero sete agá ih um cinco
  • ê éfe zero sete agá ih um seis

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão do tema tratado, a escravidão no contexto da expansão colonial europeia, e de assuntos correlatos, como a escravidão em outros períodos históricos, o comércio de africanos escravizados e sua resistência à escravidão, além dos impactos da escravização no continente africano e no Brasil.

  • Debater o conceito de escravidão na época moderna, identificando as diferenças entre a escravidão no contexto da expansão colonial europeia e os modos de escravidão em outros períodos históricos.
  • Apresentar instrumentos para a compreensão do cotidiano dos escravizados e da cultura dos africanos e afrodescendentes no Brasil.
  • Reconhecer os principais aspectos da escravidão na época colonial, entre eles: o tráfico negreiro e a escravidão na África, as fórmas de resistência à escravidão e a formação de quilombos na América portuguesa.
  • Aprofundar os estudos com fontes históricas sobre o período colonial.

Para começar

Comente que, apesar de terem chegado ao Brasil sob as mais penosas condições, os africanos e seus descendentes participaram e continuam participando intensamente da cultura brasileira. Essa presença se deu por meio de um processo contínuo, rico e diversificado, sendo marcante, por exemplo, na literatura, na língua, na música, na alimentação, na religião, no vestuário, nas técnicas e na ciência. Espalhadas por todas as regiões do país, as culturas africanas integram os modos de pensar e viver dos brasileiros. Do mesmo modo, o trabalho dos africanos e de seus descendentes marca a história de nosso país.

São abordados na abertura a imagem de líderes negros quilombolas que lutaram contra a escravização durante o período colonial no Brasil, com destaque para as personagens históricas femininas Aqualtune, Acotirene e Dandara, que tiveram importante papel na luta negra, e o artista plástico paulistano Jaime Lauriano, que, por meio de suas obras, reinterpreta a história do ponto de vista dos marginalizados.

Fotografia. Em uma sala de cirurgia, destaque, no centro da imagem para um homem vestindo um avental de cirurgião de manga longa na cor cinza, uma touca de proteção branca sobre seus cabelos, uma máscara cobrindo seu nariz e sua boca e luvas cirúrgicas brancas em suas mãos.  Ele está com a cabeça levemente inclinada para baixo. À frente dele, vista parcialmente, uma mulher também paramentada com roupa cirúrgica cinza, touca, máscara, luvas e um óculos de proteção com uma pequena lanterna sobre seu rosto,  a lanterna emana um feixe de luz, voltado para baixo. Ela tem um braço flexionado, e segura um instrumento em formato de caneta com uma das mãos. No fundo da sala, vista parcialmente, uma mulher com uniforme cirúrgico azul, os cabelos sob uma touca branca e uma máscara de proteção branca sobre o rosto.
Médicos realizam cirurgia em hospital na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2020. Dados do Ministério do Trabalho de 2018 mostravam que a maioria dos brasileiros negros ocupava cargos de baixa qualificação, com poucas exceções. Essa desigualdade social é uma consequência direta dos tempos de escravidão no país.
Serigrafia. Sobre um fundo de madeira, em preto, quatro instrumentos de tortura. No canto esquerdo, uma haste horizontal com dois arcos lado a lado, logo abaixo, dois círculos com quatro pontas afiadas cada um, no alto, à direita, uma máscara de flandres, com hastes metálicas formando um semicírculo terminado em uma máscara de metal, que cobriria a parte frontal do rosto e, logo abaixo, uma faixa com três hastes laterais contendo anzóis duplos metálicos curvos. No canto esquerdo inferior, o texto: 'Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós, das lutas na tempestade dá que ouçamos tua voz. Nós nem cremos cremos que escravos outrora tenha havido em tão nobre país... Hoje o rubro lampejo da aurora acha irmãos, não tiranos hostis'.
Liberdade! Liberdade!, serigrafia de Jaime Lauriano, 2018. A obra faz alusão a um desenho do livro O tirano penitencial ou o comerciante de escravos reformado, de tômas bránagãm, que mostra instrumentos usados no tempo da escravidão. O artista reproduziu o desenho e aplicou trechos do Hino da Proclamação da República do Brasil, em tom crítico e irônico.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Escravidão, resistência e tráfico de escravizados pelo Oceano Atlântico são temas fundamentais para compreendermos a história colonial. Por isso, no capítulo é apresentado o debate sobre o conceito de escravidão na época moderna. O contexto do tráfico negreiro foi abordado em conjunto com as fórmas de resistência dos escravizados. Além disso, buscou-se compreender como era a vida dessas pessoas por meio de aspectos da cultura e do cotidiano. Estudar esses processos é essencial para compreendermos a formação da população brasileira, tendo em vista a construção do conhecimento pautado na diversidade e na importância dos povos africanos para o Brasil, no passado e no presente.

Conceitos de escravidão

A escravidão é uma prática antiga e cruel. Sua principal característica é o domínio que uma pessoa (senhor) exerce sobre outra pessoa (escravizado). As fórmas desse domínio variaram ao longo da história, mas podemos dizer que, em muitas situações:

  • o escravizado não tinha liberdade de decidir sobre seu próprio destino. Não era livre, por exemplo, para escolher e organizar a rotina de seu trabalho;
  • o escravizado devia obedecer às ordens de um senhor, principalmente nas relações de trabalho. A desobediência era punida com castigos físicos e até com a morte;
  • o escravizado era considerado um bem que podia ser comprado ou vendido.

Calcula-se que cêrca de 40% da população da Península Itálica era formada por escravizados no auge do Império Romano (século dois). De modo geral, eram escravizadas pessoas aprisionadas em guerras ou que praticavam crimes graves. Não pagar dívidas foi, durante certo tempo, um motivo para a escravização do devedor, sendo também escravizados seus filhos até que a dívida fosse paga.

A situação dos escravizados na Antiguidade era diversificada. Eles trabalhavam em oficinas, mercados, portos e minas, mas também podiam exercer atividades intelectuais, nas funções de secretário ou professor.

Durante a Idade Média, a escravidão continuou existindo, mas deixou de ser a principal fórma de exploração do trabalho. A dominação adquiriu a fórma de servidão, na qual o servo trabalhava na terra para o seu próprio sustento e para manter o senhor feudal, que, em troca, o protegia. O servo podia ser proprietário de alguns instrumentos de trabalho e não podia ser vendido.

A partir do século quinze, época da expansão colonial europeia, foi estabelecida a escravidão moderna. Essa fórma de escravidão tornou-se muito lucrativa para os Estados europeus que controlavam o fluxo de escravizados da África para a América. Milhões de homens e mulheres africanos foram arrancados de seus lares, de seu continente e separados de seus povos, de suas línguas e de suas culturas. Quando comparada à escravidão antiga e à servidão medieval, a escravidão moderna distingue-se por tratar o africano cativo como “peça” ou semoventeglossário , procurando extinguir sua condição humana.

Fotografia. Cinco dados de metal, contendo pontos entalhados em cada uma de suas faces.  Um dado na cor preta, dois dourados e dois acobreados.
Dados de jogar encontrados por arqueólogos durante a escavação do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, em 2011. O local foi um dos portos que receberam a maior quantidade de pessoas escravizadas em todo o mundo.
Fotografia. Caixa metálica vista de cima, parcialmente destampada, expondo pequenas miçangas circulares amontoadas.
Caixa de metal contendo miçangas encontrada na escavação do Cais do Valongo, quando foram iniciadas as obras de revitalização da área portuária da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, em 2011.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Os textos “Conceitos de escravidão” e “Escravidão na África” favorecem o desenvolvimento das competências cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um cinco, ao abordar o conceito de escravidão moderna identificando as diferenças entre a escravidão durante a expansão colonial europeia e os outros modos de escravidão ou servidão em outros períodos históricos, e ê éfe zero sete agá ih um seis, ao analisar o comércio de escravizados, identificar os agentes responsáveis pelo tráfico e as áreas de procedência dos africanos escravizados.

Texto de aprofundamento

Estudiosos de diferentes áreas têm se dedicado a avaliar o impacto da escravidão na África contemporânea. A entrevista transcrita a seguir foi dada por nêitan nún, professor de Economia na Universidade Harvard, e pode ser esclarecedora para uma comparação entre o passado e o presente.

Impactos da escravidão

“Pergunta: O que relaciona a escravidão do passado à pobreza de hoje?

Resposta: Meu estudo trata dos canais de ligação mais prováveis. Um é a formação dos Estados – o comércio escravista historicamente inibiu o desenvolvimento de grandes Estados estáveis. Outro é o fracionamento étnico: o comércio de escravos inibiu a formação de grupos étnicos maiores.

Pergunta Guerra e escravidão já não eram características comuns entre povos africanos antes do comércio escravista com o Ocidente?

Resposta A escravidão e a guerra eram provavelmente comuns antes do comércio escravista, mas o escravismo certamente aumentou sua ocorrência.

reticências Pergunta O Ocidente tem ‘culpa’?

R: Não sei bem o que isso significa. Europeus estiveram envolvidos em parte do comércio de escravos, assim como africanos e árabes. reticências

Pergunta E como é que a escravidão não produziu riqueza para os descendentes dos caçadores e vendedores de escravos?

Resposta Não há estudos sobre a riqueza individual de descendentes dos caçadores e comerciantes de escravos. Por conta da minha pesquisa, sabemos que o nível médio de renda em um país é negativamente afetado pelo comércio de escravos. Mas não sabemos como foi afetada a renda de certos grupos.

Pergunta Quero dizer: não se formaram ‘Estados escravistas’? A riqueza de certos reinos atuais não é herdeira do escravismo?

Resposta Alguns Estados, como o axanti e o ôio , desenvolveram um consumo do escravismo. Esses Estados predatórios enriqueceram com o comércio de escravos, mas eram instáveis e duraram pouco. Aparentemente, não possuíam as instituições necessárias para resistir ao tempo. Teoricamente, o escravismo poderia ter causado centralização nesses países predadores, mas na prática deve ter causado enfraquecimento e fragmentação da política.

Pergunta Quais são as especificidades da escravidão na América portuguesa?

Resposta O que distinguiu Portugal é que foi um dos primeiros países europeus a exportar escravos durante o tráfico escravista atlântico – e foi o último país europeu a parar.”

GUIMARÃES NETO, Ernane. O preço de um escravo. Folha de São Paulo, São Paulo, ano 88, número 840, 11 maio 2008. Mais!, página 3.

Escravidão na África

No continente africano, havia uma fórma de escravidão que não tinha relação com a cor da pele. Homens e mulheres podiam ser escravizados ao serem derrotados e capturados em guerras ou punidos por crimes e dívidas não pagas. Se um escravizado tivesse filhos, seus descendentes também se tornavam escravizados. Por isso, a escravidão em várias partes da África atingia a linhagem ou a família dessas pessoas.

Em grande parte do continente, os cativos cumpriam ordens de seus senhores e dependiam deles para obter alimento, vestimenta e moradia. Os escravizados trabalhavam na agricultura, no artesanato, na mineração, no comércio etcétera Havia algum comércio de pessoas escravizadas, mas essa não era a atividade predominante.

A escravidão comercial ou mercantil foi desenvolvida no final do século quinze, quando os europeus conquistaram partes do litoral africano. Guerras, dívidas e punições continuaram a ser motivos de escravização, mas um número cada vez maior de escravizados passou a ser vendido para comerciantes europeus. A escravidão de linhagem diminuiu e a escravidão comercial cresceu, envolvendo interesses de grupos escravistas na Europa, na África e na América.

À medida que o comércio atlântico de escravizados crescia, os europeus faziam acordos com soberanos africanos. Esses soberanos aceitavam trocar escravizados por armas, aguardente, tabaco, tecidos e búzios (espécie de concha usada como moeda). As armas de fogo foram introduzidas na África pelos europeus e contribuíram para que as guerras no continente ficassem ainda mais violentas e destrutivas.

Gravura. Sobre um fundo branco de papel amarelado, um grupo de pessoas nuas entre chamas e fumaça. À frente, duas caídas no chão, uma à direita e outra à esquerda. À direita, em pé, uma mulher com um bebê nos braços em posição de corrida. Ao lado dela, à direita, uma criança com dois braços levantados para o alto. À esquerda, ajoelhado no chão, ao lado da pessoa caída à esquerda, um homem aperta amarras nos punhos da pessoa, que está com o rosto sobre o solo. Atrás deles, dois homens em pé, segurando lanças. Em segundo plano, duas casas com telhados de palha e coqueiros entre colunas de fumaça.
Ilustração de uíliãn rênri uôrzinton representando a captura de pessoas na África, 1809. Guerreiros buscavam aprisionar pessoas no interior do continente para negociar sua venda com soberanos locais e comerciantes europeus.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Leia o trecho da entrevista de nêitan nún e responda às questões a seguir.

1. Em sua opinião, por que o autor não responde diretamente à questão da “culpa” do Ocidente? Justifique.

Resposta: O autor prefere trabalhar em termos de uma responsabilidade ou envolvimento de europeus, árabes e africanos. É necessário discutir o assunto sempre em termos de responsabilidades sociais e estatais e de reparações que possam ser conquistadas objetivamente.

2. Segundo o autor, o que distinguia a escravidão na América portuguesa?

Resposta: O fato de que os portugueses foram um dos primeiros a participar do tráfico de escravizados e os últimos a abandoná-lo.

Tornar-se escravizado

O comércio de africanos escravizados ocorrido no Oceano Atlântico foi chamado tráfico negreiro. De modo geral, o tráfico negreiro envolveu a captura de africanos, seu deslocamento em viagens nos navios negreiros e venda nos portos da América.

Captura

As pessoas eram capturadas em guerras ou emboscadas em várias regiões do continente africano. Feitas prisioneiras, elas eram levadas para portos litorâneos. Se fosse necessário, percorriam mais de 400 quilômetros a pé. Estima-se que mais de 10% dessas pessoas morriam no caminho em direção à costa africana.

Principais rotas do tráfico transatlântico (séculos dezesseis-dezenove)

Mapa. Principais rotas do tráfico transatlântico. Séculos dezesseis a dezenove. Mapa representando, em destaque, parte da América do Sul e a África. Algumas regiões estão destacadas em cores distintas. Há setas sobre o Oceano Atlântico indicando rotas. Em amarelo, 'Povos bantos', compreendendo, na África, um grande território, de oeste a leste do continente, desde o norte da Linha do Equador até o sul do continente, estendendo-se, no oeste da África, do Golfo da Guiné até o Golfo de Benguela, e no leste do continente, ao sul da região dos Grandes Lagos até o Canal de Moçambique e o sul do continente, com destaque para Congo, Angola e Moçambique, e as cidades de São Paulo de Luanda, no oeste do continente, e Moçambique, no leste do continente. E na América do Sul, compreendendo dois territórios, do litoral ao interior, um, desde o norte, com destaque para a cidade de Belém, passando pela Baía de São Marcos (com destaque para a cidade de São Luís) até parte do nordeste do continente, com destaque para a cidade de Recife; e outro no sudeste da América do Sul, da região que hoje corresponde ao sul da Bahia até o sul do estado de São Paulo, passando por Espírito Santo e Rio de Janeiro. Em verde, 'Povos da África Ocidental', compreendendo, na África, no oeste do continente, passando pela Costa da Mina, o Golfo da Guiné estendendo-se até o centro do continente, na região subsaariana, com destaque para a Guiné e a cidade de Lagos. E na América do Sul, do litoral ao interior, desde o norte da região da Baía de Todos os Santos, com destaque para a cidade de Salvador, até o sul da região que hoje corresponde ao estado da Bahia. Uma seta roxa indica 'Rota de Guiné', partindo da Guiné, na África Ocidental, até Belém e São Luís na América. Uma seta verde indica 'Rota da Mina', partindo de Lagos, na região da Costa da Mina, no Golfo da Guiné, no Oeste da África, dividindo-se, no Oceano Atlântico, em rotas até Belém, São Luís, Recife, Salvador e Rio de Janeiro na América. Uma seta laranja indica 'Rota de Angola', partindo de São Paulo de Luanda, no Oeste da África, dividindo-se, no Oceano Atlântico, em rotas até Recife, Salvador e Rio de Janeiro na América. Uma seta vermelha indica 'Rota de Moçambique', partindo de Moçambique, no Leste da África, saindo do Canal de Moçambique, no Oceano Índico, dividindo-se no Oceano Atlântico, em rotas até o Rio de Janeiro, Salvador e Recife, na América. No canto inferior direito, rosa dos ventos e a escala de 0 a 1.560 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de et al. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 36-37.

No litoral, as pessoas aprisionadas eram colocadas em barracões precários e com pouca ventilação. Podiam ficar dias ou meses amontoadas nesses barracões, esperando haver número suficiente de pessoas para encher um navio.

Antes de serem embarcados, homens e mulheres eram marcados com ferro em brasa no peito ou nas costas. Essa marca servia para identificar o traficante ao qual o cativo pertencia, já que um mesmo navio podia carregar escravizados de diversos proprietários. Algumas das marcas eram dos reis europeus, que cobravam impostos pelo comércio de escravizados.

Os barracões precisavam ser abastecidos de alimentos e eram vigiados constantemente. Nessa etapa da escravização, havia a participação de comerciantes locais e de traficantes europeus ou traficantes que vinham do continente americano.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Tornar-se escravizado” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá dois, cê ê agá três e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois, ê éfe zero sete agá ih um quatro e ê éfe zero sete agá ih um seis, ao descrever as relações comerciais entre América e África e as dinâmicas do tráfico de africanos escravizados.

Texto de aprofundamento

Para comparar a escravidão colonial e imperial com as fórmasde trabalho análogas à escravidão no tempo presente, recomendamos a leitura a seguir, que traz o depoimento dado em 2009 por um homem que foi submetido a trabalho compulsório no Brasil. Ao buscarmos compreender o significado dessa experiência, podemos ficar mais sensíveis à prática da escravidão no Brasil e às situações de preconceito nos dias de hoje.

Trabalho análogo à escravidão

“Anos atrás, Antônio foi vendido como escravo no Maranhão reticências. Antônio, vítima de tráfico de seres humanos, foi comprado para limpar o pasto e derrubar Floresta Amazônica. reticências Conseguiu reticências uma indenização. Pouco mais de Dez mil reais. reticências

A fala de Antônio reticências foi transcrita do jeito que foi dada – livre, sem as correntes da língua portuguesa.

reticências naquela época era mais difícil serviço aqui dentroreticências. Então, eles vieram atrás de gente para levar lá pro Miguel Rezende. Então, ele chegou e o cara foi na rua e aí anunciou que queria 42 peão. Então esses 42 peão foi junto, tudo reticências.

No dia que nós saímos para a casa do Miguel Rezende, em Imperatriz, nós cheguemos lá, nós fumos vendido! Oitenta reais pra cada cabeça, os 42 reticências. Então ele pegou esse dinheiro lá com patrão e passou nós já pra outro. Quando nós cheguemos em João Lisboa, nós fomos pedir que queríamos merendá ele disse: que merendá, nada! reticências. No outro dia, reticências atravessemos o rio, fumo pro outro lado. Quando chegou lá, todo mundo com fome-de-manhã-caiu-na-cacaia-pra-cortar-pau-de-motosserra-uns-carregando-outros-só-limpando-outros-derribando.

reticências Quando deu com 25 dias eu falei pro Barroso, Barroso eu quero um dinheiro para mandar pra a minha família em casa, porque lá não ficou nada, vocês não me deram nada. Então pra comer eu tenho que trabalhar e mandar dinheiro. Ele disse: hum, reticências aqui não vai nenhum dinheiro. Tirando antes de 90 dias não vai nenhum dinheiro reticências. Quando completou 30 dias eu disse: reticências quem quiser ir embora mais eu, nós vamos. Aí o cantineiro avisou nós: reticências se saírem vocês morrem. Tem muito jagunço na fazenda reticências.

Rapaz, eu não tenho medo de homem não! Eu posso morrer, mas eu vou me embora. Eu não vou ficar aqui trabalhando a vida todinha, escravizado reticências

reticências eu saí com mais três reticências. Aí quando nós sai, quando nós andemos uns 200 metros, vieram reticências dois cachorros grandes reticências. Aí fiquemos ali, mata num mata, mata num mata reticências. Aí chegou o gerente e disse pra eles: rapaz, vocês libera esse homem, libera esse velho, porque se vocês mata ele, tem 42 homem, esses homem entrega essa fazenda. Aí liberaram nós.”

SAKAMOTO, Leonardo. Se te colocassem um preço, quanto seria? Uol Notícias, 11 outubro 2009. Disponível em: https://oeds.link/EKZNNq. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Atividade complementar

Observe o mapa que representa as principais rotas do tráfico transatlântico e responda às questões a seguir.

1. Cite duas localidades de origem dos africanos escravizados destacadas no mapa.

Resposta: Os estudantes podem citar, por exemplo, Lagos e São Paulo de Luanda.

2. Cite duas localidades no Brasil destacadas no mapa onde os africanos escravizados eram desembarcados.

Resposta: Os estudantes podem citar Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

Navios negreiros

A travessia do Oceano Atlântico era demorada. Os navios que saíam de Angola levavam, em média, 35 dias até Pernambuco, 40 dias até a Bahia e 50 dias até o Rio de Janeiro.

Crianças, mulheres e homens ficavam presos nos porões dos navios, em um espaço apertado e muito quente. Durante a viagem, eram frequentes os castigos físicos, as doenças, a falta de água e de comida.

Calcula-se que entre 5 e 25 de cada 100 africanos embarcados morriam nessas viagens. Não é por acaso que os navios negreiros ficaram conhecidos como tumbeiros ou túmulos flutuantes.

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado, plantas de uma embarcação à vela em diferentes planos. Na parte superior,  vista de lado, com um corte, indicando os cômodos em seu interior, dentro do casco, sobre as águas. Na proa, há dois andares, o primeiro ocupado por canhões voltados para fora por aberturas no casco, o segundo, por barris. No centro da embarcação, há dois andares. No primeiro, que é muito estreito e baixo, há pessoas sentadas em fila, umas atrás das outras. No andar de baixo, o mais amplo, há cordas e barris. Na popa, no castelo, acima da linha do convés, a inscrição, originalmente em inglês, 'Cabine'. Logo abaixo do convés, um andar com canhões voltados para fora por aberturas no casco; abaixo, um cômodo pequeno com barris de madeira. No convés, a parte inferior dos mastros (três mastros  no convés e o quarto, o gurupés, na proa do navio, voltado para frente e para fora), feixes de cordas e um canhão. Na parte inferior da gravura, visto de cima, uma seção destacada, desde o gurupés, na proa, até a parte posterior do terceiro mastro, incluindo o canhão, há a indicação da medida horizontal, em inglês, 'quarenta pés'. Verticalmente, a indicação em inglês, 'Por doze'. À esquerda do canhão, há uma pequena abertura gradeada no formato quadrado. Na segunda seção destacada, em torno do quarto mastro, não incluindo a cabine de popa, a indicação da medida, em inglês, 'doze pés'.  Há uma pequena abertura gradeada no formato quadrado à direita do quarto mastro. Na gravura, à esquerda, dispostos verticalmente entre tábuas, um grupo de homens sentados em fila em um espaço muito baixo, com as cabeças encostando no teto. Abaixo o texto com as medidas, originalmente em inglês: 'três pés e três polegadas de altura'. (O equivalente a cerca de 1 metro de altura).
Ilustração de navio negreiro publicada no livro Notícias do Brasil em 1828 e 1829, de Róbert Uálxi, 1830. Observe a imagem na lateral esquerda, que mostra como as pessoas escravizadas viajavam na embarcação.

Os africanos capturados se revoltaram em diversos momentos da escravização, desde a captura até a permanência nos barracões. Mas as revoltas nos navios eram as mais temidas pelos traficantes e tripulantes. Para os africanos, era a última chance de resistir antes de fazer uma viagem provavelmente sem volta. Essas revoltas, mesmo quando não eram bem-sucedidas, podiam provocar grandes estragos no navio.

Fotografia. Sob um céu azul sem nuvens diante do mar, um arco na cor vermelha com as bordas brancas, sustentando por duas colunas de cada lado. Na parte superior do arco, em formato retangular, há inscrições com duas fileiras de figuras humanas douradas, uma à direita outra à esquerda, elas estão amarradas umas às outras em fila, em direção à uma embarcação à vela sobre as águas, representada no centro da parte superior do monumento. Nas colunas, em relevo dourado, figuras humanas, homens e mulheres, de dois em dois, com as mãos para trás. Ao lado das colunas, em ambos os lados, esculturas metálicas em formato cônico, com pernas e braços humanos. Atrás do monumento, a praia.
Porta do não retorno, monumento localizado em Uidá (ou Ajudá, em português), Benin. Fotografia de 2019. A obra homenageia milhões de pessoas escravizadas que foram enviadas da África à América.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A leitura e a reflexão sobre o relato apresentado no artigo “Se te colocassem um preço, quanto seria?” podem introduzir a questão sobre “tornar-se escravizado”, em especial com relação às mudanças e às permanências na atualidade. Evidentemente, as analogias devem ser feitas de maneira cuidadosa. Aprofunde a questão destacando a importância das leis trabalhistas no presente e a necessidade de cobrança por parte da sociedade e dos poderes públicos e privados para que elas tenham amplo alcance, sobretudo no que concerne à fiscalização do trabalho em regiões com limitada atuação dos órgãos governamentais.

Mercado de escravizados

O tráfico de pessoas escravizadas movimentou diversos portos na América, entre eles: Rio de Janeiro, Salvador e Recife, no Brasil; Cartagena, em Nova Granada (atual Colômbia); Nova Orleans, nos Estados Unidos; e Havana, em Cuba.

Nas áreas portuárias, o grande fluxo de pessoas e o movimento de mercadorias levaram a transformações. Por exemplo, foram construídos armazéns, lojas de alimentos e estaleiros (locais para construção e conserto de navios).

Fotografia. Vista aérea de um campo escavado cercado de vias asfaltadas e edifícios. O campo, no centro da imagem, possui corredores escavados, pedras grandes e quadrangulares, pavimentos de pedra cercados de grama e, ao fundo, um obelisco. Atrás, uma praça, com árvores e construções baixas. Em segundo plano, um morro coberto de vegetação e o céu parcialmente nublado.
Sítio arqueológico do Cais do Valongo, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2020. Em funcionamento desde o final do século dezoito, esse porto recebeu ao menos 900 mil africanos escravizados.

Os traficantes pagavam os tributos para entrar com sua “carga” de pessoas no Brasil. Os africanos aprisionados eram registrados e levados para os mercados, onde eram vendidos. Em razão das péssimas condições de viagem, várias pessoas ficavam desnutridas, enfraquecidas e doentes (com vermes, escorbuto, oftalmiaglossário etcétera Muitos africanos morriam nesses portos em decorrência das doenças contagiosas que dali se espalhavam pelo interior do continente, como varíola e sarampo.

Nos mercados, os escravizados eram organizados por sexo, idade e origem. Os proprietários e traficantes negociavam as condições e os preços de venda. Para negociar valores mais elevados, os vendedores mandavam alimentar os escravizados, limpá-los e passar óleo em seus corpos. Depois de vendidos, eles eram levados por seus novos senhores para o trabalho forçado em fazendas, residências, comércios ou minas.

Gravura. Em uma área coberta por telhas, com paredes claras nas laterais e uma entrada frontal com três arcos que revelam uma paisagem marítima, há um grande grupo de homens, mulheres e crianças, a maior parte deles, pessoas negras, que estão  em pé, sentadas ou deitadas no chão. O grupo está dividido em grupos menores, em um deles, à frente, em primeiro plano, seis mulheres, dois homens e uma criança estão dispostos sobre o chão em esteiras de palha ao redor de um recipiente arredondado sobre uma fogueira. À direita, há duas pessoas deitadas em esteiras de palha, e, ao fundo, duas pessoas em pé e uma sentada em uma cadeira, diante de um homem branco vestido com casaco vermelho, sentado em frente à uma mesa com uma toalha azul e uma caixa de madeira, ao lado de outro homem branco, de casaco verde com um manto bege e chapéu, em pé. Acima da porta, um arco central, há gravada na parede uma figura de uma mulher com um bebê no colo rodeada por feixes de luz.  À esquerda, sentada próxima à entrada em arco, há uma mulher negra com vestido branco e lenço amarelo cobrindo os cabelos. Ela segura uma cesta de frutas com laranjas em suas mãos. Em frente à ela, há um grupo de três homens vestindo tangas coloridas e chapéus de palha. Um deles estende uma das mãos À esquerda, há um grupo de seis homens negros, de peito nu com tecidos coloridos atados à cintura sentados sobre esteiras de palha sobre o chão. Dois jovens estão sobre um banco de tábuas, junto à parede, e fazem um desenho representando uma embarcação na parede. Há outras figuras na parede: três figuras humanas: dois perfis de homens com adereços como chapéus altos sobre as cabeças e um homem com os dois braços levantados para o alto. Há outros três homens próximos à parede esquerda, em pé, observando. À frente desse grupo, há um homem branco, visto de lado, em pé, usando chapéu claro alto, casaco longo azul, colete marrom, calças e meias compridas até os joelhos roxas. Ele tem uma mão atrás das costas, outra no bolso das calças. Em segundo plano, vista pelos arcos, uma praia. Sobre as águas verdes, uma embarcação à vela e, à direita, uma igreja rodeada por vegetação alta com palmeiras.
Mercado de escravos, gravura do artista alemão iôrram mórritis ruguendás, 1835. Segundo pesquisadores, essa representação retrata os negros no mercado com rostos tranquilos e corpos saudáveis, o que não condizia com a dura realidade que eles enfrentavam.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Estabeleça relações entre as imagens dispostas na página. Reforce que a gravura Mercado de escravos, deiôrram mórritis ruguendás, é uma representação fictícia, mesmo que o artista tenha feito com base em aspectos da realidade do tráfico de africanos escravizados. Incentive os estudantes a refletir sobre a questão a partir da apreciação crítica contida na legenda da imagem. Já a fotografia mostra os vestígios arqueológicos de uma área de desembarque, o Cais do Valongo, pelo qual passaram ao menos novecentas mil pessoas escravizadas. Ao abordar a imagem do cais, explore também a questão da preservação do patrimônio histórico, estimulando os estudantes a refletir e a se manifestar sobre a importância da valorização de locais como esse. A análise das imagens contribui para o desenvolvimento da competência cê gê trêsponto

Atividade complementar

1. Descreva a obra Mercado de escravos, de iôrram mórritis ruguendás. Observe as personagens representadas, suas vestimentas e expressões, e o local onde a cena se passa.

Resposta: Foram representados homens, mulheres e crianças negras, em geral vestindo uma peça de roupa e espalhados por todo o espaço da cena. Há também três homens brancos com vestimentas compostas de mais peças, e dois deles usam chapéus e conversam ou observam as pessoas escravizadas. O local é claro e apresenta uma grande abertura com vista para uma igreja, dois morros, o mar e uma embarcação.

2. O local parece arejado? Justifique.

Resposta: Sim, a claridade e a grande abertura da construção indicam ser um local arejado.

3. Quais atividades as personagens negras estão realizando?

Resposta: Há personagens escrevendo na parede, deitadas, observando a vista para o mar, vendendo frutas e conversando ao fogo.

4. A cena parece calma ou conflituosa? E o local parece silencioso ou barulhento? Justifique.

Resposta: A cena parece calma e sem conflitos, o local tampouco parece barulhento ou tumultuado. O estudante poderá observar como a representação de rugêndas se relaciona com uma versão mais amena do mercado de escravizados e das condições impostas a essas pessoas.

Autobiografia de um escravizado

marrômá gárdo baquáqua nasceu por volta de 1820 e escreveu uma autobiografia na qual conta sua história como cativo na África e no Brasil e como liberto nos Estados Unidos, para onde conseguiu fugir da escravidão. Trata-se de um importante e raro documento escrito a respeito do tráfico negreiro transatlântico e a vida dos escravizados.

Gravura em preto e branco. Retrato de um homem visto de frente, com cabelos crespos e curtos, vestindo uma manta de tecido cobrindo seu peito parcialmente.
Retrato de marrômá gárdo baquáqua, 1854.

Na África Ocidental, baquáqua foi capturado e levado até a Vila de Grafe, no atual Benin. Lá ficou preso em uma espécie de jaula, sendo vigiado o tempo todo, marcado com ferro quente e castigado várias vezes. Foi em Grafe que baquáqua viu um homem branco pela primeira vez. Muitos africanos pensavam que os brancos eram canibais que preferiam a carne dos negros, e isso lhes causava terror. O pavor aumentava quando viam o navio negreiro. baquáqua achava que todos os negros seriam massacrados naquele navio.

Os maus-tratos continuavam na travessia do Atlântico. Espancados e mal alimentados, os africanos presos no porão podiam até se rebelar, mas pagavam um preço alto quando a rebeldia fracassava.

baquáqua chegou ao Brasil em 1845. Foi levado para uma fazenda perto do litoral de Pernambuco, onde ficou satisfeito por estar vivo. Ele escreveu: “Pouco me importava, então, de ser escravo: havia me safado do navio e era apenas nisso que eu pensava reticências (LARA, Silvia H. Biografia de marrômá gárdo baquáqua – Apresentação. Revista Brasileira de História, volume 8, número 16, página 273, 1988).

Fotografia. Capa de livro retratando o rosto de um homem com o olhar fixo à frente, vestindo um tecido fino sobre seu peito, e correntes metálicas ao redor de seu pescoço. No alto, o nome do autor, 'Mahommah G. Baquaqua'. No centro, contém o título e caracteres brancos: 'Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua. Um nativo de Zoogoo, no interior da África'.
Capa do livro autobiográfico de marrômá gárdo baquáqua, em edição de 2017.

responda NO CADERNO

para pensar

Reflita sobre a trajetória de uma pessoa escravizada e traficada da África para o Brasil. Em seguida, organizem-se em grupo para escrever um pequeno texto narrando sua história de luta pela liberdade.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Autobiografia de um escravizado” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih um zero, ao utilizar o relato de um escravizado para descrever a relação entre os africanos capturados e levados ao Brasil.

Para pensar

Nesta atividade, espera-se que os estudantes percebam a importância de textos como o de marrômá gárdo baquáqua, narrado em primeira pessoa, pois são raras as fontes construídas dessa maneira. Os estudantes devem desenvolver suas narrativas sobre a história da luta dos escravizados pela liberdade, considerando esse aspecto das ações dos escravizados, observando a importância de trabalharmos com os relatos produzidos por esses sujeitos históricos. Além disso, ao refletir sobre uma situação em que eles devem se colocar no lugar do outro e narrar sua história, é importante que levem em conta os argumentos falaciosos que precisam ser confrontados com dados históricos.

Outras indicações

As autobiografias de escravizados foram escritas em inglês e divulgadas amplamente nos Estados Unidos e no Reino Unido no século dezenove como parte da estratégia dos movimentos abolicionistas pelo fim da escravidão. O livro indicado a seguir usou esses textos para analisar as experiências dessas pessoas.

OLIVEIRA, Rafael Domingos. Vozes afro-atlânticas: autobiografias e memórias da escravidão e da liberdade. São Paulo: Elefante, 2022.

Sujeitos e impactos

O tráfico transatlântico envolveu diversos sujeitos históricos na África, na América e na Europa. Os escravizados eram capturados no interior ou no litoral da África, levados para os portos, embarcados em navios negreiros e transportados até a América, onde eram vendidos. Esse processo, no qual atuavam comerciantes, políticos, governos e grandes proprietários de terra, teve forte impacto na vida das sociedades americanas e africanas.

Origem dos escravizados

As pessoas trazidas para o Brasil pelos traficantes vinham de diferentes regiões da África e pertenciam a diversos povos. Esses povos costumam ser divididos em dois grandes grupos:

  • os da África Ocidental – iorubás, jêjes, hauçás etcétera Muitos eram conhecidos como “minas”, mas essa é uma categoria que inclui várias regiões, línguas e costumes diferentes. Geralmente, eles vinham de regiões que hoje correspondem ao Benin, à Nigéria e à Guiné e eram levados para a Bahia, entre outras regiões do Brasil;
  • os bantos – formados por angolas, benguelas, moçambiques etcétera Geralmente, eles vinham de Angola, Congo e Moçambique e eram levados principalmente para Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

No século dezesseis, a maioria dos africanos havia sido embarcada nos portos de Bissau, Cacheu, São Jorge da Mina e Ajudá, na África Ocidental. A partir do século dezessete, os portos de Luanda, Benguela e Cabinda, na África Central Atlântica (Congo e Angola), ganharam enorme importância. Estima-se que, no século dezoito, 70% dos africanos trazidos para o Brasil vinham dessa última região.

No Brasil, muitas vezes a origem de um escravizado era indicada pelo nome do porto ou região onde tinha embarcado na África e não pelo povo ao qual ele pertencia. Assim, por exemplo, escravizados de diferentes povos embarcados no porto de Cabinda eram classificados como “cabindas”.

Gravura. Sobre um fundo de papel amarelado, o busto de diferentes homens, lado a lado, vistos de frente, perfil ou de costas. Há cinco homens, na parte superior e quatro homens na parte inferior. Eles possuem penteados, cortes de cabelo e adereços variados, utilizam colares, brincos e adornos diferentes. Alguns possuem pinturas ou escarificações em seus rostos. No alto, à esquerda, sob o número 1, um homem visto de perfil, com cabelos pretos, crespos, curtos, raspados do lado, com um topete alto na frente da cabeça. Ele usa cavanhaque e tem três arranhões em uma das bochechas. À direita dele, sob o número  2,  um homem visto de frente, com cabelos pretos, curtos e crespos, vestindo uma camisa azul aberta. Ele tem um desenho arredondado emoldurando desde a parte inferior de seus olhos até sua testa, e uma linha vertical da testa até os lábios superiores. À direita dele, sob o número  3, um homem visto de frente com cabelos pretos, crespos e curtos usando alargadores nas orelhas e um colar de contas com uma cruz. À direita dele, sob o número  4, um homem visto de frente com um chapéu  em forma de  triângulo, vermelho com bordas brancas, sobre a cabeça. Usando alargador em uma orelha, ele tem uma pintura em forma de ramos sobre a testa e uma estrela na bochecha. Veste uma camisa azul aberta. À direita dele, sob o número  5, um homem visto de costas, com os cabelos raspados na parte posterior da cabeça, com o cabelo formando desenhos geométricos. Na linha inferior, à esquerda, sob o número 6, um homem visto de costas, com os cabelos pretos, crespos e curtos,  raspado na parte posterior da cabeça, formando um desenho sobre a cabeça. À direita dele, sob o número  7,  um homem visto de frente, com o cabelo raspado ao redor da cabeça, há apenas uma faixa frontal de cabelos, com cachos pretos e curtos emoldurando seu rosto. Ele tem um desenho sobre a testa, usa um colar e uma camisa amarela. À direita dele, sob o número  8, um homem visto de perfil, com o cabelo raspado ao redor da cabeça, há apenas duas faixas de cabelo não raspadas, uma frontal, com cachos pretos curtos emoldurando seu rosto, e outra na parte posterior da cabeça. Ele tem um ramo verde com uma flor branca transpassado na orelha, usa um colar de contas com uma cruz e veste uma camisa rosa. À direita dele, sob o número  8, um homem visto de costas. Ele tem o cabelo raspado na nuca e na parte de trás da cabeça. Há uma faixa horizontal de cabelo preto, curto e crespo no centro da cabeça, o cabelo no topo da cabeça está raspado e ele tem um topete alto na frente da cabeça.
Diferentes nações africanas escravizadas no Brasil em gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1834-1839. O artista representou pessoas de origem monjolo, mina, moçambique, benguela e cavala.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Sujeitos e impactos” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá quatro,cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois, ê éfe zero sete agá ih um quatro e ê éfe zero sete agá ih um seis, na medida em que descreve aspectos das relações comerciais entre América e África identificando os agentes do tráfico negreiro e os diversos povos e regiões de origem dos africanos escravizados.

Atividade complementar

Ao iniciar a discussão sobre a origem dos africanos escravizados, aponte para a diversidade dos povos submetidos à escravidão e sugira aos estudantes que pesquisem sobre alguns deles, como iorubás, jêjes, hauçás, angolas, benguelas, entre outros, ressaltando aspectos de sua história e cultura.

Resposta: Como resultado dessa pesquisa, os estudantes podem produzir cartazes organizados com base no mapa atual da África, indicando onde estavam localizados esses povos e apresentando algumas informações sobre eles, tais como línguas, religiões, costumes, atividades comerciais, vestimentas, hábitos alimentares, danças, músicas etcéteraDesse modo, será possível observar a diversidade de povos e de origens dos africanos trazidos para o Brasil e como a divisão promovida pelos portugueses tentava anular essa diversidade.

Agentes do tráfico

Fotografia. Em uma sala de exibição em um museu, com paredes e teto azul-escuros e iluminação baixa feita por luminárias presas em dois trilhos no teto, no centro, a estrutura do casco de um navio, feita de madeira. No centro da imagem, há uma viga central de madeira disposta verticalmente, que é atravessada perpendicularmente por dezenas de peças curvas também de madeira, formando o esqueleto do casco da embarcação. Há dois banners, um de cada lado de uma porta, com reproduções de retratos de dois homens e, nas paredes laterais, reproduções de gravuras do período escravista, correntes e algemas.
Instalação Navio negreiro, que apresenta a estrutura da embarcação, em exposição no Museu Afro Brasil, em São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2018. A iluminação fraca da sala tem o objetivo de estimular a sensação de como seria estar no escuro do porão de um navio negreiro.

Comerciantes portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses e franceses, com o apoio de seus governos, negociaram escravizados trazidos da África. As Igrejas cristãs não se opuseram à escravidão africana.

Os portugueses foram os pioneiros e principais comerciantes de escravizados africanos. Esse comércio ganhou tanta importância que no século dezessete chegou a dar lucros tão altos para a Coroa portuguesa quanto o próprio negócio do açúcar. Aqui, os africanos trabalharam em várias atividades econômicas, como na produção de açúcar, arroz, tabaco, algodão, café, extração de ouro, criação de animais, serviços domésticos e transportes.

Depois dos portugueses, os traficantes ingleses foram responsáveis pela venda do maior número de escravizados na América, e levaram essas pessoas para suas colônias na América do Norte e nas ilhas do Caribe. Nessas áreas, do século dezessete ao século dezenove, os africanos escravizados e seus descendentes trabalharam em plantações de algodão, arroz, tabaco e cana-de-açúcar.

Holandeses e franceses também participaram do tráfico, levando escravizados para Pernambuco (durante a invasão holandesa no século dezessete), Guianas (atuais Suriname e Guiana Francesa), Caribe e América do Norte. Para levar os escravizados até esses territórios, eles ocuparam partes do litoral africano e organizaram companhias de comércio.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Ao indicar a origem dos escravizados por meio do nome do porto ou da região em que eles tinham embarcado na África, os traficantes e os senhores os distanciavam de seu povo e, consequentemente, de sua ancestralidade africana. Pontue para a turma como essa questão tem influência até os dias de hoje. O fato de a população afro-brasileira ter grande dificuldade para localizar dados sobre seus ancestrais é um dos muitos legados terríveis da escravidão.

Outra questão associada a essa falta de reconhecimento da história de famílias afro-brasileiras pode passar por sentimentos de aversão ao assunto, vergonha, humilhação e vontade de esquecer. Assim, se muitas pessoas hoje em dia estão em busca de sua afirmação como afrodescendentes, há várias outras que não lidam bem com essas questões. Portanto, é imprescindível estar atento a todas essas possibilidades, que podem ser manifestadas pelos estudantes em sala de aula das mais variadas fórmas.

Impactos no continente africano

Por causa do tráfico negreiro, milhões de pessoas foram escravizadas e forçadas a deixar a África. Em razão desse comércio, das sêcas, da fome e das epidemias, a população africana praticamente não aumentou entre o século dezesseis e o final do século dezenove. Ela só voltaria a crescer depois de 1900.

Além do impacto sobre a população, o tráfico negreiro também trouxe consequências para a economia africana. A agricultura, por exemplo, não era estimulada pelos invasores europeus e pouco se desenvolveu. Afinal, os produtos agrícolas plantados no continente africano concorreriam com a produção da América, e os europeus queriam evitar isso. Para eles, a função da África era fornecer mão de obra para suas colônias na América.

Impactos no Brasil

É quase impossível saber com exatidão quantos africanos escravizados foram trazidos para a América entre os séculos dezesseis e dezenove. Para o Brasil, calcula-se que tenham sido cêrca de 4 milhões de pessoas entre 1531 e 1855, o que corresponde aproximadamente a 40% de todos os africanos traficados para o continente americano. Observe o quadro.

Estimativas de desembarque de africanos escravizados no Brasil (1531-1855)

Período

Número de escravizados

1531-1600

50.000

1601-1700

560.000

1701-1800

1.680.100

1801-1855

1.739.200

Total

4.029.300

Fonte: cláin, réberti. Tráfico de escravos. In: Estatísticas históricas do Brasil. Rio de Janeiro: í bê gê É, 1987. página 60.

Analisando o quadro, percebemos que o número de escravizados aumentava a cada século.

  • No século dezesseis, o número foi menor se comparado com os seguintes, pois as atividades econômicas eram reduzidas e grande parte dos trabalhadores era proveniente dos povos originários da América.
  • No século dezessete, o tráfico de africanos escravizados aumentou, após a retomada da produção do açúcar e das capitanias que estavam nas mãos dos holandeses.
  • No século dezoito, a agricultura e a descoberta de ouro em Minas Gerais triplicaram a procura por mão de obra escravizada.
  • No século dezenove, o tráfico ocorreu durante menos tempo, porém foi mais intenso do que nos séculos anteriores. O comércio de africanos escravizados pelo Oceano Atlântico foi legalmente extinto no Brasil em 1831 e em 1850, mas continuou de fórma ilegal até aproximadamente 1855. Nessa época, os escravizados trabalhavam principalmente nas lavouras de café, que se expandiam por Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Nas outras províncias, o trabalho dos escravizados continuou em diferentes atividades econômicas, mas passou a diminuir.

Ao serem trazidos para o Brasil, os africanos trouxeram também seus conhecimentos, expressões artísticas, valores e tradições. A presença africana está em diversos campos da cultura brasileira, como na religiosidade, nas celebrações, na língua, na arte e na gastronomia.

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

É importante que os estudantes saibam que não temos um número exato dos escravizados traficados, pois as estimativas dos estudiosos variam muito. Em parte, essa variação se deve ao fato de o Brasil ter ficado durante determinado período sob domínio espanhol e holandês, o que dificulta os cálculos. Outro fator que contribuiu para essa variação de dados foi a proibição do tráfico em 1831, que impulsionou o comércio ilegal de africanos e, como consequência disso, houve perda de contrôle por parte do governo sobre o número de escravizados que entravam no país. Cabe destacar também que a ampliação das atividades econômicas nos séculos dezoito e dezenove e a crescente necessidade de mão de obra contribuíram para o crescimento do número de africanos escravizados e traficados nesse período.

Texto de aprofundamento

O historiador estadunidense réberti cláin comenta brevemente como as estimativas apresentadas no quadro disposto no livro do estudante foram levantadas.

Estimativas do tráfico de escravizados

“Nos primórdios do século quinze, foi elaborado um documento de registro de emigração escrava africana, por funcionários da côrte de Portugal reticências. Existe um registro paralelo, realizado durante o século dezesseis por funcionários do governo espanhol, que contribuiu amplamente para documentar o tráfico praticado por portugueses reticências. No entanto, somente no final do século dezessete, encontramos um trabalho de registro sistemático, compilado através de séries completas, preservadas em acervos e arquivos no Brasil e Portugal. A partir de 1790, os jornais passaram a publicar listagens notificando a chegada de navios, fornecendo uma fonte complementar de documentação reticências. Após 1830, não se encontra nenhum registro em arquivo ou jornal por causa da ‘proibição’ oficial do tráfico escravo naquele ano. Na realidade, o tráfico só findou em 1850 reticências. A única amostra estatística expressiva do tráfico negro no Brasil, entre 1830 e 1850, encontra-se nos arquivos do Foreign Office, pertencente ao Public Record Office da Inglaterra. Esta documentação baseia-se em relatórios realizados por cônsules britânicos nos portos brasileiros, entre 1817 e 1850 reticências.”

cláin, réberti. Tráfico de escravos. In: Estatísticas históricas do Brasil. Rio de Janeiro: í bê gê É, 1987. página 55.

PAINEL

Baianas do acarajé

A culinária é um dos aspectos da cultura mais valorizados no mundo contemporâneo. Ela desempenha papel fundamental na construção de identidades nacionais e regionais. A criação de receitas envolve amplo conhecimento de ingredientes, utensílios e modos de preparo.

A culinária não satisfaz apenas as necessidades de nutrição, ela também é um componente indispensável em festas, rituais e outras fórmas de convivência.

Na época colonial, os africanos e as africanas trouxeram diversos conhecimentos para o Brasil. Entre eles, o modo de fazer acarajé. As mulheres (escravizadas ou libertas) faziam bolinhos de acarajé para vendê-los nas ruas ou para oferecê-los aos orixás nos eventos relacionados ao candomblé. No candomblé, o acarajé é uma comida sagrada.

O acarajé é um bolinho feito de feijão-fradinho temperado e frito no azeite de dendê. Depois, ele é cortado e recheado com camarão, caruru, vatapá e pimenta. A palavra acarajé”, em idioma iorubá, significa “comer fogo”.

Quando vendiam esses quitutes, as mulheres escravizadas eram obrigadas a dar a maior parte do lucro para seus senhores. Mesmo assim, muitas delas conseguiram juntar dinheiro para comprar sua alforria e também conquistar a liberdade de seus filhos. Além disso, o comércio de alimentos promoveu a convivência entre os escravizados urbanos e estimulou fórmas de organização entre eles.

Fotografia em sépia. Retrato de uma mulher, vista de corpo inteiro, com o corpo voltado para a direita, segurando sobre sua cabeça, com os braços flexionados e as mãos nas laterais, uma bandeja de madeira sobre a qual há  alimentos e um cesto com frutas. Ela tem os cabelos cobertos por um turbante de tecido branco, veste uma blusa de mangas curtas e de cor clara, uma saia longa clara com pregas e um babado na barra e tem um pano listrado amarrado sobre sua cintura. A mulher usa pulseiras no braço direito e brincos nas orelhas. Ela olha de forma fixa e determinada para a câmera. Há três arranhões profundos em sua bochecha direita.
Escrava de ganho vendedora, fotografia de Christiano Junior, 1864-1865. A venda de comida por mulheres escravizadas e libertas teve início na época colonial e prosseguiu pelo século dezenove.

Atualmente, as baianas que vendem acarajé são referências em várias cidades do país, sobretudo em Salvador, na Bahia. Desde 2005, a tradição preservada por essas mulheres é considerada patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o ifân Assim, houve o reconhecimento oficial do grande valor que os saberes africanos têm no processo de formação da sociedade brasileira.

Fotografia. Vista a partir da parte posterior do balcão de uma tenda de comida de rua. Sobre o balcão, há uma bandeja metálica com acarajés, e quatro panelas metálicas altas, uma com camarão seco, outra com vatapá, a seguinte já quase vazia e a quarta também com vatapá. De um lado do balcão, vista de costas e parcialmente, à esquerda, uma mulher vestindo uma blusa branca de mangas curtas, com os cabelos cobertos por um tecido colorido amarrado em torno de sua cabeça, segura, em uma das mãos com folhas de papel, um bolinho de acarajé aberto. Com a outra mão, ela segura uma colher amarela. À direita, há outra mulher vista de costas e parcialmente, com uma blusa branca de mangas curtas amarelas e estampadas. Do outro lado do balcão há quatro mulheres vistas parcialmente, uma delas segurando um prato metálico com alimentos em direção ao balcão.
Vendedora prepara acarajés em Salvador, Bahia. Fotografia de 2022.
Fotografia. Destaque para mãos de uma mulher, cobertas por luvas plásticas, segurando, ao redor de folhas de papel, um bolinho de acarajé frito, aberto, recheado com camarões, vatapá e tomates picados.  No fundo desfocado, o detalhe da blusa vestida pela mulher, uma blusa estampada com arcos azuis, brancos e lilás,
Acarajé pronto para consumo, em Santa Cruz Cabrália, Bahia. Fotografia de 2019.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A experiência de ser escravizado e traficado foi abordada no capítulo, principalmente em sua dimensão social. Sugerimos que o professor aborde a dimensão econômica do contexto da escravidão por meio de materiais disponíveis no próprio capítulo, como o quadro que indica as estimativas de desembarque de africanos escravizados no Brasil entre 1531 e 1855. Esses dados podem ser cruzados com as principais atividades econômicas no país entre os séculos dezesseis e dezenove, tendo em conta que a escravização dos indígenas persistiu de fórma simultânea à dos africanos e seus descendentes.

A dimensão social da escravidão poderá ser aprofundada de diferentes maneiras. Sugerimos aqui duas delas. A primeira refere-se à questão da identidade dos brasileiros, de todas as idades e origens, mas particularmente dos negros. Conhecer seu passado e as evidências desse passado no presente é um direito, e o estudo da escravidão pode ser muito elucidativo das condições sociais e econômicas do Brasil atual. A segunda maneira de aprofundar o estudo da escravidão e relacioná-lo ao presente é desfazer a visão de que os africanos e seus descendentes não influenciaram a economia brasileira em diferentes épocas.

Assim, estudar a escravidão a fim de vislumbrar o escravizado como sujeito da história é uma fórma de contrapor-se ao preconceito e à visão dos africanos como passivos em relação à sua própria escravização.

Alerta ao professor

A seção “Painel” intitulada “Baianas do acarajé” favorece o desenvolvimento das competências cê gê três, cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá cincoponto

Atividade complementar

Pergunte aos estudantes se eles observam pessoas vendendo comida nas ruas da região onde vivem. Se a resposta for sim, questione quais comidas são vendidas.

Resposta pessoal. Após ouvir as respostas dos estudantes, enfatize que a culinária é um aspecto importante de nossa cultura e que deve ser preservado, tendo em vista a transmissão de conhecimentos e o sentido ritual que, muitas vezes, há no preparo da comida e no modo como a compartilhamos. Os estudantes podem ainda entrevistar familiares, amigos e cozinheiros que produzam comidas típicas da região. Esse é um interessante trabalho de campo complementar que ajuda a instrumentalizar conhecimentos sobre patrimônio imaterial, estudo de campo e registro de saberes locais. Ao fim da atividade, pode-se realizar uma celebração entre os estudantes para que eles apresentem as receitas tradicionais que registraram e as compartilhem com os colegas.

Cotidiano dos escravizados

Aos africanos que sobreviviam à viagem pelo Oceano Atlântico era imposta uma vida muito difícil. Após se recuperarem da travessia, eles eram vendidos em leilões realizados no porto onde ocorrera seu desembarque na América. Pouco tempo depois, já estavam trabalhando para seus novos donos.

O aprendizado da língua portuguesa

Aprender a língua dos brancos não era fácil. No Brasil, os escravizados podiam ser mais ou menos valorizados de acordo com a experiência de vida na colônia. Na visão dos senhores, os escravizados que não conheciam a língua portuguesa e o trabalho na colônia eram menos valorizados, por isso eram chamados de boçais. Já os que entendiam a língua e haviam aprendido a rotina do trabalho eram mais valorizados, sendo chamados de ladinos.

O jesuíta Antonil chegou ao Brasil em 1681. Durante sua permanência no país, ele observou que os senhores faziam essas distinções entre os escravizados, e escreveu em seu livro Cultura e opulência do Brasil, publicado em 1711:

“Uns chegam ao Brasil muito rudes e muito fechados e assim continuam por toda a vida. Outros, em poucos anos saem ladinos e espertos, assim para aprenderem a doutrina cristã, como para buscarem modo de passar a vida [...]. Os que nasceram no Brasil, ou se criaram desde pequenos em casa dos brancos, afeiçoando-se a seus senhores, dão boa conta de si; e levando bom cativeiro, qualquer deles vale por quatro boçais.”

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. terceira edição Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1997. página 89.

Capa de livro. Sobre um fundo de papel amarelado, em preto, o título: 'Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas'. O trecho 'do Brasil' tem caracteres muito maiores que o restante. Abaixo, há texto ilegível na reprodução, seguido pelo título do autor, 'de André João Antonil'. Na metade inferior da capa, dentro de um retângulo, a ilustração de um brasão com um vaso com uma planta, no centro, ramos nas laterais e faixas superiores com as palavras em latim:  'Semper', 'Honore' e 'Meo'. Logo abaixo do brasão, o texto: 'Lisboa. Na Oficina Real deslandesiana. Com as licenças necessárias. Ano de 1711'.
Página de rosto do livro Cultura e opulência do Brasil, do jesuíta italiano André João Antonil, publicado em Lisboa em 1711.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Cotidiano dos escravizados” favorece o desenvolvimento das competências cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um zero e ê éfe zero sete agá ih um dois, pois analisa, com base em documentos históricos como a obra do jesuíta Antonil, diferentes interpretações sobre a América portuguesa e permite identificar aspectos sobre a distribuição territorial dos escravizados.

Outras indicações

Como foi visto, eram denominados “boçais” os escravizados que não conheciam a língua portuguesa e não dominavam as normas da escravidão. Na atualidade, o termo permanece em uso, porém, designando pessoas grosseiras ou incultas. São muitos os termos ou expressões populares que têm origem na escravidão; por exemplo, “nas coxas”, “meia-tigela”, “denegrir” e tantos outros termos pejorativos seguidos pelo adjetivo “negrobarrapreto” (“mercado negro” e “lista negra”, por exemplo). Os dois artigos indicados a seguir podem ajudar a debater o assunto.

  • MÉNDEZ, crístal. 18 expressões racistas que você usa sem saber. Geledés, 19 novembro 2016. Disponível em: https://oeds.link/dYYA6a. Acesso em: 17 fevereiro 2022.
  • PAIVA, Vitor. 9 expressões populares com origens ligadas à escravidão; e você nem imaginava. Geledés, 15 outubro 2016. Disponível em: https://oeds.link/M65IQb. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Orientação didática

A obra Cultura e opulência do Brasil, de Antonil, foi produzida após o período em que o jesuíta esteve no Brasil e observou as relações entre senhores e escravizados. O texto completo foi publicado em 1711, e nele o autor narrou em detalhes o processo de produção do açúcar e do tabaco, além da mineração e da pecuária colonial. O livro foi subdividido justamente nessas quatro áreas de análise. A mais completa delas é a primeira parte, relativa à produção açucareira. Em sua análise, Antonil tentava demonstrar o papel do Brasil como domínio português, ressaltando os esforços dos súditos do rei para construírem uma economia cristã e colonial que tinha a escravidão como alicerce. Para o jesuíta, era fundamental que houvesse investimentos na colônia. Isso deveria ocorrer por meio da organização da economia e da vida religiosa, a fim de que se alcançasse uma expansão produtiva e comercial nas quatro áreas por ele analisadas. A obra completa está em domínio público (disponível em: https://oeds.link/R2xUBS; acesso em: 3 junho 2022).

Trabalho na cidade e no campo

Além da agricultura e da mineração, os escravizados faziam serviços domésticos, artesanato ou outros trabalhos nas cidades como escravos de ganho. Dessa fórma, eles realizavam tarefas temporárias em troca de pagamento, mas tudo ou quase tudo que recebiam ficava para seus senhores.

Muitos escravizados preferiam viver nas cidades, pois ali tinham mais chances de circular pelas ruas e ganhar algum dinheiro. Podiam juntar as economias e, às vezes, conseguiam comprar sua liberdade. Vender um escravizado urbano para uma fazenda no interior era uma fórma de castigo usada pelos senhores.

Os escravizados que trabalhavam no campo e na mineração eram fiscalizados por feitores. A jornada de trabalho durava cêrca de 15 horas por dia. Quando desobedeciam às ordens, sofriam castigos que geralmente eram aplicados em público para intimidar os outros escravizados e evitar insubordinações. Era o chamado castigo exemplar.

O excesso de trabalho, a má alimentação, as péssimas condições de higiene e os castigos físicos deterioravam a saúde dos cativos. Principalmente nas minas e nas lavouras, vários escravizados morriam depois de cinco ou dez anos de trabalho. Já os escravizados domésticos ou de ganho podiam ter roupas e alimentação melhores, contribuindo para que vivessem por mais tempo.

Gravura. Em uma rua larga de terra, diante de uma casa com paredes brancas e janelas azuis em forma de arco, com uma porta central alta em formato de arco também azul, há um grupo de pessoas em fila no centro da gravura. São nove pessoas em fila indiana, com o corpo voltado para a esquerda, todas negras, magras, descalças, com cabelos curtos; sete homens alguns deles mais jovens, uma mulher e uma criança. Exceto pela criança, vestida com uma túnica curta branca, todos estão com o peito nu e uma faixa de tecido branco ao redor da cintura. A criança está próxima da mulher, que a segura pelos ombros. A primeira pessoa da fila, à esquerda, é vista de lado. Está com as mãos unidas à frente de seu corpo e a cabeça reclinada para baixo. À frente da fila, à esquerda, há um homem negro, também descalço, com um chapéu preto de abas sobre a cabeça, vestido com uma camisa e uma calça ambas brancas, segurando um chicote embaixo de um braço e uma mão segurando a aba do chapéu. Mais à esquerda, à frente dele, há um homem visto de lado, com o corpo voltado para a direita. Ele é branco, veste um fraque azul escuro e calças brancas. Tem um chapéu preto de abas laterais sobre a cabeça, calça sapatos pretos e está com uma das mãos apoiadas sobre uma bengala de madeira. No canto direito da gravura, há dois homens vistos de frente, em primeiro plano. Eles estão caminhando lado a lado. Ambos são negros, tem cabelos curtos, estão descalços. Um, à esquerda, veste um longo colete azul aberto sobre o peito nu e calças curtas na cor branca.  Leva um grande cesto de palha em suas costas e segura um instrumento com as mãos. O instrumentos é composto por um arco de madeira, que ele segura em uma mão, e uma longa hasta terminada em um círculo, também de madeira, que ele segura com a outra mão. À direita, o outro homem veste um colete azul longo aberto sobre uma camisa branca e calças curtas na cor branca. Ele tem um tecido branco sobre a cabeça, protegendo-a, pois sobre sua cabeça está apoiado um grande cesto de palha contendo folhas verdes. Com suas mãos, ele segura um instrumento musical, uma espécie de kalimba redonda, com longas hastes curvas de metal fixadas na lateral.
Escravos doentes, gravura de rênri chãmberlêin publicada no livro Paisagens e costumes do Rio de Janeiro, 1822.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

rênri chãmberlêin (1796-1844) foi pintor, desenhista e oficial da Artilharia Real Britânica. O artista chegou ao Brasil em 1819 para realizar transações comerciais relacionadas aos bens de sua família. Durante sua permanência no Rio de Janeiro, no entanto, tchênberlen passou a produzir obras que representavam a vida cotidiana daquela cidade. Views and costumes of the city and neighbourhood of Rio de Janeiro, publicada em Londres no ano de 1821, é o exemplar máximo dessas observações. No livro há 36 gravuras e textos explicativos.

Parte das produções de tchênberlen pode ser acessada no site da Brasiliana Iconográfica (disponível em: https://oeds.link/h2sgj1; acesso em: 3 maio 2022). O site reúne obras relativas à cultura e à história do país (séculos dezesseis a dezenove), as chamadas obras brasilianas, todas catalogadas e acessíveis em alta resolução. Na página também é possível pesquisar artigos acadêmicos a respeito dessas produções.

Atividade complementar

1. Pesquise expressões e palavras que têm origem na escravidão e anote-as em seu caderno.

Resposta: “Boçal”, “nas coxas”, “meia-tigela”, “denegrir”, “lista negra”, “mercado negro” são alguns exemplos.

2. Em grupos, troquem informações sobre as expressões e as palavras pesquisadas. Vocês já ouviram alguma delas? Em quais situações?

Resposta pessoal. O objetivo da questão é compreender que o vocabulário que usamos no cotidiano pode estar repleto de expressões preconceituosas. Lutar contra o racismo é também atentar para isso e evitar o uso dessas palavras e expressões.

3. Produzam um texto sobre a necessidade da discussão a respeito de expressões e palavras que tenham origens preconceituosas e como superar esses usos.

Resposta pessoal. A intenção é sugerir a necessidade de transformação no vocabulário usado no cotidiano, evitando a ofensa e o preconceito.

fórmas de resistência

Em muitos casos, os escravizados lutaram abertamente contra a escravidão. Em outros, negociaram com seus senhores, tentando reduzir a crueldade do cativeiro.

Conflitos

Os africanos escravizados e seus descendentes questionaram a escravização de várias fórmas. As fugas individuais e coletivas eram frequentes. Os escravizados fugidos eram auxiliados por redes e pessoas que os apoiavam, ou procuravam a proteção de negros livres ou libertos que viviam nas cidades, onde poderiam se passar por pessoas livres. Muitos formavam comunidades, aliando-se a outros grupos da sociedade colonial. Essas comunidades eram chamadas quilombos.

Os escravizados que fugiam eram perseguidos. Cartazes afixados nas portas das igrejas e anúncios nos jornais no século dezenove ofereciam recompensas a quem os prendesse e os devolvesse aos senhores escravistas.

Apesar de todo contrôle, os escravizados criaram diferentes fórmas de resistência. Por exemplo, organizavam rebeliões e sabotavam a produção, quebrando ferramentas ou incendiando as plantações. Na produção do açúcar, a sabotagem dos escravizados era uma ameaça constante: fagulhas lançadas nos canaviais provocavam incêndios, e pedras jogadas na moenda do engenho podiam quebrar as máquinas e arruinar a safra.

Cartaz. Sobre um fundo de papel amarelado um anúncio com texto em caracteres na cor preta e uma ilustração na metade superior. No alto, o texto: 'Crioulo fugido.' Abaixo, no centro, uma ilustração representando um homem em pé, visto de lado, vestindo uma camisa clara e uma calça escura. Em um de seus ombros, está apoiada uma haste de madeira com um tecido amarrado na ponta, formando um saco. Atrás dele, uma árvore entortada pelo vento, inclinada para a direita. Na lateral esquerda da ilustração, o texto: '50 mil réis'; e na lateral direita, 'de alvíssaras', com a grafia corrente na época. Logo abaixo da ilustração, o texto: 'Anda fugido, desde o dia 18 de outubro de 1854, o escravo crioulo de nome Fortunato [o nome está escrito em caracteres maiores em uma linha], de 20 e tantos anos de idade, com falta de dentes da frente, com pouca ou nenhuma barba, baixo, reforçado, e picado de bexigas que teve há poucos anos, é muito pachola, mal encarado, fala apressado e com a boca cheia olhando para o chão; costuma às vezes andar calçado intitulando-se  forro, e dizendo chamar-se Fortunato Lopes da Silva. Sabe cozinhar, trabalhar de encadernador, e entende de plantações da roça, donde é natural. Quem o prender, entregar à prisão, e avisar na corte, ao seu senhor Eduardo Laemmert, Rua da Quitanda, número 77, receberá 50 mil réis de gratificação'. Na parte inferior, abaixo de uma linha contínua, o texto: 'Rio de Janeiro, Tipografia Universal de Laemmert, Rua dos Inválidos, 61 B.'
Anúncio publicado no Rio de Janeiro, em 1854, oferecendo recompensa para quem denunciasse um escravizado foragido cujo nome era Fortunato. O termo “crioulo” era utilizado para designar os negros escravizados nascidos na América portuguesa, mas hoje é uma palavra com significado pejorativo, pois remonta à escravidão.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto fórmas de resistência” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro, cê ê agá um, cê ê agá dois ecê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois, pois permite identificar aspectos sobre a distribuição territorial da população escravizada, principalmente ao tratar da formação dos quilombos.

Orientação didática

Muitas vezes, as fórmas de resistência negra podem ser localizadas em lugares de memórias consagrados pelos órgãos de patrimônio histórico-cultural. Esses lugares não podem ser entendidos como produtos espontâneos, tampouco como construções comemorativas, tal como muitos monumentos que vemos em espaços públicos. É possível perceber esses espaços, portanto, como antimonumentos, isto é, espaços que apontam para uma estética que rememora a morte e o sofrimento e dizem sobre aquilo que não deve ser esquecido, pois é revelador de silêncios. Esse é o caso, por exemplo, do Cais do Valongo, das igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, de terreiros de religiões de matriz africana, portos, quilombos e engenhos espalhados por todo o território nacional, como apresentado no Inventário dos lugares de memória do tráfico atlântico de escravos e da história dos africanos escravizados no Brasil (2013), coordenado pelo Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense (disponível em: https://oeds.link/SEnRbN; acesso em: 17 fevereiro 2022).

Atividade complementar

Realize com os estudantes um trabalho de campo ou de pesquisa patrimonial sobre lugares de memória de resistência negra. De acordo com as possibilidades da turma, os estudantes poderão visitar algum desses espaços pessoalmente para, em seguida, produzir um relatório de visita ao local, discutindo as impressões que tiveram. Outra sugestão é a pesquisa on-line a respeito desses lugares de memória apresentados no Inventário dos lugares de memória do tráfico atlântico de escravos e da história dos africanos escravizados no Brasil, compartilhando-a, em seguida, com os outros grupos.

Negociações

As negociações entre senhores e escravizados faziam parte do cotidiano da escravidão e funcionavam como estratégia de sobrevivência, já que os escravizados não recebiam pagamento nem tinham descanso como os trabalhadores livres.

Muitos escravizados obedeciam a seus senhores para conseguir alimentos, roupas, um pedaço de terra; para viver em senzalas separadas onde podiam morar somente com suas famílias; para ter a oportunidade de expressar sua cultura (como falar seu idioma e realizar festas) e o direito de comprar a liberdade, quando juntavam o dinheiro necessário para isso.

Fotografia em preto e branco. Diante de uma parede, em uma rua de terra, um grupo de homens e mulheres, lado a lado, em pé, formando um semicírculo. No centro, frente a frente, também em pé, um homem, à direita, e uma mulher, à esquerda. Formando o semicírculo, há oito homens, majoritariamente à esquerda, e quatro mulheres, à direita. Os homens vestem camisas brancas de mangas longas, calças compridas brancas, e tecidos longos, estampados, amarrados ao redor da cintura. Estão descalços e usam chapéu sem abas listrados enfeitados com penas. Quatro deles, à esquerda, seguram tambores entre as pernas e estão com as costas curvadas, com as palmas das mãos sobre os tambores. As mulheres, à direita, trajam vestidos longos, brancos, com saias armadas, fitas sobre a cintura ou sobre o peito. Usam chapéus sem abas com bordados com pedrarias. O chapéu de uma delas, tem plumas brancas. Algumas usam brincos. Estão com as mãos unidas na frente do corpo. No centro, à esquerda, diante de uma mulher, um homem visto de lado, voltado para a direita, vestido com uma camisa branca de mangas longas, calça comprida branca e um tecido longo, estampado com listras verticais amarrado ao redor da cintura. Está descalço e usa um chapéu sem abas bordado enfeitado com penas e um manto escuro sobre seus ombros. No centro, à direita, diante do homem,  uma mulher vista de lado, voltada para a esquerda, trajando um vestido longo, branco, com saia armada, uma fita cruzando o peito na lateral do corpo. Ela usa um chapéu sem abas, alto, com bordados com pedrarias e plumas brancas.
Congada no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, fotografia de Arsênio da Silva, 1860. A congada consistia na coroação de uma rainha e de um rei negros membros de uma irmandade. A celebração tinha danças, batuques e desfiles organizados pelos africanos e seus descendentes. O rei e a rainha negros tinham grande importância social e eram considerados líderes na comunidade.
Fotografia. Interior de uma construção feita de madeira de taipa de pilão,  retangular, com solo de terra batida. Nas paredes, a estrutura feita de feixes de madeira entrelaçados e barro está exposta. No alto, sustentado por vigas de madeira que cortam a imagem horizontalmente, a estrutura em madeira de um telhado de duas águas e, no alto das paredes, nas laterais, aberturas horizontais com grades.
Interior de senzala da fazenda Santa Clara, considerada uma das maiores do século dezenove, em Santa Rita de Jacutinga, Minas Gerais. Fotografia de 2014. Geralmente, nas senzalas não havia divisões internas e diferentes famílias e pessoas solteiras dormiam juntas no chão. Era comum esses locais serem de terra batida, úmidos e com pouca ventilação.
Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

Em relação aos debates sobre os lugares de memória e, em particular, aqueles ligados à resistência negra, indicamos as obras a seguir.

  • Norrá, Piérre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução de iára aún cúri. Projeto História, volume 10, página 7-28, dezembro 1993.
  • PEREIRA, Júlio César Medeiros da Silva. À flor da terra: o cemitério dos pretos novos no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond/ifãn, 2007.
  • séligmân-silva, Márcio. Antimonumentos: trabalho de memória e de resistência. Psicologia úspi, volume 27, número 1, 2016. Disponível em: https://oeds.link/5heLCo. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Quilombos

A formação de quilombos foi uma fórma de luta dos escravizados comum em vários períodos e regiões do continente americano. Desde o século dezessete até o final da escravidão, no século dezenove, muitos africanos e seus descendentes se refugiaram em quilombos, construindo histórias de conquista da liberdade.

Embora as populações quilombolas fossem compostas principalmente de africanos e seus descendentes, havia também indígenas ameaçados pelo avanço da conquista portuguesa, brancos pobres, aventureiros e vendedores.

A vida social e econômica dos quilombos envolvia diversas atividades: agricultura, caça, coleta, mineração, produção artesanal e comércio. Seus integrantes sustentavam-se por meio de alianças com escravizados de ganho, libertos, pequenos proprietários e homens livres, principalmente comerciantes.

Gravura. Planta representando uma área cercada de árvores vista de cima. O terreno ao redor é representado em marrom escuro com pequenas árvores de copa verde desenhadas. A área central, em formato arredondado, está representada em marrom claro e tem algumas árvores mais esparsas. Há pequenos círculos destacados pela letra D em toda a parte superior da área em marrom claro. Na parte inferior, no centro, há dois grupos compostos por três fileiras de retângulos marrons e pequenos representando construções, destacadas pelas letras: Z, B, N, H. Logo abaixo, pequenos retângulos marrons e verdes entre árvores representam áreas de cultivo, destacadas pela letra F. Abaixo, há uma estrada com uma bifurcação à esquerda. A estrada é destacada pela letra I e pela letra E; entre as linhas da bifurcação da estrada, há três fileiras de retângulos marrons e pequenos agrupados, que estão destacados pela letra X. Em torno dessa área, há riscos curtos sobre o fundo marrom claro e a letra V.
Planta do quilombo Buraco do Tatu, que se formou em 1744 nas proximidades de Salvador, Bahia. Provavelmente, essa planta, de 1764, foi feita por autoridades interessadas em reprimir essas comunidades.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica. Livro

dica livro

DINIZ, André. Quilombo Orum Aiê. Rio de Janeiro: Galera Record, 2010.

História em quadrinhos que conta as experiências de um grupo que consegue fugir do cativeiro e sai em busca do Quilombo Orum Aiê.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Leia o trecho a seguir e responda às questões.

Canto primeiro: trabalhadores do Brasil

“Enquanto Zumbi trabalha cortando cana na zona da mata pernambucana Olorô-Quê vende carne de segunda a segunda reticências.

Enquanto a gente dança no bico da garrafinha Odé trabalha de segurança pega ladrão que não respeita quem ganha o pão que o Tição amassou honestamente enquanto Obatalá faz serviço pra muita gente que não levanta um saco de cimento tá me ouvindo bem?

reticências Ninguém aqui é escravo de ninguém.”

FREIRE, Marcelino. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2015. página 19-20.

1. Quem são os personagens apresentados no texto?

Resposta: Os personagens são Zumbi, Olorô-Quê, Odé, Tição e Obatalá. Sugerimos ao professor ressaltar que a escolha desses nomes é muito particular, remetendo à cultura de resistência negra por meio de Zumbi e das religiões africanas pelos demais personagens.

2. A quem o texto se dirige?

Resposta: O narrador fala diretamente com o leitor, sem, porém, especificá-lo. Essa fala pode ser percebida, por exemplo, pela marca de oralidade na pergunta “tá me ouvindo bem?”.

3. Todos os trabalhos citados no texto remetem ao período colonial? Justifique.

Resposta: Não, menções ao trabalho de segurança e ao saco de cimento, por exemplo, remetem aos dias atuais. Portanto, são trabalhos remunerados, ainda que realizados de maneira muito sofrida.

4. Por que você acha que o autor termina o trecho dizendo “Ninguém aqui é escravo de ninguém”?

Resposta: O trecho sugere que, apesar de tais ocupações serem remuneradas, há um eco da escravidão na maneira como os subempregos são quase sempre realizados pela população negra.

Palmares

Palmares foi o maior quilombo da América e também o que resistiu por mais tempo. Formado pela reunião de nove povoados, recebeu o nome de Palmares por estar localizado em uma região com muitas palmeiras, na Serra da Barriga, no atual estado de Alagoas.

Várias expedições militares foram organizadas para destruir Palmares. Quase todas fracassaram, e o quilombo conseguiu resistir por 65 anos, de 1629 a 1694.

Segundo documentos da época, calcula-se que Palmares chegou a ter 20 mil habitantes. Os quilombolas de Palmares pescavam e criavam gado. Faziam peças de cerâmica, madeira e metal. Também cultivavam milho, feijão, cana-de-açúcar, mandioca e frutas. Quando produziam mais do que precisavam, vendiam o excedente.

Zumbi dos Palmares

Zumbi foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares. Ele comandou a resistência dos quilombolas contra os ataques do governo.

Em 1691, a Coroa portuguesa, o governo colonial e os senhores de engenho contrataram o paulista Domingos Jorge Velho (1641-1705) e seus homens para atacar o quilombo. Liderados por Zumbi, os quilombolas conseguiram derrotar as fôrças de Jorge Velho.

Em 1694, Domingos Jorge Velho atacou novamente o quilombo. Dessa vez, o governo enviou cêrca de 6 mil homens bem armados. Os quilombolas, que não tinham armas nem munições suficientes, resistiram por cêrca de um mês. Ao final, Palmares foi destruído e sua população, massacrada.

Após os conflitos em Palmares, foi criado o cargo militar de capitão do mato, um funcionário que prendia e devolvia os escravizados fugidos aos seus senhores. Além disso, algumas leis foram mudadas para permitir maior repressão aos escravizados. No século dezoito, qualquer reunião de cinco negros poderia ser entendida como quilombo.

A experiência de Palmares valorizou a figura de Zumbi como símbolo da luta dos negros contra a opressão. O movimento negro brasileiro pressionou os órgãos governamentais e, desde 1978, o dia 20 de novembro (supostamente a data em que Zumbi morreu) tornou-se o Dia da Consciência Negra, um dia de luta e reflexão contra o racismo.

Fotografia. Sob um céu nublado, em uma praça, no centro da imagem, um monumento de formato de pirâmide, na cor branca. O topo é reto e abriga uma escultura de metal representando o rosto de um homem usando um capacete com uma pequena lança no topo. Diante do monumento, vistas de costas,  sete mulheres vestindo majoritariamente trajes e sapatos brancos, com blusas com renda e saias ou calças brancas. Uma usa uma blusa azul. Outra, um vestido verde. Todas elas tem faixas de tecidos nos cabelos ou usam turbantes na cor branca sobre a cabeça. Elas colocam flores, palmas brancas e amarelas, sobre a base do monumento. Há hastes com flores em toda a base do monumento e uma mulher segura um ramalhete de flores amarelas em suas mãos.
Monumento em homenagem a Zumbi dos Palmares, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2020. Como não se conhecem detalhes de sua fisionomia, o escultor inspirou-se em máscaras africanas do Benin.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

O Dia da Consciência Negra é celebrado em seu município? Se sua resposta for afirmativa, de que maneira ocorre a celebração?

Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

São inúmeros os legados deixados pela escravidão que ainda perpassam a vida de negros e negras até os dias atuais. É marcante, por exemplo, a constante presença deles em subempregos no Brasil. Tal assunto é tratado no conto “Canto primeiro: trabalhadores do Brasil”, publicado na obra Contos negreiros, de Marcelino Freire, em 2005. Vencedora do Prêmio Jabuti em 2006 na categoria contos, a obra apresenta paralelos entre passado e presente. Nesse conto em particular, isso ocorre por meio da escolha dos nomes das personagens que remetem a orixás e referências africanas e afro-brasileiras, como Zumbi, Olorô-Quê, Odé, Tição e Obatalá. A ausência de pontuações e o modo como o canto termina, sempre com uma pergunta dirigida ao leitor, apontam para a oralidade e para uma crítica ao modo como essas populações seguem sendo tratadas no país.

Para aprofundar as discussões sobre a obra, recomendamos os textos a seguir.

  • BALDAN, Maria de Lourdes Ortiz Gandini de. A escrita dramática da marginalidade em Marcelino Freire. ipótesi, Juiz de Fora, volume 15, número 2, julho a dezembro 2011. Disponível em: https://oeds.link/RRQ1i7. Acesso em: 17 fevereiro 2022.
  • LIMA, Francesco Jordani Rodrigues de. Cantos e cantares em Contos negreiros, de Marcelino Freire. Via Atlântica, número 12, página 157-166, dezembro 2007.

Para pensar

Resposta pessoal. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, ressalte que a criação de datas comemorativas, assim como a construção de monumentos históricos, ajuda a manter viva a memória de um povo. Nesse sentido, datas e monumentos podem tanto enaltecer certas conquistas ou personagens quanto rejeitar acontecimentos que provocaram dor e sofrimento.

Terras quilombolas

Atualmente, existem no Brasil várias comunidades quilombolas em todo o país. São mais de setecentas comunidades, reunindo cêrca de duas milhões de pessoas que descendem dos antigos quilombolas.

Os movimentos sociais negros têm conquistado vários direitos para os afro-brasileiros. Entre suas conquistas está o direito às terras dos antigos quilombos, que vêm sendo demarcadas e registradas legalmente.

Porém, essas comunidades precisam de mais do que terras legalizadas. Elas necessitam de uma série de condições para o exercício da cidadania, como escolas, postos de saúde, geração de empregos, garantia dos direitos etcétera

De acordo com o Censo Escolar de 2004, naquele ano havia trezentas e sessenta e quatro escolas em comunidades quilombolas no país. O Censo Escolar de 2009 mostrou o crescimento desses estabelecimentos, passando a existir mil seiscentas e noventa e seis escolas quilombolas no Brasil, a maior parte nos estados de Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Pará. Já em 2020, havia cerca de duas mil quinhentas e vinte e três escolas em áreas remanescentes de quilombos no país.

Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Quilombolas no Brasil

Disponível em: https://oeds.link/Qm1gRr. Acesso em: 15 fevereiro 2022.

Site da Comissão Pró-Índio de São Paulo que traz informações, fotos e notícias sobre as comunidades quilombolas brasileiras nos dias de hoje.

Fotografia. Sob um céu azul, vista lateral da fachada de uma construção com telhado de duas águas, coberto de palha seca, uma grande entrada frontal retangular em madeira e paredes laterais brancas. À frente, um campo gramado.
Entrada de escola da comunidade quilombola de Muquém, no município de União dos Palmares, Alagoas. Fotografia de 2017. A comunidade é reconhecida como grupo de remanescentes do Quilombo dos Palmares.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Terras quilombolas” favorece o desenvolvimento do tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

Orientação didática

Para trabalhar em sala de aula com a questão das terras quilombolas, sugerimos ao professor apropriar-se do Artigo 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal de 1988.

Artigo 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”

BRASIL. Constituição Federal (1988). Disponível em: https://oeds.link/C1SWga. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

No artigo é garantida a propriedade definitiva àqueles que ocuparam terras remanescentes em comunidades quilombolas. Os termos “quilombo” e “remanescentes das comunidades dos quilombos”, utilizados na Constituição Federal, são sintomáticos de uma apropriação política que ocorreu no período da redemocratização e que visava ao reconhecimento de grupos e modos de vida relacionados às questões étnicas nacionais, sobretudo no que concernia ao território.

Para aprofundar a questão, recomendamos a leitura do verbete “quilombo”:

VAZ, Beatriz acióli. Quilombo. Dicionário do patrimônio cultural. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ifãn). Disponível em: https://oeds.link/O3oTT7. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

OUTRAS HISTÓRIAS

Aqualtune, uma líder quilombola

Leia a seguir o texto sobre a princesa congolesa Aqualtune.

“Reza a tradição que Aqualtune era uma princesa africana, filha do importante rei do Congo. Participando de combates em uma das guerras entre os diversos reinos africanos, ela liderava um exército de 10 mil guerreiros, mas foi derrotada numa batalha e aprisionada. Transformada em escrava, foi vendida e trazida ao Brasil reticências.

[Ela] foi vendida, grávida, para um engenho de açúcar na região de Porto Calvo, no sul das terras pernambucanas. Chegando ao engenho, ouviu histórias da resistência negra à escravidão e da estratégia usada por eles de se embrenharem no mato para fugir dos senhores. Um dos focos dessa resistência no Nordeste era o Quilombo dos Palmares, não muito distante de Porto Calvo, onde um grupamento de centenas de escravos vivia livre. Aqualtune, nos últimos meses de gravidez, organizou sua fuga e de outros escravos do engenho, partindo em busca do quilombo. reticências Aqualtune, sendo princesa, teve reconhecida sua ascendência e recebeu o governo de uma das aldeias, onde cada mocambo organizava-se de acordo com suas próprias regras. A tradição afirma que o famoso líder negro Ganga Zumba seria da família de Aqualtune e uma filha dela teria gerado Zumbi, lendário herói da resistência do povo negro à escravidão.

A guerra comandada pelos paulistas para destruir o quilombo de Palmares é uma das páginas mais dolorosas da história do Brasil. Em 1677, a aldeia de Aqualtune, que já estava idosa, foi queimada pelas expedições coloniais. Não se sabe a data da morte de Aqualtune, mas os quilombolas permaneceram lutando até serem derrotados, em novembro de 1695, pela bandeira do paulista Domingos Jorge Velho.”

chumáer, chúma; BRASIL, Érico Vital (organizador). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Jorge zarrár 2000. página 84.

Capa de livro.  Sobre um fundo cinza com detalhes brancos, no alto, o título, em caracteres pretos: 'Aqualtune e as histórias da África'. Abaixo, o nome da autora, Ana Cristina Massa. À esquerda, uma grande silhueta representando o perfil de uma mulher, vista de lado, usando um turbante colorido e estampado, nas cores laranja, azul claro, verde, rosa e outras, e vestindo uma túnica estampada com diferentes cores; as bordas, sobre um fundo vermelho, com pimentas em marrom e amarelo; o corpo em um fundo verde, amarelo e azul com linhas azuis formando losangos preenchidos de vermelho e o desenho de lábios amarelos no centro. Há a silhueta de lança à frente da mulher.
Capa do livro Aqualtune e as histórias da África, de Ana Cristina Massa, em edição de 2012. A obra narra as aventuras da menina Aqualtune, que vai passar as férias em uma fazenda longe da cidade e, com os amigos, desvenda uma lenda africana.

Responda no caderno

Atividade

Quem são as mulheres negras que participaram da resistência à escravidão no Brasil? Em grupo, pesquisem a biografia de algumas dessas mulheres e compartilhem o resultado com os outros grupos, de preferência postando a informação em redes sociais com a supervisão do professor.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” intitulada “Aqualtune, uma líder quilombola” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá um, cê ê cê agá quatro, cê ê agá um e cê ê agá doisponto

Outras histórias

Resposta pessoal. Esta atividade de pesquisa é uma oportunidade para o debate sobre o tema do protagonismo feminino. Para realizar suas pesquisas, os estudantes podem consultar, por exemplo, o seguinte artigo:

GONÇALVES, Patrícia. 17 mulheres negras que lutaram contra a escravidão. Portal Geledés, 10 julho 2017. Disponível em: https://oeds.link/Foku9X. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Outras indicações

Recomendamos as leituras a seguir sobre a questão das mulheres escravizadas.

  • ALVES, Adriana Dantas Reis. As mulheres negras por cima: o caso de Luzia Jeje. 2010. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, Niterói, 2010.
  • GIACOMINI, Sonia Maria. Mulher e escrava: uma introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1988.
  • greém, Sandra L. Caetana diz não: história de mulheres da sociedade escravista brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Texto de aprofundamento

Para uma discussão mais aprofundada sobre a questão da mulher escravizada e suas fórmas de resistência muito particulares, sugerimos a leitura do excerto a seguir.

A mulher escravizada

“Ao analisar o ambiente hostil encontrado pelas mulheres africanas que viveram como escravas no Brasil, a historiadora Maria Odila Dias afirma que a tarefa de sobrevivência exigiu, da parte delas, fôrça, inteligência, capacidade de adaptação e rebeldia (quando possível): ‘É como se, a todo o momento, fosse preciso inventar formas de não morrer, não adoecer e não enlouquecer enquanto serviam a seus senhores’ (DIAS, 2012, página 360). Milhares de africanas e descendentes, cotidianamente, ao longo da escravidão, inventaram fórmas de não se desumanizar. Elaboraram fórmas de enfrentamento que lhes permitiram construir ambientes de solidariedade e autoestima e reinventar sentidos espirituais e culturais.

Algumas poucas foram ainda além, saindo de um lugar subalterno para amealhar bens e fortunas. Fazendo das praças e ruas das cidades um mercado a céu aberto e transformando excedentes da produção agrícola em fonte de um comércio de gênero, as vendedoras de rua conseguiram se alforriar e garantir a sobrevivência, com suas redes de comércio, de laços ampliados de parentesco, formados, na maioria das vezes, por escravas do seu grupo étnico, a quem garantiam a liberdade ou destinavam bens e dinheiro após sua morte.”

NEPOMUCENO, Bebel. O corpo da mulher escravizada: saúde, trabalho, vida e significados da maternidade. In: SANTOS, Patrícia Teixeira organizaçãoÁfrica e Brasil: gênero, sexualidade e saúde. Curitiba: Positivo, 2014. página 98.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Leia o texto da historiadora Marina de Mello e Souza e responda às questões.

“Além de serem afastadas das aldeias nas quais cresceram, e que eram o centro de seu universo, muito poucas vezes conseguiram se manter próximas de conhecidos ou familiares, mesmo quando todos eram capturados juntos. reticências

E a cada etapa da travessia do mundo da liberdade para o da escravidão, da África para o Brasil, era mais provável a pessoa se ver sozinha diante do desconhecido, tendo de aprender quase tudo de novo.

No entanto, nada disso era capaz de apagar o que ela havia sido até então. Mesmo se capturada quando criança, ela traria dentro de si todo o conhecimento e a sensibilidade que sua família e vizinhos haviam até então lhe transmitido pela educação e pelo exemplo da vida cotidiana.”

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. página 84 e 85.

De acordo com o texto, além da liberdade, o que os escravizados perdiam ao serem traficados para o Brasil? E o que eles conseguiam preservar?


integrar com Geografia

2. Atualmente no Brasil existem várias comunidades remanescentes de quilombos.

Remanescentes de quilombos no Brasil (2017)

Mapa. Remanescente de quilombos no Brasil. 2017. Mapa representando o território do Brasil, dividido em estados. Os estados estão pintados na cor rosa, exceto o Acre e Roraima, na cor branca. O Distrito federal também está na cor branca. Circunferências de diferentes diâmetros indicam 'Número de comunidades quilombolas'. Menos de 20: Amazonas, Rondônia, Espírito Santo. De 21 a 50: Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul,  Rio de Janeiro, Goiás, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. De 51 a 100: Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Pará e Amapá. De 101 a 300: Minas Gerais e Bahia. Mais de 300: Maranhão. Locais com dados nãos disponíveis ou inexistentes comunidades quilombolas estão indicados na cor branca: Acre, Roraima e Distrito Federal. No canto inferior direito, rosa dos ventos e a escala de 0 a 500 quilômetros.
Fonte: MONITORAMENTO Terras Quilombolas. Comissão Pró-Índio de São Paulo, 2017. Disponível em: https://oeds.link/En5H6t. Acesso em: 22 fevereiro 2022.
  1. O que era um quilombo? Observe o mapa: existem comunidades remanescentes de quilombos no estado em que você vive? Você conhece alguma delas?
  2. Escolha uma dessas comunidades e pesquise quantas pessoas vivem nela e em que condições.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção contribui para o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

cê gê um (atividades 2 e 4);

cê gê dois (atividades 1, 2 e 4);

cê gê três (atividade 4);

cê gê sete (atividade 3);

cê gê nove (atividades 1 e 4);

cê ê cê agá um (atividades 1 e 4);

cê ê cê agá quatro (atividades 1 e 3);

cê ê cê agá seis (atividades 1, 3 e 4);

cê ê cê agá sete (atividade 2);

cê ê agá um (atividades 2 e 4);

cê ê agá três (atividades 3 e 4);

cê ê agá cinco (atividades 1 e 2);

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividades 3 e 4);

ê éfe zero sete agá ih um seis (atividade 1).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. De acordo com o texto, os escravizados eram afastados de suas aldeias, seus locais de origem, perdiam o contato com amigos e familiares e precisavam aprender a sobreviver no novo local em que se encontravam. Eles conseguiam, no entanto, preservar seus conhecimentos, suas tradições e suas sensibilidades.
  2. Atividade interdisciplinar com Geografia e que contribui para o desenvolvimento do tema contemporâneo transversal Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.
  1. Quilombos eram comunidades formadas por escravizados que fugiam do cativeiro e dos maus-tratos. São, portanto, importantes fórmas de resistência contra a escravidão. Além de africanos e seus descendentes, nos quilombos viviam indígenas, brancos pobres, vendedores e aventureiros. Nos quilombos, eles dedicavam-se à agricultura, à caça, à coleta, à mineração, à produção artesanal e ao comércio. Segundo o mapa, verificamos a presença de comunidades quilombolas na maioria dos estados brasileiros. Não há dados sobre os estados do Acre e de Roraima e do Distrito Federal.
  2. O objetivo desta atividade é estimular a leitura e a interpretação do mapa. Para realizá-la, sugerimos a construção do quadro a seguir.

Regiões do Brasil

Estados com menos de 100 comunidades quilombolas

Estados com 101 ou mais comunidades quilombolas

Norte

Amazonas, Amapá, Rondônia e Tocantins

Pará

Nordeste

Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Sergipe

Bahia, Maranhão

Centro-Oeste

Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Sudeste

Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo

Minas Gerais

Sul

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Interpretar texto e imagem

3. Nos dias atuais, chama a atenção que a crueldade dos castigos aplicados aos escravizados era tratada como um “fato natural”. Leia o trecho do texto escrito por um padre jesuíta dando conselhos aos senhores de escravizados nos primeiros anos do século dezoito.

“Para trazer bem domados e disciplinados os escravos é necessário que o senhor lhes não falte com o castigo, quando eles reticências fazem por onde o merecem. reticências

Logo merecendo o escravo o castigo, não deve deixar de lho dar o senhor; porque não só não é crueldade castigar os servos, quando merecem por seus delitos ser castigados, mas antes é uma das sete obras de misericórdia [compaixão], que manda castigar aos que erram.”

BENCI, Jorge. Economia cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijalbo, 1977. página 125 e 127.

  1. Que argumentos são usados para justificar os castigos sofridos pelos escravizados?
  2. O documento reflete a visão dos senhores de engenho ou dos escravizados? Justifique sua resposta.

integrar com arte

4. Observe as imagens e suas legendas. Elas são representações de alguns aspectos da vida dos escravizados no Brasil. A seguir, faça as atividades.

Pintura. Sobre um fundo de papel amarelado, um homem em pé, visto de lado, com o corpo voltado para a esquerda. Sobre a cabeça dele está apoiado um jarro amarelado, volumoso, e cobrindo todo seu rosto há uma máscara metálica, com pequenos furos na região dos olhos e da boca. A máscara está presa por uma amarra de metal fixada atrás de sua cabeça. Ele tem o peito nu, veste uma calça com rasgos e um tecido azul amarrado com uma fita vermelha em volta da cintura e está descalço.
Máscara que se usa nos negros que têm o hábito de comer terra, aquarela deJãn Batiste Dêbret, século dezenove.
Gravura.  Em um porto com embarcações à vela ao fundo, diante do pedestal de uma pilastra, feito de pedra na cor branca, há quatro homens, dois sentados e um em pé. Um dos homens está sentado sobre o chão, à direita, e o outro sentado sobre um bloco de pedras no pedestal, à esquerda. Ambos vestem calças curtas com listras verticais; estão com os pés descalços. O homem à esquerda tem cabelos curtos, pretos, usa uma camisa quadriculada, azul e branca, aberta, revelando um colar dourado com um medalhão e um colar de contas prateado com uma cruz. Ele está com a barba coberta de espuma branca e é barbeado por um homem em pé, à esquerda. O outro homem, à direita, sentado no chão, visto de costas, tem cabelos curtos, crespos e pretos; com as costas nuas, sua camisa, na cor branca, está amarrada à sua cintura com uma faixa vermelha. Ele tem uma pequena bolsa amarela a tiracolo, com a alça branca cruzando suas costas e está com as costas curvadas. Um homem à frente dele corta seu cabelo. Os homens em pé vestem casacos curtos azuis e usam chapéus altos com abas laterais. Um, à esquerda, usa uma calça branca rasgada, está descalço e segura uma bacia diante do rosto do homem sentado sobre o bloco de pedra, tocando o rosto dele com a outra mão. O outro, à direita, usa um colete amarelo, está descalço, e tem uma pena longa e vermelha enfeitando seu chapéu. Ele segura uma tesoura em uma das mãos e, na outra, uma porção do cabelo do homem sentado no chão.
Barbeiros ambulantes, gravura de Jãn Batiste Dêbret, século dezenove.
Gravura. Em um cômodo com estantes ao fundo repletas de pares de sapatos expostos e com pares de sapatos fixados em arcos no teto do cômodo, no centro da gravura, sentado diante de um pequeno balcão de centro cor de rosa e bordas azuis, há um homem branco de cabelos escuros, curtos e lisos. Vestido com uma camisa branca de mangas curtas, um colete marrom, uma calça azul, meias brancas e usando tamancos pretos, ele tem um dos braços elevados para o alto e segura uma palmatória de madeira, pronta para um golpe. Ao redor dele, há três homens: um à esquerda, dois à direita. O homem à esquerda, é visto de costas e está ajoelhado sobre o chão. É um homem negro, de cabelos curtos, crespos e pretos, vestido com uma calça azul listrada e uma camisa branca de mangas curtas. Ele tem uma tira de tecido listrado vermelho e branco atado em sua cintura com um nó. Esse homem está com  uma das mãos estendidas à frente de seu corpo, com a palma virada para o alto. À direita, sentados sobre banquinhos de madeira, há dois homens negros, de cabelos curtos, crespos e pretos, vestidos com blusas brancas de mangas curtas, calças de cores claras e aventais. Eles estão trabalhando sobre diferentes materiais. Um, à esquerda, tem a cabeça baixa e segura um martelo em uma de suas mãos em direção à uma placa sobre seu colo. O outro, à direita, tem a cabeça inclinada, olha para a esquerda de soslaio, e corta uma estaca de madeira com um fio, enrolado em suas mãos. Ao fundo, à esquerda, diante de uma porta aberta, uma mulher negra de cabelos curtos, crespos e pretos amarrados com um lenço vermelho e usando um vestido azul está em pé, amamentando um bebê em seu colo.
Sapataria, gravura de Jãn Batiste Dêbret, século dezenove.
  1. O que as imagens indicam a respeito das condições de trabalho que os africanos escravizados enfrentaram no Brasil?
  2. Atualmente no Brasil ainda existem fórmas de trabalho análogas à escravidão, inclusive trabalho infantil. Pesquise sobre essa realidade e discuta com os colegas como é possível acabar com essas fórmas de trabalho.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

    1. O texto apresenta o argumento cristão acerca das sete obras de misericórdia, sendo o castigo tido como compaixão e não crueldade.
    2. O texto busca justificar os castigos realizados, portanto, estando alinhado à visão dos senhores de engenho, e não dos escravizados.
  1. Atividade interdisciplinar com Arte.
    1. A maioria dos africanos escravizados no Brasil trabalhava de 11 a 15 horas por dia, além de estarem sujeitos a castigos físicos. Sua alimentação e suas condições de higiene eram péssimas e, em decorrência disso, eles morriam depois de aproximadamente 5 a 10 anos de trabalho. Havia também os escravizados domésticos, os que trabalhavam no artesanato e os chamados “escravos de ganho”. Os “escravos de ganho” realizavam trabalhos temporários nas cidades em troca de pagamento, boa parte do qual era entregue ao seu proprietário – ainda que os escravizados utilizassem a parte que lhes cabia para adquirir sua alforria.
    2. Tema para debate. Sugerimos que os estudantes consultem o site do programa Escravo, nem pensar!, coordenado pela ôngui Repórter Brasil (disponível em: https://oeds.link/vm8WwT; acesso em: 18 fevereiro 2022). Esse programa tem o objetivo de reduzir, por meio da educação e de projetos, o número de trabalhadores submetidos a condições semelhantes à escravidão no país.

Atividade complementar

Para aprofundar a proposta da atividade 4, pode-se solicitar aos estudantes que façam o dãunlôud gratuito do jogo digital Escravo, nem pensar! (disponível em: https://oeds.link/L08dqB; acesso em: 3 jun. 2022) e, após jogarem o game, respondam às perguntas a seguir.

1. Em que situação estão as pessoas antes de exercerem um trabalho análogo à escravidão?

Resposta: Antes de se tornarem vítimas de um trabalho análogo à escravidão, as pessoas estão em situação vulnerável, desempregadas ou sem recursos em seu lugar de origem. Essa condição, muitas vezes somada ao desespero de prover sustento à família, pode contribuir para que se considere uma proposta de trabalho em outro lugar como uma grande oportunidade, mesmo que essa proposta seja duvidosa e pouco consistente.

2. Como costuma ser o processo de escravização nas formas atuais de trabalho análogo à escravidão?

Resposta: A escravização costuma se dar por dívidas. O trabalhador passa a dever o dinheiro do transporte que o levou até o lugar de destino, bem como o valor da alimentação fornecida no período, entre outras coisas. Se o trabalhador questiona e vai contra essa forma de trabalho, ele é vítima de violência e ameaças.

Glossário

Semovente
: que se move por conta própria.
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Oftalmia
: inflamação nos olhos causada pela falta de higiene e de luz solar. As pessoas escravizadas, em geral, tinham pouca ou nenhuma exposição ao sol durante as viagens nos navios negreiros.
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