UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL

CAPÍTULO 11 CONQUISTAS E FRONTEIRAS

O território do Brasil sofreu modificações ao longo da história. Isso significa que, nos últimos quinhentos anos, as fronteiras do Brasil passaram por transformações devido a guerras, acordos e tratados internacionais. Essas modificações também promoveram deslocamentos populacionais que contribuíram para o intercâmbio entre povos de várias origens.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

Que países fazem fronteira com o atual Brasil? Entre esses países, qual tem o maior território? E o menor território? Se necessário, faça uma pesquisa.

Mapa. Representação do território da América do Sul, banhado por oceanos à leste e à oeste. Sobre a área terrestre há nomes de cidades e caminhos fluviais. Pelo oceano, há imagens de embarcações, navios e animais marinhos.
América do Sul, mapa de Guerardus Mêrcator e Ióducus Rondius, 1623. O território sul-americano passou por diversas transformações ao longo do tempo.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero sete agá ih zero nove
  • ê éfe zero sete agá ih um zero
  • ê éfe zero sete agá ih um um
  • ê éfe zero sete agá ih um dois
  • ê éfe zero sete agá ih um quatro

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão do tema tratado, o processo de expansão territorial no Brasil no contexto do período colonial, e de assuntos correlatos, como o povoamento do interior do território, as expedições militares oficiais para defender e ocupar as terras ameaçadas por estrangeiros e indígenas, o bandeirismo, a catequização empreendida pelos jesuítas, a resistência dos indígenas diante dos invasores, além dos impactos provocados pelos conflitos territoriais na colônia e do uso de fontes históricas.

  • Analisar o processo de expansão territorial durante o período colonial.
  • Problematizar as expedições militares denominadas “bandeiras”.
  • Identificar a atuação dos jesuítas no processo de catequização.
  • Ressaltar as resistências dos indígenas.
  • Analisar os conflitos territoriais da colônia e seus reflexos na atualidade.
  • Aprofundar os estudos com fontes históricas.

Para começar

Os países que atualmente fazem fronteira com o Brasil são: Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai, além da Guiana Francesa, território ultramarino da França. Entre esses países, a Argentina tem o maior território, com aproximadamente 2,8 milhões de quilômetros quadrados. Já o menor país é o Suriname, com cêrca de 163 mil quilômetros quadrados.

Fotografia. Destaque para rebanho de gado bovino em um campo gramado e cercado. Ao centro, um homem sobre o dorso de um cavalo. Ao fundo, árvores plantadas.
Peão de estância conduzindo gado em Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2017. A pecuária contribuiu para o povoamento do interior da América portuguesa nos séculos dezessete e dezoito.
Fotografia. Destaque para um carro alegórico com esculturas douradas retratando homens em pé, lado a lado, acorrentados, com manchas vermelhas escorrendo sobre suas cabeças. Ao redor, pessoas vestindo fantasias e usando adereços de penas coloridas na cabeça. À frente delas, escultura de um homem e de uma mulher indígena. A mulher, à direita, tem um adesivo colado em formato de 'X' sobre a boca. Ao fundo, plateia com pessoas.
Desfile do carro alegórico O sangue retinto por trás do herói emoldurado, da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, no carnaval da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2019. No desfile, a alegoria denunciava a violência dos bandeirantes na colonização do Brasil.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Ao falar da ação de bandeirantes, religiosos e militares na expansão territorial durante a época colonial, adotamos um enfoque que evita a análise desses sujeitos históricos como heróis. Se, de um lado, eles estiveram na origem da formação do território brasileiro, ampliando os limites definidos nos acordos de divisão da América entre espanhóis e portugueses e descobrindo novas riquezas, de outro lado, foram os responsáveis pelas transformações abruptas na vida dos povos originários do continente, principalmente por meio da escravização, da aculturação e da disseminação de epidemias.

Durante muitos anos, a historiografia produziu uma imagem do bandeirante como o herói que desbravava o sertão. Atualmente, essa imagem foi revista por historiadores como Djón Monteiro e Laura de Mello e Souza, cujos trabalhos são citados na bibliografia deste volume. A leitura desses textos seria de grande valia para o aprofundamento da questão em sala de aula.

As diferenças culturais e a incompreensão da cultura indígena pelos agentes colonizadores europeus também são abordadas. Sugerimos que esse tema seja trabalhado a partir da história do Brasil contemporâneo, comparando a ação de garimpeiros e pecuaristas nas terras indígenas com o que fizeram os bandeirantes e missionários na época colonial, a fim de ressaltar as diferenças dadas pelos contextos históricos específicos e as semelhanças em relação aos impactos negativos nas vidas das populações nativas.

Expansão territorial e povoamento

A conquista espanhola da América começou pelas ilhas do Caribe. Porém, os espanhóis não ocuparam todas elas, concentrando-se na Ilha de Hispaniola (onde hoje estão a República Dominicana e o Haiti), Cuba, Porto Rico e Jamaica.

Já no início do século dezesseis, com a diminuição da população indígena devido às doenças e ao trabalho forçado, os espanhóis começaram a levar africanos escravizados para as ilhas caribenhas. Lá, eles trabalharam, por exemplo, nas minas de ouro na Ilha de Hispaniola e nos primeiros engenhos de cana-de-açúcar de Cuba. Porém, a maior parte das minas de ouro e prata que os espanhóis dominaram estava localizada nas regiões dos antigos impérios asteca e inca. Por isso, os conquistadores investiram na invasão e na exploração do continente.

As maiores cidades coloniais espanholas, como Cuzco, Potosí, Cidade do México, Guanajuato e Zacatecas, ficavam distantes do litoral. Essa distância contribuiu para proteger esses núcleos urbanos de ataques de estrangeiros que chegavam pelo mar.

Na América portuguesa, entre os séculos dezesseis e dezessete, a colonização concentrou-se nas áreas costeiras, banhadas pelo Oceano Atlântico. Durante muitos anos os portugueses não exploraram as regiões mais distantes do mar, que chamavam de “sertão”. Um escritor dessa época afirmou, em 1627, que eles contentavam-se em ficar no litoral, “arranhando ao longo do mar como caranguejos” (SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: êduspi, 1982. página 59). Estar próximo ao mar facilitava o transporte e a comunicação dos povoados coloniais com Portugal. No litoral também aconteciam negociações, como o tráfico de africanos escravizados.

Fotografia. Vista aérea de um porto contendo contêineres empilhados lado a lado, às margens de um oceano. À lateral da pista do porto há uma grande embarcação contendo contêineres empilhados. Ao fundo, área urbana com edifícios, casas e árvores pela paisagem.
Vista aérea do porto de Salvador, Bahia. Fotografia de 2022. Durante a colonização da América portuguesa, este foi um dos principais portos para o escoamento de mercadorias e desembarque de africanos escravizados.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Expansão territorial e povoamento” e seus subitens favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê agá cinco, cê ê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois, pois promovem reflexões sobre a distribuição territorial da população na América portuguesa em diferentes épocas, considerando as diversidades étnico-racial e étnico-cultural.

Orientação didática

Com base na questão da distribuição populacional no período colonial, recomendamos ao professor estabelecer um diálogo com o componente curricular Geografia e discutir a distribuição da população atualmente. É importante ressaltar que os estados brasileiros apresentam concentrações populacionais desiguais ainda hoje, havendo regiões com elevada densidade demográfica, como a região Sudeste, e regiões com baixa densidade demográfica, como a região Norte. Incentive os estudantes a perceber como a distribuição populacional do nosso país se relaciona com a história de seu povoamento. O Brasil, ao mesmo tempo, apresenta elevada concentração populacional em praticamente toda a sua faixa litorânea, o que expressa o processo histórico de povoamento do país e indica que as políticas de “interiorização” não foram suficientes. Outro ponto importante a ser ressaltado é a influência que as atividades econômicas e os aspectos sociais exercem no povoamento das regiões, gerando ao longo de toda a história intensos fluxos migratórios de pessoas em busca de melhores condições de vida e oportunidades de trabalho.

Para dados e informações sobre a distribuição populacional, consultar: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É).Disponível em: https://oeds.link/ZkEjaq. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Distribuição da população

A população litorânea da América portuguesa vivia em locais como Olinda, Salvador, Ilhéus, Vitória, Rio de Janeiro, Santos e São Vicente. Nesse período, os povoados do interior eram exceções, como era o caso de Piratininga, futura cidade de São Paulo.

No entanto, a partir de meados do século dezessete, a ocupação do território começou a avançar em várias direções, indo além dos limites definidos no Tratado de Tordesilhas. A conquista avançou para o oeste, seguindo o curso de rios como o Amazonas, o São Francisco e o Tietê. Na direção sul, seguiram o curso do Rio Paraná, encontrando colonos espanhóis que habitavam áreas próximas aos rios Paraguai e Uruguai.

A expansão territorial se deu por meio de vários agentes, como missionários jesuítas, bandeirantes, militares, mineradores e criadores de gado.

Cada um desses grupos desempenhava funções específicas, voltadas para aspectos religiosos, de ampliação do território colonial ou ligados às atividades econômicas. A seu modo, todos eles foram agentes da conquista e da colonização da América portuguesa.

Pintura. Uma porção de terra às margens de águas contendo canoas e embarcações com bandeiras. Sobre a terra, acampamento com barracas e grupos de diferentes pessoas reunidas. Alguns indivíduos estão envolta de fogueiras com panelas, próximos à produtos ou sentados no chão.
Encontro de monções no sertão, pintura de Oscar Pereira da Silva, 1920. No período colonial, as monções foram expedições fluviais organizadas pelos colonizadores para explorar o território, suas riquezas naturais e seus povos originários, especialmente em Mato Grosso.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Sobre a expansão territorial e o povoamento no período colonial, sugerimos a leitura a seguir.

Expansão territorial e povoamento

“No Brasil, a expansão da colonização portuguesa traz, inevitavelmente, a presença de freguesias, patrimônios, cidades, vilas e povoados. A presença desses núcleos urbanos na paisagem reflete e caracteriza as preocupações político-administrativas da metrópole em relação à ocupação e exploração do território que aos poucos desenha uma nova cartografia dos limites do seu domínio. reticências

Na América Latina, a colonização portuguesa e espanhola a partir do século dezesseis ocupa e demarca seus territórios mediante a criação de cidades e desenvolve uma base econômica que necessariamente passa por elas. reticências

No século dezesseis reticências Portugal já realiza uma política urbanizadora no Brasil como ‘solução mais eficaz de colonização e domínio’. O espaço urbano reticências integra-se de modo singular à prática de conquista territorial. reticências. Antes de estimular, a política urbana portuguesa conteve-se em deter o crescimento urbano nas colônias. Os núcleos urbanos fundados no período colonial se caracterizam apenas em sentido político de domínio territorial e contrôle fiscal sobre o escoamento de mercadorias.”

godói, Paulo Roberto Teixeira de. A cidade no Brasil: período colonial. Caminhos de Geografia, Uberlândia, volume 12,número 38, página 10, junho 2011. Disponível em: https://oeds.link/lfhzKW. Acesso em:16 fevereiro 2022.

Povoamento e urbanização

Mesmo com a dispersão pelo território, a população se distribuiu de fórma desigual. Durante todo o período, a faixa litorânea concentrou cêrca de 70% da população e havia poucos núcleos urbanos no interior do território.

Mas quantas pessoas viviam no Brasil Colônia? Não existe uma resposta exata para essa questão, apenas estimativas. Os historiadores afirmam que, até o final do primeiro século de colonização, havia cêrca de 100 mil habitantes entre os chamados luso-brasileiros (descendentes de portugueses nascidos no Brasil). Já no final do século dezoito, os números variam entre 3,25 milhões e 4 milhões de habitantes.

No final da época colonial, calcula-se que, nos núcleos urbanos, pessoas brancas de origem europeia chegavam a 30% da população total da América portuguesa, sendo a maior parte da população composta de indígenas, negros e mestiços. Observe os mapas de povoamento e de colonização no período colonial.

A marcha do povoamento e a urbanização (século dezessete)

Mapa. A marcha do povoamento e a urbanização (século dezessete). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Em verde, 'Áreas provavelmente sob a influência das cidades e vilas', restritas à costa norte e leste do país, concentrando diversas vilas (identificadas por bolinhas vermelhas) e cidades (identificadas por bolinhas pretas) como Rio de Janeiro (1565), Salvador (1549), Paraíba (1585), São Luís (1612) e Belém (1616). Em amarelo, 'Áreas conhecidas e povoadas de maneira relativamente estável, mas sem nenhuma vila ou cidade', envolvendo o interior das porções sul, sudeste, nordeste e norte do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e a escala de 0 a 520 quilômetros.

A marcha do povoamento e a urbanização (século dezoito)

Mapa. A marcha do povoamento e a urbanização (século dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Em verde, 'Áreas provavelmente sob a influência das cidades e vilas', compreendendo a costa norte e leste do território e seu interior, em áreas das porções sudeste, centro-oeste, nordeste e norte, concentrando diversas vilas (identificadas por bolinhas vermelhas) e cidades (identificadas por bolinhas pretas) como São Paulo (1711), Rio de Janeiro (1565), Mariana (1745), Salvador (1549), Paraíba (1585), Oeiras (1761), São Luís (1612) e Belém (1616). Em amarelo, 'Áreas conhecidas e povoadas de maneira relativamente estável, mas sem nenhuma vila ou cidade', envolvendo o interior das porções sul, sudeste, nordeste, centro-oeste e sobre parte considerável do norte do território. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 520 quilômetros.
Fontes: HOLANDA, Sérgio Buarque de (organizador). História geral da civilização brasileira. quarta edição São Paulo: Difel, 1995. tomo um, volume um, página 293-371; í bê gê É Cidades. Disponível em: https://oeds.link/EmfSKk. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

integrar com Geografia

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

Compare os dois mapas e identifique as localidades que foram elevadas à categoria de cidade nos séculos dezesseis, dezessete e dezoito.

Orientações e sugestões didáticas

Observando o mapa

Atividade interdisciplinar com Geografia. De acordo com o mapa, no século dezesseis, Salvador, Rio de Janeiro e Paraíba eram cidades (essas localidades foram fundadas como cidades, não como vilas). No século dezessete, Belém e São Luís foram elevadas de vilas a cidades. No século dezoito, as vilas de Oeiras, Mariana e São Paulo foram elevadas a cidades.

Orientação didática

Por meio da análise dos mapas sobre povoamento e urbanização nos séculos dezessete e dezoito, retome com os estudantes a discussão sobre a importância desse tipo de fonte para o conhecimento histórico. Entre outras coisas, os mapas (que procuramos sempre apresentar de fórma legível e de acordo com as convenções cartográficas) são essenciais na produção do saber geográfico e histórico, tais como a identificação dos locais, suas causas, o tempo em que os eventos ocorreram e comparações possíveis entre lugares e tempos diversos. A observação de mapas também viabiliza a leitura, a análise e a interpretação de dados em si e em sintonia com os textos e a iconografia. Essas indicações são importantes, entre outros motivos, porque ao longo do capítulo (bem como em todos os volumes desta coleção) outras representações cartográficas serão apresentadas e analisadas. Sobre o trabalho com mapas, consulte mais orientações no tópico cinco ponto um, “Mapas”, deste manual.

Após a análise e a interpretação dos mapas, que apresentam o processo de expansão territorial na América portuguesa durante a época colonial, comente que cada área ocupada pela colonização portuguesa teve suas respectivas causas. Dessa fórma, incentive os estudantes a compreender que essa ocupação de territórios foi realizada por diferentes grupos sociais, que tinham interesses próprios: busca pelas chamadas drogas do sertão no Norte; produção açucareira e bovina no Nordeste; apresamento de nativos e exploração de metais preciosos, prata e ouro no interior; criação de gado e instalação de missões jesuíticas no Sul; e expedições militares ao longo do território (que serão estudadas nas páginas seguintes).

Expedições militares

Várias expedições militares foram organizadas pelo governo colonial e pela Coroa portuguesa para ocupar e defender as terras ameaçadas por franceses e espanhóis, no litoral e no interior. Combatendo os estrangeiros e os indígenas que resistiam à ocupação portuguesa, algumas expedições ergueram fortificações militarizadas. Esse processo deu origem a cidades importantes, como Natal, Fortaleza, João Pessoa, Belém e Manaus.

Fotografia. Vista aérea de uma fortaleza com paredes brancas, em formato de estrela com cinco pontas, com uma torre central, sobre um solo de areia, em uma praia banhada por águas esverdeadas.
Fortaleza da Barra do Rio Grande, também conhecida como Forte dos Reis Magos, construída em 1598 e localizada na atual cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Fotografia de 2021.
Fotografia. Ao fundo, à esquerda, uma construção horizontal, com paredes brancas, janelas e portas distribuídas de forma homogênea. À direita, uma construção de dois andares, com paredes brancas e vigas verticais unidas no topo em formato de arcos na entrada térrea. Em primeiro plano, um campo gramado com algumas pessoas circulando.
Forte de Santa Catarina, construído em 1597, em Cabedelo, na Paraíba. Fotografia de 2019.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

O que você sabe sobre a história da fundação do município onde mora? Existe nele algum monumento relacionado ao período colonial?

Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Localizado na capital do Rio Grande do Norte, Natal, o Forte dos Reis Magos faz parte do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ifã em 2010. Esse conjunto apresenta características urbanísticas de diferentes épocas e obras de estilos variados. Ao todo, são cêrca de 30 bens edificados tombados, além de obras de arte sacra.

O forte, que está compreendido nesse conjunto mais amplo, foi originalmente tombado pelo ifãn já em 15 de janeiro de 1949. Naquele momento, o órgão o considerou um dos marcos fundamentais para a compreensão do desenvolvimento da cidade ao longo do tempo.A construção desse forte foi iniciada em 1598 e, na ocasião, utilizou-se pau a pique finalizado com lama do mangue. O projeto arquitetônico era do padre jesuíta Gaspar de Samperes. Tal construção foi importante para a defesa do território no período e para a urbanização da região do entorno. Atualmente, a edificação está construída com alvenaria de cal e pedra. Devido ao estado de conservação precário e à falta de segurança da edificação, o monumento passou alguns anos fechado e, em dezembro de 2021, foi reaberto para visitação após reforma e restauro.

Para pensar

Resposta pessoal. Incentive os estudantes a pesquisar o assunto, identificando as fontes que poderiam selecionar e interpretar para estudar a história do município onde vivem. O professor pode perguntar, por exemplo, se existem construções, monumentos, cartas, livros, músicas ou relatos relacionados ao tema.

Bandeirismo

Além das expedições militares oficiais, havia expedições organizadas por colonos com fins particulares. De modo geral, elas foram chamadas de bandeiras e seus membros ficaram conhecidos como bandeirantes.

Captura de indígenas ou apresamento

As bandeiras que se dedicavam à captura de indígenas e à procura de metais preciosos partiam geralmente de São Paulo e das vilas vizinhas.

Entre 1637 e 1654, os holandeses dominaram capitanias ao norte do Brasil, como Pernambuco. Nessa época, escravizar indígenas tornou-se um negócio muito lucrativo para os paulistas. Uma das razões é que os holandeses dominaram grande parte das regiões da África onde se fazia o tráfico de escravizados, favorecendo a vinda de cativos para as áreas sob seu domínio no Brasil. Assim, faltavam escravizados para a agricultura em várias regiões sob domínio português. Então, capturar indígenas foi uma maneira de compensar a falta de africanos escravizados.

Principais bandeiras (séculos dezessete-dezoito)

Mapa. Principais bandeiras (séculos dezessete a dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual. Setas laranjas indicam 'Apresamento'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de São Paulo em direção à porção sul do território: A. R. Tavares, A. Fernandes e Fernão Dias Pais. Em direção à porção sudoeste: Manoel Pereira e A.R. Tavares. Em direção à Santiago do Xarez, na porção oeste do território: A.R. Tavares. Em direção à Gurupa (na porção norte): Antônio Raposo Tavares. Setas verdes indicam 'Prospecção'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de São Paulo em direção à Cuiabá: Pascoal Moreira Cabral). Em direção à Vila Boa, na porção centro-oeste do território: Bartolomeu B. da Silva. Em direção à Belém: Silva Braga. Partindo de Taubaté para a porção nordeste do território: Fernão Dias Pais. Setas roxas indicam 'Sertanismo de contrato'. Acima da seta, nome do 'Armador responsável'. Partindo de Santos para Salvador, e daí para o interior da porção nordeste: Estevam B. Parente; Domingos B. Calheiros; Domingos A. Mafreuse. Partindo de Recife, Olinda e Paraíba para o interior da região, estão respectivamente: Domingos J. Velho, Morais Navarro e Bernardo V. de Melo; Domingos J. Velho e M. C. Almeida. No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 410 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de et alponto Atlas histórico escolar. oitavaedição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 22.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

  1. Identifique no mapa as bandeiras que alcançaram a região Norte do atual Brasil.
  2. O que as setas indicam no mapa? Qual é o significado de suas cores?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Bandeirismo”, seus subitens e o boxe “Observando o mapa” favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê dois, cê gê nove, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove, ê éfe zero sete agá ih um um, ê éfe zero sete agá ih um dois, sobretudo no que se refere ao impacto da conquista para os povos originários, a formação do território da América portuguesa e a distribuição territorial da população.

Observando o mapa

  1. Espera-se que os estudantes indiquem no mapa as bandeiras que chegaram à vila de Gurupá e à cidade de Belém (ambas localizadas no atual estado do Pará).
  2. As setas do mapa indicam os trajetos percorridos pelas bandeiras. As cores das setas representam a finalidade das expedições. As setas de cor laranja indicam expedições de apresamento, as setas de cor verde indicam prospecção e as setas de cor rosa indicam sertanismo de contrato. Em leitura conjunta com os textos do capítulo, a atividade possibilita analisar e interpretar os trajetos das bandeiras, ajudando a evitar o uso meramente ilustrativo da cartografia e a entender esse recurso como algo importante para o ensino de História.

Outras indicações

Para aprofundar a discussão sobre a relação entre indígenas e bandeirantes, recomendamos a leitura da obra a seguir, em que o autor analisa a complexa rede de relações dos diversos atores sociais do período, não só indígenas e bandeirantes, mas também colonos, jesuítas e a Coroa portuguesa, estabelecendo um quadro dinâmico sobre o período.

MONTEIRO, Djón M. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Até meados do século dezessete, os paulistas atacaram aldeamentos fundados pelos jesuítas espanhóis no Guairá, na região oeste do atual estado do Paraná. Reagindo aos ataques, os jesuítas conseguiram autorização do rei da Espanha para dar armas de fogo aos indígenas e defender as missões jesuíticas. Assim, as missões puderam resistir aos bandeirantes por algum tempo.

Mesmo assim, os paulistas massacraram milhares de indígenas, além de despovoarem amplas áreas do interior, muitas das quais foram ocupadas depois por fazendas de gado, especialmente nas capitanias do Sul e no sertão do Nordeste.

Sertanismo de contrato

Após adquirir experiência na luta contra populações indígenas, os bandeirantes foram contratados por autoridades governamentais, senhores de engenho e pecuaristas para reprimir rebeliões indígenas e capturar escravizados fugitivos. Esse tipo de serviço foi chamado pelos historiadores de sertanismo de contrato.

Busca por metais

Depois de muita procura por ouro, alguns bandeirantes encontraram pequenas quantidades desse metal precioso nas regiões das atuais cidades de São Paulo, Guarulhos, Curitiba e Paranaguá. Em 1674, uma expedição liderada por Fernão Dias Pais partiu de São Paulo em direção ao sertão de Minas Gerais, onde encontrou pedras de turmalina.

Posteriormente, o mesmo caminho de Fernão Dias foi seguido por outros bandeirantes. Entre o final do século dezessete e início do dezoito, essas expedições encontraram muito ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. A partir dessas descobertas, que atraíram milhares de pessoas de várias regiões do Brasil e de Portugal, o interior da América portuguesa começou a ser ocupado pelos colonizadores de fórma mais intensa.

Fotografia. Vista aérea de uma área com densa vegetação cortada por uma rodovia com duas vias de sentido.
Vista da rodovia Fernão Dias, que liga as cidades de Belo Horizonte, Minas Gerais, e São Paulo, São Paulo, inaugurada em 1959. Fotografia de 2016. Seu nome é uma referência ao bandeirante paulista; no entanto, homenagens como essa são questionadas na atualidade.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica internet

Museu da Cidade – Casa do Bandeirante e Casa Sertanista

Disponível em: https://oeds.link/8QJyh6 e https://oeds.link/l6skcH. Acessos em: 16 fevereiro 2022.

Páginas do Museu da Cidade (São Paulo) sobre supostas residências de membros das expedições de conquista do interior da América portuguesa.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

[LOCUTOR 1]: Bandeirantes e a escravidão na América portuguesa

[LOCUTOR 2]: Quais eram as atividades e funções dos bandeirantes? Qual era o seu papel com relação à escravidão implementada na América portuguesa? Não por acaso, a imagem dos bandeirantes foi associada à conquista do território brasileiro. É importante destacar que o território, que hoje identificamos como América do Sul, era ocupado por muitos povos indígenas. A maioria desses povos conservava seus costumes, seus territórios, seus deslocamentos. Em algumas regiões da América, desde o século XVI, religiosos como os jesuítas, estabeleceram missões, nas quais administravam os indígenas e promoviam a sua conversão ao cristianismo. Além de se deslocar pelo interior da América em busca de metais e pedras preciosas, os bandeirantes atacavam aldeias e aprisionavam integrantes de povos indígenas para escravizá-los.

[LOCUTOR 2]: O apresamento de indígenas também acontecia em algumas áreas no sul e no norte do Brasil, onde havia missões religiosas, gerando conflitos entre os bandeirantes e os religiosos, fato que resultou na expulsão dos jesuítas de determinadas localidades.

[LOCUTOR 2]: Hoje, na cidade de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, por exemplo, podemos encontrar as ruínas de São Miguel Arcanjo, povoado fundado por jesuítas, que recebeu nativos expulsos de suas terras em razão dos ataques bandeirantes no século XVII. A ação dos bandeirantes provocou resistências armadas de povos indígenas a conflitos registrados ao longo do período colonial. Além de tentar escravizar os indígenas, os bandeirantes também atacavam quilombos, com o objetivo de reconduzir à escravidão os negros africanos que haviam fugido do cativeiro. Os quilombos abrigavam ex-escravizados e até grupos indígenas que resistiam à escravidão cujas histórias estão ligadas à ocupação da terra. Ainda hoje, muitos descendentes de quilombolas lutam pelo direito ao reconhecimento de suas terras. A expansão territorial realizada pelos bandeirantes foi, portanto, marcada pela violência contra parte da população que então habitava o território brasileiro. E os efeitos disso podem ser percebidos até hoje.

[LOCUTOR 1]: Estúdio CCDB.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Para aprofundar o debate sobre os bandeirantes, sugerimos a leitura da reportagem a seguir, escrita pela historiadora Madalena Marques Dias, referente ao papel das mulheres no período do bandeirismo paulista, entre os séculos dezesseis e dezessete.

Mulheres e o bandeirismo

reticências durante muito tempo as mulheres do período bandeirista – séculos dezesseis e dezessete – foram vistas como figurantes da história. Enquanto os maridos e filhos cuidavam dos negócios comerciais ou seguiam, sertões adentro, à caça de indígenas e à procura de ouro nas bandeiras, elas simplesmente cuidavam das coisas do lar. Aos homens coube alargar as fronteiras da América portuguesa, percorrendo territórios que, pelo Tratado de Tordesilhas, pertenceriam à Coroa da Espanha e que, mais tarde, passaram à Coroa lusa. Eles destruíram, ainda, as missões jesuíticas em territórios que hoje compõem o Rio Grande do Sul e o Paraguai, na sua séde de escravizados indígenas e riquezas. A elas, restou a tarefa de multiplicar a prole dos bandeirantes. Tudo parecia encaixar-se claramente. Homens e mulheres teriam vivido em universos totalmente separados, com papéis sociais opostos.

Houve, porém, quem duvidasse desse quadro, em que os universos feminino e masculino aparecem tão separados e antagônicos, e da falta de participação na comunidade e a submissão aos padrões vigentes como marca das paulistas. Pesquisas recentes têm demonstrado outra realidade, muito diferente da tradicional. reticências

reticências Viviam inseridas em estruturas tipicamente violentas, entre cativos submetidos à fôrça, e até guerras familiares. Algumas vezes, usaram do poder conferido por sua ascendência familiar e seus bens para agir de uma fórma vetada a outras mulheres mais pobres ou mesmo cativas. Isso não parece caracterizar a propalada ‘timidez feminina’. Embora careça de mais estudos, o papel das mulheres no período das bandeiras paulistas era multifacetado e surpreendente. A chave para compreendê-lo melhor reside no fato de que seus pesquisadores trabalham com três níveis. O primeiro é o da vida que as mulheres levaram. O segundo é o das expectativas a que foram submetidas – de serem dóceis, submissas, honradas, fiéis, laboriosas, boas esposas e mães, engenhosas para administrar suas propriedades na ausência do marido – e que nem sempre atenderam. O terceiro, por fim, é o da idealização a que vários historiadores submeteram essas personagens históricas. Resgatar a valentia e a determinação que existiram ao lado da docilidade e obediência concede a elas a garantia de sua presença na história paulista.”

DIAS, Madalena Marques. As bravas mulheres do bandeirismo paulista. Brasil Cultura, 27 abril2009. Disponível em: https://oeds.link/cyBSv0. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Expedições de comércio

Quando os bandeirantes encontraram ouro, a notícia se espalhou rapidamente. Muita gente, atraída pelo desejo de enriquecer, migrou para as regiões mineradoras.

Para atender às necessidades dos novos habitantes de Mato Grosso e Goiás entre a década de 1720 e a primeira metade do século dezenove, foram organizadas expedições fluviais chamadas monções.

As canoas subiam e desciam os rios de São Paulo e de Mato Grosso, saindo de Porto Feliz e de Itu (São Paulo) e chegando até Cuiabá (Mato Grosso). Elas iam carregadas de alimentos, roupas e outras mercadorias. Partiam entre os meses de março e maio, pois nessa época os rios tinham maior volume de água devido às chuvas. Na volta, traziam ouro e pedras preciosas retirados das regiões mineradoras.

A viagem era repleta de dificuldades. Havia muitas corredeiras e animais perigosos no percurso, além da resistência dos povos originários, que atacavam constantemente as canoas. Os portugueses aprenderam o método de construção das canoas e de navegação fluvial com os indígenas. As rotas comerciais conhecidas como monções contribuíram para abastecer as vilas coloniais de Mato Grosso e facilitar a comunicação entre elas.

Pintura. Um grupo de pessoas em pequenas embarcações sobre rios às margens de uma porção de terra, contendo diferentes cargas e produtos, em caixas ou sacolas. Sobre a terra, há pessoas em pé, algumas portam produtos diversos. Em segundo plano, áreas com vegetação.
Partida da monção, pintura de José Ferraz de Almeida Júnior, 1897. Essa pintura representa o transporte de cargas pelos monçoeiros, que levavam diversos tipos de mercadorias para o interior do Brasil.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Analise em sala de aula a pintura Partida da monção, produzida em 1897 por Almeida Júnior. A obra representa a partida de uma expedição do porto fluvial de Araritaguaba (atual Porto Feliz), localizado às margens do Rio Tietê, e que se dirigia a Mato Grosso.

A narrativa da pintura aponta para dois grupos de personagens localizados em lados opostos da margem do rio. Ao fundo, vê-se uma ampla mata. À direita, em uma das margens mais destacadas do rio, está representado um padre que abençoa a viagem. Ao redor há personagens que se despedem dos viajantes. Na extremidade esquerda da pintura, temos os monçoeiros, recebendo as bênçãos do padre em suas canoas e cercados por objetos de viagem, tais como malas e cantis.

A análise da obra pode levar em consideração duas perspectivas distintas. A primeira diz respeito à representação heroica do paulista desbravador, uma vez que a tela foi produzida seguindo demandas do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Por sua vez, há na pintura de Almeida Júnior detalhes das feições das personagens e da separação entre os familiares, sobretudo com foco nas crianças que permanecem com as mães, e a atenção à benção do padre. O conjunto desses detalhes pode indicar uma leitura mais crítica sobre o evento e uma ênfase na condição emocional daqueles que partiam. Assim, conclui-se que a representação está ligada a um projeto de identidade paulista e não apenas ao evento da partida a Mato Grosso que teria ocorrido entre o final do século dezoito e início do dezenove.

Para um aprofundamento na análise da obra, consultar: OLIVEIRA, Emerson Dionisio Gomes de. Arte, imagem e instituição: uma leitura de Partida da Monção de Almeida Júnior. Anais do segundo Encontro Nacional de Estudos da Imagem, Londrina, 2009. Disponível em: https://oeds.link/JzBatH. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Texto de aprofundamento

As monções são consideradas por alguns pesquisadores como um aspecto de nossa cultura. Nesse sentido, indicamos a leitura do artigo a seguir, que apresenta importantes imagens e registros arqueológicos sobre o assunto.

Monções

“A ocupação colonial da região central da América do Sul, a região que hoje convencionamos chamar de Centro-Oeste, constituiu um capítulo longo da história da América portuguesa e do Brasil, capítulo este, de certa maneira, ainda não terminado. Diversos processos e movimentos colonizadores, ou primordialmente exploratórios, tomaram como palco esta região do continente, envolvendo portugueses, espanhóis, colonos, muitos deles mamelucos, e indígenas arranjados e rearranjados em múltiplas e circunstanciais coalizões que vão do século dezesseis ao início do vinte, senão até nossos dias. Se, num primeiro ato, a exploração colonial dessa região se assentou sobre iniciativas esporádicas, privadas ou com pouco apoio ou incentivo dos Estados ibéricos, paulatinamente a cena passa a ser composta por diversos personagens defendendo posições diversas pela ocupação do território. Século a século, década a década, o Centro-Oeste passou de região inóspita, de sertão ou mato grosso, a área estratégica, defendida palmo a palmo por ambas as coroas ou mesmo pelas etnias presentes na região. reticências

É no seio desse complexo de processos e disputas entre múltiplos grupos que se desenvolveu o derradeiro movimento de trânsito sistemático dos colonos de São Paulo pelos sertões do Centro-Oeste, no que chamamos de período das monções, com suas atividades ocorridas majoritariamente entre 1720 e 1839.”

SILVA, Rodrigo da. Monções revisitadas: patrimônio e cultura imaterial. Revista de História da Arte e da Cultura, Campinas, número 7, página 6, janeiro/junho 2021.

Jesuítas na América

Os jesuítas são sacerdotes da Companhia de Jesus ou Ordem Jesuítica, fundada na Europa por Inácio de Loyola, em 1534. Entre os objetivos desses religiosos estava a conversão de novos fiéis à religião católica. A América foi o seu principal campo de ação.

Catequização e conquista

Em busca de fiéis para a religião católica, os jesuítas promoviam ações religiosas, educacionais e militares. Para evangelizar os indígenas, os jesuítas os reuniam em reduções, missões ou aldeamentos.

Como estudamos no capítulo 8, em 1549, desembarcou na Bahia um grupo de jesuítas, acompanhando o primeiro governador-geral. A partir daí, eles criaram missões pelo território dominado pelos portugueses.

Do mesmo modo, na América espanhola, religiosos dessa Ordem criaram diversas missões ou reduções, destacando-se as da Flórida, Texas e Califórnia (na América do Norte) e as do Paraguai, da Bolívia e da Argentina (na América do Sul).

Nas áreas de colonização francesa, os jesuítas tiveram atuação destacada a partir do início do século dezessete. Os primeiros contatos foram feitos com os algonquinos, iroqueses e povos indígenas do atual Canadá. Os jesuítas franceses concentraram suas missões em Montreal e Quebec, enfrentando a resistência dos indígenas e a concorrência de colonos ingleses protestantes, com quem disputavam territórios na América do Norte.

Ilustração em preto e branco. Representação de um grupo de pessoas em um confronto. Em primeiro plano, dois homens segurando cruzes e crucifixos tem lanças transpassando seus corpos, enquanto são golpeados por outros dois homens. Em segundo plano, ao fundo, um homem à direita, sentado sobre um trono, usando uma coroa e segurando um cetro com uma das mãos. E outro, à esquerda, vestindo uma túnica e erguendo um dos braços para cima, enquanto é golpeado com uma espada próxima à costela. Saem da boca de ambos, faixas com textos em latim. Em segundo plano, à esquerda e ao fundo, homens segurando lanças.
Ilustração de livro de Alonso de Ovalle, de 1648, mostra os chamados “mártires de Elicura”, três jesuítas que foram mortos em um ataque de indígenas mapuches ao Forte de Paicavi, no Chile, em 1612, durante uma das várias rebeliões desse povo contra os estrangeiros. A colonização europeia, incluindo a evangelização, que era uma estratégia de conquista, enfrentou a resistência indígena por toda a parte.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Jesuítas na América” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê nove, cê ê cê agá quatro, cê ê cê agá cinco, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove, pois trata da catequização e da exploração do trabalho dos povos originários, bem como das revoltas e de outras fórmas de resistência desses povos.

Trabalho, cotidiano e religião

Nas missões jesuíticas de toda a América, os indígenas aprendiam o catolicismo, alguns ofícios e os costumes europeus. Em geral, a rotina começava com uma missa e, depois, os indígenas trabalhavam nas plantações ou no artesanato.

Enquanto os adultos trabalhavam, as crianças aprendiam a ler, escrever e contar. Por meio delas, os jesuítas às vezes conseguiam converter os adultos.

Além disso, nas missões da Amazônia, os jesuítas faziam com que indígenas trabalhassem na extração de produtos naturais como guaraná, castanha, baunilha, plantas aromáticas e medicinais, as chamadas drogas do sertão. A venda desses produtos dava bons lucros aos padres da Companhia de Jesus.

Pintura. Interior de uma cabana com paredes de barro e madeira. Um grupo de homens indígenas com os peitos desnudos, descalços, em pé, vestindo tangas e adereços na cabeça com penas coloridas, em frente a dois homens, um em pé, vestindo uma longa túnica escura, com um de seus braços esticados para cima, e outro ajoelhado a frente de um altar com velas e um crucifixo, segurando um livro aberto à frente de seu rosto.
Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu, pintura de Benedito calísto, 1920. Nessa representação notam-se a pregação dos padres jesuítas aos indígenas, o altar, as velas e o crucifixo, elementos da liturgia católica.
Fotografia. Destaque para frutos de guaraná, com cascas vermelhas, e interior arredondado branco e preto.
Guaraná, fruto de planta originária da Amazônia. Fotografia de 2018. Atualmente, o guaraná é utilizado para fabricação de xaropes, refrigerantes e pela indústria farmacêutica.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

A estratégia dos jesuítas para catequizar os povos originários no Brasil incluía a observação de seus modos de vida. O texto a seguir sugere que o tamanho do território e o nomadismo dos habitantes era outra dificuldade a ser vencida.

Jesuítas e povos originários

“Outro entrave para a realização do trabalho missionário nas aldeias foi a mobilidade geográfica dos índios. Os grupos litorâneos realizavam migrações periódicas buscando a ocupação de áreas consideradas mais férteis e ricas de recursos naturais. Enquanto os povoados indígenas não fossem fixados em áreas geográficas específicas, onde se pudesse estabelecer um esquema de autoridade e obediência, a evangelização tornava-se difícil. O plano de catequese elaborado pelos jesuítas, tendo à frente o padre [Manuel da] Nóbrega, propunha a criação dos ‘aldeamentos’ ou ‘reduções’, que se tornaram célebres na América espanhola e na Amazônia reticências. [Na América portuguesa, os] ‘aldeamentos’ seriam próximos, mas não junto aos povoados portugueses. Os índios são deslocados do seu meio natural para serem instalados nas aldeias, ao passo que as ‘reduções’ são instaladas longe do povoado espanhol, no hábitat do índio. O padre vai ao encontro do índio e ali instala a ‘redução’.

As aldeias formadas naturalmente foram substituídas por agrupamentos organizados pelos próprios missionários, visando superar as frustrantes idas e vindas aos povoados indígenas originais para ministrar a doutrina e conduzir à conversão. Enquanto não houvesse uma mudança radical nos costumes indígenas, a pregação era tida por vã. Nos ‘aldeamentos’, os jesuítas moldavam toda a estrutura socioespacial e procuravam concentrar seus esforços nos índios mais propensos para a conversão.

Além da doutrina cristã que aprendiam, os índios, situados em redor das cidades e das vilas, ajudariam também à comum defesa.”

SANTOS, Fernanda. Estratégias de justificação para a conversão do gentio nas missões jesuítas. Revista Brasileira de História das Religiões, volume 4, número 12, página 68, janeiro 2012. Disponível em: https://oeds.link/FFcEGN. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Jesuítas e colonos

As missões jesuíticas na América portuguesa e no Paraguai tornaram-se o alvo predileto das bandeiras de apresamento. Nessas missões, os colonos encontravam indígenas que conheciam as línguas dos portugueses e espanhóis e tinham aprendido os ofícios que interessavam aos compradores de escravizados.

Nos séculos dezesseis e dezessete, houve conflitos entre jesuítas e colonos para definir quem tinha direito de explorar o trabalho dos indígenas. Enquanto muitos colonos queriam escravizar os nativos, os jesuítas queriam mantê-los nas missões.

Um desses conflitos foi a chamada Revolta de Bécman, no Maranhão, em 1684, liderada pelos irmãos Tomás e Manuel Bécman.

Desde 1650, após a saída dos holandeses do Brasil, a capitania do Maranhão passava por uma grave crise econômica. Os preços do açúcar haviam caído muito e os produtores alegavam não conseguir comprar africanos escravizados.

Em busca de mão de obra, os senhores de engenho armaram homens para capturar indígenas nos aldeamentos jesuíticos e escravizá-los. Os jesuítas protestaram e o governo português proibiu a escravização dos indígenas.

Para contornar a crise, a Coroa criou a Companhia Geral de Comércio do Maranhão, em 1682. Os sócios da empresa se comprometeram a trazer 500 africanos escravizados por ano, durante vinte anos. Entretanto, não cumpriram o compromisso e o descontentamento dos colonos aumentou.

A revolta dos colonos começou em fevereiro de 1684. Eles prenderam autoridades do governo, destruíram os armazéns da Companhia de Comércio e expulsaram os jesuítas do Maranhão. Os rebeldes formaram um governo provisório e Tomás Bécman foi a Lisboa expor a situação ao rei. No entanto, ele acabou preso e, em seguida, o rei enviou um novo governador ao Maranhão para reprimir os rebeldes. Ao chegar ali, o novo governador mandou enforcar Manuel Bécman e outros líderes.

Apesar das punições aos rebeldes, a Coroa mudou sua política para a região. Os jesuítas puderam retornar ao Maranhão, a Companhia de Comércio foi extinta e a escravização dos indígenas foi autorizada em algumas situações.

Gravura em preto e branco. Em primeiro plano, ao centro, um homem vestindo uma longa túnica, rodeado por homens portando lanças. Um deles está com uma das mãos sobre o ombro do homem de túnica em posição de movimento. Ao fundo, sobre águas do mar rodeando a terra, um navio e uma pequena canoa com duas pessoas em seu interior.
Gravura do século dezoito que representa o jesuíta Antônio Vieira sendo expulso do Maranhão. Os jesuítas foram obrigados a deixar o Maranhão e o Grão-Pará em 1684.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

No texto transcrito a seguir, apresenta-se uma visão sobre a Revolta de Bécman a partir dos escritos de um padre jesuíta nascido em Luxemburgo e que se fixou no Maranhão em 1652. Ele narrou os acontecimentos em 1699, misturando fatos, conflitos e expressões de fé.

Revolta de Bécman

“Em todas as obras históricas e literárias sobre a Revolta de Bécman o padre João Felipe bêtêndórf aparece sempre como principal testemunha ocular dos fatos reticências.

Os moradores de São Luís queixavam-se contra o estanco e a posse dos índios pelos padres jesuítas. Em suas palavras, os revoltosos muito erraram em dar a culpa aos padres da companhia reticências. reticências bêtêndórf não só tirava a responsabilidade dos problemas de mão de obra indígena dos jesuítas como apontava o clero secular e a câmara como aqueles que resolveriam a questão reticências. Menciona que nas primeiras reuniões dos amotinados não se tinha a intenção de expulsar os jesuítas, somente de tomar o seu poder temporal reticências.

reticências Sua impressão do movimento é um tumulto total. Desordens, demônios, ânimos exaltados, corações dispostos e ouvidos fechados para a razão.”

CAETANO, Antonio Filipe Pereira. A Revolta de Bécmanpelo olhar de João Felipe bêtêndórf e da documentação do Conselho Ultramarino. Anais do vigésimo quarto Simpósio Nacional de História, 2007, página 3-6. Disponível em: https://oeds.link/McmQac. Acesso em: 23 fevereiro 2022.

Outras indicações

As cartas jesuíticas são uma importante fonte histórica para compreender o pensamento desses homens que chegavam à América com a intenção de catequizar e impor sua fé e os hábitos cristãos aos indígenas. Dessa fórma, destacamos a obra a seguir, que permite o acesso às cartas que foram compiladas. Sugerimos, ainda, a seleção de trechos dessa documentação e sua apresentação à turma, a fim de ampliar o debate em relação à concepção dos jesuítas sobre os indígenas, a relação que estabeleciam com seus superiores e suas intenções religiosas e políticas.

LEITE, Serafim. Novas cartas jesuíticas (De Nóbrega a Vieira). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940. Disponível em: https://oeds.link/k1YBKo. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Pecuária

Ao contrário da produção de açúcar nos engenhos coloniais, que estava voltada para o mercado externo, a pecuária atendia principalmente ao mercado interno.

Em 1701, para incentivar a produção açucareira no litoral, a administração portuguesa proibiu a criação de gado em regiões próximas à costa. Assim, os pecuaristas montaram fazendas de gado no interior, em áreas que não serviam para plantar cana. Escravizados e homens livres, muitos deles mestiços, trabalhavam nessas fazendas.

Pecuária nordestina

A área de criação de gado mais antiga ficava no sertão do Nordeste da colônia. Os vaqueiros avançavam pelo interior, quase sempre seguindo o curso dos rios. Foi o que aconteceu, por exemplo, ao longo dos rios Parnaíba e São Francisco, este último chamado de rio dos currais.

Os pecuaristas forneciam carne fresca e carne-sêca, que é salgada e sêca ao Sol. A carne-sêca conservava-se por mais tempo, o que facilitava a venda em lugares distantes.

Outro produto da pecuária era o couro. Parte dele era exportada e outra parte era usada para fazer camas, cordas, bolsas e roupas.

Fotografia. Destaque para três homens vestindo jaquetas e calças compridas de couro, sentados sobre o dorso de cavalos, em um terreno arenoso com árvores secas com galhos retorcidos ao redor.
Vaqueiros usando roupas de couro na comunidade de Muquém, em Petrolina, Pernambuco. Fotografia de 2021. Essa vestimenta não é muito utilizada pelos vaqueiros nordestinos nos dias atuais, mas a produção de couro continua sendo uma importante atividade econômica na região.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Pecuária” favorece o desenvolvimento das competências cê gê três, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois discorre sobre a formação do mercado interno colonial e o desenvolvimento da pecuária em diferentes regiões, desde o Nordeste até o Sul. Já o texto “Indígenas resistem no sertão” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero sete agá ih zero nove, ao tratar da resistência indígena à perda de suas terras no sertão.

Orientação didática

O professor pode integrar o conteúdo sobre a expansão da pecuária com o componente curricular Geografia. Incentive os estudantes a realizar uma pesquisa sobre essa atividade econômica nos dias de hoje. É importante que eles percebam o que mudou desde o século dezessete, a influência desse setor na economia brasileira e também na natureza, por causa do intenso desmatamento que ele provoca. A pesquisa pode ser realizada por meio de jornais, revistas, sites informativos, livros de Geografia, entre outras fontes.

Outras indicações

Para aprofundar a discussão sobre a resistência indígena e a Guerra dos Bárbaros, sugerimos a leitura a seguir.

PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: êduspibarraUcitéc, 2002.

Texto de aprofundamento

Sobre a questão da pecuária colonial e possíveis aproximações com o presente, recomendamos a leitura do excerto a seguir.

Pecuária colonial

“A expansão da pecuária no Brasil nos seus primeiros tempos esteve intimamente ligada à economia açucareira. reticências Tratava-se simplesmente dos animais necessários ao funcionamento da plantation.

Todavia, a própria expansão da economia açucareira obrigou a que se reservassem as férteis terras próximas ao litoral para a cana. Na qualidade de atividade reticências o gado vai-se internalizando. Os dois principais centros de dispersão seriam Salvador e Olinda. A partir do primeiro desenvolve-se uma frente que vai interessar ao nosso estudo, e que breve alcança as margens do Rio São Francisco.

A rapidez da expansão deve-se também à abundância de terras combinada com a sua baixa produtividade. Prado Júnior calcula que se teria em média duas cabeças de má qualidade por quilômetro quadrado reticências. reticências

Por outro lado, reticências a exigência de mão de obra era pequena, cada vaqueiro podendo cuidar de duzentas a trezentas reses. A partilha constituía a base das relações de trabalho: em geral, depois de cada cinco anos, o vaqueiro recebia, como pagamento de seus serviços, a quarta parte das crias. Assim, depois de algum tempo, podia estabelecer-se por conta própria. reticências As relações com o litoral, agora mais indiretas, vão-se dando através das feiras de gado.

A partir da segunda metade do século dezessete, com a lenta decadência da atividade açucareira, esse princípio interno irá sobrepujando a própria demanda de mercado como razão da expansão. As relações com a economia açucareira reticências se enfraquecem reticências. Isto fará com que haja uma tendência crescente à pecuária fechar-se sobre si mesma, como atividade de subsistência, numa espécie de involução e marginalização reticências. Tenderá também a tornar-se cada vez mais ultraextensiva, com um nível de investimento baixíssimo.

Isto não se dará uniformemente em toda a pecuária, o que criará tipos distintos. Será tanto mais verdade quanto mais afastado se esteja dos mercados. É o que irá ocorrer como caso-limite no Brasil Central, onde há indícios de que a acumulação de gado, mesmo em anos recentes, terá, inclusive, perdido, em certas zonas, parte de seu sentido mais estritamente econômico, para transformar-se em símbolo de státus; por vezes quase inegociável.

Esse isolamento também será responsável por uma expressiva permanência dos padrões da pecuária da época da colônia no Brasil Central; em certas zonas até os dias de hoje ou até bem recentemente. Toda a fôrça do sistema transparece na segurança da afirmação de um informante entrevistado na localidade de Estreito, no município de Carolina (Maranhão), em janeiro de 1969, e que pode projetar alguma luz também sobre o passado: o ‘certo’ é a partilha, pois ‘Aqui não é como no Sul, onde o patrão paga para não ter de dar as crias’. ”

VELHO, Otávio Guilherme. A frente pastoril. In: VELHO, Otávio Guilherme. Frente de expansão e estrutura agrária: estudo do processo de penetração numa área da Transamazônia. Rio de Janeiro: Centro édelstáinde Pesquisas Sociais, 2009. página17-18. Disponível em: https://oeds.link/UgdWl8. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Indígenas resistem no sertão

A expansão da pecuária no Nordeste não foi pacífica. Muitos indígenas que viviam no sertão resistiram para não perder suas terras. Os portugueses se queixavam de que os indígenas capturavam o gado e causavam prejuízos aos fazendeiros.

Gravura. Uma ilha cercada de água, contendo diversas pessoas, algumas desnudas, outras vestindo armaduras, portando armas de fogo. Ao redor, sobre as águas que cercam a ilha, indígenas em canoas, com arcos e flechas apontando para o centro.
Gravura de têodóre de bri, de 1593, representa indígenas Tupinambá capturando Rans Stáden (no barco, à esquerda), um viajante alemão que estava com os portugueses na ocasião. A cena retrata um episódio da resistência indígena aos colonizadores europeus.

No confronto com os indígenas, os fazendeiros armaram tropas e contrataram sertanistas de São Paulo. Depois de muitas lutas, vários povos foram massacrados nos episódios conhecidos como Guerra dos Bárbaros e Guerra do Açu, no final do século dezessete e início do dezoito.

Gravura. Um grupo de indígenas dispersos por entre a mata densamente vegetada, alguns caídos ao chão, outros portando lanças, arcos e flechas. Entre eles, homens vestindo camisas, calças e chapéus, portando lanças e armas.
Guerrilhas, gravura colorizada de iôrram mórritis ruguendás, 1835. Nota-se na imagem uma representação da resistência indígena à colonização por meio do combate.

Pecuária no Sul

Nas áreas onde ficam atualmente o Rio Grande do Sul e o Uruguai, criava-se gado desde a época das missões jesuíticas. Os pecuaristas conquistaram essas terras no início do século dezoito. No Sul, as propriedades onde se criava gado eram chamadas estâncias.

Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, o comércio aumentou entre o sul da colônia e a região mineradora. Foi preciso produzir mais carne e fornecer mais bois e mulas para o transporte de carga na região do ouro.

No final do século dezoito, surgiram as charqueadas, propriedades onde se produzia o charque. Para produzir o charque, também chamado carne-sêca, a carne bovina é cortada em grandes tiras, salgada e sêca ao Sol. Desse modo, o produto conserva-se por muito mais tempo. O charque foi uma das principais mercadorias da região, sendo vendida para outras áreas da colônia ou consumida no próprio local.

Gravura. Um homem em pé sobre um campo terroso, descalço, vestindo uma camisa vermelha, uma bermuda clara e um chapéu com largas abas na cabeça, portando uma lança e uma arma de fogo, guiando uma fila de mulas carregando pacotes contendo pedras escuras.
Transporte de carvão para o Rio de Janeiro, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1822. A gravura representa o transporte de mercadorias no lombo de mulas.

Fronteiras e tratados internacionais

Desde o início da colonização, as fronteiras das colônias europeias na América foram constantemente modificadas. Isso aconteceu por vários motivos: assinaturas de tratados, invasões de territórios e expedições militares, ou ainda pela ação dos criadores de gado e dos religiosos.

Nos séculos dezoito e dezenove, foram assinados tratados internacionais entre os governos europeus que tinham colônias na América para evitar novos conflitos e oficializar a ocupação dos territórios. Conheça, a seguir, alguns desses tratados.

Em 1713, foi assinado um tratado entre portugueses e franceses na cidade holandesa de utréchiti. O Rio Oiapoque passou a ser o limite entre o Brasil, no atual estado do Amapá, e a Guiana Francesa.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Com base nas discussões apresentadas no capítulo sobre o desenvolvimento da pecuária colonial, recomendamos a leitura a seguir, sobre como a tradição do bumba meu boi está vinculada a esse período. É possível expor tal perspectiva aos estudantes, a fim de conectar passado e presente, tratando-se, ao mesmo tempo, de um ponto de partida importante para estabelecer o diálogo entre aspectos culturais e econômicos, em diálogo com o os temas contemporâneos transversais Economia e Diversidade cultural.

Bumba meu boi

“Em cada parte do país, o boi tem um nome diferente: boi-bumbá, no Amazonas e no Pará; bumba meu boi, no Maranhão; boi-calemba, no Rio Grande do Norte; cavalo-marinho, na Paraíba; bumba de reis ou reis de boi, no Espírito Santo; boi-pintadinho, no Rio de Janeiro; boi de mamão, em Santa Catarina e boizinho no Rio Grande do Sul. reticências

reticências O festejo teve origem no Nordeste reticências [e] conta a história de um casal de escravos [...]. Grávida, [a mulher] começa a ter desejos por língua de boi reticências [e] seu marido tem de matar o boi mais bonito de seu senhor. reticências O dono da fazenda convoca curandeiros e pajés para ressuscitá-lo. Quando o boi volta à vida, toda a comunidade celebra. O festejo reticências reuniu influências africanas reticências e europeias. reticências O boi de Parintins traz também forte influência indígena.”

PAGIN, Juliano Soares. Bumba-meu-boi. Nordestes Musicados, 3 junho 2017. Disponível em: https://oeds.link/h6bCXh. Acesso em: 22 fevereiro 2022.

Outras indicações

Sobre a celebração do bumba meu boi, suas origens e o contexto histórico de expansão da pecuária do século dezessete, sugerimos a leitura do artigo a seguir.

ROCHA, Luana Tereza de Barros Vieira. O cantar, o bailar, o boi: a influência da pecuária do século dezessete na existência do bumba meu boi. sexto Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luís, 2013. Disponível em: https://oeds.link/PNTzfO. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

  • Em 1750, em Madri, foi assinado um tratado entre os representantes de Espanha e Portugal. A colônia do Sacramento passaria aos espanhóis, e os Sete Povos das Missões, no oeste do atual Rio Grande do Sul, pertenceriam aos portugueses. O Tratado de Madri não foi cumprido, pois os jesuítas espanhóis e os Guarani da região não aceitaram o domínio português.
  • Em 1777, em Santo Ildefonso, foi assinado outro tratado entre Portugal e Espanha. Os espanhóis ficariam com Sacramento e Sete Povos das Missões, mas devolveriam aos portugueses as terras que eles haviam ocupado no atual Rio Grande do Sul. O Tratado de Santo Ildefonso foi considerado desvantajoso pelos portugueses, pois eles perdiam Sacramento e recebiam poucas terras em troca.
  • Em 1801, o Tratado de Badajós definiu a questão. Os Sete Povos das Missões ficariam com os portugueses e a colônia do Sacramento com os espanhóis. Depois de muita luta, confirmaram-se quase as mesmas fronteiras definidas em Madri, em 1750.

O mapa a seguir mostra os limites estabelecidos pelos tratados citados e também o território atual do Brasil.

Tratados de limites (séculos dezoito e dezenove)

Mapa. Tratados de limites (séculos dezoito a dezenove). Destaque para o território do Brasil. Uma linha vertical vermelha divide o território em duas partes, leste e oeste, indicando em vermelho “Meridiano de Tordesilhas'”. Uma linha roxa, no extremo norte do território, indica “Tratado de Utrecht (1713)”. Uma linha verde, contornando os limites no oeste do território, indica “Tratado de Madri (1750)”. Uma linha laranja, no sul do território, indica “Tratado de Santo Ildefonso (1777)”. Em verde, “Área incorporada ao Brasil pelo Tratado de Badajós (1801)”, envolvendo “Sete povos das Missões”, no oeste do atual estado do Rio Grande do Sul. Em amarelo e verde, “Território atual do Brasil”. No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 330 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 30.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Fronteiras e tratados internacionais” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá sete, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih zero nove, ê éfe zero sete agá ih um um e ê éfe zero sete agá ih um dois, pois apresenta os tratados internacionais que foram assinados na época com o objetivo de oficializar a ocupação de territórios e descreve como essas ações impactaram os povos originários e africanos que viviam na América.

Disputas de fronteiras entre portugueses e espanhóis na América

A maior parte das questões de fronteiras na América do Sul na época colonial colocou portugueses e espanhóis em disputa. Desde o início da conquista e colonização europeia, acordos de limites foram feitos e desfeitos. Uma das características principais desses tratados era a ausência total dos povos indígenas nessas negociações.

As fronteiras coloniais eram decididas na Europa por homens do governo. Aos colonos, indígenas e africanos que viviam na América portuguesa restava aceitar as demarcações ou lutar em guerras coloniais que muitas vezes levavam à perda de vidas e propriedades.

Exemplo disso foi a demarcação das fronteiras no sul da colônia, onde hoje se situa o Rio Grande do Sul. De 1752 a 1756, uma expedição foi enviada à região para marcar os limites entre as terras ocupadas pelos espanhóis e pelos portugueses, definidos no Tratado de Madri (1750). Era o início da Guerra Guaranítica (1753-1756).

Os colonos acabaram formando núcleos muito próximos uns aos outros. Sinal disso é a existência, hoje, de cidades onde praticamente não se percebe a linha de fronteira. Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai), por exemplo, fundadas em áreas ocupadas nos primeiros anos do século dezenove, são divididas apenas por uma rua.

Fotografia. Uma jovem, uma mulher e uma criança, em pé sobre uma praça, à frente de um monumento longo e vertical, cujas laterais apresentam duas hastes com as bandeiras do Brasil e Uruguai. Às laterais, áreas arborizadas.
Bandeiras do Brasil e do Uruguai na Praça Internacional, na chamada “Fronteira da Paz”, divisa entre Santana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai. Fotografia de 2021.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

Responda no caderno

para pensar

Atualmente, existem conflitos nas fronteiras das nações americanas? Faça uma pesquisa em jornais atuais e compartilhe o resultado com os colegas.

Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

Sim, ainda existem diversos conflitos de fronteiras entre nações americanas. Alguns dos conflitos que podem ser destacados pelos estudantes são: a disputa territorial entre os governos do Chile e da Bolívia, em que os bolivianos reivindicam a soberania sobre uma faixa costeira de 400 quilômetros contínuos, disputa que já dura mais de 100 anos – em razão desse conflito, os dois países cortaram relações diplomáticas há mais de 30 anos; a disputa entre Peru e Equador, em razão da divergência de fronteira em um trecho conhecido como Cordilheira do Condor; Colômbia e Venezuela, em disputa territorial por um golfo no Caribe; a reivindicação da Argentina pela posse das Ilhas Malvinas, que levou a uma guerra contra o Reino Unido em 1982, com vitória britânica e a morte de centenas de pessoas; a disputa entre Cuba e Estados Unidos, em que Cuba cobra a desocupação da base naval de Guantánamo; os conflitos envolvendo a Guiana, que conflita com países como Venezuela e Suriname – três quartos do território da Guiana são reivindicados pelo governo da Venezuela, enquanto o Suriname reivindica 7% do país vizinho, por causa de uma região denominada Tigri. Esses são alguns exemplos possíveis. Para mais informações sobre os conflitos e a identificação deles em mapas, sugerimos os links das reportagens:

  • COSTA, Camilla. Mapas mostram disputas territoriais ativas nos países da América Latina – inclusive no Brasil. bê bê cê, 2 janeiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/IWQBSe.
  • Charlô, João Paulo. 12 disputas de fronteira na América Latina. Nexo, 6 junho 2016. Disponível em: https://oeds.link/dQ54Fm.
  • PALACIOS, Ariel. A disputa de territórios na América do Sul. Época, 8 março 2018. Disponível em: https://oeds.link/VtSU9J.

Acessos em: 16 fevereiro 2022.

Brasil: a formação do país

O Brasil é o quinto maior país do mundo, com ..8547403 quilômetros quadrados, atrás apenas de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos. Da lista dos cinco maiores países do mundo, três estão situados na América.

Ao longo da história, a conquista desses territórios envolveu conflitos e desafios. A expulsão dos povos originários de suas terras, as dificuldades da colonização e os tratados de limites entre os impérios coloniais são parte desse longo processo.

No caso do Brasil, um país grande foi criado. Mas a história não se encerrou. Os brasileiros continuam lutando para transformar o “país grande” num “grande país” para a maioria dos cidadãos.

Charge. Na parte superior, o texto 'Desigualdade na pandemia' e a representação de um homem de cabelos curtos, vestindo uma camisa e um par de óculos no rosto, segurando uma xícara contendo um líquido fumegante, em pé sobre um cômodo com cadeira e estante com livros, com o olhar voltado para uma paisagem em sua janela, com destaque para o Sol no horizonte. Na parte inferior, um grupo de pessoas, entre adultos e crianças, e um cachorro, no interior de um cômodo com paredes de tijolos à mostra, com os olhares voltados para uma abertura indicando um vírus visto parcialmente, de coloração verde, formato redondo e pequenas hastes laterais com bolinhas.
Desigualdade na pandemia, charge de Jan Galvão, 2020. O Brasil é um dos países com maior índice de desigualdade social e econômica do mundo. Na charge, essa questão é relacionada à pandemia de covid-19.
Fotografia. Vista aérea de uma área urbana contendo uma manifestação de pessoas cercadas por avenidas e edifícios. Há uma longa faixa azul estendida sobre os manifestantes, com o texto: 'O Brasil se une pela Educação'.
Vista de manifestação em apoio e defesa da educação pública na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Em sua opinião, o que é necessário para tornar o Brasil um grande país? Dialogue sobre o assunto com os colegas.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Para aprofundar as reflexões sobre os tratados de limites territoriais que estiveram em discussão na época colonial, sugerimos a leitura do artigo a seguir, que destaca a importância do uso da cartografia durante o processo de negociações territoriais, apresentando um viés interpretativo pouco comum ao abordar a expansão das fronteiras.

Tratados e cartografia

“Ao longo das negociações que conduziram em 1750 à assinatura do Tratado de Madri, os mapas adquiriram uma enorme importância enquanto instrumentos visuais de trabalho. E isso é perfeitamente compreensível quando estava em discussão a definição dos limites territoriais das coroas ibéricas na América do Sul. As cartas geográficas serviram então para sustentar pretensões territoriais e para resolver litígios de fronteira. Muitas das reuniões dos ministros plenipotenciários de Portugal e de Espanha, respectivamente o Visconde de Vila Nova de Cerveira, Tomás da Silva Teles, e José de Carvajal e Lancaster, tiveram lugar com ‘mapas à vista’. A importância destes derivava do fato de serem uma simplificação da informação sobre uma determinada região. Sintetizavam o que era conhecido e compreendido, suposto ou até ignorado acerca de um determinado espaço ou território. O avanço das negociações fez-se, muitas vezes, graças à disponibilidade da representação cartográfica dos territórios ou espaços a delimitar.”

FERREIRA, Mario Clemente. O mapa das côrtes e o Tratado de Madrí: a cartografia a serviço da diplomacia. Varia Historia, número 37, página 52, 2007.

Para pensar

Resposta pessoal. Tema para reflexão e debate. O objetivo da atividade é ajudar os estudantes a pensar em soluções para os problemas da realidade brasileira. Reforce, ainda, a diferença de sentido entre “país grande”, que se refere à extensão territorial do Brasil, e “grande país”, que sugere um país com atributos positivos. Incentive-os a consultar os significados da palavra “grande” em dicionários. É importante ressaltar aos estudantes que o sentido das expressões depende do contexto em que elas aparecem.

OUTRAS HISTÓRIAS

Kaingang, as riquezas de nossas terras

A partir dos séculos dezoito e dezenove, o povo Caingângue, da família linguística Jê, passou a conviver com diversas pressões e conflitos por territórios. Os tropeiros no Sul, a construção de ferrovias no Oeste paulista e o avanço das fazendas sobre os seus territórios tradicionais modificaram a fórma de viver desse povo. Hoje, com uma população de 30 mil pessoas, os Caingângue vivem em terras indígenas nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A seguir, leia o trecho de um texto que trata dessas transformações.

“Antes de tudo acabar, antes destes ferroviários invadirem nossas terras, elas eram de uma beleza... reticências as árvores de copas grandes e escuras, pareciam uma onda do mar... Montanhas cobertas de árvores, tudo era verde, tudo era mata, tudo era vida.

Nestas terras habitavam variedades de animais mamíferos, aves... grande variedade de cobras, lagartos e abelhas silvestres. Nas matas habitavam macacos de espécies variadas, onças, veados, antas, capivaras, catetos, ariranhas, etcétera reticências.

Suas terras, nossas terras, nossas muitas terras... Hoje tudo acabou. A maior parte de nossas riquezas se foi por causa de um sentimento chamado ambição. Este foi um dos grandes destruidores de nossas riquezas, que hoje será difícil recuperar do modo como foram antes.”

NAIM, Lidiane Damasceno de Oliveira; KELO, Maurício Pedro Campos. As riquezas de nossas terras. In: MACEDO, Ana Vera (organizador). Uma história Caingângue de São Paulo: trabalho a muitas mãos. Brasília: Méquibarra Coordenação-Geral de Apoio às Escolas Indígenas, 2001. página 15-16.

Aquarela. Um campo gramado com destaque para homens vestindo casacos, camisas, chapéus e botas, portando armas de fogo, em contato com pessoas desnudas, portando arcos e flechas. Ao redor há diversos cachorros pelo terreno.
Aquarela do século dezoito atribuída a Joaquim José de Miranda, membro de uma expedição militar portuguesa que entrou em conflito com o povo Caingângue nos campos de Guarapuava (no atual Paraná), entre 1771 e 1772. Seus desenhos documentam a expansão dos colonizadores sobre as terras indígenas e a redefinição das fronteiras.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A partir das discussões travadas no capítulo sobre a expansão da pecuária, a redefinição de fronteiras e a resistência indígena, bem como o conteúdo da seção “Outras histórias”, sugerimos a atividade a seguir para estabelecer relações entre o passado e o presente quanto aos conflitos em terras indígenas. Incentive os estudantes a pesquisar em sites, revistas e jornais notícias recentes que tratem da questão. Comunidades indígenas são alvo de ataques e sofrem a invasão de suas terras por pecuaristas, fazendeiros e garimpeiros, além da expansão do agronegócio. A Fundação Nacional do Índio (Funái) luta pelos direitos dos indígenas, pela segurança e pela demarcação de suas terras, constantemente ameaçados por interesses políticos e econômicos, principalmente em relação às terras situadas na chamada “Amazônia Legal”. Após a pesquisa dos estudantes, proponha um debate sobre a questão. Intencionamos que eles notem como o conflito por terras é uma questão atual e como a população indígena ainda precisa lutar e resistir à anulação de sua cultura e de seus direitos.

Para saber mais, sugerimos o site da Funái, disponível em: https://oeds.link/dQJvMX. Acesso em: 16 fevereiro 2022.

Fotografia. Uma exposição em um grande salão, com utensílios indígenas, como bolsas, cestas, baldes e colares sobre uma mesa retangular de superfície plana. Ao fundo, sobre vários balcões há outros objetos. No teto, há vários lustres com focos de luz.
Exposição de acervo da etnia indígena Caingângue no Museu Paranaense, em Curitiba, Paraná. Fotografia de 2005.
Fotografia. Um grupo de indígenas, entre homens e mulheres, lado a lado, dispostos em um círculo, sobre um pátio de uma praça. A maioria é vista de costas. Os homens estão com o peito desnudo e vestem bermudas escuras com um desenho vermelho e branco na lateral. Alguns usam adereços sobre a cabeça. A maioria das mulheres veste top, saia e bermuda.
Indígenas da etnia Caingângue fazendo apresentação no centro da cidade de Londrina, Paraná. Fotografia de 2021.

Responda no caderno

Atividades

  1. De que ponto de vista o texto apresenta a expansão sobre os territórios do Sudeste e do Sul?
  2. Como os autores do texto tratam dessa expansão?
Orientações e sugestões didáticas

Outras histórias

  1. O texto apresenta a expansão sobre os territórios do Sudeste e do Sul do ponto de vista dos indígenas que viviam nessas terras.
  2. Os autores apontam que a expansão destruiu as florestas e a fauna da região, que são riquezas difíceis de recuperar. A causa dessa destruição, segundo o texto, foi a ambição.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Diferentes iniciativas contribuíram para o avanço da conquista e colonização portuguesa no interior do território colonial. Aponte a iniciativa que você considera mais importante e argumente em defesa de sua escolha.

  1. Um dos principais objetivos dos jesuítas era converter os indígenas à fé cristã, por julgarem que só dessa fórma eles seriam salvos. Pesquise em livros da biblioteca da escola ou da cidade onde você vive e em sites confiáveis da internet e discuta com os colegas e professor.
    1. Quais eram as religiões dos indígenas?
    2. Você acha que em nossa sociedade as diferentes crenças são respeitadas?
  2. Como os pecuaristas contribuíram para a expansão portuguesa no território colonial?
  3. O Brasil é, atualmente, o quinto maior país do mundo em extensão territorial. Sobre isso, o historiador brasileiro Evaldo Cabral de Mello afirmou de fórma provocativa:

“Eu acho que seria ótimo se tivéssemos respeitado a linha de Tordesilhas. O país hoje seria bem menor e os problemas, talvez, mais administráveis.”

GASPARI, Elio. A fala de Evaldo Cabral de Mello. Folha de São Paulo, 14 julho 1999. Caderno Brasil, página 7.

Forme um grupo e debata essa frase argumentando e ouvindo os argumentos dos colegas. Depois, escreva sua opinião sobre o assunto.


5. Leia o texto a seguir e responda às questões.

Educação brasileira

A partir do século dezesseis até meados do século dezoito, os jesuítas fundaram e administraram missões e colégios no Brasil. As missões tinham como propósito alfabetizar e catequizar os indígenas. Já os colégios pretendiam educar os filhos dos colonos por meio de aulas de Latim, Gramática, Filosofia, Música e Teologia.

Da colonização aos dias atuais, muita coisa mudou na educação brasileira. O ensino deixou de ter um caráter religioso e se tornou laico. Além disso, mais pessoas passaram a ter acesso à escola. No Brasil atual, existem aproximadamente 47 milhões de estudantes matriculados em cêrca de 178 mil escolas básicas. A maioria dessas escolas (cêrca de 77%) é pública. Aos poucos o país está superando a questão da falta de vagas nas escolas. Agora, devemos lutar por uma educação de qualidade.

Texto elaborado pelos autores.

  1. A educação só pode ser desenvolvida em escolas? Em que outros lugares e situações também podemos aprender?
  2. Entreviste pessoas de seu convívio, perguntando: qual é a importância da escola nos dias atuais? Em seguida, compartilhe as respostas das entrevistas com os colegas.
  3. O que você gostaria de aprender na escola onde você estuda? Em sua opinião, o que é uma educação de qualidade? Debata com os colegas.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção contribui para o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

cê gê um (atividade 4);

cê gê três (atividades 6 e 7);

cê gê dez (atividade 5);

cê ê cê agá quatro (atividades 6 e 7);

cê ê agá um (atividades 5 e 7);

cê ê agá quatro (atividades 6 e 7);

ê éfe zero sete agá ih zero nove (atividades 3, 5 e 6);

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividades 5 e 6).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. Resposta pessoal. Entre as iniciativas mais importantes, podemos destacar o bandeirismo, a pecuária e as expedições militares, também conhecidas como oficiais.
    1. Muitos indígenas eram politeístas e acreditavam em deuses da natureza.
  1. Este momento pode ser aproveitado para a inserção de temas contemporâneos transversais relacionados aos diferentes cultos religiosos. Portanto, incentive o debate. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, destaque que, pela legislação brasileira, todo cidadão tem o direito de professar a sua fé, mas sabemos que existem muitos preconceitos das pessoas em relação a alguns tipos de cultos e rituais, principalmente os de matrizes africanas.
  1. Os engenhos do Nordeste “empurraram” a pecuária para o interior, para que não ocupasse o solo de massapé. Assim, os criadores, à procura de boas pastagens, chegaram à região do Rio São Francisco. No Sul, o gado que ficou solto com a expulsão dos jesuítas e o fim das missões atraiu interessados, que logo se transformaram em criadores, formando-se, assim, as estâncias.
  2. As conclusões dos grupos podem ser lidas em voz alta e, depois, discutidas por todos. É importante ressaltar aos estudantes que, para o historiador Evaldo Cabral de Mello, o território brasileiro não deveria ter ultrapassado a linha de Tordesilhas. No texto, ele defende que o tamanho do território dificulta a administração devido às grandes distâncias, à quantidade de problemas encontrados, à diversidade populacional e à variação dos quadros físico, vegetal e climático. Assim, se o território não tivesse se expandido, talvez o número de problemas fosse menor, facilitando a administração do país. Na frase citada, os interesses da elite que detém o poder no país e o mantém nessa situação não são levados em consideração.
    1. , b. e c. Respostas pessoais. Temas para debate. Atividade de leitura inferencial e que faz uso de metodologias ativas. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, ressalte que podemos ensinar e aprender em diferentes situações e diversos locais, como no convívio com a família e amigos, na escola, em museus, comunidades, instituições etcétera Para realizar o trabalho com entrevistas, consulte orientações no tópico 5.4, “Fontes orais”, deste manual.

6. Os bandeirantes ficaram conhecidos como homens corajosos que ajudaram a aumentar o território do país. Ou como homens violentos, que prendiam e escravizavam pessoas. Afinal, eles foram heróis ou vilões? Talvez nem uma coisa nem outra. A seguir, apresentamos duas fontes que fazem referência aos bandeirantes. A primeira é um texto do século dezessete, escrito pelo padre Antônio Vieira. A segunda fonte é um monumento histórico do século vinte, criado pelo artista Victor brêchêrê, localizado na cidade de São Paulo.

“E, perguntando eu a um dos cabos desta entrada [expedição], como se haviam com eles [com os indígenas], me respondeu com reticências paz de alma: ‘A esses dávamos-lhes uma carga cerrada, caíam uns, fugiam outros reticências.’ Isto me respondeu este capitão como se contara uma ação muito louvável; e assim fala toda esta gente nos tiros que fizeram, nos que lhe fugiram, nos que alcançaram, nos que lhe escaparam, e nos que mataram reticências.

Todos estes homicídios e latrocínios se toleram em um reino tão católico como Portugal reticências. Por que são concedidos aos sertanistas de São Paulo estes privilégios? Declaram reticências que [devido ao] ouro que se tira nas minas de São Paulo reticências ficam tanto em sua graça que dos seus pecados lhe fazem virtudes.”

AZEVEDO, João Lúcio de (organizador). Cartas do padre Antônio Vieira, tomo um. Coimbra: Imprensa de Universidade, 1925. página 414 e 415. (Trecho de carta escrita em 1653 pelo jesuíta, político e diplomata Antônio Vieira).

Fotografia. Destaque para um monumento de pedra retratando um grupo de homens enfileirados, puxando uma canoa, atrás de um homem sobre o dorso de um cavalo.
Monumento às bandeiras, obra de Victor brêchêrê, 1953, que está localizado na entrada do Parque Ibirapuera, em São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2021.
  1. Como o padre Antônio Vieira avalia as atitudes dos bandeirantes?
  2. Como os bandeirantes foram representados na obra de brêchêrê?

7. A maior parte dos monumentos públicos é feita para fixar a memória de pessoas e acontecimentos. Vamos fazer uma pesquisa de campo e produzir um relatório sobre eles. Para isso, a classe deve ser dividida em grupos, e cada grupo vai acompanhar as etapas a seguir.

  1. Escolham um monumento público da cidade e façam uma visita a ele.
  2. No local, tomem notas sobre o monumento:
    • qual é a altura aproximada dele?
    • existe um pedestal e uma estátua ou é constituído de uma peça única?
    • de que materiais o monumento é feito?
  1. Transcrevam suas anotações sobre o monumento e escrevam um relatório sobre ele. Além dos dados coletados na visita, o relatório deve apresentar uma reflexão sobre a memória que esse monumento pretende fixar.
  2. Divulguem o relatório em um site ou blog da classe ou da escola.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

  1. A questão parte do princípio de que o pluralismo deve estar sempre presente, sendo confrontadas concepções formuladas em tempos diversos. Ao fazer isso, estimula o uso do método científico do historiador, com vistas ao desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico dos estudantes.
  1. O padre Antônio Vieira avalia as atitudes dos bandeirantes como “homicídios” e “latrocínios”, “maldades” que não eram investigadas ou punidas pelas autoridades.
  2. No Monumento às bandeiras, de vitor brêchêrê, os bandeirantes parecem ser exaltados como desbravadores do sertão, homens corajosos e fortes que contribuíram para a expansão do território brasileiro.

7. A atividade prevê leitura inferencial e elaboração de pesquisa e produção de relatório, sendo ambas metodologias ativas. A escolha do monumento deve ser feita pelos grupos. As anotações devem incluir o que se pede no enunciado, sendo o bronze, o granito e o concreto os materiais mais comuns em monumentos públicos. Caso não exista um monumento público na cidade, peça que os estudantes (também em grupos) proponham uma personagem ou situação que merece ter um monumento construído em sua homenagem. A pesquisa deverá responder à questão: se vocês fossem construir um monumento para seu município, qual tema escolheriam? Jornais, sites confiáveis na internet e livros podem ser consultados para a elaboração da pesquisa. Além do relatório, o resultado final pode se traduzir em um desenho ou uma fotomontagem do monumento proposto. Observe quais tipos de monumentos foram escolhidos, as razões dos estudantes para tais escolhas e a quais grupos sociais esses monumentos estão relacionados. É importante estimulá-los a levar em consideração os povos originários e afrodescendentes, identificando e refletindo sobre a presença ou ausência de monumentos dedicados a esses grupos.