UNIDADE 4 EXPANSÃO COLONIAL NO BRASIL

CAPÍTULO 12 SOCIEDADE MINERADORA

A descoberta de ouro no Brasil, no século dezoito, nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás levou muita gente a sonhar em ficar rica da noite para o dia. Por isso, houve grande corrida em direção às minas. No entanto, na sociedade do ouro, a riqueza brilhou para poucos.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para começar

O que você entende pela frase: “Sonhar com ouro, viver sem tesouro”? Comente.

Fotografia. Vista de uma praça com chão de pedras, cercada por casas de paredes brancas e janelas nas fachadas, distribuídas de forma simétrica. Ao fundo, uma igreja com uma torre central, contendo um relógio de ponteiros, escadarias laterais e duas entradas frontais em formato de arcos.
Vista da Praça Tiradentes em Ouro Preto, Minas Gerais, o principal núcleo urbano na área de mineração no Brasil colonial. Fotografia de 2020. A descoberta de metais preciosos foi importante para o enriquecimento da metrópole portuguesa e para o povoamento e o desenvolvimento do interior da colônia. Marcas dessa época podem ser encontradas até hoje na arquitetura das cidades mineradoras, as quais constituem valioso patrimônio histórico e cultural da humanidade.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero sete agá ih um zero
  • ê éfe zero sete agá ih um dois
  • ê éfe zero sete agá ih um três
  • ê éfe zero sete agá ih um quatro

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão do tema tratado, a exploração do ouro e a sociedade mineradora no período colonial, e de assuntos correlatos, como os conflitos que a descoberta do ouro ocasionou, as medidas tomadas pela Coroa portuguesa para controlar a produção de pedras e metais preciosos na colônia, além da escravização nas minas.

  • Conhecer o contexto histórico da descoberta e da exploração das jazidas de ouro e pedras preciosas nas regiões de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
  • Compreender a Guerra dos Emboabas.
  • Estudar as ações político-administrativas da Coroa portuguesa na América.
  • Identificar o impacto da atividade mineradora sobre a vida na região das minas, principalmente no que se refere à urbanização.
  • Aprofundar os estudos com fontes históricas.

Para começar

A frase revela um contraste entre o “sonho dourado” e a vida dura da maior parte da população da região das minas. Segundo a historiadora Laura de Mello e Souza, o cenário do ouro era enganador, isto é, o “fausto era falso”. Contudo, é curioso que esse tema da pobreza na sociedade mineira apareça tão pouco na historiografia. Explique aos estudantes que a produção do ouro é uma atividade extrativa e, por isso, sempre acaba, não é eterna. No entanto, tem o poder de atrair pessoas que buscam o caminho mais curto para o enriquecimento.

Fotografia. Vista aérea de uma paisagem de densa mata e morros cercando um vilarejo com pequenas casas e uma igreja central, com uma torre.
Vista de área de extração de minério de ferro em Itabira, Minas Gerais. Fotografia de 2021. A mineração é ainda uma importante atividade econômica em Minas Gerais, embora não se trate mais da extração de ouro e provoque forte impacto ambiental, como nos desastres ocorridos em Mariana (em 2015) e em Brumadinho (2019).
Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes brancas, duas torres laterais com tetos em formato de cúpula, uma cruz central, muros a circundando e um portão frontal. Sobre os muros, diversas esculturas.
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas, Minas Gerais. Fotografia de 2020. As esculturas em pedra-sabão, feitas em tamanho natural entre 1796 e 1805, representam os doze profetas e são de autoria de Aleijadinho (1730-1814), principal expoente do Barroco brasileiro.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Este capítulo concentra-se na sociedade e nas atividades econômicas e culturais desenvolvidas em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, entre fins do século dezessete e o século dezoito.

O ouro extraído da região das minas durante a colonização portuguesa teve muitos destinos. Apesar de a imensa riqueza produzida ter sido deslocada para a Europa, uma parcela transformou-se em benefício material e cultural de longo prazo para o Brasil – como o patrimônio artístico e arquitetônico das chamadas “cidades históricas” mineiras.

Produção de ouro

A produção de ouro no Brasil colonial foi imensa. A quantidade de metal extraída em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Bahia correspondeu à metade de toda a produção mundial entre os séculos quinze e dezoito.

Minas Gerais

Entre 1693 e 1695, grandes quantidades de ouro foram encontradas em uma área que passou a ser chamada de Minas Gerais. Em busca de ouro, pessoas de diferentes localidades deslocaram-se para a região das minas. Além da população colonial, o ouro atraiu também os portugueses que moravam no reino (reinóis).

Durante os primeiros 60 anos do século dezoito, calcula-se que, a cada ano, de 8 a 10 mil reinóis partiam em direção às minas. Era muita gente saindo de Portugal. Por isso, em 1720, o governo português limitou as emigrações para a América portuguesa.

De acordo com o jesuíta Antonil, o sonho de ficar rico era tão grande que várias pessoas faziam enormes sacrifícios para chegar até as minas. Para lá foram brancos, mestiços, indígenas e negros. Eram homens e mulheres, idosos e jovens, nobres e pessoas do povo. Muitos que chegaram a essa região inóspitaglossário montaram barracas improvisadas e, sem alimentos suficientes, sofreram fome e morreram à míngua.

Com a chegada de toda essa gente, a região transformou-se rapidamente. Surgiram arraiaisglossário , vilas e cidades; em 1786, quase quatrocentas mil pessoas viviam em Minas Gerais. Isso representava cêrca de 15% da população de toda a América portuguesa.

Gravura. Vista de uma paisagem com montanhas, morros e vegetação densa, e entre a mata e os morros, vilarejos com casas pequenas e próximas. À frente, um grupo de pessoas próximas a um riacho.
Vila Rica, gravura de iôrram mórritis ruguendás, 1835. Vila Rica é a atual Ouro Preto.
Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. A descoberta de ouro despertou o sonho de ficar rico em muitas pessoas que se dirigiram a Minas Gerais. Em sua opinião, o desejo de enriquecer é um “grande sonho” das pessoas? Com os colegas, organize um diálogo sobre o tema. Cada um deve argumentar e também ouvir os argumentos dos demais.
  2. Que sonhos você gostaria de realizar durante sua vida? Quais são seus planos para conseguir realizá-los?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Produção de ouro” e seus subitens favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê dois, cê ê cê agá sete, cê ê agá um, cê ê agá doise cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois, ê éfe zero sete agá ih um três e ê éfe zero sete agá ih um quatro, ao identificar as principais regiões mineradoras do período colonial, ao tratar das grandes migrações populacionais que ocorreram em direção a Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás e ao descrever as diferentes relações comerciais que se desenvolveram nessas regiões da América portuguesa.

Para pensar

  1. Resposta pessoal. Tema para debate. Oriente a discussão com base na vivência dos estudantes, ou seja, no que eles observam na sociedade e no cotidiano sobre essa questão. É provável que eles citem, por exemplo, a busca por bens materiais e a elevada carga de trabalho para alcançar melhores condições de vida.
  2. Resposta pessoal. Esta é uma oportunidade relevante para que os estudantes compartilhem seus projetos de vida com os colegas. Incentive-os a expressar seus sonhos e objetivos, refletindo ao mesmo tempo sobre os meios para sua realização e ressaltando a necessidade da adoção de práticas de comportamentos éticos, colaborativos, solidários e de respeito aos outros e a si mesmo na busca desse ideal.

Guerra dos Emboabas

Os paulistas que descobriram o ouro em Minas Gerais queriam o direito exclusivo de explorá-lo. Porém, os reinóis e moradores de outras capitanias também pretendiam se apropriar dessa riqueza. Ocorreram, então, disputas pelo direito de exploração do ouro.

O conflito mais violento durou de 1707 a 1709 e ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. Os paulistas chamavam os portugueses de emboabas, que em Tupi significa “aves de pés cobertos ou emplumados”, por causa das botas que os reinóis usavam. Os paulistas também chamavam emboaba quem vinha de outras capitanias. Nos dois casos, era um tratamento desrespeitoso.

O fim da Guerra dos Emboabas foi desfavorável aos paulistas. Após dois anos e meio de lutas, muitos combatentes morreram e os paulistas não conseguiram a tão sonhada exclusividade na exploração das minas.

Procurando evitar novos conflitos, o governo português interveio na região para controlar as minas com mais rigor. Além disso, a Coroa elevou a vila de São Paulo à categoria de cidade e criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Posteriormente, em 1720, a capitania foi desmembrada em duas partes: São Paulo e Minas Gerais.

Pintura. Representação com diversas imagens. À esquerda, uma igreja com torres laterais e uma cruz central no teto, e homens vestindo túnicas à frente. À direita, um grupo de homens ao redor de uma árvore, alguns com o peito desnudo; outros vestindo casacos e chapéus. Também à direita, um homem ajoelhado sobre o chão, vestindo uma túnica escura, com as palmas das mãos unidas ao centro do corpo, e rosto voltado para cima. Ao centro, uma casa com janelas e uma entrada central, telhado triangular e homens portando armas de fogo pelas laterais. No canto superior esquerdo, um vilarejo com casas e construções entre matas e árvores. No canto superior direito, entre nuvens, uma mulher vestindo uma túnica azul, segurando uma criança em seu colo.
esvóto sobre a Guerra dos Emboabas, pintura de autoria desconhecida, 1749, encomendada pelo português Agostinho Pereira da Silva, que, vindo ao Brasil em busca de ouro, aqui chegou durante a Guerra dos Emboabas.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Para aprofundar os conhecimentos historiográficos sobre a Guerra dos Emboabas e sua problematização pelos historiadores, sugerimos a leitura do excerto a seguir.

Guerra dos Emboabas: limites e possibilidades de estudo

“Do ponto de vista historiográfico, os estudos sobre a Guerra dos Emboabas limitaram-se a uma crônica mais ou menos documentada dos acontecimentos, em que o principal objetivo consistia em descobrir o que de fato se passou, trazendo à tona a verdade do episódio. reticências

Outro equívoco muito comum em que incorreram as análises tradicionais sobre a Guerra dos Emboabas consiste no pecado capital da História – o anacronismo, expresso na tendência a reduzir o evento a uma racionalidade que é a do nosso tempo. reticências

Outra limitação recorrente nos estudos sobre o tema refletiu-se no recorte temporal e espacial muito restrito, dando lugar a abordagens excessivamente focadas na Guerra dos Emboabas, sem que se buscasse articulá-la ao contexto mais amplo do Império Português ou da própria história dos atores nela envolvidos. reticências

De todas as considerações anteriores resulta a constatação de que reticências o tema da Guerra dos Emboabas jamais foi explorado como um campo privilegiado para o estudo da cultura política peculiar que floresceu nas Minas, construída na experiência histórica de homens e mulheres que traziam na bagagem concepções, ideias e tradições sobre o universo da política. reticências

reticências Em vez de uma mera disputa por terras e riquezas minerais, a Guerra dos Emboabas foi, sobretudo, um conflito entre práticas e concepções políticas de paulistas e forasteiros, as quais, provenientes de experiências históricas diferentes, desembocariam em fins do século dezessete no cenário explosivo das Minas.”

ROMEIRO, Adriana. Guerra dos Emboabas: balanço histórico. Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, volume 1, número 45, página 113-114, janeiro até junho, 2009.

Mato Grosso e Goiás

Depois da Guerra dos Emboabas, os paulistas continuaram procurando metais preciosos em outras regiões. Em 1718, acharam jazidas de ouro no atual estado de Mato Grosso. Com essa descoberta, no ano seguinte, foi fundado o arraial de Cuiabá, elevado em 1727 à condição de vila, denominada Vila Real de Cuiabá. Mais tarde, Cuiabá tornou-se capital de Mato Grosso. Em 1725, foi encontrado ouro no atual estado de Goiás. Ali, em 1726, foi fundado o arraial de Santana, denominado, a partir de 1736, Vila Boa de Goiás, que deu origem à cidade de Goiás. Além de explorar o ouro, outro objetivo da Coroa portuguesa era ocupar a região, pois Mato Grosso e Goiás estavam mais perto das minas de prata exploradas pelos espanhóis, onde hoje ficam o Peru e a Bolívia.

Principais regiões mineradoras (século dezoito)

Mapa. Principais regiões mineradoras (século dezoito). Destaque para o território do Brasil em seu limite atual, dividido entre estados. Em roxo, 'Regiões mineradoras', compreendendo as vilas e cidades: Cananéia, Santos, Iguape, São Paulo e Taubaté (no atual estado de São Paulo); São João del-Rei, Vila Rica, Sabará, Diamantina, Ribeirão do Carmo e São José del-Rei (Tiradentes) (no atual estado de Minas Gerais); Vila Boa (no atual estado de Goiás); Cuiabá e Vila Bela (no atual estado de Mato Grosso); Jacobina e a Chapada Diamantina (no atual estado da Bahia). No canto inferior esquerdo, rosa dos ventos e escala de 360 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 38.

Responda no caderno

Ícone. Lupa indicando o boxe Observando o mapa.

observando o mapa

De acordo com a divisão política atual em estados, onde se situavam as principais áreas mineradoras na época colonial?

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Em todos os locais onde houve mineração na época colonial, constatou-se a criação de núcleos de povoamento. Esse processo também ocorreu em Goiás e demonstra como a reunião de muitas pessoas em um tempo curto trouxe problemas para a vida cotidiana, como a falta de mão de obra para a construção dos prédios e o alto custo das edificações. No texto a seguir, menciona-se a “oitava de ouro”: cada oitava correspondia a .1200 réis, a moeda corrente naquela época.

Preços em Goiás na época da mineração

reticências me resolvi no primeiro de dezembro [de 1748] apossar do Arraial de Pilões e Rio Claro reticências e pondo logo em prática com alguns mestres a fazerem a obra [da Intendência dos Diamantes], assentamos que era mais conveniente que as paredes fossem de pau a pique, cobertas de barro reticências. Porém, ainda tendo feito assim a obra pediram por ela três mil oitavas. O Provedor da Fazenda que veio comigo para assistir a este ajuste foi de parecer que se reservasse a última conclusão de rematação desta obra para se fazer nesta vila, porque convocando-se todos os oficiais que nela há, poderia haver algum que a fizesse mais barata. Ultimamente feitas as diligências o último lance é de mil e oitocentas oitavas de ouro reticências. Ainda por alguns dias mais se devem continuar as diligências, para ver se há quem a torne mais barata, mas não havendo menor lance reticências, a necessidade e a precisão obrigam a que se faça por este preço.”

CARTA do governador d. Marcos de Noronha à côrte, datada do ano de 1749. In: PALACÍN, Luís. História de Goiás em documentos. Goiânia: edição da ú éfe gê, 1995. página 42.

Observando o mapa

De acordo com a divisão política atual em estados, as principais áreas mineradoras na época colonial estavam situadas em Mato Grosso, Goiás, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

PAINEL

Goiás Velho

Goiás tornou-se capitania em meados do século dezoito, quando foi desmembrada da capitania de São Paulo. A cidade de Goiás, também conhecida como Goiás Velho, foi séde administrativa da capitania, da província e do estado de Goiás, de 1748 a 1937. O local reúne um importante patrimônio histórico-cultural.

Fotografia. Destaque para uma rua de pedra estreita, cercada por pequenas casas, lado a lado, com janelas retangulares na fachada, e uma igreja com uma torre central ao fundo.
Habitada por cêrca de 23 mil pessoas, Goiás Velho tem ruas estreitas pavimentadas de pedras e com o mesmo traçado do século dezoito. Fotografia de 2021.
Fotografia. Destaque para a fachada de uma igreja, com paredes rosas, janelas no piso superior e uma entrada central retangular. No topo da construção, uma cruz. Às laterais, pequenas casas lado a lado.
O patrimônio histórico de Goiás Velho inclui várias igrejas católicas, como a de Nossa Senhora da Boa Morte. Fotografia de 2021. Sua construção foi concluída em 1779. Atualmente, funciona ali o Museu de Arte Sacra.
Fotografia. Fachada de um edifício de dois andares, com paredes brancas, diversas janelas retangulares e uma porta central. Ao redor, árvores com volumosas copas.
O Museu das Bandeiras é um imponente edifício do século dezoito construído em taipa de pilãoglossário . Fotografia de 2021. Ali já funcionaram a Câmara Municipal, a cadeia e a casa da fundição, onde era derretido o ouro extraído das minas de Goiás.
Fotografia. Destaque para uma casa de paredes brancas, telhado triangular e uma pequena ponte de madeira com cercados metálicos de cor branca.
Casa onde viveu Cora Coralina (1889-1985), no centro histórico da cidade de Goiás, às margens do Rio Vermelho. Fotografia de 2018. Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e é reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras. A casa da poetisa é hoje um museu, e o centro histórico da cidade é considerado patrimônio mundial da humanidade pela unêsco desde 2001.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Painel” favorece o desenvolvimento das competências cê gê três e cê ê cê agá dois, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois.

Outras indicações

Para mais informações sobre o museu instalado na casa onde morou Cora Coralina, consulte a página do museu. Disponível em: https://oeds.link/YwIyFJ. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Atividade complementar

Com base na seção “Painel” sobre Goiás Velho, proponha as atividades a seguir.

1. Segundo o texto, quais são os principais patrimônios histórico-culturais de Goiás Velho? Em sua interpretação, por que é importante preservá-los?

Resposta: Segundo o texto, os principais patrimônios histórico-culturais de Goiás Velho são os trechos das ruas da época que se mantêm conservados, com seu traçado estreito e o calçamento de pedras irregulares e desniveladas; numerosos imóveis, entre os quais estão exemplares da arquitetura religiosa e outras edificações imponentes da cidade, como o Museu das Bandeiras, construído no século dezoito, onde antes funcionava a casa de fundição do ouro extraído das minas, além da casa de Cora Coralina, importante escritora do século vinte. Em sequência, espera-se que os estudantes destaquem a importância da preservação desses patrimônios para a história e para a memória dos brasileiros.

2. Você conhece os patrimônios de seu município? Cite alguns deles.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes consigam destacar alguns dos patrimônios do município onde vivem. Se julgar necessário, eles podem realizar uma pesquisa sobre o tema, a fim de aprofundar a discussão e valorizar a contribuição dos povos que criaram os patrimônios encontrados na pesquisa.

contrôle e exploração das minas

O ouro encontrado na colônia pertencia ao Reino de Portugal, que cedia lotes de terra a quem pudesse explorá-los. O trabalho era feito por trabalhadores escravizados em locais chamados lavras ou datas. No século dezoito, grande parte do ouro extraído era de aluviãoglossário , ou seja, encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado a areia, cascalho e argila. Com o avanço da exploração de ouro, o comércio de africanos escravizados também aumentou na região mineradora. Lá eles eram forçados a extrair ouro dos rios, permanecendo o dia inteiro com as pernas dentro da água, atoladas no barro.

A Coroa portuguesa, que enfrentava dificuldades econômicas desde a Restauração em 1640, via no ouro uma solução para seus problemas. Com o interesse em aumentar a arrecadação, fiscalizava a exploração das minas, cobrando impostos sobre o ouro encontrado.

Fotografia. Destaque para o interior de uma igreja, com paredes douradas, afrescos no teto, lustres pendendo do teto e das laterais do salão, e um altar ao fundo.
Interior da Igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto, Minas Gerais. Fotografia de 2019. Considerada uma das igrejas mais ricas do país, toda a pintura de seu interior é folheada a ouro.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “contrôle e exploração das minas” e seus subitens, bem como o boxe “Para pensar”, favorecem o desenvolvimento das competências cê gê dois, cê ê agá dois e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um três e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois tratam do estabelecimento de uma ampla rede de comércio na América portuguesa.

Texto de aprofundamento

Sugerimos a leitura do excerto a seguir para refletir acerca da cobrança de impostos sobre a mineração, principalmente no que se refere à prática da capitação.

Críticas ao imposto da capitação

“A capitação e o censo escoravam-se em princípios de igualdade tributária e de proporcionalidade que nenhuma outra fórma de cobrança pôde assegurar. Pretendia-se que fosse um processo ‘mais justo e livre de desigualdades’. Talvez isso não interessasse aos pagadores mais abonados. A capitação tem sido dita ‘a maior vexação do povo destas Minas’. Mas os queixosos são suspeitos. É gente da governança que sempre reclamaria porque esta teria sido a mais injusta das fórmas de cobrança – ou seria a que menos desvios autorizava? – enquanto a afastava da cobrança, o que mais protestos motivaria ainda. Boas razões para não ser bem-vinda. Fosse como fosse, vigorou de 1735 a 1750 e vigorou porque era uma fórma de cobrança que implicava uma sociedade estável e já controlada. reticências

reticências Sempre o procedimento da capitação foi considerado gravoso, em especial porque substituía um imposto sobre o produto da mineração por um tributo pessoal. Muitos o pagavam, que nada tinham a ver com o metal ou com os trabalhos nas terras minerais. Nem essa era a lógica interna do dispositivo fiscal, o modo de se justificar ou de se executar. Tratava-se de um imposto geral sobre os rendimentos, específico para as populações da capitania das Minas Gerais, que substituía o tributo devido ao rei do quinto do ouro minerado e que se aproximava de um imposto de renda. Apesar de tudo ter passado razoavelmente bem nas vilas das Minas durante estes dezesseisbarradezessete anos em que vigorou a capitação (1735-1750), nunca fôra o processo sentido como bom; menos ainda considerado justo. E assim tem sido apreciado pela história, com poucas exceções.”

MAGALHÃES, Joaquim Romero. A cobrança do ouro do rei nas Minas Gerais: o fim da capitação: (1741-1750). Tempo, Niterói, volume 14, número 27,página 121-124, 2009.

Montanha de impostos

No início do século dezoito, foram criadas as Intendências das Minas, uma em cada capitania onde houvesse exploração de pedras ou metais preciosos. Esses órgãos tinham várias funções: estimular a produção, distribuir terras para exploração dos metais, fiscalizar o trabalho dos mineradores, evitar o contrabando e cobrar impostos.

Um dos impostos era chamado de quinto, pois correspondia à cobrança de 20% (quinta parte) de todo o metal extraído. No entanto, havia casos de sonegação e de contrabando, principalmente de ouro em pó. Para tentar impedir essas ilegalidades, o governo português determinou que o imposto fosse cobrado de acordo com o número de escravizados que os mineradores possuíam. Esse imposto foi chamado de capitação (pago por cabeça).

Com o objetivo de escapar da capitação, muitos mineradores libertavam (alforriavam) seus escravizados e, depois, contratavam alguns deles para trabalhar nas minas em troca de salário ou de parte do ouro explorado. Para os senhores, esse era um jeito de manter seu patrimônio e não gastar com alimentação, roupas e moradia dos cativos. Para os ex-escravizados, a alforria podia significar a miséria. Embora conquistassem a liberdade, era difícil conseguir se sustentar e manter suas famílias.

A cobrança desse imposto vigorou, aproximadamente, de 1735 a 1750, quando o quinto foi restabelecido. A capitação havia sido considerada muito rigorosa, pois obrigava os mineradores a pagar o imposto mesmo que não achassem ouro.

Fotografia. Destaque para uma escultura, vista de frente e por trás. Pela frente, nota-se uma mulher vestindo uma longa túnica marrom, com uma coroa na cabeça, segurando uma criança em seus braços. Aos seus pés, rosto de várias crianças lado a lado. Por trás, nota-se uma abertura para o interior da escultura.
Escultura de madeira com interior oco, feita no século dezoito, pertencente ao Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, Minas Gerais. Esse tipo de escultura muitas vezes foi usado para guardar o ouro em pó ou pedras preciosas contrabandeados das minas. Dessa prática, surgiu a expressão “santo do pau oco”, que significa “alguém que aparenta ser o que não é”.

Responda no caderno

para pensar

Qual é o significado de contrabando, impostos e sonegação? Depois de pesquisar e anotar o significado desses termos no caderno, reflita com os colegas: essas práticas ainda ocorrem na sociedade de hoje? Argumente.

Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

A discussão é livre, mas é importante destacar que impostos são taxas cobradas pelo Estado sobre serviços, patrimônios ou mercadorias; sonegação é o não pagamento desses impostos por meios escusos; e contrabando é o comércio ilegal de mercadorias, de modo que os impostos não incidem sobre elas. Não deixe de discutir com os estudantes que as práticas ilegais de sonegação e contrabando estão muito mais próximas de nós do que imaginamos, e que muitas vezes podemos estar compactuando com elas (por exemplo, ao adquirirmos produtos piratas). Essa questão traz uma boa oportunidade para abordar com eles aspectos do tema contemporâneo transversal Educação fiscal.

Casas de fundição

Para facilitar a cobrança do quinto, o governo português criou as casas de fundição em 1719 (que foram extintas durante a cobrança da capitação e retomadas em 1750). Nesses locais, todo o ouro seria fundido e transformado em barras.

Ao receber o ouro, os funcionários das casas de fundição retiravam um quinto do total, derretiam, transformavam em barras e as marcavam com um selo da Coroa portuguesa. Esse selo comprovava o pagamento do imposto à Fazenda Real. Somente o ouro quintado podia ser negociado legalmente.

Quem carregasse pepitas, ouro em pó ou barras não quintadas poderia sofrer penas severas, como a perda de todos os bens ou mesmo a prisão perpétua.

As medidas tomadas pela Coroa para evitar a sonegação de impostos e o contrabando de ouro podem deixar a impressão de que somente os colonos praticavam contrabando. Mas os funcionários do rei também desviavam ouro e pedras preciosas.

Fotografia. Uma pequena barra de ouro, estreita e achatada, com inscrições. Entre elas, um selo à esquerda, e indicações numéricas à direita.
Barra de ouro feita na Casa de Fundição de Sabará, restabelecida em 1751. As casas de fundição foram criadas para melhor contrôle da produção de ouro e para facilitar a cobrança do quinto pela Coroa portuguesa.

Revolta de Vila Rica

Em 1720, colonos de Vila Rica, em Minas Gerais, se revoltaram contra a instalação das casas de fundição. A vila foi tomada por cêrca de duas mil pessoas, sob o comando do tropeiro (condutor de tropas de mulas e cavalos) Filipe dos Santos (1680-1720). Além de mineradores, o grupo era composto de centenas de escravizados armados por seus senhores.

Os revoltosos exigiam que o governador de Minas Gerais suspendesse a instalação das casas de fundição e reduzisse os impostos. O governador fingiu aceitar as exigências. Com isso, ganhou tempo para organizar suas fôrças e reagir à revolta. Pouco depois, os líderes da revolta foram presos, Filipe dos Santos foi executado e seu corpo foi exposto em praça pública.

Pintura. No centro da tela, em uma área iluminada, dois homens estão sendo imobilizados. Um deles, tem postura altiva e os punhos cerrados, está ferido e veste uma camisa branca com rasgos e uma calça amarela puída. À esquerda, um cavalo de pelagem branca, com a cabeça voltada para baixo. Também à esquerda, um homem de vestes simples estendendo o braço à sua frente, em direção a um outro homem, sentado no chão, com o peito desnudo, cabeça inclinada para baixo e as mãos esticadas para frente. À direita, sobre a escada de uma edificação, um homem em trajes nobres, sentado, vestindo um casaco verde com detalhes dourados, ladeado por outros homens, em pé, que o acompanham. Ao fundo, uma multidão de pessoas. Ao redor, edifícios, uma igreja e casas.
Julgamento de Filipe dos Santos, pintura de Antônio Parreiras, cêrca de 1923.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Ao explicar aos estudantes o funcionamento das casas de fundição, apresente a eles as descobertas arqueológicas sobre aquela que parece ter sido a primeira delas, localizada na cidade de Iguape São Paulo, mencionada no “Texto de aprofundamento” a seguir. É uma oportunidade relevante para a discussão sobre os vestígios arqueológicos e a sua integração com o conhecimento histórico, a fim de valorizar a relação entre as áreas.

Texto de aprofundamento

Para se aprofundar na questão das casas de fundição e na descoberta da primeira instituição desse tipo em Iguape (São Paulo), pode-se acessar o artigo cujo trecho é apresentado a seguir.

Arqueologia da primeira casa de fundição de ouro do Brasil

“O objetivo do artigo é apresentar o resultado da pesquisa arqueológica realizada no quintal da casa onde atualmente está localizado o Museu Municipal da cidade de Iguape. A escavação arqueológica visou confirmar a indicação de o local ter sido originalmente a primeira casa de fundição de ouro, uma vez que, em decorrência das várias transformações sofridas pela construção, não existia na atualidade nenhuma evidência material desta antiga atividade. A pesquisa realizada evidenciou os remanescentes que confirmaram a atividade de fundição de ouro no terreno comprovando a informação histórica.”

iscatamáquia, M. C. M. et al. Arqueologia da primeira casa de fundição de ouro do Brasil, Iguape, ésse pê. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, número 22, página111, 2012.

Outras indicações

CANOVA, Loiva. Os índios em Mato Grosso no governo de Antônio Rolim de Moura (1751-1765). Histórica, São Paulo, número 32, 2008. Disponível em: https://oeds.link/nM0yan. Acesso em: 4 abril 2022.

Aborda a questão dos aldeamentos jesuíticos em Mato Grosso e as transformações trazidas pela catequese e pelas epidemias para a vida dos indígenas.

NOGUEIRA, André; LAMAS, Fernando Gaudereto. Algumas considerações sobre a repressão e a punição nas Minas setecentistas. Histórica, São Paulo, número 10, 2006. Disponível em: https://oeds.link/Pdzddb. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Trata da resistência indígena, da presença negra e das constantes rebeliões de colonos contra a tributação portuguesa nas áreas da mineração.

Exploração de diamantes

A exploração de diamantes começou em 1729, no Arraial do Tijuco (atual Diamantina) e Serro do Frio ou Vila do Príncipe (atual Sêrro). Calcula-se que, entre 1730 e 1830, tenham sido extraídos cêrca de 160 quilogramas de diamantes dessa região.

Gravura. Uma área rochosa, de terreno acidentado, pelo qual homens trabalham.  Ao fundo, um fluxo de água por entre as rochas e o solo. Os homens vestem roupas simples e executam diferentes tarefas. Alguns erguem picaretas em direção ao solo, outros carregam bacias sobre suas cabeças. Ao fundo, observando o trabalho, um homem vestindo casaco, camisa, botas e chapéu, apoiando com uma das mãos um instrumento longo sobre o solo.
Pintura mostrando a exploração de diamantes no Distrito Diamantino, feita pelo artista e engenheiro italiano Carlos Julião, século dezoito.

Diante das dificuldades para controlar a exploração de diamantes, o governo português decidiu entregar a extração das pedras a exploradores particulares que tivessem condições de assumir o negócio.

A partir de 1740, teve início um contrato entre a Coroa portuguesa e um contratador, pessoa responsável pela exploração dos diamantes e pela entrega de parte deles à Fazenda Real. Essa fórma de exploração durou até 1771, quando a Coroa decidiu criar a Junta da Administração dos Diamantes.

Os fiscais da Junta tinham poderes sobre a população que vivia na região de exploração de diamantes, chamada de Distrito Diamantino. Podiam, entre outras coisas, confiscar bens e controlar a entrada e a saída de pessoas. Mas nem assim o contrabando de diamantes acabou.

Gravura. Homens com os peitos desnudos, sentados sobre bancos de madeira, segurando bacias em direção a um pequeno rio com água. Ao redor deles, três homens vestindo chapéus, camisas e casacos. Um deles, sentado, à esquerda, observa os trabalhadores e apoia uma arma de cano longo ao chão. Em segundo plano, terreno acidentado e montanhoso.
Gravura que representa trabalhadores lavando diamantes em Minas Gerais sob a vigilância constante de capatazes, feita com base na obra de gótlíbi tobías uíláime, produzida em 1840.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

A exploração de diamantes não era feita exclusivamente por homens, embora eles fossem a maior parte da mão de obra nessa atividade econômica. A seguir, leia o resumo de uma pesquisa que discute a presença de mulheres escravizadas e forras na mineração de ouro e de diamantes.

Mulheres na mineração

“[Mulheres trabalharam] na capitania de Minas Gerais, Brasil, durante o período colonial, entre a década de 1680, quando se dá a descoberta de ouro na região, e 1822, ano da independência do Brasil reticências. Mulheres africanas escravas de todas as procedências que chegavam às Minas se envolveram na exploração de ouro e diamantes, sendo que, nos primeiros tempos, destacaram-se, entre elas, as oriundas da região da Costa da Mina, conhecidas como escravas ‘mina’, já acostumadas à mineração na África. Cativas foram essenciais em várias etapas do processo de exploração mineral: estiveram presentes e foram importantes para o reconhecimento dos locais mais propícios ao aparecimento do ouro, para o domínio das técnicas de exploração da aluvião no leito dos rios, e para o emprego das ferramentas apropriadas, sendo corresponsáveis pela transmigração da tecnologia africana de mineração que foi fartamente empregada na exploração mineral. Muitas mulheres forras continuaram a se envolver na mineração, algumas chegando a reunir algum pecúlio.”

FURTADO, Junia Ferreira. Mulheres escravas e forras na mineração no Brasil, século dezoito. Revista Latinoamericana de Trabajo y Trabajadores, número 1, página 1, novembro 2020-abril 2021. Disponível em: https://oeds.link/7htaE0. Acesso em: 20 fevereiro 2022.

Chica da Silva, vida e contexto

Francisca da Silva de Oliveira (1732-1796), ou simplesmente Chica da Silva, tornou-se uma famosa personagem da sociedade mineradora colonial. Ela era filha de uma escravizada minaglossário e de um homem branco. Nasceu escravizada, mas conquistou sua alforria em 1753. Sua liberdade foi concedida por seu proprietário, o contratador do Distrito Diamantino João Fernandes de Oliveira (1720-1779).

Entre 1753 e 1770, Chica e João Fernandes moraram juntos e constituíram uma família. Porém, foram impedidos de se casar devido às leis e aos costumes da época. Nessa união, eles tiveram treze filhos.

João Fernandes reconheceu a paternidade de todos os filhos e garantiu que eles fossem seus legítimos herdeiros. Chica cuidou para que suas filhas estudassem na melhor instituição religiosa da região, o Recolhimento de Macaúbas.

Chica da Silva morreu em 1796, sendo enterrada com honras na Igreja de São Francisco de Assis. Assim terminou a trajetória de uma mulher forraglossário que, mesmo vivendo em uma sociedade profundamente desigual, conquistou uma posição social importante e se inseriu na elite mineradora.

Fotografia. Fachada de uma casa com dois andares, com paredes brancas, janelas retangulares verdes e uma porta central amarela. À frente, na rua, uma mulher, uma jovem e uma menina, caminham pela rua feita com pedras.
Casa em que Chica da Silva viveu com o contratador João Fernandes de Oliveira, provavelmente entre 1755 e 1770, em Diamantina, Minas Gerais. Fotografia de 2015. A cidade de Diamantina é considerada patrimônio mundial pela Unesco desde 1999.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

A partir da leitura do texto sobre Chica da Silva, proponha aos estudantes o seguinte questionamento: o que a história dela revela sobre a escravidão? A atividade pode ser realizada oralmente, por meio da análise de exemplos apresentados. Entre outros aspectos, destaque que a história de Chica da Silva revela que os escravizados podiam ser miscigenados (ela era filha de mãe negra africana e pai branco português), eram negociados como mercadorias (ela foi vendida por seu senhor a outro senhor), exerciam trabalhos designados pelos senhores (ela realizava trabalhos domésticos) e só adotavam sobrenome quando alforriados. Muitas vezes, embora nem sempre, adotavam os sobrenomes de seus antigos donos; no caso de Chica, entretanto, ela adotou o sobrenome Silva, bastante comum e que costumava ser utilizado por pessoas sem procedência definida. Este último exemplo indica que a alforria ficava expressa no próprio nome: Francisca Parda, quando escravizada, Francisca da Silva, quando alforriada, e Francisca da Silva Oliveira, em referência à sua união com João Fernandes de Oliveira.

Outras indicações

SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século dezoito. Rio de Janeiro: Graal, 1982.

Entre diversos aspectos, a autora analisa as dinâmicas e os grupos sociais que não tiveram acesso às riquezas geradas pela mineração e o surgimento de estratos sociais diversificados.

Sociedade mineradora

Em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, a exploração de ouro e diamantes estimulou a formação de arraiais que levaram à fundação de vilas e, posteriormente, cidades. Pela primeira vez na história colonial, vários núcleos urbanos foram criados longe do litoral. Observe alguns exemplos no quadro.

Núcleos urbanos em regiões mineradoras no século XVIII

Localidade

Nome atual

Data da fundação

Vila Rica

Ouro Preto (MG)

1711

Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo

Mariana (MG)

1711

Vila do Príncipe

Serro (MG)

1714

Vila de São José do Rio das Mortes

Tiradentes (MG)

1718

Vila Real de Cuiabá

Cuiabá (MT)

1727

Vila Boa de Goiás

Goiás (GO)

1736


Em Minas Gerais, desenvolveu-se uma sociedade urbana, composta de comerciantes, funcionários públicos, profissionais liberais, artesãos, religiosos e milhares de escravizados. A riqueza do ouro, porém, concentrava-se nas mãos de poucos senhores que exploravam minas. A situação econômica da maioria da sociedade era de pobreza, e não de riqueza.

O crescimento de cidades em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás movimentou o mercado interno da colônia. Comerciantes de outras capitanias e de Portugal abasteciam as regiões mineradoras com alimentos, couro, roupas, ferramentas e outros produtos. A produção local também aumentou. Em Minas Gerais, por exemplo, fabricavam-se tecidos, criava-se gado e produziam-se derivados de leite, como o queijo.

A mineração transforma a colônia

No século dezoito, as minas atraíram muitas pessoas para o interior, favorecendo a conquista do território e o aumento da população no Brasil colonial. Calcula-se que a população cresceu aproximadamente 11 vezes, passando de trezentas mil (1700) para mais de 3,25 milhões de pessoas (1800). Além disso, o abastecimento da área mineradora ajudou a integrar as capitanias brasileiras, que antes ficavam mais isoladas.

Em 1763, a capital da colônia foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. O porto do Rio, próximo das áreas de mineração, facilitava a comunicação com Portugal. Até então, o ouro das minas era levado para Salvador, na Bahia, ou Paraty, no Rio de Janeiro, onde navios e marinheiros embarcavam a preciosa mercadoria, o que levava mais tempo. Pelo porto do Rio de Janeiro também chegaram, a partir do século dezoito, a maioria dos africanos escravizados.

Fotografia. Diferentes tipos de instrumentos, como um prato metálico, pequenos recipientes, um baú e três recipientes retangulares com cabos finos.
Equipamentos utilizados no Brasil colonial para extração, fundição, aferição e transporte do ouro.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Sociedade mineradora” contribui para o desenvolvimento das competências cê gê um, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá cinco, cê ê agá um e cê ê agá cinco, bem como das habilidades ê éfe zero sete agá ih um dois e ê éfe zero sete agá ih um quatro, pois discorre sobre a construção de vilas e cidades nas regiões mineradoras e descreve as dinâmicas comerciais que ocorriam na América portuguesa.

Orientação didática

O quadro “Núcleos urbanos em regiões mineradoras no século dezoito” permite relacionar a expansão geográfica com o intervalo temporal, enfatizando que a elevação desses núcleos urbanos a vilas ocorreu em um curto espaço de tempo (25 anos), ainda mais quando consideradas todas as dificuldades e os perigos envolvendo deslocamentos naquela época e naquela região. Esse conjunto de dados reforça a hipótese de que os colonos que fundaram esses locais esperavam obter muitas riquezas, o que compensaria qualquer risco que pudessem correr durante suas travessias rumo ao interior da América.

Texto de aprofundamento

O excerto a seguir é um ponto de partida para ampliar a reflexão sobre outros aspectos da sociedade mineradora e a vivência na região. O autor ressalta a questão alimentícia, tendo em vista o aumento populacional na região e a reduzida produção local.

O preço dos alimentos e a dificuldade de abastecimento nas Minas setecentistas

“As autoridades administrativas reticências só permitiam a liberalização do mercado de víveres quando a produção agropastoril reticências dava sinais de relativa abundância, embora não chegasse ao seu destino devido à ação dos atravessadores ou dos próprios roceiros, que estocavam os mantimentos à espera de melhores preços reticências.

Em 1741, por exemplo, o Senado da Câmara de Vila Rica recebeu um abaixo-assinado com 31 assinaturas de moradores reclamando dos abusos de preços reticências.

Mas em épocas de relativa abundância de víveres, a estratégia das autoridades era conceder privilégios aos produtores, liberalizando o mercado, conscientes de que os preços cairiam reticências. Se os preços caíssem muito, permitia-se a saída dos mantimentos para fóra reticências da vila onde tinham sido produzidos, para que fossem comercializados em regiões mais afastadas reticências. Se os preços voltassem a subir reticências novamente proibia-se a saída dos mantimentos e estabelecia-se um preço máximo para os víveres reticências.”

SILVA, Flávio Marcus da. Subsistência e poder: a política do abastecimento alimentar nas Minas setecentistas. 2002. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. página 166-167.

OUTRAS HISTÓRIAS

Queijo artesanal de Minas

Durante a época da exploração do ouro e diamante, começou a ser produzido o queijo artesanal de Minas, com técnicas trazidas de Portugal e adaptadas às condições naturais e sociais das serras mineiras. Desde então, essa comida se tornou um símbolo ligado à cultura e à memória dos mineiros.

Atualmente, o queijo artesanal é fabricado em várias regiões de Minas Gerais. Cada região produz queijos com sabores, consistências e aparências diferentes, sempre tendo como base o leite cru, recém-tirado da vaca. Em geral, a produção é organizada por famílias que vivem em pequenas propriedades rurais. Para essas famílias, fazer queijo é, além de uma fonte de renda, uma tradição.

No dia a dia dos mineiros, o queijo costuma ser consumido com café ou usado para preparar pão de queijo, queijo com goiabada, broas, farofas, entre outros salgados e doces. Além disso, há referências ao queijo em expressões e ditados populares. Por exemplo, quando uma pessoa tem tudo o que é necessário para resolver um problema, é dito que ela está “com a faca e o queijo na mão”.

Em 2006, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ifã declarou o modo de fazer queijo artesanal de Minas um patrimônio imaterial do Brasil.

Fotografia. Destaque para uma mulher vista por uma janela retangular, segurando uma rodela de queijo entre suas mãos. Ela veste uma camiseta preta e um boné sobre sua cabeça.
Moradora de pequena propriedade rural exibe queijo produzido artesanalmente na Serra da Canastra, em São Roque de Minas, Minas Gerais. Fotografia de 2021.

Responda no caderno

Atividade

De quais comidas você se lembra quando pensa na cidade onde mora? Por que acha que isso acontece?

Orientações e sugestões didáticas

Outras histórias

Resposta pessoal. Incentive os estudantes a perceber que as “comidas típicas” de cada local configuram aspectos históricos, ou seja, dialogam com seu período de criação, seus povos e com a história de cada região. Sugira, se necessário, a realização de uma pesquisa sobre o assunto, ajudando a turma a reconhecer os saberes e os produtos envolvidos na criação dessas receitas, valorizando a cultura regional.

Artes plásticas, arquitetura e música

Na Europa, entre os séculos dezesseis e dezoito, o Barroco surgiu como manifestação artística. Na América portuguesa, o estilo predominou na arquitetura, nas artes plásticas e na música até o começo do século dezenove. Todos os edifícios barrocos das cidades da região mineradora foram construídos por africanos escravizados ou seus descendentes.

A arte barroca é marcada pela sensação de movimento, pela expressão de emoções e pela grandiosidade. Registros barrocos podem ser encontrados nos estados da Bahia, de Pernambuco, da Paraíba, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais e de Mato Grosso.

Na arquitetura e na escultura, destacou-se Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido como Aleijadinho, filho de um arquiteto português com uma mulher escravizada. Mesmo sofrendo de uma doença que deformou suas mãos e seus pés, fez projetos e obras de igrejas em Ouro Preto, Congonhas e São João del-Rei, além de centenas de imagens religiosas em madeira e pedra-sabão.

Fotografia. Destaque para uma escultura de um homem de cabelos compridos, vestindo uma túnica, e ao fundo, a fachada de uma igreja vista parcialmente, com destaque para uma torre lateral e uma cruz ao centro.
Escultura do profeta Jeremias que compõe o conjunto de estátuas do adroglossário do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, uma das obras-primas de Aleijadinho, em Congonhas, Minas Gerais. Fotografia de 2021.

Na pintura, destacou-se Manuel da Costa Ataíde (1762-cêrca de 1830), mais conhecido como Mestre Ataíde. Pintou o interior de igrejas de Ouro Preto, Mariana e do Colégio do Caraça e lecionou arquitetura e pintura.

Pintura. Uma mulher vestindo uma longa túnica azul, ao centro, rodeada de nuvens e seres com aspecto angelical, com asas em suas costas. De sua cabeça, partem feixes de luz.
Detalhe de Assunção da Virgem, pintura de Mestre Ataíde no forro da nave da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, 1801-1812. Note que a Virgem Maria (ao centro) foi representada com traços afrodescendentes.

Na música barroca, destacaram-se José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita (1746-1805), Francisco Gomes da Rocha (1746-1808) e Inácio Parreiras Neves (1730-1794). A música era uma expressão cultural muito apreciada, sendo comum a formação de corais de crianças que cantavam nas festas religiosas. Havia também bandas de jovens que se apresentavam em público ou nas casas dos ricos mineradores.

Ícone. Balão de fala indicando atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Que estilo de música você gosta de ouvir? Por quê?
  2. Você gostaria de aprender a cantar ou a tocar algum instrumento musical? Comente.
  3. Você ouve música em rádio, internet, CD ou frequenta chôus? Como você acha que as pessoas dos séculos dezessete e dezoito ouviam música?
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Sobre a arte barroca em Minas Gerais, sugerimos que o professor trabalhe em parceria com o docente do componente curricular Arte. Na opinião de Mário de Andrade (1893-1945), a arte barroca de Minas Gerais foi única e original, se comparada à arte barroca de outras regiões e países. Ele acreditava que isso se devia, entre outros aspectos, ao isolamento de Minas Gerais, longe do litoral, o que teria permitido maior liberdade de expressão dos artistas. Com base no argumento de Mário de Andrade, oriente os estudantes a pesquisar a respeito da arte barroca de Minas Gerais e de outros países.

Alguns dos principais nomes da arte barroca brasileira são: Aleijadinho e Manuel da Costa Ataíde, de Minas Gerais; Mestre Valentim, do Rio de Janeiro; e Francisco das Chagas, da Bahia.

Após essa primeira etapa, estimule os estudantes a apresentar seus resultados e a argumentar sobre as diferenças e semelhanças entre o Barroco mineiro e o de outras partes do mundo. Por fim, proponha a seguinte questão: em sua opinião, Mário de Andrade estava certo ao afirmar que a arte barroca mineira era diferente da encontrada em outras regiões? Argumente e justifique sua resposta.

A resposta é pessoal; porém, sugerimos que seja reforçado que Mário de Andrade argumentava sobre a questão em um período em que os artistas brasileiros buscavam uma arte efetivamente nacional. Dessa fórma, o “ineditismo” da arte barroca mineira deve ser discutido não como uma verdade absoluta, e, sim, como uma avaliação de um determinado período histórico. Se necessário, apresente trechos do livro no qual Mário de Andrade explica sua hipótese do ineditismo do Barroco mineiro: ANDRADE, Mário de. A arte religiosa no Brasil. São Paulo: ExperimentobarraGiordano, 1993.

Para pensar

1 e 2. Respostas pessoais. Estas perguntas podem ser respondidas oralmente e procuram, por um lado, contextualizar a importância da música na vida dos estudantes e, por outro, investigar suas aptidões musicais.

3. Nos séculos dezessete e dezoito, para ouvir música, as pessoas dependiam sobretudo de execuções ao vivo ou apresentadas por meio de aparelhos musicais como o realejo e a pianola. Contudo, explique que a difusão desses aparelhos ocorreu apenas a partir do século dezenove. Instigue-os a refletir sobre as fórmas de armazenamento e reprodução da música na atualidade.

Patrimônio histórico

Patrimônio histórico é o conjunto de bens naturais e culturais considerados significativos para a humanidade. A Unesco, órgão da ONU para questões de educação, ciência e cultura, adota procedimentos e métodos científicos para avaliar e definir patrimônios históricos mundiais.

O Brasil possui 14 locais que figuram na lista oficial da Unesco. Isso significa que as obras de arte, os edifícios ou mesmo uma cidade inteira que recebem essa designação merecem cuidados especiais para que as gerações futuras possam conhecer e valorizar sua história.

Desse conjunto, dez são referências históricas do Brasil colonial.

  • Cidade Histórica de Ouro Preto Minas Gerais;
  • Centro Histórico de Olinda Pernambuco;
  • Missões Jesuíticas Guarani, nas ruínas de São Miguel das Missões Rio Grande do Sul;
  • Centro Histórico de Salvador Bahia ;
  • Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo Minas Gerais;
  • Centro Histórico de São Luís Maranhão ;
  • Centro Histórico de Diamantina (Minas Gerais);
  • Centro Histórico de Goiás Goiás ;
  • Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão Sergipe;
  • Sítio Arqueológico Cais do Valongo Rio de Janeiro.

Existem também os patrimônios imateriais, como a fórma tradicional de produzir queijo na Serra da Canastra e a fórma de fazer o acarajé na Bahia. Preservar valores, memórias e tradições faz parte de nossas vivências históricas.

Valorizar esse legado cultural e ambiental é um exercício de cidadania, que envolve conhecer e respeitar a memória coletiva dos grupos que construíram o país.

Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes brancas e detalhes em tijolos, duas torres laterais, uma cruz, ao centro, e uma entrada frontal retangular.
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de inspiração barroca, no Centro Histórico de Ouro Preto, Minas Gerais. Fotografia de 2021. A cidade foi considerada patrimônio mundial pela Unesco em 1980.
Fotografia. Fachada de uma igreja com paredes de tijolos, duas torres laterais com tetos triangulares e janelas, e uma cruz ao centro. Possui entradas centrais e laterais, em coloração verde.
Igreja de São Francisco, também construída em estilo barroco, no Largo do Cruzeiro, em Salvador, Bahia. Fotografia de 2021. O Centro Histórico de Salvador foi considerado patrimônio mundial pela Unesco em 1985.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

Centros históricos como os de Diamantina e Ouro Preto foram declarados patrimônios da humanidade em razão de seus conjuntos arquitetônicos e artísticos. Assim, conduza com os estudantes uma pesquisa sobre o conceito de patrimônio histórico em suas diferentes dimensões, se possível integrando atividades dos componentes curriculares Arte e Língua Portuguesa.

Os patrimônios materiais, nos termos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Ifã, podem ser arqueológicos, paisagísticos, etnográficos, históricos, de belas-artes e artes aplicadas. Estão divididos em imóveis (núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais) e móveis (coleções arqueológicas e acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos).

Já a alimentação no contexto da mineração pode ser estudada como dimensão imaterial do patrimônio histórico. Na definição da unêsco, também adotada pelo ifãn, patrimônio imaterial corresponde às “práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto aos instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.

Para mais informações sobre patrimônios materiais e imateriais, consulte os artigos do ifãn sobre esses assuntos. Disponíveis em: https://oeds.link/54sK9Q e https://oeds.link/g1YIIp. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

Responda no caderno

para pensar

  1. Explique por que o queijo da Serra da Canastra e o acarajé da Bahia são considerados patrimônios imateriais do Brasil.
  2. Como podemos contribuir para a preservação dos patrimônios históricos?
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica. Internet.

dica INTERNET

Igreja de São Francisco em Salvador, Bahia

Disponível em: https://oeds.link/TABhgu. Acesso em: 17 fevereiro2022.

O site disponibiliza uma visita virtual de 360° pelo interior da Igreja de São Francisco, em Salvador, Bahia.

  Escravidão e sobrevivência nas minas

De modo geral, a extração de pedras e metais preciosos exigia investimentos (dinheiro, equipamentos e mão de obra) mais baixos do que a produção de açúcar. Assim, para uma pequena parcela da população, a atividade mineradora foi um negócio atraente. No entanto, para a grande maioria, a sociedade mineradora foi tão excludente e cruel quanto a açucareira.

No final do século dezoito, cêrca de 80% da população de Minas Gerais era negra ou mestiça. Os escravizados podiam ser castigados de fórma privada ou pública. Espancamentos, chibatadas e outras crueldades podiam ser aplicados de modo privado. Mas, quando a falta era grave, como o assassinato de senhores, o cativo era punido publicamente pelo governo. A pena mais severa aplicada aos cativos era a sentença de morte, com a exposição do corpo do réu em praça pública.

Diante dos abusos da escravidão, homens e mulheres cativos lutaram contra os maus-tratos e a exploração de seu trabalho. Entre as fórmas de resistência destacam-se as fugas, a formação de quilombos e as revoltas.

Pintura. No centro, representação artística do continente americano, em tons de marrom, com destaque para a América do Sul. Setas, direcionadas a diferentes sentidos, foram representadas sobre um fundo branco partindo da porção oeste do território sul-americano. Na porção leste, nota-se o termo 'Brasil'. À direita, representação artística do continente africano, onde se lê a palavra 'África', os anos de '1534' e de'1870' e a palavra 'diáspora'. Na parte superior esquerda, uma rosa dos ventos amarela, representada em grande proporção, com as letras 'N', 'L', 'S' e 'W' em quatro das oito pontas. Na parte inferior, um oceano de águas azuis com embarcações.
Atlântico, pintura de Arjan Martins, 2016. A obra tem como foco a migração forçada de africanos pelo Oceano Atlântico para várias partes do mundo.
Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

  1. Os modos de fazer queijo da Serra da Canastra e acarajé da Bahia são considerados patrimônios imateriais porque eles são fórmas de saber e fazer transmitidos de geração em geração.
  2. Resposta pessoal. O tema é para reflexão, mas é importante que os estudantes percebam que somos agentes ativos da preservação de patrimônios históricos e que podemos contribuir para que isso aconteça. Entre algumas ações possíveis, destacamos a realização de estudos e pesquisas sobre esses locais, o registro de seu tombamento em órgãos de preservação (como o ifãn), o desenvolvimento do sentimento de valorização desses patrimônios e a divulgação de sua importância, utilizando os meios de comunicação e educação formal ou informal, entre outros.

Alerta ao professor

O texto “Escravidão e sobrevivência nas minas” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê nove, cê ê cê agá cinco e cê ê agá um, bem como da habilidade ê éfe zero sete agá ih um dois, ao destacar a prevalência da população negra ou mestiça nas áreas de exploração de pedras e metais preciosos em Minas Gerais.

Orientação didática

Neste momento, pode-se propor uma discussão sobre as diferenças entre a sociedade açucareira e a mineradora. Entre os aspectos possíveis de análise, destaca-se que na região açucareira estabeleceu-se uma sociedade rural basicamente formada pelos senhores de engenho e suas famílias, um grupo de pessoas livres pobres e por grande número de escravizados. Já na região mineradora, formou-se uma sociedade urbana, que incluía funcionários do governo, profissionais liberais e comerciantes e uma grande quantidade de homens livres pobres e escravizados. A população escravizada sofria maus-tratos e rebelava-se, tanto na sociedade açucareira como na mineradora. Na região das minas, havia maior possibilidade de os escravizados conseguirem suas alforrias, o que não significava que, tornando-se livres, eles e suas famílias escapariam da miséria.

Orientação didática

Na pintura Atlântico, de Arjan Martins, observe que as porções de terra parecem corpos desfalecidos. Durante o tráfico de escravizados, o Atlântico tornou-se um grande cemitério de corpos, pois muitos morriam durante a travessia.

OUTRAS HISTÓRIAS

Irmandades negras

Em diversos locais da América portuguesa, a reunião de pessoas escravizadas era proibida pela administração colonial. Nesse contexto, as irmandades religiosas – criadas para aproximar a população de origem africana do catolicismo – eram, muitas vezes, o único meio de associação permitido aos negros e aos escravizados. Sobre essas organizações, leia o texto a seguir.

“Entre as instituições em torno das quais os negros se agregaram de fórma mais ou menos autônoma, destacam-se as confrarias ou irmandades religiosas, dedicadas à devoção de santos católicos. Elas funcionavam como sociedades de ajuda mútua. Seus associados contribuíam com reticências taxas anuais, recebendo em troca assistência quando doentes, quando presos, quando famintos ou quando mortos. Quando mortos porque uma das principais funções das irmandades era proporcionar aos associados funerais solenes reticências. A irmandade representava um espaço de relativa autonomia negra, no qual seus membros reticências construíam identidades sociais significativas no interior de um mundo às vezes sufocante e sempre incerto. A irmandade era uma espécie de família ritual, em que africanos desenraizados de suas terras viviam e morriam solidariamente. Idealizadas pelos brancos como um mecanismo de domesticação do espírito africano, através da africanização da religião dos senhores, elas vieram a constituir um instrumento de identidade e solidariedade coletivas.”

REIS, João José. Identidade e diversidade étnica nas irmandades negras no tempo da escravidão. Tempo, Rio de Janeiro, volume 2, número 3, página 7-33, 1996.

Fotografia. Fachada de uma igreja, com paredes brancas, vigas verticais de tijolos, uma cruz central no teto e uma entrada retangular. À frente da entrada, uma mulher vista de costas.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, erguida entre 1740 e 1770, em estilo barroco, pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Tiradentes, Minas Gerais. Fotografia de 2018.

Responda no caderno

Atividades

  1. De acordo com o texto, com que objetivos foram criadas as irmandades religiosas negras?
  2. Que funções essas organizações tinham para a comunidade? Explique.
Orientações e sugestões didáticas

Outras histórias

  1. Oficialmente, as irmandades dedicavam-se à devoção dos santos católicos. Os brancos as idealizaram como fórma de criar conformismo com a escravização, mas os africanos e seus descendentes modificaram a religião dos senhores e transformaram as irmandades em um instrumento de solidariedade.
  2. Cumpriam funções de ajuda mútua, como assistência aos doentes e presos, além do pagamento dos enterros e de ser um instrumento de identidade e solidariedade coletiva.

Outras indicações

Sugerimos a leitura do artigo de Rafael de Bivar Marquese para discutir em sala de aula questões importantes sobre a escravidão no período da mineração no Brasil.

MARQUESE, Rafael de Bivar. A dinâmica da escravidão no Brasil: resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos dezessete a dezenove. Novos Estudos cebrápi, São Paulo, número 74, página 114-117, março 2006.

Queda na produção de ouro

O auge da produção de ouro ocorreu entre 1733 e 1748. Mas a riqueza produzida não beneficiava a todos. A maioria dos habitantes das regiões mineiras era pobre.

Na segunda metade do século dezoito, a produção do ouro foi diminuindo. O governo português atribuía o fato ao desleixo dos mineiros e ao contrabando do ouro. Por isso, tornou mais rígido o contrôle das minas para obrigar os mineiros a pagar os impostos atrasados. Por exemplo, em 1750, o rei português ordenou o pagamento de 100 arrobas de ouro por ano (ou 1500 quilos). Os mineiros não conseguiam pagar tantos impostos e as dívidas se acumulavam.

Para receber os impostos atrasados, a Coroa decretou, em 1765, a primeira derrama, que era a cobrança forçada de impostos em atraso. Quem não tivesse condições de pagar teria seus bens confiscados pela Coroa. Ao executar a derrama, as autoridades não pouparam ninguém. Isso piorou a vida de muita gente e fez surgir revoltas, como a Conjuração ou Inconfidência Mineira, em 1789.

Produção de ouro no Brasil (século dezoito)

Gráfico. Produção de ouro no Brasil (século dezoito). Barras indicando toneladas em diferentes períodos. No eixo vertical, “Toneladas”. No eixo horizontal, “Anos”. De 1701 a 1710: dois degraus, de 0 a menos de 5.  De 1710 a 1720: um degrau pouco mais que 5. De 1720 a 1730: dois degraus entre 5 e 10. De 1730 a 1740: dois degraus, um abaixo de 10, e um próximo de 15. De 1740 a 1750: dois degraus próximos de 15. De 1750 a 1760: dois degraus, um acima de 15 e um entre 15 e 10. De 1760 a 1770: dois degraus, um acima de 10 e outro pouco abaixo de 10. De 1770 a 1780: dois degraus, ambos abaixo de 10. De 1780 a 1790: dois degraus, um pouco acima de 5 e outro pouco abaixo de 5. De 1790 a 1800: dois degraus, ambos abaixo de 5.
Fonte: PINTO, Virgílio Noya. In: SOUZA, Laura de Mello e. Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século dezoito. quarta edição Rio de Janeiro: Graal, 2004. página 75.

Com quem ficou o ouro?

A produção do ouro contribuiu para o crescimento econômico e artístico da região das minas. Contudo, a maior parte desse ouro não ficou no Brasil, mas serviu aos interesses de outros países.

Os comerciantes e a família real de Portugal lucraram com o ouro extraído do Brasil, sobretudo na primeira metade do século dezoito. Nesse período, as finanças portuguesas ficaram equilibradas. Mas, logo depois, os portugueses voltaram a depender do comércio com os ingleses, em razão do Tratado de Methuen ou Tratado dos Panos e Vinhos, de 1703.

Pelo tratado, o governo português exportava vinhos para a Inglaterra e importava dos ingleses produtos manufaturados, como tecidos. Como os produtos ingleses eram mais caros, os portugueses acabaram ficando em dívida com seus parceiros. Para pagar essa dívida, os portugueses utilizaram o ouro brasileiro.

Gravura. Diferentes tipos de minerais. Indicado pelo número '1', no canto superior esquerdo, uma rocha representada com partes verdes e detalhes vermelhos em seu interior. Indicado pelo número '2', no canto superior direito, uma rocha escura com detalhes amarelos.  Indicado pelo número '3', na parte superior, centralizado, três blocos de cubos de ouro. Indicado pelo número '4', ao centro, uma rocha com a borda avermelhada e, em seu interior, detalhes brancos e alaranjados. Indicado pelo número '5', no canto inferior esquerdo, um mineral de cor preta. Indicado pelo número '6', no canto inferior direito, rocha avermelhada com minerais amarelos e brancos.
Gravura extraída do livro de djôn máuêViagens pelo interior do Brasil, de 1812, representando os minerais coletados por ele: 1. cromo de chumbo, 2. ouro em clorito, 3. ouro em cubo, 4. hidrogilita, 5. óxido vermelho de titânio, 6. massa conglomerada contendo ouro e diamante.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Queda na produção de ouro” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê dois, cê ê cê agá cinco, cê ê cê agá sete e cê ê agá cinco.

Orientação didática

Os estudantes devem reconhecer no gráfico a dinâmica da exploração aurífera na América portuguesa ao longo do século dezoito e associá-la a fatores econômicos e sociais ligados a essa produção, percebendo como a sociedade mineira estava atrelada às riquezas produzidas pela extração do ouro.

Com base na Conjuração Mineira, citada no texto, instigue os estudantes sobre os próximos temas que serão estudados. A fim de aproximar o tema em questão da atualidade, questione-os sobre o feriado nacional de 21 de abril. A figura de Tiradentes, considerado símbolo da Conjuração Mineira, é um bom ponto de partida para abordar os próximos temas e visa conectar os acontecimentos históricos do passado ao presente.

Outras indicações

Para aprofundar as reflexões sobre a prática da derrama, sugerimos as leituras a seguir.

  • COSTA, Everaldo B. da; SCARLATO, Francisco C. Notas sobre a formação de uma rede urbana de um “tempo lento” no período da mineração do Brasil Colônia. Revista Acta Geográfica, Boa Vista, ano três, número 5, página 7-21, janeiro até junho 2009.
  • GASPAR, Tarcísio de S. Derrama, boatos e historiografia: o problema da revolta popular na Inconfidência Mineira. Topoi, Rio de Janeiro, volume 11,número 21, página 51-73, julho a dezembro 2010. Disponível em: https://oeds.link/KQ2QsD. Acesso em: 17 fevereiro 2022.

OFICINA DE HISTÓRIA

Responda no caderno

Conferir e refletir

  1. Identifique as frases incorretas. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.
    1. A exploração do ouro promoveu grandes migrações para o interior do Brasil colonial.
    2. Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas conquistaram o direito exclusivo de explorar o ouro de Minas Gerais.
    3. Aleijadinho e Mestre Ataíde são expoentes da arte barroca brasileira.
    4. O governo português conseguiu impedir completamente o contrabando e a sonegação nas regiões mineradoras durante o período colonial.
    5. O tropeiro Filipe dos Santos liderou uma revolta contra a instalação das casas de fundição.
  2. Neste capítulo, abordamos alguns aspectos da mineração durante o período colonial. Agora, vamos investigar características da atividade extrativa mineradora nos dias atuais. Para isso, pesquise e reflita sobre as questões a seguir.
    • Ainda existe atividade mineradora no Brasil? Em que estados?
    • Quais são os principais minérios explorados?
    • A atividade mineradora pode causar problemas ambientais? Quais?
    • Pedras e metais preciosos são tão valiosos hoje quanto eram no período colonial? Justifique sua resposta.
    • O que consideramos “ouro” nos dias atuais? Por quê?

Interpretar texto e imagem

3. Leia o texto do historiador Uóren Dian (1932-1994) sobre a extração do ouro no século dezoito e faça o que se pede a seguir.

“A princípio, a extração de ouro era feita por lavagem na bateiaglossário . As turmas de escravos trabalhavam com água pelos joelhos nos leitos dos riachos e recolhiam cascalho e água em bacias reticências de madeira, que eram agitadas e novamente cheias até restar apenas os flocos de ouro mais pesados.

Foram africanos da Costa do Ouro que ensinaram seus proprietários a batearglossário e se mostraram peritos em localizar minas. Esses trabalhadores alcançavam preços mais elevados porque, acreditava-se, eram especialmente afortunados ou praticantes de uma espécie de bruxaria para encontrar ouro.

Nos anos de 1730, a trabalhosa e insalubreglossário atividade de batear reticências não era mais lucrativa em diversas minas. Os arrendatários agora dragavamglossário os riachos maiores com caçambas primitivas e desviavam riachos menores para pesquisar reticências seus leitos. Feito isso, empreendia-se a lavagem dos aluviões reticências.

A degradação provocada pela mineração foi mais intensa nas planícies reticências e nos fundos dos rios. Registrou-se que os rios Sabará e das Velhas começavam a tornar-se lamacentos devido à lavagem de aluviões.”

dín Uóren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. página 113.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção contribui para o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

cê gê três (atividade 5);

cê gê seis (atividades 2 e 3);

cê ê cê agá dois (atividade 2);

cê ê cê agá cinco (atividade 2);

cê ê cê agá sete (atividade 4);

cê ê agá dois (atividade 2);

cê ê agá quatro (atividade 5);

ê éfe zero sete agá ih um zero (atividade 5);

ê éfe zero sete agá ih um quatro (atividades 1 e 4).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. As frases incorretas são a b e a d. Possibilidade de correção:
  1. Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas não conseguiram a exclusividade na exploração das minas.
  1. O governo português não conseguiu impedir completamente o contrabando e a sonegação nas regiões mineradoras durante o período colonial.

2. Atualmente, destacam-se na mineração os estados de Minas Gerais, Pará, Goiás, São Paulo e Bahia. O Brasil é rico em minérios como nióbio, ferro, manganês, magnesita, bauxita, alumínio e algumas pedras preciosas. Nesse setor, o país vem promovendo, de fórma gradual, uma atuação ambiental sustentável.

Isso não significa, no entanto, que a atividade mineradora não ofereça riscos ao meio ambiente; pelo contrário, os riscos são diversos, como a remoção da vegetação em áreas de extração, a poluição dos recursos hídricos, a contaminação do solo por elementos tóxicos, processos erosivos, a poluição dos rios, entre outros. Exemplos disso são os desastres ambientais ocorridos pelo rompimento de barragens de mineradoras em Mariana (2015) e Brumadinho (2019), ambos em Minas Gerais, que tiveram como consequência a morte de centenas de pessoas e a destruição das paisagens por onde os dejetos passaram.

Um material ou elemento é considerado precioso conforme a sua raridade e o seu valor para a economia e a política de determinado local. No período colonial, o sistema econômico predominante era o que hoje denominamos “mercantilismo”, no qual a riqueza e o poder de um governo eram medidos pela quantidade de metais e pedras preciosas que ele tinha em seus cofres. Por isso, encontrar ouro, prata e outros metais ou pedras preciosas era um dos principais objetivos da Coroa portuguesa. Atualmente, apesar de seu grande valor econômico, essas pedras e metais preciosos não têm a mesma importância para a economia mundial. O “ouro” dos nossos dias é, provavelmente, o petróleo, porque é dele que derivam os combustíveis mais utilizados pelo transporte e pelas indústrias para a geração de energia.

  1. De acordo com o texto, quem introduziu a técnica de batear na exploração do ouro encontrado na colônia brasileira?
  2. A exploração do ouro provocou danos ambientais à região das minas? Explique.

integrar com matemática

4. Observe novamente o gráfico da página 237 e responda às questões.

  1. Em que período houve maior produção de ouro?
  2. Quantos anos durou o auge da extração de ouro?

integrar com arte

5. A seguir, observe uma gravura do artista iôrram mórritis ruguendás (1802-1858) que representa o trabalho de extração do ouro de aluvião realizado pelos africanos escravizados. O ouro de aluvião era aquele encontrado nas margens e nos leitos dos rios, geralmente misturado à areia, ao cascalho e à argila. Nos garimpos, esses materiais eram separados do ouro por meio de peneiras e bateias.

Gravura. Uma área rochosa e de terreno acidentado, com um fluxo de água por entre as pedras e o solo, pelo qual homens e mulheres circulam. Ao fundo, duas mulheres com vestidos simples, uma descendo e a outra subindo a área rochosa, carregando bacias sobre suas cabeças. Os homens, em maioria, estão descalços, com o peito desnudo, vestem bermudas e desempenham diferentes tarefas. Alguns deles estão no interior das águas, segurando lonas de tecidos e peneiras. Também há no local, homens vestindo calça, camisa e chapéu, fiscalizando o trabalho.
Detalhe de Lavagem do minério do ouro nas proximidades da Montanha do Itacolomi, gravura de iôrram mórritis ruguendás, 1835.
  1. Qual é o tema dessa gravura?
  2. Quem é o autor dessa gravura?
  3. Quando ela foi elaborada?
  4. Que pessoas foram representadas? O que elas estão fazendo?
  5. Crie outro título para essa obra.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

    1. De acordo com Uóren Dian, foram os africanos escravizados da Costa do Ouro que ensinaram seus proprietários a batear. Além disso, esses escravizados sabiam localizar minas.
    2. Sim, a mineração provocou degradação nas planícies e nos fundos dos rios. Rios, como o Sabará e o das Velhas, tornaram-se lamacentos em razão da lavagem dos aluviões.
  1. Atividade interdisciplinar com Matemática.
    1. Houve maior produção entre as décadas de 1730 e 1760.
    2. O auge da extração de ouro durou cêrca de 20 anos.
  2. Atividade interdisciplinar com Arte que trabalha pilares do pensamento computacional. Esta atividade apresenta elementos essenciais que podem ser explorados na análise de uma obra artística, como o título da obra, o autor, a data de produção e o tema representado.
    1. A gravura representa o trabalho de extração do ouro de aluvião realizado pelos africanos escravizados.
    2. O autor da gravura é iôrram mórritis ruguendás, pintor de origem alemã que viajou pelas regiões do Rio de Janeiro e de Minas Gerais entre 1822 e 1825.
    3. Ela foi elaborada em 1835.
    4. Foram representados africanos escravizados, com pouca roupa e trabalhando na extração do ouro de aluvião, e brancos vestidos com calça, camisa e usando chapéu, controlando o trabalho dos escravizados e recebendo o ouro retirado dos leitos do rio. As mulheres escravizadas estão representadas com vestidos simples e fazendo as mesmas tarefas que os homens.
    5. Resposta pessoal. A atividade visa estimular a criatividade dos estudantes e destacar sua percepção crítica. A criação de um novo título deve se basear na análise que o estudante fez da obra.

Glossário

Inóspito
: lugar em que é difícil viver.
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Arraial
: pequeno povoado.
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Taipa de pilão
: técnica árabe de construção, adotada pelos portugueses na Idade Média e trazida para o Brasil. A taipa de pilão é uma mistura de terra, pequenas pedras e fibras. A mistura era socada em fôrmas de madeira retangulares, as taipas.
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Aluvião
: depósito de cascalho, areia, argila etcétera que se acumula nos leitos e nas margens dos rios.
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Escravizado mina
: pessoa escravizada nascida na Costa da Mina, uma região do Golfo da Guiné, de onde veio grande parte dos escravizados embarcados para as Américas.
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Forro
: alforriado, liberto da escravidão.
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Adro
: pátio externo localizado em frente ou ao lado de uma igreja.
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Bateia
: vasilha usada para garimpar ouro e diamante.
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Batear
: lavar na bateia.
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Insalubre
: que não é saudável.
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Dragar
: retirar areia ou lama do fundo do mar, de rios, canais, lagos etcétera.
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