UNIDADE 1 REVOLUÇÕES: DO SÚDITO AO CIDADÃO
CAPÍTULO 3 REVOLUÇÃO FRANCESA E ERA NAPOLEÔNICA
No século dezoito, os franceses derrubaram o absolutismo monárquico em um processo revolucionário que ficou conhecido como Revolução Francesa. Lutando por ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, os revolucionários franceses aboliram o regime feudal e proclamaram a república. A Revolução Francesa inspirou movimentos sociais em várias partes do mundo.
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para começar
O que você entende por “liberdade, igualdade e fraternidade”? Já ouviu esses ideais serem citados em seu dia a dia? Comente.
Crise do absolutismo francês
Após a morte de Luís catorze, o trono francês foi ocupado por mais dois reis absolutistas: Luís quinze, que permaneceu no poder de 1715 a 1774, e Luís dezesseis, que governou de 1774 a 1792.
Durante o absolutismo, a França conquistou enorme poder e tornou-se o Estado mais populoso da Europa Ocidental, atingindo cêrca de 25 milhões de habitantes. Nessa época, como estudamos no capítulo 1, a sociedade de diversos reinos europeus estava dividida em três grupos, chamados estados ou ordens. Cada um deles tinha subdivisões e, muitas vezes, rivalidades internas.
Conheça a seguir como era a organização social na França durante o Antigo Regime.
- Primeiro estado (clero): reunia cêrca de 120 mil pessoas que exerciam funções religiosas. Subdividia-se em alto e baixo clero. O alto clero era formado por cardeais, bispos e abades nascidos em famílias nobres. O baixo clero era composto de sacerdotes das paróquias mais pobres.
- Segundo estado (nobreza): reunia em torno de trezentas e cinquenta mil pessoas e subdividia-se em nobreza cortesã, provincial e togada. A nobreza cortesã vivia luxuosamente no Palácio de Versalhes, ao redor do rei. Recebia pensões do Estado e não precisava trabalhar. A nobreza provincial, em geral, vivia em grandes propriedades rurais, dedicava-se a atividades militares e cobrava impostos dos camponeses que trabalhavam em suas terras. A nobreza togada era um grupo rico, composto de burgueses que compravam títulos de nobreza e cargos políticos.
• Terceiro estado (maioria do povo): reunia mais de 24 milhões de pessoas, que se subdividiam em diferentes grupos, como camponeses, sans-culottesglossário e burgueses. Os camponeses representavam cêrca de 80% dos franceses, incluindo desde trabalhadores livres até servos. Nas cidades, havia os sans-culottes, grupo composto de cêrca de 200 mil aprendizes de ofício, assalariados e desempregados. Já os burgueses incluíam desde os pequenos comerciantes, artesãos e profissionais liberais (pequena burguesia) até banqueiros e grandes empresários (alta burguesia).
Apesar das rivalidades internas, o primeiro e o segundo estados tinham mais poder, terras e privilégios do que o terceiro estado. Os camponeses, por exemplo, eram obrigados a pagar pesados tributos. Já os membros da alta burguesia, mesmo enriquecidos, não podiam ocupar grande parte dos cargos políticos e administrativos, que estavam reservados aos nobres.
Com frequência, essas desigualdades sociais e econômicas provocavam revoltas na França. Mas foi no reinado de Luís dezesseis que a indignação popular se transformou em uma das maiores revoluções da Europa.
Sinais da crise
No reinado de Luís dezesseis, o governo enfrentou uma grave crise econômica, social e política. Nessa época, o Estado francês gastava mais dinheiro do que arrecadava. Mesmo assim, a monarquia francesa manteve os privilégios do clero e da nobreza, além de elevar os gastos do Estado ao ajudar os colonos americanos, com tropas e dinheiro, na guerra pela independência dos Estados Unidos (1776).
Para piorar a situação, a produção agrícola caiu drasticamente na década de 1780, o que aumentou o preço de alimentos básicos, como trigo e pão. As manufaturas francesas também passavam por dificuldades e enfrentavam a concorrência de produtos industrializados britânicos. Muitos trabalhadores ficaram desempregados e, por toda parte, crescia o número de pessoas sofrendo com a fome e a miséria.
Diante desse cenário, Luís dezesseis decidiu aumentar os impostos, o que gerou enormes protestos. O rei passou, então, a ser visto como um monarca insensível, que ficava a maior parte de seu tempo no Palácio de Versalhes e, portanto, longe de Paris e dos problemas que abatiam o povo.
Sem conseguir conter as insatisfações do terceiro estado e, tampouco, deixar de privilegiar o clero e a nobreza, a monarquia francesa foi perdendo fôrça e apôio político.
Assembleia dos Estados Gerais
Em 1787, discutiu-se a possibilidade de a nobreza e o clero pagarem mais impostos. Mas esses dois estados queriam manter seus privilégios tributários e, por isso, pressionaram o rei para convocar a Assembleia dos Estados Gerais, que não se reunia havia cêrca de 175 anos. O objetivo era obrigar o terceiro estado a assumir sozinho os novos impostos e legitimar essa decisão perante a sociedade.
De acordo com as regras dessa Assembleia, os representantes dos três estados poderiam participar da votação. No entanto, cada estado tinha direito a um voto. Como o clero e a nobreza tinham interesses em comum, eles votariam juntos. Ou seja, era impossível para o terceiro estado ganhar a votação, por mais numeroso que fosse. Seriam dois votos (nobreza e clero) contra um (terceiro estado).
A convocação dos Estados Gerais, em 1788, teve consequências devastadoras para o regime absolutista. Representantes do clero e da nobreza subestimaram a fôrça política do terceiro estado.
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para pensar
No Brasil atual, o voto de todos os eleitores tem o mesmo peso na escolha de um governante? Em grupo, pesquisem como funcionam os sistemas de eleição majoritário e proporcional no país.
Processo revolucionário
A Revolução Francesa foi um processo complexo que durou cêrca de dez anos, de 1789 a 1799. Nesse período, houve divisões e conflitos entre os participantes do movimento. A seguir, destacamos alguns momentos do processo revolucionário francês.
Assembleia Constituinte
Em 1789, os deputados eleitos para a Assembleia dos Estados Gerais reuniram-se no Palácio de Versalhes. Durante essa reunião, os representantes da nobreza e do clero queriam manter a fórma tradicional de um voto por estado, o que lhes garantia dois terços da votação. Já os deputados do terceiro estado, que eram maioria na Assembleia, queriam a contagem individual dos votos.
Apoiados pelo rei, os conservadores da nobreza e do clero não concordaram com a mudança nas regras e os trabalhos foram paralisados. Em reação, os deputados do terceiro estado se transferiram para o salão de jogos de Versalhes (sala do jogo da pelaglossário ) e proclamaram-se em Assembleia Nacional Constituinte. O objetivo era elaborar uma Constituição para a França, limitando o poder do rei.
Queda da Bastilha
Para conter a insubordinação dos representantes do terceiro estado, o rei mandou tropas dissolverem a Assembleia Constituinte. Porém, nessa altura, a revolução já havia se espalhado pelas ruas de Paris, onde o povo exigia “liberdade, igualdade e fraternidade”. Tal lema inspirava-se em ideias iluministas que haviam se popularizado por meio de eventos públicos (debates, leituras, discursos) e de publicações (jornais, panfletos, gravuras). Em geral, esses eventos e publicações eram realizados clandestinamente, pois o governo reprimia e censurava seus opositores.
No dia 14 de julho de 1789, revolucionários invadiram a prisão da Bastilha, considerada um símbolo do poder absolutista. De Paris, a revolta popular alastrou-se pela França, sendo apoiada também pelos camponeses. O rei foi, então, obrigado a aceitar as medidas da Assembleia Nacional Constituinte, que aboliu o regime feudal e alguns privilégios do clero e da nobreza.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
Em 26 de agosto de 1789, a Assembleia Constituinte proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que se inspirava em ideias iluministas. Os principais pontos desse documento eram:
- respeito pela dignidade humana;
- liberdade de pensamento e de opinião;
- igualdade dos cidadãos perante a lei;
- direito à propriedade individual;
- direito de resistência contra a opressão política.
A Declaração anunciava a passagem dos súditos, que têm o dever de obedecer ao soberano no Antigo Regime, para a condição de cidadãos, que têm o direito de participar das decisões políticas nos Estados contemporâneos.
No ano seguinte, em 1790, a Assembleia confiscou terras da Igreja Católica e subordinou os sacerdotes à autoridade do Estado. Descontentes, muitos sacerdotes e monarquistas fugiram do país, levando consigo suas riquezas. No exterior, eles passaram a organizar, o mais rapidamente possível, um exército para reagir à Revolução Francesa.
OUTRAS HISTÓRIAS
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Assembleia Nacional em 1789, limitava a cidadania aos homens. Muitas mulheres, porém, participaram ativamente do processo revolucionário. Em 1791, Olamp de Gúge apresentou, para a aprovação da Assembleia Nacional, a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em que defendia a igualdade de direitos entre homens e mulheres:
“ Artigo 1º. A mulher nasce livre e mantém-se igual ao homem em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. reticências
Artigo 11. A livre expressão do pensamento e da opinião é um dos mais preciosos direitos da mulher reticências. reticências
“ Artigo 13. Para a manutenção da fôrça pública e para as despesas da administração, as contribuições da mulher e do homem são iguais. Ela participa de todos os trabalhos ingratos, de todas as tarefas penosas; portanto, deve ter a mesma participação na distribuição dos postos, dos empregos, dos encargos, das honrarias e das profissões.”
GOUGES, Olympe de. Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã e outros textos. Brasília, : Distrito Federal Edições Câmara, 2021. página 41 e 45.
Esse documento não foi aprovado pela Assembleia Nacional e Olamp de Gúge, ao criticar os rumos da revolução, foi condenada à morte na guilhotinaglossário , em 1793, durante a fase mais radical da Revolução Francesa.
Responda no caderno
Atividades
- O que cada um dos artigos citados defende? Explique com suas palavras.
- Além dos direitos citados por Gúge, a garantia de quais outros direitos é fundamental às mulheres no mundo contemporâneo? Faça uma pesquisa sobre o tema e compartilhe o resultado com os colegas.
Monarquia constitucional
Em 1791, a Assembleia Nacional Constituinte promulgou uma Constituição que limitava o poder do rei, pondo fim ao absolutismo no país. Assim, a França tornava-se uma monarquia constitucional. Essa Constituição também instituiu:
- igualdade jurídica – eliminação dos privilégios do clero e da nobreza, igualando juridicamente os cidadãos. No entanto, o documento mantinha a escravidão nas colônias francesas e estabelecia o voto censitário. Ou seja, as mulheres, os trabalhadores rurais, os pequenos artesãos e os desempregados – que representavam 80% da população francesa – não tinham o direito de votar e de se eleger para cargos públicos;
- liberdade econômica – diminuição da interferência do Estado na economia, mas com proibição de greves de trabalhadores. Isso favoreceu os ricos burgueses, que se tornaram ainda mais poderosos na França;
- liberdade religiosa – separação do Estado e da Igreja, garantia da livre manifestação de diferentes expressões religiosas e nacionalização dos bens do clero católico;
- divisão dos três poderes – direção do Estado por três poderes independentes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Em contrapartida, o rei Luís dezesseis se recusou a ter seus poderes limitados pela Constituição e passou a tramar contra a revolução. Ele aliou-se a grupos que pretendiam deter o processo revolucionário, tais como os monarcas da Áustria e da Prússia e nobres franceses.
Com a ajuda de Luís dezesseis, a aliança contrarrevolucionária organizou um exército para invadir a França e restabelecer o absolutismo. Em paralelo, o monarca francês e sua família fugiriam do país. No entanto, durante a tentativa de fuga, a família real foi reconhecida e presa.
Por fim, quando o exército estrangeiro invadiu a França, milhares de populares se uniram ao exército francês em defesa da pátria. Em 20 de setembro de 1792, o exército invasor foi derrotado na Batalha de Valmy.
Convenção Nacional
Após vencer os exércitos estrangeiros, os revolucionários elegeram uma Convenção Nacional e proclamaram a república. Nesse momento, as principais fôrças políticas do país dividiam-se em três grupos:
- girondinos – representavam a alta burguesia. Defendiam o voto censitário (com base na renda) e temiam que as camadas populares assumissem o contrôle da revolução;
- jacobinos – representavam a pequena burguesia, o operariado de Paris e os interesses mais populares. Defendiam o voto universal masculino e eram apoiados pelos sans-culottes;
- planície – representava principalmente uma burguesia considerada oportunista. Mudava de posição de acordo com as circunstâncias, quase sempre apoiando quem estivesse no poder.
Na sala onde os membros da Convenção se reuniam, os girondinos sentavam-se à direita, os jacobinos à esquerda e os membros da planície ao centro. Isso deu origem aos termos esquerda, direita e centro, ainda utilizados na linguagem política.
Durante a Convenção, o rei Luís dezesseis foi acusado de traição à pátria. Os girondinos o defendiam, mas os jacobinos queriam condená-lo à morte. Depois de julgado, o rei foi condenado à morte na guilhotina. Posteriormente, sua esposa Maria Antonieta recebeu a mesma condenação.
Ditadura jacobina
A execução do rei provocou a revolta dos girondinos e uma reorganização das fôrças monarquistas estrangeiras. Nesse contexto de conflitos internos e externos, os jacobinos tomaram o poder, liderados por Maquissimilián de Rubespiér.
O governo jacobino recrutou milhares de jovens para o exército, tabelou o preço de alimentos, aumentou os impostos para os ricos, instituiu o ensino primário obrigatório e gratuito, aboliu a escravidão nas colônias francesas e concedeu maior proteção para pobres, idosos e desempregados. Essas medidas agradaram as camadas populares, mas provocaram reações violentas de grupos conservadores.
Foi então que, em 5 de setembro de 1793, Rubespiér implantou uma ditadura que perseguiu duramente quem fosse considerado inimigo da revolução. Nesse período, calcula-se que cêrca de 40 a 50 mil pessoas foram condenadas à morte na guilhotina. Os julgamentos eram sumários, sem direito de defesa. Em razão desse elevado número de mortes, a ditadura jacobina ficou conhecida como fase do Terror, o período mais radical da Revolução Francesa.
Além de lideranças políticas, como Danton, foram guilhotinados até mesmo cientistas notáveis como Antoane Lavoazier (1743-1794), considerado atualmente “pai” da Química moderna. Entre suas brilhantes contribuições à ciência estão: a descoberta da função do oxigênio na combustão, a enunciação da fórmula da água ( agá dois óh) e a formulação do princípio de conservação da matéria (“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”).
No final de 1793, o governo jacobino conteve as fôrças contrarrevolucionárias estrangeiras. No entanto, internamente, o governo perdeu apôio político. Sem a ameaça de invasão, os girondinos e os membros da planície uniram-se contra o governo de Robespierre. Ele e seus aliados mais próximos foram presos em 1794 e guilhotinados logo depois.
A fase do Terror chegou ao fim com o novo governo liderado pelos girondinos. Com isso, foram canceladas várias medidas adotadas pelos jacobinos, como o tabelamento dos preços e o fim da escravidão nas colônias francesas.
PAINEL
A morte de marrá
Em 1793, ano de fortes agitações políticas, o líder jacobino jãn pôl marrá foi morto com uma punhalada no coração por Charlóte Cordé, a mando dos girondinos.
No mesmo ano, jác lui daví criou a obra-prima A morte de Marat. Nela, marrá é transformado em mártir, um herói que teria morrido defendendo sua causa. Essa pintura marcante inspira artistas até os dias atuais.
Na recriação da obra feita pelo brasileiro Vik Muniz, por exemplo, o líder jacobino marrá foi substituído por Sebastião Carlos dos Santos, fundador e presidente da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
A seguir, verifique um detalhamento da obra de jác lui daví e conheça a recriação artística de Vik Muniz.
- Segundo registros policiais da época, marrá foi assassinado durante o banho. Na pintura, é possível observar a arma do crime – um punhal – no chão.
- marrá sofria de uma doença de pele que o obrigava a passar longos períodos em banhos de imersão. Por isso, sua banheira teria uma pequena escrivaninha, que lhe permitia trabalhar durante o banho. Essa escrivaninha foi representada como um simples caixote de madeira.
- Para criar essa pintura, jác lui daví estudou anatomia e arte greco-romana. Os músculos e tendões de marrá foram desenhados com tanta habilidade que tornaram belo um corpo sem vida.
- O fundo é escuro, destacando a figura de Marat. Na obra, Deivid busca simplicidade e ignora detalhes que considera sem importância.
Diretório
Em 1795, a Convenção Nacional, agora controlada pelos girondinos, elaborou uma nova Constituição para a França, que permaneceria como uma república com um governo comandado pelo Diretório (órgão composto de cinco deputados eleitos pelo Legislativo).
Durante o governo do Diretório (1795 a 1799), a burguesia ampliou seu contrôle sobre o país, investindo na industrialização francesa e nas atividades comerciais. Porém, o governo sofria duas fórmas de pressão:
- ameaça interna de revoltas promovidas por jacobinos e monarquistas franceses;
- ameaça externa de ataques de monarquias absolutistas vizinhas.
Observe no mapa a seguir.
Revoluções na Europa (1789-1799)
Com a persistência das rivalidades e tensões internas, o governo do Diretório puniu seus adversários. Em meio a essa situação, o jovem general do exército francês Napoleão Bonaparte ganhou prestígio por seu desempenho militar. Com o apôio de vários setores da sociedade, inclusive do exército, ele derrubou o Diretório em 1799.
O episódio ficou conhecido como o Golpe de 18 Brumário, que corresponde a 9 de novembro do calendário cristão. A palavra “brumário” deriva do francês “brumeux”, que significa “bruma” ou “névoa”. A data marca o início da Era Napoleônica.
Governo de Napoleão
Em sua carreira militar e política, Napoleão Bonaparte teve uma ascensão impressionante. Ele nasceu em 1769, na Córsega, uma ilha pertencente à França. Aos 10 anos de idade, ingressou na escola militar e, aos 16 anos, foi promovido a tenente do exército.
Durante a Revolução Francesa, Napoleão demonstrou um brilhante talento militar. Por isso, com apenas 24 anos, foi nomeado general, tornando-se o homem mais jovem a ocupar esse posto no exército francês.
Além da ascensão militar meteórica, a vida de Napoleão é repleta de contradições. Quem diria que o jovem oficial, que era amigo de Rubespiér e dos jacobinos, leitor entusiasmado de Voltaire, se tornaria imperador da França, senhor da Europa, ora agindo como déspota esclarecido, ora como um ditador cruel?
Com o Golpe de 18 Brumário, Napoleão chegou ao poder e governou a França durante aproximadamente 15 anos. Seu governo costuma ser dividido em três períodos: Consulado (1799 a 1804), império (1804 a 1815) e Governo dos Cem Dias (1815).
Consulado
Durante o Consulado, o regime republicano foi mantido. O governo da França era composto de três cônsules, mas quem de fato mandava era Napoleão, eleito primeiro-cônsul. Ele comandava o exército, nomeava os membros da administração pública, propunha leis e orientava a política externa.
Nesse período, Napoleão perseguiu seus opositores por meio da censura e da repressão policial. Apesar do perfil ditatorial e antidemocrático, ele não abandonou certos princípios da Revolução Francesa. Ao longo de seu governo, implementou reformas na economia, na educação e no direito, tais como:
- criação do Banco da França (1800) – que controlava a emissão de moedas, regulava a inflação, concedia empréstimos;
- reorganização do ensino público – que passou a ter como objetivo formar cidadãos para servirem ao Estado. Difundiu-se também a ideia de que o ensino deveria ser laico e universal, ou seja, de que todos deveriam ter acesso à educação;
- elaboração de um Código Civil (1804) – que aboliu de vez os antigos privilégios da nobreza e do clero e consagrou alguns ideais iluministas, como a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o respeito à propriedade privada e o casamento civil separado do religioso. O Código Civil francês influenciou a legislação de diversos outros países, inclusive a brasileira. Porém, o código proibia a atuação de sindicatos e de grevistas e mantinha a mulher submetida à autoridade do marido.
Essas medidas aumentaram a popularidade de Napoleão. Com a aprovação do Senado, Napoleão foi proclamado cônsul vitalício em 1802, conquistando o direito de indicar seu sucessor ao governo. Na prática, isso significou a volta da monarquia hereditária.
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para pensar
Por que o acesso à educação deve ser um direito de todos? Reflita e debata o assunto com os colegas.
Império
Em 1804, Napoleão e seu grupo político mobilizaram a opinião pública para implantar definitivamente o império. Assim, foi realizada uma consulta popular (plebiscito) na qual quase 60% dos eleitores escolheram a monarquia como fórma de governo, e Napoleão tornou-se imperador.
O novo imperador foi coroado em uma festa solene na Catedral de Notre-Dame. O papa Pio sétimo viajou a Paris para participar desse evento e coroar Napoleão. Durante a cerimônia, em um gesto surpreendente, o imperador tirou a coroa das mãos do papa e coroou a si próprio. Com essa atitude, quis mostrar que não admitia autoridade superior à sua. Em seguida, coroou sua esposa, a imperatriz Josefina. Conta-se que, admirado com a pompa da cerimônia, Napoleão virou-se para seu irmão mais velho, José, e disse: “Que diria monsieurglossário nosso pai se estivesse aqui hoje?”.
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para pensar
Quando uma pessoa acumula poder, ela consegue governar sozinha? Exponha seus argumentos para os colegas.
Expansão militar
Durante o Império Napoleônico, formou-se uma côrte composta de oficiais militares, membros da alta burguesia e da antiga nobreza. Também foram construídos grandes monumentos simbolizando o poder do império, como o Arco do Triunfo (1806-1836), inspirado na arquitetura romana.
Além disso, Napoleão comandou uma série de campanhas militares para expandir os domínios da França.
Em 1805, o exército francês tentou invadir o Reino Unido, mas foi derrotado na Batalha de Trafalgar, devido à superioridade naval britânica. Entretanto, Napoleão venceu outras batalhas no continente nos anos seguintes, derrotando tropas da Áustria, Rússia e Prússia.
O Império Francês se expandiu com as guerras napoleônicas, atingindo sua máxima extensão em 1812. Nesse território, viviam cêrca de 50 milhões de pessoas (quase um terço da população europeia na época).
Depois de tantos conflitos, milhares de franceses lamentavam a morte de seus familiares, enviados como soldados aos campos de batalha. fóra da França, as invasões napoleônicas despertavam inúmeras insatisfações e um forte sentimento nacionalista.
Império Napoleônico (1812)
Fontes: , Chalhán ; Gerrár , Rajô . jân piérr Atlas dos impérios. Lisboa: Teorema, 1995. página 73; ALBUQUERQUE, Manoel M. de et al. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: FAE, 1986. página 128.
Bloqueio Continental
Frustrado com a impossibilidade de invadir o Reino Unido, Napoleão procurou pressionar o país por meios econômicos. Para isso, proibiu os países europeus que estavam sob a influência francesa de comercializar com o Reino Unido ou de autorizar navios britânicos a atracar em seus portos. Essa proibição foi chamada Bloqueio Continental.
Decretado em 1806, o Bloqueio não atingiu plenamente seus objetivos. Em várias regiões da Europa, a economia era predominantemente agrícola, o que aumentava a demanda por produtos industrializados britânicos.
Um dos reinos que não respeitaram o Bloqueio Continental foi Portugal. Por isso, o exército francês invadiu o território português. Essa invasão motivou a vinda da família real portuguesa e de toda a sua côrte para o Brasil em 1808. Com isso, a séde do governo português foi transferida para o Rio de Janeiro (estudaremos melhor o assunto no capítulo 6).
A transferência da côrte para o Rio de Janeiro pode ser considerada uma inteligente estratégia política, e não uma fuga covarde de dom João e sua família. O Brasil, que era colônia de Portugal, tornou-se metrópole do Reino Português. Essa “inversão colonial” constituiu um fato inédito na história da colonização.
Invasão da Rússia
Em 1812, os franceses invadiram a Rússia para obrigá-la a manter o Bloqueio Continental ao Reino Unido. As tropas francesas avançavam pelo imenso território da Rússia, ao mesmo tempo que os exércitos russos recuavam e destruíam tudo o que pudesse ser útil aos invasores.
Ao chegar a Moscou, depois de uma viagem difícil, os soldados franceses, que já padeciam de fome, passaram a sofrer também com temperaturas de -30 graus Célsius. Sem condições de prosseguir a invasão, o exército francês retirou-se da Rússia, mas a maioria dos soldados morreu na viagem de volta. Essa campanha militar desastrosa estimulou outros países europeus a reagirem contra a França.
Em 1814, um poderoso exército formado por britânicos, austríacos, russos e prussianos invadiu Paris. Nessa campanha, Napoleão foi derrubado do poder e enviado para Elba, uma ilha no Mar Mediterrâneo. Depois, o trono francês foi entregue a Luís dezoito (1755-1824), irmão do último rei absolutista Luís dezesseis.
OUTRAS HISTÓRIAS
Museu do Louvre
O Museu do Louvre, em Paris, é um dos maiores museus do mundo. Seu acervo conta com 35 mil obras expostas em um palácio de 135 mil metros quadrados. A atual equipe do museu reúne quase 2 mil profissionais, incluindo pintores, historiadores, artistas e educadores.
De acordo com o historiador Jéremie Benoit, muitas obras do Louvre foram tomadas nas campanhas militares francesas, principalmente durante o governo de Napoleão. Depois do Congresso de Viena (1814-1815), parte das obras foi devolvida aos seus locais de origem. No entanto, até os dias de hoje, alguns países reclamam seu direito sobre peças expostas no Louvre e em outros museus europeus.
Responda no caderno
Atividades
- Você já visitou algum museu? Qual?
- Em sua avaliação, qual é a função dos museus? Explique.
Governo dos Cem Dias
Em março de 1815, Napoleão fugiu da Ilha de Elba e regressou à França. As tropas enviadas para prendê-lo acabaram unindo-se a ele.
Napoleão reconquistou o poder e obrigou o rei Luís dezoito e sua família a deixar a França. Diante disso, os governos estrangeiros organizaram uma aliança militar com cêrca de 1 milhão de soldados que marcharam contra as fôrças napoleônicas.
Depois de cem dias à frente do governo, Napoleão foi definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo, em junho de 1815. Preso pelos britânicos, foi exilado na Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde permaneceu até morrer, em 1821.
Congresso de Viena
As conquistas militares na época napoleônica modificaram a divisão política de boa parte da Europa. Com a derrota francesa, os dirigentes dos países vencedores organizaram o Congresso de Viena (1814-1815). Entre eles estavam representantes do Reino Unido, Áustria, Rússia, Prússia e França.
Os objetivos do Congresso eram restaurar o poder das antigas monarquias e traçar um novo mapa político da Europa para superar as alterações provocadas na época napoleônica.
Além disso, soberanos da Áustria, Rússia, Prússia e de outros Estados europeus estabeleceram acordos de defesa mútua. Nesses acordos, declaravam ter o direito de intervir em qualquer país cujo governo fosse ameaçado por movimentos revolucionários e nacionalistas. Com o objetivo de colocar em prática essa política de mútua defesa, foi criada uma organização chamada Santa Aliança.
Europa após o Congresso de Viena (1815)
Responda no caderno
observando o mapa
Observe o mapa “Império Napoleônico (1812)”, na página 68, e compare-o com o mapa acima. Após o Congresso de Viena, a França manteve ou perdeu os territórios anexados no período napoleônico?
OFICINA DE HISTÓRIA
Responda no caderno
Conferir e refletir
- Identifique as frases incorretas em relação à Revolução Francesa e à Era Napoleônica. Depois, reescreva-as de fórma correta em seu caderno.
- A revolução de 1789 representou o fim do absolutismo na França.
- Luís dezesseis aceitou a proposta de uma monarquia constitucional para a França, o que limitava seus poderes.
- A ditadura jacobina condenou milhares de pessoas à morte na guilhotina.
- Entre as maiores vitórias militares de Napoleão estão a Batalha de Trafalgar, a invasão da Rússia e a Batalha de Waterloo.
- Napoleão Bonaparte foi um destacado general francês que, posteriormente, consagrou-se imperador.
- Em dezembro de 1792, o rei Luís dezesseis respondeu deste modo à acusação de haver cometido vários crimes contra o povo francês: “Não havia leis que me impedissem”. Em dupla, leiam e interpretem essa frase. Depois, respondam às perguntas.
- Que princípios da Revolução Francesa poderiam ser utilizados para acusar o rei da França? Expliquem.
- Que características do Estado absolutista explicam a resposta do rei?
- O que mudou a esse respeito após a Assembleia Constituinte?
- Em sua opinião, uma ação que não é proibida por lei é sempre justa? Debata o assunto com os colegas dando exemplos atuais.
- Explique o que foi o Bloqueio Continental. Havia alguma garantia de que os governos europeus cumprissem esse bloqueio? Quais foram as implicações dessa medida para o governo francês?
Interpretar texto e imagem
4. Leia a seguir trecho de um panfleto de 1789, escrito pelo pensador francês Emanuél Sieiés (1748-1836). Depois, em dupla, respondam às questões.
“O que é o terceiro estado? Tudo.
O que tem sido até agora na ordem política? Nada.
O que pretende ser? Alguma coisa.”
SIEYÈS, Emmanuel Joseph. Qu’est-ce que le tiers état?: précéde de l’Essai Sur les Privilèges. Paris: A. Correard, 1822. página 57-58. [Tradução dos autores].
- Como estava organizada a sociedade francesa antes da revolução de 1789?
- Qual é a mensagem desse trecho do panfleto? Explique.
5. A seguir, leia trechos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, publicada em 1789, e faça o que se pede.
“ Artigo 6º. A lei é a expressão da vontade geral. reticências Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. reticências
Artigo 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.”
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Disponível em: https://oeds.link/4utX8i. Acesso em: 26 abril 2022.
- Explique os artigos 6º e 11º com suas palavras. Qual é o assunto principal de cada um deles?
- Em sua opinião, os direitos estabelecidos nesses artigos são respeitados no Brasil atual? Reflita e debata com os colegas.
integrar com arte
6. Observe atentamente as reproduções dos quadros a seguir. Eles retratam o mesmo episódio histórico: uma viagem feita por Napoleão Bonaparte e seu exército na primavera de 1800. Na ocasião, as fôrças francesas tentavam surpreender as tropas austríacas na Itália.
- Faça uma breve descrição de cada imagem.
- A representação de uma personagem pode influenciar a opinião do público? Como?
Glossário
- Sans-culottes
- : expressão francesa que significa “sem culotes”. Refere-se a pessoas que deixaram de usar calções ou culotes (vestimenta semelhante à da nobreza) e passaram a usar calças compridas.
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- Jogo da pela
- : jogo que se assemelhava ao tênis, consistindo em jogar uma bola de um lado para o outro com auxílio de uma espécie de raquete. O nome “pela” deriva do latim pilella, que significa “bola”.
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- Guilhotina
- : aparelho desenvolvido pelo médico e deputado Joséf-Iniáce Guilhotán. Esse aparelho compõe-se de uma armação que sustenta uma lâmina pesada que, ao descer, corta a cabeça do condenado.
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- Monsieur
- : em francês, significa “senhor” e era um sinal de respeito.
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