UNIDADE 2 AMÉRICA INDEPENDENTE

CAPÍTULO 5 INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA

Em 1991, representantes dos governos do Brasil, da Argentina, do Paraguai e do Uruguai criaram um bloco econômico chamado Mercado Comum do Sul (Mercosúl). O objetivo desse bloco é ampliar o comércio e estimular o desenvolvimento da região.

O Mercosúl não foi a primeira tentativa de criar algum tipo de integração na América Latina – nesse caso, uma integração econômica. No século dezenove, alguns líderes dos processos de independência também defenderam fórmas de integração latino-americana.

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para começar

1. Você sabe o que significa a expressão “América Latina”? E “América do Sul”?

2. Além do Mercosul, que outro bloco econômico você conhece?

Gravura. Destaque para a estátua do busto de um homem com cabelos escuros e curtos, bigode e trajando uma veste militar. O busto está sobre um palanque e ao seu redor há dois homens vestindo saias de penas e cocares sobre as cabeças. Eles estão com os peitos desnudos e seguram lanças. Do outro lado do busto, há uma mulher de cabelos longos e cacheados, trajando um vestido vermelho e um cocar de penas na cabeça. Sobrevoando ao redor do busto, dois seres de aspectos angelicais, vestindo túnicas brancas, cada um com um par de asas de penas brancas. Um deles porta dois instrumentos de sopro, semelhantes a trompetes, e o outro segura uma longa pena com uma das mãos. Em segundo plano, um navio no mar.
Viva Bolívar, libertador de sua pátria, gravura publicada na obra La victoria de Junín, de Rossê Roaquím de Olmêdo, 1826. Três figuras com feições europeias e roupas indígenas (possivelmente representando filhos de espanhóis nascidos na América) aparecem colocando uma coroa de flores no busto de Simón Bolívar, que liderou alguns dos processos de independência na América do Sul.
Fotografia. Sobre um pedestal de pedra, a estátua de um homem vestindo uma armadura, montado em um cavalo. Em segundo plano, edifícios, um deles com uma cúpula azul. No pedestal está gravado o nome: Artigas.
Monumento a Rossê Artigas (1764-1850), líder da independência do Uruguai, na Praça Independência, em Montevidéu, capital do país. Fotografia de 2018. Artigas fez carreira militar durante a colonização espanhola no Rio da Prata e ajudou a combater portugueses, britânicos e brasileiros que queriam controlar a região.
Fotografia. Um grupo de pessoas, sobretudo homens, vestindo ternos escuros e gravatas, sentados em cadeiras de madeira ao redor uma mesa grande em formato de 'U'. Ao fundo, projeção sobre a parede com o texto: 'Mercosul' e 4 estrelas sobre uma linha curva verde. Em segundo plano, hastes com as bandeiras de diversos países da América do Sul, como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
Há apenas duas mulheres à mesa, uma vestindo uma camisa rosa, outra de óculos e blusa preta.
Reunião do Mercosúl com os chanceleres dos países-membros e dos associados em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2019. Os Estados que fazem parte do bloco econômico são Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (fundadores) e Venezuela (entrou em 2012, mas está suspensa desde 2017). Os Estados associados são Bolívia (em processo de adesão como membro permanente), Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.

América Latina

A expressão “América Latina” refere-se aos países da América que têm características históricas e culturais em comum. A maioria desses países fala línguas de origem latina, pois foi colônia de Portugal, Espanha ou França.

Boa parte das colônias da América Latina se libertou de suas metrópoles nas primeiras décadas do século dezenove. Várias condições favoreceram as lutas pela independência nesse período. Entre elas, a organização popular, a influência de ideias liberais iluministas, a busca por autonomia política e econômica e as lutas contra o trabalho forçado.

Neste capítulo, vamos conhecer os principais aspectos dos movimentos de independência que ocorreram no Haiti (ex-colônia francesa) e nas diversas colônias da América espanhola.

O mapa a seguir mostra as datas de independência de vários países da América.

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para pensar

Em sua opinião, o que é necessário para um país ser independente? E o que é preciso para uma pessoa ser independente? Reflita sobre o assunto.

Independências na América (séculos XVIII-XX)

Mapa. Independências na América. Séculos dezoito a vinte. Mapa da América dividida politicamente; cada unidade representada por cores ou padrões diferentes. Entre parênteses, sobre cada território, o ano com a Data de Independência. A legenda tem três categorias: 
Colonização espanhola,  Colonização portuguesa, e Outras colonizações.
Colonização espanhola. 
Em verde, Vice-Reino da Nova Espanha, compreendendo a região que hoje corresponde ao México (independência em 1821) e a Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Novo México, Colorado, Texas e Oklahoma, nos Estados Unidos. Em laranja, Vice-Reino da Nova Granada, compreendendo as regiões que hoje compreendem o Panamá (independência em 1903), a Colômbia (independência em 1819) e o Equador (independência em 1822). 
Em rosa, Vice-Reino do Peru, compreendendo a região que hoje compreende o Peru (independência em1824), parte do atual território do Acre, no Brasil, e o norte do Chile. 
Em marrom claro, Vice-Reino do Rio da Prata, compreendendo territórios que hoje correspondem à Bolívia (independência em 1825), Paraguai (independência em 1811), Argentina (independência em 1816) e Uruguai (independência em 1828).
Em roxo, Capitania-geral da Guatemala, compreendendo territórios que hoje correspondem à Guatemala (independência em 1838), Honduras (independência em 1838), El Salvador (independência em 1838), Nicarágua (independência em 1838), Costa Rica (independência em 1838) e Belize (Inglesa) (independência em 1981). 
Em amarelo, Capitania-geral de Cuba, compreendendo o território que hoje compreende Cuba (independência em 1898), República Dominicana (independência em 1844) e Porto Rico (hoje Estados Unidos).  
Em vermelho, capitania-geral da Venezuela, compreendendo o território que hoje compreende a Venezuela (independência em 1811). 
Em vermelho claro, Capitania-geral do Chile, compreendendo sul do território que hoje corresponde ao Chile (independência em 1818). 
Território com listras horizontais indica Territórios perdidos no século dezenove, compreendendo parte dos atuais México e Estados Unidos, sobretudo no centro até costa Oeste, nos estados da Califórnia, Nevada, Utah, Arizona, Novo México, Colorado, Texas e Oklahoma. 
Colonização portuguesa.
Em amarelo claro, Brasil (independência em 1822).
Outras colonizações.
 Em marrom, colonização inglesa, francesa, holandesa. Canadá (Inglesa) (independência em 1867), Estados Unidos da América (Inglesa) (independência em 1776), Bahamas (Inglesa) (independência em 1973), Haiti (Francesa) (independência em 1804), Jamaica (Inglesa) (independência em 1962), Guadalupe (Francesa), Dominica (Inglesa) (independência em 1978), Martinica (Francesa), Trinidad e Tobago (Inglesa) (independência em 1962), Guiana (Inglesa) (independência em 1966), Suriname (Holandesa) (independência em 1975) e Guiana Francesa (Francesa). No canto inferior direito, rosa dos ventos e escala de 0 a 1.040 quilômetros.
FONTES: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: Méqui Fenâme, 1986. página 66-69; DUBY, G. Atlas histórico mundial. Madri: Debate, 1992. página 285.

Haiti

Na colônia francesa de São Domingos (atual Haiti), os escravizados e os homens e as mulheres livres de origem africana lutaram pela independência. Para compreender esse processo, vamos começar estudando a colonização do Haiti.

Colonização do Haiti

Os espanhóis conquistaram e colonizaram uma ilha no Mar do Caribe que ficou conhecida como Hispaniola. Esse foi o primeiro lugar onde Colombo desembarcou na América, em 1492.

Durante a colonização, os espanhóis ocuparam a parte leste da ilha e escravizaram a população indígena que vivia no local. Ao final do século dezesseis, os indígenas tinham sido quase totalmente exterminados.

No início do século dezessete, os franceses ocuparam o oeste da ilha. Em 1697, a Espanha cedeu oficialmente essa parte do território para a França. A partir desse momento, a região que hoje corresponde ao Haiti recebeu o nome de Sán Domangue (São Domingos) e se tornou a colônia francesa mais lucrativa. Lá, os colonizadores instalaram latifúndios (plantations) de cana-de-açúcar e de outros produtos, explorando o trabalho de escravizados vindos principalmente da África Ocidental.

No final da década de 1780, meio milhão de escravizados e milhares de pessoas livres viviam nessa colônia. Para evitar revoltas e controlar a enorme quantidade de trabalhadores, os fazendeiros organizaram uma estrutura militar.

Gravura. Grupos de homens em uma floresta com mata exuberante e diferentes árvores. À esquerda, homens com trajes militares azuis e chapéus, portando armas de fogo em suas mãos, e à direita, homens vestindo camisas ou com os peitos desnudos, portando lanças e espingardas.
São Domingos Batalha de Ravine-à-Couleuvres, gravura de Jean-Jacques Outhwaite, século dezenove. Essa batalha ocorrreu em 1802, durante a Revolução Haitiana.
População estimada do Haiti (1789)

Grupo

População

Percentual

Brancos

32.000

6%

Mestiços livres

24.000

4%

Negros escravizados

500.000

90%

Fonte: HAITI. In: insaiclopidia britânica. Disponível em: https://oeds.link/Wfp3vD. Acesso em: 3 março 2022. [Tradução dos autores].

Independência do Haiti

Desde a época da colonização francesa, sempre houve uma forte tradição de resistência dos escravizados. Assim como ocorria nos quilombos do Brasil, muitos escravizados fugiam das fazendas de São Domingos e passavam a viver escondidos, em pequenos grupos nas montanhas do interior. Eles eram conhecidos como marrons e lutavam contra as fôrças militares coloniais. Parte dos africanos e seus descendentes criou uma religião chamada vodu, enquanto outros se tornaram católicos.

Essa tradição de resistência ampliou-se com a Revolução Francesa (1789-1799). Milhares de trabalhadores escravizados e livres rebelaram-se contra o domínio colonial francês e passaram a lutar pela independência de São Domingos. Comparando o que ocorreu ali com a Revolução Francesa, o historiador Círo Él Ar Diêimis chamou os revolucionários coloniais de jacobinos negros.

A luta começou em 1791 e, em 1793, passou a ser liderada por tussãn lôvertíur (1743-1803), um homem que aprendeu a ler e a escrever no tempo em que foi escravizado. Isso fez com que ele entrasse em contato com ideais liberais provenientes da França revolucionária.

As ações dos revolucionários foram marcadas pelo enfrentamento de escravistas brancos na ilha, pela defesa da liberdade dos negros e por certa lealdade à França – governada naquela época (1793) pelos jacobinos, que decretaram a abolição da escravidão nas colônias.

Gravura. Sobre um fundo branco, um homem montado à cavalo, vestindo traje militar azul com detalhes dourados, calça branca, botas escuras de cano alto e um chapéu com abas laterais na cabeça. O homem levanta uma espada ao alto com uma das mãos. 
O cavalo, marrom com crina e rabo de cor preta, está empinado, se apoiando sobre as patas traseiras.
Gravura de autoria desconhecida representando Toussaint L’Ouverture, líder da Revolução Haitiana, cêrca de 1800.

Contudo, em 1801, o governo de Napoleão Bonaparte revogou a abolição da escravidão e enviou tropas a São Domingos para retomar o contrôle francês. lôvertíur foi preso em 1802 e levado para a França, onde morreu em 1803. As lutas pela independência continuaram sob o comando de dois outros ex-escravizados, jãn jaque dêssalínee Anrí Cristôfe.

Eles lideraram os revolucionários e derrotaram o exército francês. A independência do país foi proclamada em 1804. dêssalíne assumiu o governo e permaneceu no poder até 1806, quando foi assassinado por inimigos. Com a independência, o novo Estado passou a se chamar Haiti (nome indígena que significa “terra alta” ou “lugar montanhoso”).

Consequências da Revolução Haitiana

O Haiti foi a primeira colônia da América a extinguir a escravidão e o segundo Estado a proclamar a independência no continente. Lá ocorreu a maior revolta contra a escravidão de toda a América.

A independência do Haiti só foi reconhecida pelo governo francês em 1825, mediante o pagamento de uma alta indenização à antiga metrópole, que só foi quitada em 1887. Durante as lutas pela independência, a economia haitiana foi afetada: a escravidão foi abolida e houve uma reforma agrária. Para os revolucionários negros do Haiti, independência também era sinônimo de liberdade.

Os negros haitianos não foram os únicos a sonhar com a liberdade e a lutar por ela. Entretanto, foram os únicos que conquistaram o poder e proclamaram a independência do país. O exemplo da Revolução Haitiana apavorou os donos de escravizados do continente americano.

Fotografia. Cinco homens, lado a lado, todos uniformizados com traje militar, vestindo paletós na cor azul marinho, calças brancas, e quepes azuis Três deles usam máscaras pretas à frente dos narizes e bocas. Os três homens no centro seguram  bandeiras em pé, ao lado deles, e os dois nas laterais, à esquerda e à direita, portam armas de fogo de cano longo.
Membros das fôrças armadas do Haiti durante cerimônia de comemoração do 218o aniversário da Batalha de Vertières, que culminou na independência do Haiti, em Pôrto Príncipe, capital do país. Fotografia de 2021.

Independências na América espanhola

Durante quase três séculos, a Espanha dominou a maior parte da América. No início do século dezenove, os domínios coloniais espanhóis estavam divididos em quatro vice-reinos e quatro capitanias-gerais.

Os vice-reinos eram: Nova Espanha (criado em 1535), Peru (1543), Nova Granada (1717) e Rio da Prata (1776). As capitanias-gerais eram Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.

O império colonial espanhol na América ruiu entre 1810 e 1828, quando a maioria das regiões conquistou sua independência. Estudaremos, a seguir, algumas interpretações sobre as raízes desse processo.

Elites coloniais

Na América espanhola, as elites coloniais eram formadas por grandes proprietários de terras, ricos comerciantes e donos de minas. Elas se dividiam em dois grupos: chapetones (colonizadores nascidos na Espanha) e criollos (filhos de espanhóis nascidos na América).

Os chapetones ocupavam os cargos mais importantes na administração, na Igreja e no exército. Já os criollos, apesar de terem poder econômico, não tinham os mesmos direitos políticos. O poder político deles estava ligado às câmaras municipais (cabildos), que cuidavam de questões locais. Os criollos também se sentiam prejudicados pelo monopólio comercial espanhol e pelos altos impostos sobre produtos exportados e importados.

A interferência da Espanha na vida econômica das colônias começava a incomodar as elites locais. Em busca de liberdade econômica e maior participação política, muitos criollos tornaram-se líderes das independências.

Fotografia. Sob um céu azul sem nuvens, vista da fachada de uma construção colonial de dois andares, com uma torre no centro, paredes brancas, colunas verticais que se unem em formato de arco e uma entrada central em forma de arco. As janelas e a porta são de madeira pintada de cor verde. Na torre central, há um relógio e, no topo dela, um crucifixo. Ao redor, árvores e edifícios.
Fachada do edifício onde funcionava o cabildo de Buenos Aires, inaugurado em 1740. Fotografia de 2021. Situado na Praça de Maio, no centro da capital argentina, o prédio abriga hoje um museu.

Camadas populares

As camadas populares também lutaram contra o governo espanhol, mas elas não tinham os mesmos interesses que as elites coloniais. De modo geral, indígenas, negros e mestiços estavam submetidos a péssimas condições de vida. Por isso, lutavam por igualdade de direitos, distribuição de terras e fim do trabalho forçado.

Assim, eles desempenharam papel fundamental nas lutas pela independência, integrando, inclusive, os exércitos coloniais que enfrentaram as fôrças da Espanha.

Pintura. Sobre um fundo azul, um homem branco de cabelos brancos, longos e cacheados, vestindo um paletó vermelho, com um chapéu de abas laterais colocado entre seu braço e tronco. Está com o corpo voltado para a esquerda, onde há uma mulher indígena de cabelos pretos, trajando um vestido de fundo branco e detalhes florais e geométricos coloridos, com um véu branco na cabeça, sobre os cabelos. No centro da pintura,  duas crianças, um bebê com um laço vermelho na cabeça sobre um tecido amarrado nas costas de uma criança pequena.
Espanhol e índia produzem um mestiço, pintura de Juan Rodríguez Juárez, cêrca de1715. Observe o casal: uma mulher de origem indígena e um homem com características europeias. Os filhos dessa união são mestiços. Trata-se de um exemplo da “pintura de castas”, gênero artístico que retratava as diferenças sociais na América espanhola.

A Revolta de Túpaqui Amaru

Um exemplo das lutas populares na América sob domínio espanhol ocorreu nos atuais Peru e Bolívia. Essa revolta foi liderada pelo mestiço Rossê Gabriêl Condorcânqui, que adotou o sobrenome do último imperador inca, Túpaqui Amaru.

Rossê Gabriêl Túpaqui Amáru era descendente da nobreza inca e líder (ou kuraka, em língua quíchua) de uma comunidade indígena no sul do Peru. Em 1776, ele denunciou à justiça colonial as péssimas condições de trabalho impostas aos indígenas. Como não foi ouvido, ele e seus seguidores se revoltaram e, em 1780, atacaram órgãos do governo colonial, fazendas e manufaturas que exploravam os povos originários.

Objetivos e consequências da revolta

Seus principais objetivos eram expulsar os espanhóis, restaurar o Império Inca e pôr fim ao trabalho forçado. Para enfrentar as tropas espanholas, Túpaqui Amaru reuniu um exército de 50 mil pessoas composto, em sua maioria, de indígenas. A revolta se espalhou por áreas das atuais Bolívia e Argentina.

Em 1781, Túpaqui Amaru e sua família foram capturados, torturados e executados. A revolta prosseguiu até 1783, quando as fôrças espanholas conseguiram sufocá-la. Calcula-se que cêrca de 100 mil pessoas (sobretudo indígenas) morreram durante os confrontos.

A Revolta de Túpaqui Amaru ajudou a construir um sentimento de identidade na região. Por isso, alguns historiadores afirmam que esse movimento influenciou as lutas pela independência do Peru e da Bolívia. Túpaqui Amaru tornou-se símbolo de resistência, e seu nome é usado em movimentos de reivindicação popular não só no Peru e na Bolívia, mas em toda a América do Sul.

Fotografia. Em uma rua, destaque para um homem vestindo uma camisa xadrez azul e branca e um chapéu com abas marrom sobre sua cabeça, portando uma haste com uma bandeira branca, contendo a imagem de três rostos de pessoas distintas, (Guevara, Evita Peron e Tupac Amaru) e o texto, parcialmente legível, em que se lê: 'Tupac Amaru'.
Membros da associação de moradores tupác amarú de Jujuy, Argentina, protestam contra a prisão da líder indígena Milagro Sala, presidente da entidade. Fotografia de 2016.
Fotografia. Em uma sala com poltronas de madeira, um homem de bigode, sobrancelhas e cabelos grisalhos, curtos e lisos, vestindo um paletó azul sobre um suéter roxo e uma camisa branca, sentado à frente de uma mesa, com um microfone à frente de seu rosto. Ele aponta para a frente com uma das mãos.
Rossê Murríca, presidente do Uruguai entre 2010 e 2015. Fotografia de 2020. Na juventude, Murríca passou anos preso por integrar o grupo Tupamaros (derivação de Túpaqui Amaru), movimento contra a ditadura militar uruguaia e em favor dos mais pobres.

Enfraquecimento do governo espanhol

Em 1808, a Espanha foi invadida por tropas francesas que cumpriam ordens de Napoleão Bonaparte. O rei espanhol Fernando sétimo foi afastado do poder e o trono foi ocupado pelo irmão de Napoleão, José Bonaparte.

Aproveitando-se desse momento, os colonos da América espanhola formaram juntas de governo em cidades como Buenos Aires, Caracas, Quito e Santiago, reunindo os representantes das elites criollas. O objetivo era lutar pela liberdade de comércio e pela independência política da região, ainda que muitas juntas de governo tenham se declarado fiéis ao rei espanhol destronado.

Quando as tropas francesas foram expulsas da Espanha, Fernando sétimo reconquistou o trono e tentou reassumir o contrôle das colônias. Mas o processo de independência na América já avançava em todo o continente.

Independências nas Américas do Norte e Central

Na América do Norte, as primeiras lutas pela independência do México (Nova Espanha) tiveram apôio popular. Essas lutas ocorreram entre 1810 e 1815 e foram lideradas pelos padres Miguel Hidalgo e Rossê Maria Morelos. Entre outras reivindicações, o movimento exigia a distribuição de terras e o fim do trabalho forçado e dos impostos pagos pelos indígenas.

O movimento foi reprimido pela elite local e pelas tropas leais aos espanhóis. Muitos perderam a vida durante os conflitos, inclusive Hidalgo e Morelos, que foram presos e fuzilados.

Nos anos seguintes, as lutas se afastaram das reivindicações populares. Chapetones e criollos assumiram a liderança do processo de independência, tentando manter seus privilégios e poderes.

A partir desse momento, destacou-se a figura do general Agustín de Itúrbide, que havia feito carreira combatendo os rebeldes populares mexicanos. Depois, ele rompeu com a Coroa espanhola e passou a lutar pela libertação do México. Após vencer diversas batalhas, declarou a independência do país em 1821. Aproveitando-se da vitória, Itúrbide se autoproclamou imperador, em julho de 1822, ficando no poder até março de 1823, quando grupos políticos o derrubaram e proclamaram a república no México.

Durante a república, os criollos ampliaram seus direitos políticos, mas a maior parte da população continuou na miséria. Estima-se que as lutas pela independência provocaram a morte de cêrca de um milhão de mexicanos.

A independência do México influenciou outras lutas na América Central. Em 1823, formou-se, nos territórios da capitania-geral da Guatemala, uma república intitulada Províncias Unidas da América Central. Depois de um período de guerra civil, entre 1838 e 1839, as Províncias Unidas fragmentaram-se em cinco novos países: Guatemala, Honduras, Costa Rica, El Salvador e Nicarágua.

Pintura. Sobre um fundo azul, um homem, à esquerda, em pé, calvo, com casaco preto e calça preta, pisando sobre um homem caído no chão, com cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo uma camisa azul e uma calça bege. O homem calvo segura uma coroa de folhas verdes sobre a cabeça de uma mulher ao seu lado, no centro da pintura, de cabelos escuros e longos, trajando um longo vestido branco, um manto vermelho em suas costas e um cocar com penas na cabeça, nas cores verde, vermelho e branco. Ela está sentada sobre uma banqueta. À direita, um homem em pé, com cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo traje militar. Ele segura correntes quebradas com uma das mãos. No centro, sob o solo, uma esfera azul e branca, do qual partem correntes em direção aos pés da mulher, do homem caído e do homem à direita. No canto inferior, em espanhol, o texto: 'Ano de 1834'.
Alegoria da independência, pintura de autoria desconhecida, 1834. Na obra foram representados o padre Miguel Hidalgo, em pé, à esquerda, pisando em um representante da Espanha e coroando uma mulher que simboliza o México; à direita, Agustín de Itúrbide.

PAINEL

A Guerra de Independência do México

A imagem reproduzida nesta página é parte do mural Epopeia do povo mexicano, do artista Diego Rivera (1886-1957). Esse mural foi pintado nas paredes da escadaria do Palácio Nacional do México, séde do Poder Executivo federal. Rivera é considerado um dos pintores mais importantes de seu país e um dos expoentes do movimento artístico chamado muralismo.

O muralismo foi influenciado pela Revolução Mexicana de 1910, movimento que reuniu diversos setores da sociedade e lutou pelo fim do autoritarismo político no país e pelo direito à terra. O muralismo retrava temas históricos, lutas populares e tradições indígenas. Observe, a seguir, alguns elementos de um detalhe do mural de Rivera que trata da independência do México e representa outros aspectos da história mexicana.

Pintura. Sob um arco de concreto, pintura representando diversos grupos de pessoas e símbolos. O número '1' indica um homem no centro, calvo, com traje preto e bigodes brancos. O número '2' indica um homem vestindo uma túnica escura, com um dos braços esticados para a direita, e sua mão com o indicador esticado para o mesmo sentido. O número '3' indica uma águia grande com penas douradas, carregando uma serpente no bico, na parte inferior do mural. O número '4' indica um grupo de homens no alto do mural,  vestindo paletós escuros e chapéus com abas largas sobre suas cabeças, portando uma faixa vermelha com os dizeres, em espanhol, 'Terra e liberdade'.
Detalhe do mural Epopeia do povo mexicano, de Diego Rivera, pintado entre 1929 e 1935. A parte central da obra representa a Guerra de Independência do México.
  1. Miguel Hidalgo é retratado no centro da obra. Na mão direita, ele segura uma corrente quebrada. Com a mão esquerda, ergue uma bandeira com a imagem da Virgem de Guadalupe, padroeira do México.
  2. Rossê Maria Morelos e outros personagens apontam na mesma direção, como se indicassem o caminho do futuro.
  3. A águia, que carrega uma serpente no bico, faz referência a uma tradição asteca.
  4. A faixa com o lema Tierra y libertad (em português, “Terra e liberdade”) é uma referência às reivindicações camponesas e indígenas desde os tempos da independência até a Revolução Mexicana de 1910.

Independências na América do Sul

Na América do Sul, rossê de sãn martín e Simón Bolívar foram alguns dos líderes nas lutas pela independência. Eles comandaram exércitos que se opuseram às fôrças da Espanha no continente.

sãn martín liderou tropas que atuaram no vice-reino do Rio da Prata, na capitania-geral do Chile e no vice-reino do Peru. Já as tropas comandadas por Bolívar lutaram no vice-reino de Nova Granada, na capitania-geral da Venezuela e também no vice-reino do Peru.

Apesar das semelhanças entre esses processos, as independências dos países sul-americanos tiveram características próprias.

Pintura. Sobre um fundo escuro, retrato de um homem visto de frente, até a altura dos joelhos, com o corpo voltado para a direita. Ele tem cabelos escuros, curtos e lisos, com costelas escuras na lateral do rosto, veste um uniforme militar azul escuro com adornos dourados, uma medalha no peito, uma faixa azul atravessando seu corpo, e um cinto branco em sua cintura. Uma das mãos está sobre o cinto. Outra, dentro do casaco, na altura da barriga. À sua esquerda, uma mesa com potes e duas penas brancas. À direita, um brasão dourado.
Retrato do general rossê de sãn martín, pintura de José Gil de Castro, 1818. Apelidado de Mulato Gil, José Gil de Castro (1775-1841) era pardo, livre e pobre. Entre seus quadros, destacam-se os retratos dos líderes militares das independências latino-americanas.
Pintura. Retrato de um homem, visto de corpo inteiro. Ele tem cabelos castanhos, veste um uniforme militar escuro com adornos dourados, uma calça branca, botas pretas de cano alto, e porta uma espada em uma de suas mãos. A outra mão, está dentro do casaco, na altura do peito. Acima de sua cabeça, uma faixa de tecido vermelho com texto ilegível. À direita, uma mesa com um globo terrestre, potes, folhas e duas penas brancas.
Retrato de Simón Bolívar, pintura de José Gil de Castro, 1830. Esse pintor nasceu em Lima, no Peru, e produziu boa parte de sua obra em Santiago, no Chile.
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para pensar

  1. Que características costuma-se esperar que o líder de um país tenha? Reflita e comente com os colegas.
  2. Em sua opinião, que qualidades um líder deve ter na atualidade? Pense em lideranças que se destacam no esporte, nas artes e nas ciências, entre outros.

sãn martín

Durante o período colonial, no território que corresponde à atual Argentina, a elite local enriqueceu com a criação de gado, produzindo carne e couro em fazendas denominadas estâncias. Esses produtos movimentavam o Pôrto de Buenos Aires, que se tornou capital do vice-reino do Rio da Prata em 1776. Foi nessa região que nasceu rossê de sãn martín.

Membro de uma família da elite, sãn martín foi viver na Espanha quando ainda era bem jovem. Lá estudou e, posteriormente, iniciou sua carreira militar, participando de várias batalhas para defender os interesses da Espanha, inclusive lutando contra a invasão francesa em 1808.

Argentina, Chile e Peru

Em 1810, a junta de Buenos Aires expulsou o vice-rei espanhol (em um evento que ficou conhecido como Revolução de Maio), iniciando a Guerra de Independência, que seria formalizada em 1816. Em 1812, sãn martín retornou para a América para se juntar aos movimentos revolucionários. Dois anos depois, assumiu o comando do Exército do Norte. Seu exército avançou para o Chile (libertado em 1817) e o Peru (libertado em 1821). Devido à participação nessas lutas, sãn martín é considerado libertador e herói nacional na Argentina, no Chile e no Peru.

Fotografia. Dentro de uma catedral, um mausoléu em mármore vermelho, no centro de um salão, cercado de estátuas de pedra branca, representando pessoas vestindo túnicas longas, em pé, sobre pedestais de mármore retangulares, com brasão e textos ilegíveis. Em segundo plano, nas laterais, castiçais acesos.
Mausoléu de sãn martín, localizado em uma ala da Catedral Metropolitana de Buenos Aires, na Praça de Maio, Argentina. Fotografia de 2021. O mausoléu é aberto à visitação e considerado um dos pontos turísticos da cidade.

Simón Bolívar

Bolívar nasceu na capitania-geral da Venezuela, em uma família proprietária de fazendas de cacau cultivado por africanos escravizados. Aos 15 anos, foi estudar na Europa, onde conheceu ideais iluministas e os desdobramentos da independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa. Ao voltar para América, ele aderiu às lutas pela independência.

Inicialmente, Bolívar procurou libertar a Venezuela, sem sucesso. Fugiu para a Jamaica, onde, em 1815, tentou obter apôio do governo britânico à independência da América espanhola e escreveu a Carta de Jamaica. Nela, Bolívar propôs a formação de repúblicas com governos constitucionais na América e a união desses novos Estados. Em seguida, viajou ao Haiti, onde recebeu ajuda militar e financeira do governo daquele país.

Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia

Fortalecido, Bolívar retornou para Nova Granada e ali comandou batalhas decisivas. Em 1819, declarou a independência da região, atual Colômbia, da qual se tornou presidente.

Posteriormente, foi criada a Grã-Colômbia, que abrangia os territórios de Nova Granada e Venezuela, em parte ainda sob domínio espanhol. As tropas lideradas por Bolívar passaram a lutar pela emancipação das demais regiões, conquistando a independência da Venezuela em 1821 e do Equador em 1822.

Em 1822, sãn martín e Simón Bolívar estiveram na Conferência de Guayaquil (no atual Equador) para discutir estratégias de libertação das últimas regiões sob contrôle espanhol na América do Sul. Depois desse encontro, Bolívar assumiu a liderança das tropas para consolidar a independência do Peru (1824) e libertar o Alto Peru (1825), que passou a se chamar Bolívia, em homenagem a ele.

Fotografia. Uma rua cercada de casas por ambos os lados, com diversos jovens e crianças em pé, lado a lado.
Celebração da Batalha de Jumbati que marcou uma estratégica vitória dos revolucionários contra as tropas espanholas, em Tarabuco, Bolívia. Fotografia de 2019.
Fotografia. Sob um céu azul com nuvens, uma estrutura de colunas dispostas em semicírculo com diferentes bandeiras expostas no topo das colunas. Destaque para duas estátuas, no centro, à frente da estrutura, representando dois homens diferentes, lado a lado, sobre um pedestal em uma área circular. À frente das estátuas, três lances de escadas em formato circular com áreas delimitadas contendo árvores e arbustos.
Monumento em homenagem ao encontro de Simón Bolívar e sãn martín em Guayaquil, Equador. Fotografia de 2020.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Integração da América Latina

Bolívar tinha um projeto para integrar as repúblicas hispano-americanas. A língua, o passado histórico comum e os problemas enfrentados sugeriam a possibilidade de formar uma grande nação nos antigos territórios coloniais espanhóis. Bolívar acreditava que, separadas, as novas repúblicas seriam Estados frágeis. Mas o plano de unificação fracassou. Um dos motivos foram as divergências entre as elites locais, que pretendiam manter seus poderes sobre a terra e os trabalhadores. Submeter-se a um governo central diminuiria o poder que tinham em sua região.

Aos poucos, a Grã-Colômbia se desmembrou, formando a Venezuela, o Equador, a Colômbia e, mais tarde, o Panamá. Além disso, nas décadas seguintes, muitos países latino-americanos entraram em conflito.

Bolívar morreu em 1830 na atual Colômbia, recebendo homenagens e honras militares nos países vizinhos. Suas ideias e ações foram contraditórias, tendendo ora para a cooperação, ora para o autoritarismo. Ainda assim, ele é reconhecido como um importante líder militar e político em várias regiões da América Latina, onde é chamado de El Libertador.

Fotografia. Uma nota de cinco bolívares, vista pela frente e pelo verso, em cor vermelha. À frente, destaque para o rosto de dois homens diferentes, um, à esquerda, visto de frente, tem cabelos escuros e curtos, usa um traje militar, e outro,  à direita, visto de perfil, é um homem de cabelos claros e curtos com traje militar. O número cinco aparece nos quatro cantos da nota, e no centro, na parte superior, o texto: 'Banco central de Venezuela'. No verso d anota, destaque para uma construção com duas torres laterais, e uma central, mais alta, com uma entrada central. À esquerda, um brasão, e à direita, o número cinco. Ao centro, na parte superior, o texto: 'Banco central de Venezuela'. Na parte inferior, o texto: 'cinco bolívares'
Nota de 5 bolívares emitida na década de 1970 na Venezuela. O nome da moeda venezuelana homenageia Simón Bolívar. No anverso da cédula, à esquerda, a figura de “Bolívar Libertador”; à direita, Francisco de Miranda, outro importante combatente, precursor da independência. No verso, Panteão Nacional, construído na década de 1870 em Caracas, capital da Venezuela, para servir de mausoléu dos heróis nacionais.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Memorial da América Latina

Disponível em: https://oeds.link/kFCQvm. Acesso em: 3 março 2022.

Galeria de arte virtual que reúne obras de arte contemporânea da América Latina.

OUTRAS HISTÓRIAS

Mulheres na luta pela independência

As lutas latino-americanas por independência contaram com a presença de mulheres, principalmente da população mais pobre. Leia um texto que trata desse assunto.

“Quando se fala em exército, nesse período, imaginamos sempre homens marchando a pé ou a cavalo, lutando. Esquecemo-nos de que as mulheres, muitas vezes com filhos, acompanhavam seus maridos-soldados; além disso, como não havia abastecimento regular das tropas, muitas trabalhavam – cozinhando, lavando ou costurando – em troca de algum dinheiro. Encontramo-las nos exércitos camponeses de Hidalgo e Morelos, assim como, um século depois, nas fotografias dos exércitos zapatistasglossário da Revolução Mexicana de 1910. Expostas à dureza das campanhas e aos perigos das batalhas, enfrentavam corajosamente os azares das guerras.

reticências Manuela Eras i Gandarilhas e Rossêfa Montessinos, ambas de Cochabamba [na Bolívia] participaram de várias ações armadas. reticências conta-se que Manuela, ao ver aproximar-se um ataque à cidade, notando certa vacilação por parte do pequeno grupo de soldados, teria afirmado: reticências ‘Se não há mais homens, aqui estamos nós, para enfrentar o inimigo e morrer pela pátria’.”

PRADO, Maria Ligia C. América Latina no século dezenove: tramas, telas e textos. São Paulo: êduspi; Bauru, São Paulo: êdúsqui, 1999. página 34-36.

Fotografia. Sob um céu azul com nuvens, sobre um pedestal de pedra fixado em uma coluna, uma estátua  representando  diferentes mulheres. Ao fundo, duas delas expressam uma posição de ataque: uma segura um cajado com um dos braços levantados e a outra segura com as duas mãos um bastão elevado para o alto.  No pedestal o texto, originalmente em espanhol: 'Deus e pátria'. Há trecho de texto ilegível abaixo e a data '27 de maio de 1812'.
Detalhe do monumento às heroínas de Coronilla, em Cochabamba, Bolívia. Fotografia de 2014. Nele foram representadas as mulheres que participaram das ações armadas pela independência do país.

Responda no caderno

Atividade

No texto, são citadas duas fórmas de atuação das mulheres nas lutas pela independência da América espanhola. Quais foram essas fórmas?

Pan-americanismo

As raízes do pan-americanismo estão ligadas a líderes como Bolívar e sãn martín. Trata-se de um movimento para promover a cooperação entre os Estados do continente por meios políticos, econômicos, sociais e diplomáticos. O termo “pan” é de origem grega e tem o sentido de “totalidade”.

Três grandes marcos do pan-americanismo podem ser apontados:

  • Congresso do Panamá (1826) – convocado por Simón Bolívar, pretendia articular a criação de uma confederação de países hispano-americanos independentes. Representantes de México, Grã-Colômbia, Peru e Províncias Unidas da América Central compareceram ao encontro, onde foi planejada a criação de uma assembleia e de fôrças militares formadas por membros desses países. As decisões não foram postas em prática, mas inspiraram projetos posteriores de integração regional;
  • Conferência de Washington (1889) – convocada pelo governo dos Estados Unidos, visava à integração econômica do continente como um todo. Dezoito países enviaram seus representantes. No encontro, foi criada a União Internacional das Repúblicas Americanas, mais tarde chamada de União Pan-Americana. A partir dessa conferência, representantes dos países americanos passaram a se reunir periodicamente;
  • Conferência de Bogotá (1948) – reuniu representantes de 21 países, que assinaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e transformaram a União Pan-Americana em Organização dos Estados Americanos (ô ê á).

Os ideais do pan-americanismo também incentivaram projetos de aproximação dos países sul-americanos. Um desses projetos é o Mercosúl, que procura estimular as fôrças econômicas da região. Alguns bons resultados foram alcançados, mas ainda há muito a ser feito para a integração do continente americano.

Página de um livro. Sobre um fundo de papel amarelado, o título 'Pan-Americanismo. Monroe, Bolívar, Roosevelt' e um texto ilegível a reprodução. Há um carimbo de biblioteca no canto direito e um número anotado em azul, à caneta.
Na parte inferior a data: 1907.
Primeira página do livro Pan-americanismo: Monroe, Bolívar, Rusevélt, do escritor e diplomata brasileiro Manuel de Oliveira Lima, publicado em 1907. Nessa obra, ele criticou a postura pan-americanista do governo dos Estados Unidos e também a diplomacia brasileira, que queria estreitar os laços com aquele país.

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para pensar

  1. Quais países formam a América do Sul?
  2. Quais são os dois países da América do Sul que não fazem fronteira com o Brasil?

Situação da América Latina pós-independências

Praticamente nenhum governo europeu colaborou com os movimentos de independência. Apenas o Reino Unido foi favorável à emancipação das antigas colônias espanholas e do Brasil, tendo em vista os interesses dos industriais britânicos que defendiam a liberdade de comércio. Essa liberdade significava abolir os monopólios comerciais das antigas metrópoles. Desse modo, após as independências, os mercados consumidores da América Latina foram dominados pelo Reino Unido. A situação mudou no século vinte, quando os Estados Unidos passaram a ser mais influentes na região.

Comércio exterior

Depois das independências, a economia da maioria dos países latino-americanos continuou baseada na exportação de produtos primários. Segundo o economista Celso Furtado, havia três tipos de economia na América Latina:

  • exportadora de produtos agrícolas e pecuários de clima temperado (carne, lã e cereais, como trigo e milho), representada por Argentina e Uruguai;
  • exportadora de produtos agrícolas tropicais (açúcar, fumo, café, cacau, banana), representada por Brasil, Colômbia, Equador, países da América Central e do Caribe e certas regiões do México e da Venezuela;
  • exportadora de produtos minerais (cobre, prata, ouro, estanho), representada por México, Chile, Peru, Bolívia e, a partir de 1920, Venezuela, como exportadora de petróleo.

Autoritarismo e caudilhismo

Outra característica compartilhada pelos países latino-americanos foi o autoritarismo das elites governantes. Ao longo do século dezenove, os governos da região foram dominados por caudilhos, chefes políticos e militares locais que assumiram o poder após as independências e eram, geralmente, ligados às oligarquias rurais. Alguns caudilhos assumiram o poder pelo voto, outros, pela fôrça, mas todos governavam de fórma autoritária.

Após as independências, os líderes políticos latino-americanos não governaram em sintonia com a maioria da população: mantiveram uma aparência democrática (os cidadãos votavam e elegiam seus representantes), mas os governos eram controlados pelos representantes das elites, e não elaboraram projetos políticos para melhorar as condições de vida da população.

Fotografia. Fotografia colorizada artificialmente. Em destaque, um grupo de quatro pessoas. Da esquerda para direita: um homem em pé, vestindo camisa de manga longa e calça de cor acinzentada, bota até os joelhos, um lenço vermelho em volta do pescoço e um chapéu de aba larga e circular. Ele tem duas fileiras de cartuchos de balas de armas de fogo formando um 'X' no tórax e apoia uma espada no chão com as duas mãos sobre ela, à frente de seu corpo. À direita dele, uma mulher de cabelos castanhos presos em um coque, vestindo uma saia longa azul e um tecido vermelho envolto em forma de 'X' no peito. À direita dela, um homem sentado, vestindo camisa de manga longa bege, calça marrom, bota até os joelhos e um chapéu de aba larga e circular. Ele tem duas fileiras de cartuchos de balas de armas de fogo formando um 'X' no tórax e segura, com uma das mãos, uma arma de fogo de cano longo. Ao lado dele, à direita, uma mulher em pé, vestindo blusa de manga longa branca, saia longa branca, um tecido vermelho envolto no peito em forma de 'X' e um chapéu claro de aba circular.
Revolucionários mexicanos em fotografia colorizada de cêrca de 1910. Em 1911, um movimento revolucionário no México depôs o caudilho Porfírio Diaz, que governou o país por mais de três décadas de fórma autoritária.

Responda no caderno

OFICINA DE HISTÓRIA

Conferir e refletir

  1. A maior parte das colônias da América Latina se libertou de suas metrópoles até a segunda metade do século dezenove. Relacione, no caderno, os líderes dos movimentos de independência a seus ideais.
    1. Miguel Hidalgo e Rossê Maria Morelos.
    2. sãn martín e Simón Bolívar.
    3. tussãn lôvertíur e jãn jaque dêssalíne.
    1. Distribuição de terras e fim do trabalho forçado e dos impostos pagos por indígenas.
    2. Integração entre os países da América Latina, que compartilhavam um mesmo idioma e o passado de exploração colonial.
    3. Abolição da escravidão, distribuição de terras e independência.
  2. Compare a independência do Haiti com os demais processos de independência na América Latina estudados. Depois, aponte as diferenças entre eles.
  3. Quais eram os ideais e as reivindicações dos criollos e das camadas populares na época dos movimentos de independência na América espanhola?

integrar com Arte

  1. Os países da América Latina possuem uma cultura rica que se manifesta nas áreas de música, literatura, pintura, escultura, cinema, dança etcétera Na área da literatura, podemos destacar Gabriela Mistral (Chile), Gabriel García Márquez (Colômbia), Mario Vargas Llosa (Peru), Pablo Neruda (Chile), Jorge Luis Borges (Argentina), entre outros. O que você sabe sobre as produções culturais dos países latino-americanos?
    1. Faça uma pesquisa e selecione músicas, filmes, livros e pinturas produzidos na América Latina. Escolha uma obra e faça uma breve descrição sobre ela.
    2. Pesquise sobre a obra escolhida e a biografia do autor ou autora. Depois, elabore um painel para apresentar esse artista aos colegas.
Versão adaptada acessível

4. Os países da América Latina possuem uma cultura rica que se manifesta nas áreas de música, literatura, pintura, escultura, cinema, dança etc. Na área da literatura, podemos destacar Gabriela Mistral (Chile), Gabriel García Márquez (Colômbia), Mario Vargas Llosa (Peru), Pablo Neruda (Chile), Jorge Luis Borges (Argentina), entre outros. O que você sabe sobre as produções culturais dos países latino-americanos?

a) Faça uma pesquisa e selecione músicas, filmes, livros e pinturas produzidos na América Latina. Escolha uma obra e faça uma breve descrição sobre ela.

b) Pesquise sobre a obra escolhida e a biografia do autor ou autora. Depois, apresente o resultado da pesquisa oralmente ou elabore um painel tátil para apresentar esse artista aos colegas. Você pode usar materiais emborrachados, palitos, linhas, tipos de papéis com texturas variadas, entre outros.

Interpretar texto e imagem

5. Em 1819, o congresso revolucionário de Angostura, na Venezuela, proclamou a República da Grã-Colômbia. Simón Bolívar foi nomeado presidente do novo país. Leia a seguir trecho do discurso feito por ele na ocasião e responda à questão.

reticências nem todos os homens nascem igualmente aptos para a obtenção de todas as posições; pois todos devem praticar a virtude e nem todos a praticam; todos devem ser valorosos e nem todos o são; todos devem possuir talentos e nem todos os possuem reticências. As leis corrigem esta diferença, porque colocam o indivíduo na sociedade, para que a educação, a indústria, as artes, os serviços, as virtudes lhe deem uma igualdade fictícia, propriamente chamada política e social reticências.”

BOLÍVAR, Simón. Discurso ao Congresso de Angostura, 1819. In: BELLOTO, Manoel L; CORRÊA, Ana Maria M. (organizador). A América Latina de colonização espanhola: antologia de textos históricos (seleção). São Paulo: Ucitéc/êduspi, 1979. página 164.

De acordo com o discurso de Simón Bolívar, qual é a função das leis?

integrar com Arte

6. Roaquim Torres García (1874-1949) foi um importante pintor uruguaio do século vinte. Por meio de seu trabalho, ele buscava uma identidade para o continente latino-americano e procurava desenvolver uma arte original. Observe o desenho América invertida, de sua autoria, e responda à questão a seguir.

Nessa criação, o artista inverte a maneira habitual de representar o mapa da América do Sul. Há uma famosa frase relacionada a esse desenho: “Nosso norte é o sul”. O que essa frase quer dizer? Reescreva-a com suas palavras.

Desenho em preto e branco. Sobre um fundo branco de papel, em linhas pretas, o contorno da América do Sul representado invertido e dividido em três partes por duas linhas horizontais pretas. Na parte superior da imagem, no centro, o texto 'Polo S'. À sua esquerda, o desenho de um sol e de embarcações à vela. À direita, o desenho de uma meia lua e, abaixo dela, traços em 'x'. A parte central é dividida por duas linhas horizontais e à direita há o desenho de um peixe sobre águas. Na parte inferior da imagem, há uma pequena parte do território sul americano cortado pela linha horizontal onde se lê, em espanhol, 'Equador'.
América invertida, desenho de Roaquim Torres Garcia, 1943.

7. Analise e interprete a frase e a escultura do arquiteto Oscar Niemáier (1907-2012). Depois, responda às questões.

Fotografia. Em uma área aberta e plana, à frente de uma construção de concreto em formato de arco, fechada por vidros escuros, destaque para a escultura de concreto representando uma grande  mão aberta, com os cinco dedos esticados. Do centro da mão até a base da escultura, uma forma de coloração vermelha, com um efeito escorrido.
Mão, escultura de Oscar Niemeyer, 1989. A obra está no Memorial da América Latina, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2015.

“Suor, sangue e pobreza marcaram a história dessa América Latina tão desarticulada e oprimida. Agora urge reajustá-la, uni-la, transformá-la num monobloco intocável, capaz de fazê-la independente e feliz.”

NIEMEYER, Oscar. Mão no Memorial da América Latina. Fundação Oscar Niemáier. Rio de Janeiro, sem data. Disponível em: https://oeds.link/KA4X1d. Acesso em: 30 abril 2022.

  1. Em sua interpretação, o que a fórma em vermelho que se encontra no meio da escultura representa?
  2. Que relações podemos estabelecer entre a obra Mão e a frase de Oscar Niemeyer?
  3. Inspirando-se nas imagens deste capítulo, crie uma representação artística (desenho, música, escultura, montagem com fotografias etcétera) sobre a independência das colônias espanholas e a do Haiti.

Glossário

Exército zapatista
: organização armada liderada por Emiliano Zapata e composta de integrantes das camadas populares e grupos indígenas durante o processo revolucionário mexicano iniciado em 1910.
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