UNIDADE 3  BRASIL IMPÉRIO

CAPÍTULO 7 PRIMEIRO REINADO E REGÊNCIAS

Após a independência, foi necessário criar as estruturas do novo país. O período de organização do Estado nacional corresponde ao Primeiro Reinado e às regências.

Nessa época, o Brasil foi palco de várias rebeliões contra o governo central. Para os revoltosos, as lutas eram uma possibilidade de melhorar as condições de vida. Para o governo central, eram uma ameaça à unidade territorial do país.

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para começar

Você conhece alguma revolta popular ocorrida no mundo contemporâneo? Comente.

Pintura. Em um amplo salão, de paredes vermelhas e repleto de lustres com pendentes de cristal, à direita, dom Pedro, aparece sentado em um trono vermelho e dourado, segurando um cetro dourado com a mão direita. Ele veste uma coroa dourada, um manto imperial amarelo, verde e dourado, uma calça branca e um par de botas pretas até o joelho. À sua frente, um homem calvo com cabelos escuros nas laterais veste uma túnica azul, está ajoelhado e com mãos sobre um livro aberto. Ao redor, muitas pessoas, predominantemente homens, com trajes nobres observam a solenidade.
Coroação de dom Pedroícone de alturaprimeiro, pintura de Jãn Batiste Dêbret, 1828. O evento representa a fundação do Império Brasileiro.
Fotografia. Em um espaço aberto, há um monumento com formato de uma rampa direcionada para cima, com uma área de fratura em sua estrutura. Ao lado, há um rio de águas marrons. Em segundo plano, céu azul com nuvens brancas.
Memorial da Cabanagem, monumento projetado por Oscar Niemáier, construído em 1985 em Belém, Pará. Fotografia de 2019. A rampa, que se eleva em direção ao céu, faz alusão aos projetos revolucionários da Cabanagem e à grandeza do movimento, e a fratura pode ser interpretada como a ruptura provocada por esse processo transformador.
Gravura. Em um local aberto e montanhoso, há um caminho de terra em que se representa um grupo formado por dois homens e uma mulher a cavalo. Ao lado da mulher a cavalo, montada de lado, há um homem em pé, com um chapéu sobre a cabeça. Em frente ao grupo, no canto direito da imagem, há uma mulher em pé segurando a mão de uma criança.
Habitantes de Minas, gravura de iôrrán morits Rugendas, 1835. Homens livres, pequenos comerciantes, profissionais liberais e elites provinciais também se rebelaram contra os aumentos de impostos exigidos pelo governo central durante o Primeiro Reinado e as regências.

Lutas pela independência

A notícia da independência não foi bem recebida em alguns locais do Brasil. Houve confrontos no Maranhão, na Bahia, no Pará, no Piauí e na Cisplatina (atual Uruguai).

Na Bahia, por exemplo, a independência do Brasil é comemorada em 2 de julho de 1823, pois foi apenas nessa data que as tropas portuguesas se renderam. Após a derrota definitiva dos portugueses, o país todo estava sob o comando de dom Pedro primeiro.

Maria Quitéria

Maria Quitéria de Jesus (1792-1853) lutou pela independência do Brasil e, por sua bravura, é considerada heroína nacional.

Ela vivia em uma fazenda com sua família no interior da Bahia, na freguesia de São José das Itapororocas (atual cidade de Feira de Santana). Em 1822, Quitéria quis se alistar para participar da luta contra os portugueses, contrariando seu pai, que afirmava que mulheres não deveriam participar da guerra. Ela não desistiu e pediu ajuda à irmã, Teresa. Para entrar no batalhão, Quitéria se fez passar por homem: cortou o cabelo, vestiu a farda do cunhado e adotou o nome de soldado Medeiros. Poucas semanas depois, ela foi descoberta. Revelada sua identidade, no entanto, Quitéria não foi expulsa da tropa. Nos confrontos, destacou-se por sua atuação e coragem, sendo promovida ao posto de primeira-cadete em 1823.

Após a vitória, Maria Quitéria foi homenageada em diversas ocasiões. Viajou ao Rio de Janeiro para ser condecorada por dom Pedro primeiro. Recebeu a insígnia dos Cavaleiros da Imperial Ordem do Cruzeiro. Seu nome foi usado para nomear ruas, praças e avenidas no Brasil. Em 1996, ela foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.

Pintura. Representação de corpo inteiro de uma mulher em pé, vestindo uma farda militar, chapéu alto dourado sem abas, casaco longo azul com ornamentos dourados e broches, calça branca e sapato preto. A mulher porta uma arma de fogo de cano longo apoiada no chão. Em segundo plano, uma paisagem de montanhas e coqueiros.
Retrato de Maria Quitéria de Jesus Medeiros, pintura de domênico failúti, 1920.
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para pensar

  1. Em sua interpretação, o que significa ser herói?
  2. Que outras mulheres brasileiras você considera heroínas? Por quê?

A construção do país

Os primeiros países a reconhecer a independência do Brasil foram os Estados Unidos (1824) e o México (1825). O governo dos Estados Unidos era contra o domínio europeu na América e queria ampliar sua influência sobre o continente.

Portugal reconheceu a independência do Brasil em 1825, após um acordo com a mediação do Reino Unido, que tinha interesses econômicos na região. O acordo previa o pagamento de uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas (moeda britânica) a Portugal. Para pagar essa indenização, o governo brasileiro fez um empréstimo com os britânicos, que lucraram com a transação financeira.

Durante o Primeiro Reinado (1822-1831), foram criados símbolos nacionais, como a bandeira, o hino e o brasão. Também foi elaborada uma Constituição, e a administração pública começou a funcionar.

O primeiro projeto de Constituição foi concebido por uma Assembleia Constituinte, em 1823. Porém, ocorreram disputas entre correntes políticas:

  • o Partido Português defendia o fortalecimento e a centralização do governo na figura do imperador;
  • o Partido Brasileiro defendia que a autoridade de dom Pedro primeiro fosse limitada pelas leis.

Mesmo com essas divergências, ambos os grupos concordavam em preservar a unidade territorial do Brasil e manter a escravidão.

Gravura em preto e branco. Um amplo salão, com teto arredondado, em abóboda, e colunas verticais próximas formando três arcos, ao fundo. À esquerda, um grupo de pessoas sentadas em cadeiras ao redor de uma mesa retangular. À direita, homens sentados em cadeiras atrás de uma pequena mureta, distribuídas em formato semicircular. Em segundo plano, no piso superior, atrás dos arcos, um grupo de várias pessoas.
Câmara dos deputados, gravura de Lemétre, 1846. Interior da Cadeia Velha, edifício que abrigou a Constituinte de 1823, localizado na Rua Direita, na cidade do Rio de Janeiro.

Diante da possibilidade de ter seus poderes diminuídos, dom Pedro primeiro mandou tropas imperiais fecharem a Assembleia Constituinte. Os políticos que resistiram foram presos e expulsos do país. Entre eles, o ministro do império José Bonifácio de Andrada e Silva e seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco. O fechamento da Assembleia foi interpretado como uma da vitória do Partido Português.

Direitos da população negra

A população escravizada aumentou muito no país nas primeiras décadas do século dezenove. Entre 1808 e 1821, mais de 450 mil africanos escravizados foram enviados, de modo forçado, para o Brasil. Um número semelhante de escravizados chegou ao país durante o reinado de dom Pedro primeiro (1822-1831).

O direito de cidadania de ex-escravizados ou libertos foi uma das questões que dividiram os deputados na Assembleia Constituinte de 1823. A maioria dos deputados, proprietários de terras e de escravizados, considerava que a população negra (escravizada ou livre) representava um perigo social e não deveria ter direitos. Decidiram que a propriedade era um dos direitos fundamentais a serem garantidos e mantiveram a escravidão.

Gravura. Em uma rua, representação de um pequeno grupo de pessoas formado por mulheres, um homem e crianças, em uma área com calçamento de pedras e casas térreas. As mulheres estão descalças, trajam longos vestidos, mantas coloridas, e véus compridos. Duas delas suportam sacos e cestos sobre suas cabeças. À direita, uma das mulheres segura um bebê em seus braços, e ao seu lado há uma menina. À esquerda desse grupo de mulheres, um homem vestindo uma camisa azul, calça bege, chapéu com abas, porta um cajado sobre seu ombro com um saco de tecido na extremidade.
Caboclas lavadeiras, gravura de Jãn Batiste Dêbret, 1834-1839. Entre os que não eram considerados cidadãos no império, estavam as mulheres e os escravizados, ou seja, boa parte da população do país.
Aquarela. Em um porto, no primeiro plano da imagem, à esquerda, um homem puxa dois cavalos com uma corda; à direita, um curso de água com alguns barcos à vela de madeira, mais ao fundo, sobre um cais, com bandeiras, diversas pessoas aglomeradas.
Praia dom Manuel, aquarela atribuída a féliquis êmíl tôné, cêrca de 1823. A obra retrata uma cena cotidiana da cidade do Rio de Janeiro à época da Assembleia Constituinte. Nela, nota-se a presença de escravizados durante o trabalho em embarcações e homens e mulheres da elite.

Constituição de 1824

Os representantes do Partido Brasileiro ficaram descontentes com o fechamento da Assembleia Constituinte. Tentando aliviar as tensões, o imperador nomeou dez homens nascidos no Brasil e de sua confiança para elaborar um novo projeto de Constituição. Concluído o trabalho, em março de 1824, Pedro primeiro outorgou, isto é, aprovou (sem a deliberação dos deputados) a primeira Constituição do país.

Divisão dos poderes

A Constituição de 1824 estabelecia a existência de quatro poderes:

  • Legislativo – para elaborar e aprovar as leis do país, era exercido por senadores nomeados pelo imperador com mandato vitalício e deputados eleitos com mandato de quatro anos;
  • Judiciário – para julgar e aplicar as leis do país, era formado por juízes e jurados. Os juízes não podiam ser demitidos, mas podiam ser transferidos de uma localidade para outra. O órgão máximo era o Supremo Tribunal de Justiça, com magistrados nomeados pelo imperador;
  • Executivo – para cuidar da administração pública. Era chefiado pelo imperador e exercido pelos ministros escolhidos por ele. O Executivo nomeava bispos, magistrados e comandantes militares, além de fazer tratados com governos estrangeiros;
  • Moderador – poder exclusivo do imperador, regulava os demais poderes. Por meio dele, o imperador indicava os senadores, os ministros e os presidentes das províncias (cargo que hoje equivale ao de governador de estado) e podia dissolver a Câmara dos Deputados e convocar novas eleições;
Litografia. Retrato de dom Pedro primeiro representado de frente, com cabelos escuros e lisos, vestindo farda imperial, casaco azul, gola alta dourada e medalhas douradas, além de uma faixa colorida (em verde, azul, amarelo e vermelho) à tiracolo.
Dom Pedro primeiro, imperador do Brasil, litografia de autoria desconhecida, século dezenove. Com a Constituição de 1824, o imperador acumulava dois dos quatro poderes instituídos: Poder Executivo e Poder Moderador.

Voto censitário e padroado

A Constituição de 1824 excluía homens pobres, mulheres, escravizados e indígenas da vida política, pois ela estabeleceu o voto censitário: só teriam direito ao voto e a serem votados os homens que comprovassem determinada renda.

Um eleitor precisava ter renda anual mínima de 100 mil-réis. Para ser candidato a deputado, a renda deveria ser superior a 400 mil-réis e, para senador, 800 mil-réis.

A Constituição também estabeleceu o catolicismo como religião oficial no Brasil. Outras religiões eram permitidas, mas só podiam realizar cultos domésticos. Ninguém seria perseguido por motivo religioso, desde que fosse respeitada a religião oficial do Estado.

Pelo regime do padroado, a Igreja Católica ficava submetida ao imperador, que nomeava religiosos para os cargos eclesiásticos. Os membros da Igreja recebiam pagamento do governo, sendo considerados funcionários públicos.

Fotografia. Capa amarelada de um livro, com os textos: 'Constituição Política do Império do Brasil', e 'Rio de Janeiro. 1824. Na Tipografia Nacional'. No centro, o brasão da família imperial formado por uma esfera armilar encimada por uma coroa, ao lado direito, ramos de tabaco, ao lado esquerdo, ramos de café.
Frontispício da Constituição Política do Império do Brasil, de 1824.

Limites da cidadania

Havia uma enorme distância entre a teoria e a prática da cidadania no império. A Constituição garantia o direito de propriedade, inclusive de terra. Na prática, esse direito era exercido por uma minoria. Aproximadamente 90% da população, entre pobres livres e escravizados, vivia em terras alheias. A maioria dos ex-escravizados e de seus descendentes tinha direitos restritos, pois a renda deles não era suficiente para votarem ou serem votados.

Pela Constituição, os cidadãos brasileiros formavam uma nação livre. Porém, não eram mencionados os indígenas, as mulheres e os escravizados. Isso significava que a maioria da população não era considerada cidadã, estando excluída da participação política.

Açoites e tortura tinham sido abolidos pela Constituição, exceto para duas categorias: os cativos e os marinheiros, que continuaram a ser punidos com castigos físicos.

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi uma reação mais intensa ao fechamento da Assembleia Constituinte, à censura à imprensa, à imposição da Constituição de 1824 e à instituição do Poder Moderador. O movimento ocorreu em Pernambuco e nas províncias vizinhas.

Havia vários motivos para o descontentamento nas províncias. Pequenos comerciantes, militares de baixa patente, mestiços, negros livres e escravizados viviam na pobreza. Já a elite da região preocupava-se com a queda nas exportações e com o aumento da cobrança de impostos. Por um momento, esses grupos sociais uniram-se contra as atitudes autoritárias do imperador.

Nessa época, pessoas influentes como Frei Caneca (1779-1825) e Cipriano Barata (1762-1838) defendiam a criação de uma república em que as províncias tivessem autonomia.

As ideias dos revoltosos eram divulgadas no jornal Tífis Pernambucano, editado por Frei Caneca. A palavra “ Tífis é uma referência mitológica a um piloto de um navio grego. No jornal pernambucano, Frei Caneca dizia que o navio da pátria estava em perigo e que os pernambucanos precisavam escolher um novo piloto para enfrentar as tempestades.

Pintura. Retrato de um homem com cabelos longos, lisos e grisalhos vestindo um casaco e um colete azul-escuro e uma camisa branca.
Retrato de Cipriano José Barata, pintura de domênico failúti, 1925. Cipriano Barata foi um político e jornalista baiano envolvido na Conjuração Baiana de 1798 e na Revolução Pernambucana de 1817. Depois da independência, publicou o jornal Sentinela da Liberdade, no qual atacava as autoridades do império. Barata não participou dos combates da Confederação do Equador porque estava preso no Rio de Janeiro. Entretanto, sua atuação em outras revoltas influenciou o movimento.
Pintura. Representação do julgamento de Frei Caneca. Em uma sala com piso de tábuas de madeira, à esquerda, um grupo de homens está sentado. Eles estão de toga. Destaque para um homem em pé, com um dos braços esticados para frente, apontando o dedo indicador para o lado oposto. À direita, destaque para um homem em pé, vestindo uma longa túnica marrom e sandálias nos pés. Ao seu redor, outros homens, também em pé, populares e soldados. Em segundo plano, sentados em poltronas, atrás de uma mesa retangular, homens de toga observam a cena.
Estudo para Frei Caneca, pintura de Antonio Parreiras, cêrca de 1918. Frei Caneca participou da Revolução Pernambucana de 1817 e, posteriormente, opôs-se ao autoritarismo do império. Em seu jornal, TífisPernambucano, defendia que o Brasil deveria ser uma federação. Caneca era radicalmente contra a existência do Poder Moderador, que considerava a chave da opressão.

Revolta e repressão

A revolta começou quando dom Pedro primeiro contrariou políticos locais e nomeou um novo presidente para Pernambuco. Liderados por Manuel Pais de Andrade, antigo presidente da província e revolucionário em 1817, os revoltosos pretendiam formar uma república federalista, respeitando a autonomia de cada província. De Pernambuco, a revolta expandiu-se para Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Alagoas.

Alguns líderes da Confederação do Equador defendiam o fim do tráfico negreiro e a igualdade entre os cidadãos. No entanto, essas propostas provocaram medo nos proprietários de terras, que, temendo uma revolta popular, retiraram o apôio ao movimento. Com isso, os revoltosos não conseguiram enfrentar as fôrças do governo imperial.

Atacados por terra e mar, os rebeldes foram derrotados. Diversos líderes foram presos e condenados à morte (como Frei Caneca) e outros fugiram (como Pais de Andrade). Como parte da repressão à Confederação do Equador, a província de Pernambuco foi desmembrada: toda a área a oeste do Rio São Francisco foi anexada à Bahia.

Confederação do Equador (1824)

Mapa. Confederação do Equador 1824. Mapa apresenta um detalhe da porção nordeste e centro-oeste do território brasileiro, com a divisão política interna de 1824. Há áreas com destaques coloridos.
Em verde, “Confederação do Equador”, área compreendendo as províncias de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, e parte das províncias de Piauí, Alagoas e Sergipe. 
Em roxo, “Focos de resistência”, área abrangendo pequenas regiões do sul do Ceará, do norte de Piauí e do litoral de Pernambuco, além de um foco maior que compreende a faixa litorânea das províncias Rio Grande do Norte, da Paraíba e Pernambuco, avançando para o interior.
Setas vermelhas indicam “Tropas de repressão”, Partindo das províncias vizinhas para as cidades situadas nos focos de resistência: “Campo Maior” e “Parnaíba”, em Piauí; “Crato” e “Jardim”, no Ceará. Duas setas vermelhas partindo da cidade do Rio de Janeiro,  identificadas com os nomes Francisco Lima e Silva e Lord Cochrane, somam-se a outras setas menores e locais, e indicam o envio de tropas de repressão para a região onde estão as cidades de Recife, Olinda e Pau d'Alho, em Pernambuco; Pilar Paraíba e Mamanguape, na Paraíba. No canto inferior direito, uma rosa dos ventos, e a escala de 0 a 200 quilômetros.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel M. de êti ól Atlas histórico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: fei , 1986. página 36.

PAINEL

Frei Caneca

O painel Frei Caneca – Revolução de 1824 é uma obra do pintor Cícero Dias feita em 1981. Ela mede 6 metros de altura por 4,5 metros de largura. Atualmente, a obra está exposta no prédio onde funcionou um presídio no século dezenove que, após sua desativação, foi transformado na Casa da Cultura de Pernambuco, em Recife.

A seguir, conheça algumas cenas do painel. Elas mostram diversos momentos da vida do religioso, desde a infância até a morte, e destaca sua participação na Confederação do Equador, em 1824.

Painel. Várias cenas são representadas na pintura. Na parte inferior direita, o número 1 indica uma cena em que há uma criança de cabelos escuros, curtos e lisos vestindo uma camisa branca, sobre uma pequena canoa boiando sobre a água, e segurando uma caneca com uma das mãos, em contato com a superfície da água. Na parte inferior esquerda, o número 2 indica diversas cenas diferentes: pessoas com as mãos esticadas para fora de janelas; uma procissão de pessoas enfileiradas, em pé, em uma rua, com destaque para três homens à frente, sendo que o primeiro veste uma longa túnica branca, o segundo veste uma túnica e um chapéu com abas azuis, segurando um crucifixo com uma das mãos, e o terceiro veste uma longa túnica vermelha; indivíduos amontoados em posições violentas, portando cajados ou sobre cavalos. Na parte superior direita, o número 3 se refere a um homem sentado, vestindo camisa branca e calça amarela, e à sua frente, um homem ajoelhado abaixo de um terceiro, que veste farda militar azul e porta uma arma de fogo. Em segundo plano, diversos rostos humanos. Por fim, no canto superior esquerdo, o número 4 indica um homem em pé, com os pés e o tronco amarrados por cordas, vestindo uma camisa branca e uma calça amarela, com o rosto voltado para frente e os braços levantados para cima.
Frei Caneca – Revolução de 1824, painel de Cícero Dias, 1981.
  1. Frei Caneca aparece como criança segurando uma caneca. É uma referência ao nome que o religioso adotou para homenagear seu pai, que tinha esse apelido por fabricar vasilhas.
  2. Com a derrota da Confederação do Equador, Frei Caneca foi condenado à morte. Essa cena retrata o cortejo que acompanhou o religioso pelas ruas do Recife.
  3. Frei Caneca foi levado à forca, mas nenhum carrasco em Pernambuco quis executá-lo. Na cena, um oficial agride o homem que se recusa a executar o religioso.
  4. O governo mandou a tropa imperial fuzilar Frei Caneca. No quadro, o fuzilamento foi representado como a execução de uma pessoa inocente. O religioso aparece com a cabeça erguida e os braços abertos.

Fim do Primeiro Reinado

Vários motivos levaram ao desgaste do imperador. Em 1826, o governo imperial renovou o tratado de comércio de 1810 com o Reino Unido, que estabelecia taxas alfandegárias baixas sobre os produtos britânicos. Desse modo, as importações permaneciam maiores do que as exportações, agravando a crise financeira.

Havia descontentamento popular com as mortes e as despesas causadas pela Guerra da Cisplatina (1825-1828). No conflito, o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina) disputaram a posse da Banda Oriental do Rio da Prata, que naquele momento pertencia ao Brasil sob a denominação de província Cisplatina. A guerra acabou com a assinatura de um acordo em 1828. A região em disputa acabou se tornando um país independente: a República Oriental do Uruguai.

Existia, ainda, uma questão sucessória em Portugal. Com a morte de dom João sexto, em 1826, dom Pedro primeiro herdou o trono português, tornando-se rei Pedro quarto de Portugal. Mas políticos liberais brasileiros não queriam que ele fosse imperador do Brasil e rei de Portugal ao mesmo tempo. Assim, três meses depois, dom Pedro primeiro renunciou ao trono português em favor de sua filha, Maria da Glória. Como ela era menor de idade, dom Miguel, irmão de dom Pedro, assumiu a regência. Porém, em 1828, dom Miguel deu um golpe e proclamou-se rei. Dom Pedro, então, passou a articular a retomada do trono para Maria da Glória.

Charge. Quatro homens foram representados no centro da imagem, dois à esquerda, e dois à direita. À esquerda, um homem veste um sobretudo marrom, uma calça escura e um chapéu com abas, enquanto segura as costas de um homem de estatura infantil, com cabelos castanhos, curtos e despenteados, uma barbicha no queixo, vestindo farda imperial, casaco azul com ornamentos dourados e um culote branco, calça justa até o joelho e calçados compridos. Com sua outra mão, aponta para o lado oposto. À direita, um homem de cabelos castanhos, longos e lisos, vestindo uma camisa escura e uma calça vermelha e volumosa, tem o corpo inclinado para frente, segurando um homem de estatura infantil, vestindo farda imperial, casaco azul com ornamentos dourados e um culote branco, calça justa até o joelho e calçados compridos, além de coroa e faixa à tiracolo.
Charge de Onorrê Domiê, publicada no jornal francês La Caricature de 11 de julho de 1833. Nela, os irmãos Pedro e Miguel foram representados disputando o trono de Portugal instigados por líderes de nações estrangeiras: o rei francês liberal Luís Filipe apoiando dom Pedro (à esquerda) e o quizár russo Nicolau apoiando dom Miguel (à direita).

A tensão política entre os grupos de oposição e os apoiadores do imperador aumentou. O assassinato do jornalista de oposição Líbero Badaró, em novembro de 1830, agravou a crise. Havia suspeitas de que o imperador estaria ligado aos criminosos.

Para acalmar as tensões, dom Pedro viajou para Minas Gerais, mas foi recebido com protestos. Em resposta, seus partidários organizaram uma festa na sua volta ao Rio de Janeiro. Os liberais quiseram impedir a festa, e, entre os dias 11 e 15 de março de 1831, um conflito tomou conta das ruas. Grupos de portugueses e de brasileiros se confrontaram, e o episódio ficou conhecido como Noite das Garrafadas.

Abdicação

Para acalmar os ânimos, o imperador organizou um ministério só com brasileiros, mas os descontentamentos continuaram. Em 5 de abril de 1831, ele demitiu o Ministério dos Brasileiros e nomeou outro, composto só de portugueses conservadores (Ministério dos Marqueses).

A nomeação desse ministério fez estourar outra revolta. Os proprietários rurais, os políticos liberais e a tropa imperial uniram-se contra o imperador. Mais de duas mil pessoas reuniram-se no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, para exigir a volta do Ministério dos Brasileiros.

Sem conseguir contornar a situação, o monarca abdicou do trono em 7 de abril de 1831 em favor de seu filho Pedro de Alcântara, que na época tinha 5 anos de idade. Dom Pedro primeiro voltou para Portugal, mas antes nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva, que havia sido preso e exilado após o fechamento da Assembleia Constituinte em 1823, como tutor de seu filho.

Na Europa, dom Pedro primeiro liderou as lutas pela reconquista do trono português, tornando-se regente de Portugal em nome da filha. Ele morreu dias após a aclamação de Maria da Glória como rainha, em setembro de 1834.

Pintura.  Em um salão há dez homens em pé, entre civis e militares, vestidos solenemente. No centro da imagem, dom Pedro com o braço esquerdo esticado entregando sua carta de renúncia. À sua direita, um grupo de homens observa o gesto. Destaque para o major Miguel de Frias que recebe a carta. À direita de dom Pedro, está seu filho, Pedro de Alcântara, um menino de cabelos claros, curtos e lisos, no colo de uma mulher trajando vestido, sentada em uma poltrona, com um lenço à frente de um olho, com a cabeça reclinada e semblante apreensivo. Uma outra mulher, vestindo túnica clara e comprida, ajoelhada, beija a mão do menino.
A abdicação do primeiro imperador do Brasil, dom Pedro primeiro, pintura de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, 1911. Na obra, dom Pedro primeiro é representado com roupas solenes, entregando sua carta de renúncia ao major Miguel de Frias em 7 de abril de 1831. Seu filho Pedro de Alcântara aparece sentado no colo de uma mulher, enquanto outra mulher ajoelhada beija sua mão em sinal de reverência.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Museu Histórico Nacional

Disponível em: https://oeds.link/pi7qLJ. Acesso em: 8 março 2022.

Página do Museu Histórico Nacional, situado na cidade do Rio de Janeiro. Clicando na aba “Acervo” e, em seguida, em “Museológico”, é possível acessar o acervo virtual da instituição e visualizar as peças do museu relacionadas à família real e a dom Pedro primeiro.

As regências

Com a abdicação de dom Pedro primeiro em 1831, o país deveria ser governado por um conselho de regentes até que o herdeiro do trono completasse 18 anos. Começava, então, o período regencial, que durou até 1840. Nessa época, houve intensas disputas políticas e violentas revoltas nas províncias. Estavam em jogo dilemas como: fortalecer o poder central ou dar autonomia para as províncias; manter ou abolir a escravidão; adotar a monarquia ou a república como fórma de governo.

Regências Trinas (1831-1835)

Quando dom Pedro primeiro abdicou, um grupo de parlamentares elegeu uma Regência Trina Provisória. Entre as medidas tomadas pelos regentes, destacaram-se a volta do Ministério dos Brasileiros, a anistia aos presos políticos e a suspensão do Poder Moderador.

Em junho de 1831, a Assembleia Geral elegeu a Regência Trina Permanente, que representou os interesses dos liberais moderados, grupo que se opunha aos liberais exaltados e aos restauradores. A seguir, conheça aspectos de cada um desses grupos políticos.

Grupo partidário

Objetivos

Setores sociais representados

Figuras de destaque

Jornais

Restauradores
Apelido: caramurus

Defendiam a volta de dom Pedro I ao poder.

Comerciantes portugueses, militares de alta patente e altos funcionários públicos.

José Bonifácio e seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco.

O Caramuru

Liberais exaltados
Apelido: farroupilhas

Defendiam a autonomia das províncias e um sistema federalista. Muitos eram republicanos.

Proprietários rurais, profissionais liberais, pequenos comerciantes, funcionários públicos modestos e militares de baixa patente.

Bento Gonçalves, Cipriano Barata, Borges da Fonseca e Miguel Frias.

A Malagueta e Sentinela da Liberdade

Liberais moderados
Apelido: chimangos

Lutavam pela preservação da unidade do país. Queriam manter a escravidão e a ordem social. Muitos desejavam ampliar o poder dos governos das províncias.

Proprietários rurais, funcionários públicos e militares.

Diogo Antônio Feijó, Evaristo da Veiga e Bernardo Pereira de Vasconcelos.

A Aurora Fluminense

Pintura. Representação de cerimônia solene em um amplo salão, com destaque para o canto direito, sobre um pequeno altar, em que um homem, um clérigo, em pé, a frente de uma poltrona, veste uma longa túnica vermelha, manta branca, e um chapéu alto, também vermelho, portando um cajado com uma espiral na extremidade superior. À sua frente, um homem de cabelos escuros, curtos e lisos, vestindo um casaco marrom, ajoelhado no chão. Entre eles, um terceiro homem, de cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo uma longa túnica escura, portando um documento com uma das mãos, enquanto mantém o outro braço flexionado para cima, e os dedos espalmados. Ao redor, diversos homens com as atenções voltadas para a cena. Em segundo plano, castiçais pendem do teto, adornando o local.
Juramento da Regência Trina, pintura de Manuel de Araújo Pôrto-Alegre, 1831.

Guarda Nacional

Durante a Regência Trina Permanente, o padre Diogo Antônio Feijó exercia o cargo de ministro da Justiça. Ele foi um dos responsáveis pela criação da Guarda Nacional, em 1831, uma corporação armada que atuava nos municípios para impedir agitações populares ou de escravizados e defender as propriedades.

Para ingressar na Guarda Nacional, era preciso ser brasileiro e ter uma renda anual mínima de 100 mil-réis. Novamente, assim como no sistema eleitoral, a maioria da população ficava excluída.

O principal cargo da Guarda era o de coronel, título concedido apenas aos grandes fazendeiros. Cada fazendeiro organizou as tropas com homens de sua confiança. Com isso, eles aumentaram seu poder local.

Gravura. Representação de dois homens da guarda nacional, lado a lado, uniformizados, vestindo chapéus altos, sem abas e com brasões dourados, camisas verdes com ombreiras e faixas à tiracolo, calças brancas, sapatos pretos, portando, mosquetões, armas de fogo.
Guarda Nacional, caçadores, gravura atribuída a Joaquim Lopes de Barros Cabral Tieve, cêrca de1840.

Regressistas e progressistas

Com a morte de dom Pedro primeiro em 1834, em Portugal, não havia mais motivos para a existência do grupo que defendia sua volta (restauradores). Vários dos antigos restauradores tornaram-se liberais moderados que, aos poucos, dominaram a vida política.

Por volta de 1837, os liberais moderados se dividiram na questão da autonomia administrativa às províncias, negada pelos regressistas e apoiada pelos progressistas.

Ato Adicional

Com o objetivo de aliviar as agitações políticas no país, os parlamentares moderados aprovaram o Ato Adicional de 1834, que estabelecia algumas mudanças na Constituição do império. Entre elas:

  • introdução da Regência Una, assim o império seria governado por um único regente eleito para ocupar o cargo por quatro anos;
  • criação das Assembleias Provinciais, com poderes para fazer leis sobre questões locais relacionadas, por exemplo, à arrecadação de alguns impostos, à instrução pública e à execução de obras como estradas, hospitais e prisões;
  • suspensão do Conselho de Estado, órgão composto de conselheiros vitalícios do imperador. Na ausência de um imperador, o Conselho perdeu sua razão de existir.

O Ato Adicional de 1834 ampliou a autonomia provincial e, por isso, foi considerado um avanço liberal na época. Descontentes, os políticos mais conservadores passaram a chamar o Ato Adicional de “código da anarquia”, usando a palavra “anarquia” como sinônimo de bagunça e desrespeito às leis.

Fotografia. Sob um céu azul com nuvens avermelhadas, à esquerda, vista parcial da passarela de uma ponte de concreto ornada por pilastras e postes com lampiões à luz elétrica. À direita, o Rio Capibaribe, que é atravessado pela ponte. Ao fundo, prédios e construções.
Ponte Princesa Isabel com o prédio da Assembleia Legislativa de Pernambuco ao fundo (de cúpula dourada), em Recife, Pernambuco. Fotografia de 2020. O edifício foi construído entre 1870 e 1876 para ser a séde da Assembleia Provincial, órgão criado com o Ato Adicional de 1834.

Regência Una de Feijó e de Araújo Lima (1835-1840)

O padre Diogo Antônio Feijó, representante da ala progressista, foi eleito regente. Durante seu governo (1835-1837) ocorreram revoltas provinciais e os regressistas acusaram o regente de não conseguir manter a ordem no país. Dois anos antes do fim de seu mandato, Feijó renunciou. Para seu lugar, foi eleito Pedro de Araújo Lima, senador pernambucano ligado aos regressistas.

Araújo Lima formou um ministério composto apenas de políticos conservadores que reprimiu com violência as revoltas em curso no país. Para os grupos dominantes na regência de Araújo Lima (1837-1840), as revoltas punham em risco a unidade territorial do país. Muitos fazendeiros e comerciantes sentiam-se ameaçados pelas reivindicações populares.

Para os regressistas, a descentralização política e a autonomia das províncias causavam “desordem”. Com esse argumento, criaram a Lei Interpretativa do Ato Adicional (12 de maio de 1840), que reduzia o poder dos governos provinciais e aumentava o poder do governo central.

A renúncia de Feijó e o governo de Araújo Lima representaram o triunfo dos políticos conservadores. A partir daí, o governo central concentrou poderes, as províncias perderam parte de sua autonomia e os movimentos populares provinciais foram reprimidos.

Caricatura. Arte em tons de ocre e traços pretos satirizando o ex-regente Feijó, representado sobre o dorso de um burro com sela. O homem de cabelos curtos e lisos está trajando calça, paletó, com o corpo curvado para frente, o semblante e a postura de derrota. O burro foi representado marchando e defecando ao solo, com o chapéu de seu montador sobre sua cabeça.
Caricatura de Manuel de Araújo Pôrto-Alegre, de 1836, mostra Feijó, após ser afastado da regência, voltando para São Paulo montado em um burro.

Antecipação da maioridade

Mesmo com a repressão, as revoltas provinciais não acabaram. Além disso, políticos progressistas estavam insatisfeitos com o regente e queriam tirá-lo do poder. Por isso, passaram a defender o fim da regência e a transferência do poder para o príncipe Pedro de Alcântara. Mas, em 1840, o príncipe tinha 14 anos e a lei exigia que ele completasse 18 anos para assumir o trono.

Então, o Poder Legislativo antecipou a maioridade de dom Pedro segundo em 23 de julho de 1840, num episódio conhecido como Golpe da Maioridade.

Pintura. Representação de dom Pedro segundo menino. Ele foi retratado em pé, do joelho para cima. Tem o cabelo loiro claro, curto e liso, está vestindo traje imperial: casaco escuro, com brasão verde e ornamentos dourados, sobre a gola, um lenço vermelho com um medalhão. Ele porta uma faixa azul à tiracolo, cinto dourado e calças brancas.
Retrato do imperador dom Pedro segundo, pintura de féliquis êmíl tôné, 1837. À época, Pedro de Alcântara tinha 12 anos.
Pintura. Em um amplo salão, à direita da imagem, destaque para um homem, a majestade, em pé, à frente de um trono, vestindo entre outras peças, um manto dourado, e uma coroa sobre sua cabeça. Ele está segurando um cetro dourado com a mão direita. Logo abaixo do imperador, sobre um lance de escadas, um clérigo com trajes eclesiásticos, uma longa túnica clara, está em pé, com os braços abertos. Ao redor, uma multidão está voltada para a cena.
Coroação de dom Pedro segundo (estudo), pintura de Manuel de Araújo Pôrto-Alegre, cêrca de 1843. A coroação ocorreu em 18 de julho de 1841.

Revoltas provinciais

Diante de insatisfações acumuladas, diversos grupos sociais das províncias (ricos e pobres; gente do campo e das cidades; brancos, negros, indígenas e mestiços) lutaram para conquistar melhores condições de vida e espaço na cena política. Os descontentamentos culminaram em várias revoltas ocorridas durante o período regencial. Observe o mapa a seguir.

Revoltas provinciais no período regencial (1835-1840)

Mapa. Revoltas provinciais no período regencial (1835-1840). Mapa território do Brasil dividido politicamente em províncias conforme os limites de 1835 a 1840. Há áreas destacadas em diferentes cores.
Em laranja, “Cabanagem”, área envolvendo a província do Grão-Pará.
Em roxo, “Balaiada”, área envolvendo parte das províncias do Maranhão e Piauí.  
Em vermelho, “Sabinada e Revolta dos Malês”, área envolvendo a cidade de Salvador. 
Em verde “Revolução Farroupilha”, área envolvendo as províncias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 
No canto inferior esquerdo, uma rosa dos ventos, e escala de 0 a 380 quilômetros.
Fonte: isto é Brasil 500 anos: atlas histórico. São Paulo: Editora Três, 1998. página 57; jôfili, Bernardo; jôfili, Mariana. Atlas histórico do Brasil. Rio de Janeiro: cê pê dóc/éfe gê vê, 2016. Disponível em: https://oeds.link/H9Giz6. Acesso em: 10 março 2022.

Revolta dos Malês

Em 1835, ocorreu na Bahia uma das mais importantes revoltas de escravizados da história do Brasil. A maioria desses escravizados era malê, nome dado aos muçulmanos vindos da África Ocidental. Entre os líderes do movimento estavam Pacífico Licutã, Manuel Calafate e Luís Sanim. Os planos dos revoltosos incluíam a luta contra a escravidão, contra a imposição do catolicismo e contra a discriminação racial.

Os malês juntaram dinheiro para conseguir armas e enfrentar os senhores brancos que os oprimiam. A revolta foi planejada para começar em 25 de janeiro, mas uma denúncia antecipou o movimento. Na noite de 24 de janeiro, alguns rebeldes foram cercados por policiais na casa de Manuel Calafate, mas não se entregaram. Os rebeldes saíram às ruas com facas, facões e machados para lutar contra as fôrças policiais que usavam armas de fogo.

A revolta foi rapidamente sufocada. Mais de 200 revoltosos foram presos, incluindo cêrca de 30 mulheres. Ao final, quatro escravizados foram condenados à morte e outros tantos foram açoitados em público. cêrca de 500 africanos, entre escravizados e libertos, foram expulsos da Bahia e enviados para a África. A Revolta dos Malês fez aumentar o medo dos senhores de escravizados em relação ao poder dos negros de se rebelar.

Fotografia em preto e branco. Uma mulher vista de frente, trajando um vestido branco, um manto escuro ao redor de um de seus ombros, encobrindo parcialmente seu corpo, colares ao redor de seu pescoço, pendendo sobre seu peito, pulseiras, e sobre sua cabeça, um turbante de tecido claro.
Mulher negra da Bahia, fotografia de Marc Ferrez, cêrca de1885. O turbante usado no candomblé, na umbanda e nas vestimentas tradicionais da Bahia pode ter tido origem na indumentária muçulmana dos malês.
Fotografia. Imagem de um manuscrito com textos em árabe.
Manuscrito com textos religiosos extraídos do Alcorão, encontrado com um escravizado que participou da Revolta dos Malês, em 1835. As orações em árabe indicam que no Brasil havia escravizados muçulmanos alfabetizados.

OUTRAS HISTÓRIAS

Heranças da escravidão na América

Na primeira metade do século dezenove, as grandes cidades da América receberam milhares de africanos escravizados. Foi o caso de Salvador, Rio de Janeiro, Recife e Havana (capital de Cuba). Nesses lugares, as autoridades e os senhores tentavam controlar a população de cativos. Ao mesmo tempo que eles tinham de garantir a mobilidade dos escravizados para venderem produtos e prestarem serviços, os senhores também queriam impedir que essa circulação facilitasse reuniões de escravizados e revoltas.

Nessas sociedades, a escravidão alimentou várias fórmas de preconceito. Os brancos pobres, por exemplo, se recusavam a realizar trabalhos manuais que também eram feitos por escravizados.

Isso mostra que a escravidão deixou marcas profundas nas sociedades onde existiu. Sua existência está na origem do preconceito racial.

Fotografia. Vistos de cima, um grupo de cinco jovens, todos com cabelos crespos, vestindo becas escuras e faixas roxas sobre suas cinturas, cada um deles com o braço direito esticado para cima e a mão fechada em punho.
Universitários afrodescendentes celebram formatura, em Salvador, Bahia. Fotografia de 2018. Da esquerda para a direita, Marcos Araújo, Daiana Damasceno, Rébert Gonçalves, Patrícia Souza e Bárbara Xavier. A ampliação do acesso dos jovens negros à universidade é uma fórma de combater as desigualdades que o Brasil herdou da escravidão.

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Atividade

Em sua opinião, é possível perceber heranças da escravidão na sociedade atual? Redija um pequeno texto argumentando sobre essa questão.

Cabanagem

A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre 1835 e 1840 na província do Grão-Pará, que compreendia os atuais estados de Pará, Amazonas, Amapá e Roraima. Os revoltosos eram mulheres e homens pobres, indígenas, negros e mestiços que extraíam produtos da floresta e viviam em casas simples, como cabanas, à beira dos rios. Por isso, foram chamados de cabanos. Muitos líderes populares da revolta eram conhecidos por apelidos, como João do Mato, Domingos Onça e Mãe da Chuva.

No início, os cabanos tiveram o apôio de fazendeiros descontentes com a centralização política. Os fazendeiros queriam exportar mais produtos (como cacau, madeira e ervas) sem pagar tantos impostos. Porém, devido à radicalidade do movimento, eles logo se afastaram.

Em 1835, os cabanos conquistaram Belém e mataram várias autoridades, inclusive o presidente da província. Os revoltosos controlaram a cidade até o ano seguinte, mas tiveram dificuldade para governar. Faltava-lhes organização, havia divergências entre os líderes e a rebelião foi traída várias vezes. Tudo isso facilitou a repressão violenta do movimento pelas tropas do Rio de Janeiro enviadas pelo governo regencial.

Ainda assim, a derrota definitiva só ocorreu em março de 1840, quando os últimos cabanos foram perseguidos em povoações do interior. Milhares deles foram mortos e muitos sobreviventes foram presos.

Litogravura. Representação de uma cabana rudimentar sobre um terreno às margens de um rio. No segundo plano, continuação do terreno às margens do rio, com palmeiras e arbustos.
Litogravura de F. J. Tempeltei, publicada em 1847, feita com base em Breves em 25 de novembro de 1842, gravura de Ádalbért Ráinrichi Vílrêim, príncipe da Prússia. A obra mostra uma das cabanas construídas à beira de um rio na localidade de Breves, no Pará.

Farroupilha

A Revolução Farroupilhaglossário , também chamada Guerra dos Farraposglossário , ocorreu entre 1835 e 1845, nas províncias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Naquela época, os gaúchos criadores de gado e produtores de charque reclamavam das concorrências uruguaia e argentina e do excesso de impostos. Esse descontentamento foi um dos motivos que deflagaram a revolta. Entre os líderes farroupilhas, destacaram-se o estancieiro Bento Gonçalves, o militar Davi Canabarro e o revolucionário italiano Diusépe Garibáldi.

Em 1835, os farroupilhas dominaram por curto tempo Pôrto Alegre, capital da província do Rio Grande do Sul. Nesse mesmo ano, o movimento expandiu-se e os rebeldes fundaram a República Rio-Grandense, também chamada República de Piratini, nome de sua capital. Em julho de 1839, os farroupilhas conquistaram a província de Santa Catarina e fundaram a República Juliana.

A partir de 1842, o movimento farroupilha começou a ser combatido mais duramente. Em 1º de março de 1845, foi celebrada a Paz do Ponche Verde entre os farroupilhas e as tropas imperiais. Nos termos do acordo:

  • os revoltosos receberam anistia;
  • os farrapos puderam escolher o presidente da província do Rio Grande do Sul;
  • os oficiais do exército farroupilha foram incorporados ao exército imperial, ocupando os mesmos postos;
  • a taxa de importação sobre o charque uruguaio e argentino foi elevada, para proteger a produção brasileira;
  • os escravizados que lutaram ao lado dos farroupilhas foram libertados. No entanto, essa medida beneficiou poucos deles, pois a maioria tinha morrido durante as lutas.
Fotografia em preto e branco. Um homem com barba volumosa, vestindo uma camisa, lenço claro amarrado no pescoço com um nó, calça e um chapéu com abas, sentado sobre uma cadeira. A mão esquerda está no bolso e a direita está sobre a sua perna.
Fotografia de Diusépe Garibáldiem Caserta, Itália, 1860.
Pintura. Retrato de uma mulher de corpo inteiro, cabelos castanhos, longos, lisos e presos, vestindo uma camisa branca tomara que caia e uma longa saia vermelha, segurando uma bandeira vermelha com a mão esquerda, e uma espada com a direita.
Alegoria da revolução – Anita Garibáldi, pintura de iôrram mórritis ruguendás, cêrca de 1848-1850. Anita era brasileira e conheceu djiuzépe Garibaldi na tomada de Laguna, em Santa Catarina. O casal participou de combates da Revolução Farroupilha e da unificação italiana.

Sabinada

Em 1837 e 1838, ocorreu na Bahia a Sabinada, liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino. A rebelião foi motivada pelo desejo de manter a autonomia provincial conquistada com o Ato Adicional. O objetivo era criar uma república na Bahia enquanto o príncipe herdeiro ainda fosse menor de idade.

Os sabinos conseguiram reunir tropas, conquistar o poder em Salvador e criar um governo provisório. Porém, o movimento não teve adesão de toda a população. Muitos fazendeiros discordaram do governo provisório, que prometia liberdade aos escravizados que lutassem ao lado dos rebeldes. Temendo uma revolta semelhante à dos malês, esses fazendeiros ajudaram as fôrças imperiais a combater o movimento.

Em Salvador, mais de mil pessoas morreram e outras tantas foram presas. Em março de 1838, a rebelião foi sufocada pelo governo regencial. Apesar da repressão, os principais líderes não foram condenados à morte, e sim deportados ou aprisionados. Sabino, por exemplo, foi preso e exilado para a província de Mato Grosso.

Fotografia. Vista de rua de parte do centro histórico da cidade de Salvador. Há pessoas e carros sobre a via cujo calçamento é de pedra. À direita e à esquerda da rua, sobrados coloniais com dois ou mais andares, com fachadas coloridas, respectivamente em verde, amarelo, azul, rosa, entre outras. Na calçada do lado direito, há uma igreja de fachada azul.
Rua do bairro Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, Bahia. Fotografia de 2020. A cidade foi palco da Sabinada, movimento do qual participaram soldados, trabalhadores livres e profissionais liberais.

Balaiada

A Balaiada foi uma revolta ocorrida no Maranhão entre 1838 e 1841 e começou com divergências entre grupos políticos. Profissionais liberais que formavam o grupo Bem-te-vi (nome do jornal publicado pelos liberais na província) criticavam os fazendeiros conservadores do Maranhão, que, por sua vez, sentiam os efeitos da queda na exportação do algodão e pressionavam os trabalhadores. Muitos vaqueiros livres e escravizados sofriam com a opressão e se uniram para lutar contra a miséria e a escravidão. Assim, os bem-te-vis iniciaram a revolta contra os fazendeiros com a participação dos sertanejos pobres.

Os principais líderes populares foram o vaqueiro Raimundo Gomes Jutaí, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, fabricante de balaiosglossário , e Cosme Bento das Chagas, homem negro livre e líder de um quilombo que reunia cêrca de 3 mil escravizados fugitivos. Cosme foi um dos responsáveis pela expansão do movimento para o Piauí.

Apesar de pouco organizados, os balaios conquistaram Caxias, a maior cidade depois da capital, São Luís. Mas os líderes não se entenderam e o poder foi entregue aos bem-te-vis, naquele momento já preocupados com a radicalidade e dispostos a conter a rebelião.

O governo regencial enviou cêrca de 8 mil soldados ao Maranhão, comandados por Luís Alves de Lima e Silva e contando com o apôio dos bem-te-vis. Os combates terminaram em 1841; ao todo, cêrca de 12 mil sertanejos e escravizados foram mortos. Cosme Bento foi preso e enforcado.

Fotografia. Uma parede de pedra em ruínas, cercada por uma pequena grade, e à direita, uma casa com paredes brancas, entrada composta por três arcos, contendo o texto sobre sua fachada: 'Memorial da Balaiada'.
Ruínas da Fortaleza no Morro do Alecrim, onde ocorreram batalhas da Balaiada, ao lado do Memorial da Balaiada, na cidade de Caxias, Maranhão. Fotografia de 2022. O museu conta com peças encontradas em escavações na região.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro.

dica livro

ARAÚJO, Iramir; INÁCIO, Beto; FREIRE, Ronilson. Balaiada: a guerra do Maranhão. São Luís: Dupla Criação, 2009.

A obra apresenta a história da Balaiada em quadrinhos, mostrando a participação popular no movimento. Além disso, os autores pesquisaram as cartas trocadas entre os revoltosos, bem como a correspondência entre Luís Alves de Lima e Silva, comandante responsável pela repressão, mais tarde conhecido como Duque de Caxias, e o governo central, e transformaram esses escritos em diálogos.

Constituições e desigualdades

O quadro a seguir apresenta algumas características das sete Constituições que o Brasil já teve. A Constituição atual, de 1988, estabeleceu que o Estado deveria acabar com a pobreza e diminuir as desigualdades sociais.

Algumas características das Constituições do Brasil

Ano

Contexto em que foi criada

Medidas

Constituição de 1824

Outorgada por dom Pedro I durante o Primeiro Reinado.

Estabeleceu a divisão de quatro poderes:
Legislativo, Judiciário, Executivo e Moderador (este último exercido pelo imperador).
Estabeleceu o direito ao voto, restrito somente aos homens que comprovassem determinada renda (voto censitário).

Constituição de 1891

Promulgada por um Congresso Constituinte após a proclamação da república.

Estabeleceu a república, o sistema presidencialista extinguiu o Poder Moderador.
Aboliu o voto censitário. Analfabetos, mulheres, mendigos, soldados e membros de ordens religiosas eram proibidos de votar.

Constituição de 1934

Promulgada por uma Assembleia Constituinte após o movimento de 1932.

Estabeleceu o voto secreto e garantiu às mulheres direito ao voto, conquistado em 1932.
Incorporou à Constituição as leis trabalhistas promulgadas até então.
Protegeu riquezas naturais racionais, como jazidas de minérios, fontes de água e energia, da exploração por empresas estrangeiras.

Constituição de 1937

Outorgada por Getúlio Vargas durante o Estado Novo.

Extinguiu o federalismo, os partidos políticos, a Justiça Eleitoral, o Poder Legislativo e o direito à greve.
Instituiu a censura aos meios de comunicação.

Constituição de 1946

Promulgada por uma Assembleia Constituinte depois do fim da ditadura do Estado Novo.

Reestabeleceu a democracia, o federalismo e o direito à greve.
Restituiu a divisão entre os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e a liberdade de pensamento e expressão.
Estabeleceu o direito ao voto para brasileiros de ambos os sexos, maiores de 18 anos, exceto analfabetos, que eram cerca de 50% da população.

Constituição de 1967

Outorgada pelo Congresso Nacional durante a ditadura civil-militar.

Estabeleceu eleições indiretas, a cassação de mandatos e partidos políticos pelo Poder Executivo e restringiu o direito à greve.

Constituição de 1988

Promulgada por uma Assembleia Constituinte ao final da ditadura civil-militar.

Estabeleceu a liberdade de pensamento, de crença religiosa, de expressão intelectual, de locomoção e de associação como princípios fundamentais.
Reconheceu o direito de indígenas e quilombolas sobre as terras que tradicionalmente ocupam.
Estabeleceu o racismo como crime inafiançável.
Estendeu o direito de voto aos analfabetos aos jovens a partir dos 16 anos.

Ícone. Atividade oral.

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para pensar

Nos dias atuais, em quais situações você percebe a existência da desigualdade social? Reflita sobre o assunto e compartilhe suas considerações com os colegas.

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Conferir e refletir

  1. Com relação à Confederação do Equador, responda às questões.
    1. O que desencadeou a revolta?
    2. Que grupos sociais estavam envolvidos no movimento?
    3. Por que os grandes proprietários de terra deixaram de apoiar o movimento?
    4. Qual foi seu desfecho?
  2. Política não se faz apenas na Câmara dos Deputados ou no Senado. No Primeiro Reinado e nas regências, os cidadãos, e mesmo quem não tinha direitos de cidadania, também participavam da política. Identifique neste capítulo momentos em que a população se organizou para defender seus direitos.
  3. Elabore um quadro apontando semelhanças e diferenças entre a fórma de governo adotada no Brasil após a sua independência e as fórmas de governo adotadas por outros países da América Latina no mesmo período. Para isso, retome os conteúdos estudados na unidade anterior.
Versão adaptada acessível

3. Estabeleça semelhanças e diferenças entre a forma de governo adotada no Brasil após a sua independência e as formas de governo adotadas por outros países da América Latina no mesmo período. Para isso, retome os conteúdos estudados na unidade anterior. As informações podem ser apresentadas por meio de uma produção textual, de um relato oral ou de um quadro comparativo tátil. Para elaborá-lo, você pode utilizar materiais como papéis com diferentes texturas, linhas, botões, palitos, materiais emborrachados, entre outros.

  1. Quais foram os principais grupos políticos formados durante as regências e o que eles defendiam? Que setores da sociedade não eram representados por nenhum desses grupos?
  2. Elabore um quadro sobre a Cabanagem e a Farroupilha, que você estudou neste capítulo. Nele deve constar:
    1. nome da revolta;
    2. província ou províncias onde o movimento ocorreu;
    3. duração;
    4. motivos;
    5. objetivos;
    6. grupos sociais participantes;
    7. desfecho.
Versão adaptada acessível

5. Identifique informações sobre a Cabanagem e a Farroupilha, que você estudou neste capítulo, e apresente essas informações por meio de uma produção textual, de um relato oral ou de um quadro comparativo tátil. Para elaborá-lo, você pode utilizar materiais como papéis com diferentes texturas, linhas, botões, palitos, materiais emborrachados, entre outros. Na sua produção deve constar:

a) nome da revolta;

b) província(s) onde o movimento ocorreu;

c) duração;

d) motivos;

e) objetivos;

f) grupos sociais participantes;

g) desfecho.

6. Com base no que você aprendeu sobre a Revolta dos Malês, na Bahia (1835), debata a seguinte afirmação: Os escravizados eram facilmente dominados pelos senhores.

Interpretar texto e imagem

7. Em grupo, leiam trechos da Constituição brasileira atual e façam o que se pede.

Artigo 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

um – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

dois – garantir o desenvolvimento nacional;

três – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

quatro – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras fórmas de discriminação. reticências

Artigo. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

um – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações reticências;

três – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; reticências

seis – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na fórma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias reticências.”

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: https://oeds.link/5i4SyE. Acesso em: 10 março2022.

  1. Selecionem notícias de jornais e revistas que indiquem:
    • aspectos em que esses direitos são respeitados;
    • aspectos em que eles são desrespeitados.
  1. As questões a seguir devem ser debatidas em sala de aula. Fique atento à argumentação dos colegas e desenvolva seus argumentos de forma respeitosa, como é próprio de um bom debate.
    • Por que muitos dos direitos garantidos na Constituição não são respeitados?
    • O que a população pode fazer para exigir o cumprimento de seus direitos?
    • Qual é o papel das eleições nesse processo? E o da educação?

8. Em dezembro de 1838, Raimundo Gomes Jutaí, vaqueiro e administrador de uma fazenda de gado, protagonizou um episódio considerado o início da Balaiada. Gomes e seus companheiros atacaram uma cadeia e libertaram os presos da Vila da Manga, no Maranhão. Entre os presos, estava o irmão de Gomes. Dias depois do ataque, Gomes escreveu um manifesto com quatro reivindicações:

“Primeiro: que seja sustentada a Constituição e garantias dos cidadãos.

Segundo: que seja demitido o presidente da província, e entregue o governo ao vice-presidente.

Terceiro: que sejam abolidos os prefeitos, subprefeitos, e comissários, ficando somente em vigor as leis gerais, e as provinciais, que reticências forem de encontro à Constituição do império.

Quarto: que sejam expulsos [dos] empregos [os] portugueses, e despejarem a província dentro em quinze dias, com exceção dos casados com famílias brasileiras, e os velhos de 61 anos para cima.”

MANIFESTO de Raimundo Gomes Jutaí. Apud: ASSUNÇÃO, Matias Rêrríchi. Sustentar a Constituição e a santa religião católica, amar a pátria e o imperador: liberalismo popular e o ideário da Balaiada no Maranhão. In: DANTAS, Monica Duarte organização. Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século dezenove. São Paulo: Alameda, 2011. página 298.

  1. As reivindicações contidas no manifesto referem-se às leis e às autoridades. O que os balaios pretendiam manter e o que queriam mudar nessas leis?
  2. O que o manifesto pede que seja feito com os portugueses? Em sua interpretação, qual é o motivo desse pedido?

Glossário

Farroupilha; farrapos
: essas palavras referem-se a pessoas maltrapilhas, vestidas com roupas gastas. No entanto, os líderes desse movimento nada tinham de esfarrapados. Muitos deles eram estancieiros, ou seja, criadores de gado.
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Farroupilha; farrapos
: essas palavras referem-se a pessoas maltrapilhas, vestidas com roupas gastas. No entanto, os líderes desse movimento nada tinham de esfarrapados. Muitos deles eram estancieiros, ou seja, criadores de gado.
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Balaios
: cestos de folhas de buriti, que inspirou o nome do movimento.
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