UNIDADE 4 DOMÍNIO DAS GRANDES POTÊNCIAS

Habilidades da BNCCBê êne cê cê

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Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, o imperialismo na África e na Ásia, e de assuntos correlatos, como as táticas de dominação imperialista, o determinismo das ideologias raciais, os principais produtos explorados pelos europeus no continente africano, os impactos dessas ideologias e dessa exploração para as comunidades locais e os processos de conquista europeia e resistência protagonizada por populações africanas e asiáticas.

• Contextualizar a atuação imperialista europeia na África e na Ásia, destacando formasfórmas de dominação militar, econômica e cultural.
• Criticar ideologias raciais baseadas na noção de “missão civilizadora” e no darwinismodarvinísmo social.
• Analisar os casos do imperialismo na atual região da África do Sul, Argélia, Índia, China, bem como o caso do Japão.
• Conhecer exemplos de resistências africanas e asiáticas ao imperialismo.

Para começar

Tema para reflexão. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente que, em termos populacionais, o planeta será habitado por uma maioria asiática e africana. Em cada 10 pessoas, quase 8 serão desses continentes. Isso pode provocar mudanças geopolíticas como migrações e alterações nos padrões culturais e econômicos. Essa concentração populacional também pode impactar negativamente o meio ambiente e dificultar a solução dos problemas sociais e da redução da pobreza. Para refletir sobre o assunto, sugerimos a leitura com a turma do artigo reproduzido no boxe “Texto de aprofundamento” a seguir.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir trechos de um artigo escrito por José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e professor titular de mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas do Programa de Pós-graduação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (EnceEnce/IBGEí bê gê É).

Projeções populacionais

“A Divisão de População da [Organização das Nações Unidas] ONUônu divulgou, dia 21/6/2017, as novas projeções de população para todos os países e para a população regional e mundial. [...] reticências

Para o Brasil, a nova revisão média indica que o pico populacional [...] reticênciasdeve ocorrer em 2047, quando a população pode atingir 232,8 milhões de habitantes. Em 2055, a população brasileira deve cair ligeiramente para 231,5 milhões e pode chegar a 190 milhões em 2100. [...] reticências

Enquanto as projeções da ONUônu diminuíram o tamanho da população brasileira em meados do século XXIvinte e um, o contrário aconteceu para o caso da população mundial. [...] reticênciasna projeção 2017, a população mundial foi estimada em 7,38 bilhões de habitantes em 2015 e 7,55 bilhões em 2017, sendo projetada para 9,77 bilhões de habitantes em 2050 e 10 bilhões em 2055.

[...] reticênciasEntre 2017 e 2030 a população global vai passar de 7,6 bilhões para 8,6 bilhões, um aumento de 1 bilhão de habitantes nos próximos 13 anos. São 83 milhões de novas bocas por ano e que podem não ser 83 milhões de braços para o trabalho devido à crise de emprego. Evidentemente, este alto crescimento demográfico deve ter um impacto negativo sobre o meio ambiente e deve dificultar a solução dos problemas sociais e a redução da pobreza. [...] reticências

As projeções da Divisão de População da ONUônu, revisão 2017, confirmam que o crescimento demográfico mundial vai continuar forte na primeira metade do século XXIvinte e um. Países pobres da África e da Ásia vão ser responsáveis pelo grande crescimento da população mundial, mesmo num quadro em que já há outros 83 países com taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição (perfazendo 46% da população mundial).

Portanto, o mundo passa por uma situação caracterizada como fosso demográfico. Cercacêrca da metade da população mundial caminha para o decrescimento populacional com elevado envelhecimento da estrutura etária, enquanto a outra metade tem uma estrutura etária jovem e altas taxas de crescimento vegetativo. [...] reticências

A demografia não é destino. Mas não há futuro de prosperidade e bem-estar para os países e o mundo sem o adequado enfrentamento dos problemas demográficos.”

ALVEZ, José Eustáquio Diniz. As novas projeções da ONUônu sobre a população brasileira e mundial. Laboratório de Demografia e Estudos Populacionais, 28 jun.junho 2017. Disponível em: https://oeds.link/sQnAQ8. Acesso em: 21 mar.março 2022.

Orientação didática

A expansão do imperialismo ocorrida a partir do final do século XIXdezenove é um assunto essencial para a compreensão das atuais relações econômicas mundiais e da condição de muitas sociedades da África e da Ásia. Afinal, foi nesses continentes que se sentiu mais fortemente a ação do imperialismo europeu.

A corrida imperialista era justificada com o argumento de que as potências mais desenvolvidas tinham a “missão civilizadora” de difundir o progresso e a justiça pelo mundo. Essa “missão” estava atrelada a ideias como as de superioridade do branco e de discriminação racial.

Para pensar

Resposta pessoal. Tema para reflexão. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente que, atualmente, as sociedades democráticas entendem que os interesses de pessoas, grupos e Estados devem ser limitados e orientados por princípios éticos e jurídicos como a defesa da paz, o respeito à dignidade da pessoa humana e a proteção do meio ambiente. Isso implica, por exemplo, atitudes de diálogo, cooperação, solidariedade e inclusão social.

Texto de aprofundamento

Rudyard Kiplingrúdiard quíplin (1865-1936) nasceu na Índia, onde são ambientadas suas mais famosas criações literárias, como O livro da selva, publicado em 1894. Além disso, o escritor soube expressar a ideologia dos colonizadores britânicos de seu tempo. A seguir, selecionamos trechos do poema “O fardo do homem branco”, publicado em 1899, que expressa ideias coloniais do século XIXdezenove.

O fardo do homem branco

“Aceitai o fardo do homem branco –

Enviai os melhores dos vossos filhos,

Condenai vossos filhos ao exílio,

Para que sejam os servidores de seus cativos;

Para servir vestindo pesados trajes de combate,

Os povos selvagens e revoltados –

Vossos povos recém-conquistados e descontentes,

Metade demônios, metade crianças.

[...]reticências

Aceitai o fardo do homem branco –

Não o comando tirânico dos reis,

Mas sim o trabalho de servir e purificar –

A história das coisas costumeiras.

As portas que não deveis entrar,

As estradas que não deveis pisar,

Vá marcá-las com sua vida,

E marcá-las com seus mortos.”

KIPLING, RudyardQuiplim, Rudiardi. Ttíhe white man’s burden. Disponível em: https://oeds.link/oX0RON. Acesso em: 14 maio 2022. [Tradução dos autores].

Orientação didática

Para trabalhar o poema O fardo do homem branco, de Rudyard Kiplingrúdiard quíplin, pode-se apresentar aos estudantes ilustrações e charges contemporâneas ao poema que questionaram o ponto de vista de Kiplingquíplin. Esse foi o caso, por exemplo, da ilustração de William H. Walker, de 1899. Essa ilustração está disponível para visualização na William Walker Cartoon Collection – Biblioteca da Universidade de Princeton. Disponível em: https://oeds.link/nrVFQ8. Acesso em: 14 maio 2022.

Nela, notam-se representações de quatro nações imperialistas (Estados Unidos, Reino Unido, Bélgica e França) sendo carregadas nos ombros por nações subjugadas (Filipinas, Índia e Estados africanos). Ressalte que parte da imprensa da época já questionava e criticava a atuação dos Estados Unidos e das nações europeias na África, na Ásia e mesmo na América.

Para pensar

Tema para reflexão. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente que a elaboração de argumentos que objetivam justificar uma conquista faz parte das táticas de dominação cultural. No caso do imperialismo, por exemplo, os conquistadores não queriam apenas explorar as sociedades africanas e asiáticas, beneficiando-se das riquezas desses lugares. Os conquistadores desejavam se sentir justos, racionais e merecedores das riquezas que passaram a acumular. Assim, a argumentação foi uma peça-chave da dominação. Além disso, comente que as táticas de dominação militar, econômica e cultural são complementares e se fortalecem mutuamente.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto do economista estadunidense John Kenneth Galbraith, que apresenta de formafórma irônica algumas ideias de SpencerIspêncer, considerado o criador do darwinismodarvinísmo social.

A seleção natural dos ricos

“Charles DarwinChárles Dárvin explicou a ascensão, ou evolução, do homem. Herbert Spencerrérbert ispêncer, mundialmente conhecido como o grande darwinistadarvinista social, explicou a ascensão das classes privilegiadas.

A vida de Herbert Spencerrérbert ispêncer, 1820-1903, filósofo [...] reticências[britânico] e pioneiro da sociologia, coincidiu quase que exatamente com a da rainha Vitória. É a SpencerIspêncer, e não a DarwinDárvin, como geralmente se imagina, que devemos a frase lapidar: ‘sobrevivência do mais forte’. Falava ele, não da sobrevivência no reino animal, mas sim da sobrevivência no mundo muito mais exigente, como SpencerIspêncer o via, da vida econômica e social. Não obstante, ele foi claro em admitir sua dívida para com DarwinDárvin:

‘... Estou apenas pondo em prática os pontos de vista do sr.Senhor DarwinDárvin no que eles se aplicam à raça humana...reticências todos [os membros da raça] estando sujeitos às crescentes dificuldades de ganhar a vida...reticências, surge uma certa vantagem sob pressão, pois somente aqueles que realmente progridem nessas condições conseguem sobreviver; e...reticências estes devem ser os escolhidos de suas respectivas gerações’.

Spencer foi um escritor extremamente fecundo [...] reticências. Seus inúmeros livros tiveram grande influência na Inglaterra, mas nos Estados Unidos chegaram a ser quase que uma revelação divina. [...] reticênciasSpencerIspêncer tornou-se um evangelho americano porque suas ideias ajustavam-se às necessidades e anseios do capitalismo americano, especialmente às dos novos capitalistas, como uma luva, ou até melhor do que isso.

Em verdade, estas ideias não poderiam ser mais maravilhosas. Nunca antes, em qualquer país, tanta gente tornara-se tão rica e aproveitara tanto e tão bem a sua riqueza. E, devido a SpencerIspêncer, ninguém precisava sentir-se nem um pouco culpado por causa de toda essa boa sorte. Era o resultado inevitável do poder natural, da capacidade própria de adaptação. O rico era o beneficiário inocente de sua própria superioridade. Ao gozo da riqueza foi acrescentado o prazer quase igual que provinha da simples noção de que se tinha tudo isso porque se era melhor.

As ideias também protegiam a riqueza. Ninguém, especialmente nenhum governo, nela podia tocar ou nos métodos pelos quais foi adquirida ou estava sendo aumentada. Fazê-lo seria o mesmo que interferir no processo, desesperadamente fundamental, através do qual a raça humana estava sendo aperfeiçoada.”

GALBRAITHGalbreit, J. K. A era da incerteza. São Paulo: Pioneira, 1980. p.página 36-37.

Para pensar

Resposta pessoal. Depois de ouvir as respostas dos estudantes, comente que a discriminação racial pode se manifestar em diversos contextos. Infelizmente, são inúmeros os casos de discriminação racial nas abordagens policiais, nos jogos de futebol, no acesso a locais públicos e privados, em postagens nas redes sociais etc.etcétera Para denunciar situações de discriminação racial, pode-se registrar a ocorrência desse crime na polícia, recorrer ao Poder Judiciário, procurar redes de apoioapôio comunitárias e organizações não governamentais (ONGsônguis), ligar para a Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial (Disque 100) etc.etcétera Sugerimos a leitura com os estudantes da cartilha Racismo é crime – Denuncie!. Disponível em: https://oeds.link/xB9cLJ. Acesso em: 21 mar.março 2022.

Orientação didática

Recomendamos a utilização da Ata da Conferência de Berlim (1885) para discutir os argumentos das nações europeias em suas “missões civilizatórias”. O artigo 6 desse documento, por exemplo, reproduzido a seguir, sugere que as populações locais deveriam ser tuteladas pelos europeus para “compreender e apreciar as vantagens da civilização”.

“O Artigo 6 diz: Disposições relativas à proteção dos aborígines, dos missionários e dos viajantes, assim como a liberdade religiosa. Todas as potências que exercem direitos de soberania ou uma influência nos referidos territórios, comprometem-se a velar pela conservação das populações aborígines e pela melhoria de suas condições morais e materiais de existência e em cooperar na supressão da escravatura e principalmente no tráfico dos negros; elas protegerão e favorecerão, sem distinção de nacionalidade ou de culto, todas as instituições e empresas religiosas, científicas ou de caridade, criadas e organizadas para esses fins ou que tendam a instruir os indígenas e a lhes fazer compreender e apreciar as vantagens da civilização.”

SILVA, DavidDeivid Rodrigues da. O processo de independência dos países africanos de língua oficial portuguesa no ensino de História: o caso moçambicano e a atuação da Missão Suíça. História do Futuro: Ensino, Pesquisa e Divulgação Científica, p.página 6, 21-25 set.setembro 2020. Disponível em: https://oeds.link/5GG3Eq. Acesso em: 14 maio 2022.

Observando o mapa

As colônias africanas, por metrópole europeia, eram:

• Colônias belgas – Congo Belga;
• Colônias francesas – Marrocos, Tunísia, Argélia, África Ocidental Francesa, África Equatorial Francesa, Somália Francesa, Ilhas Comores e Madagascar;
• Colônias espanholas – Marrocos Espanhol, Ilhas Canárias, Rio do Ouro, Fernando Pó e Rio Muni;
• Colônias britânicas – Egito, Sudão Anglo-Egípcio, Somália Britânica, Uganda, África Oriental Britânica,Rodésia do Norte, Rodésia do Sul, Bechuanalândia, Suazilândia, Basutolândia, União Sul-Africana, Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Ouro e Nigéria;
• Colônias alemãs – África Oriental Alemã, África do Sudoeste Alemã, Camarões e Togo;
• Colônias portuguesas – Guiné Portuguesa, Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Madeira;
• Colônias italianas – Líbia, Eritreia e Somália Italiana.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a discriminação racial na União Sul-Africana e formasfórmas de resistência da população contra a segregação.

Segregação e resistência

“Nos territórios sob julgo europeu houve uma continua criação de significações que reiterou a discriminação dos não europeus. Se é verdade que a maioria negra foi a grande atingida, os mestiços e os indianos também fizeram parte do universo dos excluídos. [...] reticênciasDaí não causar a mínima estranheza que os indianos da cidade de Natal tenham feito a mais bem-sucedida das campanhas contra o Color Bar Act. Vale lembrar que esses fatos inspiraram GandhiGândi em sua reflexão sobre os diversos aspectos do racismo, como sua origem, seus possíveis desenvolvimentos e suas implicações.

É imprescindível ter clareza que o racismo era contra o não europeu e, dessa formafórma, a heterogeneidade racial era tratada como um forte critério de discriminação. Não é menos verdadeiro que a questão racial se articulava às desigualdades relativas à distribuição do trabalho, da riqueza e do poder, assim como as demográficas e culturais. Essas relações assimétricas ficavam ainda mais acentuadas cada vez que era decretada uma medida restritiva, como a proibição, sobretudo dos povos negros, ao acesso a alguns empregos, limitando ainda mais os seus direitos. Não se pode perder de vista, no entanto, que, a despeito da diferença de posições e da variedade de perspectivas, um grupo de negros, das poucas famílias ricas da região, formado em escolas cristãs, passou a interessar-se por um conjunto de questões. Nessa fase, da maior relevância para a história da União Sul-Africana, desencadeou-se um processo de luta contra a segregação, que tinha como projeto a construção de uma sociedade unida, portanto não racista. Esses objetivos levaram as elites políticas a dirigirem-se a Londres para reivindicar o direito de voto para negros e a revogação das primeiras leis segregacionistas.

Contudo, não obtiveram êxito. Ao contrário, acentuou-se a tensão entre europeus e não europeus [...] reticências.”

HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2008. p.página 249-250.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a colonização francesa da Argélia, com destaque para os efeitos do imperialismo no trabalho e na educação das populações locais.

Imperialismo francês na Argélia

“[...] reticênciasde maneira geral, todas as obras coletivas feitas pelo governo, de 1871 a 1919, como ferrovias, rodovias, portos, e a exploração da terra e das minas, assim como a construção de hospitais e escolas, foram realizações para beneficiar os colonos europeus. Para os ‘nativos’ da Argélia, cuja população havia duplicado em cinquenta anos, chegando a cercacêrca de cinco milhões, restavam as migalhas próprias dos indivíduos de ‘segunda classe’, assim como para os judeus que não renegaram a sua cultura, restando-lhes partir para o Marrocos ou para Israel. Quanto ao padrão de vida da maioria da população, alterou-se muito pouco. Tomemos como exemplo a educação dos muçulmanos e constataremos que não passava do primeiro grau, enquanto apenas duas ou três centenas concluíam o segundo grau e umas poucas dezenas atingiam o terceiro grau. Além disso, a evasão era alta, colaborando para acentuar a assimetria entre os ‘nativos’ e os europeus.

[...] reticênciasSobre o fosso entre a ideia que se tem das possibilidades abertas pela escola e as duras realidades da colonização um adolescente dá seu testemunho:

‘Na escola eu não tinha ninguém para me ajudar. Minha mãe não sabia ler nem escrever em francês. Nas aulas eu não tinha boas notas. Não aprendia. Não tinha ninguém para me empurrar, é isso. Aí tive que sair da escola, aos doze anos, e ir trabalhar...’ [...] reticências‘Quando um árabe procurava ter uma profissão, se virar para arranjar uma, tentavam eliminá-lo. O coronel havia desaconselhado meu primeiro patrão a me deixar aprender um ofício. Depois ele vai largar você, disse. [...] reticências’

As posições de controlecontrôle ficavam com os funcionários franceses, enquanto as intermediárias e inferiores eram, em grande parte, destinadas aos europeus locais. Assim, jovens muçulmanos ‘educados’ tinham frustradas suas aspirações de tornarem-se funcionários públicos. Essa situação gerou um descontentamento que os levou a integrar os movimentos de oposição ao domínio francês.”

HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2008. p.página 46, 48.

Resistências ao imperialismo na África  

[Música instrumental ao fundo] 

[Locutora]: Império Ashanti, Reino Zulu... Você sabe o que eles têm em comum?

[Locutor]: Além da localização geográfica? Eles se encontravam no mesmo continente: a África. Bem, é isso que vamos aprender no episódio de hoje do nosso podcast.

[Locutora]: Hoje, falaremos sobre a África, especificamente sobre os movimentos de resistência de diferentes povos africanos ao imperialismo europeu.

[Locutor]: Então é isso que o reino e o império que você citou têm em comum? De alguma forma, ambos resistiram à dominação europeia? 

[Música instrumental ao fundo]

[Locutora]: Exatamente. Por meio de uma política de dominação militar, econômica e cultural, conhecida como imperialismo ou neocolonialismo, países da Europa partilharam, ocuparam e exploraram a África a partir do final do século XIX. Eles justificaram essa dominação de diferentes formas, valendo-se principalmente de teorias racistas, como o Darwinismo Social.

Esse foi um processo muito violento. E como reação a essa dominação, as nações espalhadas por todo o continente africano protagonizaram vários movimentos de resistência. Alguns deles viraram, inclusive, guerras entre africanos e europeus.

[Locutor]: Uma delas aconteceu no Império Ashanti, na região onde hoje é Gana. No final do século XIX, os britânicos, que já exerciam algum poder no local, depuseram os chefes tradicionais dos ashantis e tentaram impor novos líderes a eles. Os ashantis reagiram e a partir de 1890 travaram violentas batalhas contra os britânicos.

Durante esse contexto de conflitos, o representante máximo britânico na região exigiu a posse do “trono de ouro”, considerado um objeto sagrado e símbolo de poder e união dos ashantis. A rainha Nana Yaa Asantewaa e alguns outros líderes tradicionais consideraram essa exigência uma afronta.

Diante dessa situação, foi ela, a rainha Yaa Asantewaa, quem inspirou e liderou uma oposição armada aos britânicos em 1900. Nesse momento, muitos líderes militares e políticos ashantis já tinham sido presos e exilados pelos britânicos nas Ilhas Seychelles.

[Locutora]: Sério? E ela lutou?

[Locutor]: Sim. Ela liderou um exército contra os britânicos! E esse exército também contou com a maciça participação de mulheres nos combates. Suas tropas travaram violentas batalhas contra as forças britânicas, até que foram derrotadas cerca de seis meses depois. No entanto, os britânicos nunca conseguiram tomar posse do “trono de ouro”.

Yaa Asantewaa foi uma das últimas lideranças ashantis a se render ou ser capturada. Nesse período, ela tinha por volta de 60 anos e também foi exilada pelos britânicos nas Ilhas Seychelles, onde morreu 21 anos depois, em 1921. Hoje, em Gana, existe um museu em homenagem a ela e à resistência ashanti.

[Música instrumental ao fundo]

[Locutora]: Nossa, que interessante! Isso me lembra outra história de mulheres guerreiras resistindo às investidas europeias. Você conhece as mulheres guerreiras de Daomé?

[Música instrumental ao fundo]

[Locutor]: Não! Conte-nos sobre isso!

[Locutora]: Daomé era um reino que existia na África, localidade do atual Benim. Esse reino possuía uma divisão de seu exército composta inteiramente por mulheres. As pesquisas divergem quanto à origem dessa divisão, mas acredita-se que tenha surgido no século XVIII. Essas guerreiras eram conhecidas por sua coragem e eficácia nos combates. No final do século XIX, elas se destacaram nas batalhas contra a França. As tropas femininas estavam, geralmente, à frente dos combates e eram as últimas a se renderem.

Os franceses, depois de algum tempo, conseguiram vencer e dominaram o lugar, mas a resistência dessas guerreiras à dominação europeia permaneceu na história.

[Locutor]: Onde hoje é a África do Sul também houve resistência. Um dos marcos foi a Guerra Anglo-Zulu, em 1879, entre britânicos e zulus. Até essa data, o Reino Zulu tinha sido bem-sucedido em manter sua autonomia e resistir às investidas de britânicos e bôeres na região. Apesar da derrota para os britânicos ao final desse conflito, os zulus se destacaram no decorrer dos combates e seus guerreiros são lembrados ainda hoje por sua destreza militar.

[Locutora]: Pois é. E ao tentar resistir à ocupação, muitas etnias africanas sofreram genocídio. Um exemplo é a etnia dos hereros na atual Namíbia, área dominada pela Alemanha no contexto imperialista.

[Locutor]: Além da violência física, o imperialismo deixou a marca da exploração econômica, da violência social e cultural. Vários conflitos étnicos que duram até hoje surgiram a partir da redefinição de fronteiras. Afinal, a divisão do continente entre as nações europeias não levou em conta as etnias e organizações locais existentes.

[Locutora]: É verdade. E quando refletimos sobre as consequências do imperialismo europeu na África, podemos compreender por que algumas nações africanas ainda sofrem com a pobreza e a violência.

[Música instrumental ao fundo]

[Locutor]: E vale lembrar que os movimentos de resistência continuaram no decorrer do século XX. Muitas lutas por independência foram protagonizadas na África, junto ao surgimento de movimentos populares e nacionalistas em vários territórios do continente.

Mas isso é assunto para outro dia. Vamos ficando por aqui e até a próxima!

[Locutora]: Até mais!

[Música instrumental ao fundo]

Observando o mapa

O maior império colonial na Ásia era o britânico. Incentive os estudantes a compararem este mapa com um mapa político atual do continente asiático. Atualmente, esse território corresponde aos seguintes países: Iêmen, Índia, Paquistão, Bangladeshbãngladéch, Butão, Mianmar, Malásia e parte de Papua-Nova Guiné.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre o avanço imperialista britânico na Índia.

Início da colonização britânica da Índia

“[...] reticências[No século XVIIIdezoito,] prosperava o comércio europeu com a Índia, dominado pelos britânicos. Para proteger seus interesses, eles organizaram milícias de tropas locais, os cipaios. Armados e equipados como os soldados britânicos, os cipaios eram os melhores combatentes do subcontinente [indiano].

Como negociantes, os britânicos estavam interessados em acumular riquezas, não territórios. Com o tempo, porém, um objetivo levou ao outro. Calcutá, na rica província de Bengala, era um importante centro de comércio britânico. No dia 20 de junho de 1756, o soberano indiano de Bengala prendeu a guarnição britânica de Calcutá por violação das leis de comércio locais. Dezenas de britânicos foram detidos durante a noite em uma cela quente e sem ventilação. De manhã, a maioria deles havia morrido. [...] reticênciasEm janeiro de 1757, o coronel Robert Clive Róbert Cláivereconquistou Calcutá e acabou controlando toda a província de Bengala. Apesar de esta permanecer independente, sob um novo soberano escolhido a dedo, tinha de fazer pagamentos vultosos e regulares para a Grã-Bretanha.

No século seguinte, recorrendo tanto às armas como à diplomacia, os britânicos assumiram o controlecontrôle de outros reinos indianos. Em 1849, já dominavam todo país, por intermédio da Companhia da Índia Oriental. Muitos de seus funcionários viviam como príncipes, e sua presença era motivo de ressentimento. Mas a companhia introduziu reformas sociais e novas tecnologias a fim de modernizar a região. Algumas iniciativas, como a construção de ferrovias, contaram com a aprovação popular; mas outras solapavam as tradições indianas e provocavam mal-estar.”

DANIELS, Patricia S.; HYSLOP, Stephen G.; BRINCKLEYIslóp, Istífen Dí; Bríncli, Douglas. Atlas da história do mundo. São Paulo: Abril/National GeographicNáchional Geográfique, 2004. p.página 234-235.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a Revolta dos Cipaios, que prossegue o “Texto de aprofundamento” citado nas páginas 228 e 229.

Revolta dos Cipaios

“Toda essa insatisfação veio à tona em 1857, na Revolta dos Cipaios. Os rifles Enfield distribuídos aos cipaios usavam cartuchos recobertos de papel engraxado, que precisava ser mordido para deixar exposta a pólvora. Logo correram boatos de que a graxa vinha de gordura de vaca e de porco. Morder os cartuchos era o mesmo que ingerir gordura desses animais – algo impensável tanto para os hindus, consideravam as vacas sagradas, como para os muçulmanos, para quem os porcos são impuros. Após se rebelar, os cipaios mataram seus oficiais britânicos e ocuparam Délhi. A luta espalhou-se pela Índia, com mortandades em ambos os lados.

Embora os britânicos tenham debelado a rebelião, era óbvia a necessidade de mudanças. A Companhia da Índia Oriental foi dissolvida, [...] reticências[e o governo britânico passou a controlar diretamente a colônia indiana]. Com isso, foi ampliada a proporção de britânicos no exército indiano, restringindo-se o uso de muitas armas aos europeus. Os britânicos passaram a viver ainda mais isolados da população local. Por sua vez, os indianos tiveram sua ascensão proibida além de certo ponto no exército, no funcionalismo público e em outras instituições.”

DANIELS, Patricia S.; HYSLOP, Stephen G.; BRINCKLEY, Douglas. Atlas da história do mundo. São Paulo: Abril/National Geographic, 2004. p.página 235.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a influência britânica na China, destacando a Guerra do Ópio.

Guerra do Ópio

“No caso da Ásia, a forçafôrça do Império Britânico se expressou mais fortemente desde o fim das guerras napoleônicas (1803 a 1815), quando objetivou impor o livre cambismo à China que mantinha saldo comercial superavitário e a maior população e produção da época. [...] reticências[O Reino Unido], ademais de ser [...] reticências[importador] de produtos asiáticos (porcelana, seda e chá), encontrava dificuldades para exportar para a China, ocasionando significativo déficit comercial ao grande império do ocidente.

De todo o comércio [...] reticências[britânico], o ópio extraído da papoula pelos indianos e que havia sido introduzido ilegalmente por comerciantes [...] reticências[britânicos] gerava lucros consideráveis, chegando a representar quase a metade do comércio britânico com a China [...] reticências.

Nas duas guerras do ópio (guerras anglo-chinesas) houve pesadas indenizações à China. Na primeira, entre 1839 e 1842, o Tratado de Nanquim (1842) significou o pagamento de $ 21 milhões de onças de prata para [...] reticências[o Reino Unido] pelo ópio apreendido, bem como a absorção [...] reticências[britânica] de Hong Kong. Na segunda Guerra do Ópio entre 1856 e 1860, a China pagou, pelo Tratado de Tianjin, 2 milhões de onças de prata para a França e 3 milhões para [...] reticências[o Reino Unido].

Ademais de comprometer a organização produtiva interna que afetava a produção de manufatura, a China teve que garantir o direito do livre comércio de ópio e a presença da armada [...] reticências[britânica] em seu território [...] reticências.”

POCHMANNPóxmén, Marcio. Capitalismo e desenvolvimento. In: Brasil sem industrialização: a herança renunciada. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016. p.página 48-49.

Atividades complementares

Apresente aos estudantes o texto do autor Marcio PochmannPóxmén, reproduzido no “Texto de aprofundamento” da página 231. Depois, proponha as atividades a seguir.

1. De acordo com o autor Marcio PochmannPóxmén, quais produtos asiáticos o Reino Unido importava?

Resposta: Segundo o autor, o Reino Unido era importador de produtos como porcelana, seda e chá.

2. Quanto o comércio do ópio gerava para os britânicos?

Resposta: O comércio do ópio representava quase a metade do comércio britânico com a China.

3. Segundo o texto, quando ocorreram as guerras do ópio?

Resposta: As duas guerras do ópio ou guerras anglo-chinesas ocorreram entre 1839 e 1842 e 1856 e 1860.

4. Quais foram as indenizações pagas durante as duas guerras do ópio?

Resposta: No primeiro conflito, houve o Tratado de Nanquim (1842), que levou ao pagamento de 21 milhões de onças de prata para o Reino Unido pelo ópio apreendido e também à tomada de Hong Kong pelos britânicos. No segundo conflito, por meio do Tratado de Tianjin, a China pagou 2 milhões de onças de prata à França e 3 milhões ao Reino Unido.

Para pensar

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que a dominação pode gerar diversas formasfórmas de resistência, mas que isso não é uma regra absoluta. Ao longo deste capítulo, por exemplo, eles observaram a resistência dos zulus, a Revolta dos Cipaios e a Guerra dos Boxers. Eles poderão observar ainda que resistência não significa necessariamente a formação de grupos armados. Também existem formasfórmas de resistência política, econômica e cultural. Desse modo, é exemplar o caso das lutas lideradas por Gandhi na Índia no contexto das independências.

Orientação didática

O xogunato foi um regime que permaneceu no poder no Japão entre os séculos XIIdoze e XIXdezenove. Xogum era o mais alto chefe militar do país, que aos poucos acumulou mais poder do que o próprio imperador japonês. Durante a história do Japão, existiram três xogunatos: o da família Kamakura (1192-1333), o da família AshikagaAchicaga (1336-1573) e o da família TokugawaTocugaua (1603-1868). O último xogunato estabeleceu sua sedeséde na cidade de Edo, atual Tóquio. O xogunato se encerrou com a Restauração Meiji, em 3 de maio de 1868.

Oficina de História

Conferir e refletir

1. Estão incorretas as frases dos itens a e d. Elas podem ser reescritas da seguinte forma:

1. O imperialismo explorou as terras e oprimiu as populações da África e da Ásia.

4. O Reino Unido, como potência industrial, conquistou o maior império colonial na África e na Ásia.

2. A respeito dos acontecimentos ligados ao imperialismo europeu na África, os estudantes devem relacionar: a. IIItrês; b. IVquatro; c. IIdois; d. Vcinco; e. Ium.
3. De modo geral, o imperialismo impactou negativamente as populações africanas e asiáticas. Essas populações sofreram com a exploração econômica, a perda de suas terras, a desvalorização de suas culturas e a difusão de ideologias racistas. Grande parte dos trabalhadores contratados pelos europeus recebia salários baixos, os recursos naturais eram explorados em benefício dos colonizadores e as melhores terras passaram a servir à agricultura de exportação. Outra consequência negativa foi o aumento das rivalidades entre as populações locais, com a criação de fronteiras artificiais.
4. O comércio do chá estava relacionado à Guerra do Ópio (1839-1842). Os britânicos compravam produtos chineses, como porcelana, seda e chá. No entanto, eles não conseguiam vender seus produtos para a China. Isso gerava um desequilíbrio na balança comercial que foi resolvido por meio da venda de ópio. O ópio era uma droga que provocava forte dependência química, sendo, por isso, proibido na China. Para frear esse comércio ilegal, as autoridades chinesas confiscaram e queimaram toneladas de ópio que estavam em navios britânicos. O acontecimento foi considerado o estopim da guerra. Esse conflito terminou com a vitória britânica e a assinatura do Tratado de Nanquim, que impôs condições desfavoráveis ao governo chinês.

Interpretar texto e imagem

5. Atividade de leitura e interpretação de texto historiográfico, no caso, escrito pelo historiador ganense Albert Adu Boahenálberti adú boên (1932-2006).

1. Antes de 1880, cada região do continente era governada pelos próprios africanos, com seus reis, rainhas, chefes de clãs e de linhagens etc.etcétera
2. A Etiópia e a Libéria não foram dominadas por potências estrangeiras.
3. De acordo com o texto, as potências europeias “roubaram” a soberania e os valores culturais dos africanos. Para o historiador nigeriano Jacob AjayiDiêicób Adiái, quando

“um povo perde sua soberania, [...] reticênciasperde pelo menos um pouco de sua autoconfiança e dignidade; perde o direito de se autogovernar, a liberdade de escolher o que mudar em sua própria cultura ou o que adotar ou rejeitar da outra cultura.”

BOAHENboên, Albert Adu (ed.edição). História geral da África. Brasília: Unescounêsco, 2010. v.volume VIIsete, p.página 55.

6. Atividade interdisciplinar com Língua Portuguesa. O objetivo da atividade é estimular a leitura e a intepretação de charge. A ironia da charge é apresentar a civilização como algo “tentador”, descrevendo-a com características negativas (militarismo, assassinatos, fome etc.etcétera). Dessa formafórma, o documento é crítico com relação à “missão civilizadora” e ao modo como ela pouco auxiliou na vida das populações da África e da Ásia.
7. Atividade interdisciplinar com Língua Portuguesa que propõe a leitura e a interpretação de poema.

1. Segundo o poema, a colonização é um “fardo do homem branco”, ou seja, é uma obrigação a que ele estaria condenado.
2. A visão de Kiplingquíplin distorce a realidade romantizando o imperialismo. O poema afirma que a ação imperialista é um “fardo do homem branco”, mas os conquistadores europeus decidiram ir para a África e a Ásia motivados por seus próprios interesses (econômicos, políticos e culturais). Além disso, o autor diz no poema que os colonizadores eram “servidores de seus cativos”, quando na realidade eles se beneficiaram da exploração das populações africanas e asiáticas. Durante o imperialismo, a maioria das populações locais foi subjugada pelos europeus, e não o contrário. Essa dominação foi justificada por meio de discursos que defendiam a superioridade do europeu. É fundamental que os estudantes reflitam que não existem civilizações superiores e que é preciso respeitar as diferentes culturas.