UNIDADE 2  TOTALITARISMO, SEGUNDA GUERRA E GETULISMO

CAPÍTULO 6 ERA VARGAS

Getúlio Vargas (1882-1954) assumiu a Presidência da República em 1930 e permaneceu no poder até 1945. Ficou no cargo por 15 anos, durante o período conhecido como Era Vargas. Getúlio voltaria ao poder entre 1951 e 1954, como estudaremos no capítulo 9.

Nacionalismo, industrialização, leis trabalhistas e intervenção do Estado na economia são alguns dos temas relacionados à Era Vargas. Esses temas são debatidos até os dias atuais.

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para começar

Muitos sujeitos históricos são figuras contraditórias e, por vezes, polêmicas. No caso de Getúlio Vargas, ele foi um presidente amado por alguns e odiado por outros. O que poderia explicar essa contradição? Comente.

Fotografia. Fachada de um edifício de três andares, em uma via urbana asfaltada, com paredes brancas, janelas retangulares e base retangular.
Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021. O local foi séde do Poder Executivo entre 1897 e 1960 e, atualmente, abriga o Museu da República.
Fotografia em preto e branco. Um grupo de homens aglomerados, lado a lado, vestindo trajes sociais e portando uma faixa com o texto: 'O trabalhador também tem o seu lugar no Estado Novo'.
Trabalhadores durante manifestação em homenagem a Vargas na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1940. Durante seu govêrno, Getúlio Vargas buscou o apôio dos trabalhadores.
Ilustração. À esquerda, imagem de um homem visto de lado, com cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo um paletó marrom, com a mão direita em evidência. À sua frente e olhando para ele, uma multidão de pessoas, majoritariamente crianças, portando bandeirinhas do Brasil em suas mãos.
Ilustração da cartilha A juventude no Estado Novo, publicada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), entre 1937 e 1945. A representação de Getúlio Vargas como “pai da nação” foi uma das marcas da propaganda política de seu govêrno.

Crises da Primeira República

Nos Estados Unidos, a Bolsa de Valores de Nova iórque “quebrou” em 1929. Isso significou que as ações negociadas na Bolsa de Nova iórque perderam quase todo seu valor financeiro, levando muitas empresas e bancos à falência. Com isso, milhões de trabalhadores ficaram desempregados no país. Vários economistas afirmam que essa foi a maior crise do capitalismo até então conhecida.

No Brasil, apesar da política de valorização do café, a produção cafeeira foi abalada pela crise de 1929, pois os cafeicultores deixaram de vender milhões de sacas de café para seus principais mercados consumidores: os Estados Unidos e a Europa, também atingida pela crise. Em consequência, o preço do café despencou mais de 50% entre 1929 e 1930, levando muitos produtores à falência. Além disso, a crise afetou desde pequenos lavradores e operários até banqueiros e industriais.

Crise política

Ao perder dinheiro, os cafeicultores também perderam fôrça política. Nesse contexto, as elites mineira e paulista entraram em desacordo quanto à indicação do candidato que sucederia o então presidente da república, uóshinton Luís (1869-1957), cujo mandato terminaria em 1930. uóshinton Luís e outros líderes paulistas do Partido Republicano Paulista (pê érre pê) defendiam que o candidato à sucessão presidencial fosse o também paulista Júlio Prestes de Albuquerque (1882-1946), que vinha de uma família de políticos. Seu pai tinha sido presidente (o que hoje equivale a governador) de São Paulo no final do século dezenove. Júlio Prestes também governou o estado entre 1927 e 1929, tendo sido antes deputado estadual e federal.

Em reação à indicação de outro candidato paulista, o Partido Republicano Mineiro (pê érre ême) aliou-se a grupos da oposição política, formando a Aliança Liberal, com lideranças do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Paraíba. Para disputar as eleições de 1930, a Aliança Liberal lançou como candidato à Presidência da República o gaúcho Getúlio Vargas e à Vice-presidência o paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (1878-1930). O programa político da Aliança Liberal defendia, por exemplo, voto secreto, leis trabalhistas e incentivos às indústrias.

Ilustração. Grandes edifícios, estilizados a partir de formas geométricas, lado a lado, e um avião sobrevoando a área. No canto inferior, o texto: 'Júlio Prestes é a força do nosso idealismo, que conquista para a civilização a terra bárbara, e projeta no firmamento os audaciosos perfis das cidades modernas que exige para o Brasil um governo de realizações e indica ao patriotismo dos bons cidadãos'. 'Júlio Prestes - Vital Soares para presidência e vice-presidência da república'
Propaganda da candidatura de Júlio Prestes, publicada na revista O Cruzeiro, em 1930. Observe que o texto da campanha privilegia as classes médias urbanas, já que o campo enfrentava uma de suas piores crises econômicas.

Os candidatos da Aliança Liberal também vinham de famílias de políticos poderosos em seus estados de origem. Vargas tinha sido ministro da Fazenda no govêrno de uóshinton Luís entre 1926 e 1927 e, depois, elegeu-se presidente do Rio Grande do Sul (1928-1930). João Pessoa, por sua vez, formou-se em Direito e fez carreira no serviço público federal até eleger-se para o govêrno da Paraíba em 1928.

Outros setores da sociedade também pretendiam participar das eleições de 1930, como os membros do Bloco Operário e Camponês (bóc), ligados ao Partido Comunista Brasileiro (pê cê bê), que atuava na ilegalidade. O bóc combatia o poder das oligarquias e defendia o ensino primário obrigatório, bem como o voto secreto e obrigatório, inclusive para as mulheres.

Cartaz em sépia. Uma mulher representada no centro, em pé, vista de frente trajando um longo vestido escuro, com os braços abertos lateralmente, semi estendidos, entre nuvens e estrelas e à frente de um arco-íris. No cartaz, há os seguintes textos lidos de cima para baixo: 'Para presidente Getúlio Vargas. Vice-presidente João Pessoa. Aliança Liberal. O governo que virá restabelecer a paz com a anistia e garantir a opinião do povo com a liberdade das urnas'.
Cartaz da campanha eleitoral de Getúlio Vargas em 1930, com a promessa de garantir a opinião do povo por meio da liberdade nas urnas.

Nas eleições presidenciais de 1930, o bóc lançou o candidato afro-brasileiro Minervino de Oliveira, que teve poucos votos. No entanto, sua candidatura tem valor histórico, pois Minervino foi o primeiro negro, operário e comunista que concorreu à Presidência da República no Brasil. O marmorista (trabalhador que lida com mármore) Minervino era militante do movimento operário desde 1911, tendo participado de lutas sindicais, e foi eleito vereador no Rio de Janeiro em 1928.

Fotografia em preto e branco. Um grupo de pessoas ao redor de dois homens em destaque ao centro. O homem da esquerda tem cabelos curtos e lisos, veste uma camisa clara, paletó escuro e uma gravata pendendo sobre seu peito. O da direita, tem cabelos curtos, crespos e escuros, veste uma camisa clara, um paletó escuro e uma gravata borboleta ao redor de seu pescoço.
Minervino de Oliveira (à direita, de gravata-borboleta) ao lado de militante do Partido Comunista Brasileiro, Octávio Brandão (à esquerda), durante comício do Bloco Operário e Camponês (bóc) na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1928.

Movimento de 1930

Na eleição de 1930, Júlio Prestes saiu vitorioso, derrotando Getúlio Vargas. Mas a Aliança Liberal não aceitou o resultado, alegando fraude nas eleições. Era o comêço de uma revolta contra o govêrno federal.

A revolta aumentou quando João Pessoa, candidato a vice-presidente pela Aliança Liberal, foi assassinado por razões políticas e pessoais em 26 de julho de 1930. Essa tragédia chocou a população do país e uniu as oposições contra a posse de Júlio Prestes.

Em 3 de outubro desse ano, os rebeldes gaúchos partiram para a luta armada. Do Rio Grande do Sul, a revolta se espalhou para Minas Gerais, Paraíba e Pernambuco. As tropas rebeldes marcharam para a capital do país a fim de derrubar o presidente. Diante disso, líderes do exército no Rio de Janeiro depuseram uóshinton Luís e entregaram o poder a Getúlio Vargas. Era o fim da Primeira República.

Charge. Dois oficiais militares fardados e grisalhos são representados no centro da imagem, em frente a um obelisco, um monumento com formato de torre, e ápice triangular. Um deles, acena com seu quepe a um grupo de três homens que está à sua direita, sentados sobre o dorso de cavalos. Destaque para o homem à frente, com cabelos escuros e curtos, vestindo uma camisa azul e uma calça branca.
Charge de Storni publicada na revista Careta de 8 de novembro de 1930. Na imagem é representada a chegada de Getúlio Vargas ao obelisco da Avenida Rio Branco, na cidade do Rio de Janeiro.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós-1930

Disponível em: https://oeds.link/hddlMm. Acesso em: 14 abril. 2022.

O acervo disponibiliza documentos de arquivos pessoais, entrevistas e verbetes do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Há verbetes que explicam a importância das personagens mencionadas neste capítulo e no decorrer do livro, referentes à história do Brasil. O acervo foi elaborado por uma equipe de pesquisadores do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, vinculado à Fundação Getulio Vargas.

govêrno Provisório

Na Presidência da República, Vargas tomou medidas para garantir o contrôle do país. Dentre elas, destacaram-se:

  • a suspensão da Constituição de 1891;
  • o fechamento dos órgãos legislativos (Congresso Nacional, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais);
  • a destituição dos presidentes dos estados e indicação de interventores militares para chefiar os governos estaduais.

Ao entregar o govêrno dos estados aos interventores militares, Vargas ampliou sua base política e diminuiu o poder dos coronéis-fazendeiros. Por isso, a nomeação de interventores desagradou as tradicionais elites dos estados.

Fotografia em preto e branco. No centro da imagem, destaque para um homem trajando farda militar, casaco, calça e botas compridas. Ao seu redor, um grupo de pessoas, homens e mulheres trajando roupas sociais, vestidos compridos, terno e gravata. À direita, homens portam uma faixa com um emblema circular contendo o texto: 'Eis a paz! Entre nós'.
Getúlio Vargas (ao centro) no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, pouco depois de assumir o poder. Fotografia de 1930.
Charge. Sobre um terreno plano, um homem de cabelos escuros, curtos e lisos, vestindo um paletó laranja e uma calça marrom segura uma pá com terra e despeja-a sobre um livro, parcialmente enterrado no chão, intitulado: 'Constituição Brasileira'. Próximo ao buraco sobre o chão, uma lápide de pedra, retangular, com as seguintes datas: 'vinte e quatro de fevereiro de mil oitocentos e oitenta e nove e vinte e quatro de novembro de mil novecentos e trinta'. À esquerda, um homem em pé observa o ato. A charge apresenta os seguintes textos no topo: 'A pá de cal'    '(Com a supressão do feriado de 24 de fevereiro, foi enterrada para sempre a Constituição Brasileira...)'. E o seguinte texto na base: 'Que a terra lhe seja leve com o Governo Provisório por cima'.
A pá de cal, charge de Storni publicada na revista Careta de 1931. O chargista representou a suspensão da Constituição de 1891 por Getúlio Vargas, que joga uma pá de cal sobre ela. A primeira Constituição da República foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891, sendo essa data comemorada como feriado nacional.

Movimento de 1932

Em São Paulo havia muito descontentamento em relação às medidas tomadas por Vargas. Os líderes locais exigiram a nomeação de um interventor civil, ligado aos paulistas, para governar o estado de São Paulo. Vargas atendeu a esse pedido, nomeando como interventor o advogado paulista Pedro de Toledo (1860-1935). Porém, as oposições paulistas também reivindicaram a convocação de uma Assembleia Constituinte e novas eleições, pois pretendiam, no fundo, retomar o contrôle do govêrno federal.

Fotografia. Vista aérea de uma torre retangular cercada por um pequeno lago artificial circular, e áreas verdes arborizadas.
Obelisco do Ibirapuera, escultura do ítalo-brasileiro Galileo Emendabili, inaugurada em 1955, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2021. O obelisco é um mausoléu que guarda os corpos dos estudantes Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo e de outros membros do Movimento de 1932.

Desse modo, os paulistas continuaram fazendo oposição ao govêrno Vargas. Esse conflito aumentou durante uma manifestação contra o govêrno federal ocorrida em maio de 1932, quando quatro estudantes morreram em confronto com a polícia. Com as letras iniciais dos nomes dos estudantes (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) formou-se a sigla ême ême dê cê, que se tornou símbolo da oposição paulista.

Em 9 de julho de 1932, estourou uma revolta que teve forte apôio dos paulistas e reuniu cêrca de 30 mil pessoas armadas contra o govêrno federal. A maioria das tropas de São Paulo era composta de soldados da polícia estadual e voluntários da população civil. Muitas indústrias locais fabricaram armas, munições, fardas e alimentos para ajudar as tropas paulistas.

Em outros estados, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, surgiram grupos que tinham simpatia pelo movimento paulista, mas não o apoiaram militarmente, com exceção de Mato Grosso. Porém, após quase três meses de luta, os paulistas foram derrotados pelas fôrças federais. Apesar da derrota militar, alguns paulistas se diziam vitoriosos no campo político, porque o govêrno federal convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que era uma das principais reivindicações dos revoltosos de 1932.

Fotografia em preto e branco. Duas pessoas, lado a lado, vistas de frente. `A esquerda, uma mulher com cabelos curtos e lisos, vestindo camisa clara, calça e suspensório e, ao seu lado, à direita, um homem fardado, vestindo um capacete em sua cabeça. Ambas as pessoas portam armas de fogo.
Maria Sguassábia (1889-1973), ao lado de seu irmão Antônio, durante os conflitos entre as fôrças federais e as tropas paulistas. Fotografia de 1932. Ela foi uma das mulheres que participaram do Movimento de 1932.
Cartaz. Sobre um fundo de tonalidade rosa, o rosto de uma mulher com olhar sisudo, cabelos castanhos, com uma touca branca com o símbolo da cruz vermelha. Uma de suas mãos está levantada ao seu lado, com o dedo indicador para cima. Contém o texto: 'Paulista! Eu já cumpri o meu dever. E você?' M.M.D.C.
Cartaz do ême ême dê cê incentivando o recrutamento de mulheres para atuar como socorristas no Movimento de 1932.

Voto feminino e voto secreto

No comêço do século vinte, organizações fundadas por mulheres lutaram pela participação feminina nas eleições. Um exemplo foi a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (éfe bê pê éfe), criada em 1922.

Fotografia em preto e branco. Uma mulher sorridente, de cabelos curtos e lisos, trajando um longo vestido, sentada de lado sobre uma cadeira.
A bióloga Bertha Lutz (1894-1976) foi uma figura importante na história das lutas femininas no Brasil. Fotografia de 1925. Fundadora da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, coordenou congressos dessa organização nas décadas de 1920 e 1930.

Em 1927, as mulheres do Rio Grande do Norte puderam votar pela primeira vez. Depois, o Código Eleitoral de 1932 criou a Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto e o voto feminino no Brasil. Por fim, a Constituição de 1934 confirmou e estendeu o direito de voto a todas as mulheres do país.

Fotografia em preto e branco. Destaque para o busto de uma mulher, vista de frente, com cabelos escuros, vestindo uma camisa escura.
Antonieta de Barros (1901-1952), professora, foi a primeira deputada estadual negra do Brasil. Ela se elegeu em 1934 pelo Partido Liberal Catarinense, exercendo o cargo até 1937. A educação é uma fórma de inclusão social importante para todos, especialmente para a população negra no Brasil após a abolição da escravidão.

Desde essa época, a participação feminina na vida política vem crescendo, com mulheres ocupando vários cargos eletivos: na Presidência da República, nas prefeituras, nos governos estaduais e no Congresso Nacional. Também se ampliou a presença feminina no Poder Judiciário.

Além disso, as mulheres participam cada vez mais do mercado de trabalho. Em 1976, apenas 29% dos postos de trabalho eram ocupados por mulheres. Já em 2021, as mulheres representavam cêrca de 51% do conjunto dos trabalhadores formais.

Apesar desses avanços, as mulheres permanecem lutando para obter uma igualdade efetiva de direitos em relação aos homens. Por exemplo: mesmo com maior nível de escolaridade, as mulheres recebem, em média, salários menores do que os homens.

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Brasiliana Fotográfica

Disponível em: https://oeds.link/zmS1F3. Acesso em: 23 março. 2022.

No site estão reunidos os acervos do Instituto Moreira Salles e da Biblioteca Nacional, em que é possível consultar fotografias de eventos e personagens do movimento feminista no Brasil, como Bertha Lutz e as organizações pelo voto feminino.

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para pensar

  1. Cite algumas mulheres que você conhece e suas respectivas profissões.
  2. Existem profissões exercidas predominantemente por mulheres? Em sua opinião, por que isso acontece?

govêrno Constitucional

Em 16 de julho de 1934, foi promulgada uma nova Constituição do Brasil. Confira alguns de seus pontos principais:

  • voto secreto – foi instituído o voto secreto e as mulheres conquistaram o direito de votar. Porém, continuaram excluídos analfabetos, mendigos e militares de baixa patente. Além disso, foi criada uma Justiça Eleitoral independente para zelar pelas eleições;
  • direitos trabalhistas – foi proibido o trabalho para menores de 14 anos e foram reconhecidos aos trabalhadores urbanos direitos como jornada de até 8 horas por dia e férias anuais remuneradas;
  • nacionalismo econômico – as riquezas naturais do país, como jazidas de minérios e quedas-d’água capazes de gerar energia, foram protegidas da exploração por empresas estrangeiras.

Pela nova Constituição, o primeiro presidente da república seria eleito de fórma indireta pelos membros do Congresso Nacional. Não por acaso, Vargas foi o vitorioso nessas eleições. Nessa época, dois grupos políticos rivais ganharam destaque: os integralistas e os aliancistas.

Os integralistas

Em 1932, o escritor e político Plínio Salgado (1895-1975) liderou a formação de um movimento político chamado integralismo. Para divulgar suas ideias, os integralistas fundaram a Ação Integralista Brasileira (á í bê ), que conseguiu simpatizantes entre empresários, parte da classe média, grupos de imigrantes e oficiais das fôrças armadas. Os integralistas combatiam o comunismo e defendiam o nacionalismo exaltado e a entrega do poder a um chefe integralista.

Inspirados no fascismo, os integralistas submetiam-se a rígidas disciplina e hierarquia. Foram apelidados pelos seus adversários de “galinhas verdes”, devido às camisas verdes que vestiam.

Os integralistas desfilavam pelas ruas como uma tropa militar, gritando a saudação Anauê!, que, em Tupi, significa “você é meu parente”. Tinham como lema “Deus, pátria e família” e combatiam de fórma agressiva seus adversários. Ao todo, foram criados no país mais de mil núcleos integralistas. Depois de um período de ascensão, a á í bê foi extinta pelo govêrno em 1937.

Ilustração. Um homem visto de costas, com cabelos escuros e curtos, vestindo uma farda verde, segurando um prego com a mão esquerda e uma marreta na mão direita, voltadas para um símbolo grego Sigma sobre o mapa territorial do Brasil. No topo, o texto: 'Anauê!'.
Capa da revista Anauê!, da Ação Integralista Brasileira, de 1935. Em destaque, o símbolo (letra sigma do alfabeto grego), utilizado em Matemática como símbolo de um somatório.

Os aliancistas

A principal frente de oposição ao govêrno Vargas e aos integralistas foi a Aliança Nacional Libertadora á êne éle), que reunia socialistas, anarquistas e comunistas. Um dos líderes da á êne éle era o comunista Luís Carlos Prestes. Os aliancistas defendiam:

  • a nacionalização das empresas estrangeiras;
  • o não pagamento da dívida externa brasileira;
  • a reforma agrária com a distribuição de terras aos trabalhadores e o combate ao latifúndio;
  • a garantia das liberdades individuais.

Tendo por lema “pão, terra e liberdade”, a á êne éle cresceu rapidamente, criando cêrca de 1,6 mil núcleos pelo país. Assustado com esse crescimento, o govêrno decretou a ilegalidade da á êne éle em julho de 1935. Com isso, ordenou a prisão dos líderes aliancistas argumentando que a intenção da á êne éle era promover um golpe de Estado para derrubar o govêrno.

Rebelião Comunista (1935)

Diante da repressão, alguns comunistas da á êne éle organizaram uma rebelião que estourou em novembro de 1935. O govêrno chamou o movimento de Intentona Comunista. A palavra “intentona” pode significar "plano insensato" ou "ataque não planejado".

Para essa rebelião, os comunistas recrutaram soldados de batalhões do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Por fim, todos os levantes foram dominados pelas fôrças leais ao govêrno.

Os membros mais autoritários do govêrno Vargas usaram a rebelião como pretexto para tomar medidas radicais. Alegando combater o “perigo do comunismo”, o govêrno mandou prender milhares de sindicalistas, operários, militares e intelectuais acusados de atividades subversivas. "Subversivo" refere-se ao ato que pretende derrubar uma situação estabelecida.

Fotografia em preto e branco. Fachada de um edifício com dois andares e muitas janelas. A parte central, no alto do edifício, apresenta um abalo e está com a estrutura exposta. As paredes aparentam ter sido alvejadas por armas de fogo, elas apresentam muitos buracos. À frente do edifício, uma caminhonete com um vagão para carga, e alguns homens pela esquerda.
Quartel da polícia militar estadual em Natal, Rio Grande do Norte, depois de ataque realizado pelos comunistas durante a rebelião. Fotografia de 1935.

govêrno Ditatorial, o Estado Novo

De acôrdo com a Constituição de 1934, o mandato de Vargas terminaria em 1938, sendo proibida sua reeleição imediata. Aproximando-se a data das eleições, teve início a campanha eleitoral. Porém, Vargas e seu grupo não queriam deixar o poder. Então, prepararam um golpe de Estado para manter Vargas na Presidência da República.

Em setembro de 1937, o serviço secreto do exército divulgou uma notícia falsa de que tinha descoberto um plano comunista chamado Plano Cohen, cuja intenção era “destruir o regime democrático”. Porém, todo esse plano não passava de uma farsa tramada pelo próprio govêrno com apôio dos integralistas. A ameaça do “perigo comunista” foi usada como desculpa para que o govêrno decretasse “estado de guerra” e mandasse prender seus adversários.

Em 10 de novembro daquele ano, o Congresso Nacional foi fechado e uma nova Constituição foi imposta ao país, revogando-se a de 1934. Começava a ditadura do Estado Novo e a concentração de amplos poderes pelo govêrno. Agentes governamentais podiam invadir casas, prender pessoas, julgá-las e condená-las de fórma arbitrária. Além disso, os governos dos estados brasileiros foram entregues a interventores da confiança de Vargas. Os partidos políticos foram extintos e as eleições suspensas. Greves e manifestações contra o govêrno foram proibidas.

Os integralistas se revoltaram contra a extinção de todos os partidos. Então, armaram um plano e atacaram o Palácio Guanabara, residência oficial do presidente, em maio de 1938. Vargas e sua guarda pessoal resistiram ao ataque-surpresa, trocando tiros com a tropa integralista. Por fim, o govêrno saiu vitorioso e puniu severamente os agressores.

Nesse período, a polícia do govêrno era comandada por Filinto míler (1900-1973), um político e militar simpatizante do nazifascismo que, inclusive, visitou oficialmente a Alemanha nazista e se encontrou com o comandante da Gestapo. Como chefe da polícia, míler foi acusado de perseguir, prender e torturar vários prisioneiros.

Fotografia. Uma mulher vista da cintura para cima, com cabelos presos, escuros, longos e lisos, vestindo uma jaqueta marrom, com os braços semi abertos lateralmente, parcialmente esticados, com as mãos espalmadas. À sua frente, um microfone circular. Em segundo plano, uma cortina escura com o símbolo de um brasão.
Cena do filme Olga, dirigido por Jayme Monjardim, 2004. Judia nascida na Alemanha, Olga Benário era esposa de Luís Carlos Prestes e foi presa com ele durante a repressão à Intentona Comunista (1935). Posteriormente, foi deportada para a Alemanha nazista. Grávida, ela deu à luz uma menina e foi assassinada em um campo de extermínio nazista anos depois, em 1942.

Propaganda do govêrno

A partir de 1931, o govêrno Vargas criou órgãos de divulgação para conquistar apôio popular. O mais importante foi o Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp), que fazia publicidade do govêrno e prestava homenagens ao presidente, como foi o caso do livro Uma grande data, publicado pelo órgão em 1941 para comemorar o aniversário de Vargas.

Fotografia. Capa de um livro com fundo amarelo, com o título escrito em cores diferentes. Em verde: 'Uma grande data'. Em branco: '19 de abril'.
Capa do livro Uma grande data, publicado em 1941 pelo Departamento de Imprensa e Propaganda em comemoração ao aniversário de Vargas.

Além de exaltar a imagem de Vargas como “pai dos pobres”, ou “salvador da pátria”, o Díp restringiu a liberdade de expressão durante o Estado Novo, censurando livros, músicas, filmes, peças teatrais, jornais e estações de rádio.

Percebendo a importância do rádio como meio de comunicação, os membros do Díp criaram o programa Hora do Brasil, que as rádios de todo o país eram obrigadas a transmitir. Nesse programa, o govêrno divulgava suas realizações (nunca erros ou fracassos). A Hora do Brasil também foi chamada de “Hora da Desliga” ou “O Fala Sozinho”, pois muita gente desligava seus aparelhos no horário das transmissões.

Fotografia em preto e branco. Destaque para um homem em pé, de cabelos curtos e escuros, vestindo um paletó escuro, portando folhas entre as mãos, voltado para um microfone à sua frente. Ele está cercado de diversos outros homens trajando paletó e gravata.
Getúlio Vargas anuncia por rádio a implantação do Estado Novo, em transmissão no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1937.

Outras Histórias

Arte e ditadura

Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas conquistou a colaboração e o apôio de intelectuais e artistas, como o poeta Cassiano Ricardo (1895-1974), o sociólogo Oliveira Viana (1883-1951) e o jurista Pontes de Miranda (1892-1979).

Além disso, o govêrno encomendava canções a compositores importantes da música popular brasileira. Em 1943, Benedito Lacerda (1903-1958) e Darci de Oliveira (1905-1945) compuseram o samba Salve 19 de abril para homenagear o aniversário de 60 anos de Getúlio Vargas. A letra da canção compara Vargas a um timoneiro (piloto de uma embarcação) que conduzia o país no rumo certo.

Porém, vários outros artistas e intelectuais resistiram à ditadura de Vargas. Um exemplo bem conhecido é o do escritor alagoano Graciliano Ramos. Acusado de fazer parte da Aliança Nacional Libertadora (á êne éle), ele foi preso antes da implantação do Estado Novo, em 1936, e libertado um ano depois. Sua experiência no presídio foi narrada no livro Memórias do cárcere, publicado em 1953.

Leia a seguir um pequeno trecho desse livro.

“Naquele dia a comida veio muito ruim, de aspecto mais desagradável que o ordinário. No caixão, ao pé da grade, empilhavam-se os pratos – e o alimento se comprimia formando uma pasta onde se misturavam carne, peixe, arroz e batatas esmagadas. reticências

Afastei-me, pegando a louça imunda, a sentir nos dedos grãos machucados e gordura, subi os degraus de ferro. Lá em cima iria repetir-se a dificuldade comum nas refeições. À falta de mesa ou cadeira, forrávamos a cama com jornais guardados para as tochas com que se que queimavam os percevejos reticências.

RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1996. volume. 1. página. 277.

Ilustração. Capa de um livro de fundo bege, com a gravura do rosto de um homem visto parcialmente, com traços lineares, e olhar sisudo. Ao centro, o título: 'Memórias do Cárcere'.
Capa da primeira edição do livro Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, publicado em 1953.

Atividade

Como você descreveria a relação dos artistas com a ditadura do Estado Novo? Use exemplos apresentados no texto para responder.

Política econômica

Nos anos 1930, uma das características da política econômica de Vargas foi a defesa da cafeicultura. O Estado procurou evitar a superprodução e recuperar o preço do café com políticas de valorização. Estavam entre as medidas tomadas nesse período:

  • a proibição do plantio de novas mudas de café durante três anos;
  • a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do próprio govêrno;
  • o incentivo ao cultivo de outros gêneros, como algodão, cana-de-açúcar, vegetais e frutas tropicais, para diversificar a produção agrícola.

Com essas medidas, a produção foi sendo reequilibrada e o café voltou a alcançar bons preços no exterior.

O govêrno também estimulou o desenvolvimento da indústria nacional. Para isso, aumentou os impostos sobre produtos importados, que ficaram mais caros e, em consequência, menos acessíveis ao consumidor brasileiro.

Entre as décadas de 1930 e 1940, dobrou o número de indústrias instaladas no Brasil. O crescimento das indústrias foi maior na produção de bens de consumo, como alimentos, tecidos, calçados e móveis.

O govêrno também estimulou a indústria de base, fundando empresas estatais no campo da siderurgia e da mineração. Nesse período foram criadas:

  • a Companhia Siderúrgica Nacional (cê ésse êne), instalada em 1941 na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro;
  • a Companhia Vale do Rio Doce, criada em 1942 com o objetivo de explorar minério de ferro em Minas Gerais.

O aço e o minério de ferro fornecidos por essas empresas foram fundamentais para o crescimento da produção industrial no país, pois eram utilizados como matérias-primas em outras fábricas.

Fotografia em preto e branco. Vista do interior de uma fábrica, contendo maquinário, peças diversas, e homens por entre os corredores.
Vista do interior da Fábrica Nacional de Motores, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Fotografia de cerca de. 1945. Essa fábrica fazia parte da política do govêrno de promover a substituição de importações.

A urbanização

No decorrer do século vinte, ocorreu intenso crescimento da urbanização no Brasil. Como mostra o quadro a seguir, a população rural era maior que a urbana até 1960. Mas essa relação se inverteu, e a população urbana superou a rural a partir de 1970. No ano 2000, cêrca de 81% da população era urbana e esse índice continuou crescendo. Essas transformações passaram a exigir da administração das cidades a ampliação dos serviços de abastecimento de água, redes de esgoto, coleta de lixo, iluminação das ruas, arborização etcétera

Evolução da população e do índice de urbanização no Brasil (1940-2010)

Ano

População Total

População Urbana

População Rural

Urbanização (%)

1940

41.236.315

12.880.182

28.356.133

31,24

1950

51.944.397

18.782.891

33.161.506

36,16

1960

70.070.457

31.303.034

38.767.423

44,67

1970

93.139.037

52.084.984

41.054.053

55,92

1980

119.002.706

80.436.409

38.566.297

67,59

1991

146.825.475

110.990.990

35.834.485

75,59

2000

169.799.170

137.953.959

31.845.211

81,25

2010

190.755.799

160.925.792

29.830.007

84,36

Fonte: istân, Cristiano êti ól A população urbana e a difusão das cidades de porte médio no Brasil. Interações, Campo Grande, volume. 14, número. 2, página. 254, julho a dezembro. 2013.

Durante o período getulista, já se percebia o avanço da vida urbana em relação à sociedade rural. Avanço não apenas nas taxas de população, mas também em setores como comércio, serviços, indústrias. As cidades se desenvolveram por várias regiões do país e, dentro delas, cresceram as desigualdades que separavam os bairros nobres – com boa infraestrutura – das periferias pobres – carentes de saneamento básico, luz elétrica, ruas pavimentadas etcéteraponto

O crescimento industrial atraiu milhares de trabalhadores rurais para cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Pôrto Alegre. A partir dos anos 1940, esses trabalhadores eram, principalmente, migrantes nordestinos.

Fotografia. Vista aérea de uma área urbanizada cercada de cadeias de montanhas e faixa litorânea banhada por mar.
Bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia colorizada de 1930. Tanto no Rio de Janeiro como em outras regiões do país, o crescimento das cidades foi acompanhado pelo aumento das desigualdades sociais.

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Transcrição do áudio

O papel da propaganda na Era Vargas

[Música instrumental tocando]

[Locutora 1]: Essa música é familiar para você? Por acaso você já a ouviu tocar em algum momento?

[Locutora 2]: Pode até ser que os mais jovens não conheçam, mas é possível que boa parte dos adultos brasileiros já ouviu essa música alguma vez.

[Locutora 1]: Ela é um trecho da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, que foi um importante compositor brasileiro do século XIX. E é a abertura do programa de rádio A Voz do Brasil, transmitido em território nacional de segunda a sexta-feira.

[Locutora 2]: Mas, qual a relação entre o programa A Voz do Brasil e o episódio do podcast de hoje? Vamos descobrir?

[Vinheta]

[Locutora 1]: No episódio de hoje do nosso podcast iremos falar sobre o papel da propaganda na Era Vargas. Então, para começar, vamos lembrar rapidamente o que foi esse período da nossa História.

[Música instrumental ao fundo]

[Locutora 2]: Entre os anos de 1930 e 1945, o Brasil foi governado por Getúlio Vargas. Seu governo ficou marcado, entre outros aspectos, pela aproximação com as classes médias e trabalhadoras das cidades e também pela perseguição aos seus opositores. Enquanto esteve no poder, Vargas nem sempre governou de forma democrática, ainda assim, conquistou uma enorme popularidade entre os brasileiros.

[Locutora 1]: Realmente, Getúlio Vargas foi uma figura, no mínimo, polêmica. O político gaúcho dividiu opiniões durante os anos em que esteve à frente da presidência.

E uma das principais estratégias para alcançar a popularidade foi investir em propaganda política.

[Locutora 2]: Vargas usou os meios de comunicação daquela época para construir e divulgar uma imagem positiva de seu governo. Ele se valeu de jornais, revistas, cartilhas escolares e do rádio, que era o principal meio de comunicação de massa do período.

Além disso, seu governo usou dispositivos questionáveis, como a Censura.

Em 1939, criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP. Esse órgão controlava e coordenava todo o tipo de informação e propaganda nacional. Ou seja, tudo o que era publicado ou transmitido pelos meios de comunicação estava sob estreita vigilância do DIP. Isso significou, na prática, que a maioria das pessoas não tinha fácil acesso a informações com diferentes pontos de vista.

[Locutora 1]: Além de censurar publicações que faziam oposição ao governo, esse órgão produzia conteúdos que exaltavam a imagem da nação brasileira e do presidente Vargas.

[Locutora 2]: E onde entra A Voz do Brasil nessa história toda? Ela é anterior ao DIP, não é?

[Locutora 1]: Isso mesmo. Esse programa de rádio foi criado em 1935 para aumentar a popularidade do então presidente Getúlio Vargas. Só que, nessa época, tinha o nome de Programa Nacional. Também não era transmitido obrigatoriamente por todas as rádios num mesmo horário. Isso mudou em 1938, quando o programa passou a se chamar Hora do Brasil e sua transmissão se tornou obrigatória em todas as rádios pontualmente às 19 horas. Somente em 1971 é que o programa adotou o nome que tem ainda hoje, chamado de A voz do Brasil.

[Locutora 2]: Pois é! Até hoje, sua transmissão é obrigatória, mas o horário foi flexibilizado. Ele pode ser transmitido entre as 19 e as 22 horas. E apresenta notícias de ações do governo federal, do Congresso nacional e até do poder judiciário.

Mas o que era transmitido na época do governo de Getúlio Vargas? Apenas notícias, tal qual é hoje?

[Locutora 1]: Não! Havia música brasileira, documentários históricos, peças de radioteatro, além, claro, de informações sobre as ações do governo federal. Era um jornalismo que exaltava as realizações do presidente Getúlio Vargas, criando uma imagem positiva. O programa, naquele momento chamado Hora do Brasil, fazia parte de uma estratégia de propaganda política que fortalecia o governo.

[Locutora 2]: E isso era muito importante para Vargas.

Nessa época, as cidades estavam crescendo e a classe trabalhadora também. Essa classe reivindicava por melhorias e regulação na jornada de trabalho. Por isso, cada vez mais surgiam sindicatos e organizações de trabalhadores para lutar por direitos.

Foi nesse cenário que a política de Vargas se aproximou dos trabalhadores. Seu governo criou e consolidou as leis trabalhistas, que eram uma demanda antiga da classe trabalhadora e pelas quais já havia bastante pressão. Ao mesmo tempo, ele passou a exaltar o trabalhador como uma figura fundamental para a construção do Estado Nacional. Esse tipo de reconhecimento era importante para os sindicalistas e trabalhadores em geral. Por meio dessa política, Vargas conseguia aumentar o apoio popular ao seu governo. E apoio é essencial para se manter no poder.

[Locutora 1]: Olha só que interessante, o Ministro do Trabalho fazia palestras semanais na Hora do Brasil entre 1942 e 1945. Dessa forma, o governo Vargas reforçava a ideia de que reconhecia a importância dos trabalhadores para o Estado. Isso ao mesmo tempo em que tentava conciliar os interesses do empresariado e dos trabalhadores, mediando os conflitos entre esses dois grupos.

Valendo-se dessas e de outras estratégias, Vargas criou um cenário de estabilidade política. 

[Locutora 2]: Exatamente. E vale reforçar para nossos ouvintes que a estratégia de propaganda usada por Vargas não era nova. Outros líderes com características parecidas também se utilizaram da propaganda como recurso político. E isso continua a existir até hoje.

[Locutora 1]: Com certeza! A propaganda é uma das mais importantes ferramentas políticas. Ela utiliza todos os meios de comunicação para alcançar o seu público!

[Locutora 2]: Na Era Vargas, o rádio teve um papel fundamental. Hoje em dia, as redes sociais são um dos principais meios de difusão de propaganda política. Por isso é tão importante ficarmos atentos às notícias e propagandas que chegam até nós. 

[Locutora 1]: Exatamente. Além disso, há o caso das fake news, quando as notícias divulgadas sequer são verdadeiras.

[Locutora 2]: E agora, ficamos por aqui.

[Locutora 1]: Esperamos que tenham gostado e até o próximo episódio!

[Música instrumental tocando]

O trabalhismo

Com a ocorrência de mudanças socioeconômicas, desenvolveu-se a consciência dos trabalhadores de que era preciso lutar por seus direitos.

Diante da importância do operariado, o govêrno Vargas deu impulso ao trabalhismo, que se espalhou como movimento social e político em várias regiões do país. Com isso, o govêrno procurava dar proteção aos trabalhadores urbanos, afastar os trabalhadores das correntes socialistas e conseguir sua cooperação sob o contrôle do Estado.

De modo geral, o trabalhismo lutou pela garantia de direitos fundamentais para os trabalhadores, como o salário mínimo. Pela lei, o salário mínimo deveria cobrir as despesas de uma família urbana, composta de quatro pessoas, com habitação, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, transporte e higiene.

Além do salário mínimo, foram garantidos direitos como férias remuneradas, jornada diária de 8 horas, descanso semanal remunerado, relativa estabilidade no emprêgo, entre outros. Contudo, apenas os trabalhadores urbanos desfrutaram desses direitos trabalhistas. Os trabalhadores rurais só foram atendidos a partir de 1963, com o Estatuto do Trabalhador Rural. Isso demonstra a fôrça dos proprietários rurais que, sem a interferência do Estado, impunham suas regras aos trabalhadores locais.

cê éle tê: legado de Vargas

Em 1943, todas as leis trabalhistas foram reunidas na Consolidação das Leis do Trabalho (cê éle tê). Para aplicar essa legislação, foi aprimorada a Justiça Trabalhista, que buscava solucionar os conflitos entre patrões e empregados.

Em resumo, o govêrno atuou para conciliar interesses de trabalhadores e empresários, mediando os conflitos entre eles. De um lado, reconhecia as necessidades e os objetivos dos trabalhadores e, por isso, fazia “concessões” ao operariado. De outro, utilizava essas concessões para atrair a simpatia dos trabalhadores e impedir reivindicações mais profundas, controlando os sindicatos e dificultando a organização de movimentos de oposição. Nesse jôgo, o govêrno Vargas garantia a ordem pública e a estabilidade social.

Fotografia em preto e branco. Uma multidão de pessoas sentadas lado a lado e arquibancadas, portando faixas diversas.
Trabalhadores durante comemoração do Dia do Trabalho (1º de maio) na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 1944. O texto na faixa indica a postura do govêrno Vargas de contrôle dos sindicatos: “Trabalhador sindicalizado é trabalhador disciplinado”.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Em sua opinião, as leis trabalhistas são conquistas dos operários ou concessões do govêrno e dos patrões? Reflita e comente.

Brasil na Segunda Guerra Mundial

De 1939 a 1945, ocorreu a Segunda Guerra Mundial, que foi estudada no capítulo 5. Durante os dois primeiros anos desse conflito, Getúlio Vargas desenvolveu uma política ambígua, sem apoiar declaradamente nenhuma das partes em conflito. Contudo, a partir de 1941, o govêrno brasileiro fez acordos com os Estados Unidos para apoiar os Aliados contra o nazifascismo.

O govêrno brasileiro forneceu borracha e minério de ferro para os Aliados e permitiu que militares estadunidenses utilizassem bases no Nordeste do Brasil. Em troca, o govêrno dos Estados Unidos financiou a construção da Companhia Siderúrgica Nacional.

Os nazistas reagiram à cooperação entre brasileiros e Aliados. Submarinos alemães afundaram navios brasileiros, o que criou uma comoção no país. Então, o govêrno do Brasil declarou guerra ao Eixo, em 1942.

Em 1944, a fôrça Expedicionária Brasileira (féb) foi deslocada para a Itália, onde participou de batalhas em Monte Castello, Castelnuovo e Fornovo.

A Segunda Guerra Mundial não afetou apenas a vida dos brasileiros que lutaram na Europa. No Brasil, as consequências foram sentidas de várias fórmas. Por exemplo, os imigrantes e descendentes de origem alemã, italiana e japonesa foram proibidos de falar suas línguas e muitos foram presos. O clima de guerra repercutiu até no futebol. O govêrno proibiu nomes de clubes que homenageavam os países inimigos. Em São Paulo, o clube Palestra Itália mudou o nome para Palmeiras. Em Belo Horizonte, o clube Societá Sportiva Palestra Italia mudou o nome para Cruzeiro.

Nesse período, também era comum a falta de alimentos para abastecer a população das cidades. Além disso, a repressão às greves ficou mais feroz. Os operários eram considerados “soldados da produção” e, se paralisassem suas atividades, poderiam ser punidos.

Fotografia em preto e branco. Um grupo de homens sobre um veículo antigo, alguns vestindo paletós, outros fardados.
Getúlio Vargas (no banco de trás, com uma bengala) e Frânclin Rúsvelt (no banco de passageiro, à frente), presidente dos Estados Unidos, em visita à Base Aérea estadunidense em Natal, Rio Grande do Norte. Fotografia de 1943.

Fim do Estado Novo

A guerra contra o nazifascismo foi aproveitada por alguns grupos de oposição a Vargas para combater o “fascismo interno” do Estado Novo no Brasil.

Sabendo dos movimentos para derrubá-lo, Vargas antecipou-se e liderou uma abertura democrática. Em fevereiro de 1945, estabeleceu um prazo para a eleição presidencial, concedeu anistia aos presos políticos e permitiu a volta dos exilados ao Brasil. Nesse período, diversos partidos políticos foram organizados.

Nas eleições presidenciais marcadas para 2 de dezembro de 1945, concorreram três candidatos: o general Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD (Partido Social Democrático), com o apoio do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro); o brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN (União Nacional Democrática); e o engenheiro Yedo Fiúza, pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Durante a campanha, Vargas foi ambíguo: manifestava apoio ao general Dutra, mas também estimulava um movimento popular que exigia sua permanência no poder. Era o queremismo, palavra derivada do lema “Queremos Getúlio,” repetido nas manifestações populares.

Setores da oposição política, reunindo militares e civis, temiam que Vargas continuasse no poder. Assim, uniram forças para derrubá-lo. Em 29 de outubro de 1945, tropas do exército obrigaram o presidente a renunciar, encerrando o Estado Novo. Vargas retirou-se para a cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul. Contando com o apoio do ex-presidente, o general Dutra venceu as eleições presidenciais.

Fotografia em preto e branco. Uma multidão de pessoas aglomeradas, portando faixas e cartazes com o texto: 'Queremos Getúlio'.
Manifestação queremista em frente ao Palácio Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, com o lema Queremos Getúlio. Fotografia de 1945.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Mesmo tendo governado o Brasil de fórma ditatorial, a fórça política de Vargas junto ao povo foi capaz de eleger Dutra para a Presidência do país. Como você explicaria essa situação?

Oficina de história

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. A seguir, identifique as frases incorretas sobre a Era Vargas. Depois, reescreva-as de fórma correta no caderno.

  1. A crise de 1929 enfraqueceu os cafeicultores de São Paulo, o que gerou um desacordo entre as elites paulista e mineira sobre o candidato que sucederia uóshinton Luís na Presidência.
  2. A Aliança Liberal não aceitou a vitória de Júlio Prestes nas eleições presidenciais de 1930, dando início a uma revolta que levou Getúlio Vargas ao poder.
  3. No govêrno Provisório, Vargas manteve a Constituição de 1891, fortaleceu órgãos legislativos e apoiou os presidentes dos estados com a indicação de interventores militares.
  4. ême ême dê cê é a sigla dos nomes dos estudantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo que foram mortos em 1932 durante manifestação contra o govêrno de Getúlio Vargas.
  5. A Aliança Integralista Brasileira combatia o nacionalismo e defendia o anarquismo e o enfraquecimento do Estado, enquanto a Aliança Nacional Liberatora defendia a privatização das empresas estatais e o pagamento da dívida externa.
  1. Após o resultado das eleições de 1930, havia grande tensão social no Brasil. Nesse contexto, atribui-se ao governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade a seguinte frase: “Façamos a revolução, antes que o povo a faça”. Como você a interpreta?
  2. Elabore um quadro comparando a Constituição de 1891 (abordada no capítulo 2) e a Constituição de 1934. Considere temas como o direito ao voto, a divisão entre os poderes e os direitos trabalhistas. Depois, escreva um breve texto comentando diferenças e semelhanças entre elas.
Versão adaptada acessível

3. Elabore um texto ou produza um áudio comparando a Constituição de 1891 (abordada no capítulo 2) e a Constituição de 1934. Considere temas como o direito ao voto, a divisão entre os poderes e os direitos trabalhistas. Depois, finalize sua produção comentando diferenças e semelhanças entre elas.

  1. Em seu caderno, crie uma palavra cruzada sobre o Estado Novo utilizando as dicas a seguir.
    1. Nome do movimento popular derivado do lema “Queremos Getúlio”, que exigia a permanência de Vargas no poder em 1945.
    2. Movimento comunista que se rebelou militarmente contra o govêrno de Getúlio Vargas em 1935.
    3. Setor da economia estimulado pelo govêrno Vargas por meio da fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941, e da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.
    4. fôrça militar brasileira que lutou na Segunda Guerra Mundial junto aos Aliados e contra o nazifascismo.
    5. Órgão governamental responsável pela censura aos meios de comunicação e pela coordenação da propaganda do Estado.
    6. Falso plano comunista criado pelo govêrno Vargas com apôio dos integralistas para prender adversários políticos e implantar o Estado Novo.
Versão adaptada acessível

4. Sobre o Estado Novo, escreva os termos que se associam corretamente às alternativas a seguir.

a. Nome do movimento popular derivado do lema “Queremos Getúlio”, que exigia a permanência de Vargas no poder em 1945.

b. Movimento comunista que se rebelou militarmente contra o governo de Getúlio Vargas em 1935.

c. Setor da economia estimulado pelo governo Vargas por meio da fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941, e da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942.

d. Força militar brasileira que lutou na Segunda Guerra Mundial junto aos Aliados e contra o nazifascismo.

e. Órgão governamental responsável pela censura aos meios de comunicação e pela coordenação da propaganda do Estado.

f. Falso plano comunista criado pelo governo Vargas com apoio dos integralistas para prender adversários políticos e implantar o Estado Novo.

  1. Programa de rádio, de transmissão obrigatória, criado pelo Díp para exaltar o govêrno de Vargas.
  2. Conjunto de legislações trabalhistas existentes no Brasil até 1943, cujo objetivo era regulamentar as relações entre trabalhadores urbanos e patrões.
  3. Movimento social e político impulsionado pelo govêrno Vargas para, ao mesmo tempo, proteger e controlar os trabalhadores urbanos.
  1. Por que o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados? Explique.
  2. O govêrno implantado no Brasil entre 1937 e 1945 pode ser considerado autoritário? Explique com base em exemplos.
  3. Elabore um texto relacionando o voto feminino e a emancipação das mulheres.

Interpretar texto e imagem

8. A propaganda foi um instrumento importante para legitimar o poder político no Estado Novo. Era por meio dela que o transmitia seus “recados” para os cidadãos. As cartilhas escolares, por exemplo, anunciavam Getúlio Vargas como “pai da nação”. Observe a imagem a seguir e responda às questões.

Ilustração. Getúlio Vargas, à direita, com cabelos curtos, lisos e castanhos, vestindo um paletó cinza, com o sorriso à mostra, tocando o rosto de uma menina à sua frente, com cabelos castanhos e longos, trajando um vestido branco e um laço rosa em sua cabeça. Ao fundo, um menino de cabelos castanhos, curtos e lisos, vestindo uma camisa branca, uma gravata escura e portando uma pequena haste com a bandeira do Brasil vista parcialmente. No canto inferior, um quadro contendo textos, em evidência ao lado, direito, em imagem ampliada: 'Crianças! Aprendendo, no lar e nas escolas, o culto da Pátria, trareis para a vida prática todas as probabilidades de êxito. Só o amor constrói e, amando o Brasil, forçosamente o conduzireis aos mais altos destinos entre as Nações realizando os desejos de engrandecimento aninhados em cada coração brasileiro'.
Ilustração da cartilha A juventude no Estado Novo, publicada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (Díp), entre 1937 e 1940.
  1. Quem é a personagem principal representada?
  2. Explique a mensagem que essa imagem pretende transmitir.