UNIDADE  1  PRIMEIRA GUERRA, REVOLUÇÃO E REPÚBLICA

CAPÍTULO 3 PRIMEIRA REPÚBLICA: CONTESTAÇÕES E DINÂMICAS

No comêço do século vinte, milhões de brasileiros viviam na pobreza, sem acesso a terra, educação, saúde pública e justiça. Reagindo a tal situação, surgiram vários movimentos sociais que lutavam por melhores condições de vida. No meio rural, ocorreram a Guerra de Canudos, a Guerra do Contestado e o movimento do cangaço. Já no meio urbano, ocorreram a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata e o Tenentismo. Além dessas revóltas sociais, artistas brasileiros reagiram às tradições vigentes por meio da Semana de Arte Moderna de 1922.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para começar

Você conhece algum movimento social no Brasil contemporâneo? Pense, por exemplo, na luta pelos direitos humanos e pela preservação do meio ambiente.

Fotografia. Destaque para um muro com a pintura de um homem visto de frente, vestindo uma camisa branca de gola azul, chapéu branco, e um lenço vermelho pendendo em seu peito. Em segundo plano, à, esquerda, o mesmo homem, em pé, com um papel nas mãos, acompanhado de outro homem, com as mesmas vestimentas. Ao fundo, um navio de guerra sobre águas de coloração vermelha.
Detalhe de mural em homenagem ao marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, principal líder da Revolta da Chibata, feito pelo artista Cazé, na parede da residência onde o marinheiro viveu, em São João de Meriti, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero nove agá ih zero um
  • ê éfe zero nove agá ih zero dois
  • ê éfe zero nove agá ih zero cinco
  • ê éfe zero nove agá ih zero sete

Objetivos do capítulo

Os seguintes objetivos justificam-se no capítulo em razão do tema tratado, a Primeira República, e de assuntos correlatos, como a situação econômica e social do Brasil no início do século vinte, os conflitos urbanos e rurais que marcaram o período, o intercâmbio cultural decorrente do processo de imigração e a relevância das produções artísticas, com destaque para o Modernismo.

  • Compreender a situação econômica e social do período, com destaque para a cafeicultura e a produção da borracha, a industrialização, o movimento operário e a urbanização.
  • Refletir sobre os conflitos urbanos (Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, Tenentismo) e os rurais (Canudos, Contestado, cangaço) que integram as contestações e dinâmicas da Primeira República.
  • Conhecer o processo de imigração entre 1890 e 1930 e a importância do intercâmbio cultural advindo desse processo.
  • Valorizar o Modernismo como um dos marcos artístico-culturais do período republicano.

Para começar

No Brasil, por exemplo, existem vários movimentos sociais. Entre eles, podemos citar movimentos em defesa do meio ambiente, bem como das crianças, dos adolescentes, das mulheres, dos indígenas, dos negros e da diversidade sexual. Incentive os estudantes a identificar movimentos que atuam na região onde eles vivem.

Fotografia. Um grupo de pessoas sobre um palco de teatro. A maioria veste camisas, calças e vestidos marrons, faixas transversais, e chapéus de couro em formato de meia lua, característico dos cangaceiros. Ao centro, um tambor.
Cena do musical As cangaceiras, guerreiras do sertão, direção de Sergio Módena, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019. O cangaço é retratado em diversas manifestações artísticas da atualidade.
Fotografia. Imagem de uma mulher vista de perfil, com cabelos escuros, longos e lisos, projetada sobre a fachada de uma grande construção, acompanhada do texto: 'Tarsila do Amaral'. Nas laterais, também projetadas sobre a fachada, pinturas de cactos e de um homem de corpo desproporcional, com pernas e pés maiores que seu tronco e cabeça.
Projeção de retrato da artista Tarsila do Amaral e de sua obra Abaporu no Palácio dos Bandeirantes, séde do govêrno estadual de São Paulo. Fotografia de 2022. A projeção foi uma homenagem aos cem anos da Semana de Arte Moderna (1922), que ocorreu durante a Primeira República e marcou profundamente a arte brasileira.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A abertura deste capítulo, incluindo o boxe “Para começar”, favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê três, cê ê cê agá dois e cê ê agá um.

Terra, produção e poder

Durante a Primeira República (1889-1930), o Brasil era predominantemente rural e quase 70% de sua população se dedicava à agricultura. O café era o principal produto exportado pelo país, abastecendo cêrca de dois terços do mercado mundial. O quadro a seguir mostra a participação do café e de outros produtos agrícolas nas exportações brasileiras entre 1889 e 1933.

Brasil: participação (em %) dos principais produtos agrícolas na receita das exportações (1889-1933)

Período

Café

Açúcar

Cacau

Mate

Fumo

Algodão

Borracha

Couro e pele

Outros

1889-1897

67,6

6,6

1,5

1,1

1,2

2,9

11,8

2,4

4,9

1898-1910

52,7

1

2,7

2,7

2,8

2,1

25,7

4,2

5,2

1911-1913

61,7

0,3

2,3

3,1

1,9

2,1

20

4,2

4,4

1914-1918

47,4

3,9

4,2

3,4

2,8

1,4

12

7,5

17,4

1919-1923

58,8

4,7

3,3

2,4

2,6

3,4

3

5,3

16,5

1924-1929

72,5

0,4

3,3

2,9

2

3,4

2,8

4,5

9,7

1930-1933

69,1

0,6

3,5

3

1,8

1,9

0,8

4,3

15,5

Fonte: VILLELA, Annibal Villanova; SUZIGAN, Política do govêrno e crescimento da economia brasileira: 1889-1945. Rio de Janeiro: ipéa/ínpes, 1973. página 70.

Com as exportações em alta, os cafeicultores ampliaram suas plantações. No entanto, em certo momento, a produção do café foi bem maior que o consumo mundial do produto. Isso gerou uma crise de superprodução, pois havia mais café do que consumidores dispostos a comprá-lo. Estoques imensos de café se acumularam e os preços do produto desabaram.

Em 1906, os cafeicultores, com o apôio do govêrno, firmaram um acôrdo conhecido como Convênio de Taubaté. O objetivo era valorizar o preço do café. O plano seria o Estado comprar, estocar e, até mesmo, destruir estoques excedentes de café e vender o produto somente quando os preços subissem. Essa valorização artificial do café seria financiada com empréstimos feitos no exterior.

De modo geral, essa política teve êxito, recuperando o preço internacional do café. No entanto, gerou algumas distorções: mesmo quando não havia compradores de café suficientes no mercado, os cafeicultores continuavam investindo na plantação desse produto, pois sua venda estava garantida pelo govêrno.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Terra, produção e poder” e seus subitens favorecem o desenvolvimento das habilidades ê éfe zero nove agá ih zero um e ê éfe zero nove agá ih zero dois, pois abordam aspectos políticos, econômicos e sociais do Brasil durante a Primeira República.

Borracha na Amazônia

Além do café, a borracha se destacou na economia brasileira da Primeira República. Produzida com o látex extraído das seringueiras, a borracha tornou-se um produto de muita procura nos países industrializados, sendo utilizada especialmente na produção de pneus.

A maior reserva de seringueiras do mundo estava na Amazônia. Naquele período, o Brasil passou a suprir quase toda a demanda mundial de borracha. Entre 1891 e 1918, a região amazônica atraiu trabalhadores de outras localidades, sobretudo do nordeste do país, além de investimentos nacionais e estrangeiros. Cidades como Manaus e Belém viveram uma época de esplendor.

Porém, logo os problemas começaram a aparecer. A borracha brasileira teve dificuldades para concorrer com a borracha das colônias britânicas no sudeste da Ásia, que chegou a abastecer cêrca de 65% do mercado mundial em 1915. Essa situação se reverteu apenas durante a Segunda Guerra Mundial, quando a procura cresceu novamente e os produtores brasileiros voltaram a exportar o produto em maior escala.

Fotografia. Um homem em pé, com cabelos curtos, castanhos e lisos, vestindo uma camisa branca, segura uma lâmina sobre o tronco de uma árvore, formando pequenos sulcos sobre a superfície das quais escorre um líquido branco.
Trabalhador extraindo látex de seringueira, em Novo Aripuanã, Amazonas. Fotografia de 2020.
Fotografia. Vista aérea da fachada de uma grande construção de três andares, com paredes rosas, colunas brancas, entradas frontais em formato de arcos, e um teto em formato de cúpula, nas cores amarelo, verde e azul. Ao redor, ruas pavimentadas, carros, casas e prédios.
Teatro Amazonas, em Manaus, Amazonas. Fotografia de 2021. Inaugurado em dezembro de 1896, esse teatro tornou-se símbolo da riqueza da cidade durante o auge da extração do látex.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Para aprofundar as reflexões sobre a história do Amazonas e do Pará, sugerimos a leitura do texto a seguir.

Região Norte

“Formada pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, a Região Norte corresponde a quase metade do território brasileiro. Dominada pela Floresta Amazônica e pela imensidão de seus rios, seus principais centros urbanos guardam vestígios de seu período de maior riqueza, a era da borracha, entre o final do século dezenove e o início do vinte,quando o látex das seringueiras fez da região a mais rica do país. Algumas cidades preservam marcas ainda mais remotas: as dos primeiros esforços da Coroa portuguesa de firmar sua posse na região.

Amazonas

Tudo no estado do Amazonas é grandioso: é o maior estado da federação, tem o maior rio do mundo em volume de água, abriga o Pico da Neblina, o mais alto do país, e de todos os estados é o que tem a maior população indígena. Manaus, sua capital, é a maior cidade do Norte. Às margens do Rio Negro, a cidade formou-se a partir da construção da Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro, em 1669, e, em 1880, com a borracha, atingiu seu apogeu urbanístico e arquitetônico, transformando-se numa cidade moderna, a ‘Paris dos Trópicos’, até entrar em decadência nas primeiras décadas do século vinte, com a concorrência da produção dos seringais do sudeste da Ásia.

Várias edificações de Manaus atestam o período áureo da borracha. Entre elas estão o Pôrto de Manaus, inaugurado em 1907, uma construção flutuante que acompanha o nível das águas do Rio Negro; o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, cópia do mercado Les Halles, de Paris, construído em 1882 com uma estrutura pré-fabricada vinda da Inglaterra; o Palácio Rio Negro, comprado em 1918 para ser séde do govêrno; e, sobretudo, o maior símbolo do ciclo da borracha: o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896. O prédio imponente pode ser visto de vários lugares da cidade, foi palco de grandes espetáculos nacionais e internacionais e guarda preciosidades, como tapeçarias e pintura do teto assinadas por Domenico de Angelis; ornamentos sobre colunas do pavimento térreo, com máscaras em homenagem a dramaturgos e compositores clássicos; telas sobre o teto abobadado pintadas em Paris com alegorias à música, dança, tragédia e uma homenagem ao compositor Carlos Gomes; a pintura do pano de boca do palco, que faz referência ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões; e a cúpula revestida com 20 mil telhas vitrificadas com as cores da bandeira do Brasil.

Pará

Segundo maior estado do Brasil, com muita riqueza ecológica e recursos naturais diversificados, o Pará possui a beleza do mar e das montanhas. Belém, a capital, nasceu em 1616, às margens da Baía de Guajará, nos estuários dos rios Tocantins e Guamá, perto de Marajó, a maior ilha fluvial do mundo. O povoado, edificado a partir da implantação do Forte Presépio, foi fundado como parte da estratégia de expansão do Império Ibérico e de conquista do Amazonas. Foi a primeira capital da Amazônia.

Durante o ciclo da borracha, Belém foi uma cidade muito próspera e suas edificações luxuosas são um testemunho do período. reticências

Belém também guarda sua memória no Teatro da Paz, inspirado no Teatro Scala de Milão, no Cinema Olympia, inaugurado em 1912, um dos mais luxuosos e modernos do seu tempo e o mais antigo em funcionamento no país; e no cartão-postal da cidade, o Mercado Ver-o-pêso, antigo entreposto para conferir o pêso das mercadorias, inaugurado em 1894. Construído com estruturas e pórticos de ferro importados da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos, esse mercado é único no mundo pela quantidade e diversidade de cores, sabores e cheiros dos produtos que lá são vendidos.”

KOK, Glória. Memórias do Brasil: uma viagem pelo patrimônio artístico, histórico, cultural e ambiental. São Paulo: Terceiro Nome, 2011. página 199-203.

Orientação didática

É interessante pesquisar e apresentar aos estudantes fotografias dos patrimônios históricos de Manaus e Belém relacionados à produção de borracha no comêço do século vinte. O “Texto de aprofundamento”, reproduzido nas páginas 50 e 51, pode ajudar a orientar a pesquisa.

Imigração

Entre 1890 e 1930, calcula-se que cêrca de 3,5 milhões de europeus e asiáticos imigraram para o Brasil. Eles vieram para o país buscando trabalho e melhores condições de vida. A maioria dos imigrantes foi trabalhar nas lavouras de café, e uma minoria, nas indústrias, no comércio e nos serviços.

Nessas quatro décadas, os italianos representaram cêrca de 33% dos imigrantes que chegaram ao Brasil. Na sequência, estavam os portugueses (29%) e os espanhóis (15%). Outros grupos vieram em menor número, como alemães, japoneses, sírios, libaneses, russos, lituanos e austríacos.

O estado de São Paulo recebeu mais da metade do total desses imigrantes. Isso ocorreu, sobretudo, em razão da expansão dos cafezais paulistas (o que abriu milhares de postos de trabalho) e da política de incentivo à imigração do govêrno estadual (que fazia propagandas no exterior e concedia passagens e alojamento para os trabalhadores nos primeiros dias após a chegada).

A vinda de imigrantes trouxe mudanças culturais, principalmente no sudeste e no sul do país. Os hábitos dos imigrantes transformaram aspectos da alimentação, da moradia e da rotina de trabalho dos brasileiros.

Entre os séculos dezenove e vinte, quando chegaram ao Brasil, os imigrantes, em sua maioria, eram pobres. Mas, segundo o historiador Boris Fausto, muitos deles prosperaram e subiram na escala social, principalmente aqueles que contribuíram para o desenvolvimento da indústria e do comércio, em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Fotografia. Um grupo de pessoas reunidas sobre uma via, todas vestindo camisas e calças brancas, com os braços levantados para cima, abertos. Acima, há faixas de tecidos coloridos pendendo de hastes presas nas extremidades.
Tanabata Matsuri, ou Festival das Estrelas, que celebra a cultura japonesa, no bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019. O bairro da Liberdade é conhecido por abrigar uma grande comunidade de imigrantes japoneses e de seus descendentes no Brasil.
Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica: filme.

dica filme

gáidjín – Ama-me como sou (Brasil). Direção de Tizuka Yamazaki, 2002. 130 minutos

O filme conta a saga de três gerações de japoneses e seus descendentes no Brasil. A história começa no início do século vinte e chega até a época de seus netos, nos anos 1990, que voltam ao Japão para conseguir trabalho – agora como imigrantes brasileiros.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Entreviste um descendente de imigrantes perguntando:

  1. Qual é o país de origem de sua família?
  2. Em que época eles imigraram para o Brasil?
  3. Que motivos os levaram a deixar o país de origem?

Respostas pessoais. No Brasil, existem muitas pessoas que são imigrantes ou descendentes de imigrantes. Por isso, é interessante resgatar essas memórias por meio de entrevista. Esta atividade pode ser realizada em grupo. Para orientações sobre entrevistas, consulte o tópico 5.4, Fontes orais, deste manual.

Outras indicações

Pode-se visitar presencial ou virtualmente espaços culturais dedicados à preservação de memórias relacionadas à imigração no Brasil. Sugerimos a seguir algumas opções.

  • Museu da Imigração Japonesa – São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/tLRMjD. Acesso em: 22 agosto 2022.
  • Museu Histórico Visconde de São Leopoldo – Rio Grande do Sul. Disponível em: https://oeds.link/Pl4anG. Acesso em: 22 agosto 2022.
  • Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Disponível em: https://oeds.link/EzmN8b. Acesso em: 22 agosto 2022. Também é possível assistir com os estudantes a um episódio do programa Conhecendo Museus, sobre o Museu da Imigração do Estado de São Paulo: Memorial do Imigrante. Conhecendo Museus, 2013. 24 minutos Disponível em: https://oeds.link/Oq3R4h. Acesso em: 22 agosto 2022

Conflitos rurais

Durante a Primeira República, ocorreram diversos movimentos sociais no campo. Um deles culminou na Guerra de Canudos, na Bahia, e outro na Guerra do Contestado, entre Santa Catarina e Paraná. Esses movimentos foram marcados pelo messianismo. A palavra “messianismo” deriva de messias, que significa “enviado de Deus”, “salvador”. É um termo ligado às religiões judaica e cristã.

Na história do Brasil, o termo “messianismo” é usado para se referir aos movimentos rurais em que milhares de pessoas formaram comunidades conduzidas por um líder político e religioso. De modo geral, essas comunidades acreditavam que seu líder tinha dons para guiar a vida social e espiritual das pessoas.

Guerra de Canudos (1896-1897)

No final do século dezenove, as terras agrícolas do nordeste do Brasil estavam concentradas nas mãos de grandes fazendeiros. A produção de açúcar para exportação diminuiu drasticamente em função da concorrência internacional, das sêcas periódicas e da perda de mão de obra para outras regiões do país. Isso gerou graves problemas econômicos e sociais.

Milhares de nordestinos viviam na miséria, pois não tinham acesso a terra, trabalhos dignos e educação. E, em geral, estavam submetidos à autoridade dos coronéis e excluídos da participação política. Nesse contexto, surgiu a figura de Antônio Vicente Mendes Maciel (1830-1897), conhecido como Antônio Conselheiro. Ele andava pelo Sertão nordestino fazendo pregações políticas e religiosas que atraíam crescente número de pessoas que sonhavam com uma vida melhor.

Em 1893, aos 65 anos, Antônio Conselheiro chegou a uma fazenda abandonada às margens do Rio Vaza-Barris, no interior baiano. Nesse lugar, liderou a formação de Belo Monte, depois chamado Canudos. Suas ações despertavam a admiração dos sertanejos. Um dos lemas de Conselheiro era: “A terra não tem dono, a terra é de todos”.

Fotografia. Destaque para a estátua de um homem, em pé, com barba volumosa, vestindo uma longa túnica laranja e um chapéu com abas na cabeça. Com uma das mãos segura um crucifixo, com a outra segura um cajado. Ao seu lado, uma roda contendo uma cruz no centro. Em segundo plano, uma fachada estreita de pedras e uma pequena construção de paredes brancas, teto triangular, portas azuis, e três crucifixos no topo.
Estátua de Antônio Conselheiro e Museu Histórico de Canudos (ao fundo, à esquerda), em Canudos, Bahia. Fotografia de 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Guerra de Canudos (1896-1897)” e seus subitens, com início na página 53, contribuem para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih zero sete, na medida em que identificam os ex-escravizados entre os habitantes do povoado de Canudos.

Texto de aprofundamento

Para complementar os estudos sobre Canudos, sugerimos a leitura do texto a seguir.

A organização de Canudos

“O arraial desenvolveu-se com rapidez, tornando-se logo uma cidade populosa. Diariamente chegava grande quantidade de pessoas, vindas de diversas regiões. Famílias inteiras vendiam o pouco que possuíam e partiam para a cidade, julgando-a sagrada ou, pelo menos, diferente das outras. Muitos foragidos, perseguidos das autoridades policiais e políticas ou ex-cangaceiros, também viam na nova cidade a possibilidade de viver melhor reticências.

Entretanto, não era muito simples estabelecer-se em Canudos. Tudo estava subordinado ao arbítrio do Conselheiro. Ele não só decidia quem podia ou não viver no arraial, como também estabelecera normas rígidas de conduta. O uso de bebidas alcoólicas era terminantemente proibido, assim como as arruaças, a prostituição e crimes de morte. A penalidade irrevogável era a expulsão.

Desse modo, sob o comando do beato, o arraial foi crescendo sem nenhum planejamento. Em média, construíam-se 12 casas por dia. Eram feitas de taipa e espalhavam-se sem alinhamento pelo povoado, formando pátios internos e estreitos

Além das casas de moradia, a cidade contava com duas escolas, algumas farmácias, oficinas, onde se fabricavam instrumentos de trabalho e armas rústicas, e alguns poucos estabelecimentos comerciais.

Em Canudos todos tinham de trabalhar. A terra era propriedade coletiva, portanto tudo o que se produzia pertencia à comunidade. reticências

Mas nem só da produção agrícola vivia o arraial. As atividades pastoris foram muito importantes para o seu desenvolvimento. Além de fornecer carne e leite, da criação de animais advinha a indústria de couro curtido. reticências Os habitantes de Canudos, geralmente as mulheres, também se ocupavam do artesanato. Fiavam, confeccionavam objetos de cerâmica, faziam cestas, bolsas, esteiras e redes.

Durante todo dia os fiéis trabalhavam e, no fim da tarde, faziam a oração diária. Às seis horas, o sino da igreja começava a tocar. As pessoas paravam seus afazeres e se dirigiam à praça para ouvir seu pregador. Acendiam-se fogueiras e velas, enquanto a multidão se ajoelhava. O Conselheiro, então, pregava. Apesar de não ter contato direto com seus adeptos, estava sempre bem-informado de tudo o que acontecia e aproveitava as ocorrências diárias para compor suas prédicas.”

COIN, Cristina. A Guerra de Canudos. São Paulo: Scipione, 1992. página 26-28.

Vida em Canudos

Em Canudos, os moradores tinham uma vida diferente quando comparada à de outros locais do país. Ali viviam sertanejos sem terra, vaqueiros sem trabalho, ex-escravizados e pequenos proprietários pobres. A comunidade de Canudos tornou-se um refúgio para homens e mulheres que tentavam escapar da opressão dos coronéis. Em pouco tempo, sua população cresceu, reunindo de 20 mil a 30 mil habitantes.

Em Canudos, os frutos do trabalho eram repartidos entre seus membros e os excedentes da produção eram trocados nos povoados vizinhos. Não se cobravam impostos e eram proibidas a prostituição e a venda de bebidas alcoólicas.

Os inimigos de Canudos diziam que ali viviam fanáticos e monarquistas. Para muitos líderes da Igreja Católica, Antônio Conselheiro e seus seguidores desrespeitavam o catolicismo. Para os latifundiários e as autoridades do govêrno, o povoado era uma ameaça, pois seus moradores ocupavam terras e não pagavam impostos.

Ataques a Canudos

As tropas dos coronéis locais e do govêrno estadual baiano tentaram destruir Canudos algumas vezes, mas a população resistiu aos ataques de seus inimigos. Entretanto, em 5 de outubro de 1897, cêrca de 10 mil homens armados foram enviados pelo ministro da Guerra para atacar e destruir Canudos. A maioria dos moradores morreu defendendo seu povoado, numa das lutas mais trágicas da república.

A Guerra de Canudos foi tema do livro Os sertões, do escritor Euclides da Cunha. Esse livro, publicado em 1902, alcançou grande sucesso e logo se tornou um dos maiores clássicos da literatura brasileira.

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo reticências caiu no dia 5, quando caíram seus últimos defensores reticências. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”

CUNHA, Euclides da. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves; São Paulo: Publifolha, 2000. página 514.

Fotografia em preto e branco. Uma multidão de pessoas aglomeradas, sentados no solo, lado a lado, a maioria vestindo roupas claras, e ao fundo, um grupo de homens em pé, armados, cercando o perímetro.
População de Canudos que sobreviveu ao massacre realizado pelo exército brasileiro em Canudos, Bahia. Fotografia de 1897.
Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica: filme.

dica filme

O arraial (Brasil). Direção de Adalgisa Luz e Otto Guerra, 1997. 13 minutos.

Animação sobre o arraial de Canudos e sua destruição pelas tropas do govêrno central, narrada por uma criança. Disponível em: https://oeds.link/gyITS0. Acesso em: 5 abril 2022.

Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

Para mais informações sobre a vida e a obra de Euclides da Cunha, sugerimos o acesso à página virtual da Casa de Cultura Euclides da Cunha. Disponível em: https://oeds.link/v7TQUM. Acesso em: 28 março 2022.

Guerra do Contestado (1912-1916)

Na divisa entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, ocorreu o movimento do Contestado. Nessa região, milhares de pessoas viviam em condições difíceis. Muitas trabalhavam para fazendeiros locais ou para as empresas estadunidenses Southern Brazil Lumber and Colonization, de colonização e exploração de madeira, e Brazil Railway, de estradas de ferro.

Os problemas sociais e a disputa pela terra se agravaram quando a Brazil Railway passou a contratar, em troca de baixos salários, pessoas de outras localidades para construir a ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul.

Em 1910, quando as obras acabaram, cêrca de 8 mil trabalhadores perderam seus empregos. Como não tinham condições de voltar para suas terras de origem, continuaram a viver na região. Sem casa e sem dinheiro, muitos participavam de invasões de terras, enquanto outros se ofereciam como jagunços aos coronéis locais. Jagunços, também chamados de capangas, eram pessoas que agiam de fórma violenta e atuavam como guarda-costas dos poderosos.

Guerra do Contestado (1912-1916)

Mapa. Guerra do Contestado (1912 a 1916). Mapa político do Brasil, com destaque para os estados do Paraná, em amarelo, e de Santa Catarina, em verde. Uma linha roxa determina a 'Região disputada', abrangendo predominantemente o centro de Santa Catarina e pequena parte do sul do Paraná. Uma linha vermelha determina a 'Região da Guerra do Contestado', compreendendo uma área entre o sudoeste do Paraná e o oeste de Santa Catarina. À direita do mapa, escala de 0 a 750 quilômetros. À esquerda, porção territorial do Paraná e de Santa Catarina ampliada em detalhe. Abaixo, no canto inferior, rosa dos ventos e escala de 0 a 110 quilômetros.
Fontes: í bê gê É. Carta do Brasil ao milionésimo. Meio digital, 2003; QUEIROZ, M. V., 1981. Apud: FRAGA, Nilton César; LUDKA, Vanessa Maria. 100 anos da Guerra do Contestado, a maior guerra camponesa na América do Sul: uma análise dos efeitos sobre o território brasileiro. décimo segundo Colóquio de Geocrítica, Bogotá, 2012. página 8. Disponível em: https://oeds.link/bdUGsL. Acesso em: 24 março 2022.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Existem ferrovias no Brasil atual? Cite uma delas.
  2. Qual é o meio de transporte mais utilizado para levar mercadorias no país?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento das competências cê gê dois e cê ê cê agá três.

Para pensar

  1. Sim, existem várias ferrovias no Brasil atual. Entre elas, podemos citar: Estrada de Ferro Carajás e Estrada de Ferro Vitória a Minas. No entanto, de acôrdo com especialistas, as ferrovias representam cêrca de 15% da estrutura de transporte no país.
  2. O meio de transporte de carga mais utilizado no país é o caminhão, que circula, sobretudo, por rodovias. Segundo especialistas, o transporte rodoviário representa por volta de 65% do total. Para mais informações sobre esse tema, sugerimos a leitura da matéria “Por que o Brasil não investe em ferrovias? E por que deveria investir”, da revista Exame. Disponível em: https://oeds.link/W7TVED. Acesso em: 28 maio 2022.

A liderança de José Maria

Diante da miséria, milhares de pessoas passaram a seguir um homem chamado José Maria de Santo Agostinho, que exercia liderança religiosa na região. Ele reuniu cêrca de 20 mil pessoas para fundar povoados conhecidos como Monarquia Celeste ou Contestado. Os povoados do Contestado tinham um govêrno próprio, normas igualitárias e não obedeciam às autoridades da república.

Assim como em Canudos, os moradores locais foram perseguidos pela polícia, pelos coronéis e pelos empresários estrangeiros, com o apôio do govêrno. Em novembro de 1912, José Maria morreu em combate e foi considerado santo pelos moradores da região.

Seus seguidores criaram novos núcleos de povoamento, também combatidos pelo exército. Os últimos núcleos de resistência foram destruídos por uma tropa de 7 mil homens armados. Em 1916, para eliminar esses núcleos do Contestado, aviões foram usados pela primeira vez como arma de combate no Brasil.

Fotografia. Destaque para mural sobre uma parede, representando um conflito armado, com grupos de homens amontoados. Alguns portam armas de fogo, outros seguram facas e crucifixos. Há tocos de madeira espalhados por toda a cena. No canto direito, pessoas ardem em chamas. À esquerda, uma locomotiva avança sobre trilhos, protegida por homens armados. Ao lado, um grupo se reúne em torno de um homem de barba volumosa, que veste túnica branca e carrega símbolos religiosos.
O Contestado Terra Contestada, pintura do artista rássís, 1985. A obra foi exposta no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis. Fotografia de 2016.

Cangaço no nordeste

O Sertão do nordeste brasileiro foi palco de rebeliões lideradas por grupos armados, os chamados cangaceiros. O modo de vida que eles levavam foi denominado cangaço.

Em meio a injustiças sociais, fome e sêca, os cangaceiros muitas vezes praticavam assaltos, assassinatos, entre outros crimes. Assim, muitos fazendeiros e sertanejos passaram a ter medo deles. No entanto, outras pessoas admiravam os cangaceiros por sua valentia em desafiar as autoridades locais.

Entre os grupos de cangaceiros mais conhecidos, destacaram-se o de Antônio Silvino (1875-1944) e Virgulino Ferreira (1898-1938), conhecido como Lampião. Os cangaceiros chefiados por Lampião viveram no Sertão nordestino por quase duas décadas. Em 1929, Maria Gomes de Oliveira (1910-1938) se envolveu amorosamente com Lampião e se uniu ao grupo. Foi considerada a primeira mulher a se tornar cangaceira e ficou conhecida como Maria Bonita.

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Apresente aos estudantes a letra da música O fim da história, do álbum Parabolicamará, de 1992, do cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil. Em seguida, proponha as seguintes questões.

1. De acôrdo com a canção, o cangaceiro é um herói ou um bandido? Explique.

Resposta: De acôrdo com a canção, o cangaceiro é uma figura polêmica e contraditória. Solicite aos estudantes que justifiquem suas respostas com base nos trechos da canção.

2. A canção faz relação entre a figura de Lampião e a ideia de “mito”? Justifique sua resposta.

Resposta: Sim. Na canção, termos como “mito” e “ressuscita” remetem à permanência da memória do cangaço mesmo após a morte de líderes como Lampião. Nesse caso, quando alguém morre fisicamente, pode ressurgir como um mito.

3. Crie uma letra de música sobre um dos temas abordados neste capítulo.

Resposta pessoal. O objetivo é estimular a criatividade dos estudantes, levando-os a compor uma letra que fale, por exemplo, sobre revolta social, violência, concentração de terras e riqueza, cangaço, miséria etcétera

Em 1938, a polícia massacrou o grupo de Lampião e, depois disso, o cangaço declinou até desaparecer. Contudo, as ações dos cangaceiros marcaram a memória popular, inspirando a criação de esculturas, filmes, xilogravuras, livros de cordelglossário . Confira um exemplo de versos de cordel sobre Lampião:

“Qual o homem mais famoso

da nossa grande nação?

Vargas não nos é estranho

porém sem comparação

internacionalmente

é sem dúvida o Lampião.”

SILVA, Gonçalo Ferreira. Lampião, o capitão do cangaço. Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: https://oeds.link/YPqNZ4. Acesso em: 28 maio 2022.

Fotografia em preto e branco. Destaque ao centro para um homem e uma mulher, em pé, ele vestindo uma camisa e uma jaqueta, e ela trajando um vestido, ambos com chapéus na cabeça, portando armas de fogo, cercados de vários outros homens, trajando as mesmas vestimentas e chapéus de cangaceiros.
Lampião e Maria Bonita (ao centro) e seu grupo de cangaceiros. Fotografia de 1936.
Ícone. Atividade oral.

Responda no caderno

para pensar

Pesquise alguma história sobre Lampião e Maria Bonita em filme, cordel etcéteraDepois, faça um breve comentário sobre essa história.

Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro

dica livro

SANDRONI, Luciana. Lampião na cabeça. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

A obra apresenta um panorama a respeito do cangaço e uma releitura sobre seus significados com base em informações sobre a vida de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento da competência cê gê três.

Para pensar

Existem muitas histórias, canções e xilogravuras sobre a vida de Lampião e Maria Bonita. Esta atividade pode ser uma oportunidade para que os estudantes pesquisem a biografia desses personagens. Há também uma canção sobre o tema, de composição de Luiz Gonzaga e Solange Veras e interpretação de Luiz Gonzaga, de 1983, chamada Lampião: era besta não.

Industrialização

A partir de 1900, a industrialização tomou impulso no Brasil, sobretudo no sudeste do país. Em 1907, por exemplo, havia no país cêrca de .quatrocentas e dez fábricas; em 1929, eram cêrca de 13.336 estabelecimentos.

Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, parte da riqueza acumulada com a produção de café foi utilizada para financiar o desenvolvimento industrial. Além desses investimentos, outros fatores foram decisivos para o início da industrialização no Brasil, como:

  • aumento do mercado consumidor;
  • melhorias nos sistemas de transportes (estradas, portos e ferrovias);
  • oferta de mão de obra em abundância.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil teve dificuldade de importar produtos industrializados, sobretudo da Europa, principal palco do conflito. Para substituir essas importações, houve um estímulo à instalação e ao desenvolvimento de fábricas no país.

Posteriormente, em 1920, São Paulo tornou-se o mais importante centro industrial brasileiro, com 32% da produção, seguido pelo Rio de Janeiro, com 21%, e pelo Rio Grande do Sul, com 11%. Na época, houve mais investimentos na indústria de bens de consumo (roupas, calçados, alimentos, móveis) do que na indústria de base (cimento, ferro, aço, máquinas e equipamentos).

Fotografia em preto e branco. Duas mulheres, lado a lado, sentadas a frente de uma máquina de tecelagem, com fios suspensos e hastes metálicas.
Tecelãs em indústria têxtil na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia da década de 1920.

Nesse período, o setor industrial não recebeu muita atenção do Estado brasileiro, que se preocupava mais com a agroexportação. Ainda assim, a industrialização foi importante para o desenvolvimento econômico do país.

Vida de operário

Nas fábricas, os operários enfrentavam condições precárias. Trabalhavam mais de 15 horas por dia, ganhavam baixos salários e não tinham direito a férias. A maioria desses operários vivia em moradias precárias, como cortiços, que consistiam em um conjunto de pequenas casas onde várias famílias tinham, por exemplo, que compartilhar um único banheiro ou um tanque para lavar roupa.

Diante das difíceis condições de vida, as mulheres e os homens operários passaram a lutar por direitos sociais e participação política. Entre as correntes políticas que influenciaram o movimento operário, destacou-se, no início, o anarquismo. Mas havia outras

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Industrialização” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih zero cinco, pois identifica os processos de urbanização e modernização da sociedade brasileira, bem como seus impactos e suas contradições. O texto “Vida de operário”, além da habilidade ê éfe zero nove agá ih zero cinco, contribui para o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih zero nove, pois relaciona a conquista de direitos à atuação de movimentos sociais.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre a participação ativa das mulheres nas lutas anarquistas ocorridas no início do século vinte, no Brasil.

Anarquismo e protagonismo feminino no início do século vinte

“Muitas mulheres, principalmente as operárias que atuaram no movimento anarquista, foram suprimidas das páginas da história, tradicionalmente contada em uma perspectiva masculina, branca, eurocêntrica e de classes privilegiadas. As operárias anarquistas permaneceram num ‘quase anonimato’, mas buscar suas vozes e suas ações significa recuperar a história do próprio movimento e sua importância dentro das lutas sociais, bem como sua importância para a compreensão das experiências e lutas femininas, sejam elas individuais e cotidianas ou organizadas em movimentos, partidos e coletivos.

reticências é interessante colocarmos que reticências muitas mulheres, por considerarem que suas histórias pessoais não tinham importância para as demais pessoas, descartavam seus documentos, ou faziam isso para esconder aspectos de sua vida, como resistência individual. Cartas foram queimadas, fotografias e documentos pessoais descartados intencionalmente por elas ou por quem escrevia a história ‘oficial reticências.

Além de todas essas questões, quando pensamos no contexto brasileiro, é válido dizer que muitas das mulheres pobres reticênciastiveram pouco ou nenhum acesso à educação formal e reticências, por isso, não deixaram relatos escritos.Transmitiram suas vivências, impressões e ações através de relatos orais, de geração para geração, que em raros exemplos foram gravados e transcritos reticências.

Elvira Boni, costureira, militante anarquista com grande atividade no Rio de Janeiro, principalmente na União das Costureiras, em um raro e belo relato reticências, afirmava que ela e suas irmãs reticências estudaram apenas no que se conhecia como ensino primário, tendo aprendido a ler e escrever, apenas. Já Maria Allés, fichada pelo Departamento de Ordem Política e Social (deóps) de São Paulo, em 1922, como propagandista anarquista, possuía a inscrição em sua ficha de identificação policial: ‘Não sabe ler e escrever. Isso não quer dizer, entretanto, que sua atuação no movimento libertário tenha sido pequena. reticências Mulheres como reticências as costureiras Tecla Fábri, Teresa cári e Maria Lopes, no Brasil, tiveram importância fundamental para o movimento operário e anarquista e, por diversas razões, ficaram ‘nas sombras’ da história.

reticências Maria alês, segundo seu prontuário, era uma imigrante espanhola (Sevilha) que vivia no bairro do Brás reticências e trabalhava como operária têxtil na Fábrica de Seda Santa Branca. reticências ela teria, com outras de suas companheiras, discordado de um regulamento interno de fábrica que controlava o tempo que as operárias passavam no banheiro e, por isso, teriam exigido a demissão da gerência e promovido uma greve na fábrica após serem dispensadas por tal reclamação. reticências

MENDES, Samantha Colhado. As mulheres anarquistas no Brasil (1900-1930): entre os esquecimentos e as resistências. Revista Espaço Acadêmico, volume 18, número 210, página 65-69, novembro2018. Disponível em: https://oeds.link/ThN3h7. Acesso em: 5 abril2022.

tendências atuantes, como a corrente católica, que procurava afastar o operariado da influência anarquista e socialista, e o sindicalismo revolucionário, que defendia a greve como principal instrumento de luta.

Mulheres operárias, como a tecelã Maria alês e as costureiras Elvira Boni e Maria Lopes, atuaram no movimento anarquista, protestando contra regulamentos de fábricas e organizando greves para reivindicar melhores condições de trabalho. Suas histórias foram, muitas vezes, apagadas devido ao predomínio de uma perspectiva masculina e das classes dominantes.

Em 1917, em São Paulo, foi organizada a primeira greve geral do Brasil. Durante a greve, no dia 9 de julho, o jovem sapateiro e anarquista José Martinez morreu baleado por tropas do govêrno. Esse fato ampliou a greve que se estendeu para outras fábricas de São Paulo e de diversas regiões do país.

Estima-se que entre 50 e 70 mil trabalhadores tenham participado da greve geral. Os grevistas reivindicavam aumento salarial de 20%, jornada diária de 8 horas, direito de associação e libertação dos grevistas presos.

Pressionados, o govêrno e os industriais tiveram de negociar. Concordaram em não punir os grevistas e prometeram aos operários melhores salários e condições de trabalho. Porém, os compromissos não foram cumpridos, provocando novas ondas de greves em 1919 e 1920.

Fotografia. Uma multidão de pessoas aglomeradas sobre uma via pavimentada, todos sobre motocicletas, a maioria utilizando capacetes e portando mochilas quadradas sobre as costas ou baús sobre as motocicletas.
Greve nacional dos entregadores de comidas e produtos vendidos por aplicativos reivindicando melhores condições de trabalho, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2020. A greve permanece como um dos instrumentos de protesto dos trabalhadores.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Atualmente, além da greve, existe outra fórma de o trabalhador reivindicar seus direitos? Se sim, qual?

Ícone. Câmera filmadora indicando o boxe Dica: filme.

dica filme

Libertários (Brasil). Direção de Lauro Escorel, 1976. 26 minutos

Documentário que trata da atuação dos anarquistas nos primórdios do movimento operário em São Paulo, no início do século vinte.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê seis, cê gê nove, cê ê cê agá dois e cê ê agá um.

Para pensar

Resposta pessoal, em parte. Tema para reflexão e debate. Além da greve, os trabalhadores podem buscar informações sobre seus direitos, recorrer à Justiça do Trabalho, negociar com os empregadores, eleger políticos comprometidos com as causas trabalhistas etcétera Mais informações sobre o assunto podem ser encontradas nos seguintes sites:

  • Tribunal Superior do Trabalho. Disponível em: https://oeds.link/uyVYJv. Acesso em: 22 agosto 2022.
  • Organização Internacional do Trabalho – Escritório do Brasil. Disponível em: https://oeds.link/AaEKDH. Acesso em: 22 agosto 2022.

Urbanização

Com o avanço da industrialização, a população urbana cresceu e o comércio ganhou dinamismo. Nos dias atuais, em cada 100 brasileiros, cêrca de 84 vivem em cidades. Para exemplificar o processo de urbanização no Brasil, observe os casos do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Belo Horizonte.

Durante a Primeira República, foram realizadas no Rio de Janeiro (capital do Brasil) uma série de reformas urbanísticas. Entre os principais objetivos da reforma, estavam a modernização do Pôrto e as obras de saneamento básico.

Em São Paulo, entre os principais exemplos de mudanças na cidade, podemos citar a criação do Instituto Butantã, a inauguração da iluminação elétrica, a construção da Avenida Paulista e de ferrovias como a Sorocabana, a Noroeste e a Alta Mogiana, cujos trilhos acompanhavam a expansão das lavouras em direção ao interior. De modo geral, as ferrovias contaram com investimentos do Estado e de empresários brasileiros e estrangeiros, sobretudo britânicos.

Já a cidade de Belo Horizonte foi rigorosamente planejada. Assim, foram criadas grandes avenidas e diversas praças. Havia também uma área específica para cada tipo de serviço. Por exemplo, de um lado da cidade deveriam ficar a estação ferroviária e o hospital. Do outro lado, deveriam ficar as escolas e os teatros.

Todos esses processos de urbanização ocorreram paralelamente à expulsão da população pobre das áreas centrais da cidade. Nesse período, milhares de moradias populares, como cortiços e casebres, foram demolidos, e seus moradores foram obrigados a migrar para as periferias.

Fotografia. Um bonde sobre trilhos partindo de uma estação. O prédio da estação tem dois andares, paredes amarelas, janelas e portas por toda a fachada, e teto triangular.
Antiga estação ferroviária do Valongo, em Santos, São Paulo. Fotografia de 2019. A estação, atualmente restaurada, fazia parte da estrada de ferro que ligava as cidades de Santos e Jundiaí. Hoje, o bonde é usado apenas para turismo.
Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

Augusto Malta. Disponível em: https://oeds.link/8O5awW. Acesso em: 18 agosto 2022.

Página na internet que disponibiliza fotos feitas pelo cronista fotográfico Augusto Malta, muitas delas sobre a reforma urbana ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no início do século vinte.

Conflitos urbanos

O processo de modernização do país provocou impactos em setores da população que, algumas vezes, expressaram-se em contestações. Entre elas, destacam-se a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata e o Tenentismo.

Revolta da Vacina

Desde os primeiros governos republicanos, estava sendo elaborado um projeto de reforma urbana visando transformar o Rio de Janeiro na “capital do progresso”. A cidade deveria, assim, transmitir uma imagem moderna da jovem república.

Para isso, em 1904, foram realizadas diversas obras públicas na cidade. Alargaram-se ruas no centro, implantou-se a Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), ampliaram-se o abastecimento de água e a rede de esgotos e remodelou-se o Pôrto. Muitos cortiços do centro foram demolidos, e seus moradores passaram a viver em barracos nos morros ou em bairros do subúrbio.

Além do embelezamento arquitetônico, alegava-se que um dos objetivos da reforma da capital era combater as epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, que matavam milhares de pessoas todos os anos. Por isso, em 1904, o médico sanitarista osvaldo Cruz (1872-1917), diretor da Saúde Pública, convenceu o presidente Rodrigues Alves a instituir a vacinação obrigatória contra a varíola.

Fotografia em preto e branco. Vista aérea de uma estrada de terra. À esquerda, um morro com pequenas casas próximas umas às outras. À direita, terrenos delimitados em seus perímetros por cercas. Em segundo plano, um morro no horizonte.
Implantação da Avenida Central, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1904.
Fotografia. Vista aérea de uma avenida pavimentada, com calçada, postes de iluminação e diversas pessoas circulando, cercada, de ambos os lados, por grandes construções. Em segundo plano, um morro no horizonte.
Avenida Central, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de cêrca de 1905.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Observe as imagens da região onde a Avenida Central foi implantada na cidade do Rio de Janeiro no início do século vinte e comente as principais diferenças entre elas.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Conflitos urbanos” e seus subitens, com início na página 61, favorecem o desenvolvimento da competência cê ê agá quatro, bem como das habilidades ê éfe zero nove agá ih zero cinco e ê éfe zero nove agá ih zero sete, pois abordam os impactos e as contradições dos processos de urbanização e modernização da sociedade brasileira, além das diferentes pautas das populações afrodescendentes (sobretudo na Revolta da Chibata) durante a Primeira República.

Para pensar

Na fotografia de 1904, a Avenida Central estava em fase de implantação. À esquerda da imagem, podem-se observar moradias e construções que foram impactadas pela abertura da avenida. Comente com os estudantes que foram feitos córtes no Morro do Castelo que existia na região para a implantação dessa avenida. Na fotografia de cêrca de 1905, observa-se a Avenida Central concluída. Notam-se novas edificações em seu entôrno, pavimentação, diversas pessoas circulando por ela e postes de iluminação, características que pretendiam reforçar a imagem do Rio de Janeiro como uma cidade moderna.

Texto de aprofundamento

Para aprofundar os estudos sobre a Revolta da Vacina, sugerimos a leitura do texto a seguir.

Revolta da Vacina

[O] pretexto imediato [da Revolta da Vacina] foi a campanha de vacinação em massa contra a varíola, desencadeada por decisão da própria Presidência da República. Os setores da oposição política, que desde um longo tempo vinham articulando um golpe contra o govêrno, aproveitaram-se das reações indignadas da população, a fim de abrir caminho para o seu intento furtivo. Essas oposições eram constituídas basicamente de dois agrupamentos. O primeiro, muito difuso, se compunha genericamente do núcleo de fôrças que ascenderam e se impuseram ao país durante a primeira fase do regime republicano, os governos militares de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto – sobretudo este último. reticências Acompanhavam esses jovens oficiais reticências toda uma enorme gama de setores sociais urbanos, trabalhadores do serviço público, funcionários do Estado, profissionais autônomos, pequenos empresários, bacharéis desempregados e a vasta multidão de locatários de imóveis, arruinados e desesperados, que viam o discurso estatizante, nacionalista, trabalhista e xenófobo dos cadetes como sua última tábua de salvação. reticências O outro agrupamento dos conspiradores era formado pelos monarquistas depostos pelo novo regime.

reticências essas oposições se revelariam incompetentes para compreender as dimensões mais abrangentes e de um caráter mais radicalmente contestador presentes nos movimentos da massa popular que iriam desencadear a Revolta da Vacina e se constituiriam numa das mais pungentes demonstrações de resistência dos grupos populares do país contra a exploração, a discriminação e o tratamento espúrio a que eram submetidos pela administração pública nessa fase da nossa história.”

Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo: Scipione, 1993. página 9-11.

Revolta e repressão

Após decidir pela obrigatoriedade da vacina contra a varíola, o govêrno não fez uma campanha para esclarecer o povo sobre a importância dessa medida. Isso gerou um sentimento de indignação, decorrente do medo de tomar a injeção e da falta de diálogo com o govêrno. Alguns grupos, como ocorre ainda hoje, afirmavam que a vacinação obrigatória desrespeitava as liberdades individuais.

A rejeição popular à vacina, somada à impopularidade do govêrno e à demolição dos cortiços, forneceu combustível para a explosão de uma revolta que tomou conta das ruas cariocas entre 10 e 16 de novembro de 1904. O episódio ficou conhecido como Revolta da Vacina.

Em meio a esses tumultos, a oposição política tentou derrubar o presidente da república, mas não conseguiu. O govêrno dominou a revolta, na qual cêrca de 30 pessoas morreram e muitas outras foram feridas. Mais de quatrocentas pessoas foram presas e deportadas para o Acre, região recém-incorporada ao território brasileiro. Apesar disso, a varíola foi erradicada no Rio de Janeiro.

Charge. Imagem representando um conflito entre dois grupos, em uma rua cercada de casas. À esquerda, homens fardados, vestindo chapéus brancos com uma cruz vermelha, sentados sobre objetos semelhantes a grandes seringas com agulhas, e um cartaz com o texto: 'Vacina Obrigatória'. À direita, homens e mulheres em pé, portando vassouras, panelas, machados, jarros e bacias. Das janelas das casas, pessoas com olhares sisudos, despejando líquidos sobre os homens fardados e atirando objetos como garrafas, jarros e um serrote.
Charge de Leônidas Freire, publicada na revista O Malho, em 1904. Na charge foi representada a indignação popular na revolta iniciada em 10 de novembro.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Casa de osvaldo Cruz

Disponível em: https://oeds.link/ZEepwO. Acesso em: 24 março 2022.

Este centro de estudos no Rio de Janeiro guarda acervos importantes da história da saúde pública no Brasil.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Que vacinas você já tomou ao longo de sua vida?
  2. A pandemia de covid-19, ocorrida a partir de 2020, provocou milhões de mortes no mundo. Quando surgiram as primeiras vacinas, as populações de alguns países resistiram a se vacinar. Porém, no Brasil, a adesão à vacinação foi majoritária. Por que o povo brasileiro aderiu em massa à vacinação contra a covid-19?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O boxe “Para pensar” favorece o desenvolvimento da competência cê gê oito.

Para pensar

  1. Resposta pessoal. Esta atividade visa ampliar a consciência dos estudantes sobre os cuidados com sua própria saúde. Para mais informações sobre vacinação, recomendamos a Cartilha de vacinas, de Cristina Toscano e Ligia Kosim (Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2003). Disponível em: https://oeds.link/bU7kxZ. Acesso em: 28 março 2022.
  2. Resposta pessoal, em parte. Tão logo as vacinas contra a covid-19 se tornaram disponíveis em 2021, a grande maioria do povo brasileiro aderiu à vacinação. No Brasil, foi pequena a resistência de grupos antivacina. Isso talvez possa ser explicado pela tradição do país em promover campanhas públicas de vacinação, contra, por exemplo, a poliomielite, o sarampo, a caxumba etcétera Essa tradição evitou o alastramento de doenças.

Revolta da Chibata

Desde a segunda metade do século dezenove, eram comuns revóltas de homens recrutados pela marinha brasileira. Isso ocorria porque a instituição mantinha normas antigas, como a punição com chibatadas a marinheiros que cometessem faltas.

Em novembro de 1910, o marinheiro negro Marcelino Menezes foi condenado a duzentas e cinquenta chibatadas. Essa condenação abusiva motivou o movimento conhecido como Revolta da Chibata, que envolveu cêrca de 2 mil homens, liderados por outro marinheiro negro, João Cândido (1880-1969).

Os revoltosos tomaram, primeiro, o comando do navio de guerra Minas Gerais e, com o crescimento da rebelião, os marujos assumiram o contrôle dos navios São Paulo, Bahia e Deodoro. Com os canhões apontados para a capital federal, Rio de Janeiro, os marinheiros mandaram um comunicado ao presidente Hermes da Fonseca (1855-1923), explicando as razões da rebelião. Eles exigiam o fim dos castigos físicos e reclamavam da má alimentação e dos salários miseráveis.

O govêrno concordou em atender às exigências. Rapidamente, os deputados aprovaram um projeto que acabava com as chibatadas e anistiaram os revoltosos. Mas, quando a situação ficou sob o govêrno mandou prender 22 marinheiros que tinham participado do movimento. Na prisão, esses marinheiros sofreram tantas torturas que apenas dois sobreviveram. Um deles era João Cândido, principal líder da Revolta da Chibata.

João Cândido foi julgado e absolvido em 1912. Na memória popular, ele é celebrado como o Almirante Negro, o homem que acabou com as chibatadas na marinha do Brasil.

Fotografia em preto e branco. Um navio de guerra com diversos canhões, repleto de homens vestindo calças, camisas e boinas brancas, com lenços ao redor do pescoço.
Marinheiros rebeldes no encouraçado São Paulo durante a Revolta da Chibata, na cidade do Rio de Janeiro. Fotografia de 1910.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

A seguir, leia um texto que associa a Revolta da Chibata ao racismo que estruturava as relações sociais no Brasil daquela época e que, de algum modo, permanece nos dias atuais.

Revolta da Chibata e racismo estrutural

“Como pano de fundo da revolta de 1910, estava o que hoje é chamado de racismo estrutural. De acôrdo com números da época, até 90% dos marujos eram negros, isto é, filhos e netos de antigos escravos. A Lei Áurea fôra assinada apenas 22 anos antes. A eles cabia o trabalho mais pesado dos navios militares, incluindo a limpeza e as caldeiras. Havendo gente de menos, ainda tinham que acumular funções.

Como a escravidão fôra abolida sem que se garantisse aos negros indenização, terra, educação ou trabalho (a opção da lavoura pós-1888 foi por imigrantes europeus pobres), a imensa maioria deles teve que se contentar com os empregos que ninguém queria. A marinha era um desses empregos.

A própria Constituição da época enxergava os negros como cidadãos de segunda classe. No capítulo referente à cidadania, a Carta de 1891 dizia que não tinham direito ao voto os mendigos, os analfabetos e os subalternos da marinha e do exército.

Ao mesmo tempo, o oficialato da marinha, grupo responsável pelo comando das embarcações, era inteiramente branco. O grande desejo das famílias abastadas da Primeira República era que todo filho homem se tornasse médico, advogado, engenheiro ou almirante.

O fosso racial entre marujos negros e oficiais brancos era tão explícito que os jornais do Rio de Janeiro apelidaram o marinheiro João Cândido — aos 30 anos de idade, o cabeça do motim — de Almirante Negro. Eram duas palavras que não faziam sentido juntas. Para os jornais oposicionistas, simpáticos à Revolta da Chibata, o apelido era uma fórma de mostrar que João Cândido tinha valor, pois era capaz comandar o gigantesco encouraçado Minas Gerais mesmo sem ter passado pela prestigiosa Escola Naval. Para os jornais governistas, críticos do motim, por sua vez, era uma maneira de ridicularizar o reles marinheiro negro que tinha o atrevimento de se portar como se fosse almirante.”

uestín, Ricardo. Há 110 anos, marujos denunciaram chibata na Marinha e racismo no Brasil pós-abolição. Agência Senado. Edição 73. Racismo, 6 novembro2020. Disponível em: https://oeds.link/nN8Fx5. Acesso em: 5 abril 2022.

Tenentismo

O Tenentismo foi um movimento liderado por oficiais militares, principalmente tenentes, que pretendia reformar a república pela luta armada. Eles reivindicavam a moralização da administração pública, o fim da corrupção eleitoral, a instituição do voto secreto, uma justiça eleitoral confiável, a defesa da economia nacional contra a exploração de empresários e do capital estrangeiro, além de ensino gratuito e obrigatório para todos os brasileiros.

As propostas tenentistas tinham a simpatia da classe média urbana e de alguns industriais e poucos produtores rurais. A primeira revolta tenentista ocorreu no Rio de Janeiro em julho de 1922, envolveu cêrca de 300 militares e foi chamada Revolta do Forte de Copacabana.

Os homens que serviam no Forte tentaram impedir a posse de Artur Bernardes (1875-1955), presidente eleito da república, mas tropas fiéis ao govêrno cercaram os rebeldes e a maioria se rendeu. Apenas 17 tenentes e um civil resistiram, saindo às ruas para combater as tropas. Desses 18 homens, sobreviveram apenas os tenentes Eduardo Gomes (1896-1981) e Siqueira Campos (1898-1930). O episódio ficou conhecido como Os Dezoito do Forte.

Fotografia. Fachada de uma construção de coloração branca, com uma abertura central em formato de arco, duas torres laterais, e pequenas janelas nas paredes. No topo, um mastro com a bandeira do Brasil, o brasão da república e a inscrição 'Forte de Copacabana'. Ao fundo, árvores com copas elevadas e densas.
Vista da entrada do Forte de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2020.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto do cientista social José de Souza Martins, sobre a revolta tenentista de 1924, em São Paulo.

Revolta tenentista

“Na estrutura de classes da sociedade brasileira de então, a opção dos revolucionários era clara. Não se tratava de nenhuma ‘revolução russa’ nem havia sovietes para exigir ou impor coisa nenhuma. A classe operária mal entendeu o que estava acontecendo. Apenas sofreu as cruentas consequências de uma revolução que não era a sua. Tampouco os militares sabiam exatamente o que queriam. reticências

Só depois de vários dias conseguiram produzir um tosco documento em que anunciavam o objetivo de sua luta: renúncia do presidente Artur Bernardes, sua substituição por um govêrno provisório, convocação de uma Constituinte, redução do número de Estados, voto secreto, separação de Estado e Igreja (o que já estava na Constituição republicana), mas reconhecimento dos católicos como maioria, princípios que indicavam a objeção militar ao federalismo Não havia nada que dissesse respeito à condição operária, a algumas reivindicações básicas, como o salário e a jornada de trabalho, os chamados direitos sociais.

Diante do morticínio, da fome, do grande número de feridos, dos mortos insepultos ou sepultados às pressas, uma proposta de armistício foi levada por Paulo Duarte, no dia 27, ao general Eduardo Sócrates em Guaiaúna, comandante-em-chefe das fôrças federais reticências. Foi recusada, com desdém. Só aceitavam uma rendição incondicional. No dia 28 de julho a cidade amanheceu finalmente desocupada pelas fôrças rebeldes. Os revolucionários deslocaram-se com tropas e equipamentos, por ferrovia, para o interior e para o sul. Encontrariam os rebeldes gaúchos, de que resultaria a Coluna Prestes.

São Paulo estava arruinada. Mais de trezentas trincheiras haviam sido abertas nas ruas da cidade, mediante descalçamento e amontoamento de macadames [pedras de revestimento de ruas]. Um grande número de fábricas havia sido incendiado nos bombardeios. Casas haviam sido destruídas nos bairros pobres. Famílias estavam dispersas e separadas. Era necessário reuni-las novamente, abrigá-las, retomar o trabalho.”

MARTINS, José de Souza. 1924: o silêncio. Folha de São Paulo, 11 julho 2004. Disponível em: https://oeds.link/FQoDEs. Acesso em: 28 março 2022.

Revolução de 1924 e Coluna Prestes

Outras rebeliões tenentistas ocorreram durante e depois do govêrno de Artur Bernardes. Numa delas, conhecida como Revolução de 1924, os tenentistas liderados pelo general Isidoro Dias Lopes (1865-1949) ocuparam a cidade de São Paulo durante 23 dias. Em decorrência dos combates, mais de quinhentas pessoas morreram e milhares fugiram da cidade bombardeada. Diante da ofensiva do govêrno, as tropas tenentistas saíram da capital paulista e aderiram ao grupo liderado pelo militar Miguel Costa.

Fotografia em preto e branco. Duas pessoas, sentadas lado a lado, no interior de um cômodo em destroços, com paredes rachadas, pedaços de madeira sobre o chão, e móveis destruídos.
Residência danificada por bombardeio durante a Revolução de 1924, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 1924.

A tropa seguiu em direção ao sul do país, ao encontro de outra coluna militar tenentista, liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes (1898-1990). As duas fôrças uniram-se e iniciaram uma longa marcha pelo país, buscando o apôio da população. Surgia, assim, a Coluna Prestes, cujo objetivo era tentar unir os trabalhadores do campo contra as oligarquias que dominavam o govêrno.

Entre 1924 e 1926, os membros da Coluna percorreram mais de 24 mil quilômetros, atravessando 12 estados brasileiros e escapando da perseguição governamental. Exaustos e sem apôio popular, refugiaram-se na Bolívia e desfizeram a tropa em 1926. A Coluna Prestes não provocou revóltas capazes de ameaçar o govêrno, mas também não foi derrotada.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto a respeito do cotidiano dos rebeldes na Coluna Prestes.

Nem só de combates vivem os rebeldes

“Nem só de grandes planos estratégicos, elevados ideais patrióticos, sangrentos combates reticências viviam os rebeldes. Também as pequenas tarefas do dia a dia tinham de ser cumpridas. Dormir, preparar a comida, arranjar algum entretenimento e diversão, tudo entrava nas preocupações dos oficiais e soldados, e como não havia um organismo central encarregado dessas tarefas, cada um tinha a obrigação de tomar conta de si mesmo.

O coronel Prestes e seus ajudantes imediatos resolviam o problema de alojamento com um grande encerado estendido no chão, com o qual também se cobriam, não perdendo tempo com o constante armar e desarmar barracas. Já o general Miguel Costa não dispensava os confortos da civilização, que desfrutava ali mesmo Fazia questão de barracas, de andar barbeado e trocava de cavalo

Para a preparação da comida, a Coluna tinha os “fogões”, isto é, grupos de mais ou menos uma dúzia de pessoas, inclusos um cozinheiro e um taifeiro. Estes dois eram dispensados de combater e encarregados de zelar pelos apetrechos e suprimentos da cozinha.

reticências Ao redor das fogueiras acesas, depois de comer, mantida a vigilância de sentinelas, reticências os soldados descansavam. Tocavam acordeão, cantavam, conversavam sobre episódios da luta, faziam planos para o futuro. No dia seguinte, a marcha prosseguia.”

VEIGA, Luiz Maria. A Coluna Prestes. São Paulo: Scipione, 1992. página 50-51.

O Modernismo

O Modernismo foi um importante movimento de renovação das artes plásticas e da literatura que se desenvolveu no Brasil a partir dos anos 1920. Esse movimento cultural teve como marco a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922 na cidade de São Paulo.

Fotografia. Capa de um catálogo com destaque para a representação do corpo de uma mulher em pé, vista de frente, com o peito desnudo, e um dos braços sobre seu tronco. Abaixo da imagem, o texto: 'Semana de Arte Moderna. Catálogo da exposição. São Paulo. 1922.'.
Catálogo da Exposição de Artes Plásticas durante a Semana de Arte Moderna, feito por Di Cavalcanti, 1922.

No evento, destacaram-se artistas como os escritores Mário de Andrade (1893-1945), Menotti del Picchia (1892-1988) e Oswald de Andrade (1890-1954); o músico Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e os artistas plásticos Di Cavalcanti (1897-1976), Anita Malfatti (1889-1964),Tarsila do Amaral (1886-1973) e vitor brêchêrê (1894-1955).

Os modernistas criticavam os valores estrangeiros adotados na arte brasileira. Para Mário de Andrade e Oswald de Andrade, por exemplo, essa crítica não significava isolamento. Os modernistas pretendiam dialogar com o mundo com base nas características culturais do Brasil.

O Modernismo não reuniu apenas artistas que pensavam da mesma Ao contrário, abrigou grupos de tendências diferentes. Um deles, liderado por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, era o grupo Pau-Brasil, que defendia uma linguagem artística moderna e informal, centrada nas raízes brasileiras e, ao mesmo tempo, aberta às vanguardas europeias. Já o grupo Verde-Amarelo pregava, por exemplo, o nacionalismo com um Estado forte, e a ele estavam ligados escritores como Cassiano Ricardo (1895-1974), Menotti del Picchia e Plínio Salgado (1895-1975).

Fotografia em preto e branco. Um grupo de homens e mulheres, lado a lado, em pé, em duas filas: mulheres à frente, homens à atrás. Elas vestem casacos e pequenos chapéus sobre as cabeças, eles vestem paletós e chapéus com abas. Na primeira fila, destaque para Anita Malfatti, de casaco e chapéu pretos, colares no pescoço e um grande broche na altura do ombro, e Tarsila do Amaral, de saia longa, camisa estampada e chapéu, segurando um casaco nas mãos. Na segunda fila, Oswald de Andrade, de paletó e gravata escuros e chapéu com abas. No chapéu, o detalhe de uma larga faixa escura.
Grupo de modernistas na estação de trem Central do Brasil, no Rio de Janeiro, durante exposição de Tarsila do Amaral na cidade. Fotografia de 1929. Da esquerda para direita, à frente, estão Anita Malfatti (segunda) e Tarsila do Amaral (terceira); atrás está Oswald de Andrade (segundo).
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “O Modernismo” favorece o desenvolvimento da competência cê gê oito.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto do crítico literário Alfredo Bosi sobre os desdobramentos do Modernismo.

A Semana de Arte Moderna

“A Semana [de Arte Moderna] foi, ao mesmo tempo, o ponto de encontro das várias tendências que desde a Primeira Guerra se vinham firmando em São Paulo e no Rio [de Janeiro], e a plataforma que permitiu a consolidação de grupos, a publicação de livros, revistas e manifestos, numa palavra, o seu desdobrar-se em viva realidade cultural. reticências

Paralelamente às obras e nascendo com o desejo de explicá-las e justificá-las, os modernistas fundavam revistas e lançavam manifestos que iam delimitando os subgrupos, de início apenas estéticos, mas logo portadores de matizes ideológicos mais ou menos precisos.

Em maio de 1922, expressão imediata da Semana, aparece [a revista] cláquisson que durou nove números A revista, publicada em São Paulo, foi o primeiro esfôrço concreto do grupo para sistematizar os novos ideais estéticos ainda confusamente misturados nas noites bulhentas do Teatro Municipal. Mas reticências permaneciam baralhadas duas linhas igualmente vanguardeiras: a futurista, ou, lato sensu, a linha de experimentação de uma linguagem moderna, aderente à civilização da técnica e da velocidade; e a primitivista, centrada na liberação e na projeção das fôrças inconscientes

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2000. página 340.

Painel

integrar com Arte

Abaporu

A pintura Abaporu é uma obra da artista brasileira Tarsila do Amaral. Esse quadro foi criado em 1928 para presentear o escritor Oswald de Andrade, com quem Tarsila era casada na época.

Oswald decidiu chamar a obra de “Abaporu”, que, em Tupi, quer dizer “antropófago”. É uma referência à prática de alguns povos indígenas que acreditavam assumir as qualidades do inimigo depois de devorá-los.

O quadro inspirou a criação do movimento antropofágico, liderado por Tarsila e Oswald. Esse movimento defendia que os modelos artísticos europeus deviam ser “devorados” e remodelados pela cultura brasileira para a criação de uma arte nacional.

Abaporu tornou-se um ícone do Modernismo brasileiro. Atualmente, a obra pertence ao Museu de Arte Latino-Americana (Malba), de Buenos Aires, Argentina.

  • O personagem retratado seria o indígena brasileiro, o nativo.
  • O pé e a mão gigantescos estariam plantados no chão brasileiro como o cacto, indicando que o indígena é o dono da terra.
  • O corpo é grande e desproporcional à minúscula cabeça apoiada por um dos braços, também pequeno.
  • A enorme flor amarela que nasce no cacto representaria a fôrça da natureza.
  • O Sol, que parece estar fóra do quadro, ilumina o corpo do personagem e a flor do cacto.
  • As cores azul, verde e amarela são predominantes e correspondem às cores da bandeira nacional.
  • As fórmas são geométricas e distorcidas como as do Cubismo. As figuras são semelhantes às dos sonhos do Surrealismo. O Cubismo e o Surrealismo são movimentos europeus de vanguarda artística do comêço do século vinte.
Pintura. Um homem com partes do corpo desproporcionais, pés, mãos e pernas muito maiores do que seu tronco e cabeça, sentado sobre um solo verdejante. Seu pé e uma se suas mãos toca o solo, a outra mão apoia a cabeça. Ao lado, um cacto verde com uma enorme flor amarela. Ao fundo, céu azul.
Abaporu, pintura de Tarsila do Amaral, 1928. Pintora e escultora, Tarsila do Amaral estudou com importantes artistas brasileiros e europeus. Embora não tenha participado diretamente da Semana de 1922, suas obras foram decisivas para o Modernismo brasileiro.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Painel” intitulada “Abaporu” favorece o desenvolvimento da competência cê gê três.

Texto de aprofundamento

A seguir, recomendamos a leitura de um trecho da biografia da artista brasileira Tarsila do Amaral.

Tarsila do Amaral (1886-1973)

“Nasceu em 1º de setembro de 1886 numa fazenda cafeeira no município de Capivari (São Paulo). Sua mãe, dona Lídia, e uma professora belga foram as responsáveis pela educação europeia que Tarsila teve na infância, contrastando com a vida interiorana no final do século dezenove.

Conforme os costumes da época, Tarsila casou-se ainda jovem com seu primo André Teixeira Pinto, com quem teve sua única filha, Dulce. Logo após o nascimento da menina, separou-se do marido, causando escândalo para além do círculo familiar.

Na capital paulista estudou escultura com Zadiz e Matoviani. Em 1917, passou a receber orientação de Pedro Alexandrino em desenho e pintura. O academicismo, no entanto, logo a enfastiou e seu caminho artístico dirigiu-se para as características impressionistas da pintura do alemão que residia em São Paulo.

Em junho de 1920, viajou para Paris, onde continuou seus estudos e frequentou ateliês de pintores como andrê lót, álbert e legê. Sua pintura foi fortemente influenciada por legê, passando a evidenciar claras tendências cubistas. Em 1922, apresentou uma tela no Salão dos Artistas Franceses, em Paris, e em junho veio ao Brasil, aqui ficando até dezembro. Integrou-se ao movimento modernista em curso na cidade de São Paulo, formando com Anita Malfati, Menotti del Picchia, Oswald e Mário de Andrade, o chamado ‘grupo dos cinco’. Tarsila posteriormente ficou sendo um dos símbolos do movimento.”

S.; BRAZIL, Érico Vital (organizador). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: zarrár 2000. página 503-504.

Oficina de história

Responda no caderno

Conferir e refletir

1. Mapas conceituais são representações gráficas que organizam e relacionam os principais conceitos de um assunto. Geralmente, os conceitos são inseridos em quadros ou círculos, que são conectados por linhas com setas, sobre as quais são escritas frases ou palavras que interligam um conceito a outro. Agora, construa um mapa conceitual sobre os principais conflitos que ocorreram durante a Primeira República. Para isso, crie um diagrama chamado Conflitos na Primeira República. Ligue a ele os principais conflitos do período (Guerra de Canudos, Guerra do Contestado, rebeliões do cangaço, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata e revóltas do Tenentismo), dividindo-os em rurais e urbanos. Em seguida, construa diagramas indicando características desses movimentos, como onde ocorreram, o que reivindicavam e por quem foram liderados. Siga o exemplo abaixo feito para as rebeliões do cangaço.

Esquema. Retângulo: Conflitos na Primeira República. Duas linhas, cada uma ligada a um retângulo. Retângulo 1: Urbanos. Retângulo 2: Rurais. Linha, retângulo: Rebeliões do cangaço. Linha: Que ocorrem no. Linha, retângulo: Sertão nordestino. Linha: Onde o grupo mais famoso era liderado por. Linha, retângulo: Lampião.
  1. O escritor Lima Barreto (1881-1922) produziu romances sociais ambientados na cidade do Rio de Janeiro durante a Primeira República. Nesse contexto, atribui-se ao escritor a ideia expressa na seguinte frase: “O Brasil não tem povo, tem público”. Em grupo, reflitam sobre essa frase e respondam às questões.
    1. No contexto da frase, o que significam “povo” e “público”?
    2. Vocês concordam que o Brasil não tem “povo”, mas tem “público”? Elaborem argumentos sobre essa questão.
    3. Vocês participam da vida política do Brasil? De que maneira?

integrar com arte

  1. Formem grupos e criem um painel impresso ou digital sobre arte modernista brasileira. Para isso, considerem as orientações a seguir.
    1. Pesquisem na internet obras de um dos artistas plásticos abaixo:
      • Di Cavalcanti (1897-1976);
      • Anita Malfatti (1889-1964);
      • Tarsila do Amaral (1886-1973);
      • vitor brêchêrê (1894-1955).
    1. Criem legendas para as imagens pesquisadas. As legendas devem conter informações como: nome da obra, nome do artista, data em que a obra foi produzida, local em que a obra se encontra (custódia).
    2. Compartilhem o painel com os outros grupos da classe.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção favorece o desenvolvimento das seguintes competências e habilidades da Bê êne cê cê:

  • cê gê um (atividades 2, 4 e 5);
  • cê gê dois (atividades 1, 2, 3 e 4);
  • cê gê três (atividades 3 e 4);
  • cê gê quatro (atividades 1 e 5);
  • cê gê sete (atividade 2);
  • cê gê nove (atividades 2 e 3);
  • cê gê dez (atividade 2);
  • cê ê cê agá dois (atividades 2, 4 e 5);
  • cê ê cê agá cinco (atividades 1, 4 e 5);
  • cê ê cê agá seis (atividade 2);
  • cê ê cê agá sete (atividades 1 e 5);
  • cê ê agá um (atividades 2, 4 e 5);
  • cê ê agá três (atividades 1, 3, 4 e 5);
  • cê ê agá quatro (atividades 2 e 4);
  • ê éfe zero nove agá ih zero um (atividade 2);
  • ê éfe zero nove agá ih zero dois (atividades 1, 2, 4 e 5);
  • ê éfe zero nove agá ih zero cinco (atividades 1, 3, 4 e 5).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. Atividade que usa como metodologia ativa a construção de um mapa conceitual, no caso, sobre algumas das principais revóltas ocorridas na Primeira República. A seguir, algumas características que os estudantes podem indicar em seus mapas conceituais. Conflitos rurais: Guerra de Canudos (no interior da Bahia, em um povoado liderado por Antônio Conselheiro); Guerra do Contestado (ocorreu na fronteira entre Santa Catarina e Paraná, em um povoado fundado por José Maria); Rebeliões do cangaço (no Sertão nordestino, sendo o grupo mais famoso aquele liderado por Lampião). Conflitos urbanos: Revolta da Vacina (na cidade do Rio de Janeiro; decorreu da vacinação obrigatória contra varíola, da impopularidade do govêrno e da demolição dos cortiços); Revolta da Chibata (na cidade do Rio de Janeiro, liderada por João Cândido, reivindicava o fim de castigos físicos, de salários miseráveis e da má alimentação); revóltas do Tenentismo (reivindicavam o fim da corrupção eleitoral, a defesa da autonomia nacional e o ensino gratuito e obrigatório; sua principal liderança foi Luís Carlos Prestes).
    1. O “público” é o que assiste, sem participar da “cena” (a vida política, no caso). Já o “povo” se refere ao conjunto de cidadãos que participam ativamente da vida política do país.
    2. Resposta pessoal. O objetivo desta atividade é desenvolver a capacidade de argumentar e o senso crítico dos estudantes, levando-os a refletir sobre o grau de participação da população brasileira na vida política atual.
    3. Resposta pessoal. Os estudantes, mesmo jovens, podem participar da vida política do país acompanhando notícias, conversando sobre assuntos locais ou nacionais com seus colegas e familiares, participando de manifestações públicas etcétera
  2. Atividade interdisciplinar com Arte que usa como metodologia ativa a realização de pesquisa para a elaboração de legendas apresentando uma breve ficha técnica, no caso, de obras de arte modernistas brasileiras escolhidas pelos estudantes. A elaboração de legendas é um importante exercício de organização e síntese de informações. Há mais orientações sobre o trabalho com imagens no tópico 5.2, “Iconografia e leitura de imagens”, deste manual.

Interpretar texto e imagem

4. Analise a fonte histórica a seguir, que consiste em uma representação do crescimento da população brasileira divulgada pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio na década de 1920, feita com base nos dados do Recenseamento de 1920.

Fotografia. Reprodução de um gráfico ilustrado, com dados sobre o crescimento da população brasileira. No topo, o texto 'População do Brasil em várias épocas. 1776-1920.' Abaixo, sequência de imagens de diferentes homens brancos, em pé, trajando ternos, gravatas e chapéus, aumentando progressivamente de tamanho, a medida que o número de habitantes aumenta. Abaixo das imagens, o ano de referência e, acima, o número de habitantes correspondente, nessa ordem: 1776. 1.900.000 habitantes; 1808. 2.419.406 habitantes; 1819. 4.396.132 habitantes; 1830. 5.340.000 habitantes; 1854. 7.677.800 habitantes; 1872. 10.112.061 habitantes; 1890. 14.333.915 habitantes; 1900. 17.318.556 habitantes; 1910. 23.414.177 habitantes; 1920. 30.635.605 habitantes.
  1. Que perfil de pessoa é usado para representar a população brasileira?
  2. Em sua interpretação, por que esse perfil foi escolhido? Levante hipóteses.
  3. Como você representaria a população brasileira atual? Por quê?

integrar com matemática

5. Analise atentamente o quadro a seguir e faça o que se pede.

Brasil: distribuição percentual da população ocupada por setores de atividade

Anos

População ocupada

Agricultura

Indústria

Serviços

1920

9 milhões

69,7%

13,8%

16,5%

2010

84,8 milhões

14,7%

22%

63,3%


Fonte: í bê gê É. Censos de 1920 e 2010. Disponíveis em: https://oeds.link/q9Xbb1; https://oeds.link/ShW0yO. Acessos em: 28 maio 2022.

  1. As informações do quadro se referem a quais anos? Quanto tempo decorreu entre esses anos?
  2. Pesquise exemplos de atividades que se enquadram em cada um dos setores econômicos: agricultura, indústria e serviços.
  3. Em 1920, que setor econômico abrangia o maior percentual da população ocupada? Isso representava, em números absolutos, quantos milhões de pessoas a mais em relação aos demais setores econômicos? E em 2010?
  4. Quantas vezes a população brasileira ocupada cresceu entre 1920 e 2010?
  5. Com base no quadro, elabore um texto explicando as transformações sociais brasileiras desde a Primeira República até a primeira década do século vinte e um.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

  1. Atividade que desenvolve noções e práticas de pesquisa envolvidas na análise documental, no caso, promovendo a análise de uma representação do crescimento da população brasileira ao longo de séculos.
    1. Na imagem, a população brasileira é representada por um homem branco, usando terno, gravata e chapéu (trajes tipicamente urbanos e burgueses da época).
    2. Resposta pessoal, em parte. O perfil escolhido sugere que os homens brancos constituiriam o grupo dominante, deixando de lado pobres, mulheres, negros e indígenas, que compunham a maioria da população brasileira.
    3. Estimule os estudantes a criar suas próprias representações da população brasileira inspirando-se na diversidade étnica, etária, sexual e cultural do país.
  2. Atividade interdisciplinar com Matemática que trabalha o pensamento computacional, sobretudo a decomposição, a abstração e o reconhecimento de padrões.
    1. O quadro se refere ao período de 1920 a 2010 (90 anos).
    2. Setor agrícola: atividades de cultivo, a pecuária, a pesca etcétera setor industrial: atividades extrativas minerais, petrolíferas e de gás, atividades de transformação de matérias-primas em alimentos, tecidos, produtos químicos e farmacêuticos, eletrônicos, automóveis etcétera setor de serviços: comércio, transportes, bancos, educação, assistência médica, telecomunicações etcétera
    3. Em 1920, o setor agrícola empregava cêrca de 69,7% da população ocupada, o que representava, em números absolutos, 6,27 milhões de pessoas. Já o setor industrial empregava 13,8%, e o de serviços, 16,5% da população ocupada. Somando esses dois percentuais (30,3%), chega-se ao número de 2,73 milhões de pessoas da população ocupada (9 milhões). Assim, em números absolutos, o setor agrícola empregava 3,54 milhões de pessoas a mais que os setores de serviços e industrial juntos, em 1920. Em 2010, o setor de serviços empregava cêrca de 63,3% da população ocupada, o que representava, em números absolutos, 53,68 milhões de pessoas. Já o setor industrial empregava 22%, e o agrícola, 14,7% da população ocupada. Somando esses dois percentuais (36,7%), chega-se ao número de 31,12 milhões de pessoas da população ocupada (84,8 milhões). Assim, em números absolutos, o setor de serviços empregava 22,56 milhões de pessoas a mais que os setores agrícola e industrial juntos, em 2010.
    4. Dividindo a população brasileira ocupada de 2010 pela de 1920, ou seja, dividindo 84,8 por 9, concluímos que houve um crescimento de nove vírgula quarenta e duasvezes.
    5. Os dados do quadro nos levam a perceber que a maior parte da população brasileira se deslocou do trabalho rural para o trabalho urbano, principalmente para o setor de serviços. Essa transformação econômica foi acompanhada de notável crescimento demográfico. Impulsionada por fluxos migratórios internos e externos, a população cresceu quase 10 vezes de 1920 a 2010. O deslocamento do centro econômico do mundo rural para o mundo urbano também se traduziu na valorização das cidades como polos políticos e culturais.

Glossário

Cordel
: literatura criada por poetas populares, principalmente do Nordeste. Geralmente, os livros de cordel são de baixo custo e são vendidos em ruas e feiras pendurados em varais (cordéis).
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