UNIDADE 4 DITADURAS, REDEMOCRATIZAÇÃO E GLOBALIZAÇÃO

CAPÍTULO 11 CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL

A partir da década de 1980, o Brasil passou por um processo de reconstrução da democracia. Esse processo foi marcado por lutas por uma sociedade mais livre, justa e solidária.

As lutas pela democracia poderiam ser resumidas na luta pela cidadania. Na prática, ser cidadão no Brasil significa pertencer efetivamente à sociedade brasileira compartilhando direitos e deveres.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para começar

Para você, o que significa ser cidadão no Brasil? Dê exemplos de atos de cidadania.

Fotografia. Em uma praça, uma fila de pessoas, homens e mulheres adultos e idosos, ao redor de um coreto, com telhado de cor marrom, grades brancas, jardineiras com plantas roxas e base branca. O telhado é sustentado por uma estrutura marrom em que há uma faixa contendo o texto: 'Eu defendo o SUS. Vacina SIM'. E o desenho de uma ampola e uma seringa, na cor azul. Uma faixa igual está afixada do outro lado do coreto.
No centro do coreto, de costas para a câmera, há três pessoas em pé: uma mulher de avental branco, touca branca e máscara branca sobre o rosto. Ela aplica uma vacina em um homem de cabelos curtos e escuros, que veste camiseta azul. Ao lado dele, há uma mulher de cabelos curtos e grisalhos e blusa estampada.
Ao fundo, casas baixas, árvores, postes de energia e de iluminação pública.
Pessoas fazem fila para receber vacina contra a covid-19 em praça do município de Guarani, Minas Gerais. Fotografia de 2021. Durante as campanhas municipais de vacinação contra a covid-19, diversas prefeituras se manifestaram em favor e defesa do Sistema Único de Saúde (sús).
Orientações e sugestões didáticas

Habilidades da Bê êne cê cê

  • ê éfe zero nove agá ih dois dois
  • ê éfe zero nove agá ih dois três
  • ê éfe zero nove agá ih dois quatro
  • ê éfe zero nove agá ih dois cinco
  • ê éfe zero nove agá ih dois seis
  • ê éfe zero nove agá ih dois sete

Objetivos do capítulo

Os objetivos a seguir se justificam no capítulo em razão de seu tema, o Brasil democrático contemporâneo, e de assuntos correlatos, como as lutas pela redemocratização, a promulgação da Constituição Federal de 1988, os povos originários, as principais características de cada govêrno, a pandemia de covid-19, as políticas econômicas, os avanços e as desigualdades sociais, a presença do país no cenário internacional e as lutas de grupos marginalizados por direitos e contra fórmas de violência.

• Valorizar a democracia e a emancipação das cidadanias.

• Caracterizar aspectos primordiais da Constituição Federal de 1988 que definiram a sociedade e a política brasileiras no período de redemocratização.

 Ressaltar as lutas pela reconquista e manutenção da democracia.

 Analisar as linhas gerais das transformações econômicas no Brasil a partir da década de 1980 até o tempo presente.

Para começar

Tema para reflexão e debate, com foco no tema contemporâneo transversal Educação em direitos humanos, pois propõe reflexões sobre a cidadania, que pode ser entendida, por exemplo, como o direito de ter direitos”, nas palavras da filósofaRâna Árent. A intenção é verificar a construção do conceito, que foi trabalhado em diferentes momentos deste e de outros volumes da coleção. O exercício da cidadania envolve direitos e deveres. Ser cidadão no Brasil atual implica saber, entre outras coisas, que as diferenças sociais e econômicas limitam o exercício da cidadania plena de uma parte da população.

Fotografia. Em uma sala fechada, de parede amarelo clara e piso verde, ao fundo, há um homem em pé, que veste uma camiseta preta e azul e bermuda jeans. Ele usa um boné preto e uma máscara preta cobrindo a boca e o nariz. 
O homem está com o corpo voltado para a esquerda, próximo a uma cabine de votação disposta sobre uma carteira escolar. A cabine é branca e, nela estão gravados  os textos: 'Justiça eleitoral', na parte superior, o brasão da república no centro, e  'Cabina de votação' na parte inferior. 
A cabine tem uma abertura inferior, que mostra a parte posterior de uma urna eletrônica e sua fiação.
À frente, com um efeito desfocado, há um homem sentado diante de uma mesa. Ele usa uma camiseta cinza, uma máscara cirúrgica azul sobre o nariz e a boca e um 'face shield' branco a frente de seu rosto. 
Sobre a mesa, uma prancheta, uma caneta, uma garrafa de água e um aparelho eletrônico com um teclado numérico.
Sala de votação das eleições municipais da comunidade ribeirinha de Catalão, Manaus, Amazonas. Fotografia de 2020. A urna eletrônica, implementada no país em 1996, garante a confiabilidade do processo eleitoral brasileiro.
Fotografia. Sobre um palco, duas jovens portando microfones e cantando. À esquerda, uma jovem de cabelo castanho, trançado e preso com um turbante colorido, veste uma camiseta azul e uma calça rosa com uma listra lateral azul. Ela está descalça. À direita, uma jovem de cabelos vermelhos, cacheados, soltos, na altura do pescoço. Ela veste uma camiseta preta, um shorts preto e usa um tênis vermelho. À direita delas, diante de uma mesa de som, com dois toca-discos, coberta por um tecido preto, há um homem de barba comprida e grisalha, que veste camiseta preta, usa boné preto e óculos, e observa as duas mulheres sobre o palco. 
No fundo do palco, um painel de cor clara com o texto: 'Slam BR.19'.  'Campeonato Brasileiro de Poesia falada'. 
Na parte inferior da imagem, a frente do palco, um grupo de pessoas assistindo.
Jovens durante uma competição de poesia falada, também conhecida como poetry slam, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2019. Nessas competições, os jovens expressam sua visão de mundo e debatem questões da atualidade, exercendo sua cidadania.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

O período de transição entre a ditadura civil-militar e a redemocratização no Brasil foi marcado por grandes movimentos populares e pela reorganização partidária. Milhões de pessoas saíram às ruas para exigir direitos políticos e manifestar sua contrariedade em relação à conduta dos governantes. Desde então, verifica-se uma organização mais consistente da sociedade civil em defesa da cidadania.

Na questão de abertura deste capítulo, é novamente proposta a discussão sobre cidadania. Nesse momento, é esperado que os estudantes estejam mais preparados para retomar o que significa ser cidadão e quais são as implicações disso.

Ao estudar o Brasil contemporâneo, é importante não apenas levantar seus inúmeros problemas, mas também lembrar que vários setores da sociedade estão mobilizados na luta para garantir tanto o direito à igualdade de acesso às condições dignas de sobrevivência quanto o direito à diferença étnica e cultural.

A luta por democracia

Entre 1979 e 1984, os brasileiros enfrentaram uma grave crise econômica. A inflação era muito alta e as dívidas do govêrno eram maiores do que a arrecadação de impostos. Essa crise se prolongaria pela década de 1980, que, por isso, ficou conhecida como “década perdida”.

Nesse período, líderes de oposição à ditadura lançaram uma campanha pela volta das eleições diretas para presidente da república. A campanha ficou conhecida como Diretas Já! e foi marcada por manifestações populares, que reuniram milhões de pessoas em várias cidades do país.

Para implantar as eleições diretas, era preciso fazer uma emenda à Constituição. Essa emenda foi proposta pelo deputado federal Dante de Oliveira, mas não alcançou votos suficientes para aprovação na Câmara. Um dos principais grupos que se opunham à emenda das eleições diretas era liderado pelo deputado Paulo Maluf.

Contra a vontade da maioria dos brasileiros, a eleição para presidente em 1985 foi indireta, e nela concorreram dois candidatos: Paulo Maluf, pelo pê dê ésse, partido do govêrno, e Tancredo Neves, pela Aliança Democrática. Tancredo Neves venceu, mas não assumiu o cargo, pois faleceu em 21 de abril de 1985. Assim, o vice-presidente José sarnêi assumiu a Presidência. No mesmo ano, instalou-se a Assembleia Nacional Constituinte.

Fotografia. Sob um céu azul, em frente ao Palácio do Congresso Nacional (ao fundo) – um edifício baixo, largo, na cor branca, com colunas nas laterais envidraçadas, um telhado plano de concreto de cor clara e uma cúpula no formato de uma bandeja ovalada, voltada para cima –,  há uma multidão de pessoas em pé, majoritariamente mulheres, com os dois braços elevados para o alto. Há, também, diversas pessoas sentadas na laje do Palácio do Congresso, logo abaixo da cúpula. Na multidão, algumas pessoas seguram cartazes, faixas, estandartes e bandeiras.
Manifestação de mulheres que exigiam eleições diretas, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 1984.
Ícone. Livro aberto indicando o boxe Dica: livro

dica livro

SILVEIRA, Marco Antonio. A volta da democracia no Brasil (1984-1992). São Paulo: Saraiva, 2006.

Aborda o período que vai dos comícios pelas Diretas Já! (em 1984) até o impeachment de Fernando cólor de Mello (em 1992). Além das questões políticas, são tratados temas como a economia e a sociedade desse período.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Crie um nome para a década em que você nasceu e justifique a escolha desse nome.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Os textos “A luta por democracia” e “Constituição Cidadã”, incluindo os boxes “Para pensar” que os acompanham, favorecem o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê sete, cê gê nove, cê gê dez, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá três, cê ê cê agá quatro, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá três, bem como das habilidades ê éfe zero nove agá ih dois dois e ê éfe zero nove agá ih dois três, pois discutem o papel da mobilização da sociedade brasileira no processo de redemocratização, identificam direitos civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de 1988 e relacionam tais direitos à noção de cidadania e ao combate de diversas fórmas de preconceito.

Para pensar

Resposta pessoal. A atividade tem por objetivo estimular a criatividade e o pensamento crítico dos estudantes. A resposta pode expressar otimismo, pessimismo, humor ou até indiferença. De qualquer fórma, é interessante observar os conhecimentos e os argumentos mobilizados por eles em suas respostas.

Texto de aprofundamento

Leia a seguir um texto sobre o movimento Diretas Já!, que envolveu milhões de pessoas nas ruas de todo o Brasil.

Diretas Já!

“Movimento político suprapartidário em defesa do retôrno de eleições diretas para a Presidência da República. Tendo se iniciado em maio de 1983, o movimento ganhou dimensões políticas e sociais mais amplas, culminando numa série de comícios, nos primeiros meses de 1984, que mobilizaram milhões de brasileiros quando da campanha para a sucessão do govêrno do general João Batista Figueiredo reticências.

Em março de 1983 reticências, o deputado federal Dante de Oliveira (pê ême dê BÊ-Mato Grosso) apresentou ao Congresso Nacional uma emenda constitucional que propunha o fim do Colégio Eleitoral e o retorno das eleições diretas para presidente e vice-presidente para as eleições seguintes, previstas para 1985. reticências

Durante o ano de 1984, a Campanha pelas Diretas Já tomou as ruas das principais cidades do país, sendo amplamente coberta pela mídia reticências.

Em 12 de janeiro de 1984, Curitiba foi o palco do teste de apôio popular à Campanha pelas Diretas Já reticências. cêrca de 30 mil pessoas compareceram ao primeiro grande comício pelas Diretas Já. Nesse evento, algumas das características predominantes do movimento começaram a se delinear: o amplo apôio da população; a participação de inúmeros artistas; a apresentação do comício por um locutor esportivo de uma grande rede de televisão reticências, o uso dos símbolos nacionais em comícios de natureza cívica (bandeira nacional, as cores verde e amarelo, o hino nacional) e o refrão cantado por todos: um, dois, três,/quatro, cinco, mil,/queremos eleger/o presidente do Brasil’. reticências

Em 14 de janeiro o movimento chegou a Camboriú (Santa Catarina) e no dia 20 do mesmo mês, em Salvador (Bahia), aproximadamente 15 mil pessoas foram para as ruas pedir pela Diretas Já reticências.

No feriado paulista de 25 de janeiro, um público estimado em duzentas mil pessoas permaneceu, sob uma chuva de duas horas, na praça da Sé, centro da cidade, participando do comício pró-Diretas Já, onde líderes oposicionistas dividiram o palanque e encerraram o comício de mãos dadas, cantando o hino nacional. Nas fotos estampadas na cobertura da imprensa vê-se lado a lado: Franco Montoro, governador do estado de São Paulo (pê ême dê BÊ-São Paulo), Leonel Brizola, governador do estado do Rio de Janeiro (pê dê têmenosRio de Janeiro), Ulisses Guimarães, presidente do pê ême dê BÊ, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do pê tê reticências.

Em 24 de fevereiro, foi a vez de Belo Horizonte tornar-se séde de mais uma manifestação popular de apoio à campanha reticências. Cerca de duzentas e cinquenta mil pessoas compareceram à avenida Afonso Pena reticências acompanhando Simone, que cantou Caminhando, música de Geraldo Vandré, que se tornou símbolo da resistência ao regime militar, no final dos anos 1960 reticências.

Às vésperas da votação da emenda, quatro gigantescas manifestações marcaram a campanha pelas Diretas Já.

Em 10 de abril, um comício de seis horas, na Candelária, mobilizou o povo do Rio de Janeiro reticências. O comício do Rio de Janeiro foi considerado, na ocasião, de proporções inéditas nas manifestações político-populares da história do Brasil, chegando a se falar no comparecimento de um milhão de pessoas na região da Candelária. reticências

Em 25 de abril de 1984, teve lugar uma das mais movimentadas sessões da história do Congresso Nacional, que contou com a presença de inúmeros artistas e intelectuais entre a massa de partidários das Diretas Já que ocuparam os jardins e galerias daquela casa durante todo o dia.

No entanto, a Câmara dos Deputados, por falta de 22 votos, rejeitou a emenda que propunha as Diretas Já. reticências

Na madrugada de 25 para 26 de abril, o presidente do Congresso reticências anunciou que a emenda Dante de Oliveira não alcançara os indispensáveis dois terços dos votos na Câmara dos Deputados, sendo assim rejeitada.”

MOREIRA, Maria Ester Lopes. Diretas Já. Dicionário temático cê pê dócmenoséfe gê vê. Disponível em: https://oeds.link/y2AQMT. Acesso em: 11 abril 2022.

Constituição Cidadã

Em 5 de outubro de 1988, a Assembleia Constituinte promulgou a nova Constituição Federal. Essa Constituição continua em vigor até os dias de hoje e é considerada a mais democrática da história do Brasil. Em função disso, ficou conhecida como Constituição Cidadã. Conheça alguns de seus princípios básicos:

Fotografia. Destaque para três pessoas indígenas, de cabelos pretos, longos e soltos, com cocares contendo penas coloridas, nas cores amarela, azul, verde e vermelho. Sentadas, são vistas por trás,  observando uma assembleia repleta de pessoas em assentos enfileirados.
Indígenas participam de sessão da Assembleia Nacional Constituinte, que debateu durante vinte meses e promulgou a nova Constituição Federal do Brasil, em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 1988.
  • igualdade jurídica: todos são iguais perante a lei. Garante-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade;
  • subordinação de todos à lei: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. O limite à liberdade de cada pessoa é definido pelas normas jurídicas e não pelo arbítrio ou atitude autoritária de qualquer pessoa;
  • liberdade de pensamento, de crença religiosa, de expressão intelectual, de locomoção, de associação: são livres a manifestação do pensamento (sendo assegurado o direito de resposta), o exercício dos cultos religiosos, a expressão intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, o direito de ir e vir, isto é, a liberdade de locomoção pelo território nacional e o direito de associar-se para fins profissionais, culturais, políticos, esportivos etcétera;
  • garantias da liberdade do cidadão: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita fundamentada de um juiz, exceto nos casos de crimes militares. Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem processo legal.

A Constituição Federal brasileira garante direitos fundamentais aos cidadãos. No entanto, somente quando exercemos esses direitos e quando eles são respeitados é que a cidadania se concretiza na vida social.

Por isso, precisamos entender que a cidadania não é uma doação do Estado. Ela é uma conquista das pessoas e dos grupos sociais. Conquista que exige o protagonismo da sociedade civil, ou seja, a participação ativa das pessoas nas questões do país.

Assim, cada um de nós deve exercer e respeitar a cidadania, individual e coletivamente. É ilusório acreditar que as conquistas estão asseguradas e que podemos cruzar os braços. Faz parte da cidadania a luta permanente pelos nossos direitos.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Em grupo, indiquem um exemplo para um dos itens da Constituição apresentados. Vocês podem mencionar alguma situação que revele o cumprimento ou o descumprimento da lei.

Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

Resposta pessoal. Ressalte para os estudantes que o país ainda enfrenta muitos desafios para que a chamada “Constituição Cidadã” seja efetivamente respeitada. A Constituição de 1988 pode ser lida e pesquisada na íntegra em: https://oeds.link/C1SWga. Acesso em: 11 abril 2022.

Emancipação de grupos sociais

A Constituição de 1988 garantiu alguns direitos a diversos grupos sociais no enfrentamento de desigualdades que afetam suas vidas. Conheça alguns exemplos:

  • o direito de voto foi conquistado pelos analfabetos e pelos jovens de 16 a 18 anos;
  • o racismo foi considerado crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão;
  • os remanescentes dos quilombos tiveram reconhecida a propriedade definitiva das terras que tradicionalmente ocupam;
  • as manifestações culturais indígenas e afro-brasileiras devem ser protegidas pelo Estado brasileiro;
  • os povos indígenas conquistaram o direito de posse das terras que tradicionalmente ocupam. Foi garantido ainda o direito à diferença dos povos indígenas, sendo reconhecidos seus costumes, línguas, crenças, tradições e organização social.
Fotografia. Sob o céu azul, em um terreno, um grupo de pessoas, adultos e crianças, estão em pé sobre uma porção de terra remexida. À esquerda, há um grupo de meninas, em pé, observando. No centro da imagem, um menino de cabelo escuro e raspado, camiseta regata azul, bermuda jeans e chinelos. Com o corpo flexionado, o menino segura um balde preto com as duas mãos. Atrás dele, há uma menina de cabelos pretos, cacheados presos em um rabo de cavalo, que usa camiseta vermelha e está agachada. À direita, um menino de cabelo curto e preto, que usa camiseta e bermuda, ambas pretas, está com o corpo flexionado e uma das mãos sobre a terra. À direita, um homem de cabelos curtos e grisalhos, que veste camiseta laranja e calça jeans, está com o corpo flexionado, segurando uma enxada. No entorno do terreno, grama, arbustos, árvores e uma cerca, feita de pilastras brancas e tela de arame.
Estudantes plantam em horta da escola no quilombo Mata Cavalo, no município de Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso. Fotografia de 2020. Com a promulgação da Constituição de 1988, os remanescentes de comunidades dos quilombos tiveram a posse das terras que ocupavam reconhecida.
Fotografia. Sob um céu azul com nuvens, em um espaço aberto, com chão de terra e árvores ao fundo, um grupo de pessoas indígenas, majoritariamente homens de cabelos curtos, lisos e pretos, estão dispostos dois a dois em uma fila. Os homens à frente da fila usam bermudas, estão sem camisa, e têm faixas de cor clara amarradas em torno da cabeça. Os dois homens atrás deles, usam grandes adereços em formato circular feitos de penas brancas, com a parte central feita de penas vermelhas, e detalhes em amarelo nas pontas ao redor de todo o círculo. Eles também usam, preso ao pescoço, longos adereços coloridos com padrões geométricos; e outros adereços feitos de penas vermelhas amarrados em suas canelas. Atrás deles, há dois homens que usam cocares de penas coloridas e longos adereços coloridos com padrões geométricos no pescoço. Um deles, segura uma lança. Os demais homens em fila não usam cocares. A maior parte deles usa adereços longos, coloridos e com padrões geométricos presos ao pescoço, cobrindo a parte frontal do centro do corpo, além de braceletes na cor vermelha. Atrás deles, uma oca alta, feita de folhas e toras de madeira. Ao lado do grupo de homens, uma pilha de folhas verdes de palmeira.
Indígenas Karajá durante o ritual retorrôqui, que marca a passagem dos meninos para a vida adulta, na aldeia Santa Isabel do Morro, na Ilha do Bananal, Tocantins. Fotografia de 2012. A Constituição brasileira prevê a proteção das manifestações culturais indígenas e garante a liberdade religiosa de todos os cidadãos.

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Transcrição do áudio

Constituição de 1988 e a liberdade religiosa

[Música instrumental ao fundo]

[Joana]: Olá, queridas e queridos ouvintes! Sejam bem-vindos ao nosso podcast! Eu sou a Joana e junto com o meu colega Antônio vamos levar até vocês um conteúdo muito interessante sobre as práticas e os valores cidadãos no nosso país!

[Antônio]: Olá, pessoal! No episódio de hoje vamos falar sobre a liberdade de religião. Trata-se de um direito garantido pela Constituição de 1988. Ou seja, a partir da Constituição, as pessoas têm assegurada a possibilidade de crença, culto e práticas das mais diversas religiões no Brasil.

[Joana]: Sim, Antônio. A Constituição de 1988, que está vigente até hoje, é um marco muito importante. Ela reconhece o pluralismo de nossa sociedade. E seu texto assegura aos cidadãos brasileiros uma série de direitos, como acesso a saúde, educação, trabalho e moradia, entre outros. A liberdade religiosa é um desses direitos. Por tudo isso, ela é conhecida como Constituição Cidadã.

[Antônio]: É importante lembrar que, juntamente com a liberdade de culto, fica estabelecido que o Brasil é um Estado laico. Ou seja, há a separação entre Estado e religião. Em um Estado laico, sem religião oficial, como o Brasil, as pessoas têm o direito de expressar sua fé, seja ela qual for.

[Joana]: Bem interessante este assunto, Antônio. Recentemente eu estava pesquisando sobre a etnia Karajá. Os Karajás habitam a região do rio Araguaia, entre os estados do Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Eles têm um ritual chamado Hetohoky, que pode ser traduzido como Casa Grande. Esse ritual é considerado o maior e mais importante do povo Karajá. Trata-se de uma cerimônia de iniciação pela qual passam os meninos ao chegarem à pré-adolescência. Ela os prepara para receber ensinamentos da vida adulta. A partir de então, eles já podem participar das atividades realizadas pelos homens da aldeia, como a caça e a pesca. Percebi que existe uma relação entre a prática desse ritual e a garantia da liberdade de culto, conforme você mencionou.

[Antônio]: Isso mesmo, Joana! A relação que você traçou entre esse ritual Karajá e o direito de expressão religiosa no Brasil está correta. Os Karajás têm o direito de fazer esse e outros rituais e ninguém pode impedi-los. Além disso, a lei não permite que eles sejam discriminados por essa ou qualquer outra prática religiosa ou cultural.

[Joana]: Infelizmente, não foi sempre assim no Brasil. Aqui há diferentes povos e etnias, cada qual com sua cultura. Há também muitas crenças e modos de expressão. E esse pluralismo cultural já esteve ameaçado por conta de políticas que não visavam reconhecê-lo.

No entanto, esse e outros povos indígenas resistiram, mantendo viva sua cultura, sua religiosidade e sua forma de expressá-la.

[Antônio]: Sim. Afinal, a religião é também uma forma de expressão cultural. Quando há intolerância religiosa, há uma falta de respeito pela cultura do outro. E às vezes essa intolerância se expressa de maneira bem violenta.

[Joana]: É verdade. Eu já li sobre locais de culto da Umbanda e do Candomblé que sofreram ataques.

[Antônio]: Isso me lembra um caso que aconteceu na Bahia, no ano 2000. Os frequentadores do terreiro da Mãe Gilda passaram a sofrer injúrias e ataques. Um jornal religioso havia publicado uma matéria atacando o candomblé, de que constava uma foto da Mãe Gilda. Foi depois disso que começaram agressões físicas e verbais ao seu terreiro e aos frequentadores do local. Com a saúde fragilizada, ela acabou falecendo pouco depois. Por causa desse caso de intolerância, criou-se no Brasil, em 2007, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.

[Joana]: As religiões de matrizes africanas são, muitas vezes, alvos de intolerância religiosa.

[Antônio]: Infelizmente, isso é verdade. E essa intolerância normalmente envolve injúrias raciais. Mas o racismo, assim como a discriminação religiosa, é um crime previsto na Constituição Brasileira e no Código Penal.

[Joana]: Vale lembrar que o combate ao racismo e à intolerância religiosa não deve acontecer somente pela punição desses crimes. É necessário conscientizar a sociedade sobre os valores e as práticas de cidadania garantidos por nossa Constituição.

[Antônio]: Muito bem apontado, Joana! E os movimentos sociais têm um papel preponderante quanto a isso, atuando de modo a lutar pela garantia de direitos e pela cidadania. A sociedade civil organiza protestos, atos, denuncia abusos e cobra do poder público ações concretas para resolver essa e outras questões.

[Joana]: Um dos resultados dessa luta, por exemplo, foi o crime de racismo ter sido reconhecido como tal. Outro resultado é a implementação de diferentes ações afirmativas.

[Antônio]: Isso mesmo, Joana. As ações afirmativas pretendem, de modo geral, combater as discriminações e eliminar desigualdades construídas historicamente.

Bem, chegamos ao fim de mais um episódio, pessoal. Até a próxima!

[Joana]: Muito obrigada por nos acompanharem. Até a próxima, pessoal!

[Música instrumental tocando]

Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Segundo a Funái, cêrca de 200 mil indígenas possuem título de eleitor. Em 2008, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiábi) divulgou a “Carta de reflexão para eleitores indígenas”, na qual estimulava os povos indígenas a votarem conscientemente. Leia um trecho dessa carta e, depois, responda à questão.

reticências é necessário elegermos lideranças comprometidas com nossas bandeiras de luta, que conheçam a realidade dos nossos povos, por fazerem parte deste contexto, e sentirem na pele as limitações, os preconceitos e as injustiças cometidas contra nossos povos, ao longo dos mais de 500 anos de história de ocupação não indígena no Brasil.

Cada eleitor indígena tem a oportunidade de escolher e votar em candidatos que realmente fortalecerão projetos voltados para nossos povos. reticências Atualmente, o voto representa uma importante arma que se bem utilizada poderá mudar nossa história.”

Da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiábi) para eleitores indígenas. Cartas indígenas ao Brasil, 6 agosto 2008. Disponível em: https://oeds.link/QTe8wS. Acesso em: 11 abril 2022.

Por que, segundo o documento, é importante eleger lideranças indígenas?

Resposta: De acôrdo com o documento, a importância de eleger lideranças indígenas deve-se ao conhecimento e ao compromisso que elas têm na luta contra os preconceitos e as injustiças cometidos contra esses povos ao longo da história do Brasil.

Constituição e povos originários

A Constituição de 1988 estabelece que as terras indígenas são bens da União. Isso quer dizer que os povos originários detêm a posse permanente de suas terras e o usufruto exclusivo (direito de usar e desfrutar) das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Entretanto, não são considerados proprietários dessas terras.

De acôrdo com a Constituição, todas as terras indígenas deveriam estar demarcadas até 1993, o que não ocorreu. Até 2020, conforme dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), quatrocentas e oitenta e oito áreas haviam sido demarcadas.

A demarcação envolve conflitos e polêmicas. Existem vários casos de invasão de terras indígenas por empresas mineradoras e madeireiras, como também por pescadores, caçadores, garimpeiros e posseiros. Além disso, a expansão de pastos e lavouras e a construção de usinas hidrelétricas provocam degradação ambiental no entôrno das terras demarcadas. Tudo isso diminui os recursos naturais e coloca em risco as vidas dos povos originários.

Distribuição das terras indígenas regularizadas por região (2020)

Gráfico de setores. Distribuição das terras indígenas regularizadas por região (2020). Em verde, 'Norte', 54 por cento; em amarelo, 'Centro-Oeste', 19 por cento; em laranja, 'Nordeste', 11 por cento; em rosa, 'Sul', 10 por cento; e em azul, 'Sudeste', 6 por cento.
FONTE: BRASIL. Fundação Nacional do Índio (Funái). Demarcação de terras indígenas, 10 março 2021. Brasília: Fundação Nacional do Índio (Funái), 2021. Disponível em: https://oeds.link/GOmsEM. Acesso em: 6 abril 2022.
Fotografia. Vista aérea. Densa área de floresta, com uma grande clareira no centro. Na clareira, há uma área inundada, lamacenta, e partes expostas de solo rochoso. Acima, uma parte de floresta derrubada, com centenas de troncos de árvores caídos, sobrepostos. No canto inferior esquerdo, telhados azuis de um acampamento.
Vista de área impactada pelo garimpo ilegal em Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Fotografia de 2021. De acôrdo com o relatório da associação rutucára, o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami cresceu 3 350% entre 2016 e 2020, ou seja, mais de 33 vezes.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

  1. Existem terras indígenas na região onde você mora? Elas são regularizadas?
  2. Quais são as três regiões que abrigam o maior percentual de terras indígenas regularizadas do Brasil?
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Constituição e povos originários”, incluindo o boxe “Para pensar” que o acompanha, favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê sete, cê gê nove, cê gê dez, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá três, cê ê cê agá quatro, cê ê cê agá seis, cê ê cê agá sete, cê ê agá um e cê ê agá dois, bem como das habilidades ê éfe zero nove agá ih dois três, ê éfe zero nove agá ih dois quatro e ê éfe zero nove agá ih dois cinco, pois identifica direitos de cidadania específicos na Constituição de 1988, analisa transformações na sociedade brasileira após 1989 e as relaciona com os protagonismos da sociedade civil.

Para pensar

  1. Há terras indígenas regularizadas em todas as regiões do Brasil. Por isso, a resposta deve ser afirmativa.
  2. Pela ordem, o maior percentual de terras indígenas regularizadas situa-se nas regiões Norte (54%), Centro-Oeste (19%) e Nordeste (11%).

As questões relacionam-se com os temas contemporâneos transversais Diversidade cultural e Vida familiar e social, uma vez que abordam pauta relacionada ao direito dos povos indígenas de viver em seus territórios e de manter suas culturas e suas comunidades.

População indígena atual

Por muito tempo, pensava-se que os povos originários desapareceriam, por morte ou assimilação ao restante da sociedade. No entanto, a partir dos anos 1980, a população indígena voltou a crescer. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (í bê gê É), em 1991, havia mais de 294 mil indígenas no Brasil. No ano 2000, esse número subiu para mais de 734 mil e, em 2020, para mais de 1 milhão e 108 mil.

A maior parte dos povos originários que vive atualmente no país tem população reduzida. No entanto, existem povos numerosos, sobretudo os que vivem nas fronteiras do país e cujo povo habita também os países vizinhos ao Brasil. Observe o quadro a seguir.

Povo

População

Estados onde vivem

Guarani (2016)

85.255

MS, SP, PR, RS, RJ, ES, PA, SC

Ticuna (2014)

53.544

AM

Kaingang (2014)

45.620

PR, RS, SC, SP

Macuxi (2014)

33.603

RR

Guajajara (2014)

27.616

MA

Terena (2014)

26.065

MS, MT, SP

Yanomami (2019)

26.780

AM, RR

FONTE: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (í ésse á). Quadro geral dos povos. Povos indígenas no Brasil, 25 janeiro 2021. Disponível em: https://oeds.link/SnW5mL. Acesso em: 6 abril2022.

Fotografia. Em um palco de fundo escuro e iluminação lilás, um homem de cabelos lisos e pretos, vestindo uma camiseta, uma jaqueta aberta e calças escuras, portando um microfone em uma de suas mãos.  Sua outra mão está elevada, aberta, com a palma voltada para ele. Ao fundo, uma pequena mesa coberta por um tecido escuro e, ao lado, uma cadeira.
Educador e escritor Daniel Munduruku palestrando em Santos, São Paulo. Fotografia de 2019. Indígena da etnia Munduruku, Daniel é um dos principais escritores indígenas brasileiros da atualidade, com obras voltadas para crianças, jovens e educadores.
Orientações e sugestões didáticas

Orientação didática

O Censo Demográfico que deveria ter sido realizado em 2020 foi feito a partir de 1º de agosto de 2022. Após a coleta e a análise dos dados, novas estatísticas serão divulgadas pelo í bê gê É.

Texto de aprofundamento

Como lidar com a história indígena nos séculos vinte e vinte e um? O texto a seguir oferece subsídios para o tratamento dessa questão.

História indígena

“Um bom início para uma análise da questão indígena no final do século vinte e início do vinte e um, pode ser a partir do questionamento: ‘O que é ser índio neste momento histórico?’. pôsto que a classificação ‘índio’ não remete a um único grupo étnico e muito menos a uma raça, em que consiste esta identidade? Podemos afirmar que índio, além de referir-se a pessoas integrantes de diferentes grupos étnicos com um longo histórico de luta contra a marginalização imposta pelas políticas coloniais e depois nacionais, e pelos próprios integrantes da cultura ocidental, foi inicialmente uma identidade atribuída reticências. Ser índio reticências no final do século vinte e início do vinte e um é mais que isto; é ser portador de um status jurídico, que lhe garante uma série de direitos. É fazer parte de uma coletividade que, reticências ‘por suas categorias e circuitos de interação, distingue-se da sociedade nacional e reivindica-se como ‘indígena’. Ou seja, percebe-se como descendente de população de origem pré-colombiana reticências’. reticências

Sob a categoria ‘indígena’ reticências encontram-se diferentes grupos étnicos, diferentes tanto entre si, como das sociedades nacionais, os quais reivindicam parte de seus direitos baseados no princípio dos ‘Direitos Originários’ reticências. Isto não significa reticências que estes indígenas estejam abrindo mão de suas identidades específicas reticências. Nem sempre as demandas destes povos coincidem com o que os Estados nacionais têm em seus projetos para eles. reticências

Apesar destas disparidades, avanços já foram feitos no sentido do reconhecimento e do respeito aos povos indígenas como sociedades com culturas diferenciadas da sociedade ocidental reticências.

reticências As palavras autogoverno e autodeterminação referem-se a uma posição que pretende acabar com a mediação entre os povos indígenas e o Estado (no Brasil esta mediação é também conhecida como tutela), afirmando os grupos indígenas como capazes de traçarem estratégias de defesa dos seus direitos frente à sociedade e ao Estado e negociarem a melhor fórma para viverem de acôrdo com suas pautas culturais, reivindicando, assim, sua capacidade integral enquanto sujeito histórico reticências.

reticências A [União das Nações Indígenas] u êne i, juntamente com outras organizações não governamentais,

reticências tiveram um importante papel durante a Assembleia Constituinte de mil novecentos e oitenta e sete e mil novecentos e oitenta e oito reticências. Finalmente é reconhecido no Brasil o direito indígena a manter sua cultura, sem que se espere destes povos que um dia deixem de ser índios para diluírem-se na sociedade nacional reticências.

A questão posta é: ao esperarmos que os grupos indígenas organizem-se de acôrdo com que para cultura ocidental é considerado uma satisfatória base representativa, não traria implícita a continuidade da mentalidade colonial e o desejo de ver nas organizações indígenas a imagem e semelhança das lutas ocidentais? Talvez fosse o caso de refletirmos que, para a construção de uma sociedade e de um Estado multi e interculturais, é necessário a existência de compreensão e espaço para múltiplas fórmas de organização e representação sem que isso comprometa os direitos e as lutas que delas advirem reticências.”

CALEFFI, Paula. O que é ser índio hoje? A questão indígena na América Latina/Brasil no início do século vinte e um. Diálogos Latinoamericanos, a-ár-rus, número 7, página 22-24, 27, 31, 33, 2003.

Outras Histórias

integrar com Geografia

Cartografia social

Os mapas são fórmas de representar situações diferentes em cartografia. Existem representações das linhas de metrô e ônibus, das ruas da cidade, dos pontos turísticos, das condições meteorológicas, dos centros comerciais . Vamos estudar aqui a cartografia social, que tem por objetivo contribuir para o planejamento e a transformação de determinada sociedade.

A cartografia social é um novo modo de fazer mapas, caracterizada pelos seguintes aspectos:

  • o grupo social é o autor dos mapas sociais. Desse modo, todo processo de criação cartográfica ocorre coletivamente. Isso possibilita que o grupo social construa uma autorrepresentação dos elementos de seu território e de suas vivências;
  • o grupo que elabora um mapa social deve participar de uma pesquisa e de uma ação coletiva que exigem: cooperação, troca de saberes e construção da memória a respeito de seu espaço geográfico, socioeconômico e histórico-cultural.

Uma cartografia social pode ser desenvolvida, por exemplo, por uma comunidade indígena que busca mapear direitos ameaçados por invasões às suas terras e pelo desrespeito à sua cultura. Esses mapas, geralmente, utilizam linguagem acessível e apresentam espaços como roçados, casas, rios, unidades de saúde, escolas e outros elementos significativos para a comunidade indígena.

Um exemplo de cartografia social é o Projeto Povos, cujo propósito é dar visibilidade aos territórios, às identidades e às tradições de 64 comunidades indígenas, caiçaras e quilombolas dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse projeto é promovido pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (ó tê ésse ésse).

Atividades

Responda no caderno

  1. O entôrno da sua escola pode ser estudado por meio da cartografia social. Nesse caso, que grupos sociais poderiam participar desse estudo?
  2. Organizem-se em grupos e elaborem uma cartografia social dos problemas que afetam o entôrno de sua escola. Para isso, levantem dados que possam ser quantificados. A seguir, observe alguns exemplos.
    1. Há grande fluxo de veículos no entôrno da escola? Quantos carros passam por minuto na frente do edifício escolar?
    2. Há barulho excessivo na região onde a escola se situa? O que provoca esse barulho? Em quais horários os ruídos são mais intensos?
    3. Há serviços públicos próximos à escola? Quantas linhas de ônibus ou outro transporte público atendem à vizinhança? Existem postos de saúde e de vacinação? E há agências de correio ou bancos? O comércio atende às necessidades dos moradores?

Ao final, representem graficamente os dados coletados.

Orientações e sugestões didáticas

Outras histórias

Atividades interdisciplinares com Geografia.

  1. Estudantes, professores, funcionários da escola e a comunidade da vizinhança são grupos que poderiam atuar, de fórma colaborativa, na elaboração de uma cartografia social sobre os problemas do entôrno da escola.
  2. Oriente os estudantes a coletar dados de fórma que cada grupo fique responsável por um tipo de dado, sobretudo se a turma for grande. Muitas informações podem ser coletadas por meio da observação do espaço enquanto os estudantes percorrem o trajeto entre a moradia e a escola. Outros dados podem ser obtidos em bases cartográficas que representem a localização dos serviços públicos e do comércio e os itinerários das linhas de transporte público.

Outras indicações

Cartografias sociais – parte 1 (Brasil). coépi Brasil, minutossegundos. Disponível em: https://oeds.link/7yFYi2. Acesso em: 21 junhoponto 2022.

Entrevista de Henri áquissel-rád, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que trata dos sentidos e usos da cartografia digital no ensino de História.

Projeto Povos: território, identidade e tradição (Brasil). Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina (ó tê ésse ésse), 5minutos7segundos. Disponível em: https://oeds.link/DtWQFr. Acesso em: 21 junho 2022.

No vídeo são apresentados diferentes aspectos do Projeto Povos, promovido pelo Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Bocaina.

Presidentes e vida política (1985-2022)

Desde 1985 até 2022, oito presidentes da república se sucederam no país. Alguns eram vice-presidentes que chegaram ao cargo por impedimento ou morte dos titulares (José sarnêi, Itamar Franco e Michel têmer); dois foram retirados do poder (Fernando cólor e Dilma russéf) e três foram reeleitos para um segundo mandato (Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma russéf).

A seguir, apresentaremos de fórma sintética as principais características da vida política durante o mandato de cada um desses presidentes.

Governo sarnêi (1985-1990)

A posse de José sarnêi como presidente da república frustrou muitos brasileiros. Isso porque ele era o vice-presidente e, com a morte do presidente Tancredo Neves, sarnêi acabou assumindo o poder. Além disso, ele havia apoiado a ditadura civil-militar e, como líder do pê dê ésse, ajudou a derrotar as Diretas Já!. No entanto, ao ocupar a Presidência, sarnêi prometeu inaugurar uma “Nova República”.

Entre as medidas políticas aprovadas em seu govêrno, estavam:

  • eleições diretas para a Presidência da República, os governos estaduais e todas as prefeituras do país;
  • maior liberdade para a criação de novos partidos políticos, permitindo-se a legalização do Partido Comunista Brasileiro (pê cê bê) e do Partido Comunista do Brasil (pê cê do bê), que tinham sido proibidos durante a ditadura.
Fotografia. Em uma área aberta, gramada, ladeada por edifícios retangulares idênticos, ao fundo, uma multidão de pessoas em manifestação, carregando faixas e bandeiras. 
Há outro grupo, mais à frente, separado por homens com uniformes militares. Nesse grupo, em destaque, no centro, um homem, com cabelos curtos e grisalhos, um bigode escuro no rosto, vestindo terno escuro, camisa branca e gravata escura. À esquerda dele, uma mulher de cabelos médios, castanhos, lisos, usando um vestido branco com detalhes azuis, um colar e um par de brincos. Ao redor deles, dezenas de homens de terno e gravata. À direita da imagem, vistas de costas, duas pessoas com os braços levantados, segurando câmeras fotográficas.
Dia da cerimônia de posse de José (ao centro, sendo fotografado), em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 1985. foi o primeiro presidente civil a governar o país após a ditadura.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Como as pessoas do seu convívio reagem quando os candidatos nos quais votaram não são eleitos? Comente.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Presidentes e vida política (1985-2022)”, incluindo os boxes “Para pensar” que o acompanham, favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê sete, cê gê nove, cê gê dez, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá três, cê ê cê agá quatro, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá três, bem como das habilidades ê éfe zero nove agá ih dois dois, ê éfe zero nove agá ih dois três, ê éfe zero nove agá ih dois quatro e ê éfe zero nove agá ih dois cinco, pois discute o papel da mobilização da sociedade brasileira no processo de redemocratização, identifica direitos estabelecidos na Constituição de 1988, analisa transformações na sociedade brasileira após 1989 e as relaciona aos protagonismos da sociedade civil, com destaque para as manifestações pelo impeachment de cólor.

Para pensar

Resposta pessoal. Em geral, quando se trata de pessoas que têm uma participação política ativa e consciente, a reação é de decepção. No entanto, respeitar o resultado das urnas é essencial para democracia.

govêrnocólor (1990-1992)

Após quase trinta anos sem escolher o presidente da república, os eleitores brasileiros reconquistaram esse direito, exercendo-o em 1989. Nessa eleição, o vitorioso foi Fernando cólor de Mello, que derrotou Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

cólor apresentava-se como um político preocupado em modernizar o Estado, defendendo as privatizaçõesglossário , o combate aos monopólios e a abertura do país à concorrência internacional.

Após dois anos de mandato, ocorreram denúncias de corrupção contra a cúpula do govêrno e a própria família cólor. As denúncias foram investigadas no Congresso Nacional por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (cê pê i). Na época, ocorreram manifestações populares exigindo o impeachment (impedimento) de cólor.

Ao final dos trabalhos da cê pê i, foi aberto o processo de impeachment do presidente, aprovado em setembro de 1992. Em 2 de outubro, o vice-presidente Itamar Franco assumiu a Presidência.

Fotografia. Detalhe de uma multidão de jovens, homens e mulheres, com destaque para seus rostos. Vários deles estão com os rostos pintados com tintas nas cores verde, amarela e preto. Outros estão com o rosto pintado apenas de preto. Alguns, tem a palavra 'FORA', escrita no rosto.
Manifestação pelo impeachment de Fernando cólor em Pôrto Alegre, Rio Grande do Sul. Fotografia de 1992. Em manifestações por todo o país, jovens pintaram seus rostos, parte deles com as cores da bandeira brasileira, e ficaram conhecidos como os “caras-pintadas”.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Biografia de Fernando cólor de Mello

Disponível em: https://oeds.link/PdjvYU. Acesso em: 6 abril 2022.

Verbete com dados biográficos de Fernando cólor de Mello. Informações sobre outras personagens da história republicana podem ser encontradas nessa página, fazendo-se uma busca.

Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

No trecho selecionado a seguir, ensaiam-se explicações para o impeachment de Fernando cólor de Melo.

Impeachment de cólor

“Quase todos os analistas do impeachment de Fernando mencionam reticências suas características pessoais ou de comportamento como fatores contribuintes para que aquele evento tivesse ocorrido reticências.

cólor construiu uma imagem pessoal que reticências tocou em pontos sensíveis das expectativas das massas populares incultas e das elites empresariais. Projetou-se como líder messiânico e paladino da moralidade; como religioso e associado a Frei Damião, tido no nordeste como um novo Padre Cícero; como a voz dos que não tinham voz e a fôrça dos que não tinham fôrça para lutar contra a corrupção, os marajás e as elites que exploravam o povo. Também projetou de si a imagem de paladino da modernidade reticências.

A ideia-chave reticências é que o cerne das dificuldades políticas de cólor derivava da incapacidade de entender que em uma democracia não basta receber 35 milhões de votos; em uma sociedade recém-democratizada como a brasileira, complexa e com novos atores políticos, seria fundamental gerar consensos por meio da negociação reticências.

[O] impeachment foi o resultado inesperado da combinação praticamente impossível de cinco circunstâncias extremamente raras reticências. 1ª) a acusação de seu irmão, Pedro cólor, de que o presidente cólor era o sócio oculto de pê cê Farias, ex-tesoureiro de sua campanha eleitoral, que aproveitava sua relação com o presidente para atividades de corrupção. Frente ao escândalo, o Congresso teve que formar uma Comissão Parlamentar de Inquérito; 2ª) a extraordinária incompetência de cólor e pê cêFarias para esconder suas supostas atividades corruptas; 3ª) a fragilidade e incompetência da bancada parlamentar governista para defender o govêrno e controlar a situação; 4ª) a ausência de tentativas de silenciar a imprensa ou abortar o processo político e um apego à ordem legal com a consequência inesperada de pessoas de origem modesta se apresentarem para depor perante a cê pê i; 5ª) a obstinação de cólor em permanecer no poder até o último momento.

[O] ultraje moral sinalizou tanto a maior liberdade de a cidadania expressar seus pontos de vista como o descompasso entre as expectativas crescentes em relação ao govêrno, engendradas pela nova democracia, e suas realizações. Que expectativas eram estas? Imaginava-se que um govêrno democrático romperia com o passado de privilégios, favorecendo a aplicação de procedimentos limpos e neutros, do princípio da igualdade perante a lei e de responsabilização dos representantes eleitos. O próprio cólor reforçou estas expectativas durante a campanha eleitoral de 1989 e procurou simbolizar isso. Esta foi a base da construção da imagem pública com que foi eleito reticências. tanto o comprometimento com os valores democráticos como o ultraje com sua negação foram decisivos para o desprestígio de cólor, particularmente na classe média, origem dos jovens estudantes secundaristas e universitários que estiveram à frente das manifestações contra o presidente. Mais ainda: a situação recessiva produzida pelo próprio programa de austeridade fiscal do govêrno, tornando muito difícil a sobrevivência para os mais pobres e obrigando a contenção dos gastos da classe média, tornou ainda mais ultrajante as somas exorbitantes gastas pelo presidente e providas por . Farias.”

SALLUM Júnior., Brasilio e CASARÕES, Guilherme istôlePaixão e. O impeachment do presidente cólor: a literatura e o processo. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, número 82,página 165, 167-168, 179, 191, 2011.

Outras indicações

Terra estrangeira (Brasil/Portugal). Direção de Uálter Salles Júnior; Daniela Thomas, 1995. 100 minutosponto

No filme, um jovem vê sua vida e a de sua família desmoronar quando entra em vigor o Plano cólor e decide deixar o Brasil, indo para Portugal em situação ilegal e enfrentando diversos problemas. A produção é considerada marcante por representar as desilusões dos brasileiros naquela época e o impacto das medidas econômicas do govêrno cólor.

Governo Itamar Franco (1993-1994)

Itamar Franco convidou políticos de diversos partidos para os ministérios. Durante esse govêrno, foi implantado o Plano Real, com o objetivo de deter a inflação e estabilizar a economia. Fazia parte do plano a criação de uma nova moeda: o real.

Em junho de 1994, a inflação mensal era de quase 50% e, no final do mês seguinte, o índice desabou para valores próximos a 4%.

Esses resultados deram impulso à candidatura de Fernando Henrique Cardoso (éfe agá cê) à Presidência da República, que concorreu pela aliança entre o Pê ésse dê bê e o pê éfe éle. Cardoso, que foi ministro da Fazenda durante o início do govêrno de Itamar Franco, era considerado o mentor do Plano Real e venceu as eleições de 1994 no primeiro turno.

Fotografia. Em um ambiente interno, ao lado de um guichê de madeira em que se lê 'Caixa Econômica Federal', em destaque, dois homens lado a lado, em pé, sorrindo, segurando notas de dinheiro em suas mãos. O homem à esquerda é calvo, tem cabelos ralos, curtos e brancos e veste terno escuro, camisa azul e gravata azul. Ele usa relógio e segura notas de um e de dez reais. O homem à direita, de cabelos lisos e brancos, veste um terno escuro, camisa azul clara e gravata escura. Ele usa óculos, um relógio dourado e segura notas de dez reais. Atrás deles, há outros dois homens de terno, sorrindo.
Itamar Franco (à direita) e o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, mostram cédulas de real em uma agência bancária no Palácio do Planalto, em Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 1994.

responda NO CADERNO

para pensar

Você sabe quem é o atual ministro da Economia? Sabe quais são suas principais atribuições? Pesquise.

govêrno Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)

Fernando Henrique Cardoso tomou posse em janeiro de 1995, anunciando que seu govêrno manteria a estabilidade econômica e combateria a inflação. O quadro mostra a queda do índice de inflação anual nos primeiros anos de seu govêrno.

Inflação brasileira (1994-1996)

Ano

% ao ano

1994

916,5

1995

22,4

1996

9,6


Fonte: í bê gê É. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (i pê cê a): Séries históricas. Rio de Janeiro: í bê gê É. Disponível em: https://oeds.link/19WT3M. Acesso em: 20 junho 2022.

O govêrno federal promoveu reformas como a privatização de empresas estatais. Essas privatizações foram muito questionadas, principalmente quando o govêrno vendeu empresas controladas pelo Estado, como a Companhia Vale do Rio Doce e a telebrás (Telecomunicações Brasileiras).

Fotografia. Em frente a um edifício de cor clara, com colunas e janelas brancas altas com balcão, um grupo de pessoas jovens, meninos e meninas, em uma manifestação. Eles usam camisetas brancas, calças jeans na cor azul clara e acenam bandeiras na cor branca.  À frente do grupo, uma faixa com o texto: 'Se luta porque vale'.
Manifestação contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 1997. No mesmo ano, a empresa foi privatizada.

Em 1997, o Congresso Nacional aprovou uma emenda à Constituição que permitia a reeleição para presidente da república, governadores de estado e prefeitos. Fernando Henrique empenhou-se nessa causa e foi acusado de beneficiar parlamentares em troca de votos favoráveis ao projeto de reeleição.

Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

Em 2022, o ministro da Economia era Paulo Guedes. Entre suas principais atribuições estavam: o contrôle dos mecanismos de receita e arrecadação do Estado (impostos, taxas), o contrôle dos órgãos de emissão de moeda e captação de recursos, a boa gestão da arrecadação e das despesas, entre outras funções de política econômica e monetária. A questão envolve o tratamento dos temas contemporâneos transversais Educação financeira e Educação fiscal.

Texto de aprofundamento

As políticas adotadas durante os governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso para lidar com as questões sociais começaram recentemente a ser objeto de estudos. Reproduzimos, aqui, trechos de um artigo que avalia uma das questões mais importantes para a sociedade nesse período: a política de reforma agrária.

Política de reforma agrária

“A análise da realidade agrária brasileira do final do século vinte mostra, de fórma cabal, a presença dos conflitos de terra. Se por um lado a modernização conservadora ampliou suas áreas de ação, igual e contraditoriamente os movimentos sociais aumentaram a pressão social sobre o Estado na luta de terra reticências. [Houve uma] evolução do número de conflitos no campo brasileiro entre 1985 e 1999 reticências [em] três períodos distintos. O primeiro representado pelo segundo quinquênio da década de 80, mostra um pico em 1988 quando os conflitos estavam generalizados por todas as regiões brasileiras reticências. O segundo período coincide com o primeiro quinquênio da década de 90, quando o número de conflitos ficou reduzido à metade do período anterior, revelando mudança nas estratégias de lutas e a necessidade do re-acúmulo de fôrças reticências. O terceiro período, refere-se ao segundo quinquênio da década de 90, coincidindo com o govêrno Fernando Henrique Cardoso, quando apresentou novo crescimento dos conflitos, alcançando um patamar superior àquele da década de 80. O ano de 1998 registrou mais de mil conflitos espalhados por todo o país. Apresentou também, aumento na ocorrência de conflitos nas regiões de ocupação tradicional: Nordeste e Centro-Sudeste. Alguns estados apareceram como concentradores destes conflitos, como o caso do Paraná na região Sul; Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul, no Centro-Sudeste; Pernambuco, no Nordeste; Pará e Mato Grosso, na Amazônia reticências.

[A] resposta do govêrno Fernando Henrique ao incremento dos conflitos foi o aumento da repressão policial. Este govêrno entra para a História marcado por um tipo de violência que não ocorrera ainda de fórma explícita no Brasil: quem passou a matar os camponeses em luta pela terra foram as fôrças policiais dos estados. Os massacres de Corumbiara e de Eldorado dos Carajás são exemplos ocorridos no govêrno éfe agá cê. Ambos os massacres representam a posição das elites latifundiárias brasileiras em não ceder um milímetro sequer em relação à questão da terra e da Reforma Agrária. O apôio dos ruralistas à base de sustentação política do govêrno éfe agá cê tem tido como contrapartida duas práticas governamentais: a primeira, posição repressiva aos movimentos sociais; a segunda, no plano econômico, prorrogação – não se sabe até quando – das dívidas destes latifundiários, que não as saldam reticências.

no govêrno de Fernando Henrique Cardoso reticências em seis anos foram assentadas trezentas e setenta e três.duzentas e dez famílias em .3505 assentamentos rurais. Entre estes assentamentos incluem-se as regularizações fundiárias (as posses), os remanescentes de quilombos, os assentamentos extrativistas, os projetos Casulo e Cédula Rural, e os projetos de Reforma Agrária. A pressão feita pelos movimentos sociais com a ampliação das ocupações pressionou o govêrno éfe agá cê a ampliar os assentamentos. Tal fato mostra que a Reforma Agrária, antes de ser uma política propositiva do govêrno é a necessidade de resposta à pressão social reticências.”

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e Reforma Agrária. Estudos Avançados, São Paulo, volume 15, número 43, página 197-198, 201, 2011.

Segundo mandato éfe agá cê

Sustentado pelo triunfo no combate à inflação e pela estabilização da economia, éfe agá cê venceu a eleição presidencial de 1998 no primeiro turno e tornou-se o primeiro presidente eleito para exercer dois mandatos consecutivos.

No segundo mandato, a política econômica foi mantida, mas o desempenho da economia piorou. Houve uma grave crise de fornecimento de energia elétrica, que fez a produção de bens diminuir e o desemprêgo aumentar. O “apagão” ocorrido em 1999 e os riscos de que ele ocorresse de novo levaram o govêrno a fazer campanhas de redução no consumo de energia. Além disso, o crescimento da dívida pública comprometeu as finanças do govêrno e o poder de compra do trabalhador assalariado diminuiu.

O clima de insatisfação popular aumentou, convertendo-se em anseio por mudanças. As eleições de 2002 foram vencidas pela oposição: Lula, do pê tê, derrotou José Serra, candidato do Pê ésse dê bê apoiado por éfe agá cê.

Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

para pensar

Qual é o valor da conta de luz de sua casa? Você se preocupa em economizar energia elétrica?

Governo Lula (2003-2010)

Com a vitória de Lula nas eleições em 2002, pela primeira vez na história brasileira um líder político de origem popular (ex-metalúrgico, ex-líder sindical e um dos fundadores do pê tê) chegava à Presidência da República.

O govêrno preservou a estabilidade da moeda e conteve a inflação, promovendo o crescimento das exportações e diminuindo o desemprêgo. Lula disputou a eleição para presidente em 2006 e foi reeleito.

Para garantir a aprovação de projetos no Congresso Nacional, o govêrno buscou apoios e promoveu alianças com membros de partidos como pê éle, pê pê, pê tê bê e pê ême dê BÊ. A partir de 2005, a fórma como essas alianças eram sustentadas provocou suspeitas sobre a existência de um esquema de corrupção que foi apelidado pela imprensa de “mensalão”. As denúncias eram de que um grupo de parlamentares recebia pagamentos em dinheiro em troca de apôio ao govêrno. O caso foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal, que, em 2012, condenou vários envolvidos, incluindo políticos, funcionários públicos e pessoas ligadas ao meio publicitário.

Ao final de seu mandato, o presidente Lula alcançava índices de aprovação popular em tôrno de 85%. Isso foi decisivo para a campanha de Dilma russéf, candidata pelo pê tê, nas eleições de 2010.

Fotografia. Na parte inferior da imagem, um homem grisalho de cabelos curtos visto de costas. Ele  veste um terno de cor escura e camisa branca e há uma faixa com as cores verde (nas bordas) e amarela (no centro) cruzando suas costas. Diante dele, no centro de uma rampa de cor cinza coberta por um tapete branco há dois homens em pé.
À esquerda, um homem calvo, com cabelos ralos, curtos e brancos, que veste um terno escuro, camisa branca e gravata escura. À direita, um homem de cabelos cheios, curtos e grisalhos, barba grisalha no rosto, que veste um terno escuro, camisa branca, gravata listrada e broche na lapela. Ele está sorrindo e acena com uma das mãos. 
Os homens estão cercados por ambos os lados por militares trajando fardas brancas, com faixas vermelhas na cintura, botas pretas de cano alto, capacetes dourados em forma de dragão com uma pena vermelha na ponta. Cada um dos militares segura a haste dourada de uma bandeira com duas faixas horizontais, nas cores vermelha e branca. Ao fundo, há uma multidão.
Lula (à direita) subindo a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, Distrito Federal, observado por éfe agá cê, momentos antes da passagem da faixa presidencial. Fotografia de 1º de janeiro de 2003.
Orientações e sugestões didáticas

Para pensar

Resposta pessoal, que depende, sobretudo, do número de pessoas que vive na moradia. Espera-se que os estudantes expressem preocupação em economizar energia elétrica, que pode ser justificada com base em valores e atitudes de consciência ambiental, consumo responsável, contrôle de gastos e percepção da diferença entre desejos e necessidades de consumo. Tais valores e atitudes estão relacionados aos temas contemporâneos transversais Educação ambiental e Educação financeira.

Governo Dilma russéf (2011-2016)

Dilma russéf venceu as eleições, encabeçando a chapa pelo pê tê e tendo como vice-presidente Michel têmer, do pê ême dê BÊ. Com a posse, em janeiro de 2011, ela tornou-se a primeira mulher a presidir a república no Brasil.

O novo govêrno preservou as ações do govêrno anterior, como os programas de distribuição de renda, o salário mínimo reajustado acima dos índices da inflação, a destinação de mais recursos à educação, a construção de moradias populares e a diminuição das desigualdades sociais.

Desde 2012, porém, os indicadores econômicos apresentaram problemas, tais como o desequilíbrio da balança comercial (aumento das importações e diminuição das exportações), o aumento na taxa de juros e a diminuição na competitividade das empresas brasileiras. Em reação, o govêrno tomou medidas como a realização de obras de infraestrutura e o início da produção de petróleo da camada do pré-sal. No entanto, as dificuldades continuaram.

Em 2013, em diversas cidades brasileiras, milhares de pessoas foram às ruas para criticar, por exemplo, o aumento nas tarifas dos transportes públicos, a violência policial, os gastos com megaeventos esportivos e a crise no sistema de representação política. Mesmo com a popularidade afetada, Dilma reelegeu-se em 2014 para um novo mandato presidencial.

Fotografia. Vista aérea e noturna de uma avenida. No centro da avenida, duas aberturas circulares permitem ver pistas subterrâneas para veículos, sob a avenida.
Ao longo de toda a via, e em torno das aberturas circulares, uma multidão de pessoas, algumas delas segurando cartazes, faixas e bandeiras, toma os dois sentidos da avenida. Ao redor da via, prédios altos. No centro dela, duas árvores e postes de iluminação pública.
Manifestação durante o govêrno de Dilma russéf, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de junho de 2013.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “govêrno Dilma russéf (2011-2016)” favorece o desenvolvimento das competências cê ê agá um e cê ê agá dois, bem como das habilidades ê éfe zero nove agá ih dois quatro e ê éfe zero nove agá ih dois cinco, pois analisa transformações na sociedade brasileira após 1989 e as relaciona com os protagonismos da sociedade civil, com destaque para as manifestações populares de 2013.

Texto de aprofundamento

A instituição de cotas para negros nas universidades públicas brasileiras foi uma política social implementada nos governos de Lula e Dilma russéf. O trecho a seguir faz uma avaliação das cotas, um processo ainda recente e em andamento.

Cotas em debate

O tema da educação sempre recebeu destaque tanto na atuação da militância negra como nos estudos acadêmicos sobre desigualdades raciais devido à sua inquestionável importância na compreensão e no enfrentamento das desigualdades sociais e raciais no país reticências.

reticências O pró uni [Programa Universidade para Todos] reticências tem como finalidade a concessão de bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda em cursos de graduação e sequenciais de formação específica de instituições privadas de educação superior. Ele apresenta uma política de cotas para os que se autodeclaram pretos, pardos ou índios e optam por ser beneficiários deste sistema no ato de inscrição reticências.

Outro programa que passou a adotar o critério racial foi o fiés (Programa de Financiamento Estudantil) reticências. Inclui o quesito cor/raça na composição do índice de classificação, aumentando as chances de os solicitantes negros conseguirem o financiamento. Da mesma fórma que no pró uni, o foco incide sobre a população de baixa renda e o critério racial é aplicado após a elegibilidade do beneficiário pelo critério social.

reticências As principais polêmicas sobre essa questão [das cotas nas universidades] envolvem tanto o seu princípio (instituir políticas com recorte racial) como seu processo de execução (violação da autonomia universitária, obrigatoriedade versus incentivos, uso do sistema de cotas versus outras modalidades de inclusão) reticências.

As políticas de ações afirmativas reticências tomam como base para sua implementação a extrema desigualdade racial brasileira no acesso ao ensino superior. Os argumentos favoráveis concentram-se nesse sentido, afirmando a necessidade de um enfrentamento direto da sociedade brasileira a esse respeito, o que implica o reconhecimento de que o Brasil é um país racialmente desigual e que tal situação é fruto de discriminação e preconceito, e não de uma situação de classe social. reticências

Na academia, sobretudo nas universidades públicas, as críticas à política de cotas têm como fundamento principal o pressuposto de que instituí-las seria assumir a existência de ‘raças’ distintas. A única maneira de enfrentar o racismo, segundo os analistas, seria minar a crença não só na ideia de ‘raça’ como algo natural, mas também na ideia de hierarquia entre as ‘raças’. Portanto, a racialização como antídoto para o racismo não seria a melhor saída para uma sociedade como a nossa. Uma das sugestões de combate às desigualdades raciais no acesso à educação sem a implantação das cotas é o investimento maciço nas escolas do ensino médio, o que garantiria aos alunos de escolas públicas melhores condições de competição para inserção na universidade. reticências Ainda contrariamente à política de cotas, argumenta-se que a produção de uma igualdade de resultados não é a fórma mais eficaz de enfrentar as desigualdades. Políticas afirmativas de acesso ao ensino superior incidem sobre uma das consequências da discriminação racial e da desigualdade educacional, isto é, o acesso à universidade, sem que estas, em si mesmas, sejam corrigidas.”

LIMA, Márcia. Desigualdades raciais e políticas públicas: ações afirmativas no govêrno Lula. Novos Estudos , São Paulo, número 87, página 77-95, 2010.

Segundo mandato de Dilma

Durante o segundo govêrno Dilma, o Ministério Público e a Polícia Federal investigaram esquema de corrupção envolvendo diretores da Petrobrás, empreiteiros do setor privado e políticos de diversos partidos. Essa investigação foi chamada de “Operação Lava Jato”. Sérgio Moro, o juiz que conduziu os julgamentos, tornou-se ministro da Justiça em 2019, no govêrno de Jair Bolsonaro.

A insatisfação culminou com o afastamento de Dilma da Presidência da República em 12 de maio de 2016. Isso se deu por meio de um processo de impeachment promovido por membros da oposição e antigos aliados, que alegavam que o govêrno havia cometido crime de responsabilidade fiscal.

Fotografia. Sob um fundo azul claro, uma mulher de cabelos castanhos e curtos, trajando um vestido claro rendado e usando um par de brincos dourados pequenos. Ela usa uma faixa com as cores verde (nas bordas) e amarela (no centro), e o brasão da república brasileira, cruzando seu torso. A frente dela, um púlpito de material transparente e um microfone.
Dilma russéf discursa no Palácio do Planalto, em Brasília, Distrito Federal, na cerimônia de posse de seu segundo mandato presidencial. Fotografia de 2015. Apesar de sofrer impeachment em 2016, ela não perdeu seus direitos políticos.

govêrno Michel têmer (2016-2018)

Após o impeachment de Dilma russéf, o vice-presidente Michel têmer assumiu a Presidência. Seu govêrno ficou marcado por mudanças constitucionais que, apoiadas pela maioria dos deputados federais e senadores, reduziram as poucas garantias de proteção social até então existentes e restringiram o acesso da população mais pobre aos recursos públicos.

Exemplos disso foram algumas reformas feitas com a justificativa de combater a crise econômica enfrentada pelo país:

  • a Emenda Constitucional nº 95, proposta pelo govêrno e aprovada no Congresso Nacional em 15 de dezembro de 2016, congelou por vinte anos os investimentos públicos, afetando áreas como saúde, educação e assistência social;
  • a aprovação da reforma trabalhista, em julho de 2017, modificou a Consolidação das Leis do Trabalho (cê éle tê) e retirou direitos dos trabalhadores (redução das indenizações por demissão; dificuldade de acesso ao seguro-desemprêgo; diminuição do intervalo para repouso e alimentação durante a jornada de trabalho; permissão para que mulheres grávidas trabalhem em ambientes insalubres etcétera).

Marcado pela impopularidade, pela ampliação da crise econômica e do desemprêgo, o govêrno têmer foi alvo de denúncias de corrupção, e mais de dez ministros eram investigados em ações da polícia ou da Justiça até o final do govêrno.

Governo Jair Bolsonaro (2019-2022)

Jair Messias Bolsonaro venceu as eleições para a Presidência da República em 2018 e tomou posse em janeiro de 2019. Entre as medidas adotadas em seu governo, podemos destacar:

  • a reforma da Previdência Social que, entre outras coisas, aumentou a idade mínima para a aposentadoria dos brasileiros (65 anos para homens e 62 anos para mulheres) e diminuiu valores e número de beneficiados entre os trabalhadores rurais;
  • a facilitação da compra de armas de fogo.

Durante o governo Bolsonaro, houve tensões entre o poder Executivo federal e o poder Judiciário. Isso, de certo modo, prejudicou o harmonia entre os três poderes, que é a base da democracia.

Fotografia. Vista aérea de uma via pública com três faixas largas, separadas por fileiras de árvores. Duas faixas estão completamente tomadas por uma multidão de pessoas, portando faixas, bandeiras e cartazes. Na terceira faixa, há veículos parados diante de uma faixa de pedestres.
Manifestação em protesto ao governo Bolsonaro na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021.
Fotografia. Em uma praia, rodeada por prédios altos, uma multidão de pessoas vestindo camisetas amarelas e verdes, portando bandeiras do Brasil. No centro da manifestação há um caminhão de trio elétrico, com pessoas sobre ele.  Ao fundo, no canto esquerdo, o mar.
Manifestação em apoio ao governo Bolsonaro na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2021.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Considerando que os acontecimentos trabalhados no capítulo ocorreram em um passado recente, os estudantes podem fazer entrevistas em grupo com pessoas que tenham participado desses movimentos. Com base nas orientações de coleta de depoimentos mencionadas no tópico cinco ponto quatro, “Fontes orais”, deste manual é possível sugerir questões para a entrevista tais como:

  1. Você participou de comícios pelas Diretas Já!? Foi “cara-pintada” no processo de impeachment em 1992? Participou das manifestações ocorridas em diversas cidades brasileiras em 2013?
  2. O que acontecia nessas grandes aglomerações?
  3. O que o levou a participar desses movimentos?
  4. Que princípios orientam seu voto?
  5. Como você escolhe seus candidatos?

Depois de feitas as entrevistas, o trabalho em sala de aula poderá se concentrar na análise dos dados recolhidos e na realização de seminários, nos quais cada grupo poderá expor o resultado das entrevistas.

Texto de aprofundamento

A pandemia de covid-19 teve um impacto profundo na América. O texto a seguir, extraído de um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde, traz dados sobre a doença no continente e pode ser utilizado para comparar a situação no Brasil com a de outros países.

Situação epidemiológica: covid-19 em 2021 nas Américas

“No geral, a situação da covid-19 tem causado graves prejuízos aos países das Américas. Em 8 de março de 2021, a região relatou total acumulado de ..51694320 casos de covid-19, incluindo uma.duzentas e quarenta e duas.trezentas e oito mortes. Esses números representam quase 44% dos ..116521281 casos e 48% das duas.quinhentas e oitenta e nove.quinhentas e quarenta e oito mortes relatadas globalmente. Essa região tem o maior número de casos notificados e mortes entre todas as seis Regiões da [Organização Mundial da Saúde] ó ême ésse (seguida pela região europeia, que relatou ..39892674 casos e oitocentas e oitenta e cinco.oitocentas e quarenta e seis mortes). Os casos de covid-19 nas Américas atingiram um pico durante a semana de 3 de janeiro de 2021, quando ..2522305 casos novos foram notificados, principalmente nos Estados Unidos da América (71%). De lá para cá, observou-se tendência de queda de casos até a semana de 21 de fevereiro de 2021, quando voltaram a ser observados leves aumentos semanais, impulsionados pelo aumento dos casos no Brasil. Da mesma fórma, o número de mortes semanais atingiu o pico durante a semana de 24 de janeiro de 2021, quando .duzentas e setenta e sete novas mortes foram relatadas na região, principalmente nos Estados Unidos da América (48%), México (19%) e Brasil (16%). Desde então, continua a haver tendência geral de queda nos óbitos semanais, exceto no Brasil, onde o número semanal de óbitos também vem aumentando juntamente com o de casos. De todos os casos e mortes por covid-19 notificados na região em 8 de março de 2021, os Estados Unidos da América respondem por 55% dos casos e 42% das mortes, ao passo que o Brasil responde por 21% dos casos e 21% de todas as mortes. Juntos, esses dois países respondem por 76% de todos os casos e 63% das mortes atualmente notificadas nas Américas. Os países que relataram as maiores proporções de novas mortes entre 1o de setembro de 2020 e 8 de março de 2021 foram os Estados Unidos da América (44%, trezentas e trinta e oito.quinhentas e oitenta e nove mortes); Brasil (19%, .quatrocentas e noventa e sete mortes) e México (16%, .99112 mortes).”

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (o pê á ésse). Resposta à pandemia da covid-19 nas Américas. Washington, D.Cponto: Opas, 2021. página 3. Disponível em: https://oeds.link/4r3Z7C. Acesso em: 20 abril 2022.

Efeitos da pandemia de covid-19 no Brasil

Os primeiros casos de covid-19 foram registrados na China e de lá se expandiram para Europa e outras partes do mundo, como estudaremos no próximo capítulo. A pandemia deu os primeiros sinais no Brasil em março de 2020.

O governo federal brasileiro não se mobilizou rapidamente para a compra ou produção de vacina, tampouco fez amplas campanhas de esclarecimento para o contrôle da pandemia, como a recomendação de usar máscaras, lavar as mãos e evitar aglomerações. Além disso, membros do governo chegaram a recomendar o uso de medicamentos sem eficácia, como a cloroquina.

De modo geral, o governo federal pretendia manter o funcionamento das atividades econômicas e, talvez por isso, menosprezou os danos da pandemia. Diante de um quadro de desemprego, crise econômica e carência de serviços públicos de saúde, a população brasileira foi bastante afetada.

Até abril de 2022, quando o governo federal suspendeu a situação de “emergência sanitária” causada pela pandemia, mais de 660 mil brasileiros haviam morrido em razão da covid-19. Com isso, o Brasil se tornou o segundo país em número de mortes em todo o mundo, superado apenas pelos Estados Unidos.

Fotografia. Vista noturna. Três caminhões em comboio em uma via urbana, larga e pavimentada. O primeiro caminhão é de cor vermelha e em sua carreta, transporta um grande cilindro de cor branca. À frente da carreta, uma bandeira da Venezuela, com faixas verticais nas cores amarela, azul e vermelha, respectivamente, estrelas brancas na faixa central (azul) e um brasão no canto superior esquerdo.
À direita da via, uma faixa de grama com árvores. À esquerda, calçada e edifícios.
Caminhões que saíram da Venezuela levam oxigênio para os hospitais de Manaus, no Amazonas. Fotografia de 2021. A capital amazonense foi uma das cidades mais afetadas pela epidemia de covid-19 no Brasil, e o oxigênio era um dos produtos mais necessários à tentativa de manter vivas as pessoas doentes e hospitalizadas.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Efeitos da pandemia de covid-19 no Brasil” trabalha aspectos do tema contemporâneo transversal Saúde, na medida em que aborda questões sanitárias voltadas para o combate do novo coronavírus, identificado em 2019.

Balanço econômico

Desde meados da década de 1980 até as primeiras décadas do século vinte e um, a economia do país oscilou entre períodos de crescimento e de estagnação. O Produto Interno Bruto (PIB)glossário é um dos indicadores mais usados para se avaliar a ampliação ou a retração das atividades econômicas. Observe os dados do quadro a seguir, que apresenta a oscilação do brasileiro de 1996 a 2021.

Brasil: oscilação do Produto Interno Bruto (PIB) – 1996-2021

Ano

Crescimento do PIB (em %)

Ano

Crescimento do PIB (em %)

1996

2,2

2009

−0,1

1997

3,4

2010

7,5

1998

0,3

2011

4,0

1999

0,5

2012

1,9

2000

4,4

2013

3,0

2001

1,4

2014

0,5

2002

3,1

2015

−3,5

2003

1,1

2016

−3,3

2004

5,8

2017

1,3

2005

3,2

2018

1,8

2006

4,0

2019

1,2

2007

6,1

2020

−3,9

2008

5,1

2021

4,6

FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Contas Nacionais Trimestrais (ésse cê êne tê): Séries históricas. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1º trim. 2022. Disponível em: https://oeds.link/qWUvt1. Acesso em: 6 abril 2022.

integrar com matemática

Responda no caderno

para pensar

Identifique no quadro cada período presidencial e diga qual foi a média de crescimento anual do Píbi em cada mandato. Em que períodos o crescimento foi maior? E em quais ele foi menor?

O crescimento ou a diminuição do Píbi não é suficiente para fazer um balanço econômico do período. Estudaremos, a seguir, aspectos dos principais planos econômicos aplicados desde 1985, todos eles com profundos impactos sociais.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Balanço econômico”, incluindo seus subitens, favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih dois quatro ao apresentar dados relativos à oscilação do Píbi brasileiro e caracterizar os planos econômicos elaborados a partir do contexto da redemocratização.

Para pensar

Atividade interdisciplinar com Matemática. Para realizar a atividade, os estudantes deverão construir um novo quadro. A primeira coluna deve identificar o período e o nome do governante; a segunda deve indicar o cálculo da média de crescimento anual do no período, que corresponde à soma dos percentuais de crescimento de cada ano dividida pelo número de anos de mandato. O resultado deve ser apresentado como a seguir:

Presidente e tempo de mandato

Média de crescimento do PIB

Fernando Henrique Cardoso, 1996 a 1998 (3 últimos anos do 1º mandato)

1,96% ao ano (5,9%/3 anos)

Fernando Henrique Cardoso, 1999 a 2002 (2º mandato)

2,35% ao ano (9,4%/4 anos)

Luiz Inácio Lula da Silva, 2003 a 2006 (1º mandato)

3,52% ao ano (14,1%/4 anos)

Luiz Inácio Lula da Silva, 2007 a 2010 (2º mandato)

4,65% ao ano (18,6%/4 anos)

Dilma Rousseff, 2011 a 2014 (1º mandato)

2,35% ao ano (9,4%/4 anos)

Dilma Rousseff, 2015 a 2016 (2º mandato)

‒3,4% ao ano ( ‒6,8%/2 anos)

Michel Temer, 2017 a 2018

1,55% ao ano (3,1%/2 anos)

Jair Bolsonaro, 2019 a 2021 (3 primeiros anos de mandato)

0,63% ao ano (1,9%/3 anos)


De 1996 a 2021, os períodos de maior crescimento anual do ocorreram nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (1º e 2º mandatos). As maiores quedas no se deram no governo de Dilma russéf (2º mandato) e nos três primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro.

Plano Cruzado

Em meados da década de 1980, a crise econômica prejudicava o cotidiano dos brasileiros, que sofriam com inflação altíssima, desnutrição, falta de moradia e dificuldade de acesso aos serviços básicos de educação e saúde.

Em fevereiro de 1986, a equipe econômica do governo federal de José sarnêi elaborou um pacote econômico de combate à inflação denominado Plano Cruzado. As mudanças de maior impacto foram:

  • a extinção do cruzeiro e a criação de uma nova moeda, o cruzado;
  • o congelamento dos preços das mercadorias e dos salários. Estes últimos seriam reajustados sempre que a inflação chegasse a 20% (gatilho salarial).

Inicialmente, parte da população apoiou o Plano Cruzado, fiscalizando os preços e protestando contra os reajustes, mas o plano fracassou: o congelamento dos preços durou pouco tempo e muitas mercadorias só eram vendidas mediante o pagamento de um acréscimo ao preço tabelado.

Surgiram depois outros planos menos ambiciosos de intervenção na economia, mas nenhum teve sucesso. A crise agravou-se e a equipe econômica não conseguiu diminuir a inflação elevada e o endividamento público. No auge da crise, a inflação chegou a mais de 80% apenas no mês de março de 1990.

Fotografia em preto e branco. No primeiro plano, em um pequeno morro gramado e inclinado, policiais fardados, com capacetes brancos em suas cabeças, portando cassetetes. Alguns policiais sobem o morro. Outros olham para a frente. No pé do morro, em uma extensa área plana, uma grande multidão, com pessoas portando faixas e cartazes. Ao fundo, em uma linha inclinada no horizonte, dez prédios retangulares idênticos. No canto direito da imagem, uma construção retangular baixa.
Manifestantes entram em confronto com a polícia militar durante ato contra um novo pacote econômico – o Plano Cruzado dois – na Esplanada dos Ministérios, Brasília, Distrito Federal. Fotografia de 1986.

Plano cólor

Nesse plano econômico, o governo de Fernando Collor de Mello tomou medidas para combater a hiperinflação, que chegava a 2 700% ao ano. Em 16 de março de 1990, um dia após sua posse, as autoridades econômicas do governo anunciaram o Plano cólor, que teve enormes consequências sociais. Conheça algumas medidas desse plano:

  • bloqueio de contas e de aplicações financeiras nos bancos;
  • confisco de cêrca de 80% do dinheiro que circulava no país, inclusive o das cadernetas de poupança;
  • extinção da moeda vigente (o cruzado) e restabelecimento do cruzeiro.
Fotografia em preto e branco. Em uma calçada larga, composta de pedras que formam um mosaico, uma fila de pessoas nas laterais de um edifício alto. Há homens e mulheres, que são vistos de costas.
Fila se fórma na reabertura das agências bancárias depois da edição do Plano cólor, em Recife, Pernambuco. Fotografia de 1990.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia a seguir trecho de uma reportagem sobre a pesquisa desenvolvida pela historiadora Francine de Lorenzo Andozia a respeito dos impactos do Plano cólor no cotidiano.

Impactos do Plano cólor

“Para a pesquisadora [Francine de Lorenzo Andozia], há uma farta produção acadêmica sobre aspectos políticos e econômicos do Plano [cólor], mas sem enxergar a economia como um fator humano. reticências

O trabalho evidenciou que a equipe econômica de cólor ignorou os efeitos que o plano poderia causar à população. Atividades do cotidiano, como compras em lojas e supermercados, pagamento de contas, prestação de serviços , foram bruscamente alteradas, ignorando-se as características culturais e comportamentais da população.

Como resultado, implicações no modo de vida, principalmente nas cidades, representado por uma perda temporária de cidadania, uma vez que o Estado retirou o direto do cidadão ao próprio patrimônio e o obrigou a cumprir compromissos anteriores às restrições. Os efeitos emocionais e psicológicos causados pelo plano, como o desespero, as angústias, tristezas e decepções, não podem ser calculados em números.

Tais prejuízos puderam ser observados em manifestações de descontentamento não organizadas, nas filas de bancos, nos bares, em cartas de jornais, sem ícones ou símbolos. A pesquisa as avaliou como uma soma de casos individuais e não um movimento coletivo, junto a um sentimento de profunda descrença da população em relação ao govêrno.”

ESTUDO avalia prejuízos do Plano cólor no dia a dia da população. Jornal da Universidade de São Paulo, 16 outubro 2019. Disponível em: https://oeds.link/sQuvCx. Acesso em: 29 julho 2022.

Plano Real

Editado em 1994, no governo de Itamar Franco, o principal motivo que levou à implantação do plano era controlar a hiperinflação no país (que ultrapassava 5 000% ao ano) e estabilizar a economia. Para isso, foram estabelecidas diversas medidas, entre elas:

  • redução das despesas públicas e aumento da arrecadação do governo;
  • criação de uma espécie de moeda de transição, a Unidade Real de Valor (u érre vê), com o objetivo de evitar medidas bruscas como confisco do dinheiro e garantir o poder de compra dos assalariados;
  • início à circulação de uma nova moeda, o real, usado até hoje no país.

Outras medidas se seguiram, como a privatização de empresas estatais, a criação de um programa de ajuda aos bancos do país e a renegociação de dívidas dos estados e municípios com maior contrôle nos gastos a partir dali.

Fotografia. Em uma sala fechada, os painéis de uma exposição. Nos painéis de fundo escuro com detalhes amarelos e vermelhos, uma linha do tempo marca as datas: 1998, 2010 e 2019. Nos marcos da linha do tempo, há textos não legíveis na cor branca e a reprodução de moedas e notas de real. À frente, no centro da sala, um pequeno mostrador com notas e documentos expostos protegidos por uma redoma de vidro.
Sala da exposição Do réis ao real, no Museu Casa da Moeda do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Fotografia de 2019. A exposição contou a história do dinheiro brasileiro.

Balanço social

A partir do início da redemocratização, a sociedade garantiu avanços e conquistas, ainda que o período tenha sido marcado pela perda de direitos sociais, sobretudo nos períodos de crise econômica.

Mesmo quando os direitos estão escritos na lei, seu cumprimento requer ação dos cidadãos, do Estado e das organizações da sociedade. Apresentaremos a seguir algumas das principais medidas adotadas, especialmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “Balanço social”, incluindo seus subitens, favorece o desenvolvimento das competências cê gê um, cê gê sete, cê gê nove, cê ê cê agá um, cê ê cê agá dois, cê ê cê agá três, cê ê cê agá quatro, cê ê cê agá seis, cê ê agá um, cê ê agá dois e cê ê agá quatro, bem como da habilidade ê éfe zero nove agá ih dois seis, pois discute e analisa as causas da violência ou da ausência de direitos das populações marginalizadas com vistas à tomada de consciência e à construção de uma cultura da paz.

Em ambos os casos a ideia era recompor a média dos vencimentos [salários], tendo por base a periodicidade de reajuste. reticências A principal diferença entre as regras de fixação dos salários ficou por conta dos abonos concedidos no Plano Cruzado, de 8% para os salários em geral e 15% para o salário mínimo. reticências. Quando da criação da u érre vê [Unidade Real de Valor], foi definida para o salário mínimo uma política que elevaria seu valor dos R$ 64,79sessenta e quatro reais e setenta e nove centavos, que seria o valor pela simples conversão, para o equivalente a cem dólares, mas mantendo-se dentro de limites que não prejudicassem os objetivos da estabilização. Após vários estudos, de concreto, resultou, apenas, na elevação de 10% do mínimo, passando para R$ 70,00setenta reais, mas somente em setembro de 1994.

Texto de aprofundamento

O texto a seguir foi extraído de um trabalho acadêmico que comparou dois planos de estabilização econômica: o Cruzado e o Real.

Cruzado e Real: uma comparação

“Destacamos algumas das principais semelhanças e diferenças existentes entre os dois programas de estabilização: reticências

Em ambos os casos a ideia era recompor a média dos vencimentos [salários], tendo por base a periodicidade de reajuste. reticências A principal diferença entre as regras de fixação dos salários ficou por conta dos abonos concedidos no Plano Cruzado, de 8% para os salários em geral e 15% para o salário mínimo. reticências. Quando da criação da URV [Unidade Real de Valor], foi definida para o salário mínimo uma política que elevaria seu valor dos R$ 64,79, que seria o valor pela simples conversão, para o equivalente a cem dólares, mas mantendo-se dentro de limites que não prejudicassem os objetivos da estabilização. Após vários estudos, de concreto, resultou, apenas, na elevação de 10% do mínimo, passando para R$ 70,00, mas somente em setembro de 1994.

Quanto às cláusulas de reajuste, no Cruzado os salários estavam protegidos por um gatilho salarial, previsto para quando a inflação acumulada atingisse o limite de 20%, o que veio a acontecer em janeiro de 1987. reticências Os reajustes previstos pela legislação que criou a , determinavam que estes fossem concedidos nas datas-base de cada categoria profissional, assegurando o direito à livre negociação entre patrões e empregados.

O congelamento [de preços, no Plano Cruzado] reticências provocou uma brusca elevação do consumo, principalmente de bens duráveis e alimentos. Com uma oferta pouco elástica, o excesso de demanda desencadeou uma forte crise de abastecimento que resultou na prática de ágio sobre os preços. No Real, não ocorreu o congelamento forçado. Os preços se estabilizaram dentro das regras de mercado de oferta e demanda reticências, ao mesmo tempo em que não ocorreu reajustamento real dos salários e, portanto, não acontecendo a explosão de demanda ocorrida no Cruzado. reticências

Comparando os índices de inflação mensal dos dois planos reticências, ou da inflação acumulada em 12 meses reticências, vemos claramente que o Plano Cruzado, apesar do grande apoio popular, não resistiu às pressões de demanda e a inflação voltou a subir após seis meses do plano, transformando-se num fracasso. Já o Plano Real, com a mudança do regime de política monetária, esta restritiva, com taxas de juros elevadas, foi um sucesso incontestável no que diz respeito a controlar a inflação.”

RAMOS, Fernando Antônio da Cunha. Análise comparativa dos planos Cruzado e Real. 2004. Dissertação (Mestrado em Finanças e Economia Empresarial) – Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2004. página 76-79.

Estatuto da Criança e do Adolescente

A Constituição garantiu uma série de conquistas, mas todas elas precisaram ser regulamentadas para terem efeitos concretos. Uma dessas conquistas foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (éca) promulgado em outubro de 1990.

O Estatuto da Criança e do Adolescente tem como objetivo garantir às crianças e aos adolescentes oportunidades para seu desenvolvimento físico, mental, moral e social, com liberdade e dignidade. Isso significa assegurar à criança e ao adolescente direitos referentes à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à convivência familiar e comunitária, entre outros.

Estatuto da Pessoa Idosa

Promulgado em 2003, o Estatuto da Pessoa Idosa aplica-se às pessoas com 60 anos ou mais, em geral mais vulneráveis que pessoas mais jovens. Ele trata de direitos fundamentais à vida humana, envolvendo questões de família, saúde, discriminação e violência.

Pelo Estatuto, entre outras coisas, as pessoas idosas têm direito a:

  • atendimento preferencial nos serviços públicos e privados que atendem à população;
  • fórmas de convívio com as demais gerações;
  • prioridade no atendimento pela própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto aquelas que não tenham condições de manter a própria sobrevivência;
  • prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.
Fotografia. Em uma via pública, um grupo de pessoas, adultos e crianças, em uma manifestação. Vestindo camisetas brancas, portam uma faixa com um catavento colorido e o texto Escola Estadual Professor Waldemar Ribeiro. Marcha por um Brasil sem trabalho infantil. Hashtag Brasil sem trabalho infantil. Primeiro de março de dois mil e vinte.
Manifestação contra o trabalho infantil em Belém, Pará. Fotografia de 2020. Mesmo proibido por lei, o trabalho infantil ainda persiste na atualidade. Diversos movimentos lutam para combatê-lo e para que os direitos das crianças sejam respeitados.
Fotografia. Uma placa azul contendo uma figura de formas humanas na cor branca e o texto, também na cor branca: “60 mais. Idoso”.  A placa está afixada em uma mureta branca.
Placa de estacionamento exclusivo para pessoas idosas em Londrina, Paraná. Fotografia de 2020. Esse é um dos direitos garantidos pelo Estatuto da Pessoa Idosa, que assegura 5% das vagas nos estacionamentos públicos e privados exclusivamente às pessoas com 60 anos ou mais.

O combate à desigualdade

Um dos grandes desafios do governo federal a partir de 2003 foi retomar o crescimento econômico aliado às ações no campo social, especialmente em áreas como educação, saúde e trabalho. Houve uma diminuição dos índices de desigualdade até 2010, com significativa expansão da classe média. Calcula-se que mais de 30 milhões de pessoas deixaram a faixa da pobreza absoluta.

Entre os fatores responsáveis por essa melhoria, é possível mencionar:

  • os programas de transferência de renda como o Bolsa Família, que beneficiaram milhões de famílias pobres no país;
  • a expansão do acesso à educação em todos os níveis, sobretudo nas universidades;
  • as políticas de ação afirmativa para negros, indígenas e estudantes oriundos de escolas públicas;
  • o aumento do salário mínimo acima dos índices de inflação anual;
  • a queda na taxa de desemprego.

Apesar desses avanços, o Brasil permanece até os tempos atuais como um dos campeões mundiais de desigualdade. O Relatório sobre as desigualdades mundiais, elaborado em 2021 pelo World Inequality Lab (Laboratório da Desigualdade Mundial”), traz alguns dados sobre isso:

  • a parcela de brasileiros mais ricos (10% da população) concentra quase 59% de toda a renda nacional;
  • a renda dos brasileiros mais pobres (metade da população) é quase 30 vezes menor do que a renda dos 10% mais ricos;
  • a metade mais pobre dos brasileiros dispõe de apenas cêrca de 1% da riqueza do país;
  • uma pequena parcela entre os mais ricos (1% da população) é dona de quase metade das propriedades privadas existentes no país.
Fotografia. Sobre uma bancada ampla, dezenas de refeições (com arroz, feijão, purê de batatas e carne com molho) dispostas em recipientes redondos e metálicos. 
Ao fundo, à direita, uma jovem mulher com os cabelos presos está em pé, vestindo um avental escuro, camiseta branca, luvas nas mãos, touca branca em sua cabeça e máscara em seu rosto. Ela segura um recipiente azul com alimento preparado em uma das mãos e uma colher na outra mão, montando uma refeição em um recipiente arredondado e metálico.
Ao fundo, no centro da imagem, vistos de costas, uma mulher e um homem vestindo  aventais escuros dispõem alimentos preparados em recipientes metálicos dispostos em uma grande bancada de metal. No canto esquerdo, caixas de vegetais.
Voluntários preparam refeições para distribuir gratuitamente à população carente na favela Paraisópolis, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2021. Muitas vezes, a sociedade civil organiza ações para combater a fome e a desigualdade de modo voluntário, independente do poder público.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

í bê gê Éeduca

Disponível em: https://oeds.link/9rmTBT. Acesso em: 6 abril 2022.

Portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística com dados sobre o Brasil contemporâneo apresentados em linguagem adequada a jovens.

Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

FERNANDES, Daniela. 4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, segundo relatório. BBC News Brasil, 7 dezembro 2021. Disponível em: https://oeds.link/yY5m4v. Acesso em: 12 junho 2022.

Os dados mencionados nesta página sobre a desigualdade no Brasil, ampliada nos últimos anos, foram extraídos da matéria “4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, segundo relatório”, de Daniela Fernandes, publicada em dezembro de 2021 e que comenta o estudo realizado pelo World Inequality Lab (“Laboratório da Desigualdade Mundial”). Trata-se do segundo relatório feito por essa instituição desde 2018 e que, na edição de 2021, leva em conta o impacto da pandemia de covid-19. O estudo inclui dados sobre desigualdades de gênero, de categorias de renda e ecológicas.

Painel

Diversificação nas artes e na cultura (1985-2022)

Ao longo dos últimos 40 anos, as artes e a cultura se diversificaram. A música popular e as artes plásticas são expressões importantes e revelam essa diversificação.

A música sertaneja, em geral cantada por duplas de homens e que até os anos 1970 era uma manifestação da vida rural, dividia-se entre os chamados “alienados” e os “engajados”, que compunham canções de apôio ou de contestação ao govêrno.

A música sertaneja passou por mudanças sensíveis nos anos 1990 e 2000. Mulheres também começaram a se destacar nesse setor, e o gênero musical popular no meio rural tornou-se um produto de consumo urbano, estimulado pela indústria cultural de massaglossário . Na condição de entretenimento, as letras das canções tratam de temas como ciúmes, amores desfeitos e ostentação de riqueza. Para muitos estudiosos, um produto da indústria cultural de massa não é considerado arte.

Na música, movimentos como o hip hop também ganharam importância nos últimos anos. Expressão de jovens da periferia das grandes cidades, os artistas desse movimento cantam sobre temas da sua realidade social. O hip hop começou a ser praticado no Brasil a partir dos anos 1980, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, sendo bem conhecido antes em comunidades de imigrantes latinos e de afro-americanos de Nova iórque, Estados Unidos.

O hip hop não se limita à música, abrangendo também o rap (rhytm and poetry, ou “ritmo e poesia” em português), fórmas de dança e grafite. Trata-se, portanto, de uma cultura mais ampla do que apenas musical, envolvendo também fórmas literárias, modos de falar (gírias) e de se vestir. Estimuladas pela cultura do hip hop, cresceram no Brasil nos anos 2000 as competições de poetry slam, batalhas artísticas de poesia falada, avaliadas por um júri, em que os jovens da periferia dos centros urbanos versam sobre as adversidades cotidianas e temas sociais diversos, como racismo, desigualdade social e violência, com a elaboração de poesias autorais que tecem críticas sociais.

Fotografia. No centro de um palco iluminado por canhões de luz que emitem luzes amarelas, há um homem em pé, de cabelos crespos, castanhos e curtos, com uma barba cerrada e escura no rosto. Ele usa um par de óculos sobre o rosto e um ramo de arruda atrás da orelha. Veste uma jaqueta aberta colorida estampada com flores e uma camiseta branca. 
Está de olhos fechados, com a boca aberta, um dos braços erguido para o alto; com o outro braço, flexionado junto ao corpo, segura um microfone na frente de seu rosto.
Show do rapper Emicida durante o Festival Turá, na cidade de São Paulo, São Paulo. Fotografia de 2022.
Orientações e sugestões didáticas

Atividade complementar

Que tipo de música vocês gostam de ouvir? Quem são seus artistas preferidos? A partir do conceito de “indústria cultural de massa”, como seu gosto musical seria classificado?

Resposta: A atividade pode ser respondida oralmente e a resposta é pessoal. Os estudantes podem mencionar algum artista sertanejo, de hip hopou de qualquer outro estilo. O texto define “indústria cultural de massa” como um produto que visa apenas ao lucro e que tem a sua classificação como arte questionada por pesquisadores. Os estudantes devem se sentir à vontade para questionar a definição, apresentando seus próprios argumentos a partir de pesquisa em fontes confiáveis, que deverão ser mencionadas.

Outras indicações

NEVES, Cynthia Agra de Bri­to. Slams: letramentos literários de reexistência ao/no mundo contem­porâneo. Linha D’Água (on-line), São Paulo, volume 30, número 2, página 92-112, outubro 2017. Disponível em: https://oeds.link/eC0iNZ. Acesso em: 18 abril 2022.

O artigo traz um aporte teórico sobre o slam, novo fenômeno de poesia oral e performática do mundo contemporâneo.

CALDAS, Waldenyr. Revendo a música sertaneja. Revista Universidade de São Paulo, São Paulo, número 64, página 58-67, dezembro 2005/fevereiro 2006.

Sugerimos a leitura completa desse artigo, que trata de algumas transformações da música sertaneja ao longo do tempo.

O Brasil no cenário internacional

A partir da década de 1990, o Brasil conquistou um papel de liderança na América Latina, sendo detentor do maior Píbi nessa região. No cenário internacional, o país adquiriu influência e consolidou-se entre as dez maiores economias do mundo, destacando-se por sua produção agropecuária, aeronáutica e petroquímica, entre outros setores.

Entre os princípios fundamentais que orientam a política internacional brasileira, segundo a Constituição, destacamos: o respeito pelos direitos humanos (o país é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Organização das Nações Unidas, a Organização das Nações Unidas, em 1948); a solução pacífica dos conflitos; o repúdio ao terrorismo e ao racismo; a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; a concessão de asilo político (acolhimento de cidadãos estrangeiros que fogem de perseguição política) etcétera

Além disso, o Brasil marcou sua presença no cenário internacional por meio da:

  • participação no Mercosul, um bloco intergovernamental fundado em 1991, que visa à integração econômica de países da América do Sul. Entre os membros plenos, estão Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai;
  • participação no gê vinte, grupo formado pelos governos e chefes dos bancos centrais das maiores economias do mundo, criado em 1999 com o objetivo de promover a estabilidade econômica mundial;
  • associação a um grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China, criado em 2009 a fim de estabelecer cooperação econômica, científica e tecnológica entre esses países. Com o ingresso da África do Sul em 2011, o grupo passou a se chamar Brics.
  • liderança da missão da Organização das Nações Unidas no Haiti, com a participação das fôrças armadas na reconstrução do país após o terremoto ali ocorrido em 2010;
  • parceria com governos africanos para possibilitar o uso de novas tecnologias agrícolas naquele continente;
  • implantação de programas que levaram milhares de estudantes de universidades brasileiras ao exterior para estudar, bem como trouxeram estudantes da África e da América Latina para se formarem em universidades brasileiras, até 2016.

Essas ações são exemplos de como a política externa teve efeitos sobre a vida social, cultural e econômica dos brasileiros.

Fotografia. Sobre um palanque azul, três fileiras de pessoas em pé. Elas estão dispostas em duplas e há dezenas de duplas. Cada dupla é composta por uma pessoa usando um uniforme médico, como um avental branco ou um uniforme vermelho de paramédico, e máscara de proteção sobre o rosto, e outra pessoa vestindo terno e gravata, caso da maioria dos homens, ou outro traje formal, caso das mulheres e de alguns homens. Ao fundo, um painel branco com o texto, originalmente em inglês: 'G20. Itália, 2021. Pessoas, Planeta. Prosperidade'. Logo abaixo, dezenas de bandeiras.
Reunião do gê vinte, em Roma, Itália. Fotografia de 2021. Temas econômicos, sociais e climáticos foram discutidos nesse evento.
Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

O texto “O Brasil no cenário internacional” favorece o desenvolvimento da habilidade ê éfe zero nove agá ih dois sete, na medida em que relaciona as mudanças econômicas, culturais e sociais ocorridas no Brasil a partir de 1990 ao papel que o país passa a desempenhar no mundo globalizado.

Violência social e luta por direitos

Ao longo da história do Brasil, vários grupos sociais foram excluídos do poder (político, econômico e ideológico). Entre os excluídos, estão negros, povos originários, mulheres, homossexuais, camponeses e pobres.

Esses grupos sociais sofreram diversos tipos de violência, provocados, em grande medida, por preconceitos e estereótipos relacionados a cor, etnia, gênero, orientação sexual, ocupação e classe social. Além disso, durante muito tempo, foram impedidos de participar da política e usufruir de uma educação de qualidade.

Apesar das dificuldades, grupos historicamente marginalizados lutam pela democratização do poder, buscando por meio de movimentos sociais a superação da violência e a ampliação de seus direitos. Como resultado, os governos têm criado leis e implementado ações afirmativas.

As ações afirmativas são um conjunto de políticas que têm como objetivo combater as discriminações e compensar os danos provocados por injustiças sociais construídas historicamente. Alguns exemplos de ações afirmativas são a demarcação de terras indígenas, a criação de cotas para pessoas negras nas universidades públicas e a criação de cotas para mulheres nas candidaturas partidárias.

Fotografia. Em uma via pública, uma multidão de pessoas em manifestação, portando cartazes e faixas, com destaque para o texto: 'Vidas negras importam'.
Protesto antirracista em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Fotografia de 2020. Em 20 de novembro desse ano, ocorreram protestos antirracistas em muitas cidades brasileiras. O estopim foi o espancamento e morte por asfixia do soldador negro João Alberto Silveira Freitas por seguranças de um supermercado.
Ícone. Ponto seguido de dois arcos inclinados à direita indicando o boxe Dica: internet.

dica internet

Blog do – Instituto Brasileiro de Economia

Disponível em: https://oeds.link/wM1mnp. Acesso em: 6 abril 2022.

Acompanha a retomada da economia mundial após a pandemia de covid-19 e situa o Brasil nesse cenário.

Orientações e sugestões didáticas

Outras indicações

FERES JÚNIOR, João . Ação afirmativa: conceito, história e debates. Rio de Janeiro: , 2018.

A obra apresenta um panorama com diferentes discussões a respeito das ações afirmativas.

CERQUEIRA, Daniel . (organizador). Atlas da violência 2021. São Paulo: , 2021. Disponível em: https://oeds.link/7eJAzC. Acesso em: 29 julho 2022.

Relatório promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (ipéa) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (éfe bê ésse pê), com a parceria do Instituto Jones dos Santos Neves (i jota ésse êne), reunindo diferentes dados sobre os índices de violência no Brasil.

Desafios éticos

De acordo com a Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei”. Entretanto, na vida cotidiana observa-se outra realidade. As pessoas são tratadas de fórma diferente dependendo, por exemplo, de sua renda ou de seu poder econômico.

Assim, muitos cidadãos brasileiros não usufruem de direitos fundamentais, como frequentar escolas de qualidade, ter acesso a bons serviços de saúde, moradia, segurança pública e justiça. Além disso, muitos são discriminados por motivos relacionados a cor, orientação sexual ou religião.

A transformação do Brasil em um país mais democrático requer ações em vários níveis. Há tarefas que cabem ao Estado e outras, aos cidadãos. O fato é que também precisamos mudar nossas próprias atitudes em prol da construção do bem coletivo e de uma sociedade mais ética.

Quadrinho em preto e branco. História contada em quatro quadros. Um menino de cabelos escuros, curtos e espetados para o alto, vestindo um avental de mangas compridas com um bolso na lateral, um lápis no bolso, uma camisa branca e uma bermuda escura: Manolito. 
Uma menina de cabelos escuros na altura do ombro, volumosos, enfeitados por um laço no topo da cabeça, trajando um vestido estampado com gola branca e botões: Mafalda.
Quadro 1. Manolito observa dois homens adultos, caminhando lado a lado, vestidos com casacos escuros, camisa clara, gravata, calças compridas. Um deles tem cabelos lisos e curtos, o outro é calvo. Balão de fala do primeiro homem: 'Tomara!', e o outro, também com um balão de fala: 'É, tomara!'. 
Quadro 2. Manolito e Mafalda caminhando lado a lado. Manolito com o balão de fala: 'As pessoas esperam que o ano que está começando seja melhor que o anterior'. 
Quadro 3. Mafalda e o Manolito, caminhando em uma calçada diante de um tapume.
Quadro 4. Mafalda, frente a frente com Manolito. Mafalda com um balão de fala: 'Aposto que o ano que está começando espera que as pessoas é que sejam melhores'.
Mafalda, tirinha de Quino, 1991.
Fotografia. Junto à uma barreira de pedras diante do mar, um grupo de pessoas sobre as rochas, usando luvas de proteção compridas, recolhem o óleo concentrado em uma mancha marrom sobre as águas verdes. Elas depositam o material em baldes de plástico reutilizado. Algumas pessoas usam máscaras sobre seus rostos.
Voluntários recolhem óleo que atingiu a Praia do Janga, em Paulista, Pernambuco. Fotografia de 2019. Essa e outras praias do litoral brasileiro foram atingidas pelo vazamento de um navio petroleiro. A imagem retrata o empenho da população para amenizar os efeitos desse vazamento, considerado um dos maiores desastres ambientais do Brasil.
Orientações e sugestões didáticas

Texto de aprofundamento

Leia o trecho a seguir, que trata da promoção dos direitos humanos após o fim do regime civil-militar e os seus desafios.

Direitos humanos e democracia

“A derrocada do regime militar no Brasil anunciou as perspectivas de uma nova leitura da realidade social que incluiria a promoção dos direitos humanos em meio ao contexto democrático. Não restam dúvidas que consideráveis avanços ocorreram no sentido de garantir à população boa parte dos direitos que foram usurpados no período anterior. reticências

Entretanto, as iniciativas tomadas por parte do Estado foram insuficientes para proporcionar segurança a parcelas imensas da população; muitas pessoas permanecem em condições de fragilidade diante de um quadro de desigualdades complementado pela violência empreendida por agentes sociais ligados ou não ao Estado. reticências

De toda fórma, a democracia não é um valor isolado e completo reticências. A possibilidade de não estar submetidos às graves violações de direitos humanos depende de sua efetivação, seja na agenda política governamental, seja nas ações promovidas pela sociedade civil. Neste sentido, o diálogo entre ambas as instâncias se fez bastante produtivo para definir os principais objetivos, articular medidas e soluções e construir uma cultura dos direitos humanos sólida e eficaz.”

TSUNODA, Fábio Silva; BORGES, Débora Cristiane de Almeida. Direitos humanos e democracia no Brasil, perspectivas para a segurança pública. In: SOUZA, Luis A. F. (organizador). Políticas de segurança pública no estado de São Paulo: situações e perspectivas a partir das pesquisas do Observatório de Segurança Pública da . São Paulo: Editora /Cultura Acadêmica, 2009. página 63-64.

Outras Histórias

As lutas das mulheres no século vinte e um

Feminismo é o movimento social e político que defende a construção da igualdade entre homens e mulheres. Esse movimento é antigo e, no século vinte e um, ampliou sua influência na luta pela igualdade de gênero. Leia, a seguir, um texto sobre as lutas das mulheres por direitos.

“No fim do século dezenove e início do século vinte reticências, mulheres se juntaram para reivindicar pautas como o direito ao voto. Em geral, eram brancas e de classe alta. Concomitantemente, mulheres trabalhadoras e de etnias não brancas, inicialmente não identificadas como feministas, também se organizavam por direitos, reivindicando pautas ligadas às suas realidades. No decorrer do século vinte, esses grupos tensionaram a agenda dominante do feminismo.

No século vinte e um, o movimento ganhou fôlego renovado em várias partes do mundo, ampliando seu alcance por meio da internet e colocando em prática novas fórmas de mobilização e organização reticências.

Com protestos nas ruas, campanhas nas redes sociais, novos coletivos organizados por mulheres jovens reticências a partir dos anos 2010, muitos têm anunciado a chegada de uma nova onda feminista reticências. Em 2015, as brasileiras foram às ruas em várias cidades brasileiras em um movimento que ficou conhecido como Primavera Feminista.

reticências Desde o surgimento do feminismo moderno, o movimento obteve uma série de conquistas concretas que têm impacto sobre a vida e a autonomia de mulheres ao redor do mundo.

reticências No Brasil, a Lei Maria da Penha, de 2006, de combate à violência doméstica, a Lei do Feminicídio, de 2015, que agrava a pena de assassinatos cometidos com motivação ligada ao gênero, e a Lei de Importunação Sexual, de 2018, que trata do abuso sexual e da divulgação de imagens íntimas, foram resultado de mobilizações históricas do movimento feminista brasileiro reticências.”

LIMA, Juliana Domingos de. Feminismo: origens, conquistas e desafios no século 21. Nexo, 7 março 2020. Disponível em: https://oeds.link/wEk4gt . Acesso em: 12 junho 2022.

Capa de livro. Destaque para o retrato em preto e branco de uma mulher com cabelos escuros, crespos e volumosos. Em uma tarja cor de vinho na lateral da capa, o título: 'Empoderamento'; o nome da coleção 'Feminismos plurai' e o nome da autora 'Joice Berth'.
Capa do livro Empoderamento, de Joice Berth. Nesse livro, a autora reflete sobre o lugar da mulher negra na sociedade brasileira e defende que o empoderamento deve buscar mudanças na estrutura das relações de poder.
Ícone. Atividade oral.

responda oralmente

Atividade

Que atitudes cotidianas você toma para promover a igualdade entre homens e mulheres? Debata o assunto com os colegas.

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

A seção “Outras histórias” intitulada “As lutas das mulheres no século vinte e um” e o trecho do livro de Chima­manda Ngozi Adichie, destacado abaixo, no item “Texto de aprofundamento”, estão em sintonia com o tema contemporâ­neo transversal Educação em direitos humanos, na medida em que abordam conquistas femininas e violências contra as mulheres no mundo contemporâneo.

Outras histórias

Espera-se que os estudantes, independentemente do gênero, tenham em mente a necessidade de reconhecer a igualdade entre homens e mulheres de qualquer idade. Sendo jovens, começam a enfrentar e a compreender os problemas decorrentes da desigualdade ainda reinante. A atividade pode ser respondida por meio de relatos orais, valorizando, por exemplo, a divisão de tarefas domésticas, o abandono do uso da fôrça para fazer valer suas vontades, a denúncia de situações de assédio e/ou violência de qualquer tipo contra mulheres .

Texto de aprofundamento

A seguir, leia um trecho de um livro da escritora nigeriana chimamanda nigôzi adíchiê, em que ela explica o uso do termo “feminista”.

“Algumas pessoas me perguntam: ‘Por que usar a palavra ‘feminista’? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?’. Porque isso seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma fórma geral – mas escolher uma expressão vaga como ‘direitos humanos’ é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres.”

Adichie, chimamanda nigozi. Sejamos todos feministas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. página 18. E-book

Oficina de história

Responda no caderno

Conferir e refletir

  1. O que o movimento Diretas Já! representou para o processo de redemocratização do Brasil?
  2. Este capítulo apresenta exemplos de conquistas democráticas da sociedade brasileira, como as promulgações da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Estatuto da Pessoa Idosa, além das lutas de indígenas, mulheres e jovens. Formem grupos e escolham um desses temas contemporâneos para elaborar um podcast. O professor vai orientá-los sobre as etapas de produção: roteiro, ensaio, gravação, edição e publicação. 
  3. No debate democrático contemporâneo, são muitos os caminhos apontados para melhorar a distribuição de renda no país. Pesquise o assunto e apresente ideias sobre o tema.

integrar com Língua Portuguesa

4. Na Língua Portuguesa podemos utilizar siglas e abreviaturas para reduzir o tamanho de palavras. Esse recurso é utilizado no cotidiano e também neste livro. Conheça alguns exemplos.

Siglas

Abreviaturas

BR

a.C.

EUA

d.C.

Funai

etc.

IBGE

n. ou

ONG

obs.

ONU

p. ou pág.

Unesco

Prof. ou Profa.

URSS

séc.

  1. Você conhece o significado dessas siglas e abreviaturas? Se não conhece, faça uma pesquisa.
  2. Crie uma frase sobre um dos assuntos abordados no capítulo utilizando uma sigla ou abreviatura.
  3. Reduzir o tamanho de palavras pode nos ajudar a economizar tempo e espaço. Atualmente, esse recurso é muito utilizado por usuários da internet. No seu cotidiano, você costuma reduzir palavras? Em sua opinião, esse recurso facilita a comunicação? Explique.

integrar com Língua Portuguesa e arte

5. Slams são competições ou batalhas de poesias faladas que abordam criticamente temas cotidianos e questões sociais diversas. Agora, organizem-se em grupos e produzam de fórma colaborativa uma poesia slam sobre o tema “Desafios éticos do século vinte e um”. Depois, gravem, se possível, essa produção textual utilizando um gravador ou um smartphone e compartilhem o resultado com os colegas pelas redes sociais, com a supervisão do professor. As poesias também podem ser

Orientações e sugestões didáticas

Alerta ao professor

Esta seção favorece o desenvolvimento das seguintes competências da Bê êne cê cê:

  • cê gê um (atividades 1, 2, 5 e 6);
  • cê gê três (atividades 5 e 6);
  • cê gê quatro (atividades 4 e 5);
  • cê gê cinco (atividades 2 e 5);
  • cê gê sete (atividades 2, 5 e 6);
  • cê gê nove (atividades 2, 5 e 6);
  • cê ê cê agá um (atividades 2, 3, 5 e 6);
  • cê ê cê agá dois (atividades 2, 5 e 6);
  • cê ê cê agá seis (atividades 5 e 6);
  • cê ê agá um (atividades 1, 2, 3, 5 e 6);
  • cê ê agá dois (atividade 1);
  • cê ê agá três (atividades 2 e 5);
  • cê ê agá sete (atividades 2 e 5).

Oficina de História

Conferir e refletir

  1. O movimento Diretas Já! exigia a eleição de um novo presidente da república por meio do voto direto. A campanha representou um passo importante no processo de redemocratização.
  2. Esta atividade favorece o trabalho com os temas contemporâneos transversais Educação em direitos humanos, Direitos da criança e do adolescente e Processo de en­velhecimento, respeito e valori­zação do idoso, na medida em que os temas sugeridos para o póde kést abrangem conquistas sociais das mulheres, crianças, adolescentes, idosos e indígenas. Para produzir um podcast, os estudantes devem: estipular as tarefas de cada membro do grupo, escolher o tema e o formato (entrevista, debate, monólogo etcétera), elaborar um roteiro, ensaiar, gravar, editar (cortar trechos, inserir efeitos sonoros etcétera) e, por fim, publicar suas produções em uma mídia social, sob a supervisão do professor. Caso os estudantes não tenham acesso a dispositivos digitais e/ou à internet, eles podem produzir um podcast ao vivo, a ser apresentado durante as aulas. Com exceção da gravação, edição e publicação, o podcast off-line poderá ser produzido a partir das mesmas orientações apontadas anteriormente.
  3. Resposta pessoal, em parte. Entre as medidas que podem melhorar a distribuição de renda no Brasil estão: a erradicação da pobreza; o enfrentamento do racismo, do machismo e de outras fórmas de preconceito; investimentos em educação, saúde, moradia, transporte, lazer e outros direitos sociais; e a oferta de trabalhos dignos.
  4. Atividade interdisciplinar com Língua Portuguesa.
    1. As siglas costumam apresentar os seguintes significados: Bê érre (Brasil), ê u á (Estados Unidos da América), Funai (Fundação Nacional do Índio), í bê gê É (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ó êne gê (Organização Não Governamental), o êne u (Organização das Nações Unidas), Unesco (em português, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e u érre ésse ésse (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Já as abreviaturas significam, geralmente: a cê (antes de Cristo), dê cê (depois de Cristo), etcétera (et coetera, em português, “e outras coisas”), êne ponto ou êneº (número), ó bê ésse ponto (observação), pê ponto ou pê á gê (página), pê erre ô efê ou pê erre ô efê á (professor ou professora) e ésse é cê (século).
    2. Resposta pessoal.
    3. Resposta pessoal. Tema para reflexão e debate sobre a historicidade das línguas e das fórmas de expressão escritas orais. Ressalte que as siglas e as abreviaturas possibilitam economizar tempo na leitura e escrita, mas seu uso não deve prejudicar a compreensão do leitor. Segundo o gramático Evanildo Bechara, devemos ser poliglotas em nossa própria língua. Isso significa que é preciso valorizar os diferentes modos de se comunicar e usar adequadamente a linguagem em diferentes contextos.
  5. Atividade interdisciplinar com Língua Portuguesa e Arte. Os estudantes podem destacar temas como o racismo, a violência, o sexismo, as questões ambientais e a desigualdade social para desenvolver as poesias slams, entre outras questões que considerem importantes. Ressalte que o slam é um gênero que faz uso constante de rimas e tece críticas a assuntos sociais diversos. Caso considere pertinente, indique aos estudantes ou apresente em sala de aula vídeos de batalhas de slam antes do início da produção textual. A atividade também pode ser desenvolvida de fórma integrada com os professores de Língua Portuguesa e de Arte. É importante que os estudantes se sintam à vontade para expor suas opiniões durante a atividade, promovendo um debate pautado na empatia e no respeito.

apresentadas em sala de aula por meio de uma batalha de slam entre os grupos. Ao final da atividade, debatam a seguinte questão: como promover atitudes éticas e gerar impactos sociais positivos no mundo contemporâneo? No debate, argumentem com base nas questões apresentadas na poesia slam de cada grupo. 

Interpretar texto e imagem

6. Leia um trecho da letra da música Cota não é esmola, da cantora e compositora brasileira Bia Ferreira. Em seguida, responda às questões. Lembre-se de que o objetivo da análise de um texto é compreendê-lo, decifrá-lo, e não necessariamente concordar com sua mensagem.

Cota não é esmola

Existe muita coisa que não te disseram na escola

Cota não é esmola

Experimenta nascer preto na favela, pra você ver

O que rola com preto e pobre não aparece na TV

Opressão, humilhação, preconceito

A gente sabe como termina quando começa desse jeito

Desde pequena fazendo o corre pra ajudar os pais

Cuida de criança, limpa a casa, outras coisas mais

Deu meio-dia, toma banho, vai pra escola a pé

Não tem dinheiro pro busão

Sua mãe usou mais cedo pra correr comprar o pão reticências .

COTA não é esmola. Intérprete: Bia Ferreira. Compositora: Bia Ferreira. [sem local]: Altafonte (Brasil), 2019. Plataformas digitais, faixa 4.

  1. O verso “Existe muita coisa que não te disseram na escola” parece pressupor que a escola só ensina assuntos oficiais, que representam o pensamento dominante, sem desenvolver o senso crítico. Você concorda com essa ideia? Argumente com base nas suas vivências escolares.
  2. Como você interpreta o título da canção: “Cota não é esmola”? Pesquise os efeitos das cotas voltadas para pessoas negras, pobres e indígenas no Brasil, principalmente no acesso à educação pública.
  3. Os versos “Experimenta nascer preto na favela, pra você ver/O que rola com preto e pobre não aparece na TV” estabelecem uma distinção entre o que acontece na realidade com os negros e aquilo que é veiculado pela televisão. Em sua opinião, essa distinção ocorre? Ou você percebe que houve mudanças nos programas de televisão para representar a realidade dos negros no Brasil? Comente.
  4. Com base nos versos “Opressão, humilhação, preconceito/A gente sabe como termina quando começa desse jeito”, dê exemplos de “como as coisas terminam” para muitos negros brasileiros vitimados pelo racismo.
Orientações e sugestões didáticas

Interpretar texto e imagem

6. a) O verso deve ser tema de discussão, pois pressupõe que escola é uma agência transmissora do saber instituído pelas classes dominantes. Se essa realidade existe em parte, não é correto generalizá-la. Várias escolas brasileiras se empenham no desenvolvimento do pensamento crítico, criativo, autônomo e propositivo, que leva os estudantes a lutar por conquistas democráticas e pelo exercício pleno da cidadania. Uma pequena prova disso é o fato de apresentarmos essa letra no livro didático para ser discutida na escola.

  1. As cotas raciais, sociais e étnicas apresentaram resultados positivos no Brasil, promovendo a inclusão de pessoas negras, pobres e indígenas nas universidades públicas. Sugerimos a leitura de uma matéria da Agência Brasileira de Comunicações intitulada “Cotas foram revolução silenciosa no Brasil, afirma especialista”. Disponível em: https://oeds.link/mMjXZL. Acesso em: 12 maio 2022.
  2. Resposta pessoal, em parte. Os versos estabelecem uma distinção entre aquilo que é vivido e experimentado pelos negros e aquilo que é veiculado, de modo geral, pela televisão e por outros meios de comunicação. Comente que, com frequência, há uma distância entre a realidade vivenciada e veiculada para escamotear a crueldade do racismo estrutural. Porém, percebe-se atualmente um esforço dos veículos de comunicação para combater o racismo e inserir negros em sua programação, nas mais variadas posições. 
  3. De modo geral, nas relações sociais marcadas pela opressão, humilhação e preconceitos, os negros sofrem com violência policial, poucas oportunidades de trabalho, empregos subalternos, pobreza etcétera

Glossário

Privatização
: processo de venda de uma empresa ou instituição do setor público para o setor privado.
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Produto Interno Bruto (PIB)
: soma de todos os bens e serviços produzidos em um ano por um país, estado ou cidade. Neste caso, os dados referem-se ao Brasil.
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Indústria cultural de massa
: aquela que é produzida em larga escala e promove o lucro por meio dos produtos culturais, muitas vezes manipulando os consumidores.
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