UNIDADE 4 RÚSSIA E CEI
Nesta Unidade, vamos conhecer a transição do Império Russo à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas () u érre ésse ésse e, em seguida, o processo de desagregação da União Soviética e a formação da Comunidade dos Estados Independentes ( sei). Estudaremos alguns conflitos territoriais e de nacionalidades no conjunto dos países da sei, que constituem um forte elemento de instabilidade político-social, além de características populacionais e econômicas desse conjunto de países. Por fim, estudaremos a perda de hegemonia da Rússia sobre algumas regiões e o uso político que esse país faz de sua condição de grande fornecedor de petróleo e gás natural para a Europa e para a sei.
sei: países-membros – 2022
Fontes: elaborado com base em FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 98; CISSTAT. Interstate statistical committee of the Commonwealth of Independent States. Disponível em: https://oeds.link/7nt5Zz. Acesso em: 17 março 2022.
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PERCURSO 13 DO IMPÉRIO RUSSO À CEI: MOVIMENTO DE FRONTEIRAS
1. Do Império Russo à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas () u érre ésse ésse
Entre os séculos quinze e dezoito, enquanto alguns países europeus (Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Países Baixos) realizavam a expansão marítimo‑comercial, fundando colônias na América e feitorias ou entrepostos comerciais na África e na Ásia, o Império Russo se expandia territorialmente em direção ao leste. Ultrapassando os Montes Urais, conquistou, no século dezessete, vastas extensões da Ásia, como a Sibéria Ocidental, a Central e a Oriental, entre outras regiões. Assim, o império, nascido na Idade Média da união de vários principados, expandiu‑se consideravelmente para formar o país de maior extensão territorial do mundo, com terras tanto na Europa quanto na Ásia – Rússia europeia e Rússia asiática (observe o mapa).
No século dezenove, assim como Estados Unidos, Japão, França, Alemanha, Bélgica e outros, a Rússia deu início à sua Revolução Industrial e passou a usar o poder econômico para exercer o neocolonialismoglossário e o imperialismo, nos moldes de outras potências. Em um curto período, várias regiões foram anexadas ao já imenso território: na Ásia Central, Cazaquistão e Turcomenistão; no extremo leste da Ásia, foi fundada, em 1860, vládivostók, importante porto marítimo e base militar naval russa.
Império Russo: expansão territorial – 1462-1914
Fonte: elaborado com base em FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2019. página 98.
PAUSA PARA O CINEMA
Arca russa.
Direção: álekssander. Rússia/Alemanha: The State Hermitage Museum, 2002. Duração: 97 minutos
O filme conta a história da Rússia do século dezoito até a atualidade, a partir do encontro entre um diplomata francês e um cineasta russo.
Para assegurar a posse e facilitar o povoamento e a exploração econômica das áreas conquistadas, o Império Russo construiu as ferrovias Transcaucasiana (1883-1886) e Transiberiana (1891-1904). A primeira ferrovia parte de Moscou e une localidades às margens do Mar Negro e do Mar Cáspio; a segunda também sai de Moscou, atravessa a Sibéria e termina em Vladivostok, no litoral do Oceano Pacífico. Além de integrar as vastas regiões, as ferrovias permitiram que o poder central russo tivesse maior contrôle do território e da população.
• A formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a expansão territorial
Apesar das transformações econômicas ocorridas durante a Revolução Industrial Russa no século dezenove, o país chegou ao século vinte com graves problemas sociais e políticos. No campo, as relações de trabalho permaneciam embasadas no modêlo feudal e semifeudal, submetendo os camponeses a uma situação de vida precária. Nos centros urbanos, as indústrias se multiplicavam, mas os operários viviam em condições desumanas por causa dos baixos salários e das prolongadas jornadas de trabalho.
Esses fatos provocaram ao descontentamento da população com o regime monárquico. Greves e insurreições populares culminaram com a derrubada do czarglossário Nicolau , em março de 1917. O segundo govêrno monárquico foi então substituído pelos socialistas moderados (mencheviques), que instauraram uma república parlamentar. Entretanto, ao insistir na participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os mencheviques perderam o apôio da população, já que a guerra causava prejuízos econômicos e sociais ao país. Isso abriu caminho para os socialistas radicais (bolcheviques), que, liderados por Lênin, tomaram o poder em outubro de 1917.
pausa para o cinema
Doutor Jivago.
Direção: . Estados Unidos/Reino Unido: deivid lian Métro-gold uín máier (), 1965. Duração: 201 ême gê ême . minutos
O filme apresenta uma conturbada história de amor que tem como pano de fundo a Revolução Russa de 1917, levando o espectador a perceber as grandes mudanças sociais que ocorreram na época.
Progressão da expansão territorial
Entre os anos 1918 e 1921, o país envolveu‑se em uma guerra civil: czaristas, mencheviques, grupos étnicos não russos e fôrças armadas estrangeiras se opunham ao novo govêrno bolchevique. Entretanto, os grupos de oposição foram derrotados pelos governantes, que, em 1922, criaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas ( u érre ésse ésse), também conhecida como União Soviética, herdando os vastos territórios conquistados pelo Império Russo.
Durante a Segunda Guerra Mundial e depois desse período, a União Soviética deu continuidade à expansão territorial, anexando mais .500000 quilômetros quadrados. Na Europa, as anexações compreenderam partes dos territórios da Finlândia, da Alemanha, da Polônia, da Romênia e da Tchecoslováquia (que abrangia os territórios atuais da República Tcheca e da Eslováquia), além de Estônia, Lituânia e Letônia.
Assim, em 1945, o vasto território da União Soviética abrangia ..22400000 quilômetros quadrados – cêrca de duas vezes e meia o território brasileiro – e estava politicamente dividido em 15 repúblicas federadas, unidas por um govêrno central sediado em Moscou.
União Soviética: divisão política até 1991
Fonte: elaborado com base em FERREIRA, Graça M. L. Moderno atlas geográfico. São Paulo: Moderna, 1992. página 17 e 19.
Cite as repúblicas soviéticas que faziam fronteira com a Rússia até 1991.
2. A economia soviética
• A passagem do capitalismo para o socialismo
A partir de outubro de 1917, o partido bolchevique, posteriormente transformado no Partido Comunista da União Soviética ( pê cê ú ésse), iniciou profundas reformas econômicas, políticas e sociais segundo os princípios do socialismo: aboliu a grande propriedade rural sem indenização por parte do Estado, permitindo a existência das pequenas e médias propriedades até os primeiros anos da década de 1930, quando se deu a total apropriação das terras pelo Estado; estatizou as indústrias e os serviços (saúde, educação, transporte, comércio etcétera); introduziu a planificação estatal, ou seja, os diversos setores da produção foram submetidos a órgãos centrais de planejamento do Estado, que elaboravam os planos de produção.
pausa para o cinema
sâncháine: o despertar de um século.
Direção: . Alemanha/Áustria/Canadá/Hungria: Alliance Atlantis Communications, 1999. Duração: 180 . minutos
História de três gerações de uma família húngara de origem judaica, no período que se estende desde a invasão da Hungria pelos nazistas, na Segunda Guerra Mundial, até o legado comunista do pós‑guerra.
No plano político, o Estado proibiu a existência de outros partidos, inaugurando o monopartidarismo exercido pelo pê cê ú ésse; no plano social, proibiu manifestações populares e a liberdade de expressão. Instalou-se, assim, o Estado ditatorial, que passou a caracterizar o socialismo realglossário .
• O desenvolvimento econômico
O planejamento central da economia soviética deu prioridade aos setores industriais de bens de produção e indústrias de base, à exploração de recursos minerais e ao aproveitamento do potencial hidrelétrico do país. O subsolo russo, rico em recursos minerais e energéticos, foi muito importante para dar suporte à industrialização, que tinha por base planos quinquenais elaborados pelo govêrno.
União Soviética: regiões industriais
Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Moderno atlas geográfico. São Paulo: Moderna, 1992. página 30.
No curto espaço de 12 anos – entre 1928 e 1940 –, a União Soviética conheceu um grande desenvolvimento industrial: de quinto país mais industrializado, no início do século vinte, passou para terceiro em 1940, perdendo somente para os Estados Unidos e a Alemanha.
Após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética já era a segunda maior potência militar do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Havia desenvolvido armas nucleares e mantinha poderosas fôrças militares, contrabalançando o poder estadunidense durante a Guerra Fria. A ênfase dada às indústrias de bens de produção e de base em detrimento da indústria de bens de consumo era explicada pelos dirigentes soviéticos como uma necessidade estratégica. Além de proporcionar fôrça e prestígio ao novo regime, permitia enfrentar ameaças externas e servir às pretensões geopolíticas do Estado soviético.
3. Da União Soviética à sei
Vários acontecimentos antecederam a desagregação da União Soviética e a formação da Comunidade dos Estados Independentes ( sei). A partir de agora, você vai entender como isso aconteceu.
• Os sinais da crise da superpotência
A prioridade dada aos setores industriais de bens de produção e de base, e principalmente à indústria bélica, criou um acentuado descompasso em relação ao setor industrial de bens de consumo. Grande parte da população soviética mostrava descontentamento com a falta de produtos, como roupas, geladeiras, televisores, automóveis etcétera Além disso, os gêneros de primeira necessidade (carne, trigo, leite, açúcar etcétera) eram escassos e faltavam moradias para a população.
Havia também insatisfação popular em relação à falta de liberdade de expressão na imprensa, no teatro, no cinema, na televisão, nas escolas, nas ruas e à falta de liberdade de associação em sindicatos e em partidos políticos (como estudado, era permitida apenas a existência do pê cê ú ésse).
Além disso, a economia soviética começou a dar sinais de esgotamento a partir dos anos 1970. Os grandes investimentos financeiros nas indústrias bélica e aeroespacial, a manutenção das tropas militares do Pacto de Varsóviaglossário , os auxílios destinados aos países socialistas, o grande número de burocratas no aparelho estatal e a consequente despesa para o pagamento de salários, além de outras causas, abalaram seriamente a economia soviética.
• A Era Gorbatchóvi
Em março de 1985, após a morte de constântín tchernênko, micaíl gorbatchóv foi escolhido para ser o secretário‑geral do pê cê ú ésse, o mais alto cargo na estrutura política e governamental do país.
Gorbatchóvi assumiu em meio a uma profunda crise; a economia estava estagnada havia anos e a população se mostrava descontente. Dessa fórma, ao perceber que o povo o apoiaria em reformas políticas e econômicas, Gorbatchóvi e sua equipe anunciaram planos de govêrno com base na glasnóst e na perestroika.
A glasnóst (cuja tradução é “transparência”) correspondia ao plano de reformas nas instituições políticas que previa a abertura política e a introdução do multipartidarismo.
A perestroika (cuja tradução é “reestruturação”) se referia às reformas econômicas: fim do planejamento central, introdução de princípios de economia de mercado, redução de gastos militares e outras iniciativas reformistas.
O impacto das reformas
Com a implantação da glasnóst e da perestroika, tiveram início três grandes movimentos. O primeiro – movimento de contestação aos regimes comunistas – dizia respeito ao desejo de independência dos países socialistas do Leste Europeu, que, com o afrouxamento das relações de contrôle da União Soviética, iniciaram a derrubada de governos comunistas locais e convocaram eleições livres, iniciando a passagem do socialismo autoritário para o regime democrático. Isso ocorreu na Bulgária em 1988, na Polônia, na Hungria, na Alemanha Oriental e na Romênia em 1989, na Tchecoslováquia em 1990 e na Albânia em 1991.
O segundo – movimento dos ultrarreformistas da União Soviética –, ocorrido a partir de 1991 e liderado por Boris iéltissin, então presidente da República Russa, mostrava‑se defensor do fim do regime socialista e da integração do país ao capitalismo, além de ser favorável à independência política das 15 repúblicas soviéticas.
Por fim, o terceiro – movimento de grupos conservadores do pê cê ú ésse – desejava impedir as reformas de Gorbatchóvi e a manutenção do status quoglossário . Assim, os grupos que faziam parte desse movimento tentaram um golpe de Estado, em agosto de 1991, para destituir Gorbatchóvi, mas não obtiveram sucesso.
Do confronto entre esses três movimentos existentes na União Soviética em 1991, saiu vencedor o dos ultrarreformistas, liderado por Boris iéltissin. É importante destacar a participação popular e a realização de diversas manifestações durante todo esse processo.
• A criação da sei
Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus assinaram um documento que formalizava a criação da Comunidade dos Estados Independentes ( sei). Em 21 de dezembro do mesmo ano, com a adesão de outras repúblicas, a criação da sei foi oficializada na cidade de Alma Ata, atual almáti, no Cazaquistão.
Diante desses acontecimentos, não restou a Gorbatchóvi outra saída, senão a renúncia. Em 25 de dezembro de 1991, Gorbatchóvi comunicou seu afastamento. Foi o fim da União Soviética e do tipo de socialismo ali implantado desde 1917. Tal processo deu origem a 15 novos países independentes, dos quais 12 passaram a integrar a sei (assunto que será tratado no próximo Percurso). Quanto às fronteiras dos novos países, foram mantidas as que vigoravam entre as ex-repúblicas soviéticas.
PERCURSO 14 A COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES
1. A sei
A Comunidade dos Estados Independentes ( sei) é uma organização supranacional – que extrapola as fronteiras nacionais – criada para implantar um mercado econômico comum e promover relações de cooperação entre os países‑membros. Não tem instituições políticas permanentes nem parlamento como a União Europeia; as decisões internas resultam de reuniões periódicas dos chefes de Estado que a compõem. A Rússia, por sua importância política, militar e econômica, desempenha o papel de país central da sei.
Quando a União Soviética se fragmentou, a formação da sei revelou‑se como condição estratégica para a Rússia, que tinha interesse em manter relações amistosas com os países‑membros dessa organização por diversos motivos. Entre eles, assegurar a influência nessa vasta região e garantir o funcionamento dos oleodutos e dos gasodutos que atravessam vários países da organização, transportando as imensas riquezas de petróleo e de gás natural extraídas do subsolo russo. Além de abastecer os países vizinhos, essas fontes de energia destinam‑se a países da Europa Oriental e Ocidental.
Para os demais países, pertencer à sei garantia, pelo menos naquele momento repleto de incertezas, proteção militar e política, além da existência de um mercado comprador (a Rússia, país mais populoso e industrializado da organização) de seus produtos.
Passadas mais de três décadas da fundação da sei, há em sua composição países que tentam romper com a hegemonia russa, procurando aproximar-se da União Europeia ou integrar-se a ela. Esse é o caso da Ucrânia, do Azerbaijão e da Geórgia (esta, integrante da sei até 2008).
2. : área territorial, população e povos sei
Ao abranger Estados tanto da Europa quanto da Ásia, a sei apresenta vasta extensão territorial e grande diversidade étnico-cultural. Com ..22031143 quilômetros quadrados, a sei reunia aproximadamente 288 milhões de habitantes, 3,7% da população mundial, em 2020.
A Rússia é o país da sei com maior área territorial e o mais populoso, com ..17075200 quilômetros quadrados e população absoluta de cêrca de 144 milhões de habitantes (2020), o que corresponde, respectivamente, a 77,5% da área da sei e 50% (metade) de sua população total.
sei: político – 2021
Fontes: elaborado com base em FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 95; bonifássi, pascál (.). L’année stratégique: analyse des enjeux internationaux. Paris: Dalloz/Iris, 2013. página 472.
A distribuição da população pelo território da sei é muito desigual em virtude das condições históricas e naturais extremamente variadas. A porção europeia da organização, situada entre o Mar Báltico e o Mar Negro, somada aos vales do Cáucaso da Armênia e do Azerbaijão e ao sul da Ásia Central (Quirguistão, Uzbequistão e Tadjiquistão), concentra mais de 75% da população desse enorme conjunto geoeconômico e político.
sei: distribuição da população – 2020
Fontes: Charliê Jác ( organizador). Atlas du 21e siècle 2013. Paris: Nathan, 2012. página 93; UN-HABITAT. Global State of Metropolis tuêni tuêni: population data booklet. Nairobi: -Habitat, 2020. página 11 e 13.
3. : mosaico de povos e conflitos sei
Existe grande diversidade étnico-cultural na população da sei. No vasto território desse conjunto geoeconômico e político são faladas cêrca de 112 línguas, subdivididas em vários dialetos locais. O grupo mais numeroso é o eslavo, que fórma cêrca de 75% da população. Os povos não eslavos, habitantes da Ásia Central, representam 25% da população total e abrangem uma grande variedade de culturas.
sei: grupos de povos – 2018
Fonte: ATLAS socio-économique des pays du monde tuenti eitim . Paris: Larousse, 2017. página 47, 80, 92, 105, 116, 145, 146, 154 e 161.
De que fórma é possível reconhecer a diversidade étnico-cultural na população da sei?
• Conflitos territoriais e de nacionalidades
Quando ocorreu a revolução socialista na Rússia, em 1917, mais de 35 milhões de russos já haviam migrado para o leste, para além dos Montes Urais, promovendo a “russificação” em vários territórios.
Durante a existência da União Soviética e do Estado ditatorial que se instaurou, as mais de cem etnias existentes nas ex-repúblicas soviéticas foram mantidas por meio da fôrça e da repressão. Com o fim da União Soviética, a possibilidade de reafirmação da identidade étnica, cultural e histórica de muitos povos se intensificou. Surgiram, então, muitos movimentos pró-independência em enclavesglossário .
• A Crimeia e o separatismo russo
A península da Crimeia, situada no Mar Negro, pertencia à Ucrânia desde 1954, e foi cedida ao país pelo líder soviético Nikita Cruchév (1894-1971) como estratégia de redistribuição territorial da União Soviética. Na Crimeia, 66% da população tem ascendência russa. Em 1992, essa população fez um movimento em prol da anexação dessa península à Rússia, logo combatido pelo govêrno ucraniano. Mas um referendo realizado em 2014 mostrou que 97% dos votos eram favoráveis à adesão à Rússia. A anexação ocorreu logo em seguida, apesar do não reconhecimento do referendo pela Ucrânia, pela União Europeia e por outros países. Nem mesmo a ônu reconheceu a anexação, considerando a Crimeia pertencente à Ucrânia. Desde a anexação, crises políticas e institucionais marcaram a história da Crimeia, com protestos e ondas de violência e represálias pelas fôrças Armadas russas. Em março de 2022, no contexto das negociações de paz durante a guerra da Rússia contra a Ucrânia iniciada naquele ano, o ponto de maior discórdia era a exigência da Rússia de que a Ucrânia reconhecesse a anexação da Crimeia, e, como estudaremos a seguir, a independência de duas regiões separatistas na fronteira oriental de Donbass.
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Transcrição do áudio
Crimeia
[Locutora]: Situada em uma península na costa do Mar Negro, a República Autônoma da Crimeia tem sido alvo de disputa política e territorial entre russos e ucranianos nos últimos anos.
Cerca de 65% dos habitantes da península se declaram russos, característica que está relacionada ao deslocamento de uma parcela da população da porção norte da Rússia para a Crimeia após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em 1954, o sucessor de Joseph Stálin no comando da União Soviética, Nikita Kruschev, transferiu o controle da Crimeia da Rússia para a Ucrânia. Acredita-se que tal decisão tenha sido baseada na estratégia do regime socialista de realizar uma redistribuição territorial na União Soviética.
Mesmo após a fragmentação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1991, tanto a comunidade internacional como a Rússia reconheciam a Crimeia como parte do território da Ucrânia, apesar de a península possuir autonomia em relação à administração do governo ucraniano.
No entanto, as décadas seguintes foram marcadas por diversas transformações políticas e econômicas na região. Nesse contexto, a Crimeia ganhou uma grande importância territorial e logística.
O porto de Sebastopol tornou-se o principal local de escoamento da produção agrícola da Ucrânia para outros países europeus.
Ao mesmo tempo, o porto se mostrou estratégico para a Rússia. Além de ser um dos locais de escoamento de gás natural russo, serve como sede de operação da frota de seus navios no Mar Negro.
O conflito de interesses entre Ucrânia e Rússia se acirrou em novembro de 2013, quando o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, desistiu de assinar um acordo de livre-comércio com a União Europeia, priorizando as relações comerciais com a Rússia, que prometia em troca um pacote de ajuda financeira e desconto na importação do gás natural.
O anúncio oficial do governo fez com que milhares de pessoas tomassem as ruas do país para exigir que o presidente revisse a decisão e assinasse o acordo com a União Europeia.
Apesar da violenta repressão contra os manifestantes, que acabou resultando em dezenas de mortos, Yanukovych perdeu força política e foi destituído da Presidência.
Para o governo russo, a saída do presidente ucraniano se configurou em um golpe de Estado. Por isso, a Rússia aumentou sua influência na Crimeia, alegando que era necessário proteger os cidadãos russos que vivem ali.
Sob o controle militar da Rússia, a Crimeia realizou um referendo em março de 2014, cujo resultado aprovou com ampla maioria a anexação da península ao controle administrativo da Federação Russa.
Embora aprovado por 97% dos votantes, o referendo não foi reconhecido pela Ucrânia e por grande parte da comunidade internacional. A Assembleia-Geral da ONU o declara inválido.
Desde então, a Rússia tem sido alvo de sanções comerciais da União Europeia e dos Estados Unidos, e a população da Crimeia enfrenta as dificuldades do processo de transição, como a adaptação das instituições locais, a adoção da moeda russa e a obrigatoriedade da mudança de nacionalidade.
• A região de Donbass
A partir de 2014, a Ucrânia passou a vivenciar um período de profunda crise econômica, social e política. Entre os motivos que contribuíram para essa instabilidade, no final de 2013, por pressões da Rússia, o govêrno do então presidente ucraniano víquitór ianucóvitch recusou assinar um acôrdo de livre-comércio com a União Europeia – possibilidade que, caso fosse concretizada, a afastaria da influência russa –, optando pela assinatura de um tratado de assistência econômica oferecido pela Rússia no qual, inclusive, era proposta a redução de 30% no preço do gás russo fornecido à Ucrânia (assunto que estudaremos nas páginas 129 e 130).
Tal desistência foi o estopim para que se intensificassem as manifestações contrárias ao govêrno do presidente em várias regiões da Ucrânia, e provocou, sobretudo na porção ocidental do país, a sua destituiçãoglossário , a realização de novas eleições e o estabelecimento de um novo govêrno, que contava com o apôio das potências ocidentais e, ao mesmo tempo, prometia afastamento da influência russa.
Os desdobramentos desse episódio foram graves para a Ucrânia, pois a deposição do govêrno pró-Rússia não foi bem recebida em todo o país, ocasionando o fortalecimento de movimentos separatistas em sua porção leste. Especificamente, isso ocorreu nas regiões de Donetsk e Lugansk, que abrangem cêrca de um terço da região de Donbass (localize-a no mapa da página seguinte), densamente povoada – com cêrca de 6 a 7 milhões de habitantes –, e que é considerada o coração industrial da Ucrânia por concentrar metalúrgicas, termelétricas e empresas de extração de carvão mineral. De 2014 a 2021, nas duas regiões, ocorreram acirramento de tensões e embates militares entre as fôrças militares ucranianas – com o apôio dos Estados Unidos e de outros países – e os separatistas – com o apôio da Rússia –, resultando em mais de 14 mil pessoas vitimadas pelos conflitos. Nesse período, vários acordos firmados entre Rússia e Ucrânia (Acordos de Minsk um e dois), com a participação de outros países, não foram capazes de colocar um fim à guerra civil.
• A guerra entre Rússia e Ucrânia (2022)
Para complicar ainda mais a situação do embate, em 21 de fevereiro de 2022, o govêrno russo, liderado pelo presidente Vladimir Putin, anunciou o reconhecimento da independência das duas províncias separatistas. E apoiando-se na justificativa de que elas estavam sob a ameaça de uma invasão militar da Ucrânia e que um genocídio estaria ocorrendo contra a população civil russa, ele determinou a ofensiva militar contra a Ucrânia em larga escala, em 24 de fevereiro daquele ano, considerando esses territórios como seu principal objetivo militar (observe o mapa na página seguinte).
Ucrânia: países limítrofes, províncias separatistas e fôrças militares russas – fevereiro de 2022
Fonte: MERINO, Álvaro. El mapa de las posibles rutas de invasión a Ucrania. El Orden Mundial, 20 janeiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/r0rfSh. Acesso em: 24 fevereiro 2022.
Diante da ofensiva militar russa, Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e muitos outros países condenaram a decisão unilateral do govêrno russo e providenciaram de imediato sanções econômicas à Rússia. Tal situação, segundo analistas internacionais, poderia levar a reviver o ambiente de Guerra Fria, quando ainda existia a União Soviética e sua disputa com os Estados Unidos e seus aliados por áreas de influência no mundo. Na verdade, essa questão em andamento trata-se novamente de disputa geopolítica: a Rússia não quer perder a sua área de influência sobre a Ucrânia e não aceita que ela faça parte da otâm – que é entendida pelo govêrno russo como uma ameaça às suas fronteiras –, nem que seja integrante da União Europeia, fatos, esses, desejados pelos Estados Unidos e por muitos países da Europa.
Atividades dos percursos 13 e 14
Registre em seu caderno.
- Em relação à expansão do Império Russo, responda às questões a seguir.
- Aponte a distinção entre a expansão territorial de países europeus e a do Império Russo entre os séculos quinze e dezoito.
- Com base no mapa da página 109, indique as duas últimas regiões conquistadas pelo Império Russo e o período em que ocorreu essa expansão.
- Em que contexto histórico foram construídas as ferrovias Transcaucasiana e Transiberiana? Qual era a importância dessas ferrovias para o Império Russo?
- Cite as medidas políticas e sociais adotadas na União Soviética que a tornaram um Estado ditatorial.
- Explique a expressão: “A sei é um mosaico de povos”.
- O esquema a seguir representa os três grupos ou movimentos políticos (A, B e C) que existiam na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas antes da queda de Gorbatchóvi. Observe o esquema com atenção e, depois, indique os grupos ou movimentos políticos que estão representados por A, B e C.
6. Observe o mapa e responda às questões.
sei: aquavias e suas limitações em razão do clima
Fonte: Charliê Jác ( organizador). Atlas du 21e siècle 2013. Paris: Nathan, 2012. página 92.
- O Canal Lênin permitiu a navegação entre dois mares. Quais são eles?
- Os rios ou aquavias que não podem ser navegados por causa do congelamento se localizam em altas ou baixas latitudes? Por quê?
7. Interprete o mapa e, com base em seus conhecimentos, faça o que se pede.
Ucrânia: a invasão militar russa em 24 de fevereiro de 2022
Fonte: UCRÂNIA: 7 mapas para entender a guerra. Folha de sem, 24 fevereiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/LU9g7l. Acesso em: 5 abril 2022.
- Que fatores contribuíram para o início da Guerra da Rússia contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022?
- Em grupos, realizem uma pesquisa sobre a deflagração da Guerra da Rússia contra a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. Na internet, consulte reportagens, artigos de análise e podcasts jornalísticos. Identifiquem, organizem e resumam os diferentes pontos de vista sobre esse conflito militar. Apresentem e discutam, em sala de aula, os resultados obtidos.
8. Interprete o texto e o mapa e responda às questões.
Segundo analistas internacionais, ao se analisar os movimentos separatistas no leste da Ucrânia, entre outras razões, deve-se considerar também a questão da identidade de populações como as das regiões de donétiski e lugânski. Nos países eslavos, a nacionalidade é determinada pelo jús sanguínis, ou seja, pelo “direito de sangue”, diferentemente dos países ocidentais, onde ela é determinada, predominantemente, pelo local de nascimento – jús sólis, “direito do solo”. Desse modo, como a maioria da população do leste da Ucrânia é etnicamente russa e fala a língua russa, serviram-se desse argumento para apoiar o separatismo.Ucrânia e Crimeia: divisão étnica e linguística – 2014
Fonte: , Vladislav B. How the Kosovo case can influence a current ukrainian crisis. Journal of Security Studies and Global Politics, volume 1, número 1, página 1-8, dezembro 2016.
- Com base no mapa e na sua legenda, caracterize a etnicidade das populações da região de dombás, da Transnístria e da Crimeia.
- Pesquise qual dos princípios citados no texto, jús sólis ou jús sanguínis, rege a nacionalidade brasileira.
PERCURSO 15 CEI: DESIGUALDADES ECONÔMICAS E SOCIAIS
1. Características da integração econômica regional
A maior parte das exportações dos países da Comunidade dos Estados Independentes ( sei) – produtos agrícolas, como trigo, milho, algodão, girassol, arroz e uva; minerais, como petróleo e gás natural – destina-se, assim como a mão de obra de migrantes, à Rússia, que é o país mais populoso e industrializado da organização.
Os países da sei são ainda dependentes da Rússia no que diz respeito à comercialização, ao transporte e ao suprimento de recursos energéticos – como o gás natural e o petróleo, exportados pelo Turcomenistão e pelo Cazaquistão. Isso ocorre porque, durante o Estado soviético, tanto a economia quanto a infraestrutura produtiva desses países desenvolveram-se de fórma interligada e complementar às da Rússia.
A imensidão territorial formada pelos países da sei é um dos fatores que contribuem para que esse conjunto geoeconômico seja quase autossuficiente em recursos naturais, com enormes reservas de petróleo, gás natural, carvão, ouro, prata, urânio, minérios de ferro e manganês, entre outros, além de contar com um grande potencial hidrelétrico.
A planificação do govêrno soviético determinou a instalação das indústrias pesadas nas proximidades das áreas de ocorrência de matérias-primas, enquanto alocou as indústrias leves junto aos grandes centros de consumo. Por isso, as indústrias não se concentram em uma única região do espaço formado pela sei (observe o mapa). Embora a maior parte delas esteja localizada na Rússia, há também centros industriais em países como Ucrânia, Cazaquistão, Belarus e outros.
sei: indústria
Fonte: Charliê Jác ( organizador). Atlas du 21e siècle 2013. Paris: Nathan, 2012. página 93.
Das sete regiões industriais representadas no mapa, quantas se localizam parcial ou integralmente em território russo?
Versão adaptada acessível
Com base na descrição do mapa sobre a organização do espaço industrial nos países-membros da CEI, aponte quais das sete regiões industriais representadas estão localizadas parcial ou integralmente em território russo.
2. Desenvolvimento econômico e social desigual
Embora a economia da sei seja regionalmente integrada, o desenvolvimento econômico e social de seus países-membros é desigual (observe o mapa).
sei: regionalização segundo aspectos econômicos – 2018
Fontes: elaborado com base em í bê gê É. Atlas geográfico escolar. oitava edição Rio de Janeiro: í bê gê É, 2018. página 43 e 47; bôs, françoá et al. ( organizador). Images économiques du monde: géopolitique-géoéconomie 2014. Paris: armân colân, 2013. página 239-261; Atlas socio-économique des pays du monde 2018. Paris: Larousse, 2017. página 47, 80, 92, 105, 116, 145, 146, 154, 161 e 165.
• Indústria
Três países da sei dominam tecnologias avançadas e se destacam como os mais industrializados: Rússia, Ucrânia e Belarus. Grande parte dos parques industrial, científico e tecnológico desses países data do tempo da extinta União Soviética. Com a desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e os investimentos estrangeiros realizados, o setor industrial foi ampliado e modernizado. Os demais países complementam a economia russa, fornecendo alimentos e matérias-primas vegetais e minerais, entre outros (observe novamente o mapa).
As maiores concentrações industriais da sei localizam-se na Rússia, principalmente nas regiões de São Petersburgo, Moscou e ao sul dos Montes Urais.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela Rússia no processo de transição da economia socialista para a capitalista, o país continua sendo uma grande potência militar. A indústria bélica ainda é importante, e o país se destaca como um dos principais fornecedores de armamentos no cenário internacional. Seus centros de pesquisa científica, porém, passam por dificuldades decorrentes de limitações de verbas, fato que tem levado muitos de seus pesquisadores a migrar para outros países em busca de melhores condições de trabalho.
Por contar com mão de obra altamente qualificada, tecnologias avançadas e recursos naturais abundantes, principalmente petróleo e gás natural, a Rússia tem condições de voltar a ocupar uma posição de destaque no cenário internacional.
• O setor agrícola e o uso da terra
Ucrânia, Cazaquistão e Rússia são os grandes celeiros da sei. Destacam-se na produção de cereais (trigo, aveia, centeio, cevada, milho etcétera), além de semente de girassol, beterraba açucareira, batata, frutas e nas pecuárias caprina e ovina (observe a foto e o mapa).
Nos países-membros da sei da Ásia Central, além da exploração de recursos minerais, inclusive petróleo, gás natural e carvão mineral, ganha destaque a produção de arroz, algodão, chá e uva. Na Moldávia, a agroindústria do tabaco, do vinho, do algodão e do óleo de rosa também é uma atividade importante economicamente.
Na Armênia, embora a economia esteja assentada na agroindústria, destacam-se a indústria de joias e a metalúrgica; o setor joalheiro, por exemplo, representa cêrca de 40% do valor total das exportações armênias.
sei: uso da terra
Fonte: Charliê Jác ( organizador). Atlas du 21e siècle 2013. Paris: Nathan, 2012. página 92.
Por que as ilhas do extremo norte da Rússia são consideradas improdutivas?
Versão adaptada acessível
Com base na descrição do mapa sobre os principais usos da terra dos países-membros da CEI, explique por que as ilhas do extremo norte da Rússia são consideradas improdutivas.
• Desigualdades sociais
Com exceção de Cazaquistão e Azerbaijão, os demais países cujos nomes terminam com o sufixo “istão” – da raiz iraniana stan, que quer dizer “lugar”, “lar” ou “país” – são aqueles de menor nível de vida do conjunto da sei.
Considerando a taxa de mortalidade infantil – indicador expressivo do nível de vida da população de um país, pois reflete vários aspectos das condições dela, como alimentação, saneamento básico, assistência médico-hospitalar às gestantes e às crianças, o rendimento da família e o seu nível educacional, além de outros –, o Tadjiquistão e o Turcomenistão eram os países da sei que apresentavam as mais elevadas taxas de mortalidade infantil de menores de 5 anos segundo o Banco Mundial em 2020, respectivamente, 32 por mile 42 por mil. No Uzbequistão e no Quirguistão, essa taxas foram de 14 por mil e 18 por mil, enquanto na Rússia foi de 5 por mil e em Belarus, 3 por mil, o que equivale a taxas de países desenvolvidos, que se situam abaixo de 5 por mil (para efeito de comparação, no Brasil foi de 15 por mil).
Tomando-se o Índice de Desenvolvimento Humano ( í dê agá) como referência para avaliar as condições de vida de um país, eram também esses quatro países que apresentavam os menores índices, como mostra o mapa.
CEI: Índice de Desenvolvimento Humano ( í dê agá) – 2019
Fontes: elaborado com base em í bê gê É. Atlas geográfico escolar. sétima edição Rio de Janeiro: í bê gê É, 2016. página 43 e 47; penúdi. Relatório de Desenvolvimento Humano 2020: A Próxima Fronteira: O Desenvolvimento Humano e o Antropoceno. Nova iórque: penúdi, 2020. página 343-346.
Nota: Em 2019, o í dê agá dos países desenvolvidos situava-se entre 0,804 e 0,957 (muito elevado), e o maior foi o da Noruega (0,957). O í dê agá do Brasil foi 0,765 (elevado).
PERCURSO 16 A RÚSSIA
1. A perda de hegemonia
Estudamos no Percurso 13 os acontecimentos que levaram à dissolução da União Soviética, em 1991, e à formação de 15 novos Estados, inclusive da Rússia.
Durante a existência da União Soviética, a Rússia foi a principal república desse gigante Estado. Moscou foi o centro político, econômico e de poder do socialismo real sobre todas as demais repúblicas e lá eram tomadas as decisões referentes às políticas interna e externa.
Entre 1989 e 1990, a situação da União Soviética e da Rússia começou a se alterar, ocorrendo basicamente duas perdas.
• A primeira perda
Após manter por cêrca de 45 anos a hegemonia política e econômica sobre os países da Europa Oriental ou Leste Europeu (observe o mapa), a União Soviética – e, portanto, a Rússia – teve seu poder enfraquecido com a libertação desses países da sua tutela ou de sua área de influência.
As reformas liberalizantes na União Soviética, país central do bloco socialista, com base na glasnóst e na perestroika do govêrno Gorbatchóvi, levaram ao afrouxamento dos laços de dominação sobre os países da Europa Oriental. Isso contribuiu para que esses países se libertassem do socialismo real ou autoritário no fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 e aderissem à economia de mercado ou ao capitalismo, à democracia e à integração econômica, política e militar da Europa Ocidental, já que alguns deles passaram a integrar tanto a União Europeia quanto a otâm, o que representou para a Rússia grande perda de áreas de influência.
Europa: países capitalistas e socialistas até 1989
Fonte: elaborado com base em , bonifáce ; pascál , Ríber . Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. página 20.
• A segunda perda
Com a desagregação da União Soviética em 1991, a Rússia, para não perder a hegemonia sobre as ex-repúblicas soviéticas, articulou, junto a elas, a criação da sei, como estudamos anteriormente.
No entanto, nem todas as ex-repúblicas aderiram à sei. Estônia, Letônia e Lituânia rejeitaram a adesão e, nos anos de 2003 e de 2004, foram admitidas na União Europeia e na otâm, aproximando-se, assim, do Ocidente e afastando-se da influência russa.
O acirramento dos conflitos territoriais e de nacionalidades nos países da sei e a violenta repressão militar exercida pela Rússia tornaram-se ameaças para a integridade da sei. A Geórgia abandonou a sei em 2008, como resultado da invasão de seu território por tropas russas com o objetivo de dar apôio aos separatistas pró-Rússia desse país. Em 2010, assinou acôrdo de livre comércio com a u ê e, atualmente, está em negociações para a entrada nesse bloco.
Além da Geórgia, outros focos de tensão se instalaram nos países da sei, levando a intervenções militares diretas ou indiretas da Rússia. É o caso da Moldávia, da Armênia, do Azerbaijão e da Ucrânia, além dos enclaves no próprio território russo, como o da Chechênia e o do Daguestão, que ameaçam a hegemonia da Rússia nesse grande espaço geopolítico. Entretanto, apesar dessas incertezas, a presença russa na Eurásia é significativa, como mostra o mapa.
A Grande Rússia euroasiática
Fonte: elaborado com base em cháupreide áimeric. Chronique du choc des civilisations. Paris: Éditions Chronique, 2009. página 76-77.
Nota: Em 2012, a Rússia e o Quirguistão assinaram um acôrdo de permanência das bases militares russas em território do Quirguistão até 2032. No mesmo ano, acôrdo semelhante foi feito com o Tadjiquistão até 2042. Em 2012, foi ratificado o acôrdo de livre comércio entre Rússia, Cazaquistão, Armênia, Quirguistão e Tadjiquistão. Em 2013, a Rússia assinou com Belarus a instalação de um sistema de defesa antiaérea como resposta ao plano dos Estados Unidos de implantar um escudo antimísseis na Europa. Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu militarmente a Ucrânia.
A quais oceanos e mares a Rússia tem acesso, considerando seus portos marítimos e bases militares?
2. A economia no século vinte e um
A transição da economia estatal, centralizada e planificada que existiu até 1991, para a economia de mercado ou capitalista, iniciada nesse ano, foi um grande desafio para os dirigentes e para a população russa.
A Rússia herdou da União Soviética a maior parte da grande infraestrutura industrial, principalmente de bens de produção ou indústria pesada, muitas delas obsoletas e que exigiram reformulações com investimentos privados.
Além disso, a perda, por parte do poder central sediado em Moscou, das demais repúblicas soviéticas abalou a sua economia e o prestígio que tinha como superpotência, e cuja recuperação continua até os dias atuais.
Em relação às concentrações industriais da Rússia, elas estão localizadas tanto na porção europeia quanto na asiática. Observe, no mapa, que a região de Moscou é o centro dinâmico da economia e da política e é complementada por periferias econômicas integradas entre si e afastadas do centro.
Rússia: organização do espaço – 2019
Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. quinta edição São Paulo: Moderna, 2019. página 99.
Nota: A ferrovia assinalada com a sigla “” corresponde à Ferrovia Baikal-Amur, que liga o Lago Baikal ao Rio Amur, no extremo leste, e daí ao litoral do Oceano Pacífico.
Argumente sobre a importância das ferrovias Transiberiana e para a integração do território da Rússia.
A Rússia é rica em recursos minerais, como ouro, diamante, níquel, platina, cobre, minério de ferro, manganês e, sobretudo, petróleo e gás natural. Esses combustíveis fósseis são importantes produtos de exportação e grande fonte de divisas para o país, como estudaremos mais adiante.
Além disso, a Rússia produz poderosas tecnologias aeroespacial e de armamentos, desenvolvidas no decorrer de 40 anos, durante o período da Guerra Fria, o que ainda lhe confere posição de destaque como potência nuclear e militar.
Os centros de pesquisas, como os tecnopolos de Moscou, Kaliningrado e São Petersburgo, para citar apenas alguns, continuam a produzir inovações, mas passam por dificuldades em razão da limitação de investimentos, como assinalamos no Percurso anterior.
NAVEGAR É PRECISO
Embaixada da Federação da Rússia na República Federativa do Brasil
https://oeds.link/HOIcVQ
Traz informações sobre as relações entre Brasil e Rússia, além da visão governamental sobre os conflitos separatistas existentes no interior do território russo.
3. Rússia: o uso estratégico e político da energia
Dispondo das maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo e de uma grande rede de gasodutos e oleodutos que permite o fornecimento tanto para o Ocidente quanto para o Oriente, a Rússia é grande e poderosa fornecedora de energia mundial, sobretudo para os países europeus e para a sei (observe o mapa).
Essa condição a tem levado a usar seus recursos energéticos como instrumento político.
Principais rótas de abastecimento de gás natural à Europa – 2021
Fontes: elaborado com base em GIL, Abel. El mapa de los gasoductos de Europa. El Orden Mundial, 24 outubro 2021. Disponível em: https://oeds.link/qoCZvF GAZPROM. Nord Stream 2. Disponível em: https://oeds.link/NW7HnL. Acessos em: 24 fevereiro 2022.
Diante do uso político que a Rússia faz do fornecimento de gás a países europeus, estes têm procurado outros países como fontes de abastecimento. Aponte-os.
Em 2003, por exemplo, a Rússia suspendeu o fornecimento de gás natural para Belarus depois que esse país se recusou a pagar o dôbro pelo produto. Em 2006, fez pressões para que Belarus vendesse sua rede de gasodutos à Gazprom (empresa estatal russa) para que esta pudesse exportar o gás natural para a Europa Ocidental. Diante da negativa do govêrno de Belarus, a Rússia puniu esse país por meio da elevação do preço do gás natural e do petróleo. Em 2011, Belarus cedeu às pressões em troca de desconto de 60% no preço do gás natural comprado da Rússia.
Outro caso ocorreu em dezembro de 2005, quando a Ucrânia, ao rejeitar a elevação do preço do gás natural fornecido pela Rússia, sofreu córte de fornecimento. Essa medida teve sérias repercussões, pois ocorreu no inverno europeu – período em que o uso desse produto aumenta não somente na Ucrânia, mas em diversos países da Europa que recebem o gás natural russo por meio de gasodutos que atravessam o território ucraniano.
PAUSA PARA O CINEMA
Contrato de risco.
Direção: . Estados Unidos: Front Street Productions, 2005. Duração: 108 minutos
Suspense que narra o envolvimento de um alto executivo de uma companhia petrolífera de Wall Street com a máfia russa e outras empresas que atendem ao mercado de consumo estadunidense.
Pelos motivos estudados nas páginas 118 e 119, a passagem de gasodutos que abastecem a Europa pelo território ucraniano é uma fonte de insegurança tanto para a Rússia quanto para países europeus importadores de gás natural. Diante disso, em 2012, foi inaugurado o gasoduto Nord Stream 1 e, em 2021, foi concluída a construção do Nord Stream 2, que dobraria a capacidade de envio de gás natural da Rússia à Alemanha pelo Mar Báltico, sem passar, portanto, pela Ucrânia (localize-os no mapa da página anterior). No entanto, em março de 2022, com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções ao consórcio de empresas Nord Stream 2 á gê (comandado pela Gazprom), sediado na Suíça e responsável pela construção e pela operação do gasoduto Nord Stream 2, causando a sua falência.
• A Europa depende do gás natural russo
Em 2014, a crise na Crimeia e sua anexação pela Rússia, somada à crise na Ucrânia, apoiada pelo govêrno russo, desencadearam protestos de governos europeus, seguidos de sanções econômicas.
A resposta russa foi a ameaça de córte do fornecimento de gás natural, o que criou problemas sérios à economia europeia, pois, em 2014, cêrca de 22% da matriz energética da Europa tinha por base o gás natural e cabia à Rússia o fornecimento de cêrca de 31% do total.
Há países europeus que dependem 100% do gás natural russo, como é o caso dos países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia –, além da Macedônia do Norte. Outros países dependem em larga proporção. Observe o gráfico.
Gás natural russo: maiores compradores, volumes de importação e participações no consumo doméstico – 2020
Fonte: elaborado com base em bê pê. Statistical review of world energy2021. septuagésima edição London: bê pê, 2021. página 38, 44 e 45.
Indique, em ordem decrescente, os três países que mais dependem da importação do gás russo para consumo doméstico.
O uso da energia como instrumento político pela Rússia tem levado os países europeus a procurar alternativas para o seu abastecimento com novos fornecedores, como é o caso da Noruega e de outros países, o que tem contribuído para diminuir a dependência em relação à Rússia. Em 2003, as importações de gás natural da Rússia pela Europa atingiram 45%; em 2020, baixaram para cêrca de 33%.
Cruzando saberes
Eurásia é o nome do jôgo
A cobertura dos eventos na Ucrânia oculta os interesses geoestratégicos dos Estados Unidos, focados no contrôle da Eurásia, o centro econômico.
“[Em] 1991, Moscou propôs a criação da Comunidade dos Estados Independentes ( sei) aos antigos países-membros da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Todos aceitaram participar, exceto os bálticos. Mas, nos anos seguintes, a sei sucumbiu a suas próprias fragilidades internas, incluindo crise econômica, tensões étnicas, disputa de poder político entre máfias, descontentamento da população.
Pela primeira vez, desde que Ivã tornou-se o primeiro czar da Rússia, no século 16, Moscou experimentou um forte recuo como centro de poder eurasiático. A eventual deserção da Ucrânia – e, mais particularmente, a perda de contrôle russo sobre a Crimeia e o porto de Sebastopól, que garante a Moscou uma saída para o Mediterrâneo – transformaria a Rússia numa potência de segunda categoria. É isso que explica a crise da Ucrânia. Os estrategistas do Pentágono fomentaram e estimularam movimentos separatistas na Ucrânia, mas também na Tchetchênia e na Geórgia.
reticências Em termos econômicos, o nome do jôgo é tracéca, composto com as iniciais, em inglês, de Corredor de Transporte Europa – Cáucaso – Ásia Central. Trata-se da ‘nova Róta da sêda’ (caminho percorrido por Marco Polo, no século 13): um complexo rodoferroviário destinado a ligar a Europa mediterrânea até a China, passando pelo Afeganistão e Turquia. A construção desse imenso complexo – com fundos da União Europeia ( u ê) e do Banco para o Desenvolvimento da Ásia ( bê dê á) – combina-se com a instalação de oleodutos e gasodutos que vão abastecer o mercado ocidental.
Apenas os cinco países da bacia do Cáspio – Azerbaijão, Cazaquistão, Irã, Rússia e Turcomenistão – possuem reservas estimadas em 200 bilhões de barris de petróleo e volume comparável de gás. Três deles – Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão – contêm mais petróleo e gás do que o Golfo Pérsico. As cinco maiores empresas petrolíferas dos Estados Unidos (Chevron, Conoco, Texaco, móbil óiol e Unocal) concluíram ou estão concluindo uma série de acordos bilionários com esses países (exceto o Irã) para explorar suas reservas.
Em termos geoestratégicos, o Afeganistão está destinado a ocupar um lugar central na economia do tracéca, como região de passagem e contato entre o extremo asiático, o Oriente Médio e a Europa. Daí a invasão do país em 2001; que não teve nada a ver com Osama Bin Laden. E a Tchetchênia está ‘sentada’ sobre um dos oleodutos-chave que ligam a Rússia a um porto do mar Negro, passando pelo Bósforo, na Turquia, e chegando ao mar Mediterrâneo. Daí a ‘extrema preocupação’, muito humanitária, de Washington.
Mas o contrôle da Eurásia por parte de Washington esbarra em outro pequeno inconveniente: o surgimento da China como potência mundial, também muito interessada no desenvolvimento da tracéca .”
ARBEX Júnior, José. Para os Estados Unidos da América, Eurásia é o nome do jôgo. Caros amigos, número 205, abril 2014. página 9.
Interprete
1. Quais potências estão envolvidas na disputa pela Eurásia e suas riquezas naturais?
Argumente
2. Se você tivesse de explicar a algum colega a expressão irônica “muito humanitária”, empregada pelo autor no penúltimo parágrafo, como faria?
Atividades dos percursos 15 e 16
Registre em seu caderno.
- Explique a importância da Rússia no conjunto dos países que formam a sei.
- Cite três condições favoráveis na Rússia para que o país volte a ser a potência econômica que foi nos tempos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
- Explique por que a taxa de mortalidade infantil é um indicador expressivo do nível de vida de uma população. Depois, aponte os países da sei que apresentaram as mais elevadas taxas de mortalidade infantil de menores de 5 anos em 2020.
- Explique a afirmação: “A Europa depende largamente do fornecimento do gás natural russo”.
- A Rússia se enfraqueceu com a libertação dos países socialistas da Europa oriental de sua tutela. Cite pelo menos dois desses países.
- Observe o mapa da página 124 e responda às questões.
- Como você caracteriza o uso da terra nas latitudes superiores a 66 graus norte?
- A área das culturas se localiza entre quais latitudes, aproximadamente? E abrange terras de quais países da sei?
- Aponte os possíveis fatores naturais que permitem que essa área seja de produção agrícola diversificada e de pecuária.
- Identifique as fórmas de uso da terra predominantes na faixa correspondente à área das culturas.
- A presença militar russa na Eurásia é uma realidade. Observe o mapa da página 127, e indique os países da Eurásia que têm bases militares russas.
- Observe o mapa a seguir e responda às questões.
Rússia e as ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso
Fonte: LACOSTE, íve. Atlas géopolitique. Paris: Larousse, 2007. página 84.
- Por que essa região é atualmente alvo de disputas geopolíticas por parte dos Estados Unidos e da Rússia?
- Qual dos países da região não pertence à sei desde 2008 e busca estreitar relações com os Estados Unidos?
9. Interprete o gráfico do comércio exterior da Rússia e responda às questões.
Rússia: comércio exterior (em bilhões de dólares) – 2000-2021
Fonte: , ríchiter. Féliquis Russian Trade Surplus Surges Amid Rising Tensions. STATISTA, 18 fevereiro 2022. Disponível em: https://oeds.link/cc72P2. Acesso em: 22 fevereiro 2022.
- Depois de “outros produtos exportados”, qual produto foi o mais exportado no período 2000-2021? Justifique.
- Desconsiderando os “outros produtos exportados”, aponte, justificando, o segundo produto mais exportado pela Rússia nesse período.
- No período representado, a balança comercial russa foi superavitária ou deficitária? Justifique.
10. Leia este texto, analise as proposições e aponte, em seu caderno, a correta, explicando as incorreções das demais.
“ A Guerra do Kosovo [em 1999] estendeu as fronteiras europeias da otâm até a Rússia e, de quebra, colocou a ônu de joelhos. Como resultado, entre 1999 e 2004, vários países que integravam o Pacto de Varsóvia foram cooptados pela otâm, incluindo Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia, República Tcheca, Eslováquia e Eslovênia, além das ex-repúblicas soviéticas do Báltico (Estônia, Letônia e Lituânia). Em 2009, foram incluídas a Albânia e a Croácia. O cêrco à Rússia se apertava. ”
ARBEX Júnior, José. Para os Estados Unidos da América, Eurásia é o nome do jôgo. Caros amigos, número 205, abril 2014. página 9.
- Kosovo é uma antiga província sérvia que busca o reconhecimento de sua independência.
- otâm (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é uma aliança militar que reúne os antigos países da Europa Oriental, juntamente com a Rússia.
- Pacto de Varsóvia é uma aliança militar firmada apenas entre a Polônia e a Rússia.
- A Croácia foi uma das 15 repúblicas que formavam a antiga União Soviética.
11. A partir de 1989, governos socialistas do Leste Europeu começaram a desmoronar e a aderir à economia de mercado. A tirinha a seguir se refere a um desses acontecimentos. Faça uma pesquisa e explique o que está representado nela.
Caminhos digitais
Como funciona a internet
Na Unidade 1 deste livro, estudamos a globalização e, entre outros aspectos, como os avanços tecnológicos na informática permitiram que os fluxos de informação se tornassem cada vez mais intensos e velozes no mundo atual. Mas você já parou para pensar sobre o que acontece materialmente ao navegar na internet, quando, por exemplo, envia e recebe mensagens instantâneas por celular ou outros dispositivos, ou quando participa de um jôgo on-line com usuários que, às vezes, estão até em outros países? E já pensou sobre a velocidade com que essas ações on-line acontecem?
On-line, como o próprio nome diz (“em linha”, em inglês), quer dizer estar conectado por uma linha, um cabo. De fato, praticamente qualquer fluxo de dados ou informações on-line pela internet (mensagens, arquivos, sons, imagens etcétera) acontece, em algum momento, por meio de diferentes tipos de cabos, que levam informações de um ponto a outro na rede mundial de computadores, de um equipamento a outro e de um usuário a outro. Até quando navegamos pelo telefone móvel ou smartphone ou acessamos a internet por meio de um serviço de conexão via satélite, que funciona por meio de uma antena, os dados trocados com as antenas da rede de telefonia e com os satélites, na fórma de ondas, geralmente passam a ser transmitidos por cabos quando chegam aos servidores principais da internet – computadores responsáveis por armazenar sites e arquivos e por gerenciar os serviços que usamos na internet, como aplicativos e e-mails. Observe, na ilustração da página seguinte, o caminho que um arquivo percorre (linha roxa) ao ser transmitido por e-mail de um usuário a outro.
Embora a velocidade final da navegação dependa de fatores como o tipo de conexão e a capacidade de processamento do dispositivo conectado, os dados “viajam” pelos cabos a uma velocidade próxima à da luz! Isso tem acelerado a interação entre pessoas, empresas e governos e intensificado processos de integração econômica e cultural.
Todos os usuários da internet estão conectados a alguma rede local de computadores e a outros equipamentos, mantidos por empresas que prestam o serviço de acesso à internet (provedores).
A capacidade de a internet conectar usuários do mundo todo – independentemente de quem seja – dificulta um contrôle central sobre variados conteúdos e práticas que nela ocorrem. Isso faz dela um meio de comunicação e de informação livre e com grande potencial para o desenvolvimento educacional, cultural, informacional e político das pessoas que têm acesso a ela.
Ao mesmo tempo, porém, essas características permitem que existam perigos e riscos ao navegarmos na internet. A melhor fórma de se proteger para aproveitar todo o potencial dessa rede é agir com cautela, procurando conhecer e se informar sobre os riscos e evitar se expor. Desconfiar e aprender a interpretar e a se posicionar criticamente diante de várias situações na internet são atitudes cada vez mais necessárias.
Fique ligado!
- Cuidado com pessoas que você conhece apenas pela internet. No mundo virtual, é fácil mentir e ocultar as reais intenções. Não marque encontro com estranhos e não acesse sites ou links que um desconhecido enviar. Fique atento e chame um adulto responsável caso perceba algo estranho.
- Proteja a sua privacidade na internet. Não permita ser filmado ou fotografado, nem revele informações pessoais suas ou de seus conhecidos, a não ser que tenha certeza das pessoas que terão acesso a elas. Para isso, sempre ajuste as configurações de acesso e compartilhamento dos seus dispositivos eletrônicos e serviços on-line, como redes sociais.
- Tenha cuidado com o que você compartilha na internet. Qualquer coisa se difunde muito rapidamente em ambientes de rede, nos quais todos estão conectados a todos. Depois de feito, é muito difícil remover conteúdos da internet, e é provável que, anos depois, mesmo o que você excluiu ainda esteja disponível em alguma página.
- Fique atento aos aplicativos que instala. Procure obtê-los no próprio site do fabricante ou na loja oficial do sistema do seu equipamento. Além disso, mantenha-os sempre atualizados.
Como os usuários são localizados na rede?
Todo equipamento conectado à internet tem um número que o identifica na rede, um código chamado Protocolo de Internet (, na sigla em inglês, í pê ). O uso desses códigos permite enviar arquivos para um destinatário certo. internet protocól
Como os arquivos são enviados?
O arquivo é dividido em muitas partes menores (“pacotes de dados”), que seguem por caminhos variados, buscando as “vias” mais livres no momento em que estão sendo enviados; por isso, eles podem passar por várias redes locais ao longo do trajeto. Somente quando chegam ao destinatário, os “pacotes” são reunidos novamente para formar o arquivo original. Uma parte da transmissão de dados da internet é feita por satélites, que recebem dados enviados pelas antenas das centrais das redes locais e reenviam a outras redes locais diretamente ou por meio de outros satélites.
Confira
- Explique, resumidamente, o que é a internet e como é a sua estrutura física.
- Com base no texto e na ilustração, explique como funcionam a navegação e o envio e o recebimento de arquivos na internet.
- Por que, segundo o texto, as características da internet “permitem que existam perigos e riscos ao navegarmos” nela?
Glossário
- Neocolonialismo
- Neo, do grego , significa novo. Trata‑se do novo colonialismo, em alusão ao que ocorreu no século . Foi caracterizado pelo processo de dominação política e econômica dezesseis pôsto em prática pelas principais potências do século . dezenove
- Voltar para o texto
- Czar (ou tzar)
- Título dado ao imperador da Rússia.
- Voltar para o texto
- Socialismo real
- Nome dado ao regime socialista autoritário implantado inicialmente na União Soviética que posteriormente passou a ser adotado nos países socialistas do Leste Europeu. Teve como uma de suas características o monopólio de poder exercido pelo Partido Comunista. Na prática, diferenciava-se do socialismo pregado teoricamente por cál marcs (1818-1883) e (1820-1895). fréderique ênguels
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- Pacto de Varsóvia
- Aliança militar firmada em 1955 entre os países socialistas e a União Soviética com o objetivo de fazer frente à Organização do Tratado do Atlântico Norte (), criada em 1949, que reunia os países capitalistas da Europa Ocidental, os Estados Unidos, o Canadá, entre outros. otâm
- Voltar para o texto
- Expressão latina que corresponde a uma situação ou circunstância vigente de uma pessoa ou acontecimento em determinado momento.
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- Enclave
- Território totalmente circundado por outro território.
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- Destituição
- Processo de afastamento do cargo exercido.
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