O ensino de Geografia escolar
A Geografia escolar busca o desenvolvimento do pensamento espacial necessário para a análise e a interpretação dos fenômenos geográficos. Isso significa, por exemplo: promover o domínio de noções espaciais e topológicas; desenvolver a alfabetização cartográfica; e compreender as interações entre a sociedade e o meio físico-natural, assim como o papel do trabalho e das atividades econômicas na produção do espaço geográfico e os impactos provocados pelas atividades humanas no meio natural. Sendo assim, podemos identificar três razões fundamentais para ensinar Geografia na escola.
[...] Primeiro: para conhecer o mundo e obter informações, que há muito tempo é o motivo principal para estudar Geografia. Segundo: podemos acrescer que a Geografia é a ciência que estuda, analisa e tenta explicar (conhecer) o espaço produzido pelo homem. Ao estudar certos tipos de organização do espaço, procura-se compreender as causas que deram origem às formas resultantes das relações entre sociedade e natureza. Para entendê-las, faz-se necessário compreender como os homens se relacionam entre si. Terceira razão: não é no conteúdo em si, mas num objetivo maior que dá conta de tudo o mais, qual seja a formação do cidadão. Instrumentalizar o aluno, fornecer-lhe as condições para que seja realmente construída a sua cidadania é objetivo da escola, mas à Geografia cabe um papel significativo nesse processo, pelos temas, pelos assuntos que trata.
CALLAI, Helena Copetti. O ensino de geografia: recortes espaciais para análise. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos et al. (Org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS/AGB, 1999. p. 57.
Diante disso, a proposta de trabalho desta coleção visa proporcionar aos alunos um estudo mais significativo da ciência geográfica, de forma que eles reconheçam a presença dos conhecimentos geográficos em seu dia a dia e percebam de que maneira esses conhecimentos podem ser aplicados em suas vivências, com o propósito de transformar a realidade e o mundo em que vivem.
Assim, essa proposta de estudo busca a formação de cidadãos críticos e conscientes, que sejam capazes de compreender, entre outros aspectos, as relações entre os seres humanos na construção do espaço geográfico, sentindo-se, assim, atuantes e integrantes desse processo.
Os conceitos básicos e os conteúdos no ensino de Geografia
Entre os especialistas e estudiosos em ensino de Geografia, há certo consenso de que os conteúdos dessa disciplina escolar devem ser norteados com base nos conceitos essenciais dessa ciência. Entre esses conceitos, destacam-se: lugar, paisagem, território, região, além do próprio conceito de espaço geográfico.
Como toda ciência, a Geografia possui alguns conceitos-chave, capazes de sintetizarem a sua objetivação, isto é, o ângulo específico com que a sociedade é analisada, ângulo que confere à Geografia a sua identidade e a sua autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. Como ciência social, a Geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte grau de parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território.
[...]
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço, um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Gosta; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e temas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 16.
Esses mesmos conceitos também são essenciais para o desenvolvimento das Competências gerais de aprendizagem previstas na Base Nacional Comum Curricular, que destaca:
[...] a BNCC está organizada com base nos principais conceitos da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. Embora o espaço seja o conceito mais amplo e complexo da Geografia, é necessário que os alunos dominem outros conceitos mais operacionais e que expressam aspectos diferentes do espaço geográfico: território, lugar, região, natureza e paisagem.
[...]
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 361. Disponível em: https://oeds.link/JBNbWd. Acesso em: 8 jul. 2021.
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A seguir, é apresentado um resumo explicativo sobre o significado de alguns dos principais conceitos da ciência geográfica.
Conceito | Elementos de aprofundamento |
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Espaço geográfico: É o conjunto que não se dissocia dos sistemas de objetos (redes técnicas, prédios e ruas) e dos sistemas de ações (organização do trabalho, produção, circulação, consumo de mercadorias, além de relações familiares e cotidianas). Busca revelar as práticas sociais dos diferentes grupos que nesse espaço produzem, lutam, sonham, vivem e fazem a vida caminhar. | O espaço é perceptível e sensível, porém é extremamente difícil de ser delimitado, seja pela dinâmica, seja pela vivência tanto de elementos novos quanto de permanência. Apesar de complexo, apresenta elementos de unicidade, que interferem nos mesmos valores que são atribuídos pelo próprio ser humano e que resultam em uma distinção entre o espaço absoluto - cartesiano - algo em si mesmo, independente; e um espaço relacional, com sentido (e valor) quando confrontado com outros espaços objetos. |
Paisagem: É a unidade visível do arranjo espacial, ou seja, o que nossa visão alcança. | Contém elementos impostos pelo ser humano por meio de seu trabalho, de sua cultura e de sua emoção. Na paisagem é desenvolvida a vida social, dessa forma ela pode ser identificada de maneira informal, pela percepção, e também de maneira formal, mais seletiva e organizada. É assim que a paisagem se compõe como elemento conceitual de interesse da Geografia. |
Lugar: É a porção do espaço que pode ser apropriável à vida; é o espaço vivido, reconhecido, e que produz identidades. | O lugar guarda em si mesmo noções de densidade técnica, comunicacional, informacional e normativa, além da dimensão da vida como tempo passado e presente. É nele que ocorrem relações de consenso, conflito, dominação e resistência, bem como a recuperação da vida. O lugar é o espaço com o qual o indivíduo se identifica mais diretamente. |
Território: É a porção do espaço definida por relações de poder, passando, assim, da delimitação natural e econômica para a social. O grupo que se apropria de um território ou se organiza sobre ele cria relação de territorialidade, outro importante conceito da Geografia. Essa relação se define entre os agentes sociais, políticos e econômicos e interfere na gestão espacial. | Delimitar o território é delimitar também as relações de poder, domínio e apropriação nele instaladas - portanto, é algo concreto. O território pode transcender uma unidade política, e isso também ocorre com a territorialidade, e esta não se traduz por uma simples expressão cartográfica, mas sim sob as relações variadas, desde as mais simples às mais complexas. |
Região: Geralmente, esse conceito está associado à localização e à extensão de certo fato ou fenômeno: um conjunto de áreas onde predominam determinadas características em comum, que as distinguem das demais áreas. | A região se articula com território, natureza e sociedade quando essas dimensões são consideradas em diferentes escalas de análise, pois permite apreender as diferenças e particularidades no espaço geográfico. |
Fontes de pesquisa: BRASIL. Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC: Semtec, 1999. p. 56. Disponível em: https://oeds.link/c1oQda. Acesso em: 10 jul. 2021.
GOMES, Paulo Cesar da Costa. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Gosta; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia: conceitos e temas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 53.
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006. p. 53. v. 3.
Com base no domínio de tais conceitos, os alunos têm condições de se apropriar de maneira mais efetiva dos conhecimentos geográficos, elaborando novas formas de ver o mundo e de compreender, de maneira mais crítica e autônoma, suas complexas e múltiplas relações.
Sendo assim, nessa fase da escolarização, é fundamental que os alunos consigam responder a algumas questões a respeito de si e do mundo em que vivem: Onde ocorre ou se localiza certo fenômeno? Por que se localiza? Como se distribui? Como se manifesta?
Ao utilizar corretamente os conceitos geográficos para responder a tais questões, os alunos são incentivados a pensar, refletir e propor soluções para os problemas gerados na vida cotidiana, o que se coloca como condição fundamental para o desenvolvimento das competências e habilidades previstas na BNCC. Tais competências podem ser lidas no tópico Competências específicas de Geografia, citado anteriormente.
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Ao promover o desenvolvimento dessas competências, o ensino de Geografia permite aos alunos a apropriação de um conjunto de habilidades para construir novas formas de ver, pensar e agir no mundo em que vivem. É com esse desafio que a BNCC propõe a organização do componente curricular de Geografia em cinco grandes unidades temáticas comuns, estabelecidas ao longo de todo o Ensino Fundamental.
O sujeito e seu lugar no mundo | Abrange as noções de pertencimento e de identidade, aprofundando o conhecimento sobre si mesmo e sua comunidade, valorizando, desse modo, as relações sociais dos alunos no lugar onde vivem e em diferentes contextos sociais. Busca-se, então, ampliar as experiências com o espaço e tempo vivenciadas pelas crianças. Para essa etapa de escolarização, o conceito de espaço está voltado para o desenvolvimento das relações espaciais topológicas, projetivas e euclidianas. Essas noções espaciais são importantes para o processo de alfabetização cartográfica. |
Conexões e escalas | Voltada para a articulação de diferentes escalas de análise geográfica, por meio da qual os alunos possam compreender as relações entre o local e o global. O princípio da conexão, por sua vez, estimula a compreensão do que ocorre entre a sociedade e os elementos do meio físico natural. Tomados em conjunto, conexões e escalas ajudam a explicar os arranjos das paisagens, assim como a localização e a distribuição espacial de diferentes fenômenos geográficos. |
Mundo do trabalho | Destaca os processos técnicos produzidos ao longo do tempo pela sociedade e seus impactos nas formas e na organização do trabalho. Por meio dessa temática, busca-se, portanto, conhecer as diferentes atividades econômicas, comparar as características do trabalho no campo e analisar as mudanças que o desenvolvimento tecnológico promove nas formas de trabalho e nas atividades econômicas. |
Formas de representação e pensamento espacial | Voltada para o desenvolvimento do pensamento espacial e da leitura cartográfica. Para isso, é enfatizado o processo de criação de representações espaciais, como da sala de aula, da escola e do bairro, e a utilização de mapas, croquis, entre outras representações bidimensionais e tridimensionais, como as maquetes. Como ferramentas da análise espacial, o ensino dessas representações espaciais serve de suporte para o desenvolvimento do raciocínio geográfico, fugindo do ensino do mapa pelo mapa, como fim em si mesmo. |
Natureza, ambientes e qualidade de vida | Aborda questões relacionadas aos processos físico-naturais do planeta, assim como aos impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. Por meio dessa temática, os alunos podem reconhecer a importância da natureza para a vida, adotar atitudes visando à preservação dos recursos naturais, identificar a ocorrência de problemas ambientais diversos, além de buscar a solução de tais problemas. |
Fonte de pesquisa: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 362-364. Disponível em: https://oeds.link/jYxReS. Acesso em: 10 jul. 2021.
Os conceitos e conteúdos geográficos na coleção
Esta coleção apresenta uma proposta de ensino organizada com base em categorias e conceitos básicos de lugar, paisagem, território, região e espaço geográfico, abordados de maneira acessível aos alunos que cursam os anos iniciais do Ensino Fundamental. Tais conceitos são apresentados, sempre que possível, com conteúdos e temas que fazem parte do cotidiano e do lugar em que os alunos vivem.
De maneira direta ou indireta, outras temáticas relevantes à compreensão e ao entendimento dos fenômenos geográficos são paulatinamente incorporadas. Entre elas, são privilegiadas questões ligadas à natureza, ao meio ambiente, ao trabalho, à cultura, à cidadania e às relações econômicas e sociais.
Com esse trabalho, procura-se desenvolver nos alunos o entendimento das ações do ser humano e suas relações com o espaço, de modo que eles tenham subsídios para analisar e compreender, criticamente, a sociedade em que vivem, tornando-se cidadãos atuantes. A fim de que a aprendizagem desses conceitos e temas seja significativa, procura-se abordá-los respeitando o nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos e ampliando, de maneira gradativa, a escala de análise geográfica.
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Os conteúdos estão organizados na forma de espiral, ou seja, as temáticas se articulam com as categorias e os conceitos geográficos, que vão sendo retomados no decorrer dos volumes.
Do ponto de vista didático-pedagógico, a elaboração desses conceitos e categorias depende do papel que professores e alunos assumem no processo de ensino-aprendizagem. De um lado, os professores têm a tarefa de atuar como sujeitos norteadores e motivadores, criando as condições necessárias para os alunos se apropriarem de maneira efetiva de novos conhecimentos. Os alunos, por sua vez, devem ser considerados sujeitos criativos e autônomos, capazes de reelaborar novos conhecimentos com base nas diversas informações que já dispõem sobre o mundo onde vivem e nas trocas de experiências e conhecimentos realizadas mediante processos de socialização e interação.
Nesse sentido, a tarefa de ensinar deve privilegiar as dimensões subjetivas e, portanto, singulares dos alunos, valorizando os conhecimentos que já têm e as experiências individuais adquiridas em sua vivência.
Geografia e Cartografia
A Cartografia é um dos mais importantes instrumentos que auxiliam nos estudos geográficos. Essa ferramenta adquire relevância por desenvolver nos alunos um conjunto de habilidades e competências necessárias à leitura e à análise da organização do espaço geográfico, condição importante para entender melhor o mundo em que vivemos. Desse modo, a linguagem cartográfica deve ser explorada desde o início da escolaridade, desenvolvendo nos alunos noções de orientação e localização no espaço terrestre, de distribuição e ordenamento dos fenômenos na ocupação do espaço, de interpretação de símbolos (codificação e decodificação), entre outras.
A tarefa de ensinar Cartografia envolve o manuseio e a elaboração de mapas e outras representações espaciais e a compreensão das informações representadas (entender o traçado de rios e estradas; compreender o significado das cores e dos símbolos utilizados na representação de cidades, regiões de cultivo; analisar as áreas de influência dos climas, etc.). Assim, a construção de conhecimentos sobre a linguagem cartográfica deve desempenhar uma dupla missão: formar alunos capazes de representar e codificar o espaço geográfico e, ao mesmo tempo, formar leitores que possam interpretar as informações expressas em diferentes representações.
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A educação para a leitura de mapas deve ser entendida como o processo de aquisição, pelos alunos, de um conjunto de conhecimentos e habilidades para que consigam efetuar a leitura do espaço, representá-lo, e desta forma construir os conceitos das relações espaciais. Neste processo, a função simbólica desempenha um importante papel para o preparo de leitores eficazes de mapas.
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PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e o livro didático: uma análise crítica. 2. ed. Belo Horizonte: Lê, 1998. p. 9.
Alguns recursos didáticos são importantes no trabalho com o desenvolvimento das noções cartográficas com os alunos. Seguem alguns exemplos.
Globo geográfico |
Representação da Terra, como se fosse uma miniatura do planeta, porém estilizado e generalizado. Ao manusearem essa representação, os alunos se familiarizam com o globo e com as noções de redução. |
Mapas em tamanho grande |
Os mapas devem fazer parte das aulas de Geografia sempre que possível, a fim de que os alunos se familiarizem e manuseiem esse tipo de representação, mesmo que ainda não estejam alfabetizados, de modo que esses recursos instiguem sua curiosidade e suas indagações. |
Maquete |
A maquete pode ser tanto uma prática, tratando-se de sua construção, quanto um recurso que fique disponível e acessível aos alunos para consultas e explorações desse objeto tridimensional. |
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Portanto, o desenvolvimento das noções cartográficas também tem por objetivo levar os alunos a compreenderem mais facilmente a dinâmica do espaço geográfico, contribuindo para a formação de indivíduos capazes de agirem, localizarem-se e deslocarem-se com autonomia.
Objetivos do ensino de Geografia nos anos iniciais
No decorrer dos anos iniciais do Ensino Fundamental, há alguns objetivos importantes que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, compõem um rol de conhecimentos que fazem parte da Base Nacional Comum Curricular a que todos devem ter acesso, e que precisam estar muito claros para a formação no ensino de Geografia. Veja a seguir alguns desses objetivos.
- Desenvolver interesse e curiosidade pelos meios natural e social, buscando informações como forma de melhor compreendê-los.
- Valorizar a importância das relações entre o meio ambiente e as formas de vida, visando preservar as espécies e a qualidade da vida humana.
- Reconhecer e utilizar as informações contidas em imagens e representações gráficas.
- Conhecer e utilizar corretamente os elementos da linguagem cartográfica, além dos referenciais de localização, orientação e distância.
- Registrar, comparar e sintetizar informações, observando, descrevendo e analisando as paisagens.
- Compreender que suas ações têm grande importância para a sociedade da qual fazem parte, assim como para a preservação da natureza.
- Observar a diversidade cultural entre os grupos sociais, verificando sua influência no modo como a natureza é transformada.
- Identificar e compreender as diferenças entre as paisagens e os elementos dos espaços urbano e rural e entre o modo de vida dos habitantes desses espaços.
- Compreender as diferenças entre as atividades desenvolvidas nos espaços urbano e rural, além das relações mantidas entre eles.
- Reconhecer os elementos presentes nas paisagens do lugar onde vivem e em outras paisagens, além de identificar nelas as diferentes formas da natureza e as transformações causadas pela sociedade.
- Reconhecer a existência das técnicas e das tecnologias utilizadas pela sociedade na transformação do espaço e observar as consequências trazidas por muitas das interferências humanas na natureza.
O ensino de História
Até algumas décadas atrás, a História, como componente curricular, estava vinculada aos conteúdos geográficos. Ela era desenvolvida principalmente na área de Estudos Sociais, estabelecida na década de 1970. Nos anos iniciais, os conhecimentos históricos eram baseados nas festividades cívicas e em resumos da História colonial, imperial e republicana. Porém, o ensino de Estudos Sociais passou a ser muito questionado. Diferentes profissionais da área da educação, entre eles, professores e universitários de História e de Geografia, passaram a lutar em favor da separação dessas disciplinas nos currículos escolares. Na década de 1990, com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei no 9.394/96 -, foi oficializada a subdivisão da área de Estudos Sociais em História e Geografia.
No que se refere ao ensino de História, os primeiros anos do Ensino Fundamental são importantes para os alunos se familiarizarem com práticas de investigação. Começando pela própria história, eles atribuem significados para o mundo ao seu redor.
[...] O estudo da História desde os primeiros anos de escolaridade é fundamental para que o indivíduo possa se conhecer, conhecer os grupos e perceber a diversidade, possibilitando comparações entre grupos e sociedades nos diversos tempos e espaços. Por isso, a História ensina a ter respeito pela diferença, contribuindo para o entendimento dos modos de leitura e escrita do mundo em que vivemos e, também, do mundo em que gostaríamos de viver. [...]
FONSECA, Selva Guimarães. Fazer e ensinar história: anos iniciais do ensino fundamental. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. p. 91.
É nos anos iniciais que os alunos desenvolvem noções mais aprofundadas de temporalidade, que vão capacitá-los para o estudo da História nos anos finais do Ensino Fundamental. Além de noções de cronologia, eles são apresentados a uma ideia de tempo como construção histórica. Nessa etapa do ensino, também é essencial que eles compreendam como funcionam as relações sociais e reflitam sobre os diversos grupos que compõem a sociedade, identificando de quais eles fazem parte, como funcionam as dinâmicas diárias de convivência e como podemos agir para transformar a realidade.
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[...]
Por todas as razões apresentadas, espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a história em ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive.
[...]
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 401. Disponível em: https://oeds.link/lyu0JV. Acesso em: 8 jul. 2021.
Progressão entre os volumes
Assim como proposto na BNCC, esta coleção apresenta uma abordagem que valoriza a retomada constante de conceitos entre os cinco volumes, buscando aprofundar em cada ano as escalas de percepção dos conteúdos.
[...]
Retomando as grandes temáticas do Ensino Fundamental - Anos Iniciais, pode-se dizer que, do 1o ao 5o ano, as habilidades trabalham com diferentes graus de complexidade, mas o objetivo primordial é o reconhecimento do "Eu", do "Outro" e do "Nós". Há uma ampliação de escala e de percepção, mas o que se busca, de início, é o conhecimento de si, das referências imediatas do círculo pessoal, da noção de comunidade e da vida em sociedade. Em seguida, por meio da relação diferenciada entre sujeitos e objetos, é possível separar o "Eu" do "Outro". [...]
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 404. Disponível em: https://oeds.link/l7FQAt. Acesso em: 8 jul. 2021.
Assim, no início, os alunos são levados ao estudo de sua identidade e da percepção da diversidade. Depois, amplia-se o enfoque e são inseridos temas envolvendo seus círculos mais próximos de convivência, como a família, os amigos e as pessoas com as quais convivem na escola, no bairro e no dia a dia. Nos volumes finais, amplia-se a noção de comunidade e de espaço público. Nesses momentos iniciais, também serão desenvolvidas noções conceituais ligadas à ideia de passagem de tempo, de análise de fontes históricas, de como realizar entrevistas, entre outros procedimentos necessários ao estudo da História.
Ano a ano, tais noções conceituais serão retomadas, adotando-se em cada etapa um novo enfoque - mais aprofundado e com uma abordagem condizente com a faixa etária dos alunos.
Desenvolvendo a atitude historiadora
De acordo com a proposta da BNCC, um dos fundamentos básicos do ensino de História no Ensino Fundamental é possibilitar aos alunos a formação de uma atitude historiadora diante dos conteúdos estudados. O documento aponta então alguns procedimentos que são essenciais a eles na construção do conhecimento histórico e no desenvolvimento dessa atitude.
Identificação
Esse processo constitui-se pelo mapeamento inicial de um conjunto de informações para que se possa compreender de forma geral o objeto de estudo. Busca-se desenvolver aqui noções como: quem produziu; quando; para quem; onde; por quê, etc. Esse procedimento envolve a capacidade de observação e descrição de elementos (imagéticos, gráficos ou escritos) presentes nas seções de Atividades e nas páginas de conteúdos.
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Comparação
Nesse procedimento, desenvolve-se a capacidade de verificar semelhanças e diferenças entre os objetos de estudo. Os alunos vão agrupar características, perceber categorias entre elas e estabelecer relações entre fenômenos históricos. Nesta coleção, esse procedimento é bastante explorado em atividades que tratam de um mesmo fenômeno praticado em diferentes temporalidades, por exemplo.
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Contextualização
Contextualizar é estabelecer as conexões necessárias entre os conteúdos e perceber o cenário temporal-espacial em que eles estão inseridos. Os alunos vão localizar os temas dentro de determinados recortes para que eles possam compreender os objetos de conhecimento de forma mais ampla. Na coleção, principalmente nas orientações ao professor, buscou-se apresentar um suporte para o professor auxiliá-los no processo de contextualização.
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Interpretação
É durante a interpretação que os alunos percebem os significados e sentidos dos objetos de estudo apresentados ao longo da coleção. A interpretação é feita com base em questionamentos e tem importante papel no desenvolvimento do pensamento crítico. A maioria das atividades apresentadas na coleção busca trabalhar esse procedimento.
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Análise
No processo de análise, os alunos constituem uma espécie de síntese dos conhecimentos e adquirem condições cognitivas mais desenvolvidas para compreender conceitos e fenômenos históricos. É durante a análise que eles chegam a uma espécie de desfecho do assunto que estão estudando, estabelecendo algumas conclusões acerca das hipóteses levantadas.
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Atitude historiadora
Conceitos importantes para o ensino de História
Alguns conceitos são essenciais para o ensino de História. A compreensão deles auxilia os alunos a formarem uma base cognitiva para que possam analisar os fenômenos históricos de forma mais eficiente. A seguir, apresentaremos os principais conceitos e algumas referências científicas de fundamentação teórica, que podem contribuir para embasar a prática pedagógica ao longo do trabalho com a coleção.
Fonte histórica
As fontes históricas são vestígios deixados por grupos humanos, usados pelos historiadores para a construção do conhecimento histórico. Com as perspectivas historiográficas desenvolvidas no século XX, esses documentos podem ser de suportes diversos, como fontes imagéticas, orais, escritas e materiais. Esses documentos são analisados e entrecruzados pelos historiadores para interpretar determinado contexto passado.
A interpretação de fontes históricas também pode ser realizada em sala de aula desde que sejam tomados alguns cuidados. É essencial, por exemplo, que o professor esclareça aos alunos sobre o lugar de produção dos documentos. Afinal, cada produção humana apresenta uma ligação com quem a produziu, quando e onde isso ocorreu, com qual intenção, etc.
[...]
Uma nova concepção de documentos históricos implica, necessariamente, repensar seu uso em sala de aula, já que sua utilização hoje é indispensável como fundamento do método de ensino, principalmente porque permite o diálogo do aluno com realidades passadas e desenvolve o sentido da análise histórica. O contato com as fontes históricas facilita a familiarização do aluno com formas de representação das realidades do passado e do presente, habituando-o a associar o conceito histórico à análise que o origina e fortalecendo sua capacidade de raciocinar baseado em uma situação dada.
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CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004. p. 94-95. (Pensamento e Ação no Magistério).
Sujeito histórico
O conceito de sujeito histórico alterou-se conforme as concepções historiográficas do século XX. Todos os seres humanos passaram a ser entendidos como construtores da História.
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Os sujeitos construtores da história da humanidade são muitos, são plurais, são de origens sociais diversas. Inúmeras vezes defendem ideais e programas opostos, o que é peculiar à heterogeneidade do mundo em que vivemos. Seus pensamentos e suas ações traduzem, na multiplicidade que lhes é inerente, a maior riqueza do ser humano: a alteridade. [...]
[...]
Os sujeitos construtores da História são líderes comunitários, empresários, militares, trabalhadores anônimos, jovens que cultivam utopias, mulheres que labutam no cotidiano da maternidade e, simultaneamente, em profissões variadas, são líderes e militantes de movimentos étnicos, são educadores que participam da formação das novas gerações, são intelectuais que pensam e escrevem sobre os problemas da vida e do mundo, são artistas que, através de seu ímpeto criativo, representam realidades e sentimentos nas artes plásticas, nos projetos arquitetônicos, nos versos, nas composições musicais, são cientistas que plantam o progresso e a inovação tecnológica, são políticos que se integram à vida pública, adotando ou uma prática de estatura maior ou fazendo do espaço público local de práticas patrimonialistas. Os sujeitos construtores da História são, enfim, todos que anonimamente ou publicamente deixam sua marca, visível ou invisível no tempo em que vivem, no cotidiano de seus países e também na história da humanidade.
[...]
DELGADA, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 55-56. (Leitura, Escrita e Oralidade).
No ensino de História, é importante deixar claro aos alunos que eles também são sujeitos históricos, podendo atuar ativamente na transformação da realidade em que vivem.
Tempo
Geralmente, compreendem-se três concepções principais de tempo nos estudos históricos. Primeiro, o tempo da natureza, que é aquele baseado nos fenômenos naturais, como o pôr do sol e períodos de chuva ou seca. Em seguida, o tempo cronológico, que se estrutura com base nas convenções sociais formuladas historicamente pelas sociedades. Nessa concepção de tempo, utilizamos os padrões e unidades de medidas, como minutos, horas, meses e anos.
Por fim, há o tempo histórico, que leva em consideração as transformações das sociedades ao longo dos anos e se caracteriza pelos diferentes ritmos de mudanças que os grupos humanos vivenciam.
A dimensão da temporalidade é considerada uma das categorias centrais do conhecimento histórico. [...] Sendo um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Daí a necessidade de relativizar as diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas; de situar os acontecimentos históricos nos seus respectivos tempos. O conceito de tempo supõe também que se estabeleçam relações entre continuidade e ruptura, permanências e mudanças/ transformações, sucessão e simultaneidade, o antes-agora-depois. [...] É justamente a compreensão dos fenômenos sociais na duração temporal que permite o exercício explicativo das periodizações, que são frutos de concepções de mundo, de metodologias e até mesmo de ideologias diferenciadas.
[...]
BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de história: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. p. 44-45.
Em sala de aula, é muito importante que o professor desenvolva tais noções temporais juntamente com os alunos. A percepção das mudanças e permanências e dos diferentes ritmos de transformação das sociedades são um dos fundamentos básicos do ensino de História.
Cultura
O conceito de cultura pode ser definido como um conjunto de valores e significados construídos socialmente e transmitidos entre as gerações como forma de atribuir sentido ao mundo em que vivemos.
Elementos da cultura envolvem aspectos materiais e imateriais, podendo representar um arcabouço de crenças e tradições, assim como objetos, construções e tudo aquilo produzido pelos seres humanos em seu cotidiano.
[...] Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo.
A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se apresentem de forma cifrada, portando já um significado e uma apreciação valorativa.
[...]
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. São Paulo: Autêntica, 2004. p. 15. (História e... Reflexões).
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No ensino de História, os alunos entram em contato com uma grande variedade de culturas e são incentivados a desenvolverem noções de empatia, olhando o outro com uma perspectiva inclusiva. O combate ao etnocentrismo parte do princípio de compreensão da diversidade cultural e da noção unificadora de humanidade.
Sociedade
Sociedade é um conjunto de pessoas que convivem em determinado local e que compartilham algumas características como língua, costumes e valores.
[...] Sociedade é uma combinação de instituições, modos de relação, formas de organização, normas, etc., que constitui um todo inter-relacionado no qual vive determinada população humana.
[...] As sociedades criam certos mecanismos de autoperpetuação que asseguram sua continuidade no tempo: reprodução sexual, diferenciação de papéis sociais (cabendo aos indivíduos papéis específicos), comunicação, concepção comum do mundo e dos objetivos da sociedade, normas que regulam a vida, formas de socialização [...].
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 382.
Esse conceito pode ser abordado no ensino de História para os alunos perceberem que fazem parte de uma coletividade e para refletirem sobre suas formas de atuação social. Assim, podem ser trabalhadas em sala de aula noções de cooperação, solidariedade e atuação política.