O ensino de História
Até algumas décadas atrás, a História, como componente curricular, estava vinculada aos conteúdos geográficos. Ela era desenvolvida principalmente na área de Estudos Sociais, estabelecida na década de 1970. Nos anos iniciais, os conhecimentos históricos eram baseados nas festividades cívicas e em resumos da História colonial, imperial e republicana. Porém, o ensino de Estudos Sociais passou a ser muito questionado. Diferentes profissionais da área da educação, entre eles, professores e universitários de História e de Geografia, passaram a lutar em favor da separação dessas disciplinas nos currículos escolares. Na década de 1990, com a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei no 9.394/96 -, foi oficializada a subdivisão da área de Estudos Sociais em História e Geografia.
No que se refere ao ensino de História, os primeiros anos do Ensino Fundamental são importantes para os alunos se familiarizarem com práticas de investigação. Começando pela própria história, eles atribuem significados para o mundo ao seu redor.
[...] O estudo da História desde os primeiros anos de escolaridade é fundamental para que o indivíduo possa se conhecer, conhecer os grupos e perceber a diversidade, possibilitando comparações entre grupos e sociedades nos diversos tempos e espaços. Por isso, a História ensina a ter respeito pela diferença, contribuindo para o entendimento dos modos de leitura e escrita do mundo em que vivemos e, também, do mundo em que gostaríamos de viver. [...]
FONSECA, Selva Guimarães. Fazer e ensinar história: anos iniciais do ensino fundamental. Belo Horizonte: Dimensão, 2009. p. 91.
É nos anos iniciais que os alunos desenvolvem noções mais aprofundadas de temporalidade, que vão capacitá-los para o estudo da História nos anos finais do Ensino Fundamental. Além de noções de cronologia, eles são apresentados a uma ideia de tempo como construção histórica. Nessa etapa do ensino, também é essencial que eles compreendam como funcionam as relações sociais e reflitam sobre os diversos grupos que compõem a sociedade, identificando de quais eles fazem parte, como funcionam as dinâmicas diárias de convivência e como podemos agir para transformar a realidade.
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Por todas as razões apresentadas, espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento contínuo ao longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a história em ferramenta a serviço de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive.
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BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 401. Disponível em: https://oeds.link/TN0G9r. Acesso em: 8 jul. 2021.
Progressão entre os volumes
Assim como proposto na BNCC, esta coleção apresenta uma abordagem que valoriza a retomada constante de conceitos entre os cinco volumes, buscando aprofundar em cada ano as escalas de percepção dos conteúdos.
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Retomando as grandes temáticas do Ensino Fundamental - Anos Iniciais, pode-se dizer que, do 1o ao 5o ano, as habilidades trabalham com diferentes graus de complexidade, mas o objetivo primordial é o reconhecimento do "Eu", do "Outro" e do "Nós". Há uma ampliação de escala e de percepção, mas o que se busca, de início, é o conhecimento de si, das referências imediatas do círculo pessoal, da noção de comunidade e da vida em sociedade. Em seguida, por meio da relação diferenciada entre sujeitos e objetos, é possível separar o "Eu" do "Outro". [...]
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Versão final. Brasília: MEC, 2018. p. 404. Disponível em: https://oeds.link/3jdHE5. Acesso em: 8 jul. 2021.
Assim, no início, os alunos são levados ao estudo de sua identidade e da percepção da diversidade. Depois, amplia-se o enfoque e são inseridos temas envolvendo seus círculos mais próximos de convivência, como a família, os amigos e as pessoas com as quais convivem na escola, no bairro e no dia a dia. Nos volumes finais, amplia-se a noção de comunidade e de espaço público. Nesses momentos iniciais, também serão desenvolvidas noções conceituais ligadas à ideia de passagem de tempo, de análise de fontes históricas, de como realizar entrevistas, entre outros procedimentos necessários ao estudo da História.
Ano a ano, tais noções conceituais serão retomadas, adotando-se em cada etapa um novo enfoque - mais aprofundado e com uma abordagem condizente com a faixa etária dos alunos.
Desenvolvendo a atitude historiadora
De acordo com a proposta da BNCC, um dos fundamentos básicos do ensino de História no Ensino Fundamental é possibilitar aos alunos a formação de uma atitude historiadora diante dos conteúdos estudados. O documento aponta então alguns procedimentos que são essenciais a eles na construção do conhecimento histórico e no desenvolvimento dessa atitude.
Identificação
Esse processo constitui-se pelo mapeamento inicial de um conjunto de informações para que se possa compreender de forma geral o objeto de estudo. Busca-se desenvolver aqui noções como: quem produziu; quando; para quem; onde; por quê, etc. Esse procedimento envolve a capacidade de observação e descrição de elementos (imagéticos, gráficos ou escritos) presentes nas seções de Atividades e nas páginas de conteúdos.
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Comparação
Nesse procedimento, desenvolve-se a capacidade de verificar semelhanças e diferenças entre os objetos de estudo. Os alunos vão agrupar características, perceber categorias entre elas e estabelecer relações entre fenômenos históricos. Nesta coleção, esse procedimento é bastante explorado em atividades que tratam de um mesmo fenômeno praticado em diferentes temporalidades, por exemplo.
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Contextualização
Contextualizar é estabelecer as conexões necessárias entre os conteúdos e perceber o cenário temporal-espacial em que eles estão inseridos. Os alunos vão localizar os temas dentro de determinados recortes para que eles possam compreender os objetos de conhecimento de forma mais ampla. Na coleção, principalmente nas orientações ao professor, buscou-se apresentar um suporte para o professor auxiliá-los no processo de contextualização.
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Interpretação
É durante a interpretação que os alunos percebem os significados e sentidos dos objetos de estudo apresentados ao longo da coleção. A interpretação é feita com base em questionamentos e tem importante papel no desenvolvimento do pensamento crítico. A maioria das atividades apresentadas na coleção busca trabalhar esse procedimento.
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Análise
No processo de análise, os alunos constituem uma espécie de síntese dos conhecimentos e adquirem condições cognitivas mais desenvolvidas para compreender conceitos e fenômenos históricos. É durante a análise que eles chegam a uma espécie de desfecho do assunto que estão estudando, estabelecendo algumas conclusões acerca das hipóteses levantadas.
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Atitude historiadora
Conceitos importantes para o ensino de História
Alguns conceitos são essenciais para o ensino de História. A compreensão deles auxilia os alunos a formarem uma base cognitiva para que possam analisar os fenômenos históricos de forma mais eficiente. A seguir, apresentaremos os principais conceitos e algumas referências científicas de fundamentação teórica, que podem contribuir para embasar a prática pedagógica ao longo do trabalho com a coleção.
Fonte histórica
As fontes históricas são vestígios deixados por grupos humanos, usados pelos historiadores para a construção do conhecimento histórico. Com as perspectivas historiográficas desenvolvidas no século XX, esses documentos podem ser de suportes diversos, como fontes imagéticas, orais, escritas e materiais. Esses documentos são analisados e entrecruzados pelos historiadores para interpretar determinado contexto passado.
A interpretação de fontes históricas também pode ser realizada em sala de aula desde que sejam tomados alguns cuidados. É essencial, por exemplo, que o professor esclareça aos alunos sobre o lugar de produção dos documentos. Afinal, cada produção humana apresenta uma ligação com quem a produziu, quando e onde isso ocorreu, com qual intenção, etc.
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Uma nova concepção de documentos históricos implica, necessariamente, repensar seu uso em sala de aula, já que sua utilização hoje é indispensável como fundamento do método de ensino, principalmente porque permite o diálogo do aluno com realidades passadas e desenvolve o sentido da análise histórica. O contato com as fontes históricas facilita a familiarização do aluno com formas de representação das realidades do passado e do presente, habituando-o a associar o conceito histórico à análise que o origina e fortalecendo sua capacidade de raciocinar baseado em uma situação dada.
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CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004. p. 94-95. (Pensamento e Ação no Magistério).
Sujeito histórico
O conceito de sujeito histórico alterou-se conforme as concepções historiográficas do século XX. Todos os seres humanos passaram a ser entendidos como construtores da História.
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Os sujeitos construtores da história da humanidade são muitos, são plurais, são de origens sociais diversas. Inúmeras vezes defendem ideais e programas opostos, o que é peculiar à heterogeneidade do mundo em que vivemos. Seus pensamentos e suas ações traduzem, na multiplicidade que lhes é inerente, a maior riqueza do ser humano: a alteridade. [...]
Os sujeitos construtores da História são líderes comunitários, empresários, militares, trabalhadores anônimos, jovens que cultivam utopias, mulheres que labutam no cotidiano da maternidade e, simultaneamente, em profissões variadas, são líderes e militantes de movimentos étnicos, são educadores que participam da formação das novas gerações, são intelectuais que pensam e escrevem sobre os problemas da vida e do mundo, são artistas que, através de seu ímpeto criativo, representam realidades e sentimentos nas artes plásticas, nos projetos arquitetônicos, nos versos, nas composições musicais, são cientistas que plantam o progresso e a inovação tecnológica, são políticos que se integram à vida pública, adotando ou uma prática de estatura maior ou fazendo do espaço público local de práticas patrimonialistas. Os sujeitos construtores da História são, enfim, todos que anonimamente ou publicamente deixam sua marca, visível ou invisível no tempo em que vivem, no cotidiano de seus países e também na história da humanidade.
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DELGADA, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 55-56. (Leitura, Escrita e Oralidade).
No ensino de História, é importante deixar claro aos alunos que eles também são sujeitos históricos, podendo atuar ativamente na transformação da realidade em que vivem.
Tempo
Geralmente, compreendem-se três concepções principais de tempo nos estudos históricos. Primeiro, o tempo da natureza, que é aquele baseado nos fenômenos naturais, como o pôr do sol e períodos de chuva ou seca. Em seguida, o tempo cronológico, que se estrutura com base nas convenções sociais formuladas historicamente pelas sociedades. Nessa concepção de tempo, utilizamos os padrões e unidades de medidas, como minutos, horas, meses e anos.
Por fim, há o tempo histórico, que leva em consideração as transformações das sociedades ao longo dos anos e se caracteriza pelos diferentes ritmos de mudanças que os grupos humanos vivenciam.
A dimensão da temporalidade é considerada uma das categorias centrais do conhecimento histórico. [...] Sendo um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Daí a necessidade de relativizar as diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas; de situar os acontecimentos históricos nos seus respectivos tempos. O conceito de tempo supõe também que se estabeleçam relações entre continuidade e ruptura, permanências e mudanças/transformações, sucessão e simultaneidade, o antes-agora-depois. [...] É justamente a compreensão dos fenômenos sociais na duração temporal que permite o exercício explicativo das periodizações, que são frutos de concepções de mundo, de metodologias e até mesmo de ideologias diferenciadas.
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BEZERRA, Holien Gonçalves. Ensino de história: conteúdos e conceitos básicos. In: KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2003. p. 44-45.
Em sala de aula, é muito importante que o professor desenvolva tais noções temporais juntamente com os alunos. A percepção das mudanças e permanências e dos diferentes ritmos de transformação das sociedades são um dos fundamentos básicos do ensino de História.
Cultura
O conceito de cultura pode ser definido como um conjunto de valores e significados construídos socialmente e transmitidos entre as gerações como forma de atribuir sentido ao mundo em que vivemos.
Elementos da cultura envolvem aspectos materiais e imateriais, podendo representar um arcabouço de crenças e tradições, assim como objetos, construções e tudo aquilo produzido pelos seres humanos em seu cotidiano.
[...] Trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo.
A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se apresentem de forma cifrada, portando já um significado e uma apreciação valorativa.
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PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e história cultural. São Paulo: Autêntica, 2004. p. 15. (História e... Reflexões).
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No ensino de História, os alunos entram em contato com uma grande variedade de culturas e são incentivados a desenvolverem noções de empatia, olhando o outro com uma perspectiva inclusiva. O combate ao etnocentrismo parte do princípio de compreensão da diversidade cultural e da noção unificadora de humanidade.
Sociedade
Sociedade é um conjunto de pessoas que convivem em determinado local e que compartilham algumas características como língua, costumes e valores.
[...] Sociedade é uma combinação de instituições, modos de relação, formas de organização, normas, etc, que constitui um todo inter-relacionado no qual vive determinada população humana.
[...] As sociedades criam certos mecanismos de autoperpetuação que asseguram sua continuidade no tempo: reprodução sexual, diferenciação de papéis sociais (cabendo aos indivíduos papéis específicos), comunicação, concepção comum do mundo e dos objetivos da sociedade, normas que regulam a vida, formas de socialização [...].
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 382.
Esse conceito pode ser abordado no ensino de História para os alunos perceberem que fazem parte de uma coletividade e para refletirem sobre suas formas de atuação social. Assim, podem ser trabalhadas em sala de aula noções de cooperação, solidariedade e atuação política.