36
CAPÍTULO 2 A Educação Física como aprendizagem motora
Observe a imagem.
Conectando ideias
1. Para você, de que forma a Educação Física e a Arte se revelam nessa imagem?
Perceba que as cores, as formas e a composição dos objetos estão presentes na imagem, revelando uma inter-relação com Arte, e que o movimento da criança e a unidade temática Jogos e brincadeiras remetem ao universo da Educação Física.
2. Em seu dia a dia, você procura diversificar as atividades que trabalha em Educação Física e Arte para favorecer a aprendizagem motora e o senso artístico respectivamente? Reflita.
A resposta é pessoal, de modo que proporcione um momento para refletir se o trabalho com a aprendizagem motora e o senso artístico está satisfatório no dia a dia de sua profissão.
37
A proposta de um currículo de Educação Física que tenha como objeto de estudo a cultura corporal considera todas as dimensões do corpo - motora, cognitiva e socioemocional - e não nega a possibilidade de a Educação Física ter, entre os seus objetivos, a aprendizagem motora. O Ensino Fundamental é uma etapa de suma importância para o desenvolvimento motor do estudante, além de ser um período em que ele tem a oportunidade de ampliar o olhar para o próprio corpo e para as questões que nele se apresentam. Ao desenvolver a cultura e o olhar do próprio corpo, a dimensão de corporeidade, o aluno poderá simultaneamente desenvolver formas de expressão e linguagens artísticas. Eis a integração entre Arte e Educação Física.
Segundo Barnett (2009), é no Ensino Fundamental - Anos Iniciais que o desenvolvimento de habilidades motoras básicas pode acontecer e pode ser organizado com o propósito de contribuir para a constituição de estruturas motoras mais complexas. Conforme defende Piaget (2013), é um processo de aquisição e acomodação da aprendizagem. João Batista Freire (FREIRE, 1994) é referência na Educação Física entre os autores que buscaram um diálogo com as teorias de Jean Piaget. Em sua proposta metodológica para a Educação Física, considera a relevância do contexto sociocultural valorizando o conhecimento prévio dos alunos.
Aprender sobre as possibilidades do seu corpo é aprender sobre si mesmo. A aprendizagem motora, na proposição do desenvolvimento de um repertório motor vasto, compõe três campos de possibilidades:
- Atividades locomotoras. Exemplos: correr, saltar, rolar.
- Atividades estabilizadoras. Exemplos: equilibrar, girar.
- Atividades manipulativas. Exemplos: arremessar, chutar, receber, quicar, rebater.
38
Características do desenvolvimento da motricidade e da cognição de crianças de 6 e 7 anos
Tratando-se do processo de desenvolvimento motor e cognitivo, um ambiente repleto de estímulos pode ser muito benéfico para a aprendizagem. Para essa faixa etária, de acordo com os estímulos propostos no ambiente, enquanto o estudante percebe e elabora estratégias de ação, ele está desenvolvendo sua capacidade cognitiva. Nas ações realizadas na resolução desses problemas, ele desenvolve-se motoramente.
Esse processo necessita de uma interação com estímulos externos, e é papel do currículo sistematizar intencionalmente essa demanda. Portanto, se esse for um ambiente rico de estímulos e possibilidades, aumenta-se a potência da construção de novas aprendizagens, tanto motoras quanto cognitivas.
O processamento das informações e a captação de estímulos através dos sentidos acontecem no sistema nervoso central, que pode gerar novas interpretações e ações. As mudanças no comportamento motor refletem os processos de desenvolvimento cognitivo. Tudo acontece de forma dinâmica e relacional.
De acordo com os estágios de desenvolvimento propostos por Piaget, a faixa etária do Ensino Fundamental - Anos Iniciais abarca processos pré-operacionais, aproximando-se dos jogos simbólicos, em que a imaginação e a fantasia estão presentes nas suas representações de mundo. A aprendizagem sobre conservação em relação aos objetos está sendo construída, bem como em relação à extensão, ao volume, à área, à quantidade e ao peso. Por exemplo: Quando se tem uma garrafa cheia de água e esse conteúdo é transposto para um recipiente maior, para as crianças dessa faixa etária ainda é difícil perceber que o volume da água é o mesmo; o que mudou foi o recipiente.
O desenvolvimento das habilidades motoras básicas e suas possíveis variações é muito importante para essa faixa etária, pois as crianças estão refinando uma série de movimentos básicos isoladamente - correr, saltar, equilibrar -, mas já podem começar a explorar algumas combinações entre determinadas habilidades (correr saltando em apenas um pé, por exemplo).
Para a aprendizagem e o refinamento de habilidades motoras, existem as características do contexto e as características da tarefa. O professor que consegue organizar as duas variáveis está mais próximo de alcançar seus objetivos, que vai ao encontro do desenvolvimento da corporalidade de seus estudantes, que eles sejam autônomos sobre seus movimentos e seus desafios corporais.
De acordo com Gallahue e Ozmun (2006), podemos classificar as fases do desenvolvimento motor da seguinte maneira:
- Fase motora reflexiva: movimentos involuntários; respostas do bebê ao ambiente o qual ele é exposto de imediato. Esses movimentos são a chave de entrada para auxiliar o bebê a relacionar-se com o ambiente externo.
39
- Fase motora rudimentar: movimentos voluntários que têm como referência a sobrevivência; a estabilização do tronco e o controle da cabeça e do pescoço. O engatinhar e o caminhar são movimentos observados nessa faixa de desenvolvimento.
- Fase de movimentos fundamentais: a criança reconhece seu corpo e começa a explorar e experimentar o ambiente colocando seus movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos em prática. O equilíbrio é um dos grandes desafios dessa fase e gradualmente é colocado na rotina, estimulado pela necessidade de adaptação desse momento.
- Fase de movimentos especializados: os movimentos adquirem uma complexidade maior e são utilizados para atividades mais desafiadoras. As habilidades locomotoras, manipulativas fundamentais e estabilizadoras têm uma evolução gradativa e muito relevante diante de todo o seu desenvolvimento.
■ Desenvolvimento motor: faixas etárias aproximadas, fases e estágios
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2003.
Nesta parte do capítulo, enfatizamos os aspectos motores e cognitivos da aprendizagem como complementação às dimensões social e cultural do movimento.
Nos capítulos 4 e 5, vamos propor algumas atividades com o objetivo de explorar habilidades locomotoras, manipulativas, fundamentais e estabilizadoras, com foco em uma evolução gradativa e de desenvolvimento, ao mesmo tempo que o aluno trabalhará habilidades importantes do ponto de vista da linguagem artística.