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CAPÍTULO 3 A aula de Educação Física
Observe a imagem.
Conectando ideias
1. Como você planeja e estrutura suas aulas de Educação Física?
Este é um momento oportuno para autoavaliação e reflexão sobre sua prática pedagógica e o modo como organiza suas aulas: se segue alguma fundamentação, baseada em teorias, se segue o planejamento combinado com a direção e a coordenação escolar, ou outro caminho. Enfim, é uma oportunidade para analisar os limites e as potencialidades de sua prática pedagógica e o modo como encaminha suas aulas. É importante destacar que, nesta obra, buscamos o diálogo entre diferentes abordagens da Educação Física a fim de acolher o maior número de professores e suas perspectivas.
2. Em que medida o componente curricular Arte é integrado no planejamento de suas aulas?
Como esta obra dialoga com o componente curricular Arte, de acordo com as especificidades da área de Linguagens (ver capítulo 1 deste volume), é sempre importante analisar como Arte pode ser integrada às aulas de Educação Física. Nos capítulos 4 e 5, em nossas propostas de roteiros de aula, sugerimos um caminho para estabelecer conexão entre Educação Física e Arte, na seção Misturando linguagens.
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A Educação Física, como componente curricular da área de Linguagens, comunica, a todo momento, formas de ser e de estar no mundo. Na medida em que o sujeito se apropria de sua corporalidade, ele consegue entender-se como sujeito em potência.
Perspectivas de ensino-aprendizagem em Educação Física
No componente de Educação Física, há uma dimensão experiencial que é intrínseca e muito significativa, mas não significa que diálogos sobre outras diversas dimensões - para além do físico/motor - não o componham.
A Educação Física é um componente curricular que tem saberes para além da dimensão exclusiva do fazer e é fundamental para o desenvolvimento pleno do ser humano. Para isso, assume algumas importantes perspectivas:
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- A criança aprende pelo corpo
Perceber que uma criança em movimento consegue desenvolver-se em muitos outros aspectos, desde aprendizagens cognitivas até as relacionais. - Ludicidade
Validar a importância do brincar como lógica intrínseca da infância, em que as possibilidades de conviver, criar e negociar são postas em prática. - Estudante no centro
Entender o estudante como protagonista da própria aprendizagem, na construção de seus saberes e no desenvolvimento de sua autonomia. O professor atua como mediador desse processo. É importante o professor reconhecer e validar o conhecimento prévio que os alunos trazem do ambiente familiar e social para compor, com os saberes escolares, novas perspectivas sobre o mundo em que vivem. - Diversificação das aulas
Possibilitar diferentes experiências corporais para que a aprendizagem seja estabelecida, variando os espaços de aula, os estímulos, os materiais, a metodologia e abordagem escolhidas pelo professor (por exemplo: aulas diretivas, de exploração, circuito, pesquisa/ investigação, entre outras).
A possibilidade de incluir diferentes linguagens, como a escrita, a oralidade e uma abordagem artística que proporcione uma experiência estética para trabalhar o componente Arte, pode ser planejada nesta etapa. - Repertório de práticas corporais
Explorar as mesmas unidades temáticas ao longo do percurso escolar, mas ampliando seus objetos de conhecimento, suas possibilidades e complexidade. Apresentar uma gama de práticas corporais aos estudantes é um dos objetos da Educação Física.
Diante de tudo o que foi explicitado até aqui, o objetivo deste capítulo é estruturar as aulas propriamente ditas, fornecendo subsídios para um bom planejamento. Lembrando que o planejamento e a avaliação estão interligados durante todo o processo de ensino-aprendizagem.
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Estrutura e desenvolvimento da aula
Tendo em vista as perspectivas, conforme foram indicadas anteriormente, que devem compor todo o planejamento das aulas - A criança aprende pelo corpo; Ludicidade; Estudante no centro; Diversificação das aulas; e Repertório de práticas corporais -, o professor deve organizar seu planejamento de acordo com todos esses aspectos. Em consonância com as sugestões fornecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma proposta de currículo se estrutura da seguinte forma:
■ Processo do planejamento na estruturação da aula
1. Escolha da competência específica da área de Educação Física para o Ensino Fundamental - Elencar uma entre as dez competências disponíveis na BNCC.
Exemplo: Competência 7: Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos.
2. Escolha da Unidade temática - Para 1o e 2o anos, são quatro possibilidades: Brincadeiras e jogos, Danças, Ginásticas e Esportes.
Exemplo: Danças.
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3. Escolha do objeto de conhecimento - Em algumas unidades temáticas, há a sugestão de mais de um objeto de conhecimento, o que é o caso de Esportes. Sugere-se o trabalho com Esportes de marca e Esportes de precisão.
Exemplo: Danças do contexto comunitário e regional.
4. Habilidades relacionadas a essa prática - As habilidades são norteadoras das aprendizagens, segundo a BNCC.
Exemplos: (EF12EF11) Experimentar e fruir diferentes danças do contexto comunitário e regional (rodas cantadas, brincadeiras rítmicas e expressivas), e recriá-las, respeitando as diferenças individuais e de desempenho corporal. (EF12EF12) Identificar os elementos constitutivos (ritmo, espaço, gestos) das danças do contexto comunitário e regional, valorizando e respeitando as manifestações de diferentes culturas.
5. Escolher o tema de aula - Entre as inúmeras possibilidades abarcadas pelo objeto de conhecimento, escolher a prática corporal que deverá ser trabalhada durante as aulas.
Exemplo: Frevo.
6. Selecionar as estratégias e os conteúdos a serem utilizados - Nesse tópico, o professor de fato escolhe os conteúdos e a metodologia que usará para alcançar seus objetivos. O componente curricular Arte pode também ser contemplado neste momento.
Exemplo: Começar a aula confeccionando, em integração com Arte, uma sombrinha de frevo e, em seguida, perguntar aos estudantes se já conheciam ou tinham visto esse objeto e, assim, trabalhar em sala de aula com a possibilidade de os estudantes identificarem esse artefato cultural. Em seguida, você pode tocar uma música de frevo e pedir aos estudantes que dancem conforme sua ideia a respeito de como as pessoas dançam em seus contextos. Depois, você pode ensinar alguns movimentos básicos da dança e explicar o contexto de surgimento, tanto dos passos específicos quanto dos nomes (ferrolho, tesourinha, arrastão etc.). Por fim, os estudantes podem compartilhar os movimentos que aprenderam e os movimentos que inventaram, em uma partitura construída coletivamente.
7. Avaliação - Nessa etapa, você pode retomar o percurso escolhido e verificar como foi o desenvolvimento de competências e habilidades, a fim de avaliar o grau de aprendizagem dos estudantes. Além disso, por exemplo, ao trabalhar em sala de aula com a competência específica 7 da área de Educação Física, você pode verificar se os estudantes respeitam as práticas corporais de outras culturas, se eles demonstram interesse em saber sobre a prática corporal que fizeram e o quanto ela foi importante e agregou mais conhecimento a eles.
Exemplo: Os estudantes podem construir e brincar com um jogo da memória de diversas danças, incluindo o frevo, a fim de identificar essa manifestação da cultura corporal.
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Tais escolhas devem levar em conta também os contextos específicos que você está inserido, incluindo, por exemplo, os materiais e suas quantidades disponíveis, o espaço usual na sua escola, o número de estudantes na sua turma, o número de aulas semanais, o tempo de aula. É importante extrapolar os espaços tradicionais de aula, construir os próprios materiais com os estudantes, envolvê-los em corresponsabilidade no engajamento das aulas. Igualmente importante é validar que a exploração das práticas corporais ocorre dentro e fora da escola, com a comunidade escolar, em que o apoio da direção e das famílias é condição para um trabalho cada vez mais amplo e rico.
Cidadão do Mundo
Apropriar-se da cidade em que vive e participar de eventos comemorativos que nela ocorrem faz parte da formação e integração cidadã de seus habitantes. O texto a seguir mostra um exemplo de como as práticas corporais podem ocorrer fora da escola e integrar a comunidade em um evento comemorativo, cidadão e inclusivo.
Prefeitura realiza inscrições para corrida em comemoração ao aniversário da cidade
A prefeitura de Santa Inês [MA], por meio do Departamento de Esportes da Educação está realizando inscrições para circuito de ciclismo e corrida rústica que acontecerá no dia 14 de março, uma das programações em comemoração ao aniversário de emancipação política do Município. As inscrições estão sendo realizadas até o dia 20 de fevereiro [de 2020] na Secretaria de Educação - Semed, localizada na Rua 7 de Setembro, Centro, no horário das 8 ao meio-dia e das 14h às 18h. Serão sete categorias na corrida rústica:
Categoria Kids - Masculino: dos 12 anos, ano-base 2008, a 15 anos, ano-base 2005.
Categoria Novos - Masculino: a partir dos 16 anos, exemplo: ano-base 2004 a nascidos até 1986.
Categoria Novos - Masculino: a partir dos 16 anos, exemplo: ano-base 2004 a nascidos até 1986.
Categoria Veteranos - Masculino: a partir dos 35 anos, exemplo: ano-base 1985.
Categoria Máster - Masculino: a partir de 45 anos, exemplo: ano-base 1975.
Categoria Kids - Feminino: dos 12 anos, ano-base 2008, a 15 anos, ano-base 2005.
Categoria Novos - Feminino: a partir dos 16 anos, exemplo: ano-base 1981.
Categoria Veteranos - Feminino: A partir dos 40 anos, exemplo: ano-base 1980.
Aqueles que residem em outros municípios podem fazer as inscrições pelo e-mail: santaines14demarco@gmail.com. A ficha de inscrição deve ser preenchida eletronicamente e assinada manualmente. Escanear e enviar com os documentos: RG, CPF e comprovante de residência para o e-mail citado.
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A entrega dos kits de corrida acontecerá um dia antes do circuito (13/3), na Semed, ou, para quem residir fora, receberá uma hora antes dos circuitos. De acordo com a coordenação, a concentração do primeiro circuito-categoria novos e veteranos feminino, masculino e máster - acontecerá às 6h30, com largada às 7h, no dia 14 de março. A categoria kids masculino e feminino acontecerá às 7h40, todos com largada em frente ao prédio da Prefeitura Municipal de Santa Inês, na Av. Luiz Muniz, no 1005, Centro.
Mais informações na Secretaria de Educação - Semed.
Fonte: SETOR de comunicação. Prefeitura realiza inscrições para corrida em comemoração ao aniversário da cidade. Portal da Prefeitura de Santa Inês, 5 fev. 2020.
Disponível em: https://oeds.link/dwrl4r. Acesso em: 12 maio 2021. (Adaptado.)
Para saber mais
- 300 dias de bicicleta: 22 mil km de emoções pelas Américas, de Sven Schmid, tradução de Kristina Michahelles. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2016.
Aproveitando o tema de ciclismo em evento comemorativo da cidade, sugerimos a leitura desta obra.
Sven Schmid, obrigado a deixar o Brasil, parte de bicicleta em uma viagem de 300 dias pela América. Durante 10 meses, ele percorreu sozinho mais de 20.000 km da Argentina até o Canadá. O autor, em sua emocionante viagem pela América, nos convida a conhecer as surpreendentes e intrigantes histórias em sua trajetória rumo ao desconhecido. Experiências vividas, desafios, encontros inesquecíveis e inusitados, momentos de solidão, medo e gratidão são narrados na obra em tom peculiar pelo autor que vivenciou esta grande jornada de autoconhecimento e de desbravamento.
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Baseado no documento oficial da BNCC, esperamos que, ao final do processo, os estudantes possam ter vivenciado, discutido, se apropriado de diferentes práticas da cultura corporal. Que tenham acesso a experiências corporais diversas, profundas e ricas. Que possam concluir o Ensino Fundamental - Anos Iniciais, portanto, sabendo mais sobre si, respeitando o próprio corpo e o corpo do outro.
Avaliação
A avaliação é um dos processos mais importantes de um planejamento, já que por meio dela é possível olhar novamente para o percurso para identificar em que aspectos ele foi efetivo e apontar possíveis lacunas. Vale ressaltar que o ato de avaliar está diretamente relacionado a ensinar e aprender, uma vez que essas são uma das principais funções da escola.
Apesar de a avaliação em Educação Física ter as suas especificidades, uma vez que esse componente curricular tem dinâmicas muito diferentes de outras disciplinas, ela não pode ser deixada de lado. Avaliar com qualidade durante o percurso permite relações de ensino-aprendizagem com mais qualidade.
A avaliação passa a ter finalidade de fornecer sobre o processo pedagógico informações que permitam aos agentes escolares decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se fizerem necessários em face do projeto educativo definido coletivamente e comprometido com a garantia da aprendizagem do aluno. Converte-se então em um instrumento referencial e de apoio às definições de natureza pedagógica, administrativa e estrutural que se concretiza por meio de relações partilhadas e cooperativas. (SOUSA, 1993, p. 46)
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A avaliação formativa e diagnóstica
Pretende-se que, sobretudo neste ciclo de escolarização, a avaliação seja formativa. É importante que as práticas avaliativas façam parte do cotidiano escolar do professor e que estejam atreladas a seus objetivos. Assim, você pode, sempre que possível, rever se o que está avaliando de fato é o que se objetivou para o processo de ensino-aprendizagem.
A avaliação formativa possibilita aproximar-se de uma das principais funções da escola, conforme dito anteriormente: o ato de ensinar e o ato de aprender. Nessa perspectiva, o processo de avaliar possibilita ao professor coletar informações, a fim de aprimorar cada vez mais a aprendizagem dos estudantes e, assim, desenvolver melhores práticas para as aulas.
De caráter estritamente pedagógico, a avaliação formativa acontece durante todo o processo educativo. Ela fornece feedbacks constantes, para que adaptações possam ocorrer durante o percurso, e não ao final dele, apenas como aferição do que foi aprendido pontualmente.
Por isso, vale ressaltar que é importante que o processo seja avaliativo durante todo o ano escolar, a fim de evitar o distanciamento entre o que se ensina e o que se avalia, pois muitas vezes o professor planeja e organiza todo o processo didático-pedagógico e, no fim, a avaliação acaba não se relacionando com o plano que foi desenvolvido por ele em sala de aula.
Um exemplo disso seria neste caso: o professor ensina, sob uma perspectiva voltada para o treinamento esportivo, o conceito das regras do jogo de basquete e diz aos estudantes que eles não podem quicar a bola com as duas mãos nem andar segurando a bola com as duas mãos e, depois, indica na avaliação da prática esportiva as regras associadas à noção do que é permitido no jogo de basquete. Embora o foco seja aula de basquete, o raciocínio lógico é diferente entre o que foi realizado durante a aula e a avaliação.
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A prática de avaliação formativa consta de alguns documentos oficiais, como a BNCC, que preconiza o desenvolvimento de dez competências gerais para serem desenvolvidas ao longo de toda a Educação Básica e, dessa forma, aponta também para a importância da mudança nos processos de avaliação de aprendizagem.
[...] construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referênciapara melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos. (BRASIL, 2018, 17)
Quanto à avaliação diagnóstica, no início de um bloco de conteúdos, de um projeto ou de um novo tema, ela poderá ser realizada, para que você possa articular os saberes que os estudantes já detêm ou conquistaram com novas possibilidades de aprendizagem.
Um exemplo disso é, ao trabalhar a unidade temática Ginásticas, no objeto de conhecimento Ginástica Geral, cujo tema seja Rolamentos, você pode propor aos estudantes que mostrem para a turma todas as possibilidades de rolar que já conhecem. Dessa forma, você poderá, por exemplo, adequar seu planejamento articulando novos saberes com o que os estudantes já conhecem. Nenhuma turma é igual à outra; muitas vezes, o que funciona em um contexto não é o mesmo que funcionará em outro; portanto, uma avaliação diagnóstica é imprescindível ao processo educativo.
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No quadro-cronograma da Introdução deste volume, sugerimos dois momentos de avaliação diagnóstica, sempre no começo de semestre, para que, antes de trabalhar com as unidades temáticas e as aulas planejadas, se possa dedicar um tempo a averiguar o que os estudantes já conhecem ou sabem fazer a respeito cada uma delas.
Observe o quadro:
Quadro com sugestão de avaliação diagnóstica
O que eu vou aprender?
Você pode propor, ao longo do ano, investigações sobre as unidades temáticas, a fim de estimular a curiosidade e o interesse dos alunos. Em seguida, para encaminhar a avaliação diagnóstica, reúna-os em roda, leia as perguntas a seguir em voz alta e peça que comentem oralmente as respostas. Registre as respostas da turma para que possa acompanhar e sistematizar melhor o aprendizado.
Os rolamentos na aula de Ginástica geral | Sim | Parcialmente | Não |
Você sabe o que é rolamento? | |||
Consegue fazer um? | |||
Consegue fazer um rolamento diferente do anterior? | |||
Quais partes do corpo você movimenta ao fazer um rolamento? |
Se os objetivos da Educação Física não são aquisição de aptidão física, não faz sentido que as avaliações o sejam. Investigar se as aprendizagens das diferentes dimensões da Educação Física estão sendo construídas deve ser um norte a todo o processo pedagógico.
Nas atividades avaliativas, não só os saberes práticos devem ser considerados, mas também os contextos históricos e culturais, a dimensão socioafetiva, os princípios morais e cognitivos. Nossa perspectiva e objetivo é a formação integral dos estudantes. É importante valorizar os saberes advindos do ambiente familiar e por meio dos idosos da comunidade, cuidando para validar esses conhecimentos junto ao conhecimento científico sistematizado na escola.
Sugerimos neste Manual os roteiros de aulas e, neles, ao final de cada aula, sugerimos também uma atividade de avaliação. Lembrando que as possibilidades de instrumentos avaliativos são variadas e podem ser aplicadas por meio de registros de diferentes métodos (desenhos, colagens, fotografias e vídeos), fichas de observação, portfólios, autoavaliação e rodas de conversa.