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CAPÍTULO 2 Desenvolvimento das crianças de 8, 9 e 10 anos
Conectando ideias
- Como a percussão corporal pode estar presente em seus planejamentos de aula?
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Você já levou seus alunos a perceber quais partes do corpo podem produzir sons? E que tipos de sons?
Reflita neste momento que a Música e a Educação Física podem ser integradas no trabalho de percussão corporal e na percepção de que partes de nosso corpo podem produzir sons. Usando os dedos da mão, toque uma música e crie sons e ritmos ao estalar os dedos, bater palmas etc.
Perceber o próprio corpo como um instrumento musical pode ser muito divertido! Tanto o professor de Educação Física quanto o professor de Arte podem trazer a temática da percussão corporal para seus planejamentos de aula. O que é um som grave? E um som agudo? O que é timbre? Quais partes do nosso corpo podem produzir sons com essas características? Investigar a música que todos nós produzimos por meio do corpo não exige nenhum material, apenas criatividade. Mãos à obra?
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Características da faixa etária de 8, 9 e 10 anos de idade
Para que o trabalho desenvolvido com as crianças seja potente e significativo, é necessário entender as características da faixa etária na etapa do 3o ao 5o anos, em que os estudantes têm, em geral, 8, 9 e 10 anos de idade. No volume anterior, tratamos das características das crianças que iniciam sua jornada no Ensino Fundamental I. A partir de agora, neste capítulo, veremos como ocorre a evolução das crianças nos aspectos motor, cognitivo e socioemocional.
Os seres humanos vivem em constante mudança, recebendo a todo momento estímulos que os fazem rever-se e transformar-se, criando novas possibilidades de pensar e agir. Essas mudanças são bastante perceptíveis nas crianças, nas quais a relação com os estímulos acontece a todo momento, sendo cada vez mais nítida a mudança em seu comportamento, entendimento sobre o corpo e suas formas de pensar e interpretar a realidade.
O desenvolvimento motor é entendido como um processo relacionado ao movimentar-se, que ocorre em razão de aspectos genéticos, ambientais e também da própria tarefa que realiza. O desenvolvimento motor ocorre de diferentes formas e não atinge sempre um resultado comum, está associado às experiências corporais às quais a criança foi submetida ao longo de sua história. Isto é, ocorre de forma dinâmica e em consonância com sua própria experiência.
As crianças que estão nos últimos anos do Ensino Fundamental - Anos Iniciais enquadram-se no primeiro estágio da fase de movimentos especializados, no qual podem ser propostas atividades em que haja a combinação de habilidades fundamentais exploradas anteriormente. Exemplo: resolução de determinada tarefa que una o salto e o arremesso.
Nessa faixa etária, portanto, inicia-se a combinação de habilidades motoras, aumentando gradativamente sua complexidade durante o percurso escolar.
O professor deve atentar-se a não só aumentar a complexidade das tarefas exigidas, mas também diversificar ao máximo os estímulos disponibilizados, para que a aprendizagem do aluno seja estimulada sob diversos aspectos.
Cada indivíduo tem um tempo único para aquisição e para o desenvolvimento de habilidades motoras:
Embora o "relógio biológico" seja bastante específico quando se trata de sequência de aquisição de habilidades motoras, o nível e a extensão do desenvolvimento são determinados individual e dramaticamente pelas exigências da tarefa em si.
(GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 37.)
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Com base na ideia de que a Educação Física considera o estudante de corpo inteiro, o desenvolvimento cognitivo também impacta e reverbera diretamente na maneira como a criança entende e interpreta o mundo.
De acordo com os estágios de desenvolvimento propostos por Piaget, a faixa etária dos 8 aos 10 anos se enquadra no estágio de operações concretas, em que a criança passa a operar sobre os objetos, ou seja, ela é capaz de classificar, ordenar, organizar espacialmente. A criança forma uma representação mental de uma série de ações com diferentes dimensões, sempre atrelada ainda ao objeto. A criação de hipóteses e o pensamento abstrato são características da próxima fase.
Outros pontos importantes para considerar relacionados a essa faixa etária:
- poder de criação e imaginação estão muito presentes no cotidiano;
- o entendimento ocorre por meio de exemplos concretos;
- final desse ciclo de escolarização, começam as possibilidades de operar as habilidades cognitivas abstratas mais sofisticadas.
Por causa do desenvolvimento no processo cognitivo e motor, o nível de atenção e preocupação com o outro e com o grupo também se torna mais complexo.
A busca pelo bem-estar coletivo deve ser estimulada nessa fase, para que as crianças não fiquem centradas em resolver apenas seus problemas diante de um desafio. Deve-se levá-las a conseguir pensar na resolução de problemas do outro e do grupo, em um exercício de empatia e alteridade, cooperando e respeitando o colega com quem convive, desenvolvendo, assim, algumas competências socioemocionais. É papel da Educação Física pensar em atividades sistematizadas que possibilitem esse aprendizado.
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Portanto, nesse ciclo de escolarização, apresentam-se aos alunos os jogos de regras, em que a união dos aspectos motor, cognitivo e socioemocional torna-se evidente. As frustrações, a não compreensão das regras, o esquecimento da utilização de alguma regra, a necessidade de perceber o outro para o bom andamento da atividade, são questões que fazem parte do desenvolvimento da criança e devem ser experienciadas na escola.
As crianças de 8, 9 e 10 anos podem aprender a pensar sobre as emoções que sentem e vivenciar isso corporalmente. Nas aulas de Educação Física, o sentir, o pensar e o agir são colocados à prova a todo momento.
Para saber mais
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Crescimento, maturação e atividade física, de Robert M. Malina, Claude Bouchard e Oded Bar-Or. São Paulo: Phorte Editora, 2009.
O livro é composto de 29 capítulos e aborda conceitos introdutórios e conteúdo sobre crescimento pré-natal, crescimento pós-natal, desenvolvimento funcional, maturação biológica, entre outros.
Cidadão do Mundo
Os valores morais também são um assunto a ser trabalhado nas aulas de Educação Física. Enquanto o aluno vivencia determinada prática corporal, ele exercita também o respeito, a justiça, a empatia e a autonomia. Converse com a turma sobre os valores morais: É possível ter um adversário no jogo e ser respeitoso, justo e empático em uma competição? O que pensam sobre isso?
Nos próximos capítulos, vamos propor roteiros de aula para trabalhar com crianças do 3o, 4o e 5o anos, de 8, 9 e 10 anos, com sugestões para que elas possam vivenciar práticas corporais e o desenvolvimento motor, cognitivo e socioemo-cional. Será uma oportunidade de levá-las a perceber as emoções que sentem e como as vivenciam corporalmente. Pois, como já dito, nas aulas de Educação Física o sentir, o pensar e o agir são colocados à prova a todo momento e atuam juntos no desenvolvimento dos estudantes.