UNIDADE TEMÁTICA 3  DANÇAS URBANAS

Raio-xis da unidade

Competências da Bê êne cê cê

Competências gerais da Educação Básica: 1, 3, 4, 6, 8 e 9.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental: 1, 2, 5, 6, 7 e 10.

Habilidades de Educação Física da Unidade Temática

(ê éfe seis sete ê éfe um um) Experimentar, fruir e recriar danças urbanas, identificando seus elementos constitutivos (ritmo, espaço, gestos).

(ê éfe seis sete ê éfe um dois) Planejar e utilizar estratégias para aprender elementos constitutivos das danças urbanas.

(ê éfe seis sete ê éfe um três) Diferenciar as danças urbanas das demais manifestações da dança, valorizando e respeitando os sentidos e significados atribuídos a elas por diferentes grupos sociais.

O que veremos nesta unidade

A unidade inicia com questões que resgatam os conhecimentos prévios da turma sobre a dança construídos nas experiências escolares e comunitárias dos estudantes. É apresentada, em seguida, a trajetória histórica da dança, retomando conhecimentos propostos nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental para que sejam associados aos novos saberes relacionados às danças urbanas neste novo ciclo de ensino.

O intuito é explorar o conjunto das práticas corporais relacionadas às danças urbanas, apresentando seu conceito e identificando alguns exemplos que compõem esse universo.

Será oportunizada a experimentação e a fruição de gestos e ritmos propostos pelo Hip-Hop Dance, de fórma a valorizar e reconhecer essa manifestação culturalmente integrante da sociedade. Por fim, será proposta a construção de uma coreografia que seja significativa para a cultura jovem no contexto de sua escola. Para tal, será tomado como referencial a dança como movimento político de empoderamento juvenil.

É importante ressaltar que o ensino da dança na escola não deve ter como objetivo a formação de bailarinos. Esse é um dos motivos pelos quais não é necessário que o professor tenha formação oficial em dança nem que seja altamente habilidoso nessa prática corporal. Do ponto de vista pedagógico, o importante é que ela gere condições e oportunidades para o desenvolvimento de práticas corporais presentes no entorno cultural e social.

DE OLHO NAS IMAGENS

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, é necessário que as imagens sejam descritas oralmente. Se houver possibilidade, utilize o recurso de audiodescrição.

Mostre as imagens desta página ou outras de diferentes tipos de danças para averiguar o conhecimento prévio dos estudantes, como as apresentadas nesta página. Inspire-se nas perguntas sugeridas a seguir e dê continuidade conforme os interesses da turma.

  • Qual imagem chamou mais a atenção de vocês? Por quê?
  • Que elementos culturais podem ser identificados nessas imagens? Descreva as vestimentas, os adereços e os instrumentos que podem ser vistos nas imagens.
  • O que há em comum entre as danças apresentadas? Quais são as principais diferenças e semelhanças em relação aos gestos, ao ritmo e ao uso dos espaços?
  • Você tem o hábito de dançar? Em quais momentos: na sua casa, na escola, com família, amigos e conhecidos? Como se sente quando dança?
  • Que estilos de dança urbana você conhece?

Verifique se a turma identifica a dança folclórica maracatu e a dança urbana breaking. Com base nas respostas, é possível identificar o repertório cultural e as vivências com danças em diferentes momentos do cotidiano dos estudantes, já que convivem com danças urbanas e folclóricas antes mesmo de compreenderem esse conceito.

Identifique o que conhecem da comunidade local para exemplificar as danças e para possíveis parcerias para abordar o tema, convidando integrantes da comunidade local. Busque resgatar também o que aprenderam durante os Anos Iniciais da escolarização: danças do Brasil, do mundo e das matrizes africana e indígena. Conte que retomarão o trajeto histórico e os elementos constitutivos das danças (ritmo, espaço, gestos) para depois se aprofundarem nos estudos sobre as danças urbanas.

Fotografia. Menino usando camiseta branca, calça cinza e tênis preto. Ele está com a mão esquerda no chão, as pernas para cima e o braço direito estendido lateralmente. Atrás, quatro meninas olham para ele. No fundo, prédios.
Integrante do grupo de dança Jukebox em performance de break dance em rua de Cardiff, Reino Unido, 2018.
Fotografia. Homem usando roupas cobertas por lantejoulas de diversas cores, chapéu grande com fios coloridos em torno da cabeça e fitas também coloridas ao redor do corpo caminha em uma rua de terra. Atrás, outras pessoas vestidas da mesma forma. No fundo, casas e vegetação.
Encontro de “Maracatus de baque solto” (dança folclórica maracatu rural) em Olinda, Pernambuco, 2020.

Por dentro do tema

Dança: prática corporal e manifestação cultural

Segundo a Base Nacional Comum Curricular , a unidade temática Dança:

reticências explora o conjunto das práticas corporais caracterizadas por movimentos rítmicos, organizados em passos e evoluções específicas, muitas vezes também integradas a coreografias. reticências elas se desenvolvem em codificações particulares, historicamente constituídas, que permitem identificar movimentos e ritmos musicais peculiares associados a cada uma delas. (BRASIL, 2018, página 218)

Para Paulino (2020), essa perspectiva apresenta um pensamento mais mecânico e biológico, enquanto na Arte a dança é uma fórma de expressão social de reflexões, anseios e comportamentos. Portanto, é uma prática artística que expressa pensamento e sentimento do corpo por meio do movimento dançado (BRASIL, 2018).

O foco desta unidade será o trabalho com as habilidades propostas na Educação Física, o que inclui identificar, vivenciar e planejar os elementos das danças urbanas, além de diferenciá-las de outras manifestações culturais e corporais. Entretanto, será articulado às habilidades dos objetos de conhecimento da dança propostas em Arte: experimentar, pesquisar e analisar diferentes fórmas de expressão das ações corporais, improvisação e criação de movimentos dançados, além de discutir as experiências pessoais e coletivas em dança vivenciadas na escola e em outros contextos, problematizando estereótipos e preconceitos (BRASIL, 2018).

Danças étnicas, como a indiana bangra, expressam significados culturais do povo que as transmitiu de geração para geração. E há também as danças cênicas de origem europeia, encenadas em palcos, teatros ou tablados, como o balé.

Kiouranis (2014) apresenta a seguinte classificação de danças:

TIPO

EXEMPLOS

a) Dança criativa/dança educativa

Expressão corporal, improvisação.

b) Dança de salão

Samba de gafieira, forró e tango.

c) Dança da cultura popular/folclórica

Balaio, frevo, caranguejo, quadrilha, hula hula (Havaí) e square dance (EUA).

d) Dança urbana

Break dance, funk, locking e house dance.

e) Dança circular

Sagradas, folclóricas e brincadeiras de roda.

f) Dança clássica

Balé clássico.

g) Dança moderna

Dança expressiva, abstrata, concreta e experimental.

h) Dança contemporânea

Dança butoh, dança teatro, dança tecnológica.

Fonte: KIOURANIS (2014, página 90-91).

Com base nessa classificação, faça um levantamento de todas as danças que a turma conhece. Provavelmente, as danças criativas, folclórica, circular, clássica, moderna e contemporânea foram abordadas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Esclareça que estudarão as danças urbanas e de salão nos próximos anos.

Fotografia. Homens dançando em um palco, usando chapéu de tecido na cabeça, beca branca, calça e colete coloridos. Eles estão em duas linhas com a perna direita e o joelho dobrado e seguram um bastão na mão direita. O braço esquerdo está estendido para cima com a palma da mão voltada para a frente.
Artistas em performance da dança tradicional bangra em Jaipur, Índia, 2021.

Conectando saberes

Breve trajetória histórica das danças

Nesta seção, a História será o componente curricular que auxiliará a compreensão da dança na trajetória da sociedade moderna, identificando e entendendo noção de tempo, periodização dos processos históricos e registro do saber. As habilidades mobilizadas são: (ê éfe zero seis agá ih zero um) e (ê éfe zero seis agá ih zero dois). Será apresentada uma síntese do percurso da dança a partir dos períodos históricos: Pré-História, Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Faça uma parceria com o professor de História em um projeto interdisciplinar na unidade escolar para que possam aprofundar o assunto e tornar o aprendizado mais significativo para os estudantes.

De acordo com Faro (1998), as danças milenares eram realizadas pelas civilizações antigas como meio de reverenciar os deuses, tendo uma forte ligação com o sagrado. É possível identificar imagens que representam a dança na arte rupestre e antiga em cavernas e em peças ornamentais, como vasos.

Com a expansão do Cristianismo na Europa, as danças ritualísticas passaram a ser condenadas, perdendo o caráter sagrado. No período do Renascimento, a partir dos séculos dezesseis e dezessete, a dança ganhou um aspecto aristocrático com status de arte e elegância. Surgiam as danças clássicas praticadas em grandes salões pela realeza, como a valsa.

Pintura. À esquerda, um homem com tecidos ao redor do corpo, segura com a mão direita um vaso, tem o braço esquerdo com o cotovelo flexionado e a palma da mão voltada para cima. Ao lado, um homem com tecidos coloridos ao redor do corpo, de perfil, toca duas flautas. À direita, um homem usando tecido vermelho ao redor do corpo. Ele está com o braço direito dobrado com a mão para baixo e o braço esquerdo dobrado com a palma da mão voltada a para frente, o pescoço virado para a direita.
Afresco de 475 antes de Cristo com músicos e dançarinos em túmulo de 1,70 métro de altura. Necrópole de Monterozzi, em Tarquinia, Itália.

Chame a atenção dos estudantes para o fato de que, durante muitos séculos, a dança foi um privilégio dos homens. Um exemplo citado por De Assis e Do Carmo Saraiva (2013) é a inclusão de bailarinas só em 1681, com Mademoiselle Lafontaine (1655-1738), pois, até então, dançavam apenas os homens, que se travestiam para os papéis femininos, como acontece até hoje em algumas tradições.

Fotografia. Um grupo de dança composto por homens e mulheres com roupas de balé. À esquerda, uma bailarina está com os joelhos no chão e os braços e a cabeça apoiados sobre a perna de uma bailarina em pé. Ao lado, alguns bailarinos de perfil com as costas estendidas olhando para a direita. À direita, com os braços estendidos para trás e a coluna inclinada também para trás, uma mulher apoia os pés em um homem. Ao lado, outro homem segura o quadril dela. Atrás, um grupo de bailarinas com os braços estendidos para cima.
Performance de um grupo de balé moderno que explora as possibilidades corporais por meio da criatividade coreográfica e da coletividade, com improvisação, liberdade corporal, entre outras. abre colchetefecha colchete

As danças moderna e contemporânea revolucionaram o olhar sobre essa prática corporal. Ela surgiu no século vinte propondo libertar o corpo de posições rígidas e roupas desconfortáveis, além de utilizar músicas repletas de sons de tambores. As danças contemporâneas constituíram o movimento artístico a partir dos anos 1960.

O Brasil, com suas raízes nas culturas indígenas, europeias e africanas, apresenta diversidade de ritmos e danças. A região Sul apresenta o fandango caiçara, patrimônio cultural do Brasil e de origem europeia, e a região Nordeste apresenta o maracatu, que tem versões de origem afro-brasileira e indígena.

A partir desses dados históricos sobre a dança, promova uma conversa com a turma sobre as características do Brasil e as possibilidades culturais das regiões. Para enriquecer o tema da aula, investigue com os estudantes tradições e memórias familiares que resgatem histórias de seus antepassados. Solicite que entrevistem alguém da família para socializar esse saber com a turma.

#FiqueLigado

Pesquise na internet os vídeos sugeridos a seguir e, se possível, apresente-os aos estudantes.

CONCEITOS E HISTÓRIA DA DANÇA. 2021. 1 vídeo (9 minutos). Publicado pelo canal Pensando o Movimento.

Videoaula que apresenta características da dança e conceitos de fórma divertida e instrutiva.

  • A HISTÓRIA DA DANÇA. 2021. 1 vídeo (2 minutos). Publicado por Débora Cristina Mittag.
  • Videoaula que explica o surgimento da dança entre os povos, desde a Antiguidade.

Vamos à prática!

Reconhecendo diferentes ritmos

A vivência prática a seguir pode ser realizada em qualquer espaço, até na sala de aula. Inicie propiciando um momento de escuta de diferentes gêneros musicais, associando-os a variadas fórmas de se expressar.

Material

Mídia de áudio (aparelho de reprodução de som, celular ou caixa de som).

Etapa 1: Sintonizando movimentos aos estímulos sonoros

Para perceber e vivenciar o ritmo, solicite que a turma ouça atentamente as batidas da música para sincronizar com batidas das palmas ou dos pés no chão. Você pode variar solicitando que estalem os dedos ou façam a percussão em outras partes do corpo, como braços, coxas, barriga, entre outras. Caso tenha acesso a instrumentos de percussão, como tambores, atabaques e pandeiros, acrescente uma batida de pé a cada toque da percussão.

Varie os intervalos de tempo entre uma batida e outra, assim como a sua velocidade. Faça movimentos acelerados e lentos, de fórma alternada, para desafiar as percepções da turma.

Etapa 2: Percussão corporal, o ritmo do corpo

Antes de iniciar a atividade, assista com a turma ao vídeo indicado no #FiqueLigado.

Verifique as impressões da turma sobre o vídeo. Debata e proponha a possibilidade de reproduzir a técnica. Pergunte quais sons o corpo pode produzir e oriente os estudantes a explorarem esses sons usando pernas, mãos, braços e boca. A atividade pode ser realizada em duplas ou em grupos.

Etapa 3: Reconhecendo e expressando-se nos ritmos

Em seguida, organize a turma em grupos de três a cinco estudantes. Delimite um espaço para cada grupo se posicionar a uma mesma distância da mesa, onde estará um sino ou um objeto de referência para ser tocado.

Reproduza uma das músicas e deixe-a tocar até um integrante do grupo tocar o sino primeiro para expressar-se com gestos de acordo com a melodia, demonstrando como podem dançar com o ritmo tocado.

Variação: Pode-se propor uma competição entre os grupos ou uma fórma coletiva em círculo em que o primeiro expressa um gesto e é seguido por todos na tentativa de reproduzir gestos da dança.

Atenção

Selecione previamente músicas de diferentes ritmos, como samba, forró, dança clássica, axé music, pop, funk carioca, rap, merengue, salsa, reggae. Lembre-se de ouvir as músicas com antecedência e selecionar as que possam contribuir positivamente para o debate e a aula.

#FiqueLigado

Pesquise na internet o vídeo sugerido a seguir e apresente-o aos estudantes.

PERFORMANCE com Mautari. abre colchetesem localfecha colchete, 2020. 1 vídeo (3 minutos 25segundos). Publicado pelo canal Fernandinho biti bóquis.

Fernandinho biti bóquise Thiago Mautari, duas referências brasileiras do beatbox.

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes surdos na turma, é possível explorar alguns gêneros musicais também por meio de letras e vídeos que demonstrem características dos ritmos quando dançados. No caso de estudantes cegos, auxilie-os na delimitação do espaço da dança e na explanação dos movimentos corporais a serem realizados, se necessário.

Avaliando em diferentes linguagens

Identifique as preferências dos estudantes e sugira um aprofundamento e uma ampliação do tema com a pesquisa de uma das danças. Proponha:

  1. Em duplas, escolham uma dança conhecida ou sobre a qual tenham interesse em aprofundar os estudos.
  2. Elaborem uma ficha contendo uma imagem, nome da dança, classificação e origem. Veja o exemplo a seguir.
Fotografia. Sete rapazes sul-coreanos com roupas pretas em um palco, cantando e dançando. Eles estão com as pernas abertas, o braço esquerdo estendido para a frente e a mão direita no peito. Alguns têm cabelos pretos, outros têm cabelos tingidos de loiro. Ao fundo, painel colorido.

#FiqueLigado

É possível fazer uso da ficha para expor em mural da escola ou criar jogos de adivinhas (uma dupla reproduz o ritmo da música com o próprio corpo e a turma deve adivinhar a dança, sua classificação e origem).

O que são danças urbanas?

Reúna os estudantes em roda e reproduza algumas músicas do universo Hip-Hop, como canções de Ariana Grande, Djeimes Derulo ou Tássia Reis. Indague-os a respeito do que sabem sobre o tema, com escuta atenta e acolhedora, e vá desconstruindo possíveis informações distorcidas sobre os estereótipos presentes na dança. Para o preconceito relacionado à dança como prática feminina, retome a origem de sua história quando era praticada apenas por homens. Apresente as características dessa manifestação corporal, que mobiliza capacidades físicas, como fôrça e agilidade, não se restringindo a gestos delicados. Verifique se a turma associa características negativas às danças urbanas, relacionando-as à comunidade periférica ou a determinada classe social.

As danças urbanas são práticas corporais geralmente criadas por jovens que moram nas periferias das cidades. Elas existem há séculos, mas seu conceito só passou a ser utilizado a partir dos anos 1980, quando essa manifestação cultural foi se expandindo mundialmente com o surgimento do street dance (dança de rua), que é parte do universo Hip-Hop.

Utilizando a concepção de professor-pesquisador, trazemos um exemplo de revisão de literatura narrativa sobre as danças urbanas.

  • Iniciamos com o conceito de Fonseca Junior, Calzolari e Saramargo (2018), em que o termo surgiu do povo, das festas de quarteirão. Eles apontam a vertente histórica que defende a origem na época da crise econômica dos Estados Unidos de 1920, quando músicos e bailarinos dos cabarés ficaram desempregados e foram para a rua exibir seus shows. Eles acrescentam que o termo street dance também é usado para apresentar os diferentes estilos da dança, como funk, locking, popping, breaking, hip-hop freestyle, house dance e krump.
  • Ropa (2020) elenca as várias tendências estilísticas e especializações da dança urbana: dança-arquitetura, dança de rua, vertical, aérea, itinerante, break dance, dança parkour e dança-circo como danças interculturais da community dance, que igualmente compartilha os espaços urbanos. O fator comum é a combinação das técnicas e das práticas de movimento entre dança contemporânea, ginástica, artes marciais, acrobacia, disciplinas circenses, cultura hip-hop, danças populares e étnicas.
  • Guarato (2020) ressalta que a dança de rua é uma invenção dos dançarinos periféricos do sul global, valorizando-os como produtores de conhecimento. Para o autor, é um termo elaborado e difundido no território brasileiro e não encontra correspondente em técnicas e estéticas de danças do contexto estadunidense. Ela possibilita uma ampla criação a partir da fusão e do rearranjo de passos de jazz, funk e break, em que as apresentações combinavam movimentos híbridos sem técnicas específicas. Em resposta, o termo danças urbanas substitui o termo dança de rua, assumindo uma postura para nomear e segmentar técnicas de danças tão distintas. As oficinas de danças urbanas incluíam também house, b.boying, krumping, vogue, dancehall. Para o autor, a internet promoveu uma socialização de vídeos tutoriais que também contribuíram para a padronização de movimentos das danças urbanas.

Com o surgimento dessas danças, observa-se um corpo em movimento, fruto dos centros urbanos, em meio ao asfalto, com o uso de calça rasgada e da expressividade por meio de camisetas estilizadas, bombetas (bonés) e dos chamados sound systems(aparelhos de som).

A cultura juvenil está inserida nas redes sociais e vê constantemente, nas mídias, as danças de seus cantores favoritos com movimentos populares, como o grupo No passinho dos maloka.

#FiqueLigado

Amplie a discussão sobre os preconceitos sociais sofridos pelos praticantes de danças urbanas aprofundando os estudos sobre o tema.

RIBEIRO, A. C.; CARDOSO, R. Dança de rua. Campinas: Átomo, 2011.

Pesquisa sobre danças urbanas e suas rami­ficações. Os autores apresentam um retrato histórico da construção do movimento.

Fotografia. Cinco rapazes em um palco, com camiseta branca e calça preta larga. Quatro deles estão flexionando os joelhos. Ao fundo, painel com o texto: NGTD.
Grupo No passinho dos maloka se apresenta em evento prêmio Jovem Brasileiro , que premia os jovens de maiores destaques no Brasil e no mundo. São Paulo, 2019.

Atenção

O uso da internet ampliou o acesso à informação. Estimule o estudante a construir seu conhecimento com pesquisas pautadas em fontes confiáveis, que devem ser interpretadas de forma crítica, reflexiva e criativa.

O funk carioca (música e dança) tem origem nas periferias da cidade do Rio de Janeiro e, com o tempo, passou a estar presente em quase todas as comunidades brasileiras. Na atualidade, o funk é o gênero mais escutado no Brasil e no exterior. Ele esteve presente na abertura da Cerimônia de Abertura Olímpica. Reflita sobre o que isso significa após analisar o vídeo da cantora Ludmilla, indicado no #FiqueLigado.

Aprofunde o estudo sobre os motivos da popularização de alguns gêneros musicais propondo uma pesquisa de reportagens para a turma. A mesma trajetória aconteceu com o axé music, de 1980 a 2000, e o K-pop, na década de 2010.

O universo Hip-Hop e seus elementos

O Hip-Hop Dance pertence a um universo cultural mais amplo do movimento Hip-Hop. Esse estilo chegou ao Brasil por meio das academias de ginástica nos anos de 1990, com os nomes de cardiofunk, newstyle, freestyle e, com o passar dos anos, o nome de Hip-Hop Dance.

O universo Hip-Hop é uma manifestação cultural da juventude periférica, criado no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, no Bronx, bairro de Nova iórque (Estados Unidos). O movimento espalhou-se por distintas partes do mundo e em diferentes periferias usando a música, a dança, a linguagem, a escrita, o esporte e a imagem como fórma de resistência e identidade cultural. Apresenta uma variedade de manifestações unidas pelo propósito de enaltecer a cultura e a história do povo da periferia.

  • Na música, o Hip-Hop é tocado por meio das mãos rápidas do didjêi (disc jóckey), na potência da voz do êmi ci (mestre de cerimônias), e é encontrado também no beatboxing (cria-se o som usando a boca) e nas composições de rap (rhythm and poetry, ou seja, ritmo e poesia).
  • A linguagem caracteriza-se pela permanência da gíria nas falas de seus representantes, nas letras das composições e na oralidade daquele que faz o Slam (batida), isto é, que declama a poesia periférica.
  • A escrita do Hip-Hop se faz presente na literatura marginal, em contos, crônicas e poesias periféricas. Assim como também é possível encontrar o Hip-Hop nas quadras de streetball (basquete de rua), nas imagens do graffiti e na vestimenta que caracteriza seus integrantes.
  • A dança como parte da manifestação cultural apresenta-se por meio das performances dos b.boys ou b.girls (breakers boys, breakers girls; traduzindo: meninos quebrados e meninas quebradas), em que o principal representante (mas não o único) executa o breaking (“quebrado”).

De acordo com Bragin (2015), a dança Hip-Hop é uma arte contemporânea associada a uma experiência rebelde do movimento negro. Nela, as amarras do período da escravidão se estendem pela estética das danças e adquirem fórma em gestos de libertação, ruptura e variedade de ritmos.

#FiqueLigado

Pesquise na internet os canais de vídeos sugeridos a seguir e apresente-os aos estudantes.

RAP DA FELICIDADE. Rio 2016 Opening Ceremony | Music Mon­days. 2017. 1 vídeo (1 minuto). Publicado pelo canal Olympics.

Vídeo da música Rap da felicidade, da cantora Ludmilla.

CANAL DE FRANK EJARA. Vários vídeos.

Canal de um dos mais antigos estudiosos de danças urbanas do Brasil. Apresenta vídeos com passos de vários estilos dessa dança.

CANAL RIO agá dois cá. Vários vídeos.

O Rio Hip-Hop Kemp traz os melhores dançarinos e coreógrafos internacionais com workshops práticos e teóricos, shows, bate-papos e batalhas de dança.

Na dança de rua, o conjunto de movimentos indica gestos como breaking (quebrando), hitting (batendo), popping (estourando) e waacking (enlouquecendo). É constituído de um processo sócio-histórico (desenvolvido ao longo do tempo na vida social de comunidades) que inclui processos grupais de improvisação, inovação, repetição e reprodução em contextos sem fronteiras entre o cotidiano e a arte.

Apesar de existir o domínio de técnicas mais elaboradas, os movimentos são fáceis: aprende-se de fórma natural ao ser empurrado na multidão em uma festa. O Hip-Hop permite e espera do espectador que ele não fique imóvel, mas que se torne coparticipante.

Conectando saberes

Gêneros musicais para dançar o Hip-Hop Dance

Esta seção propõe um trabalho interdisciplinar com a unidade temática Música e, especificamente, com as habilidades de Arte (ê éfe seis nove á érre um seis) e (ê éfe seis nove á érre um nove).

Proponha a identificação e a análise de diferentes gêneros musicais, relacionando às diferentes dimensões da vida social e cultural, para aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical.

Faça um breve estudo sobre música, ritmos e gêneros para a compreensão das possibilidades da música e do corpo ao dançar.

Explique que a música é uma parte fundamental da dança, pois determina o seu tempo e ritmo. A palavra ritmo tem origem grega – rhytmos – e significa aquilo que flui, que se move de fórma regular.

Na cultura brasileira, há diferentes ritmos presentes em todo o território nacional, apreciados no país e em outros lugares do mundo.

Apresente para a turma a lista dos gêneros musicais mais utilizados para dançar o Hip-Hop Dance. Eles combinam a musicalidade com o ritmo mais dançante, a harmonia e a vivacidade necessárias para esse tipo de dança.

  • Pop (Estados Unidos, 1950): é eclético e agrega diferentes gestos e movimentos mais dançantes e de grande apelo comercial. Exemplos: Beyoncé e Anitta.
  • Funk carioca (Brasil, 1980): tem o mesmo nome de um gênero originário dos Estados Unidos (funk), mas ganhou características próprias nos morros cariocas e provoca muita polêmica em razão de suas letras. Exemplos: Ludmilla e êmi ci kévin.
  • ár en bi (rhythm and blues): gênero estadunidense com fortes ramificações na diáspora africana e influência de soul music. Exemplo: .
  • Rap (fim dos anos 1970): tornou-se um dos principais gêneros de resistência e denúncia das periferias em todo o mundo. Exemplos: Racionais e êmi vi bíl.
  • K-Pop (Coreia do Sul): caracteriza-se por letras românticas e uma grande variedade de ritmos e elementos audiovisuais. Exemplo: grupo bi ti és.

Vamos à prática!

Vamos vivenciar as danças urbanas?

Muitos estudantes demonstram resistência em se expor na dança. Sugira que pesquisem músicas e vídeos sobre algum gênero de dança urbana para reproduzirem na aula. Comece devagar, aguarde que se apropriem das músicas sugeridas e movimentos apresentados espontaneamente por eles.

Material

Mídia de áudio (aparelho de reprodução de som, celular e caixa de som).

Etapa 1: Roda de conversa musical

Comece ouvindo as músicas selecionadas pela turma e verifique se todos já as conhecem, se gostam delas e se fazem parte do seu cotidiano.

Etapa 2: Passos das danças urbanas e do Hip-Hop

Reforce que a dança necessita de criatividade e ousadia, além de uma música dinâmica e popular. Organize grupos de três a cinco estudantes a fim de que testem seus movimentos e mostre os passos básicos das danças urbanas dos vídeos do #FiqueLigado da página seguinte ou com base nas imagens a seguir.

Ilustração que mostra cinco movimentos de dança e do hip-hop. Movimento 1. Duas mulheres e um homem com camiseta amarela e calça azul, com a perna direita levemente levantada para trás do corpo e a perna esquerda estendida, com o pé apoiando o chão, os cotovelos flexionados.  
Movimento 2. Três crianças de uniforme verde com o cotovelo direito flexionado, pernas abertas lateralmente, cotovelo esquerdo flexionado com a mão perto do peito. Ambos os punhos fechados.
Movimento 3. Menino de camiseta azul e bermuda vermelha com as pernas afastadas e inclinado lateralmente para a direita, cotovelos flexionados.  
Movimento 4. Menina de camiseta azul e bermuda vermelha caminhando para trás, cruzando a perna direita atrás da esquerda.  
Movimento 5. Menina de camiseta azul e bermuda vermelha caminhando para a frente, cruzando a perna direita na frente da esquerda.
Imagens 1, 2 e 3 (movimento lateral afastando e aproximando as pernas); imagens 4 e 5 (movimento afastando e aproximando sem deslocamento e cruzando as pernas atrás).

Ilustrações elaboradas para esta obra.

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes surdos na turma, apresentar vídeos e dicas sobre os ritmos pode contribuir para inseri-los no universo das danças urbanas. 

No caso de estudantes cegos, auxilie-os na delimitação do espaço da dança.

Vamos à prática!

Movimentos do Hip-Hopdénce

a) The Wop:

  • pernas afastadas, semiflexionando-as e estendendo-as a cada movimento dos braços, que balançam para a direita e para a esquerda simultaneamente com a flexão dos cotovelos;
  • pode-se elevar a perna contrária ao lado do braço a cada movimento ou em contagem de quatro tempos;
  • explore várias alturas dos braços em combinação com deslocamento lateral para girar no próprio eixo.

b. Variação com o Monastery: mesmo movimento de braços do Wop, mas com movimento de flexão do joelho e giro interno do quadril a cada movimento lateral dos braços.

Etapa 3: Socializando os gestos das danças urbanas

Em círculo, cada grupo apresenta seus movimentos para que todos repitam a sequência, unindo os passos em uma grande coreografia. Quem tiver mais habilidade pode demonstrar os gestos das danças urbanas que conhecem no centro da roda.

Ao final, faça uma reflexão sobre a ação, verificando as percepções da turma conforme sugestões da avaliação.

#FiqueLigado

Pesquise na internet os vídeos sugeridos a seguir e apresente-os aos estudantes.

CONHEÇA OS PASSOS BÁSICOS DAS DANÇAS URBANAS. 2018. 1 vídeo (1 minuto). Publicado pelo canal Ministério da Saúde.

O vídeo apresenta movimentos da dança de rua. Aproveite para assistir a outros vídeos no canal.

TUTORIAL DANÇAS URBANAS. Danças sociais Part 2. 2018. 1 vídeo (3 minutos). Publicado pelo canal Tríade Escola de Arte.

São demonstrados movimentos como: bounce, criss cross, running man, broklin, monastery, the james, bart simpson, cabbage patch, top rock, entre outros.

HOW TO DO HIP-HOP DANCE MOVES. 40 vídeos. 2020. Publicados pelo canal Howcast.

Apresenta uma coletânea de vídeos em que a dançarina Charlíne tim tim ismífi ensina os movimentos da dança Hip-Hop, como Running Man, Dougie e Spongebob.

Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes

Esta proposta contempla as competências relacionadas à valorização dos conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo social e cultural das danças urbanas. As linguagens corporal, artística e digital são exploradas para partilhar informações sobre essa manifestação cultural. Pretende-se exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação para o trabalho em grupo.

Em termos de competências específicas da Educação Física, pretende-se associar a dança às próprias organizações da vida coletiva e individual, além de favorecer a ampliação do acervo cultural, rompendo barreiras, preconceitos e opressão social. Dessa fórma, destacam-se os tê cê tês: Educação em direitos humanos e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras relacionada à representatividade da cultura negra como direito e valorização de grupos marginalizados na sociedade.

Hip-Hop e a representatividade negra

Inicie propondo a reflexão sobre o significado do Hip-Hop como representatividade da cultura negra e depois siga o passo a passo para a montagem da coreografia.

Entre os valores civilizatórios africanos, estão a oralidade, a musicalidade e a corporeidade. Leia o que diz a coreógrafa de identidades africanas Francesca Castaldi:

A associação das palavras com a dança tem uma longa história que remonta ao período pré-colonial da África Ocidental. reticências a dança pode ser entendida como uma fórma de oralidade.

CASTALDI, Francesca. Choreographies of African identities: négritude, danceand the National Ballet of Senegal. Chicago: University of Illinois Press, 2006. página 4.

A pesquisadora Naomi Elizabeth braguím, da Universidade da Califórnia, defende que a percepção do movimento vai além do próprio corpo, quando a história flui por ele. Assim, a dança de rua representa a relação política do corpo com o movimento, a partir da luta popular e das experiências de ser e pertencer a um coletivo.

Ela conta que, no auge do black power, movimento de resistência negra da década de 1960, não havia pesquisas institucionais sobre as danças de rua. As danças eram estudadas na própria rua, em festas, parques, ginásios escolares, clubes privados e clandestinos.

Nesta unidade, foram apresentados alguns fatos históricos, sociais e culturais do Hip-Hop. Agora, desafie os estudantes a criarem, experimentarem e improvisarem movimentos dessa prática corporal como manifestação cultural de sua comunidade. Essa estratégia se contrapõe

ao entendimento de ensino por meio da repetição ou da reprodução de coreografias já prontas de fórma mecânica e acrítica. O importante será o envolvimento dos grupos na construção da atividade. Informe as seguintes orientações:

1. Pesquisa e construção da coreografia

  • Formem grupos de cinco estudantes. Cada integrante poderá escolher uma função: ser responsável por cenário, figurino, som, filmagem, direção e dança.
  • Cada grupo pesquisará e escolherá movimentos que considerem relacionados à própria história dos integrantes do grupo. Selecione os movimentos estudados para a criação da coreografia para somar, multiplicar, sobrepor e misturar os gestos trazidos por cada integrante.

2. Produção coreográfica

  • Cada grupo escolherá uma música, evitando canções cujas letras tenham teor ofensivo, com palavras de baixo calão ou disseminação de preconceitos e injúrias.
  • Criem uma narrativa para o vídeo. Elaborem um roteiro simples, com o auxílio do professor de Língua Portuguesa.
  • Selecionem recursos para produzir os vídeos, como câmeras de celular ou filmagens de diversos ângulos.

3. Socialização e apreciação da produção

  • Na data combinada, apresente o trabalho à turma ou à comunidade escolar.
  • Faça uma autoavaliação sobre o sentimento no processo de construção da coreografia, postura do grupo, ideias e ideais que o grupo quis transmitir, escolhas de gestos, uso de gestos do cotidiano misturando-se à arte da dança, elementos de suas histórias, contextos sociais e culturais na coreografia, presença dos critérios estabelecidos para a produção, habilidades que tiveram de mobilizar e possibilidade de fazer algo parecido na comunidade externa à escola.
Ilustração. Sete crianças, cada uma delas associada a uma dança urbana. À esquerda, menino de boné e camiseta vermelhos e calças jeans apoia a mão direita no chão. Ele está com o corpo bem inclinado em direção ao solo. Ao lado, menina  com tiara no cabelo, camiseta e calça verdes, está com a perna direita levemente levantada. Em seguida: menino de camiseta verde e calça jeans está com a mão direita apoiada no chão e o joelho direito flexionado, com o pé para cima; menina de camiseta verde e saia vermelha com os pés no chão e os joelhos levemente flexionados; menino de camiseta vermelha e bermuda jeans com os braços estendidos lateralmente e a perna esquerda levantada; menina de camiseta verde e bermuda vermelha em uma cadeira de rodas com os braços estendidos, um para cima e outro para baixo, e um menino de camiseta azul e calça marrom com a coluna estendida para trás.  
Todos eles usam tênis coloridos.