UNIDADE TEMÁTICA 6  UNIVERSO CULTURAL DAS LUTAS BRASILEIRAS

Raio-xis da unidade

Competências da Bê êne cê cê

Competências gerais da Educação Básica: 1, 4, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental: 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 e 10.

Habilidades de Educação Física da Unidade Temática

(ê éfe seis sete ê éfe um quatro) Experimentar, fruir e recriar diferentes lutas do Brasil, valorizando a própria segurança e integridade física, bem como as dos demais.

(ê éfe seis sete ê éfe um cinco) Planejar e utilizar estratégias básicas das lutas do Brasil, respeitando o colega como oponente.

(ê éfe seis sete ê éfe um seis) Identificar as características (códigos, rituais, elementos técnico-táticos, indumentária, materiais, instalações, instituições) das lutas do Brasil.

(ê éfe seis sete ê éfe um sete) Problematizar preconceitos e estereótipos relacionados ao universo das lutas e demais práticas corporais, propondo alternativas para superá-los, com base na solidariedade, na justiça, na equidade e no respeito.

O que veremos nesta unidade

Esta unidade contempla as habilidades (ê éfe seis sete ê éfe um quatro), (ê éfe seis sete ê éfe um cinco), (ê éfe seis sete ê éfe um seis) e (ê éfe seis sete ê éfe um sete) por meio da apresentação das lutas brasileiras capoeira e rúca rúca, apresentando informações para a valorização desse universo cultural. A escolha se deu por representarem lutas dos povos que constituem a formação do povo brasileiro, etnias indígenas e africanas. São abordados os conceitos das lutas brasileiras, os motivos do seu surgimento e sua origem, características, regras, vestimentas, movimentos, além de elementos da cultura de cada luta.

Na seção “Vamos à prática!”, serão apresentados jogos de lutas que trabalharão com características e princípios básicos da luta estudada.

Depois, serão apresentadas duas atividades interdisciplinares com História, na seção “Conectando saberes”, que abordarão a cultura afro-brasileira e a indígena, trazendo elementos históricos da capoeira e da cerimônia Kuarup dos povos do Xingu.

Por fim, é proposto um mapeamento das lutas brasileiras presentes na comunidade escolar e a divulgação dessas informações a toda comunidade escolar, ampliando, assim, o acesso ao conhecimento e a possível valorização dessas práticas corporais brasileiras.

DE OLHO NAS IMAGENS

Nesse momento, é interessante mobilizar o que os estudantes e a comunidade escolar (currículo oculto) sabem sobre o tema a ser estudado. Para isso, sugerem-se as questões a seguir.

  • Quais lutas vocês aprenderam na escola? E quais conheceram em outros espaços?
  • Você conhece alguma luta brasileira? Se sim, ?
  • E as lutas dessas imagens, já ouviu algo sobre elas? Explique.
  • Já viu pessoas praticando capoeira ou huka-huka? Onde? Que movimento elas estavam fazendo? Em quais locais estavam praticando e com ?

Anote as informações na lousa para os estudantes registrarem no caderno, a fim de que possam ficar curiosos sobre a temática que vão estudar.

Complemente essa abordagem inicial com imagens impressas ou do celular, ou descreva as lutas verbalmente, ou apresente-as corporalmente para exemplificar as lutas citadas pelos estudantes.

Fotografia. Grupo de homens e mulheres com roupas brancas praticando capoeira. À frente, uma mulher com o corpo inclinado e braços à frente do rosto. Ao lado, uma mulher com as mãos no chão, cabeça para baixo e perna esquerda para cima. Atrás, um homem toca berimbau e outras pessoas batem palmas.
Mulheres praticando luta afro-brasileira em Salvador Bahia , 2019.
Fotografia. Dois meninos indígenas ajoelhados, com o corpo e o rosto pintados. O menino da esquerda está com as mãos para baixo e a cabeça sobre as costas do outro menino.
Crianças da etnia Kuikuro praticando luta indígena em Gaúcha do Norte Mato Grosso, 2016.

Por dentro do tema

Em nossa sociedade, há preconceitos em relação às lutas quando as consideram sinônimo de briga e violência ou quando são consideradas uma prática corporal masculina.

Para que os estudantes comecem a entender melhor o tema, sugerimos:

  • Apresentar o conceito de luta e promover uma discussão com os estudantes sobre os aspectos que influenciaram o surgimento das lutas, em específico, das lutas brasileiras.
  • Conjuntamente com a turma, pesquisar o tema lutas no laboratório de Informática, na biblioteca da escola ou nas redes sociais (sempre com a sua supervisão).
  • Por fim, ainda juntos, pesquisar quais lutas são tradicionalmente brasileiras.

Essa contextualização pode ser feita ao longo de diversas aulas, intercalando os elementos teó­ricos com os elementos práticos presentes nesta unidade.

O que são as lutas brasileiras?

As lutas brasileiras estão presentes na nossa sociedade, cultura e história. Segundo Garcia (2020), elas estão relacionadas à oposição entre grupos ou entre indivíduos e têm como objetivo se sobressair sobre o oponente, utilizando suas qualidades físicas ou implementos, como armas.

O surgimento das lutas brasileiras está ligado a:

Esquema. Principais pontos que se relacionam com o surgimento das lutas. 
Caixa de textos conectadas, sendo: Autodefesa: Defender e atacar animais e inimigos de forma eficiente. 
Rituais: Construir comportamentos, costumes, caracterizações e formas de pensar e viver ao longo da história. 
Esportes: Assumir características de competição esportiva. 
Valores: Instrumento de transmissão de valores e princípios éticos e morais.

Quadro elaborado com base em Garcia (2020, página 8).

Na história, é possível perceber que as lutas também se relacionaram com as questões de aprimoramento físico, motor e cognitivo para a construção de estratégias, com o intuito de dominar o oponente.

As lutas brasileiras escolhidas nesta unidade, a capoeira e a huka-huka, são somente sugestões para abordar o universo cultural dessas práticas corporais. Podem ser pesquisadas outras lutas brasileiras que condizem com o seu contexto escolar.

Capoeiras Angola, regional e contemporânea

A capoeira é uma luta e uma expressão cultural afro-brasileira criada pelos negros africanos que foram escravizados no Brasil. Ela está ligada a seus povos de origem e esteve dissociada das comemorações culturais dos colonizadores europeus.

Os três tipos de capoeira mais conhecidos no Brasil são: Angola, regional e contemporânea.

Fotografia em preto e branco. Homem de camiseta listrada e calça escura está sentado, tocando um berimbau. Ao lado dele há um homem vestido de maneira idêntica, mas não é possível ver o instrumento que ele toca.

Capoeira Angola

  • Oficializada em 1941 com a inauguração do 1º Centro esportivo de capoeira de Angola.
  • Tem como principal representante o Mestre Pastinha.
  • Movimentos e ritmos musicais são mais lentos.
  • Jogo baixo (golpes são jogados próximos ao chão).
  • Durante a roda, os participantes não batem palmas.
Fotografia em preto e branco. Homem de camiseta clara segura com a mão direita a haste de um berimbau.

Capoeira regional

  • Oficializada em 1937 com a 1ª academia de capoeira com alvará de funcionamento (Centro de Cultura Física e Regional).
  • Criada pelo Mestre Bimba.
  • Movimentos e ritmos musicais são mais rápidos.
  • Jogo alto.
  • Durante a roda, os participantes batem palmas.
Ilustração. Duas meninas usando roupas brancas. Uma delas está com a mão direita apoiada no chão, o joelho direito flexionado e a perna esquerda estendida, com os pés tocando o chão. Ao lado, menina usando roupas idênticas, com a perna direita estendida para cima, o pé esquerdo no chão e cotovelo esquerdo flexionado.

Capoeira contemporânea

  • Nasce a partir da década de 1970.
  • Une algumas características da capoeira Angola e da regional.
  • Movimentos e ritmos diversificados.

1. Fotografia do Mestre Pastinha, fundador da capoeira Angola (anos 1950). 2. Fotografia do Mestre Bimba, fundador da capoeira regional (anos 1950-1960). 3. Desenho de duas mulheres jogando a capoeira contemporânea feminina.

Apesar de existirem diversos tipos de capoeira, há algumas condutas e regras que são comuns entre elas.

  • Respeitar o Mestre acima de tudo e ser disciplinado nos treinos.
  • Manter-se sempre vigilante e atento na roda de capoeira.
  • Não perder de vista os movimentos do oponente ou dar as costas para ele.
  • Sempre manter a calma e a ginga no jogo da capoeira.
  • Zelar pela segurança de todos os colegas de treino.
  • Nunca utilizar em brincadeiras ou possíveis agressões na rua os conhecimentos adquiridos na roda.
  • Durante a prática da capoeira, sempre obedecer aos comandos do Mestre e ao ritmo do Berimbau.
  • No início do jogo da capoeira, agachar ao pé do berimbau antes de “sair” para o jogo.

COSTA, Marcio. Regras da capoeira: principais regras e fundamentos da capoeira. Dicas Educação Física. Rio de Janeiro, 11 abril 2019.

Conectando saberes

Cidadania e Civismo e Multiculturalismo.

Trajeto histórico dos significados da capoeira

Nesta seção, as habilidades mobilizadas são (ê éfe zero seis agá ih zero um) e (ê éfe zero seis agá ih zero dois) e os tê cê tês são Cidadania e civismo e Multiculturalismo. A História auxiliará a compreensão da capoeira desde sua origem, ajudando o estudante a identificar e entender a noção de tempo e registro de sua trajetória no Brasil.

As fugas de escravizados foram um importante movimento de resistência durante todo o período escravagista, quando surgiram os quilombos (refúgios dos fugitivos nas matas). Mello (2002) aponta que o quilombo mais notável foi o de Palmares, que perdurou por quase um século, resistiu a inúmeros ataques e seu líder, Zumbi, tornou-se um símbolo da resistência à escravidão. Foi nesse contexto de necessidade de resistência contra a opressão que a capoeira foi criada, uma técnica de defesa e ataque, no qual os negros utilizavam o próprio corpo para confrontar seus opressores.

Segundo Lussac e Tubino (2009), documentos do século dezesseis apresentam diferentes posições quanto às interpretações da capoeira, designando seus praticantes malfeitores e bandidos, pois começou a ser documentada como prática corporal apenas no século dezenove, no Rio de Janeiro. Ela estava presente nos registros policiais e em fontes de viajantes que reconstituíam os costumes da sociedade, como o pintor alemão iôrram mórritis ruguendás (1802-1858), que faz a primeira descrição mais detalhada da capoeira por meio da gravura a seguir.

Litografia. À esquerda, um homem usa camisa amarela e calça vermelha. Ele está com os pés afastados, corpo inclinado para a frente e mãos fechadas. Ele joga capoeira com um homem de calça amarela e torso nu, com a perna esquerda e cotovelos flexionados e mãos fechadas. Ao redor, há outras pessoas, como um homem sentado tocando tambor, uma mulher em pé com uma cesta de frutas na cabeça e duas mulheres sentadas vendendo cestos de palha. Há, ainda, outras pessoas, que observam. Todos são negros. Atrás, casas, coqueiros e montanhas.
iôrram mórritis ruguendás. Jogo de capoeira, 1835. Litografia colorida à mão, 35,5 centímetros por 51,3 centímetros.

Os autores apontam uma mudança no século com o aumento de praticantes de capoeira por escravizados libertos (africanos e seus descendentes), militares, portugueses e demais imigrantes europeus, além de membros da elite social. Com a Proclamação da República, em 1889, a capoeira foi um dos principais alvos de repressão, sendo proibida pelo Código Penal de 1890.

DECRETO Nº 847, DE 11 DE OUTUBRO DE 1890.

CODIGO PENAL DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL.

CAPITULO treze

DOS VADIOS E CAPOEIRAS

Artigo 402. Fazer nas ruas e praças publicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correrias, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumultos ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal:

Pena – de prisão cellular por dous a seis mezes.

Paragrapho unico. E’ considerado circumstancia aggravante pertencer o capoeira a alguma banda ou malta.

Aos chefes, ou cabeças, se imporá a pena em dobro.

BRASIL. [Código Penal (1890)], Decreto norteº 847, de 11 de outubro de 1890. cê éle bê érre, Brasília, Distrito Federal, 31 dezembro 1890.

Em paralelo, os intelectuais tentaram criar uma capoeira esportiva, uma prática nacional de ginástica corporal e defesa pessoal, de acordo com os preceitos da época e resgatando-a do “caminho maligno e impuro do submundo da malandragem” (LUSSAC; TUBINO, 2009, p. 10), para ser aproveitada nos meios militares e na formação física dos jovens. Uma curiosidade apontada pelos autores é que, somente no início do século vinte, o berimbau foi incorporado à capoeira da Bahia, pois era usado por ambulantes, vendedores e outras expressões culturais. Devido ao seu caráter lúdico, em contraposição ao aspecto bélico, foi irradiado pelo Brasil.

Em 1937, o governo brasileiro legalizou a prática da capoeira, reconhecendo sua importância para a cultura do país. Em 2008, a capoeira foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial.

Pintura. À esquerda, há um grupo de cinco mulheres, uma delas com um cesto na cabeça e outra com um feixe de cana-de-açúcar, levantado acima da cabeça. No centro, um homem de cabelos brancos, com roupas rasgadas, toca um berimbau. À direita, há um grupo de quatro mulheres, duas delas com cestos de mercadorias na cabeça, e uma criança.
Todos são negros, estão descalços e parados em uma rua de terra.
O tocador de berimbau, de Jãn Batiste Dêbret. Óleo sobre tela, 10 centímetros por 25 centímetros. Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1826.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

Elementos culturais e movimentos da capoeira

As vestimentas utilizadas atualmente na capoeira variam muito em função dos diversos grupos e estilos existentes, mas pode-se dizer que muitos praticantes utilizam abadás (calças) e camisetas de cor branca. A graduação na capoeira não segue um padrão único, em função de suas diversas origens. O mais comum é o sistema de cordas com diferentes cores que são amarradas na cintura do capoeirista.

São diversos os instrumentos que compõem a roda de capoeira, sendo fundamentais para a construção das músicas, dos ritmos e dos estilos a serem jogados. Esses instrumentos serviram para ludibriar os escravizadores, fazendo-os acreditar que estavam dançando e cantando. Os instrumentos mais comuns são os berimbaus, os pandeiros e o atabaque, podendo ter o agogô, o cáxixi e o reco-reco.

Os movimentos básicos praticados em uma roda de capoeira são: a ginga, o aú, a defesa (negativa e cocorinha) e o ataque (meia-lua, benção e armada) (ANJOS, 2003).

Ilustração. Na parte superior à esquerda, um berimbau com cabaça grande. Abaixo, a legenda: Berimbau gunga. Ao lado, um berimbau com cabaça pequena. Abaixo, a legenda: Berimbau médio. À direita, um tambor alto. Abaixo, a legenda: Atabaque. Abaixo, um instrumento de metal em formato de dois pequenos sinos e uma baqueta. Abaixo, a legenda: Agogô. Ao lado, um chocalho de palha trançada. Abaixo, a legenda: Caxixi. Na parte inferior, um instrumento redondo com peças de metais nas abas. Abaixo, a legenda: Pandeiro. Ao lado, um instrumento de madeira com ranhuras e uma baqueta. Abaixo, a legenda: Reco-reco.  À direita, um berimbau com cabaça estreita. Abaixo, a legenda: Berimbau viola.
Elementos representados em tamanhos não proporcionais entre si. (Cores-fantasia.)

Golpes básicos da capoeira

Esquema ilustrado. Golpes básicos da capoeira. 

Golpe Ginga. Menino com roupas brancas exemplifica a ginga em três movimentos. 1. Ele está com o joelho direito flexionado, os braços estendidos para a frente do corpo. 2. Ele está com as pernas abertas, os dois joelhos flexionados e os braços cruzados na frente do corpo. 3. Ele está com o joelho esquerdo flexionado, os braços estendidos para a frente do corpo. Acompanha o texto: É a base da capoeira. É um movimento ritmado, geralmente em sincronia com o berimbau, seguido do movimento de colocar a mão direita para a frente e a perna direita para trás (na diagonal), e depois realiza o mesmo movimento com o lado esquerdo do corpo. 

Golpe Aú. Menino usando roupas brancas com as duas mãos no chão, cabeça para baixo, perna direita para cima e perna esquerda para a frente, ambas fora do chão. Acompanha o texto: É um movimento geralmente utilizado para iniciar o jogo de capoeira. Quando o jogador, próximo ao berimbau, abaixa-se para entrar na roda, ele inclina o tronco para um dos lados, apoia as mãos no solo, projetando os quadris no ar de modo a descrever um semicírculo com as pernas e olhando o companheiro.

Golpe Cocorinha. Menina com cabelos presos, usando roupas brancas. Ela está agachada com a mão direita na frente do rosto e a mão esquerda no chão. Acompanha o texto: É um movimento de esquiva que consiste em agachar o corpo, ficando de cócoras, enquanto uma das mãos toca o solo para manter o equilíbrio do corpo, e o outro braço eleva-se com o cotovelo flexionado protegendo o rosto.


Golpe Negativa.  Menino usando roupas brancas agachado, com a mão direita na frente do rosto, a mão esquerda no chão, a perna esquerda estendida para a frente e a perna direita com o joelho flexionado. Acompanha o texto: O jogador se esquiva baixando até ficar bem próximo ao chão, com uma perna estendida e a outra flexionada para desviar do adversário. 


Golpe Meia lua de frente e cocotinha.  Menino com roupas brancas agachado com a mão esquerda perto do rosto. Ao lado, uma menina também com roupas brancas. Ela está de perfil, com a perna direita estendida no ar e o joelho um pouco flexionado de dentro para fora, acima da cabeça do menino. Acompanha o texto: Chute semigiratório em que se lança a perna posterior com os joelhos estendidos, descrevendo um semicírculo que parte do lado externo em direção ao interno.


Golpe Benção. Menina com cabelos presos usando roupas brancas. Ela está com a perna direita estendida no ar, os braços para trás. Acompanha o texto: É um chute realizado de frente que atinge o oponente com a sola do pé, elevando a perna e estendendo os joelhos que estavam flexionados.


Golpe Armada. Menino usando roupas brancas. Ele está em um salto com a perna esquerda estendida e o pé direito no chão, os braços estendidos para a direita e o corpo levemente rotacionado para a direita. Acompanha o texto: Chute circular após giro sobre o próprio eixo, lançando a perna da posição posterior para atingi-lo com a lateral externa do pé.

Ilustrações elaboradas para esta obra.

Vamos à prática!

Pega-pega capoeira!

Sugerimos que os jogos de lutas sejam realizados pela turma toda para que possam se apropriar dos elementos que caracterizam a capoeira de fórma fácil e possível; assim, a turma perceberá que essas práticas corporais são possíveis a todos.

Caso seja necessário, sugerimos uma conversa inicial com a turma sobre as atividades que serão vivenciadas, ressaltando o respeito aos colegas e os cuidados a serem tomados. Os jogos podem ser adaptados e reorganizados conforme a necessidade de aprendizagem da turma. Não se esqueça de sempre tecer aproximações dos elementos do jogo praticado com a luta brasileira que está sendo estudada. Nesta prática, o objetivo é realizar golpes da capoeira durante o pega-pega.

Procedimentos

  • Com o professor e a turma, definam algumas regras para iniciar a prática, como quem iniciará sendo o pegador.
  • A turma escolherá quem será o pegador. Os demais estudantes, ao serem tocados pelo pegador, deverão ficar de cócoras (posição agachada), representando um dos movimentos de defesa na ca­poei­ra conhecido como “cocorinha”, sendo permitido sair da posição e voltar ao jogo apenas quando um dos colegas passar a perna por cima dele, representando um movimento de ataque na capoeira (meia-lua de frente).
  • Para que haja 100% de participação nas duas situações (pegador e fugitivo), sugerimos trocar o pegador de tempos em tempos; assim, a turma toda poderá vivenciar todos os papéis e sentir como é estar em cada um deles.
  • O jogo finaliza quando o pegador conseguir pegar todos ou a maioria dos estudantes da turma, trocando-se o pegador.

Sugerimos que, no decorrer desta atividade, sejam inseridos novos movimentos da capoeira: o aú, a ginga, a defesa (negativa e cocorinha) e o ataque (meia-lua, benção e armada).

No momento final da atividade, sugerimos organizar todos os estudantes em roda, como fórma de ressaltar o aspecto da “circularidade” presente na capoeira e em outras manifestações das culturas afro-brasileira e africana, assim como a transmissão de conhecimentos por meio da oralidade, tão comum dentro das manifestações culturais de matriz africana.

Reflita com os estudantes sobre a finalidade dos golpes da capoeira como resistência dos povos que foram escravizados (ataque, defesa para a fuga) e como ela é praticada pelos capoeiristas (atividade física, repertório cultural, ancestralidade) e na proposta de vivência na escola.

#FiqueLigado

Para aprofundamento, pesquise o glossário a seguir.

ANJOS, Eliane Dantas dos. Glossário terminológico ilustrado de movimentos e golpes da capoeira: um estudo término-linguístico. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (éfe éfe éle cê agá) da Universidade de São Paulo , São Paulo, 2003.

Este trabalho apresenta os significados e descrições dos golpes da capoeira.

Îcone. Dois balões de fala.

Avaliando em diferentes linguagens

Promova uma discussão mais ampla sobre o tema da igualdade racial, pensando nos diversos povos e culturas que formaram o povo brasileiro. Chame a atenção dos estudantes para a importância em se construírem ações que visem à igualdade racial e de acesso ao conhecimento da cultura brasileira.

1. Leia a charge a seguir com os estudantes e os incentive a compartilhar as interpretações que fizerem.

Charge: DIA DA CONCIÊNCIA NEGRA. À esquerda, um menino negro, usando camiseta verde e short amarelo, pergunta ao avô: VOVÔ, QUAL É A LUTA MAIS IMPORTANTE QUE EXISTE, JUDÔ, JIU-JITSU, CAPOEIRA OU MUAY THAI? Ao lado, um homem negro, de cabelos brancos e rugas, usando camiseta amarela e bermuda azul, olha para o menino e diz: É A LUTA PELA IGUALDADE!
Charge Dia Nacional da Consciência Negra, de Luiz Fernando Cazo, 2018.

Verifique se eles percebem a desigualdade racial no Brasil, principalmente, na divulgação das informações pelas mídias a respeito das lutas de matriz africana e indígena, em contraposição a uma tradicional valorização da cultura corporal de movimento europeia.

Cerimônia Kuarup, rúca rúca e tradições de povos indígenas

Algum tempo após o sepultamento de um líder, é iniciada a preparação da cerimônia do Kuarup (cerimônia de celebração dos mortos), que envolve rituais de iniciação dos jovens, estabelecimento de relações entre as aldeias e um conjunto de tradições compartilhadas por esses povos habitantes do Xingu. No centro da aldeia, os falecidos são representados por troncos de madeira que recebem pinturas, ornamentos, plumas e outros adereços.

Segundo a tradição, os espíritos dos mortos homenageados ficam junto aos troncos na última noite da celebração, quando grandes fogueiras são feitas diante de cada tronco do Kuarup. Em torno deles, os visitantes auxiliam na cerimônia, enquanto as famílias fazem suas homenagens e passam a noite chorando e rezando em sua última despedida.

Apresente à turma o vídeo do boxe #FiqueLigado.

O huka-huka é praticado na manhã seguinte ao Kuarup para a celebração da vida e da paz. Ela foi criada pelos povos Bakairi, nativos do Xingu. Crianças e adolescentes também se enfrentam depois das lutas principais.

#FiqueLigado

Pesquise na internet o vídeo a seguir e apresente-o aos estudantes.

KUARUP parte dois – a cerimônia (2014). 1 vídeo (26 minutos 11 segundos). Publicado pelo canal tê vê Brasil.

Mostra as diversas etapas da cerimônia do Kuarup.

O termo huka-huka refere-se aos sons emitidos pelos lutadores ao se enfrentarem, imitando o rugido da onça. A luta obedece a procedimentos ritualísticos, pois os lutadores ingerem chás e outros preparos antes da luta, induzindo o vômito, pois, assim, acreditam realizar uma limpeza interna. A pele é arranhada com dente de peixe como fórma de purificar o corpo, seguido de um banho de ervas. Além disso, os lutadores não dormem durante a noite que antecede a luta, pois, segundo as crenças indígenas, sonhar que perdeu a luta ou que foi ferido pode atrair o mal que sonhou.

As caracterizações são compostas de um conjunto de enfeites, ornamentos, pinturas corporais e vestimentas. Os grafismos na pele são feitos com tinta de jenipapo e urucum, com o objetivo de representar os animais selvagens. Uma das partes mais importantes são as proteções especiais para os joelhos e as canelas.

Na luta são observadas pequenas variações de regras, dependendo da aldeia. O início da luta exige um ritual em que um homem escolhe os adversários; os lutadores vão até o centro do local, ficam frente a frente, começam a girar de fórma circular em sentido horário, batendo os pés no chão, com o braço esquerdo estendido e o direito retraído, enquanto gritam: “hu! ha! hu! ha!”. Em seguida, os lutadores ajoelham-se, aproximam-se, e a luta se inicia.

Fotografia. Dois indígenas com adereços coloridos estão com as mãos sobre um tronco de árvore cortado. Os dois raspam a casca do tronco utilizando facas. Atrás, diversos indígenas em pé.
Indígenas da etnia Waurá, da aldeia Piiulága, preparando o tronco Kuarup, que simboliza pessoas que morreram e serão homenageadas. Gaúcha do NorteMato Grosso, 2019.
Fotografia. Dois indígenas, um de frente para o outro. Eles estão com o corpo pintado com diferentes cores e usam adereços também coloridos. Estão com os joelhos e as mãos sobre a terra, encarando-se e preparando-se para a luta. Atrás, outros indígenas já estão lutando. Ao fundo, diversos indígenas acompanham as lutas.
Caracterização dos lutadores e posição inicial do huka-huka de joelhos. Querência Mato Grosso, 2021.

Além do ritual de início, a luta também obedece às regras a seguir.

Regras do huka-huka

O início da luta é tradicionalmente realizado com os lutadores de joelhos.

São permitidos agarres como forma de desequilibrar, desestabilizar e imobilizar o oponente.

Não são permitidos socos, pontapés ou outros golpes traumatizantes.

Vence a luta quem conseguir derrubar o adversário no chão ou quem conseguir agarrar a parte posterior de um dos joelhos do outro com a mão.

Quadro elaborado com base em INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL . Aldeia e sociedade. In: XINGU. Instituto Socioambiental .

Existem várias táticas para vencer a luta, entre elas, tocar a parte de trás do joelho do adversário, desequilibrá-lo e derrubá-lo no chão, ou até mesmo agarrar o oponente e elevá-lo para conseguir derrubá-lo no chão. A maior parte dos movimentos permitidos no huka-huka consiste em movimentos de agarre, que geram desequilíbrio no oponente.

Os vencedores da luta ganham reconhecimento, prestígio e respeito de toda a comunidade, sem premiações materiais. Ao término das lutas principais, é a vez de as crianças e os adolescentes se enfrentarem no huka-huka.

Na literatura sobre o tema, não são encontrados muitos detalhes sobre movimentos ou golpes específicos, como é o caso de outras lutas. Provavelmente pelo fato de a cultura dos povos originários se basear nas tradições orais, e não escritas. Atualmente, há uma crescente quantidade de representantes indígenas na área acadêmica, o que pode aumentar a sistematização dos saberes indígenas.

Fotografia. Duas mulheres indígenas com o corpo pintado. Elas estão em pé, a mão de uma sobre o tronco da outra. Atrás, um grupo de indígenas, entre homens, mulheres e crianças, observa a luta.
Mulheres da etnia Kamayurá, da aldeia Ipavú, lutando huka-huka durante a festa do Uluri. Gaúcha do Norte Mato Grosso, 2018.

Vamos à prática!

Luta dos pregadores com desequilíbrio e imobilização

O objetivo será vivenciar um jogo que estimula as capacidades e as habilidades necessárias à compreensão dos elementos da luta huka-huka, como agilidade, equilíbrio e imobilização.

Materiais

Pregador de roupas ou fitas/tiras de pano ou de tê êne tê.

Procedimentos

  • Organize a turma em duplas com base na observação do biotipo de cada estudante, para garantir embates justos, cabendo as devidas modificações e formações que achar pertinentes.
  • Cada estudante colocará pregadores fixados na vestimenta, na região das coxas (acima dos joelhos), sendo inicialmente um de cada lado do corpo.
  • Os jogadores ficarão ajoelhados e deverão tentar capturar os pregadores do oponente ao mesmo tempo que protegem os seus pregadores e mantêm-se em equilíbrio.
  • Vence quem conseguir capturar todos os pregadores e tocar a parte interna do joelho do oponente.

Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes

Cidadania e Civismo e Multiculturalismo.

Nesta etapa, sugerimos a construção de um mapeamento das lutas brasileiras nas comunidades onde os estudantes estão inseridos e a divulgação dessas informações na comunidade escolar, com o objetivo de valorizar essas práticas corporais nacionais. Oriente a turma a realizar uma pesquisa por meio de entrevistas, seguidas da transcrição dos dados a partir do roteiro de trabalho sugerido a seguir.

  • Fazer uma pesquisa guiada pelo professor nas redes sociais dos estudantes para identificar contatos para a pesquisa. Marcar uma entrevista com as pessoas envolvidas com as lutas brasileiras. As respostas podem ser registradas no caderno ou gravadas no celular. Lembre-se da importância de solicitar uma autorização do entrevistado para a divulgação dos dados da entrevista para fins pedagógicos.
  • Transcrever esses dados alocando as respostas nas respectivas perguntas para que sejam identificadas as respostas mais frequentes. Oriente os estudantes e sane todas as dúvidas que eles tiverem. Faça correções e os ajude a construir novas possibilidades de investigação. Os resultados podem ser postados em blogs, sites ou redes sociais da escola ou afixados nas paredes das salas de aula, nos murais da escola e nos corredores, para que a comunidade escolar tenha acesso às informações coletadas.

Mapeando as lutas brasileiras na comunidade escolar

Para a realização do mapeamento, os estudantes seguirão estes passos:

  1. Pesquisar nas redes sociais e nos arredores do bairro onde moram locais que tenham academias, aulas ou projetos que envolvam as lutas.
  2. Verificar se nesses locais há alguma das lutas brasileiras contextualizadas na unidade (capoeira ou huka-huka).
  3. Elaborar uma lista com o nome dos locais, com endereço e telefones, onde essas lutas ocorrem e identificar quais lutas brasileiras são desenvolvidas nesses lugares.
  4. Visitar um desses lugares para entrevistar o professor de lutas ou realizar uma entrevista virtual com as seguintes questões:
    1. Por que você escolheu essa luta brasileira para praticar?
    2. Você se identifica com essa luta brasileira? Explique.
    3. Você já passou por alguma situa­ção de preconceito envolvendo a prática dessa luta brasileira? Especifique.
  5. Formar grupos com os colegas e transcrever os dados coletados, produzindo um cartaz com todas as informações, que poderá ser de papel ou em meio digital, conforme os recursos disponíveis.
  6. Apresentar esse mapeamento à turma. Os cartazes com os mapeamentos podem ficar expostos na sala ou nos corredores da escola para que todos conheçam esses espaços de lutas brasileiras e possam acessá-los. Caso os cartazes tenham sido feitos em meio digital, compartilhe esses arquivos usando programas de comunicação específicos.