UNIDADE TEMÁTICA 6 ARTES MARCIAIS E DEFESA PESSOAL NAS LUTAS BRASILEIRAS

Raio-xis da unidade

Competências da Bê êne cê cê

Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4 e 6.

Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental: 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9 e 10.

Habilidades de Educação Física da Unidade Temática

(ê éfe seis sete ê éfe um quatro) Experimentar, fruir e recriar diferentes lutas do Brasil, valorizando a própria segurança e integridade física, bem como as dos demais.

(ê éfe seis sete ê éfe um cinco) Planejar e utilizar estratégias básicas das lutas do Brasil, respeitando o colega como oponente.

(ê éfe seis sete ê éfe um seis) Identificar as características (códigos, rituais, elementos técnico-táticos, indu­mentária, materiais, instalações, instituições) das lutas do Brasil.

(ê éfe seis sete ê éfe um sete) Problematizar preconceitos e estereótipos relacionados ao universo das lutas e demais práticas corporais, propondo alternativas para superá-los, com base na solidariedade, na justiça, na equidade e no respeito.

O que veremos nesta unidade

Esta unidade tem como objetivo apresentar duas lutas brasileiras, o jiu-jítsu brasileiro e a luta marajoara, estabelecendo relações com os conceitos de artes marciais e defesa pessoal, além de tecer considerações sobre a participação das mulheres nas lutas. Para trabalhar elementos das lutas estudadas, sugerimos, como propostas de vivência, jogos de oposição e de lutas.

Propusemos a conexão de saberes com os Temas Contemporâneos Transversais (tê cê tês) Educação em direitos humanos, Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras e Diversidade cultural, visando à compreensão e à valorização das mulheres no universo das lutas, que tradicionalmente é masculino.

Interdisciplinarmente, propomos um trabalho com a Língua Portuguesa, com análises de trechos de textos jornalísticos relacionados aos temas estudados.

Por fim, os estudantes investigarão, dentro do ambiente escolar, situações de violência vivenciadas por outros estudantes e pesquisarão modos de intervenção a essas situações. Como produção final, construirão materiais em diferentes linguagens para divulgar fórmas de intervenção e conscientizar a comunidade escolar sobre os casos de violência identificados.

De ôlho nas imagens

Nesse momento, é interessante levantar o conhecimento dos estudantes sobre o tema a ser estudado. Para isso, sugerem-se as seguintes questões:

  • Você já viu pessoas praticando alguma das lutas das imagens? Se sim, em quais locais e com quais objetivos?
  • E o que mais chamou sua atenção nessa luta?
  • Para você, o que é luta? Explique.
  • “A luta é uma prática corporal destinada a qualquer pessoa.” Você concorda com essa afirmação? Justifique.

Avalie as respostas, pois esse é um momento importante para o planejamento das aulas seguintes, permitindo a ampliação do tema ou o aprofundamento do conteúdo de acordo com os conhecimentos apresentados. As indagações permitem aos estudantes construir um mapeamento inicial sobre os próprios conhecimentos, instigando-os a refletir acerca das questões de gênero nas lutas.

Fotografia. Mulher e homem lutando jiu-jítsu. Os dois usam quimono branco com faixa azul na cintura. A mulher está com as costas no chão e as pernas em volta do pescoço do homem. Ele está agachado, com a mão esquerda na perna esquerda da mulher e a mão direita no peito dela.
Lutadora de aplicando o golpe chave de braço em seu oponente.
Fotografia. Dois homens lutam em um terreno com lama. Um está inclinado sobre o outro, tocando-se com os braços. As pernas de um estão flexionadas, a do outro, esticadas. Há várias pessoas ao redor, observando.
Luta marajoara ou agarrada marajoara acontece nas Festividades do Glorioso São Sebastião, na Região do Marajó. Cachoeira do Arari (Pará), 2019.

Por dentro do tema

Artes marciais e defesa pessoal no brasileiro

As artes marciais são fórmas de lutas orientadas por princípios religiosos ou filosóficos, como algumas lutas orientais indianas, chinesas, japonesas e coreanas. Foram criadas regras que as transformaram em lutas e sistematizações defensivas baseadas nos atos de ataque e defesa. Já a defesa pessoal faz parte de diversos estilos de luta, como o , e tem por objetivo a própria proteção ou a de outras pessoas, articulando as potencialidades físicas, cognitivas e emocionais de quem age.

brasileiro é o termo que define um estilo de jujutsu japonês desenvolvido pela família grêici no Brasil. Arte da flexibilidade e da adaptação, trata-se de uma luta que utiliza essencialmente golpes compostos de alavancas, torções e pressões para levar o oponente ao chão e dominá-lo. O se concentra em imobilizar a ação do adversário.

A origem dessa luta está relacionada com a chegada de mítissúiô Maêda (1878-1941) ao Brasil, em 1914, quando fixou residência na cidade de Belém (Pará) e ficou conhecido como Conde Koma, mestre de jujutsu e de judô na escola de Cobokân de jigorô kãnu. Ele foi auxiliado por Gastão grêicie, como fórma de agradecimento à hospitalidade, ensinou ao filho de grêici, Carlos grêici, a nova luta, chamada j.

Foto em preto e branco. Dois homens de quimono, um deles idoso, são mostrados da cintura para cima. Cada um agarra o quimono do outro.
Élio grêici, mestre com maior graduação no mundo e precursor do no Brasil, treina com o filho Ríkson grêici. Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), 1989.

Carlos e seus irmãos, sobretudo Hélio, passaram a se dedicar integralmente ao estudo e ao aprimoramento das técnicas e dos fundamentos do japonês, transformando-o em uma luta denominada grêici ou brasileiro. Essa luta herdou os potentes combates no solo, assim como o método de alavancagem e desequilíbrio usando a fôrça dos adversários contra eles mesmos. É conhecida popularmente como luta corpo a corpo, pois se concentra na luta corporal no chão e no desarmamento dos pontos fortes dos oponentes. As técnicas possibilitam dominar o adversário, independentemente do seu tamanho, o que favorece o lutador fisicamente mais fraco.

Reforce com os estudantes a filosofia de defesa pessoal presente no e a presença dessa filosofia nas lutas de hoje. No que tange ao aspecto de “neutralizar agressões” e ao uso das lutas pelos “mais fracos”, chame a atenção para a especificidade das lutas e dos métodos de defesa pessoal na garantia da segurança de seus praticantes e no enfrentamento de situações de perigo. Outro ponto relevante é a percepção sobre quem seriam os “mais fracos”, que podem ser relacionados tanto a aspectos físicos quanto psicológicos.

O brasileiro pode ser trabalhado na perspectiva de luta esportiva, arte marcial ou técnica de defesa pessoal.

Fotografia. Duas mulheres. Uma, de uniforme azul, está deitada no chão, com as pernas levantadas, A outra, de uniforme branco, está em pé, agarrando as pernas da primeira.
Ariadne de Oliveira (azul) e Marina Ribeiro (branco) lutam em campeonato em Xarjá, Emirados Árabes Unidos, 2016. esportivo: prática que visa à preparação para competições.
Fotografia. Homem sem camiseta, usando calção preto e verde e luvas pretas, está com a perna direita esticada para cima, na direção do rosto de outro homem, também sem camiseta.  O homem que recebe o golpe inclina a cabeça com o impacto. Eles estão em um ringue.
Rendi bróun e Quêiós uíliams em luta no ú éfe cê 274 em Phoenix, Estados Unidos, 2022. combate ou para artes marciais mistas (ême ême á): prática que visa à preparação de profissionais da luta. Utiliza soco, chute e técnicas em ringues, além dos golpes de

Essas perspectivas do brasileiro respeitam as principais regras:

  1. Apresentar-se com as unhas das mãos e dos pés curtas, bem cortadas.
  2. Utilizar como traje quimono de algodão, tecido similar ou trançado de .
  3. Não é permitido morder, arranhar e bater no oponente com a cabeça ou o punho.
  4. As lutas são divididas em rounds de cinco minutos, com dois minutos de descanso, e com o árbitro em campo para poder contar os minutos em voz alta.
  5. Ao cair fóra do , o árbitro solicitará aos lutadores que voltem para o espaço de luta, em pé, e um de frente para o outro.
  6. As lutas são decididas conforme desistência, interrupção, desclassificação, perda dos sentidos, contagem do placar, decisão do árbitro ou sorteio (caso os dois lutadores se acidentem e estejam empatados).
  7. Perde a luta quem der três palmadas sobre o acolchoado ou sobre o corpo do adversário.

Nos campeonatos, as pontuações no brasileiro são:

  • 2 pontos: queda, joelho na barriga e raspagem;
  • 3 pontos: passagem de guarda;
  • 4 pontos: montada e pegada pelas costas.

Há três fórmas de efetivar a graduação no brasileiro, baseadas em experiência, habilidades e idade do atleta. Cada associação ou federação também pode ter regras próprias.

TIPOS DE GRADUAÇÃO NO  BRASILEIRO

Ilustração. Cinco faixas.
TIPOS DE GRADUAÇÃO NO JIU-JÍTSU BRASILEIRO
FAIXA BRANCA: Uma faixa branca com quatro listras pretas na ponta.
FAIXA AZUL: No início da faixa, há uma parte branca com quatro listras pretas na ponta.
FAIXA ROXA: No início da faixa, há uma parte branca com quatro listras pretas na ponta.
FAIXA MARROM: No início da faixa, há uma parte branca com quatro listras pretas na ponta.
FAIXA PRETA: A faixa preta tem uma parte vermelha na ponta.

Exame de faixa

O mestre solicita a apresentação de algumas projeções, finalizações, raspagens, respeitando o nível de graduação do lutador.

Ilustração.
Cinco faixas brancas, mostrando uma gradação. 
Faixa 1. No início da faixa, há uma parte preta com uma listra branca na ponta. 
Faixa 2. No início da faixa, há uma parte preta com duas listras brancas na ponta. 
Faixa 3. No início da faixa, há uma parte preta com três listras brancas na ponta. 
Faixa 4. No início da faixa, há uma parte preta com quatro listras brancas na ponta. 
Faixa 5. No início da faixa, há quatro listras pretas.

Essa mesma gradação se aplica às faixas azul, roxa e marrom que são apresentadas após as faixas brancas.

Cinco faixas pretas, mostrando uma gradação. 
Faixa 1. No início da faixa, há uma parte branca com uma listra preta na ponta.
Faixa 2. No início da faixa, há uma parte vermelha com uma listra preta na ponta.
Faixa 3. No início da faixa, há uma parte vermelha com uma listra preta e uma branca na ponta. Na outra ponta da parte vermelha há outra listra branca.
Faixa 4. No início da faixa, há uma parte preta com uma listra vermelha na ponta e várias listras brancas. Nesse estágio, a faixa é formada por retângulos pretos e vermelhos em toda sua extensão.
Faixa 5. No início da faixa, há uma parte preta com uma listra vermelha na ponta e várias listras brancas. O restante da faixa é todo vermelho.

Merecimento

Aprendizado do praticante e sua evolução, quando o lutador começa a se destacar em relação aos colegas.

Tabela.
Branca: Qualquer idade.
Cinza: 04 a 06 Anos
Amarela: 07 a 15 Anos
Laranja: 10 a 15 Anos
Verde: 13 a 15 Anos
Azul: Mais de 16 Anos
Roxa: Mais de 16 Anos
Marrom: Mais de 18 Anos
Preta: Mais de 19 Anos
Preta e Vermelha: Qualquer Idade
Vermelha: Qualquer Idade

Tempo

Geralmente é para atletas que praticam o por amor ao esporte, ou seja, o utilizam para fins recreativos e quase não competem mais.

Fonte: cê bê jóta jóta. Pôster do Sistema Geral de Graduação.

PRINCIPAIS GOLPES DO JIU-JÍTSU

PRINCIPAIS GOLPES DO
JIU-JÍTSU BRASILEIRO 
Homem usando quimono branco com faixa preta na cintura. Ele está deitado com as costas no chão, as duas pernas juntas acima do rosto de um homem com quimono azul, também com as costas no chão.
Texto ao lado: Chave de braço ou arm lock: imobilização com hiperextensão do
cotovelo ou punho do oponente.
Ilustração. Homem de quimono branco deitado de lado no chão. Ele segura a perna esquerda de um homem de quimono azul. Com as pernas, o homem de quimono branco trava as pernas do homem de quimono azul.
Texto abaixo: Chave de perna:
imobilização com hiperextensão do joelho ou do tornozelo do oponente.
Ilustração. Homem de quimono branco de costas no chão. Ele enlaça com as pernas o corpo de um homem de quimono azul e aplica um golpe com os dois braços no pescoço do adversário.
Texto abaixo: Guilhotina: golpe aplicado com os dois braços no pescoço do adversário.
Ilustração. Homem de quimono branco está deitado com as costas no chão e segura o pescoço de um homem de quimono azul. Suas pernas estão ao redor do homem de quimono azul, que está acima de sua barriga.
Texto abaixo: Mata-leão: estrangulamento realizado pelas costas
do oponente.
Ilustração. Homem de quimono branco está deitado com as costas no chão e com as pernas levantadas segura o pescoço de um homem de quimono azul.
Texto abaixo: Triângulo:
estrangulamento com as pernas envolvendo o pescoço e um dos braços do oponente entre elas.
Ilustração. Homem de roupão branco  está deitado acima de um homem de quimono azul. Ele segura o braço direito do oponente.
Texto abaixo: Kimura: Chave de braço com o braço por baixo do oponente.
Ilustração. Homem de quimono branco está deitado acima de homem de quimono azul. Ele está com o braço em volta do pescoço e segura a cabeça do oponente.
Texto abaixo: Katagatame:
estrangulamento com um braço por baixo do pescoço do oponente e o outro por fora do braço esticado.

Fonte: Infográfico. Gazeta do Povo, Esportes, 28 janeiro 2012, Curitiba.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Para aprofundamento do tema, pesquise na internet o site da Confederação Brasileira de , que disponibiliza livros e vídeos sobre regras, golpes, pontuações, além de informações sobre ranking, dopagem e campeonatos do esporte .

Vamos à prática!

Em roda de conversa, ressalte a necessidade do respeito aos colegas e os cuidados a serem tomados durante a prática desse esporte. Retome os objetivos da atividade, permitindo a ressignificação de concepções equivocadas dos estudantes sobre as atividades de lutas como sinônimo de violência ou briga. Avise a turma sobre a necessidade de retirar os adereços (brincos, cordões, relógios e outros) para que todos possam participar das movimentações com segurança.

Elementos do

A atividade será composta de três desafios, como em um duelo em duplas. As pontuações, o tempo e os golpes podem ser adaptados de acordo com a necessidade e o interesse de cada turma.

Material

(colchonetes ou outro material para proteger os estudantes durante eventuais quedas).

Procedimentos

  • Desafio 1: Em posição de cócoras, o objetivo é desequilibrar o oponente até que ele encoste alguma parte do corpo no chão.
  • Desafio 2: Sentados com as costas coladas uma na outra. A cada round, eles viram de frente para o outro para imobilizar as pernas e os braços do adversário por três segundos.
  • Desafio 3: Mesma posição inicial, com o objetivo de dominar o adversário sentado ou deitado no chão por três segundos.
    1. No final do terceiro round, trocam-se as duplas, e novos combates são iniciados.
    2. Insira outras adaptações de táticas ou técnicas do brasileiro pesquisadas por você ou pelos estudantes para enriquecer a atividade.

Conectando saberes

Esta seção propõe um trabalho interdisciplinar com a habilidade (ê éfe seis sete éle pê zero cinco) de Língua Portuguesa, ao identificar e avaliar opiniões explícitas e argumentos em textos para que os estudantes manifestem concordância ou discordância. É contemplado também o tê cê tê Educação em direitos humanos, visando à compreensão e à valorização da mulher no universo, tradicionalmente masculino, das lutas.

Representatividade das mulheres nas lutas brasileiras

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Transcrição do áudio

Locutor: Mulher vai à luta!

Locutora: Você já deve ter ouvido falar sobre artes marciais, não é mesmo? Este é o termo pelo qual são conhecidas as lutas que se baseiam em técnicas e habilidades utilizadas dentro de uma tradição e em certa filosofia. São exemplos de artes marciais o caratê, o judô, o kung fu e o krav maga.

Ao aprender os movimentos das lutas marciais, o praticante também aprimora seus comportamentos pessoais e desenvolve atitudes de respeito e de não agressão, válidas tanto no momento do combate quanto nas situações do dia a dia.

Entre as artes marciais brasileiras, duas merecem destaque: o jiu-jítsu brasileiro e o kombato, que começaram a ser difundidas e praticadas no país a partir da metade do século XX.

Ambas as lutas têm origem em práticas mais antigas. O jiu-jítsu brasileiro herdou do jiu-jítsu japonês várias de suas técnicas e conceitos. Já o kombato foi estruturado a partir de movimentos de golpe e treinamentos militares, tendo como foco a defesa pessoal.

O jiu-jítsu brasileiro é praticado no tatame, um tapete feito de palha utilizado como superfície para os treinos e combates. Os praticantes vestem o quimono, traje típico de diversas artes marciais da tradição japonesa.

A principal característica do jiu-jítsu brasileiro é a busca da imobilização do adversário, valendo-se, para isso, dos golpes e movimentos corporais sistematizados pela técnica. Assim como outras atividades de treinamento do corpo, esta é uma excelente prática para melhorar o condicionamento físico.

O objetivo central do kombato é reconhecer e neutralizar ameaças de golpe vindas do adversário. Os praticantes costumam usar roupas confortáveis para treinar, como camiseta e calça de moletom.

Praticar kombato traz inúmeros benefícios à saúde, pois, além da prática das técnicas, o treinamento também contempla exercícios físicos.

Ao longo da história, as artes marciais foram predominantemente praticadas por homens devido a questões culturais, como a menor participação das mulheres na vida pública e o recrutamento de rapazes para compor batalhões do exército.

No entanto, essa realidade vem se modificando, e a participação de mulheres nas artes marciais cresce a cada dia. Muitas delas, inclusive, já conquistaram diversos títulos e adquiriram destaque nas modalidades em que atuam.

Seja como alunas ou mestras nas escolas de artes marciais, seja como atletas profissionais na disputa de campeonatos, as mulheres vêm sendo fortemente reconhecidas dentro desses espaços. E essa conquista feminina demonstra quanto elas estão preparadas para qualquer luta!

Vale lembrar que a prática das artes marciais é indicada para todas as pessoas. Trata-se, antes de tudo, de uma atividade inclusiva que busca o aprimoramento da consciência corporal e de valores éticos. Por isso, deve ser incentivada, pois traz benefícios para a vida social e para a saúde do corpo e da mente.

Agora que você aprendeu mais sobre a prática das artes marciais, aproveite para pesquisar sobre o jiu-jítsu brasileiro e o kombato, conhecendo melhor as suas características, os nomes dos golpes principais e a atuação das mulheres nessas lutas brasileiras.

Ah! E não se esqueça de compartilhar a pesquisa com os colegas, assim os conhecimentos podem ser multiplicados.

Boa pesquisa!

Locutor: Crédito: O áudio inserido neste conteúdo é da Incompetech.

O universo das lutas sempre foi um campo tradicionalmente masculino, muitas vezes relacionado com batalhas contra outros povos, com a proteção da família ou mesmo com a defesa de territórios. Entretanto, cada vez mais, as mulheres têm procurado práticas que possam proporcionar autonomia para exercer sua defesa pessoal, manutenção da saúde e lazer.

Cada vez mais, as lutas têm criado categorias femininas, porém ainda existe grande desigualdade salarial entre os praticantes profissionais.

Ivône Duarte, a primeira mulher a receber a faixa preta no jiu-jítsu brasileiro, disse em entrevista para o Spórtevê Combate: “Nós, mulheres, temos que lutar no , mas temos outras lutas fóra, como a luta contra o preconceito. O machismo está presente em todos os esportes, incluindo o ” (ver rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado).

Na época em que ela começou a treinar, aos 14 anos, em 1978, os campeonatos ainda eram exclusivamente masculinos, e seu mestre, Osvaldo Alves, pressionava a Federação de do Rio de Janeiro para a abertura das categorias femininas.

Proponha reflexões quanto a ações que podem ser implementadas para diminuir o preconceito e o machismo em relação às mulheres nas lutas, além de propostas para ressignificar essa manifestação da cultura corporal de movimento nas aulas de Educação Física na escola como uma prática possível, acessível, inclusiva e que respeita a todos.

Peça aos estudantes que pesquisem na internet termos usados em meios de comunicação quando fazem referência às mulheres nas lutas, como “Musa do J”, “Gata de quimôno”, “Bela do ”. Verifique se eles identificam as representações machistas que só valorizam o corpo como objeto de prazer masculino ou as emoções das lutadoras em detrimento da técnica esportiva. Veja sugestões de aprofundamento do tema no boxe rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet os artigos a seguir.

  • NEDER, Luciana. A Invisilidade ou visibilidade da lutadora de jiu-jítsu. Sport JíuJítissu South American Federation, Rio de Janeiro, 17 junho. 2019. Artigo que discute a atuação das mulheres no universo esportivo das lutas, um ambiente tradicionalmente masculino.
  • Bulé Jamile. Mulheres na luta: desafios do passado, presente e futuro nas artes marciais. Spórtevê Combate, Rio de Janeiro, 8 março. 2017. Artigo que trata das dificuldades enfrentadas por mulheres no universo das lutas.

Elementos da cultura corporal de movimento da luta marajoara

Essa luta tradicional, parte da manifestação cultural e regional da Ilha de Marajó, no Pará, também é conhecida como agarrada, cabeçada, lambuzada ou derrubada. Recentemente, foi aprovado o Projeto de Lei númeroº 6/2021, que declara a manifestação sociocultural e desportiva da luta marajoara como integrante do Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Pará.

Seabra, Campos e Antunes (2020) apontam a escassa produção acadêmica, tendo como referência algumas pistas que associam a luta marajoara a populações primitivas da região ou ao cotidiano de trabalhadores rurais ou vaqueiros das antigas fazendas da região como fórma de diversão. Os resultados de seu estudo indicam a demanda pela esportivização da luta marajoara com a padronização das regras de competição e o repertório técnico.

Segundo Santos e Freitas (2018), é uma luta expressivamente típica da região marajoara e manifesta-se como atrativo turístico-cultural presente em eventos tradicionais, como a Festividade de São Sebastião. Os espaços de luta representam particularidades do Marajó, como praias e fazendas, locais que favorecem o objetivo principal da luta, que é o de sujar as costas do adversário.

Em perspectiva cultural, Santos e Freitas relacionam movimentos da luta característicos no embate corpo a corpo marajoara às ações de ataque e resistência presentes nos confrontos dos búfalos, animal considerado um símbolo marcante da Ilha de Marajó. De acordo com relatos, os caboclos observavam demoradamente as brigas dos búfalos da região e reproduziam os movimentos depois nos momentos de lazer, para exercitar o corpo no final do dia de trabalho nos campos, originando, assim, a luta marajoara.

A luta marajoara é representada no Ultimate Fighting Championship (ú éfe cê), o maior evento de Artes Marciais Mistas (ême ême á) do mundo. Ela ficou conhecida por meio dos irmãos Alcântara (Iúrie Ildemar Marajó), atualmente integrantes do card de lutadores do ú éfe cê, e do lutador DêivesonFigueiredo, consagrado campeão do ú éfe cê no peso-mosca.

Fotografia. Atleta de UFC Yuri Marajó. Ele está sem camiseta e usa luvas pretas. As sobrancelhas estão levantadas e as mãos, unidas. Ele está dentro de um ringue.
Iúri Marajó, atleta de ú éfe cê, Arena Mangueirinho. Belém (Pará), 2018.

Mesmo com essa visibilidade nacional da luta marajoara nesses eventos esportivos, ela ainda é pouco conhecida no ambiente escolar, tanto por professores quanto por estudantes.

Em relação à contextualização escolar da luta marajoara, Santos e Freitas (2018) capturam informações de professores por meio de entrevista com questionário semiestruturado e com registro recordatório em áudio, contendo perguntas relativas a:

  1. presença da luta marajoara e representação docente sobre seu trabalho e/ou possibilidades de trabalho com esse conteúdo em suas aulas;
  2. realidade da formação e condições para o trato do conhecimento do conteúdo lutas;
  3. memória e esquecimento como fatores subjetivos relacionados à prática pedagógica.

Já Pereira (2018) pesquisa os estudantes de uma escola estadual, na cidade de Tucuruí, no Pará. Quase a totalidade dos alunos, 97%, afirmaram não ter nenhum contato com a luta marajoara antes dessa pesquisa. Após a aproximação dos estudantes com a luta marajoara, eles ficaram surpresos em conhecer uma luta originária do seu estado e se declararam satisfeitos em vivenciar essa manifestação da cultura corporal de movimento.

Algumas regras básicas da luta marajoara são:

  • Mínimo de duas categorias de participantes com base no peso (até 80 quilogramas e superior a 80 quilogramas); com oponentes do mesmo gênero; e com respeito à faixa etária (Amador até 35 anos e Master acima de 35 anos).
  • Área de combate: desenho de um círculo com raio de pelo menos 2 metros.
  • Proibido o uso de óleos, adereço ou unhas destacadas.
  • Proibido o uso de socos, chutes, tapas e estrangulamentos.
  • A luta tem um round único de até 5 minutos. Caso a luta não seja definida nesse tempo, os árbitros votam para desempatar e pode ser dada uma prorrogação de até 3 minutos.

Fonte de pesquisa: PEREIRA (2018).

Em casos de queda do oponente, sem que ocorra contato suficiente das costas dele com o solo para a finalização da luta, o árbitro permitirá a luta de chão pelo tempo suficiente para que o embate seja concluído. A falta de progresso na disputa pela finalização dá condições ao árbitro de solicitar aos participantes que reiniciem a luta.

Dependendo dos municípios ou das regiões do Marajó onde a luta é praticada, Seabra, Campos e Antunes (2020) descrevem que, no início do combate, os oponentes ficam frente a frente nas seguintes posições:

  • praticamente eretos, tocando as mãos espalmadas;
  • postura de semiagachamento;
  • posição de “joelho casado” (joelhos contrários tocando um no outro);
  • com o “braço casado”, ou seja, um dos braços envolve o tórax do adversário e o outro é posicionado para trás.

A luta deverá desenvolver-se predominantemente em pé, buscando sempre a projeção por meio de agarradas, empurradas e puxadas, desequilibrando o adversário rumo ao solo. Ao encostar as costas do oponente no solo (sujar de areia), o participante efetua o ponto e o desfecho da luta pode ocorrer por três pontos, por desistência do lutador ou por tempo.

Os nomes de suas técnicas peculiares se relacionam à cultura local, como pode ser observado no diagrama a seguir:

GOLPES

ATAQUE

1. Cabeçada: apoiar a cabeça no tórax ou membros inferiores do oponente para projetá-lo ao solo. 

2. Calçada: agarrar o oponente pela nuca, tórax ou membros superiores e bloquear (calçar) uma de suas pernas para projetá-lo ao solo. 

3. Lambada: agarrar o oponente pela nuca, tórax ou membros superiores e projetá-lo ao solo lateralmente. 

4. Rasteira: desequilibrar o oponente com uma varrida (rasteira) em suas pernas. 

5. Desgalhada: levantar o oponente frontalmente sobre os ombros ou cabeça, arremessando-o com as costas ao solo. 

6. Boi Laranjeira: empurrar a nuca do oponente em direção ao solo e simultaneamente revirá-lo com as mãos entre suas pernas, projetando-o de costas no solo.

DEFESA E CONTRA-ATAQUE

7. Espalhada: projetar as pernas para trás a fim de não permitir que o adversário o agarre. 

8. Escora/escorada: bloquear com as mãos, braços e ombros para evitar ser agarrado pelo adversário. 

9. Recalçada: contra-atacar a calçada, realizando a mesma técnica em sentido oposto para defender ou projetar o oponente ao solo. 

10. Baiana: agarrar o oponente pelo tórax, levantando-o o mais alto possível para arremessá-lo de costas ao solo. 

11. Passagem (gratuita): recuperar o equilíbrio revertendo a posição ou tirando o oponente de seu raio de ação.

Fonte: CAMPOS, Ítalo Sergio L.; PINHEIRO, Claudio J. B.; GOUVEIA, Amauri. Modelagem do comportamento técnico da luta marajoara: do desempenho ao educacional. Ciência e Movimento, Pará, página 209-217, 2019.

LUTA MARAJOARA

Golpe desgalhada.

Ilustração. LUTA MARAJOARA
Golpe desgalhada. Homem sem camiseta, usando calção vermelho e descalço, está com os braços ao redor de um homem sem camiseta e também descalço. Ele segura e levanta o oponente.

Golpe escorada.

Ilustração. LUTA MARAJOARA. Golpe escorada.  Duas pessoas estão com o tronco inclinado, a cabeça abaixada e chocam-se com os ombros e as costas. Suas mãos estão abaixadas na direção do oponente.

Ilustração elaborada para esta obra.

Os golpes enfincada e recolhida são proibidos e já foram registrados como letais, pois levaram à morte alguns praticantes, basicamente por fratura de cervical.

Vamos à prática!

“De costas ao chão!”

Esta prática tem o objetivo de proporcionar à turma uma vivência dos elementos da luta regional marajoara. Ela será composta de três desafios, como em um duelo em duplas.

Materiais

Giz, corda, fita ou outro material para delimitar o espaço no chão.

Procedimentos

  • Demarque um círculo com cêrca de três metros de diâmetro para a zona de combate.
  • Oriente a formação de duplas no centro da zona de combate, frente a frente, para realizar os desafios indicados a seguir.
  • Desafio 1. Retirar o oponente da área, empurrando-o na posição da escorada (mãos nos ombros) durante 10 segundos.
  • Desafio 2. Mesmo objetivo anterior, com posição da cabeçada (cabeça no tórax). O ataque pode ser simultâneo ou alternando os ataques (um dos estudantes tenta retirar o outro empurrando-o com a cabeça e depois inverte-se a posição de atacante e defensor).
  • Desafio 3. Retirar pelo menos um dos pés do oponente do solo com o movimento da desgalhada ou baiana.
Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, pode-se propor que a atividade seja realizada com os oponentes encostados um no outro, encerrando-se caso percam o contato físico.

Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes

Nesta seção, ao estimular os estudantes a se defenderem identificando situações de perigo e construindo ações de proteção, será contemplado o tê cê tê Direitos da criança e do adolescente. Haverá momentos de prática de pesquisa inspirada nas entrevistas de professores e estudantes sobre a luta marajoara, mas com foco na identificação das situações de violência. Esta seção favorece também a Competência Específica de Linguagens 3, ao estimular o uso de diferentes linguagens, como verbal, corporal, visual e sonora, para se expressar e partilhar informações.

Defenda-se: brasileiro e Lei númeroº 13 431/2017

Pesquise na internet e apresente à turma o vídeo Defenda-se (13): Lei do Depoimento Especial e da Escuta Especializada | 13 431/2017. [sem local], 2020. 1 vídeo (3 minuto 17 segundo). Publicado pelo canal Grupo Marista. Caso seja necessário, apresente também o site do projeto Defenda-se. Essa lei estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência (Estatuto da Criança e do Adolescente).

O projeto apresentado estimula ações de autodefesa contra as violências do dia a dia, por meio do reconhecimento dessas situações, da conscientização dos direitos ao agredido e do aprendizado de estratégias para minimizar a ação de agressores. Após a exibição do vídeo, estimule os estudantes a tecerem aproximações entre o que assistiram com os elementos presentes no brasileiro (autodefesa, evitar situações de perigo, neutralizar agressões) para auxiliar na construção de ideias a fim de minimizar circunstâncias de risco.

Peça aos estudantes que pesquisem na escola se há alguém que já tenha passado por um episódio de risco, perigo, violência e importunação. Oriente-os a perguntar se essa pessoa gostaria de participar de uma pesquisa pedagógica da escola, registrando as respostas por escrito ou gravando as respostas da entrevista. Depois, forneça aos estudantes um documento impresso para que o entrevistado possa assinalar se autoriza a divulgação dos dados dessa pesquisa.

Termo de consentimento para entrevista e questionário

1. Você quer participar dessa pesquisa sobre situações de risco, violência e importunação no seu cotidiano?

Sim Não

2. Você autoriza a divulgação desses dados sem sua identificação para fins pedagógicos na escola?

Sim Não

Atenção: se o entrevistado assinalar que não autoriza a divulgação dos dados mesmo sem a identificação, esclareça a ele que todas as informações não serão divulgadas nem compartilhadas e que ficarão em sigilo absoluto. Verifique se ele necessita de ajuda de um adulto da escola ou de profissionais especializados na rede de apoio à defesa dos direitos da criança.

Para a entrevista, sugere-se um roteiro com as perguntas a seguir.

  1. Em que contexto você se viu diante de uma situação de risco, perigo, violência e importunação ou presenciou alguém a vivenciando?
  2. Como se sentiu antes, durante e depois de ter visto ou passado por essa situação?
  3. Você pensou em fazer ou fez algo antes, durante ou depois de ter visto ou passado por uma situação como essa? Como definiria essa atitude?

Com os dados em mãos e sem a identificação dos entrevistados, anote as respostas na lousa e verifique sua frequência para que todos percebam as situações mais citadas nas pesquisas.

Entendidos os resultados, separe a turma em grupos de cinco a seis estudantes e entregue a eles uma situação-problema entre as encontradas na pesquisa. Por exemplo: furto da mochila ou outro material escolar, tentativa de roubo do celular, uma pessoa tentando dominá-la, investida importuna para um relacionamento afetivo, ameaça de violência física para resolver desavenças, entre outros.

Peça aos grupos que pesquisem no contexto do jiu-jítsu brasileiro, no da Lei númeroº 13 431/2017 e no do projeto Defenda-se fórmas de auxiliar ou de combater tais situações. Como resultado, devem ser apresentadas uma ação prática e informações importantes envolvendo o tema em fórma de frase, música, cartaz, banner, fôlder, desenho, pintura ou outra linguagem com a que os membros do grupo se sintam mais confortáveis.

O grupo apresentará à turma a solução da situação-problema atribuída como resultado da junção dos pontos levantados na pesquisa, mostrando as fórmas de combater ou evitar ações de risco, violência ou importunação. É importante dar destaque às novas informações construídas.

Na sequência, podem ser organizadas apresentações a estudantes de outras turmas, a fim de compartilhar o material produzido. A ideia é perpetuar boas soluções, educando as pessoas com relação aos princípios do .

Por fim, os estudantes podem preparar um folheto com as informações levantadas na pesquisa para ser distribuído na escola e na comunidade ao redor. A turma também pode criar uma rede do Defenda-se no bairro em que se situa a escola.