UNIDADE TEMÁTICA 2 ESPÍRITO ESPORTIVO NAS LUTAS DO MUNDO

Raio-xis da unidade

Competências da Bê êne cê cê

Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental: 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Habilidades de Educação Física da Unidade Temática

(ê éfe oito nove ê éfe um seis) Experimentar e fruir a execução dos movimentos pertencentes às lutas do mundo, adotando procedimentos de segurança e respeitando o oponente.

(ê éfe oito nove ê éfe um sete) Planejar e utilizar estratégias básicas das lutas experimentadas, reconhecendo as suas características técnico-táticas.

(ê éfe oito nove ê éfe um oito) Discutir as transformações históricas, o processo de esportivização e a midiatização de uma ou mais lutas, valorizando e respeitando as culturas de origem.

O que veremos nesta unidade

Esta unidade temática apresenta os significados, os conceitos e as classificações que permeiam as representações das lutas, dando oportunidade aos estudantes de refletir sôbre questões éticas por meio do espírito esportivo. Esse tema associa-se às habilidades (ê éfe zero oito ê érre zero um), (ê éfe zero oito ê érre zero quatro) e (ê éfe zero oito ê érre zero dois) de Ensino Religioso, ao analisar e discutir como crenças, filosofias de vida, princípios éticos e tradições podem influenciar escolhas e atitudes pessoais e coletivas. A unidade focará, também, no Tema Contemporâneo Transversal (tê cê tê) Educação em direitos humanos, estimulando os estudantes a atuar de fórma autônoma e crítica em uma sociedade democrática, valorizando o respeito mútuo, a justiça, a solidariedade, o diálogo, a cooperação, a tolerância e a paz.

As vivências serão feitas por meio de jogos de oposição relacionados às lutas lâmbi, kung fu e palo canario. Na seção “Conectando saberes”, a interdisciplinaridade é feita com Arte e a cultura juvenil por meio de animês, mangás e filmes de ação que tematizam a luta. Por fim, na seção “Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes”, propõe-se uma reflexão sôbre a perspectiva decolonial, questionando os padrões europeus que influenciaram a cultura no Brasil, especificamente os esportes. Propõem-se a pesquisa e a construção de um jôgo com atletas negros, trazendo a discussão da representatividade negra no esporte e na luta e o debate sôbre as relações étnico-raciais e uma educação antirracista. Nesse sentido, contempla-se o tê cê tê Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras.

De ôlho nas imagens

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, é necessário que as imagens sejam descritas oralmente. Se houver possibilidade, utilize o recurso de audiodescrição.

Faça um levantamento do que os estudantes aprenderam nos anos anteriores sôbre lutas. Para isso, analise com eles estas ou outras imagens e verifique o que reconhecem dessas modalidades de luta. Incentive-os a compartilhar com a turma o que já sabem e ouça-os com atenção, apontando acertos e incoerências nas respostas. Por fim, reforce as características das lutas apresentadas nas imagens do livro ou das escolhidas por você.

Estimule os estudantes, em duplas, a refletir sôbre as questões a seguir e, na sequência, compartilhar suas respostas com a turma.

Fotografia 1. Três homens asiáticos de cabelo rapado e usando blusas vermelhas e brancas em estilo quimono, faixa amarela na cintura, calças largas amarelas com amarração na canela e tênis branco estão no ar, em um salto para cima com o joelho esquerdo elevado e os braços abertos e esticados. Estão com a boca bem aberta, rosto voltado para a esquerda. Ao fundo, há árvores e o perfil de uma montanha.
Fotografia 2. Na areia, dois homens de short e sem camisa estão em pé, próximos um do outro, com as pernas afastadas e os joelhos flexionados, com o tronco inclinado para a frente. Um deles está segurando o outro pelo tronco e pela perna esquerda. Um pouco atrás, um menino de bermuda e camiseta olha para os dois homens. Mais ao fundo, vários homens correm em fila.
1. Praticantes de kung fu durante a cerimônia de abertura de um festival de artes marciais na China, 2016. 2. Senegaleses lutando o lâmbi em Dacar, Senegal, 2021.
  1. Quais são as características que diferenciam as lutas de outras práticas corporais? Quais são as características que todas as lutas devem ter?
  2. Que movimentos você conhece das lutas? Cite uma luta e descreva alguns de seus movimentos.
  3. O que você acha que é fair playou espírito esportivo?

Verifique o conhecimento prévio da turma sôbre as lutas e apresente seus elementos condicionais (contato proposital, fusão ataque e defesa, imprevisibilidade, oponente/alvo e regras) e as categorias que serão estudadas no contexto do espírito esportivo: luta de agarre (lâmbi), de golpes (kung fu) e com implementos (palo canario).

Por dentro do tema

O espírito esportivo articula-se com a educação para a ética e com as duas últimas competências gerais da Educação Básica, no sentido de exercitar “a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação”, promovendo o respeito, além de “agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários” (BRASIL, 2018, página 10).

Esportivização das lutas e espírito esportivo

Segundo Correia e franquíni (2010, página 2), as lutas, as artes marciais e as modalidades esportivas de combate fazem parte de um universo amplo de manifestações culturais com diversificadas origens e uma pluralidade de “configurações sociais, fórmas de expressão, repertório técnico, linguagens, organização e institucionalização”.

Enquanto a palavra “marcial” faz alusão à dimensão conflituosa das relações humanas (e é referência ao deus romano da guerra, Marte), a palavra “arte” insere características como expressividade, inventividade, imaginação, ludicidade e criatividade (CORREIA; franquíni, 2010). Já as modalidades esportivas implicam sistemas de combate organizados por instituições esportivas:

Aspectos e conceitos como competição, mensuração, aplicação de conceitos científicos, comparação de resultados, regras e normas codificadas e institucionalizadas, maximização do rendimento corporal e espetacularização da expressão corporal são alguns exemplos dessa transposição moderna de práticas seculares de “combate”.

CORREIA, Uálter Roberto; franquíni, Emerson. Produção acadêmica em lutas, artes marciais e esportes de combate. Motriz, Rio Claro, volume 16, número 1, página 1-9, janeiro-março 2010, página 2.

Segundo os autores, há um crescimento cada vez maior do número de federações, ao mesmo tempo que aumentam as divulgações midiáticas relacionadas aos esportes, transformando as lutas em grandes “empreendimentos sociais”. Um problema dessa midiatização dos esportes é a desvinculação de suas regras éticas e morais.

Clique no play e acompanhe as informações do vídeo.

A ética esportiva ganha destaque em 1828, quando Thomas Arnold reorganizou o esporte com a finalidade de oferecer valôres éticos às famílias da Inglaterra.

Quando Piérr cúbértã, criador dos Jogos Olímpicos modernos, incorporou a noção do comportamento cavalheiresco no esporte, surgiu o fair play, expressão traduzida como “jôgo justo”, “espírito esportivo”, quando há a adesão voluntária ao código de ética de uma competição. Em 1963, a unêsco, em parceria com associações esportivas, criou os Troféus Internacionais de Fair Play e, em 1975, vários órgãos internacionais publicaram a carta com seus valôres universais: racionalidade, igualdade, justiça e entendimento mútuo (SANTOS, 2005).

Cabe contextualizar que esse espírito esportivo se potencializou no Japão, aplicado pêlo criador do judô, . Nas artes marciais há uma filosofia que fundamenta a sua formação, desde as primeiras lições. Não há como aprender seus movimentos de defesa e ataque sem essas normas éticas.

Fotografia. Um homem de cabelo curto usando blusa em estilo quimono, short e tênis azuis e protetor de canela azul na perna esquerda está com o tronco inclinado para frente e carrega nos ombros outro homem, com o mesmo tipo de uniforme, porém vermelho. Ao lado deles, um homem de cabelos grisalhos e roupa social está com a mão no tronco do jogador de vermelho.
Fair playdo bielorrusso , que carregou seu adversário lesionado , do Azerbaijão, na final da competição de sambô, nos Jogos Europeus de Baku. Azerbaijão, 2015.

Apresente aos estudantes esse contexto filosófico das artes marciais e o empenho dos órgãos esportivos em preservar o código de ética nas lutas, sobrepondo-se aos interêssis financeiros e midiáticos.

Lutas de agarre, de golpes e com implementos

Segundo Gomes (2008), as lutas apresentam condições indispensáveis representadas seguintes princípios:

LUTAS

CONTATO PROPOSITAL
Os oponentes devem se tocar com as mãos,
punhos, braços, pernas, corpo inteiro ou com um
equipamento.

FUSÃO ATAQUE E DEFESA
Ações simultâneas e, às vezes, interdependentes
de ataques e de proteção/defesa.

IMPREVISIBILIDADE
Ações inesperadas que necessitam de constante reestruturação do planejado.

OPONENTE(S)/ALVO(S)
O alvo é o oponente que se move e pode
executar ações de ataque.

REGRAS
O que é permitido ou proibido tende
a determinar as técnicas e as táticas
usadas pelos lutadores.

Quadro elaborado com base em Gomes (2008).

A autora também apresenta as categorias das lutas em relação à distância entre os lutadores:

CLASSIFICAÇÃO DAS LUTAS
Lutas de curta distância ou de agarrar
Ações de desequilibrar, rolar, projetar, cair, controlar, excluir o oponente. Exemplos: luta leonesa, judô, luta olímpica, luta canária,
huka huka, derruba toco, laamb senegalês, kupigana ngumi.
Lutas de média distância ou de golpes
Ações de tocar ou golpear com mãos, braços, cotovelos, pernas, joelhos e pés. Exemplos: karatê, kung fu, boxe, taekwondo, capoeira, n’golo ou dança da zebra, moringue, ladja.
Lutas de longa distância ou com implementos
Ações de tocar com um equipamento. Exemplos: esgrima, kendô, palo canario, kalaripayattu
indiana, tahtib.

Quadro elaborado com base em Gomes (2008).

Sabemos que as lutas ainda são erroneamente associadas a brigas, vandalismo e violência. Isso demonstra a necessidade de propostas de ensino que auxiliem no desenvolvimento humano de fórma mais ampla. Muitos projetos sociais realizam oficinas educacionais com o objetivo de desenvolver habilidades sociais, pessoais, produtivas e cognitivas, além de ampliar o repertório cultural.

Vamos retomar os elementos básicos da Carta sôbre o Espírito Desportivo que nortearão os estudos e as vivências desta unidade:

1. Respeitar os regulamentos;

2. Respeitar os árbitros e aceitar as suas decisões;

3. Respeitar os adversários;

4. Demonstrar preocupação com a igualdade de oportunidades entre os competidores;

5. Manter permanentemente a sua própria dignidade.

Gonçalves (1990) e rrêniê (1990) apud SANTOS, Antônio Roberto Rocha. Espírito esportivo: fair playe a prática de esportes. Revista maquênzi de Educação Física e Esporte, São Paulo, volume 4, número 4, 2005. página 22.

Os estudos têm início nas três categorias das lutas: agarre (lâmbi), golpes (kung fu) e com implementos (palo canario).

Laamb: uma luta senegalesa

Segundo chiunê (2019), lâmbi significa “coração” ou “honra”. A luta é a paixão nacional senegalesa e é divulgada por megaeventos que atraem os melhores lutadores e milhares de espectadores. A tradição nasceu em um vilarejo, quando os ancestrais saíam à caça e desafiavam outras vilas para uma batalha como demonstração de fôrça.

Essa prática se apresenta em fórma de celebrações, cortejos, disputas de terra e compartilhamento de colheitas. Os praticantes lutam após uma preparação que envolve um conjunto de crenças, treinos, talismãs, dedicação e rezas. Nos rituais que antecedem os confrontos, os lutadores criam movimentos corporais ao ritmo de tambores, para captar energias positivas e atrair o carisma do público. Se possível, assista com a turma ao vídeo indicado no boxe rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet as sugestões de aprofundamento a seguir.

COMO A LUTA LIVRE NO SENEGAL SE TORNOU UMA COMBINAÇÃO MÍTICA DE ême ême á | Olympic Outposts. [sem local], 2018. 1 vídeo (10 minutos). Publicado pêlo canal Olympics.

A tradicional luta lâmbi está no centro da sociedade senegalesa.

Now THAT’S a heavyweight bout! Thousands gather to watch biggest names in Senegalese wrestling go fist-to-head in brutal bout to open country’s fighting season. Daily Mail, 6 abril 2015 (em inglês).

Apresente as imagens de luta e da cultura senegalesa desse artigo.

Os regulamentos são rígidos nas competições: três árbitros atuam para gerir as regras da luta, que dura dois tempos de dez minutos e pode incluir uma prorrogação. Os participantes não usam nenhum tipo de implemento ou equipamento e só é permitido agarrar e utilizar a fórça do próprio corpo para encostar a cabeça, as nádegas, as costas, as duas mãos ou os dois joelhos do adversário no chão.

Fotografia. Em um campo gramado, diversos homens pretos usando camiseta e uma espécie de saia formada por tiras de pano estampado e colorido estão em pé com os braços abertos. Um deles segura uma faixa de pano colorido na mão direita, outros trazem adereços de corda nos braços e no peito. Um pouco mais atrás, um homem de camiseta e calça comprida segura um tambor. Ao fundo se vê uma arquibancada lotada.
Jovens lutadores em ritual de lâmbi. Dacar, Senegal, 2015.

Princípios do kun fu ou uúchu

O registro histórico mais antigo do kung fu foi feito na China e data de 2674 antes de Cristo Ele surgiu da observação dos movimentos dos animais e foi sendo modificado e aprimorado no decorrer das diferentes épocas e dinastias, gerando inúmeros estilos. De acôrdo com Silva Mocarzel e outros (2012), o kung fu foi difundido com o desenvolvimento de três das mais conhecidas doutrinas filosóficas ou religiosas da Ásia antiga e atual: taoísmo, confucionismo e budismo. Por isso, sua imagem é vinculada até hoje ao Mosteiro de Shaolin, um importante centro histórico de difusão dessa arte marcial, reconhecido pêla unêsco como Patrimônio da Humanidade desde 2010.

Fotografia. Seis jovens asiáticos de cabelo raspado usando roupa de luta laranja de um ombro só e trançada na canela e calçando tênis branco estão em formação triangular. Estão com as pernas afastadas e os joelhos dobrados em ângulo de aproximadamente noventa graus. Com os braços abertos, seguram uma corda retesada diante do corpo, na altura dos ombros. Eles estão na frente da escadaria de um templo chinês.
Grupo em performance de kung fu em Templo Shaolin. dãnfãn, China, 2013.

Uma característica essencial do kung fu é o ensino de valôres educacionais e princípios filosóficos, que buscam harmonia, saúde, qualidade de vida e paz. Sua prática ensina resiliência, ao observar os pontos positivos dos acontecimentos, além da facilidade para se adequar a qualquer situação. Assim, possivelmente, as pessoas ficam menos frustradas, mais satisfeitas e menos violentas.

De acôrdo com a Federação Internacional de uúchu, kung fu e uúchu são denominações para as práticas de artes marciais que se originaram e se desenvolveram na China. Além de um sistema de ataque e defesa, é uma fórma de cultivar o corpo, a mente e o espírito de fórma positiva e benéfica com o intuito de parar o conflito e promover a paz, com foco no ensino de valôres morais, concentrando-se no De ou ética marcial.

O kung fu ou uúchu é uma arte marcial que se desenvolveu em vários estilos com suas próprias técnicas, táticas, princípios e métodos, bem como com o uso de uma ampla variedade de armas tradicionais. Suas práticas variam amplamente: algumas focam em técnicas de mãos, pernas ou na luta livre, algumas se concentram no ataque e na defesa, enquanto outras se esforçam para promover e preservar a saúde e o bem-estar. Mais recentemente, o kung fu tornou-se um esporte competitivo categorizado em duas modalidades, o taolú (competição de rotinas) e o sandá (competição de luta livre). Em 2022, foi incluído nos Jogos Olímpicos da Juventude, realizados na cidade de Dacar, capital do Senegal.

A proposta pedagógica desta unidade abordará a rotina taolú, sequência de técnicas predeterminadas e coreografadas para incorporar princípios estilísticos de ataque e defesa, incluindo técnicas de mão, perna, saltos, varreduras, posturas e equilíbrios, além dos gestos do sandá, focando na preservação de técnicas e táticas para melhorar a flexibilidade, a resistência, a fôrça, a velocidade, o equilíbrio e a coordenação do praticante.

O taolú inclui rotinas individuais, opcionais, obrigatórias e coreografadas de duelo em duplas ou em grupo, que são avaliadas em relação ao desempenho da qualidade e do grau de dificuldade dos movimentos e do atleta. As categorias dos campeonatos são: Xâng (Punho Longo), nãnchuãn (Punho do Sul), taichichuãn (Tai Chi Chuan), taichichiãn (Espada Reta de Tai Chi), daochú (Espada Larga), chianchú (Espada Reta), gãnchu (Bastão), chãnchu (Lança), nântao (Espada do Sul), nãnquãn (Funcionários do Sul), Duiliano (Duelo Coreografado), baguadjãn (Oito Trigramas Palma), chuanchãn (Espadas Retas Duplas), chuãndao (Espadas Duplas) e chinguichuãn (fórma e Intenção Punho).

Luta palo canario (vara de Canário) ou juego del palo (jôgo do pau)

O palo canario, luta com vara, originou-se com os Guanches, povo indígena das Ilhas Canárias (arquipélago espanhol no Oceano Atlântico), em tempos pré-coloniais, no início do século quinze. A luta é uma herança das tradições ancestrais das atividades de guerra e tem relação com o uso de varas para diversas fórmas de trabalho, sobrevivência e locomoção (PEREIRA, 1994). Tem semelhança com a arte marcial portuguesa de mesmo nome, jôgo do pau, e a fórma venezuelana juego del garrote (jôgo de pau).

O palo canario consiste em um confronto amigável de duas pessoas, que transferem golpes com a vara ao mesmo tempo que se defendem de fórma bastante ágil. É importante destacar que não há contato dos implementos com o corpo dos participantes e, conforme descrito pêla Federação do Juego del Palo Canario, há três modalidades de acôrdo com o tamanho do implemento: grande (maior que a pessoa), médio (entre a altura da cintura e o queixo) e curto (abaixo da cintura).

Fotografia. Dois homens de chapéu preto de aba redonda, camisa branca e calça jeans estão em pé, um na frente do outro. Um dos homens está apoiado na perna direita, com a esquerda dobrada para trás. Eles seguram varas de madeira que estão cruzadas, tocando-se pelo centro. Mais atrás, dois homens, em pé, seguram varas e observam. Ao fundo, mais pessoas observam.
Homens lutando juego del palo em Tenerife, Espanha, 2007.

Vamos à prática!

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes surdos na turma, apresentar vídeos que demonstrem características da luta quando praticada pode contribuir para sua execução. 

No caso de estudantes cegos, auxilie-os na delimitação do espaço das lutas e nos movimentos corporais a serem realizados. A inserção de sinalizadores sonoros nos oponentes ou objetos é também uma possibilidade. Quando em duplas, em alguns casos, pode-se criar a regra de toque contínuo entre os oponentes durante as lutas.

Elementos das lutas lâmbi, kung fu e palo canario

Retome as características do espírito esportivo e ressalte a importância de incorporá-lo às vivências práticas das lutas. Antes e ao final de cada partida, oriente os jogadores a saudarem o oponente com um aperto de mãos ou curvando-se em demonstração de respeito.

Objetivos

  • Vivenciar e fruir jogos de oposição para conhecer alguns elementos técnicos, táticos e culturais do lâmbi, do kung fu e do palo canario.
  • Respeitar o adversário e as regras, mantendo o espírito esportivo durante as partidas.

Materiais

Cones (garrafas), bastão de 1,5 metro (cabo de vassoura, galho de árvores ou bambu), tapetes de ê..a., caixas de papelão, pneus, para serem usados como obstáculos, e instrumentos de percussão ou áudio com música senegalesa.

Atenção

Antes de iniciar, alerte a turma sôbre a necessidade de retirar os adereços (brincos, cordões, relógios e outros) e ressalte a importância do respeito e cuidado com o corpo do colega como fórmade manter a segurança de todos durante as movimentações.

jôgo de cintura do lâmbi

No ritual do lâmbi, os lutadores dançam ao som dos tambores.

Já nesta atividade, os jogadores só poderão atacar e defender ao som do ritmo indicado pêlo professor (com instrumento de percussão ou tocando alguma música senegalesa).

  • Os lutadores ficarão frente a frente, dentro de uma área delimitada (quadrado de três metros cada lado), protegendo seu cone (ou garrafa), que estará posicionado a um metro de distância de suas costas. Organize a turma para que sempre haja um ou dois árbitros para acompanhar cada disputa.
  • O objetivo é derrubar o cone do adversário antes que o próprio cone seja derrubado. O ataque deve tentar se esquivar do agarre da defesa para atingir seu objetivo.
  • O jôgo pode ser realizado individualmente, em grupos de quatro estudantes, para aumentar a complexidade, ou apenas com uma equipe atacando de cada vez, um modo mais simples de jogar (haverá um cone que será protegido pêla equipe de defesa enquanto a de ataque tenta derrubá-lo, depois inverte-se as posições).
Ilustração. Em uma quadra esportiva, há no chão quatro quadrados de papelão. Sobre cada quadrado, duas crianças de camiseta branca e calça azul estão uma diante da outra. Em duas das duplas, uma das crianças agarra a outra pela cintura. Atrás de cada criança, fora do papelão, há uma garrafa de plástico. Junto de três das duplas, também fora do quadrado, há uma criança em pé, olhando para a dupla. Ao fundo, à direita, vê-se um homem de cabelo castanho e algumas crianças, todos de camiseta branca e calça azul, em pé, observando o jogo.

Ilustração elaborada para esta obra.

Vamos à prática!

Encontre seu estilo taolú do kung fu!

  • Organize a turma em grupos de dois a oito integrantes para cada um pesquisar as características de uma das principais categorias dos campeonatos mundiais oficiais de taolú na internéchional uúchu Féderêition (í dábliu ú éfi). Veja alguns exemplos: chãn chen (punho longo), nãnchuãn (punho do sul), taichichuãn (tai chi chuan), daochú (espada larga), chianchú (espada reta), gãnchu (bastão), chãnchu (lança), duiliano (duelo coreografado) e chuãnda (espadas duplas). Depois, faça uma escala de apresentações e dos respectivos árbitros com os grupos formados.
  • Verifique o que é necessário para a construção dos materiais das categorias que o grupo escolheu (papelão para a construção de espadas, facões, lanças ou bastões).
  • Defina as regras com a turma, como o tempo de apresentação do taolú (um a cinco minutos) e os critérios que serão avaliados. Pesquise e leia com a turma as regras da competição de uúchu taolú Tradicional da Confederação Brasileira de uúchu (cê bê ká dábliu). Veja exemplos de deduções nas apresentações do taolú:

1,0

• Reiniciar o taolu (permitido somente uma vez).
• Não cumprir atitudes de respeito, cortesia e postura.
• Apresentar o
taolu sem conteúdo marcial.

0,5

• Quebrar o implemento na apresentação.
• Reclamar com a arbitragem.
• Esquecer o
taolu e continuar sua apresentação.

0,1

• Perder o controle do implemento, lapsos (pequenos esquecimentos), desequilíbrio.
• Sair da área demarcada de competição.

0,05

• Uniforme abrir, desabotoar, rasgar.
• Adereços que ofereçam riscos à integridade física.

Fonte: Baseado em Regras de competição uúchu taolú Tradicional. Disponível em: https://oeds.link/XYTN7X. Acesso em: 22 julho 2022.

O produto final das rotinas de taolú pode ser apresentado por cada grupo à turma ou em evento, conforme interêsse dos estudantes e disponibilidade de organização da escola.

Fotografia. Um homem asiático de cabelo curto usando camiseta e calça coloridas e sapatilha preta está em pé sobre a perna esquerda, com a perna direita levantada lateralmente a uma altura que ultrapassa um pouco a altura de sua cabeça, com o pé flexionado. Seus braços estão dobrados na frente do corpo, com o cotovelo em ângulo de noventa graus. À esquerda dele, uma pessoa de calça e blusa pretas e marrons e tênis vermelho está de ponta cabeça, com as mãos apoiadas no chão e as pernas dobradas para trás.
Mulher e homem em treinamento de uúchu, em Bogor, Indonésia, 2022.

Vamos à prática!

Atenção

Verifique se os bastões são de qualidade para não quebrar durante a prática.

Oriente e acompanhe os estudantes, observando o seguinte:

  1. Foco nas percepções que facilitam e dificultam a execução do movimento em detrimento à velocidade decorrente de competição. Sugira que as relatem ao final da vivência.
  2. Distanciamento entre os estudantes que realizam o salto.
  3. Importância de garantir o apôio do bastão no solo, assim como não soltá-lo durante a impulsão.
  4. Cuidado ao entregar o bastão para o próximo da fila.

Exploração do palo canario

Inicie propondo uma dinâmica de locomoção com os bastões, contextualizando com o processo histórico do uso da vara pelos povos autóctones (originários) das Ilhas Canárias. Para isso, organize atividades, por exemplo, uma estafeta em que os estudantes tenham de saltar apoiando-se no bastão como se tivessem de ultrapassar vários buracos ou obstáculos.

Ilustração. Quatro crianças de camiseta branca, calça azul e tênis estão em pé segurando bastões de madeira longos, que ultrapassam um pouco a altura delas. Elas empunham o bastão apoiando-o no chão e usando-o para pegar impulso e dar pequenos saltos. Atrás delas, vê-se a silhueta de mais crianças enfileiradas.

Ilustração elaborada para esta obra.

  • Para os jogos de oposição, oriente a turma a realizar rebatidas com os bastões em movimentos de ataque e defesa. Ressalte a regra de não acertar nenhuma parte do corpo do oponente, de maneira a manter a segurança de todos.
  • Organize a turma em grupos e sugira os seguintes desafios:
    • Agilidade: quantas rebatidas entre os bastões a dupla consegue durante 10 segundos?
    • Criatividade: criar e executar uma sequência com cinco gestos de ataque e defesa que explorem movimentos combinados com giros, deslocamentos, saltos laterais, agachamentos e diferentes alturas das rebatidas dos bastões. Ao final, solicite que cada grupo apresente a sequência à turma.
Ilustração. Em uma quadra esportiva, seis crianças de camiseta branca, calça azul e tênis estão posicionadas em duplas, cada criança segurando um bastão de madeira. Os integrantes de cada dupla tocam seus bastões um no outro. Ao redor das duplas, dois meninos seguram bastões apoiando-os no chão. Eles estão olhando para um homem mais ao fundo que está com a boca aberta e os olhos fechados e segura um bastão na altura dos ombros.

Ilustração elaborada para esta obra.

Avaliando em diferentes linguagens

Atenção

Retome os princípios e a classificação das lutas propostos por Gomes (2008) nas páginas 32 e 33 desta unidade.

O lâmbi senegalês se caracteriza por uma luta de agarre, de curta distância. O taolú pode ser de média distância (golpes) ou de longa distância (espada, facão, bastão), como o palo canario, que utiliza bastões.

  1. Solicite à turma que identifique a presença dos princípios da luta durante as vivências: contato proposital, fusão ataque e defesa, imprevisibilidade, oponente como alvo e regras. Veja se os estudantes identificam o tipo de luta (se é de curta, média ou longa distância).
  2. Proponha situações para que a turma reflita sôbre o espírito esportivo. Pode-se solicitar encenações dos dilemas ou debates em grupos em que cada um defenda posições diferentes.
    1. Dilema no lâmbi: O jôgo está empatado em 2 a 2. Na partida decisiva, você sai da área do jôgo, mas o juiz não vê. Você pede ao árbitro para anular o ponto e disputá-lo novamente ou deixa seguir para ganhar a competição?
    2. Dilema sôbre kung fu: Você é o árbitro do jôgo e se distrai na apresentação. A equipe adversária solicita dedução de pontos de um dos lutadores por ter perdido o equilíbrio durante o movimento de salto. Você assume que estava distraído ou escolhe aleatoriamente um vencedor?
    3. Situação de conflito no juego del palo: Seu adversário grita de dor e diz que você acertou a vara em seu dedo. Qual é sua atitude?
  3. Relacione o provérbio chinês “Vitória sem luta é triunfo sem glória” às características do espírito esportivo.
  4. Nas modalidades das lutas, existem categorias para tornar o esporte mais justo. Observe a imagem, identifique o critério usado e explique os motivos da formação de categorias nas lutas.
Ilustração. Um homem magro de cabelo castanho penteado para cima, sem camiseta, usando short, luvas de boxe e tênis vermelhos está em pé, com os pulsos na altura do peito. À sua frente, um homem mais alto, careca, de sobrancelhas grossas, gordo, musculoso, usando short roxo, luvas e tênis vermelhos está sorrindo, com os braços levantados e as mãos na altura da cabeça.
Charge sôbre diferença de pêso entre lutadores, exemplificando o conceito de competição injusta.

Espera-se que os estudantes apresentem atitudes de espírito esportivo, optando por respostas éticas, como acolher a reclamação do adversário, desculpar-se e ajudá-lo procurando os primeiros socorros com o professor. Entretanto, acolha todas as respostas e promova um diálogo, respeitando todas as opiniões, explicando os motivos pelos quais se deve optar por decisões éticas em prol de um jôgo justo e uma convivência pacífica.

Reforce o conceito do espírito esportivo com o dito popular “Mais importante que ganhar é persistir e jogar de fórma justa”, uma das características do esporte; explique que há categorias por idade, pêso e sexo, para que a competição seja mais justa.

Conectando saberes

As lutas nos quadrinhos e nos filmes

Esta seção aborda as habilidades de Arte (ê éfe seis nove á érre zero seis), ao criar desenhos baseados na temática lutas, de modo individual ou coletivo e colaborativo, e (ê éfe seis nove á érre três um), ao relacionar as práticas artísticas às dimensões da vida social, cultural, histórica, econômica, estética e ética.

Inicie refletindo com a turma sôbre a presença das lutas na cultura oriental dos filmes e animês, assim como nos desenhos dos super-heróis. Como apontado por Gouveia-Pereira (2000), na adolescência, o grupo de amigos é um espaço privilegiado de identificação com os pares. É um momento em que se adquirem valôres e competências que servem de guia para o comportamento, uma fase em que há a necessidade de fazer parte de grupos com interêssis comuns, que gostam de um estilo de filme, esportes ou games.

Otakus: anti-heróis dos mangás e animês

Entre os grupos de adolescentes, há os chamados otakus, jovens consumidores de animês, desenhos animados inspirados nos mangás (quadrinhos japoneses) que apresentam temas como os combates entre protagonistas anti-heróis.

cêrca de quatro décadas, os canais televisivos do Brasil começaram a exibir animês. Atualmente, a audiência do animê migrou para os computadores e smartphones.

Os mangás têm linguagem atual, estilo diferenciado de desenho e leitura, além de temas que abrangem o interêsse do público jovem. Apresentam a humanidade de seus personagens, que o aproximam de seu leitor ao se identificar com o herói escolhido. Os personagens choram, riem, cometem erros, brigam, iludem-se e mostram uma fase de confusão, insegurança, quando muitos têm dúvidas e medos, sem deixarem de ser fortes, justos e corajosos em alguns momentos.

Em geral, as mulheres nesses desenhos protagonizam cenas que objetificam e sexualizam seu corpo. Muitas personagens são apresentadas como frágeis, e constroem-se visões romantizadas de como as garotas são ou deveriam ser.

Verifique quais as percepções da turma sôbre essas questões, se há diferença entre as opiniões de meninas e meninos. Veja se a turma conhece animês, se reconhece as lutas, bem como as semelhanças e as diferenças em relação às características dos esportes de combate.

Ilustração. Em um ambiente com uma mesa, uma poltrona e alguns enfeites em estilo japonês, uma menina de cabelo preto penteado em duas tranças usando camiseta verde e branca, calça amarela e sapato preto está com as pernas bem afastadas, a perna direita dobrada na direção do chão e a esquerda esticada lateralmente. O tronco está ereto e os braços, abertos. Ao fundo, pela janela aberta, vê-se a Lua.
Garota praticando artes marciais em desenho no estilo mangá.

Tranquilo e infalível como Bruce Li

Conforme descrito por Alonso (2016), a divulgação das artes marciais ocorreu na década de 1970 através dos filmes de combate com personagens heroicos interpretados por djéqui tchãn, Bruce Li, tchãqui nóris, istíven , Deivid , entre outros. O cinema estadunidense impulsionou a indústria cinematográfica de rrong , conhecida como kung fu crêiz (“mania” em inglês).

Fotografia. Em uma clareira em meio a árvores, algumas delas floridas, três homens asiáticos de cabelo raspado estão usando túnica de luta de um ombro só e calça larga com amarração na canela. Um deles calça tênis, os outros dois, sapatilhas. Um dos homens, ao centro, está no ar, com a perna esquerda dobrada à frente do corpo e a perna direita estendida para trás; os braços estão esticados, o direito para a frente, com o punho fechado, e o esquerdo para trás. Nas laterais, os outros dois homens estão voltados para ele; estão com as pernas afastadas, uma na frente e a outra atrás, e os braços levantados. Os três têm a boca aberta e o cenho franzido.
Monges shaolin praticando uúchu. China, 2014.

Mesmo com sua morte em 1973 aos 32 anos, Bruci li ainda é uma das maiores referências no mundo das artes marciais. Considerado por muitos o maior artista marcial de todos os tempos, ele influencia milhares de praticantes de luta por todo o mundo. Foi descrito na música de Caetano Veloso como tranquilo e infalível, características presentes nas práticas realizadas pêlo lutador. Para ampliar os conhecimentos sôbre o kung fu, apresente o infográfico da ó ê dê ou filmes como A origem do dragão e reflita sôbre o que chama a atenção na breve vida de Bruce Li, qual golpe a turma achou mais impressionante e o que o caracteriza como tranquilo e infalível.

Em parceria com os professores de Arte e Informática, apresente filmes relacionados às artes marciais. Peça aos estudantes que analisem os gestos das lutas, as posições assumidas em cada golpe e as situações nas quais as lutas são utilizadas. Solicite que a turma represente tudo que foi analisado e percebido em fórma de mangá ou de desenhos que demonstrem a execução dos movimentos ou as situações nas quais as lutas estiveram presentes. Oriente os estudantes a observarem os traços com feições exageradas e as onomatopeias que indicam os sons dos golpes.

Ilustração. Nove silhuetas de homens e mulheres em preto sobre fundo azul, sendo cinco silhuetas embaixo e quatro em cima. Duas das pessoas representadas abaixo, no centro, estão em pé com as pernas afastadas e os braços dobrados afastados do corpo. As demais estão saltando com uma das pernas flexionada e a outra estendida. Quatro das pessoas empunham armas ou escudos.
Personagens de animê em posição de ataque.
Ilustração. Duas tiras de três quadrinhos cada uma com desenhos em preto e branco. Cada quadrinhos mostra um rosto feminino, com destaque para os olhos, grandes e arredondados. No primeiro quadrinho, em cima, à esquerda, o olhar é de baixo para cima e as sobrancelhas estão um pouco franzidas. No segundo, os olhos estão bem abertos e as sobrancelhas mais franzidas. No terceiro, o rosto está inclinado para o lado e para baixo. No quarto, os olhos estão cheios de lágrimas. No quinto, o olho direito está com um tampão e a boca está aberta e voltada para baixo. No último, os olhos estão bem abertos, o cenho está franzido e os dentes cerrados.
Exemplos de olhos desenhados em estilo mangá.
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    Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes

    Perspectiva decolonial das lutas

    Esta seção contempla o tê cê tê Multiculturalismo por meio do tema Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras, assim como a habilidade de História (ê éfe zero oito agá ih dois seis), ao identificar e contextualizar o protagonismo das populações locais na resistência ao imperialismo na África e na Ásia.

    Solicite à turma que leia o texto “A renascença africana” e questione sôbre a perspectiva decolonial na hegemonia dos esportes europeus nas práticas corporais no Brasil.

    Apresente a proposta de estudo sôbre as personalidades negras como fórma de luta contra o racismo e de valorização dos descendentes africanos. Solicite aos estudantes que leiam a reportagem sôbre os atletas estadunidenses que fizeram história na luta contra o racismo. Finalize propondo a construção do jôgo estilo Perfil, em que são escolhidas as dicas sôbre as personalidades pesquisadas.

    A renascença africana

    O Monumento da Renascença Africana foi construído para comemorar os 50 anos de independência do Senegal em 2010. Há defensores da construção dessa obra por ela representar a ascensão da África em meio à intolerância e ao racismo. Entretanto, há controvérsias quanto aos custos exagerados de sua construção, e alguns religiosos muçulmanos consideraram a representação do casal com pouca roupa contrária aos princípios do islamismo.

    A noção de Renascença Africana foi inicialmente formulada pêlo antropólogo e historiador senegalês dióp a partir de 1946. Ele defende que “[a] prioridade reside na descolonização dos espíritos, uma vez que qualquer processo de renascimento começa primeiramente com um certo despertar cultural” (dióp, 2015, página 40-42 apud FARIA, 2015).

    Fotografia. Vista de baixo para cima de uma estátua em tons de marrom que mostra um homem enlaçando uma mulher com o braço direito e segurando um bebê no ombro esquerdo. O bebê aponta para a esquerda e as três figuras estão com o rosto voltado para esse lado. O monumento se encontra no topo de uma escadaria e mede cerca de trinta vezes a altura das pessoas que estão ao pé dele, observando-o.
    Monumento da Renascença Africana. Dacar, Senegal, 2019.

    A palavra “descolonizar” indica o processo de emancipação e autonomia dos territórios que foram colonizados. Então, podemos pensar que já passamos por esse processo desde a Proclamação da Independência do Brasil, mas quando dióp fala em “descolonizar espíritos” e “despertar cultural” significa ter autonomia em nossos pensamentos, atitudes e valôres.

    Quando pensamos nos esportes, lógo imaginamos as modalidades inspiradas nos Jogos Olímpicos originados nos Jogos da Grécia, Europa Ocidental, ou naqueles divulgados pelos meios de comunicação de massa advindos da cultura estadunidense. E é de lá que vêm muitas das nossas referências culturais, ocultando os valôres dos povos que constituíram o Brasil.

    As culturas dos povos indígenas e africanos trazidos para cá foram invisibilizadas. Temos de resgatá-las e valorizá-las, o que nem sempre é fácil: basta pesquisarmos um esporte de origem africana e perceberemos as dificuldades em encontrá-lo.

    Personalidades na luta antirracista

    Para começar nosso exercício de descolonização cultural esportiva, convide a turma a valorizar e a pesquisar atletas negros que lutaram contra o racismo.

    Comente o exemplo do estadunidense , o primeiro atleta a conquistar quatro ouros em uma mesma Olimpíada. Ele venceu em Berlim, em 1936, na Alemanha Nazista, e chocou até os próprios compatriotas, que viviam sob fortes leis segregacionistas de discriminação racial.

    Outra emblemática imagem é a dos atletas tômi Ismíf e Djón Carlos, que, no auge da luta racial estadunidense, protestaram no pódio com suas meias pretas e punho erguido, sinal do Movimento dos Panteras Negras, organização criada para combater a violência policial nos bairros onde morava a população negra. Além disso, eles criaram o Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos, uma organização com o objetivo de protestar contra a segregação racial e o racismo nos esportes.

    Fotografia. Vista de um pódio branco com o símbolo de cinco anéis entrelaçados das Olimpíadas em um campo gramado. No topo do pódio, um homem negro usando uniforme preto e luva preta na mão direita está com o braço direito levantado e o punho fechado. Ele usa meias pretas sem tênis e tem o rosto um pouco inclinado para baixo. No degrau à direita dele, outro homem negro vestido da mesma forma repete o gesto, porém é o braço esquerdo que está levantado. No degrau do pódio à esquerda, um homem branco com uniforme verde e tênis branco está com os braços abaixados e olhando para a frente. Ao fundo se vê uma arquibancada cheia.
    tômi Ismíf (ao centro) e Djón Carlos (à direita) protestam contra a discriminação racial durante os Jogos Olímpicos na Cidade do México, México, 1968.

    Pesquise na internet e leia com os estudantes este artigo: RUBIO, Katia. O protesto que marca a memória dos Jogos Olímpicos do México, Jornal da úspi, São Paulo, 23 outubro 2018.

    Depois, peça à turma que reflita: O que significa dizer que essa cena foi o momento mais marcante dos Jogos Olímpicos do México? Qual foi o motivo do protesto? A punição aos atletas foi justa? Por que houve a tentativa de apagar a imagem do pódio? E qual foi a consequência dessa ação? O que significa o broche que os três atletas usaram no pódio? Qual sua opinião sôbre a punição de píter ? O que significa o trecho “colocou à prova a prática dos ideais estabelecidos por piérre dê cubertã a respeito da condição apolítica do Movimento Olímpico”? Você concorda com a professora Katia sôbre a pergunta anterior?

    Descolonização em jôgo

    Oriente uma pesquisa sôbre atletas para produzir cartas para o jôgo Perfil.

    Escolha um atleta que manteve o espírito esportivo nas competições e realizou alguma ação importante em prol da sociedade.

    Indique o nome do atleta escolhido e elabore de 5 a 10 dicas para o jôgo: a origem e os títulos do atleta, curiosidades sôbre a modalidade etcétera Veja o exemplo ilustrado.

    Fotografia. Um homem negro de quimono branco, faixa preta na cintura, colete de proteção peitoral azul, luva preta na mão direita e descalço está com a cabeça baixa e o braço direito levantado, de punho fechado. Ao fundo, há uma arquibancada cheia. Várias pessoas estão em pé aplaudindo. 
Ilustração. Título: “Diogo Silva. Atleta de taekwondo”. A ilustração simula um card de fundo verde. No alto, à direita, aparece a bandeira brasileira e, abaixo dela, o símbolo de anéis entrelaçados dos Jogos Olímpicos. Abaixo, à direita, uma ilustração mostra um homem negro com uniforme de taekwondo, colete azul, faixa preta e capacete sob o braço esquerdo no gesto de levantar o punho direito fechado com a luva preta. À esquerda, há um texto: “1. Primeiro medalhista de ouro para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007. 2. Chamou a atenção nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004, quando na semifinal ergueu o punho fechado com a luva negra. 3. Iniciou o esporte por ideia de sua mãe, que queria que o filho parasse de brigar nas ruas. 4. Escolheu o taekwondo pois queria imitar os golpes dos atores em filmes de luta. 5. É compositor e uma de suas inspirações é o esporte. 6. É rapper e pretende lançar um álbum com seu grupo Senzala Hi-Tech. 7. Canta o rap Batucada sobre o universo da dança, da negritude, sobre a importância dos tambores e das religiões de matrizes africanas”.
    Protesto do atleta Diogo Silva nas Olimpíadas de Atenas, 2004.

    Combine as regras do jôgo: individual ou em equipes. Em cada jogada, escolhe-se uma dica e tem-se o direito de chutar o nome do atleta. Vence a equipe que adivinhar primeiro.

    Separe um dia para apresentar o jôgo a seus colegas e a outras turmas da escola.