UNIDADE TEMÁTICA 3 DANÇAS DE SALÃO

Raio-xis da unidade

Competências da Bê êne cê cê

Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 9 e 10.

Competências específicas de Linguagens para o Ensino Fundamental: 1, 2, 3, 4 e 5.

Competências específicas de Educação Física para o Ensino Fundamental: 1, 2, 5, 6, 7, 8, 9 e 10.

Habilidades de Educação Física da Unidade Temática

(ê éfe oito nove ê éfe um dois) Experimentar, fruir e recriar danças de salão, valorizando a diversidade cultural e respeitando a tradição dessas culturas.

(ê éfe oito nove ê éfe um três) Planejar e utilizar estratégias para se apropriar dos elementos constitutivos (ritmo, espaço, gestos) das danças de salão.

(ê éfe oito nove ê éfe um quatro) Discutir estereótipos e preconceitos relativos às danças de salão e demais práticas corporais e propor alternativas para sua superação.

(ê éfe oito nove ê éfe um cinco) Analisar as características (ritmos, gestos, coreografias e músicas) das danças de salão, bem como suas transformações históricas e os grupos de origem.

O que veremos nesta unidade

Esta unidade temática apresenta a dança de salão e sua trajetória como prática corporal e social, valorizando a diversidade.

As danças tematizadas e vivenciadas serão a valsa e o xote, do gênero musical forró, considerando o contexto dos estudantes de 9º ano, que passam por momentos em que alguns rituais nos quais algumas dessas danças se mostram relevantes estão presentes, como a formatura, as festas de 15 anos e os bailes e as festas da adolescência.

Na seção “Por dentro do tema”, serão retomados o percurso histórico e alguns conceitos sôbre a dança de salão, como sua estrutura (direção, espaço, tempo) e a classificação em danças clássicas e contemporâneas.

O estudante será levado a refletir sôbre a valsa e seus estilos e a conhecê-la, vivenciando-a de fórma divertida, construindo vínculos de respeito com os colegas e possibilitando interação entre duplas. Também vivenciará o xote, contextualizado na cultura nordestina do cordel e da xilogravura, propostos em parceria com outras disciplinas, como Matemática, Língua Portuguesa, Ciências e Arte, na busca da valorização de outras linguagens e saberes integrados.

Na seção “Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes”, propomos aos estudantes um trabalho relacionado ao baile de formatura, visto como rito de passagem, com enfoque na construção da dança de apresentação.

De ôlho nas imagens

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, é necessário que as imagens sejam descritas oralmente. Se houver possibilidade, utilize o recurso de audiodescrição.

Apresente as imagens a seguir para os estudantes e proponha as seguintes questões:

Pintura. Um homem de cabelo castanho curto, bigode farto, casaco militar preto com medalhas douradas, calça vermelha e luvas brancas está em pé diante de uma mulher. Ele a enlaça pela cintura com a mão direita e, com a mão esquerda, segura a mão direita dela. A mulher tem cabelos loiros penteados para cima, usa um vestido branco longo com uma fita azul na cintura. Seu braço esquerdo está dobrado, com a mão pousada no ombro do homem. Um pouco atrás, veem-se outros casais em posição de dança, os homens com uniforme de gala militar e as mulheres de vestido longo. Mais ao fundo, à direita, há duas mulheres de vestido longo e leque sentadas em um sofá, próximas uma da outra; à esquerda, há um grupo de homens uniformizados, em pé.
Xilogravura. Visão lateral de quatro casais e três músicos em preto e branco, sendo seis pessoas representadas na parte de cima da imagem e cinco na parte de baixo. Em cima, à esquerda, um homem de chapéu de cangaceiro, camisa e calça, em pé, com um instrumento de percussão preso ao corpo por uma alça, segura uma baqueta com a mão esquerda e bate no instrumento com a mão direita. À direita dele, dois casais representados de perfil estão enlaçados em posição de dança. À direita dos casais, outro homem de chapéu de cangaceiro, camisa e calça, em pé, toca triângulo. Os dois músicos sorriem. Embaixo, no centro, um homem de chapéu de cangaceiro, camisa e calça, em pé, segura uma sanfona com as duas mãos e sorri. Dos dois lados dele, dois casais representados de perfil estão enlaçados em posição de dança. Nas laterais e embaixo, há cactos e outras plantas sem folhas ou com poucas folhas.
1. Imperador primeiro da Áustria (1830­‑1916) no Baile Anual de Viena, de uílrrélm gós (1853-1916). Detalhe: a valsa. 2. Dia de forró, de Pablo Borges, 2019 (xilogravura).
  • O que você reconhece dessas danças?
  • Onde e quando você imagina que essas cenas se passam? Por quê?
  • Que instrumentos, vestimentas e acessórios podem ser identificados nas duas imagens?

Incentive os estudantes a realizar a leitura das imagens e apontar características delas com relação às origens clássica da valsa e contemporânea do forró. O cenário da primeira são salões europeus, ao passo que o da segunda são as comunidades locais onde é praticada. Observe, por meio desta seção, que conhecimentos prévios o grupo tem sôbre valsa e forró (xote ou baião) e explique que, nesta unidade temática, eles entrarão em contato com essas danças. Por fim, solicite que a turma crie outra legenda para as imagens e conte que são obras de uílrrélm gós, pintor austríaco-alemão, e Pablo Borges, artista pernambucano.

Por dentro do tema

O Renascimento na Europa foi marcado pêlo surgimento de diversas danças de salão, em geral praticadas por casais durante bailes, reuniões sociais, festejos e comemorações. Segundo Souza (2009), nos séculos quinze e dezesseis, o significado cultural dessas danças estava associado a fórmas de lazer. Nos séculos dezoito e dezenove, o minueto, a polca, a quadrilha e a valsa se destacaram na França, na Inglaterra e na Áustria.

Atualmente, as danças de salão podem ser classificadas em clássicas e contemporâneas, de acôrdo com as influências recebidas. As primeiras, de origem europeia, apresentam complexidade harmônica com presença de diferentes instrumentos e têm como exemplo a valsa. As segundas são construções mais recentes, com preponderância latina; o xote nordestino, inserido no ritmo forró, é um exemplo. De acôrdo com labân (1978), as danças expressam-se por meio de três componentes para sua desenvoltura harmônica:

  1. Movimento corporal: diz respeito às ações na esfera do corpo, ao fluxo (tensão muscular, fluição), ao centro de gravidade, ao pêso, aos giros e aos saltos.
  2. Espaço: relação entre o corpo e o espaço, ao próprio corpo, a outro corpo ou a um objeto. Pode ocorrer em diferentes direções (frente, trás, diagonal), dimensões (amplitude, comprimento e profundidade), níveis (alto, baixo) e deslocamentos (curvo, reto, individual, coletivo).

3. Tempo: velocidade da execução do movimento sincronizado harmonicamente com o ritmo (velocidade da pulsação da música) e com o compasso (pulsação ou batimento que se repete) musical; pode ser lento, moderado ou rápido.

Compreender esses três elementos é essencial para o aprendizado das modalidades de qualquer dança, incluindo as de salão. A harmonia do movimento resulta da sincronia com a música, os corpos, o espaço e o tempo.

Valsa: vamos ao baile?

Há controvérsias quanto à origem da valsa. Acredita-se que o ritmo seja proveniente da Itália, da Alemanha ou da Áustria. Uma das teorias retrata-a no século quinze como uma dança oriunda da Itália, chamada de volta (volte). Os ingleses destacam seu surgimento em aproximadamente 1780, na Alemanha.

A palavra “valsa” tem origem na palavra alemã waltzen cuja tradução é “dar voltas”. Paula (2008) relata que, no início, ela era dançada em círculo, em volta do salão, com os casais formando figuras com uma das mãos dada. Segundo Barbosa (2019), a valsa foi a dança mais popular do século dezenove e a primeira com par enlaçado e com movimento independente dos demais pares de dança no mesmo ambiente.

Apesar de as danças de salão serem populares no convívio social da realeza europeia, a valsa sofreu diversas repreensões; na verdade, chegou a ser proibida por ser considerada indecente e escandalosa em alguns países da Europa. Com o passar do tempo e a combinação de outros passos e estilos de danças de salão, o ritmo teve transformações, dando origem a subgrupos ou tipos de valsa: a inglesa (lenta, com passos executados calmamente, sem muitas marcações); a internacional standard (utilizada em competições e festivais, com distanciamento maior entre pares, sendo que o cavalheiro deve estar sempre de cabeça erguida); a peruana (mescla de ritmos latinos e espanhóis, conhecida pêla sensualidade e pelos movimentos calmos e suaves); a cross step (assim chamada em decorrência do passo cruzado que utiliza); e a americana (que incorpora uma série de movimentos e passos e conta com maior individualidade entre os dançarinos, que se separam em alguns momentos).

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet a sugestão de aprofundamento a seguir.

ESPETÁCULO itinerante: história da dança de salão – Ritmo: valsa. Minas Gerais: ú éfe jota éfe, 2021. 1 vídeo (2 minutos 39 segundos). Publicado pêlo canal Projeto Pés de Valsa da .

Vídeo que apresenta as origens da valsa, desde a Idade Média até os dias de hoje.

Pintura. Vista de um baile em um salão suntuoso de pé-direito alto. A parte inferior das paredes laterais é vermelha e dourada; na parte superior, pinturas se alternam com vitrais. Ao longo das paredes, há sete grandes candelabros de chão com muitas velas acesas. O teto é decorado com pinturas e se veem nove lustres. Ao fundo, há um nicho ladeado por colunas e com teto abobadado. No centro do salão, encontram-se mulheres e homens em pé, as mulheres com o cabelo preso e vestido longo de tons claros com saia volumosa e os homens de fraque azul ou vermelho. Ao redor, estão dispostos sofás e cadeiras vermelhos onde se acomodam mulheres e homens.
O salão de baile, Palácio de Buckingham, de luí águe, 1856. Lápis, aquarela e bodycolour de 31,7 centímetros por 47,7 centímetros.

Conectando saberes

Cidadania e Civismo.

A proposta de trabalho desenvolve a interdisciplinaridade com Matemática, com destaque para as habilidades (ê éfe zero nove ême ah dois dois) e (ê éfe zero nove ême ah dois três), com a construção de gráficos (colunas, setores, linhas) e a apresentação dos dados obtidos como resultado da pesquisa realizada pêla turma. Isso será socializado por meio de relatório contendo tabelas e gráficos adequados, elaborados com o apôio de planilhas eletrônicas.

No meu tempo, a dança era melhor!

Paula (2008) aponta uma mudança nas características da dança de salão no Brasil, acompanhando os acontecimentos midiáticos. Ela chegou quase a desaparecer no período das discotecas; considerada ultrapassada por aproximadamente vinte anos, ressurgiu com o advento da lambada na década de 1980. Hoje, um movimento de renovação e expansão está em curso, com programas de televisão apresentando torneios de dança com a participação de artistas e dançarinos, além da criação da Confederação Brasileira de Dança Esportiva em 2005.

Essa recente evolução histórica, somada à diversidade cultural nas diferentes regiões e espaços geográficos, muito possivelmente impacta as diferenças culturais entre as gerações de dançarinos.

Proponha a realização de uma entrevista com um familiar de cada estudante (pai, mãe, tios, avós, cuidadores de mais idade), a fim de saber quais eram as danças de salão praticadas durante a juventude dessas pessoas.

Instrua-os a formar grupos de até seis integrantes para a elaboração de cinco perguntas a serem feitas ao entrevistado. Sugira questões de múltipla escolha para facilitar o momento de tabulação, como no exemplo:

  • Idade: 20 a 30 anos, 30 a 40 anos, 40 a 50 anos, 50 a 60 anos, 60 a 70 anos, acima de 70 anos.
  • Região brasileira de origem: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul.
  • Dança: valsa, forró, samba, sertanejo, pagode, tango, rock, bolero, lambada, salsa, outras danças.
  • Local: salão, casa de amigos, escola.
  • Frequência: sete dias por semana, quatro a seis dias por semana, um a três dias por semana, uma vez por mês, uma vez por ano.

Revise as questões com os grupos antes de eles iniciarem as entrevistas. Faça intervenções que tornem as perguntas mais claras, se houver essa necessidade.

É muito importante que tanto os estudantes como os entrevistados compreendam que cada geração tem suas especificidades culturais. Os gostos musicais são pessoais e influenciados por uma mídia que difunde os gêneros musicais. Assim, vale lembrar: nenhum tempo é melhor que outro.

Marque uma data para a entrega das entrevistas e utilize o laboratório de informática, caso haja disponibilidade, para que os grupos registrem as informações em uma tabela. Peça auxílio ao professor de Matemática na criação de uma tabela com os dados coletados e na construção dos gráficos pelos grupos. Ao final, monte um gráfico geral, reunindo todos os dados das entrevistas realizadas pêla turma.

Vamos à prática!

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes surdos na turma, apresentar vídeos que demonstrem características da valsa quando dançada pode contribuir para a prática. No caso de estudantes cegos, auxilie-os na delimitação do espaço da dança.

Pé de valsa

Ritmo da valsa: um, dois-três

Antes do início da atividade, converse com os estudantes sôbre a necessidade de cada um respeitar o próprio corpo e o corpo do outro, uma vez que a dança de salão exige contato e proximidade. Lembre-os de que todos estão aprendendo e não há uma exigência estética como a de dançarinos profissionais. O mais importante é deixar a dança fluir de acôrdo com as habilidades pessoais e com as condições físicas e perceptivas para coordenar os gestos e a música.

Objetivos

Perceber os três tempos da valsa, um mais forte e dois mais fracos, e realizar passos básicos, adquirindo noções de espaço e mantendo o respeito e a empatia para com os parceiros de dança.

Material

aparêlhu de som ou celular com caixa amplificadora

Procedimentos

Reproduza uma valsa para que a turma perceba seu ritmo e o explore com movimentos de dedos, mãos, pés ou do corpo todo. Solicite que os estudantes sintam a pulsação do ritmo e tentem acompanhar batucando partes do corpo. Verifique se todos alcançaram a percepção rítmica.

Organize-os em duplas espalhadas pêlo espaço e dê orientações sôbre a posição inicial da valsa, de acôrdo com a descrição a seguir.

Posição inicial: em duplas, os estudantes ficam frente a frente e decidem quem será o condutor e quem será o conduzido. O condutor fica com a mão direita na altura das escápulas do conduzido. O outro braço fica estendido na lateral do corpo, segurando a mão do parceiro, com as palmas voltadas para cima. O conduzido segura a mão do condutor com a mão direita, com as palmas viradas para baixo. A outra mão fica levemente apoiada no ombro do parceiro.

Ilustração. Uma mulher de cabelo loiro e blusa roxa está diante de um homem de cabelo preto curto e blusa verde e azul. Um olha para o  outro. Com a mão esquerda, o homem segura a mão direita da mulher, braços afastados do corpo lateralmente; com a mão direita, ele a enlaça pelo ombro, enquanto ela apoia a mão esquerda no ombro dele. São vistos da cintura para cima, de perfil.

Ilustração elaborada para esta obra.

  • Passo lateral: pés unidos, um dos pés dos dois pares se afasta lateralmente (como um estará de frente para o outro, um afasta o pé direito e o parceiro, o pé esquerdo no mesmo sentido e ao mesmo tempo), acompanhado em seguida pêlo outro pé. O passo básico é esse contínuo deslocamento lateral das duplas. Cada vez que os pés forem separados e unidos, conta-se um tempo (forte) e os parceiros tentam manter-se nessa posição por dois tempos (fracos).
  • Giro: o condutor inicia o giro do conduzido, que passa por baixo do braço do parceiro, girando em sentido horário.
  • Ritmo da valsa: o passo lateral tem de ser realizado em sincronia com o ritmo da música, tentando marcar os passos nos três tempos: 1, 2-3 para um lado e 1, 2-3 para o outro.
  • Ao fim do primeiro “baile”, invertem-se os papéis: conduzido torna-se condutor e condutor passa a ser conduzido.

Vamos à prática!

A dança da vassoura

Finalizado o aprendizado do passo básico, proponha um jôgo divertido, para que a turma se solte na dança.

Na atividade de pesquisa com as famílias, é possível que tenham aparecido os eventos que marcaram a cultura corporal de movimento de gerações anteriores, como os bailinhos de garagem, durante os quais se desenvolviam algumas dinâmicas. Uma delas era a dança da vassoura, que resulta no revezamento de casais por meio da transferência desse objeto. Proponha essa atividade de alternância de pares utilizando uma vassoura.

Objetivo

Vivenciar os passos básicos da valsa, fruindo a dança de fórma divertida.

Materiais

Uma vassoura, equipamento de som e playlist de valsa.

Procedimentos

  1. Organize os estudantes em pares, espalhando-os pêlo espaço em que se realiza a aula. Entregue uma vassoura a um dos estudantes, que, assim que a música começar a ser reproduzida, deve dançar com esse objeto, enquanto os demais dançam em duplas. Passados alguns segundos, este deverá entregar a vassoura a alguém que está dançando com um par, tomando o par para si.
  2. Assim, a dinâmica prossegue até que o responsável pêlo som interrompa a música. Nesse momento, quem ficou com a vassoura na mão sai da brincadeira. O jôgo termina quando restar na pista apenas um par. Considere também realizar esta atividade sem a necessidade de os estudantes saírem da brincadeira.

Quem pode dançar?

Segundo volpi (2010), a dança deve ser abordada na escola sem preconceitos, sem que se priorizem técnicas tradicionais ou o conhecimento de artes eruditas em detrimento das manifestações populares, com seus saberes culturais. Tais técnicas representam uma classificação didática, e não a concretização da dominância de classes e da reprodução de preconceitos. Tanto a valsa como o forró têm valôres intrínsecos como manifestações da cultura corporal de movimento.

Em sua origem, a valsa foi considerada vulgar e imoral em função de uma de suas características: muito contato físico. Sua prática foi proibida em alguns países europeus e enfrentou amplo preconceito, porém, entre as classes populares, a dança era disseminada e conquistou uma quantidade significativa de praticantes.

O forró ainda sofre preconceitos associados à discriminação contra o povo nordestino, sua cultura, seus processos migratórios e a variação linguística presente nas músicas.

Outra fórma de discriminação que se verifica na sociedade diz respeito a pessoas com deficiência (Pê cê dês). Para Passos e Teixeira-Machado (2021), associa-se comumente deficiência à incapacidade, o que acarreta baixa autoestima e menor participação nas atividades. Esses autores defendem a oferta de propostas educacionais que fomentem a superação de barreiras e estigmas culturais para valorizar e respeitar o acesso das Pê cê dês aos serviços e bens culturais. Para eles, a prática da dança desempenha um papel transformador tanto para a pê cê dê, com sua identidade singular que precisa ser respeitada e atendida, como para seu entôrno. Pretende-se, então, por meio da leitura de um

texto sôbre acessibilidade e inclusão, e de posterior reflexão, oferecer o sentido de pertencimento a um lugar que é conferido à pê cê dê mediante implicações étnicas, políticas, epistemológicas e metodológicas que não determinam sua exclusão em nenhum espaço.

Proponha uma reflexão sôbre os estereótipos nas danças após a leitura do texto a seguir.

Ilustração. Recorte de jornal.
Título: EMOCIONANTE: GAROTA DANÇA COM AMIGO CADEIRANTE EM FESTA DE 15 ANOS

Linha fina: Maria Eduarda chamou seu melhor amigo, João, que não tem o movimento dos braços e das pernas, para ser seu par na tradicional dança

PORTELA, Júlia. Emocionante: garota dança com amigo cadeirante em festa de 15 anos. Metrópoles, Brasília, Distrito Federal, 27 janeiro 2022.

Pergunte se eles sabem o significado da palavra “acessibilidade” e se acreditam que a escola está adaptada para as diversas necessidades de inclusão. Apresente os símbolos reproduzidos a seguir e peça que digam se já viram alguns deles. Verifique se sabem interpretá-los.

Esquema. Quinze símbolos ilustrados. Descrição dos símbolos.
Símbolo 1: um círculo com cinco pontos azuis unidos por traços que formam uma figura humana.
Símbolo 2: silhueta de pessoa cadeirante. Simbolo 3: silhueta de pessoa ereta, andando de bengala. 
Símbolo 4: um olho que tem a metade esquerda preenchida por traços. 
Símbolo 5: fita com estampa de peças de quebra-cabeça. 
Símbolo 6: silhueta de pessoa parada, de bengala. 
Símbolo 7: silhueta de mulher grávida. Símbolo 8: cabeça de perfil com destaque para o cérebro. 
Símbolo 9: silhueta de pessoa com pernas e braços curtos.
Símbolo 10: silhueta de pessoa com cachorro.
Símbolo 11: duas fileiras de três pontos lado a lado e, abaixo, a palavra Braille. Símbolo 12: orelha atravessada por uma faixa diagonal.
Símbolo 13: duas letras cês maiúsculas. Símbolo 14: silhueta de duas mãos vistas de frente, uma virada para cima, outra para baixo.
Símbolo 15: as letras a e dê maiúsculas e três linhas curvas à direita da letra dê.
1. Símbolo universal de acessibilidade da Organização das Nações Unidas (ônu) 2. Símbolo Internacional de Acesso (sía) 3. Deficiência visual 4. Baixa visão 5. transtôrno do Espectro Autista (téa) 6. Idoso 7. Gestante 8. Acessibilidade para pessoas com deficiência intelectual 9. Nanismo 10. Cão-guia para pessoas com deficiência visual ou cegueira 11. Braile 12. Surdez 13. Closed caption (legendas ocultas) 14. Intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) 15. Audiodescrição

Fonte: Prefeitura de São Paulo.

Se necessário, faça um passeio pêlo espaço escolar na companhia dos estudantes, verificando a presença de rampas de acesso, elevadores e medidas adequadas dos corredores.

Caso constatem a necessidade de promover melhorias no espaço, organize com eles um documento destinado à gestão escolar, solicitando providências com relação à execução de obras de acessibilidade na escola. Se as melhorias dizem respeito ao entôrno, considere fazer um abaixo-assinado junto à comunidade e destiná-lo aos responsáveis pelos serviços públicos.

Há cadeirantes na turma ou no período? Se houver, lance uma pergunta: Como esse estudante pode participar nas aulas de Educação Física? Solicite aos estudantes que proponham adequações nas atividades de dança de salão para que todos possam participar das aulas. Anote as sugestões do grupo.

Da valsa ao xote

Questione a turma sôbre quem já ouviu as frases “Vamos dançar um forró!” ou “Vamos para o forró?”. Quadros Junior e volpi (2005) apresentam a palavra “forró” para designar um gênero musical e, como consequência, uma dança, já que todo gênero musical pode ser acompanhado de uma dança. A principal característica do forró consiste em arrastar os pés com os dançarinos bem próximos um do outro. A mesma palavra nomeia a festa onde se dança e se tocam ritmos nordestinos, como xaxado, baião e xote.

Ilustração. Visão lateral de três casais e três músicos em preto e branco, sendo quatro pessoas representadas na parte de cima da imagem e cinco na parte de baixo. Em cima, à esquerda, uma mulher de cabelo preso em rabo de cavalo e usando vestido toca zabumba segurando a baqueta com a mão direita. Ao lado da zabumba, está escrito: 'Tum!'. Ao lado da mulher, há uma placa com a palavra 'Forró'. À direita da placa, se vê um casal enlaçado em posição de dança, visto de perfil. À direita do casal, há um homem de camisa e calça tocando triângulo. Ao lado do triângulo, está escrito: 'Tengo, lengo, tengo'. Embaixo, no centro, um homem de chapéu de cangaceiro, camisa e calça, em pé, segura uma sanfona com as duas mãos. Ele está com a boca aberta, e próximo de seu rosto há a representação de notas musicais. Nas laterais, dois casais representados de perfil estão enlaçados. Vê-se um cacto, duas plantas de galhos e folhas pontiagudos e um pássaro.
Ilustração em estilo xilogravura representando o forró.

Os autores apresentam três versões para a origem da palavra “forró”:

  1. O têrmu teria surgido no final do século dezenove, nas construções das estradas de ferro no Nordeste pelos ingleses. Estes costumavam realizar festas, as quais, quando abertas a todos, eram anunciadas por uma placa em que se lia For All (“Para todos”). Ou seja, forró seria uma variação da pronúncia dessa expressão inglesa.
  2. Na segunda versão, as festas eram dadas pelos soldados estadunidenses durante a Segunda Guerra Mundial.
  3. A terceira e mais antiga versão apresenta a palavra “forrobodó”, de origem africana, cujo significado é “algazarra”, “festa para a ralé”, “arrasta-pé”. Dessa fórma, a palavra forró designaria a festa onde se dança, se toca e há diversão. Gueiros (2011) revela que o compositor e cantor Geraldo Azevedo (1945-) lançou, em 1982, “fór ól para todos”, inspirado nas histórias de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Sivuca (1930-2006), mas foi contestado pêlo estudioso Câmara Cascudo (1898-1986), que escreveu uma carta para ele explicando que a origem correta era a relativa ao uso de forrobodó.

Segundo Câmara Cascudo, as raízes do forró, assim como as do samba, resultam da mistura de influências africanas e europeias. A música nordestina de Luiz Gonzaga sofreu forte preconceito, mas, aos poucos, deixou de ser uma música dos saudosos nordestinos alcançando diversas regiões e classes sociais.

A base rítmica do forró é o baião, aliado ao xote, ao xaxado, à ciranda e ao coco de roda. O baião remonta ao século suas origens repousam no lundu, um tipo de batuque executado pelos escravizados. Segundo Fernandes (2007), a palavra “xote” provém da palavra alemã schottisch, que significa “escocesa”, pois a dança era uma referência à polca escocesa. No Brasil, popularizou-se entre grupos de chôro em meados do século no Rio de Janeiro, mas foi por intermédio de Luiz Gonzaga, no final dos anos 1940 e ainda ao longo de quase toda a década de 1950, que ele se propagou Brasil afora. A popularização desse ritmo no Nordeste foi resultado da excelente adaptação do ritmo à instrumentação da região (sanfona, triângulo, zabumba), onde passou a ser chamado de xótis ou xote.

A partir da década de 1990, jovens universitários da região Sudeste interessaram-se pêlo forró pé de serra, que deu origem ao movimento denominado forró universitário. Com a inserção de outros instrumentos, houve uma aproximação entre a cultura juvenil nordestina e a sudestina.

Conectando saberes

Meio ambiente.

Esta seção aborda a interdisciplinaridade com Ciências, explorando a habilidade (ê éfe zero nove cê ih um três), ao propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da comunidade, que se relaciona também com o Tema Contemporâneo Transversal (tê cê tê) Meio ambiente, e com Artes, por meio das habilidades (ê éfe seis nove á érre um oito) e (ê éfe seis nove á érre um nove), com o incentivo ao reconhecimento e à apreciação de músicos brasileiros que contribuíram para o desenvolvimento de fórmas e gêneros musicais, como Luiz Gonzaga, identificando estilos musicais e contextualizando-os no tempo e no espaço, de modo a aprimorar a capacidade de apreciação da estética musical e de criar um repertório cultural próprio. Além disso, com Arte as habilidades (ê éfe seis nove á érre zero seis) e (ê éfe seis nove á érre zero um) contemplam as artes visuais, mediante o desenvolvimento de processos de criação com o uso de materiais alternativos e a valorização de fórmas distintas de artes contemporâneas, de artistas brasileiros e estrangeiros, ampliando a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais.

Xote ecológico

O maior responsável pêla divulgação dos ritmos do forró foi o músico pernambucano Luiz Gonzaga, sanfoneiro, cantor e compositor, reconhecido como o “Rei do Baião”. No início de sua carreira, ele gravou vários estilos musicais, como mazurcas, polcas e valsas. E, aos poucos, introduziu, com sucesso, os ritmos nordestinos.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet vídeos de Luiz Gonzaga, do canal Kuarup Produtora, para conhecer músicas no ritmo de polca e de valsa, e apresente-os aos estudantes. As canções que sugerimos a seguir fazem parte de seu disco Luiz Gonzaga instrumental – Primeiras gravações, de 1946.

  • Polca: música “Pagode russo”. Composição: Luiz Gonzaga e João Faria.
  • Valsa: música “Nós queremos uma valsa”. Composição: Nássara e Frazão.

Aproveite para pesquisar também a música “Xote ecológico” (composição de Aguinaldo Batista e Luiz Gonzaga), que será explorada a seguir.

Gonzaga ou Gonzagão, como também era conhecido, cantava acompanhado de sua sanfona, de uma zabumba e de um triângulo. Canções como “Asa branca” e “Xote das meninas” são uma pequena parte do seu grande repertório de sucesso constante até os dias atuais.

Reproduza a letra desta canção e entregue-a aos estudantes para acompanhamento.

Xote ecológico

(Aguinaldo Batista/Luiz Gonzaga)

Não posso respirar, não posso mais nadar

A terra tá morrendo, não dá mais pra plantar

Se planta não nasce se nasce não dá

reticências

Cadê a flor que estava ali?

Poluição comeu.

E o peixe que é do mar?

Poluição comeu

E o verde onde é que está?

Poluição comeu

Nem o Chico Mendes sobreviveu

XOTE ecológico. Intérprete: Luiz Gonzaga. Compositores: Aguinaldo Batista e Luiz Gonzaga. ín: VOU te matar de cheiro. Intérprete: Luiz Gonzaga. Rio de Janeiro: Copacabana, 1989. 1 éle pê 12 polegadas, faixa 1.

Peça aos estudantes que reflitam sôbre os atuais problemas ambientais, perguntando:

  • Qual é o tema da música? (Os problemas gerados pêla poluição.)
  • Qual é o principal problema retratado na letra da canção? (As consequências trazidas pêla poluição do ar, dos rios, da terra.)
  • Esse problema pode ser observado no entôrno da escola e nos seus lugares de vivência? (Resposta pessoal.)
  • O que mudou desde o ano em que essa música foi composta e os dias atuais? (Resposta pessoal.)

Peça aos estudantes que listem os problemas relacionados a esse tema encontrados na escola ou no entôrno dela e instigue-os a construir proposições para solucionar alguns desses problemas. Por exemplo: um projeto de reciclagem ou a criação de um ponto de recolhimento de óleo de cozinha.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet os vídeos a seguir e apresente-os aos estudantes.

LIXO extraordinário. Direção: lucí uólquer; João Jardim; Karen Rártlei. Produção: Angus êinslei; hênk levín. Edição: Pedro Kos. Companhias produtoras: Projects; Lôndon; O2 Filmes: Rio de Janeiro; São Paulo, 2010. Trailer oficial (3 minutos e 28 segundos).

Trailer com algumas cenas do documentário sôbre a visita de Vik Muniz (artista plástico) a um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.

  • men. Direção e roteiro: Música: Kévin Méquilaudi. [sem local], 2012. Curta-metragem (3 minutos e 36 segundos).
  • Animação de istív cãts que mostra a exploração predatória dos recursos naturais do planeta pêlo ser humano.

Agora, apresente estas obras de Vik Muniz, feitas com materiais encontrados no lixo para compor sua arte, que provocam reflexões sôbre o meio ambiente e outros temas importantes.

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, é necessário que as imagens sejam descritas oralmente. Se houver possibilidade, utilize o recurso de audiodescrição.

Fotografia. Montagem feita com lixo e sucata. Uma mulher de lenço na cabeça e blusa sem manga é representada do peito para cima. Com a mão direita, ela equilibra na cabeça um grande cesto redondo.
Fotografia. Montagem feita com lixo e sucata. Um homem jovem de cabelo castanho que chega até a nuca está ajoelhado à beira de um lago e, apoiado nas duas mãos, se debruça sobre a água. Ele observa seu reflexo.
1. A carregadora (Irmã), de Vik Muniz, 2008 (cópia cromogênica digital; edição 2 com 3 pê ás, 242,60 centímetros por 180,30 centímetros). 2. Narciso, a partir de caravádio, de Vik Muniz, 2005 (assombláge com lixo e sucata feita em uma área do tamanho de uma quadra de basquete; fotografia, 224,8 centímetros por 180,3 centímetros).

Promova uma parceria com os professores de Arte e de Ciências para a realização de um projeto baseado na canção “Xote ecológico”, de Luiz Gonzaga, incluindo uma coreografia que represente a interpretação da letra das músicas.

Vamos à prática!

Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes surdos na turma, apresentar vídeos que demonstrem características do xote quando dançado pode contribuir para a prática. No caso de estudantes cegos, auxilie-os na delimitação do espaço da dança.

Xote das meninas e dos meninos

Nesta etapa da aprendizagem, os estudantes ainda podem mostrar-se um pouco tímidos na execução dos movimentos do forró. Por essa razão, prepare uma lista de músicas com títulos de xote e deixe-os à vontade para a vivência, incentivando-os a sentir o ritmo da música e apresentando o que já conhecem da dança. Convide aqueles que já experienciaram algum ritmo do forró a ajudar na organização da aula.

Comece pelos passos básicos e deixe-os testar as movimentações.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet a sugestão de aprofundamento a seguir.

COMO dançar forró: passo básico. Brasília, Distrito Federal: ê bê cê, 2018 (3 minutos e 18 segundos).

Nesse vídeo, dois professores de dança mostram o passo básico de forró e ensinam como se adaptar às diferenças regionais da dança pêlo país.

Objetivo

Aprender os passos básicos do xote.

Material

aparêlhu de som ou celular com amplificador

Procedimentos

1. Dois pra lá e dois pra cá: organize os estudantes em pares e peça que conversem entre si para verificar quem será o condutor e quem fará as vezes do conduzido, como na vivência da valsa. A posição inicial é semelhante com relação aos braços e às mãos. Oriente a dupla a realizar passos laterais na contagem de quatro tempos, ou seja:

Para a direita: 1. afastamento lateral do pé direito; 2. pé esquerdo unido ao direito (primeiro tempo); 3. afastamento lateral do pé direito; 4. pé esquerdo unido ao direito.

Para a esquerda: 1. afastamento lateral do pé esquerdo; 2. pé direito unido ao esquerdo; 3. afastamento lateral do pé esquerdo; 4. pé direito unido ao esquerdo.

Repita a sequência algumas vezes para automatizar o movimento.

  1. Variação (frente e trás): mesmo movimento, mas com deslocamento para a frente e para trás. Repita a sequência algumas vezes.
  2. Giros (chuveirinho): mantendo o passo básico, um dos parceiros realiza giros – isto é, levanta o braço direito e permite que o par passe por baixo, retornando à posição inicial. Repita a sequência.
  3. Realize os passos 1, 2 e 3, na sequência.
Ilustração. Um casal é mostrado em três posições de dança. A mulher tem cabelo preto encaracolado preso em um rabo de cavalo e usa camiseta vermelha, saia colorida e sapato baixo vermelho. O homem tem cabelo castanho curto e usa camiseta preta, calça azul e tênis cinza. Primeira posição – O casal é visto lateralmente. A mulher e o homem estão em pé, um diante do outro. Ela está com o calcanhar direito levemente levantado do chão e apoia a mão esquerda no ombro direito do homem, que a enlaça com o braço direito. O braço esquerdo do homem está levantado lateralmente  e dobrado e, com a mão esquerda, ele segura a mão direita da mulher. Há uma seta perto dos pés da mulher no sentido de cima para baixo e uma seta perto dos pés do homem no sentido de baixo para cima. Segunda posição – A posição dos braços e das mãos não se modifica. A perna direita da mulher está atrás da esquerda, calcanhar levemente levantado do chão. A perna esquerda do homem está à frente da direita. Há uma seta perto dos pés da mulher no sentido esquerda-direita e uma seta perto dos pés do homem no sentido direita-esquerda. Terceira posição – O homem está com o braço esquerdo levantado numa altura acima da cabeça da mulher, ainda segurando a mão direita dela, enquanto, com o braço direito, ele segura sua cintura por trás. A mulher é vista de frente, com o braço direito levantado e o esquerdo dobrado à frente do corpo. O pé direito dela está um pouco à frente do esquerdo.

Ilustração elaborada para esta obra.

Conectando saberes

Esta seção aborda o tê cê tê Diversidade cultural por meio da literatura tradicional da região Nordeste. Nela, contemplam-se as seguintes habilidades de Língua Portuguesa: (ê éfe oito nove éle pê três dois), com a análise do uso de referências entre os textos literários e outras manifestações artísticas, como a xilogravura; (ê éfe seis nove éle pê quatro quatro), com a inferência da presença de valôres sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo em cordéis, reconhecendo múltiplos olhares sôbre as identidades, sociedades e culturas; (ê éfe seis nove éle pê cinco um), com o engajamento nos processos de planejamento, textualização, revisão e reescrita de cordéis; (ê éfe seis nove éle pê cinco quatro), com a análise dos efeitos de sentido entre os elementos linguísticos dos cordéis e os recursos paralinguísticos e cinésicos, como as variações no ritmo, as modulações no tom de voz, as pausas, as manipulações do estrato sonoro da linguagem, a postura corporal e a gestualidade, na declamação dos cordéis; (ê éfe seis nove éle pê cinco cinco), com o reconhecimento das variedades da língua falada, do conceito de norma-padrão e do preconceito linguístico.

As habilidades de Arte exploradas são (ê éfe seis nove á érre zero um), (ê éfe seis nove á érre zero dois), (ê éfe seis nove á érre zero três), (ê éfe seis nove á érre zero cinco) e (ê éfe seis nove á érre zero seis), mediante a pesquisa, a apreciação, a análise, a experimentação e o desenvolvimento de processos criativos para a construção de xilogravuras e para a promoção de sua integração com cordéis e as danças de salão (forró e valsa), de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais.

Dança, cordel e xilogravura

Em feiras realizadas em diferentes regiões do Nordeste, os pequenos livros de cordel, caracterizados por letras e xilogravuras bem específicas, sempre estão à mostra, geralmente pendurados em varais com prendedores de roupa.

Fotografia. Um homem de cabelo, barba e bigode grisalhos é mostrado do peito para cima. Ele usa chapéu marrom de cangaceiro, camisa branca e colete de couro e segura com a mão direita dois folhetos de cordel. Ao fundo, há um painel com diversos folhetos expostos.
Escritor e folheteiro de literatura de cordel mostrando folhetos. Feira de Santana, Bahia, 2019.

A literatura de cordel é composta de um conjunto de histórias contadas em rimas, marcadas por ritmo, métrica e musicalidade, em que se narram a arte, a vida e a filosofia do povo do sertão. Os textos são recheados de crítica social e temas atuais, igualmente presentes nos grafismos das xilogravuras, além de muito humor, linguagem coloquial, ironia e sarcasmo.

Organize os estudantes em roda para a leitura de um cordel. Oriente-os a pensar sôbre o texto e tentar identificar, por meio da sonoridade, as características dessa poesia popular, observando as relações que podem ser tecidas entre música, dança e literatura.

Explique que o cordel a ser lido é de autoria da cearense Maria de Lourdes Aragão Catunda, mais conhecida como Dalinha Catunda, cordelista, declamadora e contadora de histórias.

Forró é bom, e eu gósto!

(Dalinha Catunda)

O legítimo forró,

Tem balanço tem magia

No arrastar do chinelo,

Forrozeiro se arrepia

Tira poeira do chão

Rodopia no salão

Dançando com alegria

Eu já dancei em terreiro

E debaixo de latada.

Com triângulo e zabumba

Uma sanfona e mais nada.

Já arrastei muito xote,

Nos dois passos, no pinote!

Sem me cansar na jornada

Quem fala mal de forró

Sem conhecer Gonzagão

Sem nunca ter arrastado

O seu chinelo no chão

Sem entender do riscado

É melhor ficar calado

E aprender sôbre sertão.

CATUNDA, Dalinha. Forró é bom, e eu gósto. ín: CATUNDA, Dalinha. Cordel de Saia. [sem local]: 2011.

Peça aos estudantes que prestem atenção aos versos que rimam, a fim de perceber a métrica dessa poesia, assim como sua sonoridade e musicalidade. As rimas permitem constatar a especificidade da escrita de um cordel. Explique que os versos não podem ser muito longos e que o cordel reproduzido apresenta três septilhas, ou seja, a estrofe é formada por sete versos.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet a sugestão de aprofundamento a seguir.

CORDEL sôbre o FORRÓ (João Araújo) poesia cordel versos repente violeiro. [sem localponto], 2020. 1 vídeo (3 minutos 46 segundos). Publicado pêlo canal João Araújo.

Para João Araújo o forró é “uma das maiores festas da cultura popular do planeta”.

Desafie a turma a produzir a escrita de um cordel. Reúna os estudantes em grupos de três a quatro integrantes e proponha como tema a vivência das danças de salão nas aulas de Educação Física. Explique que esse será o registro do que aprenderam unindo duas artes.

Para isso, peça que listem tudo de que se lembrarem sôbre valsa e forró, como a contextualização histórica, os elementos da dança, os passos básicos e as interações com os pares. Saliente que a criatividade é de grande importância nos cordéis. Por isso, oriente-os a pesquisar outros cordéis para se inspirarem.

Depois de os estudantes terem escrito o cordel sôbre o tema apresentado, fale a respeito de outra linguagem artística própria da cultura nordestina: a xilogravura, uma técnica antiga de impressão que integra o universo do cordel.

Xilogravura. Visão lateral de três músicos e três casais dançando, os músicos representados na parte de cima da imagem e os casais na parte de baixo.
Na parte de cima, à esquerda, um homem de pé está com as duas mãos sobre uma zabumba; no centro, um homem de pé segura uma sanfona aberta; à direita, um homem de pé, visto de perfil e com a boca aberta, segura um triângulo. Atrás deles há uma fileira de bandeirinhas. Na parte de baixo, três casais enlaçados em posição de dança são vistos de perfil. Na parte inferior da imagem, está escrito: 'O forró. J. Borges'.
O forró, de J. Borges, década de 1980. Xilogravura.
Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, sugere-se o uso de tesouras adaptadas. Além disso, o uso de um papel mais firme e que permita ao estudante perceber a textura da tinta sobre ele, a fim de reconhecer seu trabalho, é recomendável.

Materiais

Bandejas descartáveis de isopor, lápis preto, tinta guache ou acrílica, tesoura e rôlu de tinta

Procedimentos

  1. Pesquise com os estudantes imagens de xilogravuras diversificadas para que se apropriem da estética dessa arte.
  2. Oriente-os a recortar as bordas da bandeja de isopor e deixá-las arredondadas.
  3. Com o lápis, eles devem fazer um desenho que retrate bem o tema do cordel criado. Explique que é necessário afundar bem o lápis no isopor, para que os sulcos fiquem bem definidos.
  4. Em seguida, peça que apliquem a tinta no isopor com o auxílio do rôlu.
  5. O próximo passo consiste em pressionar a bandeja de isopor no papel que será a capa do cordel.
  6. Por fim, organize uma exposição das poesias de cordel com as xilogravuras penduradas em um varal em algum corredor da escola. Essa exposição poderá acontecer em um dia de evento cultural de sua escola, como a Festa Junina. Incentive os estudantes a organizar também uma apresentação de forró.

Avaliando em diferentes linguagens

  1. Encontre a pôsi!
    • Forme dois grupos e entregue uma cópia do diagrama para cada um.
    • Para iniciar o jôgo, escolha uma dupla de um grupo.
    • Mostre uma pôsi para a dupla e peça que a reproduza para o grupo.
    • O grupo deverá descobrir qual é a pôsi, indicando a letra e o número de sua localização no diagrama.
Esquema com ilustrações. Trinta e seis pequenas ilustrações mostram um casal dançando em diferentes poses, representados apenas pela silhueta deles em preto. As imagens estão dispostas em linhas e colunas. São seis linhas, cada linha indicada por um número (1, 2, 3, 4, 5, 6), e seis colunas, cada coluna indicada por uma letra (A, B, C, E, D, E, F).
Orientação para acessibilidade

Caso haja estudantes cegos na turma, é necessário que as imagens sejam descritas oralmente. Se houver possibilidade, utilize o recurso de audiodescrição. Durante a realização da atividade, as poses podem ser descritas por você ou por um colega, ou, ainda, por meio do toque.

Protagonismo juvenil: aplicação dos saberes

Ritos de passagem, a formatura chegando

No verso “Toda menina que enjoa da boneca é sinal que o amor já chegou no coração”, da canção “Xote das meninas”, de Luiz Gonzaga, é abordada uma das principais características da puberdade: a sexualidade. Essa fase é intensamente vivenciada pelos estudantes do 9º ano, apesar de o poeta Paulo Leminski ironizá-la em seu verso (“quando eu tiver setenta anos/então vai acabar esta minha adolescência”). lógo, eles terão marcada sua passagem para o Ensino Médio, passando pêla formatura.

Em muitas culturas indígenas, não há um período de transição entre a infância e a vida adulta, mas existem muitos rituais de passagem para assinalar o acesso à vida dos adultos, como a furação de orelha dos meninos xavantes ou o rito das formigas tucandeiras do povo Saterê em que os jovens colocam a mão em uma luva, feita de palha trançada, repleta de formigas.

Converse com os estudantes sôbre os ritos de passagem em nossa sociedade. Explique que há muitos deles, como batismo, festa de celebração dos quinze anos, casamento, funeral. Destaque que eles estão muito próximos de vivenciar a formatura, que também representa um rito de passagem dos Anos Finais do Ensino Fundamental para o Ensino Médio.

Capa de disco. No centro, destaque para a fotografia do cantor Luiz Gonzaga sobre fundo preto. Ele usa chapéu de cangaceiro e está sorrindo. Tem a pele vincada por algumas rugas. Está de gravata laranja e paletó xadrez branco e preto com um lenço vermelho no bolso e segura uma sanfona. Ao lado da foto, à direita, está escrito: 'Ovo de codorna, Baião de dois, Légua tirana, Ave-Maria sertaneja, Cintura fina, Derramado o gai, Forró no escuro, Chá cutuba, Respeita Januário, Procissão, Vozes da seca, O xote das meninas, Calango da lacraia, Chofer de praça'. Acima do fundo preto, está escrito em vermelho 'Luiz Gonzaga volume 2' e, abaixo do fundo preto, 'RCA. Disco de ouro' e 'Linha 3'.
cedê de Luiz Gonzaga. Gravadora: érre cê á quémdén. Rio de Janeiro, 1979.

Esclareça que nos ritos há um conjunto de símbolos, palavras e ações que materializam ideias daquilo que as pessoas carregam como mito ou verdade. Em alguns deles, a dança marca presença.

Reflita com a turma sôbre a mercantilização dos ritos, que são transformados pêlo consumo, o que tira o sentido e o verdadeiro objetivo desses momentos. Mencione que hoje há um mercado amplo de empresas que atuam como intermediárias com o propósito de vender produtos, sonhos, expectativas e desejos. Ouça as opiniões com atenção, acolha as posições favoráveis e desfavoráveis sôbre a questão e incentive o aprofundamento das argumentações em têrmus sociais, econômicos, estéticos, entre outros.

Estimule os estudantes a pensarem no próprio protagonismo neste importante momento, propondo a organização da apresentação da dança de formatura.

Ajude a turma a relembrar as danças vivenciadas neste ano, como a valsa, tradicional em ritos de passagem, e o xote, que promove uma aproximação com a cultura brasileira.

Sugira que pensem na coreografia, compondo, com criatividade, os passos e os gestos que marcarão esse rito de passagem.

Para que a apresentação seja marcante, é fundamental cumprir todos os passos para organizá-la. Por isso, é preciso:

Selecionar as músicas preferidas do grupo.

Revisar os passos aprendidos.

Incorporar elementos que julgarem importantes para a criação colaborativa, como passos de outras danças.

Elaborar a coreografia com a participação de toda a turma.

Agendar ensaios periódicos.

Proponha um registro audiovisual de todo o processo, para que os estudantes possam eternizar esse importante momento de construção coletiva.

rréchitégui (cerquilha, sustenido)FiqueLigado

Pesquise na internet as sugestões de aprofundamento a seguir.

  • HOMENS da tribo são mordidos por formigas em ritual. América Latina Selvagem. [sem local], 2021. 1 vídeo (6 minutos). Publicado pêlo canal Discovery Brasil.
  • Vídeo que mostra como é a vida dos Saterê mauê e apresenta detalhes do doloroso ritual com a formiga tucandeira.
  • O RITUAL de passagem xavante. [sem local], 2019. 1 vídeo (8 minutos e 18 segundos). Publicado pêlo canal uariú.

Vídeo sôbre alguns rituais do povo xavante e a simbologia que carregam.