CAPÍTULO 1 Onde está a arte na vida?

Fotografia. Detalhe de parte da encosta de um morro ocupada por casas aglomeradas. Há pinturas de rostos humanos em preto e branco nas paredes de algumas casas. O conjunto dessas pinturas compõe a intervenção artística.
Detalhe da ação artística 28 millimeters – Women Are Heroes [28 milímetros – Mulheres são heroínas, em tradução livre], realizada em 2008 pelo fotógrafo jota érre na favela do Morro da Providência, no Rio de Janeiro Rio de Janeiro.

Ao fazer essa pergunta no título deste capítulo, confiamos em que a arte esteja, sim, inserida em seu cotidiano, despertando diferentes sensações, percepções, sonoridades e movimentos, explorando e incentivando novas e diversas possibilidades de reflexão e atuação ao seu redor.

1. Observe a imagem da abertura do capítulo. De que modo a realidade pode ser transformada pelo ser humano? Por que temos a necessidade de intervir no ambiente em que vivemos?

Versão adaptada acessível

1 Com base na descrição da imagem da abertura do capítulo, responda: de que modo a realidade pode ser transformada pelo ser humano? Por que temos a necessidade de intervir no ambiente em que vivemos?

A imagem de abertura do capítulo mostra uma intervenção artística do fotógrafo francês jota érre (1983-). Para realizar esse projeto, ele visitou uma série de bairros periféricos de várias cidades. Entre eles, a favela do Morro da Providência, na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro. Lá, ele entrevistou e fotografou algumas moradoras; ampliou as imagens de seus rostos e olhos e estampou algumas fachadas das casas dessa comunidade com elas. Por meio dessa proposta artística, pode-se refletir até que ponto a arte é criada com base nas nossas experiências e como está muito mais próxima de nós do que pensamos.

A arte é parte da vida, ela nos identifica, nos ajuda a dizer quem somos e de onde somos, e, por essa mesma razão, nos ajuda a ver os outros, com suas semelhanças e diferenças.

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PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. A arte está presente em sua escola?
  2. Há imagens artísticas ao seu redor? Por quem foram produzidas?
  3. Na escola, há espaços para se movimentar e dançar? Há palcos ou outros espaços para apresentações de teatro e dança?
  4. Há música na escola? E instrumentos musicais?

SOBREVOO

Arte no cotidiano

Pintura. Uma sala de estar, com piso quadriculado e avermelhado, quatro poltronas de madeira e tecido rosa estampado com flores, uma mesa de centro com xícaras e bule. À esquerda, sobre uma poltrona, um gato. Atrás dele, em pé, uma mulher idosa com cabelos grisalhos; ela usa uma blusa amarela florida e saia verde; sua mão esquerda está sobre uma poltrona vazia. Ao centro, sentada, outra mulher idosa de cabelos brancos; ela usa um vestido azul e toca um violino. À direita, uma mesa com um abajur e outras duas mulheres idosas sentadas. Uma delas tem cabelos grisalhos e usa um vestido branco com estampas azuis; suas mãos estão unidas; ela olha na direção do violino. A outra tem cabelos claros e usa um vestido rosa; ela toca uma sanfona. Ao fundo, um telefone preto com fio, um gato descendo a escada, uma mesa com porta-retratos, um vaso azul com flores e um quadro na parede.
COELHO, Helena. As quatro amigas. 2002. Óleo sobre tela, 33 centímetros por 41 centímetros. Coleção particular.

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1. Observe a imagem. O que chama a sua atenção nela?

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1 Com base na descrição da imagem, responda: o que chama a sua atenção nela?

Trata-se de uma pintura naïfglossário  glossário de Helena Coelho (1949-), artista carioca que começou a pintar aos 40 anos e que retrata o cotidiano em muitas de suas obras.

2. Agora feche os olhos e tente se recordar dos objetos de sua casa; procure se lembrar de cada detalhe. Como são as paredes, o piso, os móveis etcétera? Você sempre morou nela?

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2 Agora tente se recordar dos objetos de sua casa; procure se lembrar de cada detalhe. Como são as paredes, o piso, os móveis etc.? Você sempre morou nela?

Desde muito cedo, nossa visão começa a ser construída no lugar onde nascemos e crescemos, o que contribui para a formação de nossas referências visuais. São exatamente essas referências que nos influenciam na hora de escolher uma cor em vez de outra, a preferir um tipo de organização a outro, a nos identificarmos com uma imagem ou outra, e assim por diante. E isso continua em constante transformação, uma vez que convivemos com muitas imagens: da nossa casa, do nosso bairro, da cidade ou da natureza ao redor.

O mesmo acontece com os sons da casa, que estão presentes em nossas vidas há tanto tempo que nem sabemos de onde surgiram.

3. Você consegue lembrar quais foram as primeiras músicas que ouviu? Talvez alguma canção cantada por pessoas da família ou tocada em um aparelho de som, na televisão ou em uma brincadeira? Comente com seus colegas.

Acontecimentos, imagens, sentimentos e aprendizados da infância nos acompanham ao longo da vida. Leia a letra da canção a seguir.

Bola de meia, bola de gude

Há um menino há um moleque morando sempre no meu coração toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente um sol bem quente lá no meu quintal toda vez que a bruxa me assombra o menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor […]

Ilustração. Três bolinhas de gude com detalhes metalizados do tipo glitter. Uma prateada, outra dourada e outra azulada.

BOLA de meia, bola de gude. Intérprete: Milton Nascimento. Compositores: Fernando Brant e Milton Nascimento. ín MILTONS. Intérprete: Milton Nascimento. sem local: CBS, 1988. 1 cedê, faixa 9.

Esse é um trecho da canção “Bola de meia, bola de gude”, de Milton Nascimento (1942-) e Fernando Brant (1946-2015). Na letra, os compositores sugerem que, mesmo sendo um adulto, há um menino morando em seu coração, e que há momentos do passado que acompanham o seu presente. O que você acha disso? Há algo de sua infância que você deseja que, de alguma maneira, fique para sempre com você?

Ícone. Tema contemporâneo transversal: Cidadania e Civismo.

Faça no caderno.

Para pesquisar

A longevidade e a arte

Você reparou que as amigas retratadas na pintura de Helena Coelho são pessoas idosas? A letra da canção “Bola de meia, bola de gude”, ao tratar de maneiras pelas quais a infância permanece sempre com a gente, também pode remeter ao nosso processo de envelhecimento. Pesquise com pessoas idosas histórias sobre como a presença da arte se deu na vida delas, envolvendo a família, a escola, o bairro.

  1. Com que pessoas idosas você convive?
  2. Escolha uma dessas pessoas idosas e faça uma entrevista sobre a presença da arte ao longo da vida dela. Mas antes reflita sobre:

a. Que perguntas você considera que podem estimular a pessoa a lembrar de vivências artísticas? Faça previamente uma lista com essas perguntas.

b. Essa lista poderá servir como uma referência para a entrevista. Mas não precisa se prender apenas a ela. A conversa com a pessoa também pode indicar novas perguntas e caminhos para a entrevista.

3. Providencie previamente algum aparelho para gravar a entrevista. Pode ser o gravador de áudio do celular. Ou a câmera, se a pessoa se sentir à vontade para ser filmada.

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3. Providencie previamente algum aparelho para gravar a entrevista. Pode ser o gravador de áudio do celular.

4. Antes de começar a entrevista, explique para a pessoa que se trata de uma pesquisa da escola e pergunte se pode gravar, filmar ou fotografar. Se a pessoa preferir não gravar, tenha em mãos um caderno para anotar as informações que quiser registrar.

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4. Antes de começar a entrevista, explique para a pessoa que se trata de uma pesquisa da escola e pergunte se pode gravar. Se a pessoa preferir não gravar, tenha em mãos um caderno para anotar as informações que quiser registrar.

5. Depois da entrevista, reveja ou escute os registros; selecione as informações que compartilhará com a turma e faça uma lista com elas. Identifique o entrevistado.

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5. Depois da entrevista, escute os registros; selecione as informações que compartilhará com a turma e faça uma lista com elas. Identifique o entrevistado.

6. Você pode escolher também imagens ou trechos dos registros de áudio.

Versão adaptada acessível

6. Você pode escolher também trechos dos registros de áudio.

7. Organize todo esse material pensando na ordem em que será apresentado.

8. Apresente para a turma e assista às apresentações dos colegas. Conversem sobre os resultados de cada pesquisa, sempre respeitando as diferenças de formatos que cada pessoa encontrou para desenvolver e apresentar sua pesquisa.

9. Nessa conversa, retomem coletivamente a questão inicial: como as pessoas idosas contribuem com suas histórias para a presença da arte na vida da comunidade?

Fotografia. Uma instalação artística. Sobre um piso de madeira, onze filtros  filtros de cerâmica sobre bancos de madeira de alturas variadas.
MAREPE. Os filtros. 1999. Instalação de filtros de cerâmica e bancos de madeira, dimensões variáveis. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo São Paulo.

4. Você tem filtro de barro em sua casa ou já viu algum em casas de conhecidos? Já imaginou encontrar vários deles em uma exposição de arte? O que esses filtros têm de especial para serem apresentados desse modo?

Muitos artistas, em algum momento da carreira, produzem obras que remetem à infância. Um artista de Santo Antônio de Jesus Bahia , conhecido como Marepe (1970-), fez de sua infância e de sua cidade natal inspirações para toda a sua obra. Bacias de metal, potes de plástico, barracas de feira, algodão-doce, filtros de barro etcétera, tudo isso já esteve em alguma criação artística dele.

Brincadeiras que viram dança

Muita gente pensa que dançar, ao ouvir uma música, é saber executar passos elaborados de uma coreografia. Porém, para dançar é suficiente girar, pular e inventar brincadeiras com movimentos e ritmos, sozinho ou com outras pessoas.

Na performance Breves partituras para muitas calçadas, de 2018, as bailarinas do grupo paulista Lagartixa na Janela caminharam por parques, praças e calçadas das cidades onde se apresentaram inventando danças que começaram como brincadeiras. Por exemplo, pisar sobre as faixas brancas da faixa de pedestres ao atravessar a rua; caminhar se equilibrando sobre as muretas baixas dos jardins; fazer uma luneta com as mãos e observar particularidades da cidade, encontrando detalhes escondidos, que apenas um olhar bem focado poderia revelar.

Se a dança começa com uma brincadeira, quais das suas brincadeiras podem se transformar em danças?

Fotografia. Em um jardim com degraus, gramado, plantas e uma fonte, um grupo de crianças uniformizadas, espalhadas pelo jardim, executam diferentes movimentos: algumas estão de mãos dadas, outras com os braços estendidos e outras com as palmas das mãos encostadas nas palmas dos colegas. Entre as crianças, mulheres com os braços estendidos.
Grupo de dança Lagartixa na Janela executando a performance Breves partituras para muitas calçadas, em Santo André São Paulo, 2018.

As brincadeiras também são tema desta canção da rapper MC Soffia (2004-), que se apresenta desde os seis anos e manifesta seu pensamento sobre diversos assuntos.

5. Leia a letra de “Brincadeira de menina”, de MC Soffia, e, com ajuda do professor, busque a música na internet, para escutá-la.

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5 Ouça a leitura da letra de “Brincadeira de menina”, de MC Soffia, e, com ajuda do professor, busque a música na internet, para escutá-la.

Brincadeira de menina

Dizem que menina não empina pipa no sol

Quem criou a regra que ela não joga futebol?

Que negócio é esse, brincadeira de menina?

As minas fazem tudo, até mandar umas rimas

De menino, de menina, ah

Vamos brincar

Somos crianças, temos que aproveitar

Bom, bom, bom, bom, bom

Ser criança é muito bom

Pra guardar no coração

Bom, bom, bom, bom, bom

Ser criança é muito bom

Pra guardar no coração

Bom, bom, bom, bom, bom

Ser criança é muito bom

Pra guardar no coração

Bom, bom, bom, bom, bom

Ser criança é muito bom

Esconde-esconde, peteca, bolinha de gude e pega-pega

Menino e menina podem brincar de boneca

Hey, hey, hey, ho, ho, ho

Olha lá, a menininha fazendo um monte de gol

Quanta brincadeira, quem diria, sem preocupação

O negócio é alegria e diversão

Vamos aproveitar esse lindo momento

Depois que você cresce

Não volta mais o tempo, é

[…]

BRINCADEIRA de menina. Intérprete: MC Soffia. Compositora: MC Soffia. ín: BRINCADEIRA de menina. Intérprete: MC Soffia. [sem local]: rapibóx, 2015. 1 faixa digital.

Fotografia. Mulher jovem negra com cabelos com dreads vermelhos, presos no alto da cabeça. Ela veste um top preto, casaco e calça vermelhos.
MC Soffia em 2019, com 15 anos.

6. Quando compôs essa música, MC Soffia tinha idade semelhante à sua idade atual. Quais dessas brincadeiras você conhece e fazem parte da sua vida? Quais são suas outras opções de diversão? Além da brincadeira, sobre o que mais fala a canção?

Atualmente, MC Soffia continua compondo e realizando clipes. As letras de suas canções tratam de questões sociais e falam da fôrça e da beleza das meninas negras.

Um espaço para a imaginação

7. Você já imaginou ser diferente de quem você é? Do que você gostaria de brincar de ser? Feche os olhos e experimente! Para onde sua imaginação leva você? Que ideias vêm à sua mente?

Ilustração. Um quarto com uma janela aberta ao fundo. À esquerda, uma porta e no centro da imagem um menino vestido de lobo. À direita, uma cama com um dossel feito de troncos de árvores. No chão há um tapete e, no teto, as folhas das árvores.
SENDAK, Maurice. [Sem título]. 1 ilustração. 1963. ín: SENDAK, Maurice. Onde vivem os monstros. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

8. Observe a imagem: quais elementos fazem parte da realidade do quarto e quais parecem ter saído da imaginação?

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8 Com base na descrição da imagem, responda quais elementos fazem parte da realidade do quarto e quais parecem ter saído da imaginação?

No livro Onde vivem os monstros, do escritor e ilustrador estadunidense Maurice Sendak (1928-2012), publicado originalmente em 1963 nos Estados Unidos, o personagem Max, vestido com uma fantasia de lobo, dá livre curso à imaginação. De repente, em seu quarto nasce uma floresta e, logo depois, ele passa a ser visitado por criaturas gigantes e peludas que habitam a sua imaginação e com as quais brinca ao longo da noite.

Ele se torna o rei dos monstros e ordena a seus súditos que façam bagunça. Quando as criaturas, cansadas, tiram um cochilo, Max, sentindo-se sozinho, percebe um cheiro delicioso: é a comida preparada por sua mãe. Então, sem nem ao menos se despedir, o garoto viaja de volta ao seu quarto para jantar.

Ícone Para Ler.

Conheça a história do personagem Max no livro:

SENDAK, Maurice. Onde vivem os monstros. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

O livro acompanha a aventura de Max pelo mundo da imaginação, após ele fazer uma malcriação e ter de ficar de castigo em seu quarto.

Imaginar e cantar

Fotografia. Uma cena teatral com quatro atores. No palco,  à  esquerda, uma mulher com fantasia de gato está com as mãos e os pés no chão. Ao lado dela, há um homem de pé usando fantasia de burro e pintura facial. Á esquerda dele há  uma mulher fantasiada de galinha. Ela está de pé com as mãos na cintura e a boca aberta. À direita, há um homem com fantasia de cachorro. Ele está abaixado com a mão esquerda e os pés no chão.
Cena do espetáculo musical Os Saltimbancos, estreado pela Odeon Companhia Teatral em 2011, em Belo Horizonte Minas Gerais. Encenação e argumento: Carlos Gradim.

Brincar de ser outra coisa e inventar lugares imaginários também pode ser um recurso na criação de diversos tipos de música. As que são apresentadas neste capítulo são todas canções, ou seja, são músicas que têm uma letra, um texto para ser cantado. Nelas, as palavras podem contar histórias, falar de sentimentos e possibilitar que a gente se imagine em diferentes situações de vida.

A fotografia mostra a cena de uma montagem brasileira da obra teatral I Musicanti. Os atores em cena costumam interagir com as crianças do público, que podem brincar de ser diferentes personagens. Essa obra, em que as canções ajudam a contar a história, foi traduzida e adaptada para a língua portuguesa pelo músico e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda (1944-). A versão brasileira ganhou novas canções e o título foi modificado para Os Saltimbancosglossário . Em uma das canções, os animais imaginam como seria a cidade ideal de cada um. Leia a seguir alguns trechos.

A cidade ideal

Cachorro:

A cidade ideal dum cachorro

Tem um poste por metro quadrado

Não tem carro, não corro, não morro

E também nunca fico apertado

Galinha:

A cidade ideal da galinha

Tem as ruas cheias de minhoca

A barriga fica tão quentinha

Que transforma o milho em pipoca

reticências

Gata:

A cidade ideal de uma gata

É um prato de tripa fresquinha

Tem sardinha num bonde de lata

Tem alcatra no final da linha

Jumento:

Jumento é velho, velho e sabido

E por isso já está prevenido

A cidade é uma estranha senhora

Que hoje sorri e amanhã te devora

reticências

Todos:

reticências

Deve ter alamedas verdes

A cidade dos meus amores

E, quem dera, os moradores

E o prefeito e os varredores

E os pintores e os vendedores

As senhoras e os senhores

E os guardas e os inspetores

Fossem somente crianças

A CIDADE ideal. Intérpretes: Magro, Miúcha, Nara Leão, Ruy. Compositores: Chico Buarque, Luiz Henriquez e Sérgio Bardotti. ín: OS Saltimbancos. Compositores: Luiz Henriquez, Sérgio Bardotti e Chico Buarque. Rio de Janeiro: Universal Music/cópiráiti Marola Edições Musicais, 1977. 1 disco sonoro. Lado A, faixa 6.

Capa de LP. Na parte superior o título do álbum: Os Saltimbancos. Abaixo, os nomes dos compositores: música de Luiz Henriquez, texto original de Sérgio Bardotti e Tradução e adaptação de Chico Buarque. Na parte inferior, ilustração de um burro com uma gata na cabeça. Do lado direito um cachorro. Atrás, um galo.
OS Saltimbancos. Compositores: Chico Buarque, Luiz Henriquez e Sérgio Bardotti. Rio de Janeiro: Philips Records, 1977. 1 disco sonoro. Capa de éle pê.

Teatro: brincar de ser

A arte do teatro surge do encontro entre duas possibilidades: a de poder brincar de ser algo diferente e a de sentir prazer ao ver outras pessoas fazendo o mesmo.

9. Observe esta imagem. Como você descreveria esta cena?

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9 Com base na descrição da imagem, como você imaginaria esta cena?

Fotografia. Cena de espetáculo teatral a céu aberto. À esquerda, no centro do palco, há um carro e um palanque. Sobre o palanque, há uma escada, um guarda-sol e um homem e uma mulher de costas, vestidos com roupas antigas. Ela segura um guarda-chuva com a mão direita. À direita da imagem, na plateia, diversas pessoas sentadas. Ao fundo, montanhas e casas.
Cena do espetáculo Romeu e Julieta, encenado pelo Grupo Galpão em Minas Gerais, em 2012. Concepção e direção: Gabriel Villela.

O teatro pode começar com alguém interpretando uma situação e alguém vendo, ou seja, surge da interação entre um ator e um espectador. Geralmente, pensamos que um espetáculo teatral só pode acontecer com atores profissionais, cortinas vermelhas, palco, muitas roupas e cenários. Na realidade, o teatro está mais próximo de nós do que imaginamos: basta que duas pessoas estejam dispostas a brincar e a despertar a sua imaginação.

Até aqui, já falamos das referências artísticas que vêm de dentro das nossas casas, das histórias de nossa infância, das brincadeiras e das situações cotidianas que temos prazer em ver e compartilhar. Mas a arte não se limita a esses âmbitos.

Arte ao redor

A arte pode também estar inspirada na paisagem do lugar onde crescemos. Quem foi criado longe das cidades reconhecerá mais facilmente as fórmas e texturas da natureza, os sons dos animais, do mar ou do vento.

Quem cresceu no meio urbano talvez esteja familiarizado com uma variedade mais ampla de construções, além de outras referências, como o grande número de pessoas e veículos, o ritmo acelerado do dia a dia ou os grafites que dão seu colorido característico à arquitetura das cidades.

10. Observe esta imagem. Você já viu pessoas dançando assim?

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10 Com base na descrição da imagem, responda: Você já presenciou pessoas dançando assim?

Fotografia. Um jovem fazendo um passo de dança na rua,  de cabeça para baixo, apoiado no braço direito e com a perna direita estendida para cima. Ao fundo, pessoas andando na rua, edifícios, um deles com um  grafite na fachada, composto por desenho de um homem em preto e branco com um coração vermelho. Em torno dele,  diversas criaturas e formas coloridas.
Guilherme Nobre, que faz parte do grupo de dança urbana Zumb.boys, dançando na Avenida Paulista, em São Paulo São Paulo, 2013.

A natureza e a arquitetura são alguns dos elementos com os quais as pessoas interagem. Assim como a natureza, a arquitetura influencia os modos de olhar e os pontos de vista sobre o mundo, e também a amplitude e o alcance dos gestos e movimentos. É por isso que em cada lugar (povoado, cidade, estado, país) as pessoas criam suas danças segundo seus hábitos e costumes, e em interação com as características físicas do lugar onde vivem.

Temos danças de rua, danças de salão, danças que as pessoas fazem descalças em ruas de terra, danças étnicas, teatrais, entre muitas outras. Seja como for, todo povo e lugar sempre têm a própria fórma de dançar.

Na rua, dançarinos de Breakingglossário , como o da fotografia, desafiam a nossa percepção do espaço e fazem com que todos esses saltos, paradas de mão e giros lançando as pernas para o ar pareçam um jogo, uma brincadeira.

11. E você, como vivencia e transforma o espaço ao seu redor? Como interage com o local em que mora?

Fotografia. Destaque de uma escadaria com mosaicos amarelos, verdes e azuis nos espelhos dos degraus. Nas paredes, mosaicos  vermelhos com detalhes coloridos.
Escadaria Selarón, obra arquitetônica que se tornou um famoso ponto turístico na cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro. Leva o sobrenome de seu idealizador, o artista Jorge Selarón, que trabalhou nela de 1994 a 2013. Fotografia de 2020.
  1. Como é o caminho que você faz para ir à escola? Como são as ruas? Converse com um colega sobre o que cada um de vocês encontra de diferente em seu percurso. Onde a arte está presente?
  2. Observe a fotografia. Agora imagine passar por um cenário como esse diariamente. Será que você sempre prestaria atenção em como cada degrau foi feito? Ou, ao contrário, passar todo dia pelo mesmo lugar faz a gente deixar de perceber os detalhes? E se, de repente, esses mosaicos fossem retirados?
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13 Atente à descrição da fotografia. Agora imagine passar por um cenário como esse diariamente. Será que você sempre prestaria atenção? Ou, ao contrário, passar todo dia pelo mesmo lugar faz a gente deixar de perceber os detalhes?

Essa escadaria liga dois bairros da cidade do Rio de Janeiro Rio de Janeiro: Lapa e Santa Teresa. Jorge Selarón (1947-2013), artista chileno, trabalhou por 19 anos no revestimento dos 215 degraus. As peças do mosaicoglossário vieram de diversas partes do mundo e foram obtidas por meio de doação, recolhidas em demolições ou adquiridas pelo próprio artista.

Paisagem na janela

  1. Até a paisagem que você vê da janela do seu quarto constitui uma referência visual. O que você observa por ela? Vê a cidade ou a natureza? E a janela também nos traz outras informações: quais sons você escuta de seu quarto? Como é a luz que entra por ela? O que o mundo de fóra traz para você?
  2. A janela pode ser também uma abertura para a imaginação. Observe a imagem a seguir. O que se vê através das janelas escuras deste ambiente? O que você imagina que poderia ser observado pelas janelas brancas?
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15 A janela pode ser também uma abertura para a imaginação. Com base na descrição da imagem, diga o que se vê através das janelas escuras deste ambiente. O que você imagina que poderia ser observado pelas janelas brancas?

Fotografia. Na parte superior, janelas de vidro em uma parede escura, com vista para carros. Abaixo, papel de parede com desenhos de janelas em  preto sobre fundo branco enfileiradas.  No centro, a artista, mulher branca de cabelos castanhos usando blusa roxa e macacão preto. Ela está com a mão esquerda sob o queixo.
SILVEIRA, Regina. Abyssal. 2010. Vinil adesivo, paredes pintadas e filtros de luz. 10,41 métros por 13,57 métros. Atlas istúki, lódz, Polônia.

As obras da artista brasileira Regina Silveira (1939-) confundem o olhar do espectador por meio de sombras e projeções irreais. Assim, ela estimula a imaginação do público, como acontece na obra Abyssal, em que as janelas brancas não são reais.

Na letra de canção transcrita na próxima página, a janela também delimita um cenário e nos faz fantasiar sobre o que é descrito. Os compositores dessa canção são Lô Borges (1952-) e Fernando Brant (1946-2015), ambos nascidos em Minas Gerais.

Paisagem da janela

Da janela lateral do quarto de dormir

Vejo uma igreja, um sinal de glória

Vejo um muro branco e num voo um pássaro

Vejo uma grade e um velho sinal


Mensageiro natural de coisas naturais

Quando eu falava dessas cores mórbidas

Quando eu falava desses homens sórdidos

Quando eu falava desse temporal

Você não escutou


Você não quer acreditar, mas isso é tão normal

Você não quer acreditar, e eu apenas era


Cavaleiro marginal lavado em ribeirão

Cavaleiro negro que viveu mistérios

Cavaleiro e senhor de casa e árvores

Sem querer descanso nem dominical


Cavaleiro marginal banhado em ribeirão

Conheci as torres e os cemitérios

Conheci os homens e os seus velórios

Quando olhava da janela lateral

Do quarto de dormir


Você não quer acreditar, mas isso é tão normal

Você não quer acreditar, mas isso é tão normal

Um cavaleiro marginal banhado em ribeirão

Você não quer acreditar…

PAISAGEM da janela. Intérprete: Lô Borges. Compositores: Fernando Brant e Lô Borges. ín: CLUBE DA ESQUINA. Intérprete: Clube da esquina. abre colchetesem local.]: EMI Music, 1972. 2 discos sonoros. Disco 2, lado A, faixa 1.

Ilustração. Uma janela laranja aberta. Ao fundo, silhueta de um homem montado em um cavalo, nas margens de um rio com vegetação ao redor. No céu, lua cheia com muitas estrelas.

16. A primeira estrofe deixa claro o que é visto da janela do quarto de dormir? O que mais se vê além disso? Qual é a diferença entre o que você “vê”, o que você “percebe” e o que você “imagina”, observando da janela de seu quarto de dormir?

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16 A primeira estrofe deixa claro o que é visto da janela do quarto de dormir? O que mais se vê além disso? Qual é a diferença entre o que você “percebe” e o que você “imagina” da janela de seu quarto de dormir?

A música sugere que da janela do quarto de dormir vemos o mundo! Ela é uma passagem e representa uma abertura para o novo. A janela de casa pode servir como nossos olhos e ouvidos: precisamos estar atentos para perceber o entorno.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você se considera uma pessoa atenta e aberta para perceber a arte em seu cotidiano? Por quê?
  2. Reconhecer as referências artísticas que estão no seu cotidiano e parar um pouco para conhecê-las melhor aproxima você da arte? Será que essa aproximação pode tornar sua vida mais alegre e prazerosa? Justifique sua resposta.

Para pesquisar

Referências artísticas – Estado da arte

Todos temos nossas preferências artísticas e sabemos que elas podem mudar ao longo da vida. Quando somos atraídos por alguma música, alguma imagem, dança ou filme, é porque, provavelmente, essa obra estimulou nossos sentidos e, por algum tempo, permaneceu em nossos pensamentos.

  1. Pesquise algumas obras de arte e artistas com base nas seguintes orientações.
    1. Quais são as obras de arte mais significativas para você?
    2. Após fazer o levantamento de todas as referências que atraem você, escolha a obra de um artista.
    3. A partir da escolha da obra, você deverá realizar uma pesquisa a respeito do estado da arte dessa obra. O estado da arte consiste em levantar o máximo de fontes confiáveis que digam respeito à obra escolhida. Assim, faça uma pesquisa em livros, catálogos, revistas, podcasts, jornais ou na internet e recolha o máximo de informações que você puder a respeito dessa obra. Ao pesquisar na internet, dê preferência para sites de museus e de instituições oficiais, se possível.
    4. Faça um painel com imagens e informações citando as referências de sua pesquisa.
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1 Pesquise algumas obras de arte e artistas com base nas seguintes orientações.

a) Quais são as obras de arte mais significativas para você?

b) Após fazer o levantamento de todas as referências que atraem você, escolha a obra de um artista.

c) A partir da escolha da obra, você deverá realizar uma pesquisa a respeito do estado da arte dessa obra. O estado da arte consiste em levantar o máximo de fontes confiáveis que digam respeito à obra escolhida. Assim, faça uma pesquisa em livros, catálogos, revistas, podcasts, jornais ou na internet e recolha o máximo de informações que você puder a respeito dessa obra. Ao pesquisar na internet, dê preferência para sites de museus e de instituições oficiais, se possível.

d) Faça uma descrição ou representação citando as referências de sua pesquisa.

  1. Algumas perguntas podem orientar a montagem do painel:
    1. Qual é o título da obra?
    2. Quem é o artista (fale de onde ele é, o ano em que nasceu, conte sobre a trajetória dele, sobre suas inspirações e referências, se pertence a alguma escola ou movimento artístico etcétera)?
    3. Qual é a linguagem artística da obra (artes visuais, dança, música, teatro etcétera)?
    4. Fale sobre a sua identificação com essa obra. Por que você a escolheu?
    5. Onde a obra se encontra? Ela está em sua cidade ou em outra região? Se a obra é de sua cidade, conte como ela expressa as particularidades do lugar e de que fórma ela tem relação com você.
    6. Se a obra pertence a um contexto diferente, conte por que ela atraiu você.
    7. Após a confecção do painel, leve-o para a sala de aula, exponha sua pesquisa para a turma e conte sobre a obra e sobre o artista que a produziu.
  2. Após apresentar a sua pesquisa e conhecer a dos colegas, reflita sobre as seguin­tes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. Há pontos em comum entre as obras escolhidas? Os artistas são de seu entorno ou de outros lugares?
    2. Quais foram as obras mais próximas de seu entorno? O que elas representam para você?
    3. Quais foram as obras mais distantes de seu entorno? O que elas representam para você?

Processos de criação

Diário de bordo

Convidamos você a criar um diário de bordo que o acompanhará ao longo do ano. Nesse diário, você pode registrar as pesquisas, descobertas, interesses e ideias que surgirão das experiências no contato com o material presente neste livro.

Esse diário é pessoal e conterá seu caminho investigativo.

Como você não realizará o percurso por este livro sozinho, sugerimos que partilhe com seus colegas, periodicamente, as pesquisas e as ideias registradas nesse diário. Esteja sempre com ele à mão nas aulas de Arte.

Você pode usar um caderno ou reunir papéis com texturas e cores das quais você goste e encadernar para montar o próprio diário.

Pense em um tamanho que seja prático para você transportar. Recomendamos que não seja um papel muito fino e que não tenha pauta, para que você possa, além de escrever, desenhar, colar, usar canetas variadas e até tinta, se desejar.

Tente dar a ele um aspecto que agrade você.

Para concluir, escreva, desenhe e cole imagens ou frases pensando nas perguntas a seguir.

Versão adaptada acessível

Convidamos você a criar um diário de bordo que o acompanhará ao longo do ano. Nesse diário, você pode registrar as pesquisas, descobertas, interesses e ideias que surgirão das experiências no contato com o material presente neste livro.

Esse diário é pessoal e conterá seu caminho investigativo.

Como você não realizará o percurso por este livro sozinho, sugerimos que partilhe com seus colegas, periodicamente, as pesquisas e as ideias registradas nesse diário. Esteja sempre com ele à mão nas aulas de Arte.

Você pode usar um caderno ou algum outro suporte de sua preferência para montar o próprio diário.

Pense em um tamanho que seja prático para você transportar. Recomendamos que não seja um papel muito fino, para que você possa, além de escrever, fazer representações, descrições e criações, se desejar.

Tente dar a ele um aspecto que agrade você.

Para concluir, escreva frases ou faça representações pensando nas perguntas a seguir.

  1. Onde está a arte em minha vida?
  2. Onde está a arte em minha casa?
  3. Onde está a arte em meu trajeto até a escola?
  4. Onde está a arte em meu bairro e em minha cidade?
  5. Onde está a arte na vida dos meus colegas?
  6. Com base nas conversas e pesquisas apresentadas pelo restante da turma, registre em seu diário de bordo as suas reflexões e escreva sobre artistas que você conheceu.

Organizando as ideias

Recortes de quatro imagens lado a lado: Imagem 1:  fotografia da rapper MC. Sofia, uma jovem negra com cabelos com dread vermelhos, presos em um rabo de cavalo. Ela está usando um top preto, calça e casaco vermelhos. Imagem 2: detalhe de ilustração de um menino vestido de lobo. Ao fundo, uma mesa com um vaso e uma janela aberta. Imagem 3: fotografia de um jovem dançando na rua, com a mão direita no chão, de cabeça para baixo. Ao fundo, um prédio com grafite na fachada. Imagem 4:  detalhe de fotografia; na parte superior, janelas de vidro em uma parede escura. Abaixo, papel de parede com desenho de janelas em  preto sobre fundo branco enfileiradas . No centro, a artista, uma mulher usando blusa roxa e macacão preto.

Agora que você já refletiu a respeito dos lugares que a arte ocupa em sua vida, experimente revisitar imagens, referências e passagens que mais instigaram você ao longo deste capítulo.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Quais descobertas a respeito da arte você fez neste capítulo?
  2. Quais novos artistas e obras você conheceu?
  3. Quais lugares você revisitou?
  4. Quais práticas artísticas você aprendeu?
  5. O que você gostaria de continuar aprofundando?

Glossário

naïf
Estilo de arte produzido, geralmente, por artistas autodidatas, ou seja, pessoas que não cursaram estudos formais em Arte. É comum encontrarmos em produções naïfs temas ligados à vida, à cultura e ao cotidiano de seus autores, assim como fatos da atualidade.
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Os Saltimbancos
Obra teatral baseada no conto Os músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm. Fala de quatro bichos (o Jumento, a Galinha, a Gata e o Cachorro) que, sentindo-se explorados por seus donos, resolvem fugir. Nessa fuga, encontram-se e formam uma banda. Juntos, libertam-se da opressão dos donos e seguem para a cidade, para tentar a sorte como músicos.
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Breaking
No ano de 2020, o Comitê Olímpico Internacional (cói) incluiu o Breaking como modalidade de Dança Esportiva nas Olimpíadas de 2024. Essa entrada ocorreu devido à participação do Breaking nos Jogos da Juventude que aconteceram na Argentina, em 2018. Atualmente as danças desportivas são as modalidades Danças Latinas (Paso doble, Rumba), Standard (Slow fox, valsa vienense) e Breaking.
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Mosaico
Obra artística feita a partir de fragmentos de materiais, que podem ser pedaços de cerâmica, papel, vidro, entre outros. Cada pedacinho deve se “encaixar” em outro para assim formar o todo de uma superfície. A técnica do mosaico é muito antiga; ela é usada especialmente na decoração e é praticada há pelo menos 5 mil anos.
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