CAPÍTULO 2 Escutando a Vida

Fotografia em preto e branco, destacando o busto de um menino com cabelos curtos. Ele está com os olhos fechados e com as mãos segura uma concha encostada ao  ouvido direito.
bubá, éduard. rémi écoutant la mer [rémi escutando o mar, em tradução livre]. 1995. Fotografia.

1. Você já tentou ouvir o som que parece vir de dentro de uma concha? Observe a imagem da abertura do capítulo. O que será que esse menino está ouvindo?

Versão adaptada acessível

1 Você já tentou ouvir o som que parece vir de dentro de uma concha?

Com base na descrição da imagem da abertura do capítulo, responda: o que será que esse menino está ouvindo?

2. Agora feche os olhos, fique em silêncio e preste atenção em tudo o que você consegue escutar. Os sons vêm de dentro ou de fóra da sala de aula? Mais perto ou mais longe? É algo que parece estar parado ou em movimento? Compartilhe o que captou. Os seus colegas perceberam ruídos iguais ou diferentes?

Fechar os olhos e se concentrar nos sons que escutamos pode mudar a nossa percepção, levando-nos a notar sons que já estavam presentes, mas aos quais não dávamos atenção.

Esse simples exercício pode mostrar que muitas vezes, sem estar consciente disso, você ouve muitas coisas ao mesmo tempo: o som da própria respiração ou das suas mãos tocando o cabelo, alguém falando próximo a você, o som de um cachorro latindo ao longe, o som de alguém mexendo no caderno ou na mochila, alguém andando pela sala ou escrevendo no quadro ou, ainda, o vento balançando as folhas de uma árvore lá fóra.

E o silêncio? Você reparou também nele? Em relação à escuta, considerando som tudo o que é captado pela audição, não podemos deixar de falar sobre o silêncio, que prepara a escuta e ajuda os diferentes sons a se destacarem.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. O que a imagem do menino ouvindo a concha e o primeiro exercício de escuta fizeram você perceber ou imaginar?
  2. Você acha que os sons e o silêncio dos ambientes interferem na sua concentração, no seu humor e nos seus sentimentos? Como?
  3. Quais são os sons mais marcantes que você escuta em sua vida cotidiana?

SOBREVOO

Sons da vida

Nesta seção, convidamos você a mapear diferentes sons da vida cotidiana e a conhecer artistas que experimentam e exploram sonoridades pouco convencionais em seus processos criativos, como percussão corporal, variados sons vocais, sons de brinquedos, de utensílios domésticos e até sons feitos com água.

Sons do corpo

Que tal começar por nós mesmos? Afinal, nosso corpo pode, além de ouvir, produzir muitos sons. Como é o som da sua respiração? E de quando você esfrega uma mão na outra? Que outros sons você produz? Será que tudo isso pode virar música?

Fotografia. Um grupo de artistas, homens e mulheres, usando roupas coloridas. Eles estão em um palco, com as mãos espalmadas sobre o peito e a boca aberta. Na frente deles, microfones.
Integrantes do grupo Barbatuques durante apresentação do álbum Ayú. Fotografia de 2015.

Faça no caderno.

1. Você já tinha ouvido falar dos Barbatuques? A imagem anterior é de uma apresen­tação desse grupo. O que esses artistas parecem estar fazendo? Já brincou de fazer algo parecido? Consegue imitar esses gestos ou outros semelhantes e produzir sons?

O grupo foi fundado em São Paulo São Paulo, em 1995, por Fernando Barboza (1971-2021), mais conhecido como Fernando Barba, cujo apelido deu origem ao nome Barbatuques. Atualmente conta com 13 integrantes que utilizam o corpo para fazer música, explorando diversos sons e ritmos. Eles percorrem o mundo levando essa proposta musical que mistura percussão corporal, vocais e sapateado, além de envolver muita improvisação.

2. Escute a música “Barbapapa’s groove”, do grupo Barbatuques. Após a escuta, compartilhe suas impressões com os colegas e com o professor.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

Para experimentar

Vamos fazer uma roda de sons corporais?

  1. Forme uma roda com seus colegas de turma.
  2. Para iniciar a brincadeira, todos devem estar em silêncio.
  3. O primeiro participante vai fazer um som, usando apenas o corpo (pode ser com voz, dedos, mãos, pés, peito, sopros etcétera, e todos devem escutar atentamente.
  4. Seguindo a sequência da roda, cada participante tentará imitar o som que o colega fez.
  5. Depois da primeira rodada, o segundo participante faz outro som e, assim, a brincadeira deve continuar.
  6. Para concluir, converse com os colegas e com o professor sobre os sons mais inusitados e os mais desafiadores para imitar.

Além de produzir sons com as mãos, com os pés e com a voz, os músicos do grupo fazem outros sons com a boca, que não necessariamente envolvem a voz.

3. Você já experimentou produzir sons só com os lábios? E estalando a língua? E com os dentes? Experimente!

Imagine esses sons de lábios, língua e dentes sendo usados ao mesmo tempo com a voz, pela mesma pessoa, ao cantar uma música.

Em suas apresentações, a cantora e violonista brasileira Badi Assad (1966-) explora em seu canto alguns sons muito sutis feitos com os dentes. Como ela usa um microfone muito próximo à boca, é possível ouvir claramente todos esses sons.

Outro de seus recursos é cantar uma música entoando uma única sílaba, sem articular palavras, usando os lábios e a língua para fazer um acompanhamento rítmico, como um instrumento de percussãoglossário . Assim, ela chama a atenção para esses sons sutis que produzimos e para outros detalhes e particularidades que geralmente passam despercebidos.

4. Como você imagina que seria um canto que mistura diferentes sons feitos com a boca? Que tal escolher uma música que você já conhece para cantar e brincar? Tente acrescentar alguns sons de lábios ou estalos de língua a esse canto. Compartilhe suas sensações com os colegas e com o professor.

Sons do cotidiano

Entre outros trabalhos, Badi Assad produziu o álbum Cantos de casa (2014), em que as músicas tratam do cotidiano de uma criança, desde a hora de acordar até a hora de dormir. E não são apenas as letras das músicas que se referem a esse cotidiano: os sons usados nos acompanhamentos são sons de objetos que compõem vários ambientes de uma casa, como pratos, panelas, talheres e copos.

5. Observe a imagem com a artista tocando: você percebeu que cada copo tem uma quantidade diferente de líquido? Sabe por quê? Experimente: pegue alguns copos iguais, despeje em cada um uma quantidade diferente de água e depois bata levemente na borda deles com uma colher de pau. Você perceberá que cada um produzirá um som diferente do outro.

Versão adaptada acessível

5 Com base na descrição da imagem com a artista tocando: você percebeu que cada copo tem uma quantidade diferente de líquido? Sabe por quê? Experimente: pegue alguns copos iguais, despeje em cada um uma quantidade diferente de água e depois bata levemente na borda deles com uma colher de pau. Você perceberá que cada um produzirá um som diferente do outro.

6. Além dos utensílios domésticos, quais outros objetos sonoros há em sua casa?

Fotografia.  A artista Badi Assad, uma mulher com cabelos pretos presos e enfeitados com  colheres coloridas, usando uma blusa colorida. Ela está de pé segurando um prato e uma colher com as mãos. Na frente dela, uma mesa  com uma chaleira, 5 copos enfileirados com líquidos de cores diferentes, em diversos níveis, frutas e panelas. Ao fundo, uma bancada com um violão e panelas.
Badi Assad produzindo sons com utensílios domésticos. Fotografia de 2014.

Sons com brinquedos

Fotografia. Um músico, usando um chapéu e um casaco preto. Ele está sentado em uma cadeira segurando um violão infantil com as mãos, a boca aberta na direção de um microfone. Ao lado dele, há brinquedos de borracha. Fotografia. Uma mulher com cabelos pretos, usando uma camisa branca e um colete. Ela está com os olhos fechados, a boca na direção do microfone e  segura uma corneta infantil com a mão esquerda.
Banda Pato Fu durante apresentação do show Música de brinquedo 2, em Belo Horizonte Minas Gerais, 2018.

7. Observe as fotografias. Liste no seu diário de bordo os objetos que você identifica nelas. Algo chama a sua atenção?

Versão adaptada acessível

7 Ouça a descrição das fotografias. Liste no seu diário de bordo os objetos que você identifica nelas. Algo chama a sua atenção?

Brincar é algo que não depende de idade. Você já reparou que os adultos, quando têm a oportunidade de brincar ou participar de um jogo de que gostam, ficam muito felizes? Inclusive, há adultos que usam brinquedos sonoros para fazer música, como a banda Pato Fu.

Originária de Belo Horizonte Minas Gerais, a banda é composta dos músicos Fernanda Takai, Djón Ulhoa, Ricardo Koctus, Ríchard Neves e Glauco Mendes.

As imagens registram uma apresentação do álbum Música de brinquedo 2 (2018), que dá continuidade ao trabalho anterior, Música de brinquedo (2010). Em ambos, a banda usa sons de diversos brinquedos na execução de todas as músicas.

Para experimentar

Engrenagem de sons

Vamos imitar o som e os movimentos de diferentes máquinas e aparelhos eletrônicos?

  1. Forme uma roda com seus colegas de turma, de maneira que haja bastante espaço no centro dela.
  2. Para iniciar a brincadeira, todos devem estar em silêncio.
  3. O primeiro participante vai até o centro da roda e, imaginando-se parte de uma engrenagem, faz um movimento acompanhado de um som, repetindo-os constantemente.
  4. O segundo participante vai até o centro da roda e encaixa outro movimento e som naquele do primeiro participante, dando início assim à engrenagem.
  5. Quando todos os participantes estiverem na engrenagem, repare no som e no movimento coletivo que é possível produzir.
  6. Para concluir a atividade, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
    1. Que sensações a atividade despertou em você?
    2. A que sons, ambientes ou momentos da vida seria possível associar essa engrenagem produzida na atividade?

FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. Música e meio ambiente: a ecologia sonora. São Paulo: Irmãos Vitale, 2004. página 79. (Coleção Conexões musicais). (Adaptado).

Sons da água

Pense agora em um elemento presente tanto em ambientes naturais como nas cidades, e até mesmo dentro de nossas casas: a água.

  1. Você já brincou de fazer sons com a água (no mar, na piscina, na banheirareticências)?
  2. Você já ouviu alguém usar sons de água em uma música?

O músico brasileiro Naná Vasconcelos (1944-2016) fez isso em sua música “Batuque nas águas: aquela do Milton”. Além de instrumentos musicais como flauta e violoncelo, o artista utilizou alguns sons que produziu batucando na água. O nome da canção faz referência a outro músico brasileiro, o cantor Milton Nascimento (1942-), já apresentado no capítulo anterior e com quem Naná Vasconcelos tocou no início de sua carreira.

10. Na imagem a seguir, que faz parte do videoclipe da música, Naná Vasconcelos está tocando nas águas de uma praia do litoral pernambucano. Como serão os sons que ele produziu? Experimente fazer sons assim na água e preste atenção à variedade que é possível obter.

Fotografia. Detalhe do busto de um homem negro, de barba,  dentro do mar. Ele está com a mão direita espalmada na direção da superfície da água, que espira formando gotículas.
BATUQUE nas águas: aquela do Milton. sem local. Intérprete: Naná Vasconcelos. 2010. Fotograma.

Essa música faz parte do álbum Sinfonia e batuques (2010). Naná Vasconcelos pesquisou e gravou sons, tocando na água da piscina de sua casa, e depois usou essas gravações em um estúdio de música, mesclando-as aos sons de outros instrumentos.

11. Quais podem ter sido as fontes de inspiração do artista para criar sua música?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Das obras musicais apresentadas neste Sobrevoo, há alguma que você achou mais interessante ou alguma de que você não gostou? Comente.
  2. Você sentiu vontade de reproduzir alguma das sonoridades apresentadas por esses músicos? Qual?
  3. Se você decidisse fazer uma música sobre algum lugar ou som que faz parte da sua vida, quais seriam as suas escolhas?

Foco em…

Naná Vasconcelos

Fotografia destacando o busto do artista,  um homem negro com cabelos curtos, pretos, barba e bigode. Ele usa uma camisa banca e um lenço azul. Está de olhos fechados segurando  um berimbau com as mãos.
Naná Vasconcelos durante show no Parque do Ibirapuera, em São PauloSão Paulo. Fotografia de 2010.

Naná Vasconcelos nasceu em Recife Pernambuco. Seu nome era Juvenal de Holanda Vasconcelos, e ele ganhou o apelido de Naná de sua avó, ainda na infância.

Analisando sua obra, pode-se dizer que ele “passeou” por diferentes sons do mundo. Ele também esteve sempre muito atento aos sons do seu entorno e foi com a escuta, a curiosidade e a experimentação que desenvolveu grande parte de sua musicalidade.

Na obra do artista pernambucano, destacam-se os sons feitos com a voz, as imitações de sons de instrumentos e o uso do berimbauglossário . Ele foi um dos primeiros músicos a utilizá-lo fóra do contexto da capoeira, levando-o ao diéz e à música com orquestra.

Ilustração. Um berimbau, um arco com uma cabaça, uma baqueta e um caxixi.

1. Escute os sons de diferentes tipos de berimbau.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

As sonoridades e os títulos das músicas de seus discos revelam influências da música africana, de cantos indígenas, da música de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), do jazz, da música eletrônica, das músicas do Nordeste brasileiro, entre outras.

Naná Vasconcelos, como outros artistas brasileiros, é mais conhecido no exterior do que em nosso país. Se você achou seu trabalho interessante, pesquise mais sobre ele e ouça as suas músicas, que fazem parte da riqueza musical do Brasil.

Para experimentar

Vamos fazer chuva com as mãos?

Como são os sons da chuva? Você já reparou? O que você escuta quando começam as primeiras gotas? Imagine que ela vai ficando, gradativamente, mais forte e depois vai diminuindo, até parar.

No álbum Rain Dance [Dança da chuva, em tradução livre] (1989), de Naná Vasconcelos, há um trecho de uma música chamada “Anarriê / Rain Dance” em que se ouvem sons que parecem ser de aplausos, mas que vão se transformando em sons de chuva e, aos poucos, se diluem em um acompanhamento rítmico.

  1. Que tal agora usar as mãos para reproduzir o som da chuva?
    1. Una os dedos indicador e médio de suas mãos e bata os dedos da mão direita contra os dedos da mão esquerda.
    2. Em seguida, bata três dedos de uma mão contra três dedos da outra.
    3. Então, bata quatro dedos de uma mão contra quatro dedos da outra.
    4. Passe, em seguida, para quatro dedos de uma mão contra a palma da outra mão.
    5. Enfim, com as duas mãos em formato de concha, bata uma contra a outra. Esse será o momento mais forte da sua chuva.
    6. Faça todos esses sons nessa ordem e, depois, faça-os na ordem inversa.
    7. O ideal é que todos os participantes toquem juntos, mas tentem fazer com que as palmas de um não coincidam com as dos outros. Isso vale para todas as mudanças de som e também para quando a chuva for acabando, pois não devem parar todos de uma vez.
    8. Se for possível, gravem em vídeo e/ou áudio essa roda de sons corporais para posterior escuta de toda a turma.
  2. Você notou alguma semelhança entre os sons produzidos pela turma e o som da chuva? Que sensações foram despertadas em você durante a atividade?
Ilustração A: duas mãos com as faces para dentro. Os dedos indicadores e médios de uma mão estão contra os da outra.
Ilustração B: uma mão voltada para cima e outra para baixo, deslizando entre si.
Ilustração C: uma mão aberta voltada para cima e uma mão batendo com quatro dedos nos dedos da mão aberta.
Ilustração D:  uma mão voltada para baixo,  com os dedos no meio da palma da mão oposta.
Ilustração E: duas mãos em formato de concha, uma contra a outra .

Para pesquisar

O que é o som?

Fotografia. Seis músicos em  um palco, homens e mulheres, vestindo jeans e camisetas azuis e amarelas. Eles seguram tambores e baquetas.
Grupo Batuqueiros do Silêncio durante apresentação em Recife Pernambuco, em 2015.

O grupo que aparece tocando os instrumentos de percussão nessa imagem chama-se Batuqueiros do Silêncio. Todos os seus integrantes têm algum tipo de deficiência auditiva. Eles tocam maracatu, ciranda, frevo e samba, e mostram que a deficiência não é um empecilho para sentir e tocar música.

Mas como eles conseguem estudar música e tocar juntos?

  1. Pesquise em livros e na internet e converse com os professores de Ciências e de Música (se houver algum em sua escola).
  2. Utilize o roteiro de perguntas a seguir para orientar a sua pesquisa. Anote em seu diário de bordo as informações que coletar e, em uma aula posterior, compartilhe-as com os colegas e com o professor.
    1. O que é o som e como ele chega ao nosso corpo?
    2. Como funciona o sistema auditivo?
    3. De que fórma os sons podem ser percebidos por deficientes auditivos? Quais outros sentidos, além da audição, podem ajudar nisso?
    4. Quem não tem deficiência auditiva consegue ouvir todos os sons do mundo?

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Pensando no modo como Naná Vasconcelos usou sons para contar histórias e falar de lugares, que acontecimento da sua vida você narraria usando apenas sons, sem usar palavras?
  2. Para falar de si mesmo e representar características de povos e culturas com as quais se identificava, Naná escolheu, entre outros, o som do berimbau. Que sons você escolheria para falar de você?

Foco no conhecimento

Ruído e poluição sonora

Tirinha. Urbano, O Aposentado em 3 cenas. Cena 1. À esquerda, um homem com macacão azul, capacete e luvas perfurando uma calçada com uma britadeira e  fazendo o som de TRRRR! Na mesma calçada,  sentados tranquilos em um banco: Urbano, um homem idoso, calvo e de bigode, usando camisa verde, short azul e sapatos pretos e, ao lado dele, outro homem idoso com cabelos brancos e bigode, usando blusa regata preta, short amarelo e chapéu preto. À direita, um cachorro fazendo o som  AU! AU! AUR! AU! Cena 2. Destaque para o rosto de perfil de Urbano e os sons: BIIIIIIIII! BI-BI-BI! FOOOM! Cena 3. À esquerda, um rapaz em uma bicicleta fazendo o som de TRIIIM, TRIIM. Atrás, Urbano  sentado no banco diz: ADORO CURTIR ESSES MOMENTOS DE SILÊNCIO... Ao lado, o idoso de chapéu preto, olha para Urbano pelo  canto dos olhos. Ao fundo, uma ambulância fazendo o som de UÓ! UÓ!

A. SILVÉRIO. Urbano, o aposentado. 2016.

Faça no caderno.

1. Leia a tirinha. Você já viveu ou presenciou uma situação semelhante? O que chama a sua atenção? Por quê?

Até aqui, você já ativou as orelhas e a memória, descobrindo e rememorando a multiplicidade de sons que nos rodeiam; viu possibilidades de relações musicais entre eles, explorando sons corporais e conhecendo escolhas sonoras de alguns artistas na elaboração de suas músicas. Mas falta olhar para um outro lado: na relação com os sons do mundo pode haver também conflitos e desprazeres.

2. Como você lida com sons indesejados no seu dia a dia?

Quando você pensa em poluição, o que vem primeiro à sua mente? Talvez você tenha se lembrado da sujeira nas águas dos rios, lagos e mares, ou da fumaça dos carros e das indústrias, que poluem o ar, mas o conceito de poluição também vale para elementos visuais e sonoros.

Podemos falar em poluição visual quando um ambiente ou uma imagem têm informações visuais em excesso, ou seja, quando a quantidade de elementos atrapalha a comunicação, chegando a cansar nossa percepção.

De modo semelhante, em situações como a da tirinha, em que um excesso de sons pode incomodar ou atrapalhar as pessoas ou outros seres vivos, podemos dizer que há poluição sonora.

Imagine que os dois personagens da tirinha queiram conversar, mas não consigam por causa do ambiente barulhento. Nessa situação, suas vozes são os únicos sons que eles realmente desejam e tentam ouvir. Sendo assim, todos os outros sons ali, na percepção deles, representam ruídos.

  • Ruído: som que, em dado contexto, atrapalha a escuta do que se deseja ou precisa ouvir.
  • Poluição sonora: efeito perturbador causado pela intensidade ou pelo excesso de ruídos em um ambiente.

Note que a percepção desses elementos está relacionada à elaboração, execução e apreciação de músicas. Afinal, para fazer música, há sempre escolhas pessoais de que som usar, que sons evitar ou excluir. E, na hora de tocá-las, há também o cuidado com a preparação do ambiente onde elas serão apresentadas, para que os artistas possam executá-las da melhor maneira possível e para que todos possam ouvi-las bem.

Saúde.

Para pesquisar

Representações de sons e ruídos

  1. Anote em seu diário de bordo as palavras que você associa a ruído.
  2. Leia novamente a tirinha para responder às questões a seguir.
    1. O que indica que há ruídos na situação apresentada?
    2. Qual é o nome do recurso linguístico usado pelo autor para nos transmitir a sensação de ruído?
  3. Pesquise outros exemplos de utilização desse recurso em livros, histórias em quadrinhos, cartazes de propaganda, jornais, rótulos de produtos etcétera
  4. Quando tiver reunido material suficiente, compartilhe com a turma o que encontrou na pesquisa e converse com os colegas e com o professor sobre as diferentes fórmas desse recurso.
  5. Em seguida, em um grupo de até quatro integrantes, desenhe e escreva com os colegas uma tirinha ou uma pequena história em quadrinhos na qual devem usar esse recurso para representar diferentes tipos de som e ruído.
  6. Compartilhe a história criada por seu grupo e comente com os colegas sobre a realização da atividade.
  7. Componham um painel com as histórias criadas pela turma.

Foco na História

Novos sons na música do século vinte

   No século vinte, as composições musicais se abriram de modo novo para diferentes sonoridades. Entre muitos estilos e tendências, alguns compositores se empenharam em tratar como elementos musicais alguns sons que antes eram considerados apenas ruídos. Com o desenvolvimento do rádio, da televisão e de outras invenções industriais e tecnológicas surgidas nesse século, os ruídos do mundo, a poluição sonora e as crises ambientais também se intensificaram. E ampliaram-se também as possibilidades de registro de áudio e vídeo, com novas tecnologias de gravação e manipulação do som e da imagem.

   Nesse contexto, destaca-se o trabalho de dois músicos:

ralím ul dabá (1921-2017) nasceu no Egito. Foi compositor, pesquisador de músicas africanas e educador. Em suas experimentações musicais, utilizava tanto antigos gravadores de fio – nos quais os sons eram gravados em um fino fio de aço – como os de fitas magnéticas. Em 1944, criou uma composição que pode ser considerada a primeira obra de música eletrônica, gravando sons de uma cerimônia espiritual pública de cura. Fez alterações nessa gravação e reorganizou os sons com os equipamentos de áudio disponíveis nas instalações de uma rádio local, resultando na obra “tá abir al izár (A expressão do zaár, em tradução livre), de aproximadamente 20 minutos. A palavra zaár se refere à cerimônia gravada.

piér chéfer (1910-1995), compositor francês, desenvolveu, também a partir da manipulação de sons gravados em fitas magnéticas, o que chamou de música concreta. Gravava sons do cotidiano, como os de uma porta batendo, de um trem, de brinquedos e de outros objetos, e passava esses sons para outra fita magnética, misturando-os ou modificando-os, rodando de trás para a frente, mudando a velocidade da rotação, entre outros procedimentos.

   Os recursos tecnológicos utilizados por esses dois compositores podem ser considerados precursores dos efeitos utilizados atualmente na execução de músicas eletrônicas.

Fotografia. Um homem com cabelos brancos e bigode, usando uma túnica e calça amarelas com estampas africanas. Ele está sentado segurando um instrumento de corda.
O músico e educador ralím ul dabá.

Para pesquisar

Há poluição sonora ao seu redor?

1. Durante uma semana, observe atentamente o cotidiano de sua casa, prestando bastante atenção aos sons que escuta.

Versão adaptada acessível

1 Durante uma semana, atente-se ao cotidiano de sua casa, prestando bastante atenção aos sons que escuta.

  1. Ao final de cada dia, lembre-se, reflita e analise se identificou a presença de ruídos e de poluição sonora em algum momento e, então, anote em seu diário de bordo.
  2. Em uma aula posterior, leve as suas anotações para a escola.
  3. Reúna-se com os colegas em um grupo de até quatro participantes.
  4. Então, compartilhe o resultado de sua pesquisa com os colegas e conversem sobre as seguintes questões:
    1. Que ruídos e exemplos de poluição sonora foram identificados?
    2. O que poderia ser feito para diminuir esses ruídos e, assim, tentar solucionar o problema da poluição sonora, se necessário?
  5. Em seguida, um representante do grupo deve apresentar as conclusões para a turma, para que todos comentem e façam uma lista única de soluções (se necessárias) no quadro da sala de aula.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Lembre-se das músicas que foram apresentadas no Sobrevoo deste capítulo. Naquelas músicas, os sons do corpo ou sons do ambiente são utilizados como sons musicais, mas há situações em que esses mesmos sons podem ser considerados ruídos? Quais?
  2. Você se lembra de alguma situação na qual ficou incomodado com a poluição sonora? Se sim, quais eram os ruídos nessa ocasião?

Processos de criação

Que tal colocar em prática um pouco do que foi visto ao longo deste capítulo?

  1. Expedição sonora
    1. Formem duplas.
    2. Vocês farão uma caminhada na qual um dos integrantes da dupla estará com os olhos fechados ou vendados e com os ouvidos bem atentos.
    3. O outro componente da dupla vai guiar o colega e deverá estimular diferentes possibilidades de escuta, aproximando ou afastando a pessoa de diferentes ambientes e fontes sonoras.
    4. Após a realização da expedição, anote em seu diário de bordo os sons, as situações e as impressões da dupla sobre a caminhada.
    5. Compartilhe suas anotações sobre essa experiência com a turma, para que todos comentem e façam uma lista única no quadro da sala de aula.
    6. Monte um painel com os colegas, representando com imagens ou palavras os sons, as situações de poluição sonora identificadas (caso existam) e as propostas para solucioná-las ou amenizá-las.

  1. Vamos escolher sons para acompanhar uma música?
    1. Em grupos de até dez participantes, escolham uma música para cantar juntos.
    2. Se tiverem uma gravação da música disponível, escutem atentamente e cantem algumas vezes com ela, prestando atenção a todos os detalhes da gravação. Caso seja uma música inventada ou que todos conheçam, vocês podem cantar sem a gravação.
    3. Converse com os colegas de grupo sobre o significado da letra da música e sobre as sensações despertadas ao cantá-la juntos.
    4. Cante algumas vezes também sozinho.
  1. Em seguida, discutam ideias de sons que podem fazer para acompanhar o canto. Vocês podem se inspirar nos sons apresentados no Sobrevoo: palmas, estalos, sons corporais, sons feitos com água, copos com diferentes quantidades de líquido, brinquedos sonoros etcétera Soltem a criatividade e experimentem.
  2. Então, cada grupo deve se dividir em duas partes. Os membros de uma parte deverão cantar a música enquanto os outros tocarão os sons de acompanhamento.
  3. Em seguida, troquem as funções: quem participou cantando agora toca os sons de acompanhamento, e vice-versa. Conversem sobre os sons de que gostaram e de que não gostaram. Façam escolhas e definições para tentar repetir os sons de que gostaram.

Algumas dicas:

  • Definam as partes em que será tocado cada som: no começo, no fim ou em alguma parte específica da letra.
  • Busquem também fórmas de demarcar momentos de silêncio e de mudanças de sons no acompanhamento.
  • Estejam atentos também aos ruídos que podem atrapalhar.
  • Repitam até chegar a um resultado de que gostem e apresentem para a turma.
  • Se possível, gravem e/ou filmem as apresentações. Com isso, além de terem um registro dessa produção da turma, vocês poderão ouvir várias vezes para avaliar e fazer melhoras.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Dentre os sons anotados, quais você considerou agradáveis?
  2. Quais considerou desagradáveis ou mesmo angustiantes? Por quê?
  3. Algum desses sons desagradáveis atrapalhou a apreciação de outros que você queria ouvir? Quais?
  4. Com base nesses sons, é possível dizer que há poluição sonora em algum dos lugares por onde você passou? Se a resposta for sim, o que poderia ser feito para diminuir essa poluição sonora?

Organizando as ideias

Recortes de 4 imagens lado a lado. Imagem 1:   fotografia em preto e branco,  destacando o busto de um menino com cabelos curtos. Ele está com os olhos fechados.   Imagem 2: fotografia de um grupo de artistas com roupas coloridas. Elas estão com as mãos espalmadas sobre o peito e com a boca aberta. À frente delas, microfones. Imagem 3: fotografia da artista Badi Assad, uma mulher com cabelos pretos presos e enfeitados com  colheres coloridas. Ela segura um prato com a mão esquerda e uma colher com a direita. Diante dela, há uma chaleira,  copos enfileirados com líquidos de cores diferentes, em diversos níveis, frutas e panelas. Imagem 3: fotografia de um homem segurando um tambor e baquetas.

Ao longo deste capítulo, você conheceu artistas que exploram os sons do cotidiano em suas músicas. Também viu como os ruídos e a poluição sonora estão presentes em sua vida, e explorou diferentes sonoridades.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. O que você achou de usar o corpo como um instrumento musical que pode produzir diversos sons?
  2. Há diversidade de características corporais entre as pessoas da turma? Se sim, como essas diferenças foram percebidas e tratadas ao longo do desenvolvimento das atividades?
  3. O que você estudou neste capítulo mudou de alguma fórma seu modo de ouvir os sons ao seu redor? Justifique sua resposta.
  4. Quando um som pode ser considerado poluidor para você?
  5. O que podemos fazer para diminuir a poluição sonora?
  6. Neste capítulo, você viu que é possível fazer música com o corpo, com a água, com os brinquedos, e que, portanto, não é o instrumento que define a música. Para você, o que pode ser definido como música?
  7. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?

Glossário

Instrumento de percussão
Instrumento musical com o qual se produz som a partir de técnicas de golpes ou fricção. Isso pode ser feito diretamente com as mãos ou com um acessório, como a baqueta. Também é possível produzir som com alguns desses instrumentos ao colidir uma parte na outra, como no caso dos pratos de metal ou das matracas de madeira, ou, ainda, balançando-os, como no caso dos chocalhos.
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Berimbau
Instrumento musical de origem afro-brasileira, composto de uma corda acoplada a um objeto que ressoa e amplia seu som. A tensão na corda é produzida por uma vara feita com a madeira biriba. O que amplia o som do berimbau é uma cabaça, que pode ser de vários tamanhos. Para tocá-lo, utilizam-se uma baqueta de madeira e uma pedra ou dobrão (objeto de metal semelhante a uma moeda bem grande); alguns usam também o caxixi, um pequeno chocalho feito com um pedaço de cabaça, palha de junco trançada e sementes que é segurado na mesma mão que a baqueta.
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