CAPÍTULO 4 Improvisação: experimentando corpo e som

Fotografia. À esquerda, um menino com camiseta azul e short marrom, saltando. Ao lado, um menino e uma menina sentados sobre os pés e com as mãos para cima. Do lado direito deles,  uma mulher com as mãos em um piano de calda. Ao fundo, cadeiras alinhadas em meio círculo.
Educação musical pelo método dalcrôze promovida pela dalcrôze sossáiti ov américa, de Nova iórque, Estados Unidos. Fotografia de 2016.

1. Você já ouviu uma música e sentiu vontade de mexer o corpo no ritmo do som? Se for o caso, em que ocasiões isso aconteceu? Compartilhe sua experiência com os colegas e com o professor.

A imagem da abertura do capítulo mostra um momento de uma aula na qual as crianças estão realizando movimentações corporais estimuladas pelo som de uma música. Esse tipo de experimentação pode ser um ponto de partida para aprendizados em dança, música e improvisação nessas linguagens artísticas.

Que tal fazer algo parecido?

2. Quando as músicas começarem a tocar, cada um deve ficar atento ao que está sentindo e, consciente do quanto já conhece de si mesmo, deve dançar de acordo com essa sensação, explorando os movimentos em que se sente confiante e procurando fórmas de interagir com a música que está ouvindo.

Improvisar movimentações corporais ao som de uma música envolve sensações, sentimentos e emoções. Esteja atento a isso. Dançar também é um modo de ativar o pensamento e de estimular a formação de conhecimento sobre si e sobre o espaço onde você está.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Quais foram as sensações despertadas em você nessa proposta de improvisação?
  2. Na experiência de dançar ao som de uma música, como podemos descrever a interação entre corpo e som?
  3. Você já assistiu a alguma improvisação artística? Já participou de alguma? Se sim, conte sua experiência aos colegas.

SOBREVOO

Diferentes modos de improvisação

Fotografia. Grupo de pessoas com os braços estendidos em um pátio. Nas laterais, mesas, estantes com livros e pessoas olhando na direção do pátio.
ESPIRAALADOS. Flash mob. Concepção e coordenação: Andrea Drigo. Realização: O Caminho do Canto. São Paulo São Paulo, 2014.

Faça no caderno.

Faça no caderno.

1. Observe essa imagem. Você já tinha imaginado que uma ação como essa pode ser considerada uma manifestação artística? Conhece alguma outra parecida?

Essa ação, concebida e coordenada pela musicista Andrea Drigo, com participação dos artistas do núcleo de pesquisa vocal O Caminho do Canto, chama-se Espiraalados e foi realizada em 2014, na cidade de São Paulo São Paulo.

Iniciativas artísticas como essa são chamadas de flash mobglossário . O canto foi improvisado, uma vez que o grupo que se reuniu não tinha uma música predefinida para cantar. O que aconteceu nesse flash mob foi uma exploração sonora coletiva, acompanhada de movimentações corporais.

2. O termo Espiraalados parece conter mais de uma palavra em sua formação. Você consegue identificá-las? Quais são? Que relações você vê entre essas palavras e a improvisação que a obra propõe?

Para experimentar

Vamos espiralar?

  1. Escolha algum lugar na sala para realizar a atividade. Lembre-se das ações corporais vistas no capítulo anterior. Agora você vai se concentrar somente na ação de torcer.
  2. Ao som da música, comece a improvisar com a ação de torcer o corpo todo ou partes dele. Experimente a diferença entre ser uma espiral e desenhar uma espiral com o próprio corpo no espaço.
  3. Repita a etapa anterior, experimentando criar sons de vogais – como “oi!”, “eia!”, “êêêê” – acompanhando as espirais que você cria.
  4. Na sua improvisação, cante ao mesmo tempo que passa do movimento de desenhar a espiral para ser a espiral.
  5. Em seguida, forme uma roda com seus colegas para dançar e, ao mesmo tempo, aprender uma canção sugerida pelo professor. Dois ou três participantes entram na roda e, cantando e dançando, improvisam ao mesmo tempo, recriando tudo o que foi explorado nas etapas anteriores.
  6. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.
  1. Como você se sentiu ao cantar e dançar, ou só cantar e só dançar?
  2. Experimentar simultaneamente voz e movimento modificou sua percepção do espaço e da passagem do tempo? Por quê?

Instrumentos e voz

Observe esta imagem. À esquerda, está o baixista camaronês Bona Pinder iailmaialolo (1967-), mais conhecido como Richard Bona. À direita, bóbi méquiférin (1950-), cantor estadunidense e um reconhecido improvisador vocal.

Fotografia. À esquerda, Richard Bona, um homem negro com camisa e calças brancas, sentado em um banco,  segurando uma guitarra. Diante dele, um microfone. Ao seu lado, Bobbu McFerrim, um homem negro, cabelos compridos com tranças, usando uma camiseta vermelha e calça jeans. Ele está sentado, segurando um microfone com a mão direita e sorri. Ao fundo, plateia com algumas pessoas sentadas.
Richard Bona e bóbi méquiférin apresentando-se no Festival Internacional de diéz de Montreal, no Canadá, 2003.

bóbi méquiférin tem facilidade para imitar instrumentos musicais e uma grande extensão vocal, ou seja, em suas improvisações consegue alcançar tanto sons muito gravesglossário (ou baixos) quanto sons muito agudosglossário  (ou altos) com a voz. Em uma improvisação como a da imagem, os músicos ficam muito atentos às variações nos sons que o parceiro produz, reparando, por exemplo, se são mais agudos, mais graves, mais fracos ou mais fortes.

3. Escute exemplos de sons graves.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

4. Escute exemplos de sons agudos.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

No show que reuniu os dois artistas no palco, além de explorarem a sonoridade entre as notas do contrabaixo e as da voz, eles não se limitaram aos sons comumente feitos com esses instrumentos. Bona também usou seu baixo, que é um instrumento de cordas, como instrumento de percussão, fazendo um ritmo com as mãos, e bóbi méquiférin colocou o microfone entre as pernas enquanto batucava no peito com as mãos.

Improvisando dança e música

bóbi méquiférin também colaborou com a bailarina e improvisadora estadunidense téndi bíal (1948-) no duo de voz e movimento chamado Voice/dance improvisation [Voz/dança improvisação], em que improvisavam juntos no palco.

bóbi méquiférin improvisava com a voz e outros sons corporais, enquanto téndi bíal dançava realizando diferentes posturas, gestos e alterando a velocidade dos seus movimentos de acordo com os sons. Eles faziam um jogo de improviso de fórma tão sincronizada e simultânea que o público não conseguia identificar quem guiava quem. Improvisação é um exercício que exige confiança, principalmente quando se atua com outra pessoa. Para os artistas, é um modo de estar alerta e desenvolver a capacidade de responder ao outro no momento da ação.

Fotografia em preto e branco. Apresentação de duas pessoas no palco. À esquerda, um homem com blusa e calça, olhando para cima. Ao lado, uma mulher usando macacão claro. Ela está se movimentando, com a perna esquerda para trás, o joelho flexionado, o braço esquerdo estendido para o lado, olhando para cima, sorrindo. No ar e ao redor, diversas bexigas claras e escuras.
VOICE/DANCE improvisation [Voz/dança improvisação]. Direção: Bruce franquíni e máicou ismúin. Intérpretes:bóbi méquiférine Tandy Beal dêns cômpani. 1987.

Para pesquisar

Improvisando com videogames

Outra maneira de unir dança e música é por meio de jogos de videogame que funcionam integrados às movimentações do corpo. Você já jogou ou viu alguém interagindo com jogos desse tipo?

Os equipamentos têm sensores capazes de captar os movimentos dos corpos dos jogadores, e os participantes devem imitar as ações que aparecem na tela, reproduzindo o mesmo desenho no espaço, a mesma velocidade e a mesma direção do movimento. Em alguns desses jogos, há momentos em que o jogador pode fazer a própria coreografia, o chamado free style [estilo livre], ou criá-la para compartilhar em redes virtuais.

  1. Faça uma pesquisa sobre os jogos de videogueime de música e dança. Você pode entrevistar colegas e familiares ou pesquisar na internet (podcasts, blogs, sites), em revistas ou jornais. Procure vídeos sobre o assunto, bem como artigos ou relatos de jogadores. Cite as referências bibliográficas da sua pesquisa.
  2. Atente-se ao fato de que alguns artigos ou vídeos on-line podem ser patrocinados e, em vez de priorizarem discussões reais sobre o assunto, podem ser tendenciosos ao atender os interesses de determinada empresa.
  3. As perguntas a seguir podem orientar seu trabalho. Anote em seu diário de bordo as informações que coletar e, em uma aula posterior, compartilhe-as com os colegas e com o professor.
    1. Qual é o papel da música nesses jogos? Eles estimulam uma escuta musical atenta?
    2. Até que ponto cada um desses jogos é mais voltado para a automatização e repetição de movimentos ou para a criação e improvisação?
    3. Imitar pode ser um estímulo interessante para o aprendizado de música e dança? Em que situações?

Para experimentar

Siga o mestre

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de seis integrantes e formem uma fila.
  2. O primeiro da fila será o mestre e, ao som de uma música, fará alguns movimentos, os quais serão seguidos pelos colegas de trás.
  3. Ao sinal do professor, o primeiro da fila irá para o final dela; o colega que estava atrás dele passará a ser o novo mestre.
  4. A atividade seguirá essa sequência até que todos da fila tenham sido o mestre.
  5. Para concluir, converse com os colegas e com o professor a respeito das estratégias que você utilizou para fazer os movimentos e seguir os colegas durante a atividade.

Improvisando versos

Capa de LP. Na parte superior, o texto: REPENTISTAS - OS GIGANTES DO IMPROVISO. Na parte inferior, o texto: OTACILIO BATISTA E DINIZ VITORINO. No meio, fotografia de um homem com camisa vermelha segurando um violão; ao lado, um homem com cabelos pretos e bigode, usando uma camisa estampada, segurando um violão.
REPENTISTAS: os gigantes do improviso. Intérpretes: Otacilio Batista e Diniz Vitorino. Rio de Janeiro: Tropicana, 1973. 1 disco sonoro. Capa de éle pê.

5. Observe a fotografia. Nessa capa, os artistas são anunciados como “Os gigantes do improviso”. Que tipo de improvisação você acha que eles fazem?

Nessa capa do álbum Repentistas: os gigantes do improviso, aparecem Otacilio Batista (1923-2003) e Diniz Vitorino (1940-2010), artistas da região Nordeste, onde os cantores improvisadores são chamados de repentistas.

Diferentemente dos exemplos já vistos neste capítulo, a improvisação nesse caso é toda feita com palavras cantadas: versos falando de temas predefinidos e seguindo uma estrutura textual específica para cada tipo de canto. A quantidade de versos, a extensão e a acentuação das frases, a localização das rimas, tudo é definido pelo tipo de canto entoado.

O acompanhamento desses cantos geralmente é feito com violas, enquanto os dois cantadores disputam entre si. Cada um responde ou comenta o que o outro cantou antes ou lança novos desafios e provocações.

Um dos tipos de canto dos repentistas é o martelo agalopado. Nele, cada repentista, à sua vez, canta dez versos.

6. Leia a seguir o trecho inicial de uma improvisação do canto em martelo agalopado, em que Otacilio Batista e Diniz Vitorino falam de si e do lugar onde nasceram.

(Otacilio Batista:)

Eu nasci lá no velho Pajeú,

São José do Egito é minha cidade

Comecei com dezessete de idade

Imitando a voz do uirapuru

Nesta hora canto eu e cantas tu,

que a minha cantiga nada afeta

É preciso ter uma ideia completa

Que o povo entende o que é cantoria

E se um poeta vencer-me em poesia,

Não direi a ninguém que fui poeta


(Diniz Vitorino:)

Paraíba do Norte é o estado

Rico de amor, de elegância

Testemunha ocular da minha infância

Dos meus dias românticos do passado

Onde eu corri muito atrás de gado

Barbatões, vacas brabas e garrotes

O cavalo suado a dar pinotes

Mas eu que na sela tinha apoio

Abria a garganta e dava aboio

Que abalava os angicos do serrote

CANTORIA 1 [1973]. Intérpretes: Otacilio Batista e Diniz Vitorino. Compositores: Otacilio Batista e Diniz Vitorino. ín: A música brasileira deste século por seus autores e intérpretes – Otacilio Batista e Diniz Vitorino. Intérpretes: Otacilio Batista e Diniz Vitorino. São Paulo: Sésqui São Paulo, 2001. 1 cedê. Faixa 1.

  1. O que mais chama a sua atenção nos versos que acabou de ler? Você consegue identificar como as rimas estão organizadas?
  2. Que tal tentar escrever versos seguindo essa mesma ordem de rimas?
Ícone. Tema contemporâneo transversal: Multiculturalismo.

Foco na História

Duelos de versos desde a Antiguidade

Vimos neste Sobrevoo exemplos de improvisação, alguns recentes, outros de décadas atrás. Você vai conhecer agora algumas características de manifestações artísticas mais antigas, nas quais se percebem semelhanças com os cantos de improvisação atuais.

Há registros de que na Grécia antiga já havia disputas de improvisação de versos entre pastores de rebanhos de animais. Um pastor cantava como pergunta e outro cantava como resposta, e ambos tinham de cantar com o mesmo número de versos.

Esse tipo de canto voltou a ser praticado e documentado na Europa da Idade Média por cantores conhecidos como trovadores. Em seus cantos, eles contavam histórias, falavam de amor e também duelavam em improvisações. Um instrumento musical utilizado para acompanhar esses improvisos era o alaúde, que tinha cordas feitas de tripas de animais e pode ser considerado um dos ancestrais dos violões e das violas de hoje.

Vou fazer-lhe uma pergunta,

Seu cabeça de urupemaglossário :

Quero que você me diga

Quantos ovos põe a ema?


[resposta]

Quantos ovos põe a ema?

A ema nunca põe só:

Põe a mãe e põe a filha

Põe a neta e põe a avó…

CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Global, 2005. página 181.

Uma característica de um gênero de canto trovadoresco, chamado canson redonda, é a repetição, ao início da resposta de um cantador, do último verso que seu adversário cantou. Isso pode ser notado ainda hoje em alguns cantos de desafio de repentistas no Brasil. Veja um exemplo no boxe.

Além das disputas entre os repentistas da região Nordeste, existem duelos de cantadores em outras regiões, como o cururu, presente no sul do estado de Minas Gerais e no interior do estado de São Paulo, e o calango, observado principalmente no norte do estado do Rio de Janeiro e na Zona da Mata do estado de Minas Gerais. O instrumento mais presente para acompanhar essas improvisações é a viola, mas há também locais onde se usa o pandeiro ou o violão.

Disputas de improvisação de versos são comuns também em outros países do continente americano. Por exemplo, as chamadas pallada, palla ou contrapunto no Chile; payada ou payada de contrapunto na Argentina e no Uruguai; e, ainda, o corrido no México, na Venezuela, Colômbia e Bolívia. Nos Estados Unidos, bem como em grandes centros urbanos do Brasil e de outros países, os duelos de improvisação em versos mais conhecidos são os de rap, que agregam heranças culturais africanas.

Para experimentar

Improviso com poesia

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até seis participantes e escolham um poema.
  2. Leiam o poema individualmente em silêncio e, então, novamente, em voz alta.
  3. Em seguida, façam uma leitura coletiva, recriando-o em uma improvisação que explore as sonoridades e as imagens propostas pelo texto. Fornecemos algumas sugestões a seguir:
    1. Alterem a ordem dos versos.
    2. Leiam apenas palavras que considerem mais importantes ou sonoras.
    3. Mantenham-se em silêncio por alguns momentos.
    4. Falem com mais fórça em algumas partes e com menos fórça em outras.
    5. Falem de fórma mais lenta ou mais rápida.
    6. Experimentem também falar ao mesmo tempo, mas continuem se escutando, para não criar poluição sonora.
  4. Em seguida, o grupo pode se posicionar em semicírculo e apresentar sua leitura improvisada para o restante da turma.
  5. Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas impressões com os colegas e com o professor.
    1. Como foi fazer a improvisação?
    2. O que poderia ser melhorado em uma próxima vez?
    3. Essa improvisação lembra alguma das que foram apresentadas neste Sobrevoo? Por quê?

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Com qual artista ou obra apresentados neste Sobrevoo você mais se identificou? Por quê?
  2. Com base no que conheceu, o que você pensa sobre improvisação em dança e música?
  3. Que novas possibilidades de criação em dança e música você encontrou nas propostas de atividades?

Foco em...

bóbi méquiférin

Fotografia. Apresentação musical: em primeiro plano, homem negro com cabelos longos trançados, usando camiseta preta, calça jeans. Ele está em pé com a mão direita sobre o peito e a mão esquerda segurando um microfone. Em segundo plano, um homem toca um violino, e outro homem toca uma guitarra.
bóbi méquiférin cantando e fazendo percussão corporal no peito em um show em Barcelona, Espanha, 2014.

bóbi méquiférin nasceu nos Estados Unidos em 1950. Durante sua infância, ele teve um convívio muito próximo com o universo musical e cresceu ouvindo compositores clássicos europeus e óperasglossário , uma vez que seu pai, róbert méquiférin (1921-2006), era cantor de ópera. Tudo isso o levou a explorar musicalmente a própria voz, que ele considera seu primeiro instrumento.

Ao ser perguntado sobre o que inspira suas obras, ele respondeu:

“Tudo. Qualquer barulho, qualquer sílaba, qualquer frase, qualquer movimento. O que eu ouço, vejo, sinto ou como. Tudo me inspira. Sabe, eu não teorizo mais. Cresci em uma família musical, aprendi toda a teoria na infância e na juventude. Hoje apenas presto atenção aos sons que encontro.”

Fonte: TURRER, Rodrigo. bóbi méquiférin: “Não gosto de ‘Don’t worry be happy’”. Revista Época, São Paulo, 17julho 2011. Disponível em: https://oeds.link/RBdHpW. Acesso em: 6 junho 2022.

bóbi méquiférin mostra que a improvisação está muito ligada à escuta. Ele é um artista que estimula a pensar na improvisação como um encontro no qual, antes de se preocupar com o que é bonito ou feio, as pessoas podem exercitar sua liberdade de se expressar, de criar e de compartilhar e, nesses momentos, cada indivíduo contribui com o melhor de si.

Para experimentar

Improvisar conversando

Assim como na roda de sons corporais que foi proposta no capítulo 2, nesta atividade você vai poder inventar sons ou usar os que aprendeu nas atividades anteriores, mas na fórma de um diálogo. Faça dupla com um colega de turma e siga as etapas.

  1. Um membro da dupla iniciará fazendo uma pergunta musical, ou seja, deve usar a voz ou outros sons corporais, mas sem palavras. Em seguida, o outro participante deve emitir sons para responder ao colega.
  2. Na sequência, quem respondeu deve perguntar, e vice-versa.
  3. Então, depois dessas perguntas e respostas, os dois integrantes da dupla tentarão improvisar juntos, como nas propostas de bóbi méquiférin, ou seja, como uma conversa na qual ambos falam ao mesmo tempo, mas se escutam e se entendem. Um começa, o outro escuta um pouco, com atenção, e então vai encaixando sons na improvisação do colega. Aquele que começou também ficará atento ao que o outro está fazendo para, se preciso, ir adaptando e ajudando a fazer os encaixes sonoros. Nesse momento, experimente fazer sons simples e que se repitam, tentando manter um ritmo.
  4. Para concluir, converse com os colegas e com o professor sobre as seguintes questões.
    1. De qual improvisação você mais gostou? Por quê?
    2. O que poderia ser melhorado?

PARA REFLETIR

Reflita sobre a seguinte questão e compartilhe sua resposta com os colegas e com o professor.

1. Quais relações você percebe entre o que foi apresentado sobre bóbi méquiférin neste capítulo e sobre Naná Vasconcelos no capítulo 2?

Foco no conhecimento

Improvisação

A improvisação, geralmente, é considerada um jeito de dar uma resposta rápida e espontânea a um problema. Por isso, é comum associar o improviso ao que é feito “do jeito que deu”, às pressas, ou que é provisório, ou inclusive mal-acabado. Contudo, essa ideia precisa ser revista e ampliada. Afinal, como você viu ao longo deste capítulo, para improvisar também é preciso estar atento, acionar conhecimentos prévios, organizar ideias e ações.

No momento de improvisar, ativamos a consciência do que já sabemos e fazemos escolhas. Sendo assim, a improvisação é também uma oportunidade de nos conhecermos melhor: o que somos, o que já sabemos, o que descobrimos fazendo.

Para compreender a ideia de improvisação em arte, vamos distinguir esse termo de outros conceitos e palavras também recorrentes nas linguagens de música e dança.

  1. Interpretação: a atuação de um bailarino em uma obra de dança que foi montada e ensaiada previamente, ou a execução, por um músico, de uma música já existente.
  2. Criação prévia: a criação que um artista faz antes de montar e exibir ou compartilhar seu trabalho com outras pessoas. Em música, é comum chamar tais criações de "composição".
  3. Improvisação: a criação que acontece no próprio momento de dançar, tocar ou cantar, com base nos conhecimentos prévios do artista.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe as suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Como você descreveria uma improvisação em música ou na dança?
  2. O que você já aprendeu das linguagens de música ou dança que poderia usar no momento de fazer uma improvisação?

Processos de criação

Convidamos você a improvisar de fórma mais elaborada, usando o corpo e a voz. Siga as orientações a seguir.

  1. Reúna-se com os colegas em um grupo de oito integrantes. Em cada grupo, serão formadas quatro duplas.
  2. Escutem juntos a música “Cirandeira”, gravada pelo grupo A Barca, e tentem identificar o som de cada instrumento.

Clique no play e acompanhe a reprodução do Áudio.

  1. Cada dupla escolherá um instrumento para seguir. Um integrante da dupla vai imitar o instrumento escolhido improvisando sons com a voz. O outro integrante improvisará movimentos.
  2. Primeira rodada de improviso: quando a música começar a tocar, o som de cada instrumento será seguido, simultaneamente, pelas danças e experimentações vocais.
  3. Segunda rodada de improviso: os cantores iniciam em silêncio. Os dançarinos improvisam até a música pausar, quando então pausam também, em estátua. Sem a música, os cantores iniciam a improvisação com base nos instrumentos; simultaneamente, os dançarinos voltam a improvisar.
  4. Os cantores terão a tarefa de propor um final à improvisação do grupo. Enquanto isso, os dançarinos também terão de encontrar modos de parar o movimento. É importante que os integrantes de cada dupla encontrem juntos esse final.
  5. Ao término das apresentações, anote as suas impressões em seu diário de bordo.

Faça no caderno.

PARA REFLETIR

Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

  1. Você conseguiu distinguir o som do instrumento escolhido e segui-lo? E quando a referência era uma voz?
  2. Como você dialogou com seus colegas durante a improvisação?

Organizando as ideias

Quadro com recortes de 4 fotografias. À esquerda, um menino com camiseta azul e bermuda marrom, saltando. Ao fundo, cadeiras de um auditório. Ao lado, fotografia com vista de cima de pessoas com os braços estendidos em um pátio. Nas laterais, mesas, estantes com livros e pessoas olhando na direção do pátio. Seguindo para direita, fotografia em preto e branco de uma mulher usando macacão claro. Ela está em um palco, fazendo um movimento de dança, com a perna esquerda para trás e o joelho flexionado, o braço esquerdo estendido para o lado, olhando para cima, sorrindo. No ar e ao redor, diversas bexigas claras e escuras. À direita, um homem negro com cabelos longos trançados, de camiseta preta e calça jeans. Ele está em pé, com a mão direita sobre o peito e a mão esquerda segurando um microfone.

Neste capítulo, você foi convidado a vivenciar a exploração de sonoridades com a voz e a exploração de diferentes movimentações corporais, conheceu alguns exemplos de situações de dança e música e foi incentivado a refletir sobre eles. Assim, você descobriu um pouco a respeito da improvisação, um dos modos de fazer música e dança, que é diferente da interpretação e da criação prévia.

Para concluir, reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor.

Faça no caderno.

  1. Após o percurso por este capítulo, como você explicaria, com as suas palavras, o que é improvisação em dança e música?
  2. Que diferentes modos de improvisar você conheceu?
  3. Você considera que as práticas de improvisação em artes podem contribuir para melhorar as relações entre as pessoas? Comente.
  4. Quais descobertas você fez ao longo deste capítulo? O que você gostaria de continuar aprofundando?

Glossário

Flash mob
Evento geralmente organizado pelas redes sociais. Nessas ações, pessoas que não necessariamente se conhecem marcam um encontro em um espaço público para realizar uma ação coletiva inusitada e previamente combinada e, em seguida, se dispersam. Pode ser uma dança, uma música, um jogo ou qualquer atividade que seja executada por muitas pessoas ao mesmo tempo.
Voltar para o texto
Som grave
Tipo de som geralmente qualificado como “grave”, como a buzina de um caminhão, o som de um trovão ou o som do contrabaixo elétrico (instrumento também chamado apenas de baixo).
Voltar para o texto
Som agudo
Tipo de som geralmente qualificado como “agudo”, como o de um apito de juiz de futebol ou o ranger de uma porta. Em música, essa propriedade sonora chama-se altura. Os sons mais agudos são altos, e os mais graves são baixos. Por isso o instrumento contrabaixo tem esse nome. Os sons que não são nem muito agudos nem muito graves podem ser chamados de médios.
Voltar para o texto
Urupema
Palavra de origem tupi-guarani que denomina um tipo de peneira, cesta rasa ou o próprio trançado de fibras vegetais que compõe esses objetos. Os objetos com esse nome são usados, entre outras funções, para peneirar a mandioca ralada, passar massa de feijão cozido e escorrer leite de coco ou açaí. O mesmo trançado pode ser usado também para fazer encostos de cadeiras.
Voltar para o texto
Ópera
Música vocal sempre vinculada a um texto dramático (teatral). Surgiu no período Barroco da história da música europeia (século dezessete até meados do século dezoito). Algumas óperas têm trechos falados, outras são inteiramente cantadas.
Voltar para o texto